31 de dez. de 2012

Além...

Yorgói pensou novamente em Deborah, o único pensamento que dava forças ao seu espírito para continuar existindo. Não era simples para ele suportar o tormento perpétuo de ser um prisioneiro daquele lorde diabólico. Enquanto as outras almas eram consumidas como cerveja barata ou utilizadas como combustível para os ataques que seriam lançados contra os Sete Céus, ele parecia ter alguma importância para o tal Orcus, senhor máximo de todas as hordas abissais e infernais. O mestre gnomo sabia que isso tinha alguma coisa haver com Rock dos Lobos. Pensou se não teria sido melhor ter permanecido em Águas Profundas lecionando magia para garotos riquinhos e cheios de espinhas ao invés de unir-se a um grupo de aventureiros destemidos. Pensou na confiança que Ehtur Telcontar sempre lhe transmitiu. Na pureza de Daphne da Grande Floresta. No amor sem tamanho de Úrsula e Arnoux Suarzineguer. Na nobreza de Ryolith Fox. Na sede de conhecimento de Rock. Lembrou-se até mesmo da simpatia ambivalente de Sirius Black. Querendo ou não haviam se tornado seus amigos.. talvez estivessem tentando salvar o mundo.. ou os mundos todos.. naquele exato momento. Tinha certeza de que era isso que estariam fazendo e que ele cantaria uma ótima canção sobre isso se estivesse vivo e livre.
Desde que morrera, não tinha mais noção do tempo e já podiam ter se passado muitos anos desde que aquela guerra sangrenta começara. Graças à cópia distorcida do jovem bárbaro que chamavam de Kcor, o vil e desprezível Orcus conseguira não só o controle sobre todo o Abismo, bem como conquistar os Nove Infernos. Yorgói pudera assistir de camarote os lordes diabólicos e demoníacos caírem de joelhos: Demogorgon, Graz'zt, Mephistopheles, Baphomet, Baalzebul e até mesmo Asmodeus.. centenas deles.. seres cuja existência ele sequer cogitara eram agora lacaios de Orcus. Isso fora suficiente para criar o maior exército de que a existência provavelmente tinha notícia. Havia seres ali que nem mesmo os mais completos compêndios da Fortaleza da Vela deviam ter registro. Embora o caos imperasse naquele exército, este avançava como um tsunami pronto a varrer o que quer que houvesse pela frente.
A alma de Yorgói Dossantis seguia presa na gema esmeralda do cetro do senhor de todos os diabos e demônios de onde tinha uma visão privilegiada de tudo. Ele viu os lordes diabólicos e demoníacos se curvarem um a um ante o poder de Orcus e agora atuarem como seus generais submissos. Apenas Asmodeus permanecia aprisionado, empalado pelo próprio cetro aumentado enormemente, numa agonia perpétua que lembrava a todos do que Orcus era capaz. E Yorgói sabia que o malévolo e diabólico ser ambicionava muito mais. Havia ali também um segundo prisioneiro, cuja fama e poder o mestre gnomo conhecia e adimirava. Elminster Aumar, que fora aprisionado por um certo Nergal, mais um dos antigos lordes que agora servia à nova ordem. O escolhido de Mystra jazia inerte acorrentado ao chão como era próprio dos prisioneiros materiais desse plano. Todo o tempo era sugado fogo prateado de seu corpo.. magia em estado bruto... como Yorgói vira sair de Leila Diniz. Essa força primordial alimentava incontáveis larvas que deslizavam sobre o corpo do maior arquimago de Faerun.
Yorgói viu quando Kcor abriu o derradeiro dos portais sugando as almas que formavam um imenso pentagrama ao seu redor. Ele via ali bebês que sequer tinham tido o prazer de gozar a existência e agora eram consumidas antes de gozar a eternidade, deixando para trás pouco mais que o soluço de um choro. A passagem que se abria era colossal como o mar, vasta como as profundezas do oceano sem fim. O bárbaro de sombras expelia energias tenebrosas capazes de espalhar medo mesmo entre aqueles seres de pura maldade.
- Avancem minhas crianças de fogo e enxofre. Devorem a luz e a paz que nos fez refém do sofrimento pela eternidade. Hoje nosso banquete será frango assado, galinha ao molho pardo e pavão a passarinho. Não restará um anjo vivo ou celestial brilhando quando terminarmos. Hoje as Guerras Sangrentas findarão com o doce sabor de nossa vitória e não haverá mundo que não pilhemos, estupremos e governemos!!!
As tropas marchavam pelo amplo portal aberto com a força das almas ceifadas nas Planícies Cinzentas. Seus tambores e gritos entoavam o fim dos Sete Céus. Sozinho, sem que ninguém pudesse ouvi-lo, o bardo cantou uma triste canção que sua mãe lhe ensinara quando do falecimento de seu pai. Não parecia haver razão para esperança. Do outro lado, via-se um resplandecente céu azul sem nuvens onde um sol vistoso brilhava. Um longo paredão de anjos em armaduras prateadas aguardavam prontos a se sacrificarem pelos Sete Céus. Não havia esperança em seus semblantes.. apenas uma resignação convicta. O tempo parecia parado naquelas colinas de ferro.
A verdadeira surpresa se deu quando Kcor, num piscar de olhos, simplesmente desapareceu e com ele, o portal. Algumas poucas centenas de monstros haviam cruzados, enquanto outros passaram a se destruir ante a frustração da investida. Yorgói percebeu que aquilo não estava nos planos de Orcus e no fundo soube que seus amigos tinham alguma coisa haver com isso. Sorriu, pois sempre devia haver esperança...

25 de dez. de 2012

Adendum...


Lorde Byron e Paulo de Tarso se afastaram de Águas Profundas e das trevas que a envolviam. O servo de Morpheus olhou para o ladino, quando já caminhavam a sós e fez sinal para que evitassem a estrada. Ambos podiam ver o tumulto que tomava conta da multidão além dos muros. A maior parte, mesmo dos guardas das barricadas, debandava desesperados com aquele sinal apocalíptico.
Paulo de Tarso, como sempre, disfarçava bem o que se passava em seu íntimo, mas Lorde Byron parecia alguém capaz de ver além das fachadas tradicionais e indicou que o caminho que deveriam tomar era o sul.
- O que há no sul?
- Nós devemos rumar para a Fortaleza da Vela.
- Nossas existências continuam atadas, clérigo, mas isso não significa que eu deva concordar com todas as suas determinações.
- Eu entendo que você esteja consagrado à Senhora da Escuridão, Paulo.. Borracha.. ou como quer que prefira ser chamado. Isso pode lhe parecer uma vitória, mas é apenas um movimento em um grande tabuleiro. Antes que possamos desempenhar nosso verdadeiro papel nisso tudo, precisamos recuperar nossas existências. Por duas vezes eu o salvei.. uma do inferno e outra do purgatório..  mas isso cobrou um quinhão de nossas almas. Apenas o Tomo de Mystra pode nos restituir nossa antiga condição...
- E o tomo está na biblioteca do sul? Não acredito que o poder de Mystra possa ser a solução, clérigo. Nesse tempo todo, aprendi que seus mistérios apenas cuidam de manipular os outros e se estou aqui, é porque tens interesse em me manipular. Se eu encontrar meus camaradas, eles poderão usar as magias das trevas para me salvar.
- Eu não posso culpar a Senhora da Escuridão por nada disso, meu jovem. Enquanto deusa, ela está apenas cumprindo o seu papel primordial. No entanto, você e seus colegas, apenas estão fortalecendo os inimigos de sua própria deusa. Se você quer auxiliar sua rainha das trevas, deve vir comigo para o sul.. recuperar a totalidade de sua existência e só então restituir a ela o que ela sempre mais almejou...
- E quem é você para saber o que ela sempre mais almejou?
- Eu sou alguém que já viu os sonhos dos deuses, rapaz...
- E qual seria o sonho de Shar, servo dos sonhos?
- Ter o que Mystra lhe roubou...
- A maior inimiga de Shar é Selune.. você não me engana, Lor..
- Pelo contrário.. Selune é irmã gêmea de Shar. Não há uma sem a outra, mesmo que possa parecer haver escuridão sem luz... Mystra, por outro lado, é filha de ambas e confiscou a cada uma um quinhão de seus poderes. Com o Tomo de Mystra, você poderá devolver à sua deusa tudo que ela mais deseja...
Paulo de Tarso pensou por um instante, desejando poder ter a certeza que cortar a garganta do servo de Morpheus lhe traria algum alento, mas sabia que havia sabedoria além de mistério naquelas palavras.
- E se isso for apenas mais um de seus joguetes?
- O que você tem a perder?
- Que assim seja, Byron.. mas não espere nada de mim. Tão logo tenhamos o tomo, eu farei o que tenho que fazer...
- É justamente isso que eu espero de você, servo da escuridão. Agora devemos seguir...
- Mas o sul é para lá... - indicou Paulo de Tarso.
- Antes temos de passar pelas ruínas de Soubar. Há alguém lá à nossa espera com os livros que precisamos para adentrar a Fortaleza da Vela...

18 de dez. de 2012

Uma luz sob a montanha...

Daphne deixou a estalagem de Annia atordoada com tudo aquilo e resolveu perambular pelos templos que haviam ao redor do anfiteatro. O movimento diminuíra após a Assembléia Máxima, mas ainda haviam muitos fiéis no interior das basílicas e catedrais. 
A maior e mais destacada dentre as casas dos deuses era o templo de Shar com suas grandes torres de mármore negro, que eram das mais altas da cidade. Ao lado deste ficava o templo de Loviatar, deusa da dor e do sofrimento, onde ela pode ver um pequeno grupo que se mutilava sob os comandos de uma clériga, mas sem gritaria ou baderna, um sofrimento austero, soando apenas os chicotes. A seguir estava o templo de Mask, senhor dos ladrões, que ela conhecia bem e onde viu uma celebração glorificando as ações do imperador e do deus dos espertalhões. 
Na rua ao lado havia um pequeno templo de Shandakul, senhor das viagens e dos caminhos, que era o menos movimentado. O templo seguinte pertencia a Azuth, deus dos magos, onde uma magia coletiva era elaborada para proteger toda a cidade nos combates vindouros. Depois deste estavam as igrejas de Akadi, deusa do ar, e de Gruumbar, deus da terra, ambos divindades elementais, onde pessoas ajoelhadas rezavam para os céus e para o chão, respectivamente, parecendo alheias aos arredores. 
Por fim, completavam a praça os templos de Talos, lorde da destruição, onde uma longa fila de pessoas caminhavam até uma fonte onde quebravam cerâmicas, pratos e estatuetas em adoração ao Senhor do Caos. Adiante, estava a Basílica de Myrkul, menor apenas do que a de Shar. Daphne sabia que aquela era uma antiga divindade da morte e dos mortos, que fora substituída por Cyric e depois por Kelemvor  nos últimos 15 anos. Mesmo assim eram numerosas as pessoas que sentadas e de olhos fechados rezavam no interior amplo. Auril, deusa do frio, possuía aqui um templo tão grande quanto os de Gruumbar e Akadi, deuses de maior grandeza, e parecia contar com muitos fiéis, que portavam velas acesas por um fogo frio e azul. Waukeen, deusa do comércio, contava com modesta igreja, tão diferentes das que a druida já vira, sem ouro ou prata. Imperava a sobriedade e os espaços amplos como em tudo mais.
Haviam muito devotos preocupados com as trevas de Shar sobre Águas Profundas e seus pedidos eram de proteção contra o mal que crescia no oeste em todos os lares divinos. Todos temiam que a Dama das Trevas lhes devorasse as almas e obliterasse toda a existência. Não parecia segredo para ninguém ali, mesmo para o mais embrutecido escravo, as intenções da Senhora da Escuridão. Depois de milênios presos entre as sombras, o neonetheres não pareciam dispostos a mergulhar nas trevas perpétuas.
Daphne passou pelos templos dos deuses da natureza e das divindades neutras dedicando-lhes suas preces e pedindo sabedoria naquele momento tão difícil. Foi quando ela estava praticamente sozinha no templo de Shandakul, entregue às preces, enquanto um grupo de senhoras cuidava do altar, que viu surgir o sombrio homem que avistara durante a Assembléia Máxima. Ela logo viu que se tratava de um dos filhos do imperador Telamont. Ele aproximou-se e fez um cumprimento respeitoso ao altar e outro à druida.
- Saudações, embaixadora da Grande Floresta. Eu vim levá-la de volta para o seu lar...
- Não irei passar mais tempo aqui?
- Todos já foram liberados para retornarem às suas comunidades e comunicá-los da decisão e convocação para nossa guerra. Os que podem fazê-lo já estão seguindo e eu fui responsável por teleportá-la com a graça de Shar. - O príncipe das sombras fez sinal para que ela o acompanhasse. Ele era alto e parecia jovem ainda, tendo passado pouco dos trinta anos, ela diria. Os cabelos e os olhos eram negros, mas a pele um tanto pálida. - Meu nome é Melegaunt Thantul. Posso ver que a graça de Shar não lhe agrada.. pois lhe farei uma pergunta: o que você pensa ser a arte das trevas?
- Me parece um instrumento... uma outra forma de fazer magia.
- Parece que existe mais sabedoria em você do que nos seus. Posso ver no seu belo olhar que não é como os outros. Todos apressadamente dizem ser o contrário da magia. Aquilo que Shar trás aos seus é uma possibilidade de se construir magia.. assim como o faz Mystra e outros mais. Meu povo sobreviveu graças a esse conhecimento e ao bom uso dessa força. Graças a ela, meu pai vem governando com sabedoria há mais de mil anos. Ao contrário de meus irmãos, não anseio pelo dia em que ele perecerá e terá início uma guerra fratricida pelo poder entre eles. Eu acredito que depois dessa prolongada prisão, há muito o que ver e admirar em nosso vasto império.
- Ainda assim, as forças alheias à vida e à natureza que elas carregam me perturbam...
- Eu posso nos levar pelo tecido mágico de Mystra se você preferir, não seria um problema para mim. - Melegaunt tocou a mão da druida enquanto começava a conjurar a magia e os levava para longe dali. O príncipe das sombras, no entanto, deixou sua atenção recair mais sobre a companhia, o que acabou diminuindo a precisão de seus gestos arcanos. Assim, o destino do mago das trevas não saiu como o planejado. Ele e sua acompanhante surgiram em um escura caverna cercados por uma batalha. Ao redor deles estava um grupo de kuo-toas lutando contra o que pareciam aventureiros humanos. 


Ehtur foi o primeiro a reconhecer Daphne, após derrubar um homem-peixe próximo. Sirius, Úrsula, Muadib e Falkiner investiram contra as criaturas libertando os escravos. Estavam à margem do rio subterrâneo sob a montanha, por onde os kuo-toas traziam seus escravos. Enquanto os skums tentavam fugir, todos ali descobriram que havia mais naquelas águas turvas. Surpresa maior que a chegada da druida e de seu acompanhante causou o ataque de Sirius Black contra Francisco Xavier, que fez o mago se desfazer em um brilho fulgás. Antes que pudessem tomar providências vendo que o ladino de Selune estava dominado, foi a vez de verem Ehtur Telcontar sucumbir ao domínio mental. Ele investiu contra Muadib, enquanto Sirius atacou Daphne.
Sem saber do que se dava na batalha, Ryolith e Rock garantiam a segurança dos outros libertos e de Rose Anne em um aposento anterior. Leila Diniz pressentiu o que acontecera com seu protetor e resolveu avançar.
Mais adiante, John Falkiner, Muadib e Úrsula investiam contra as águas na esperança de deter o monstro marinho de comandava a dominação de seus colegas. Daphne percebeu que se tratava de um aboleth e atirou-se às águas tomando a forma de um octopos gigante. Seus tentáculos agarraram-se ao monstro, que não exitou em dominá-la, no entanto. 

Mesmo assim, a investida da druida garantiu o necessário para que o clérigo de Kelemvor clamasse pelo poder divino da morte e fulminasse com cólera celeste o corpo da criatura. Ainda que esta tenha resistido, o aboleth se viu gravemente ferido. Melegaunt Thantul aproveitou para libertar os dois humanos de seu controle.

Sob a chuva de ataques do sobrevivente da masmorra e da matadora de magos, a criatura optou por fugir. Resgataram Daphne e puderam então se reagrupar para conversar. Daphne contou sobre o que se dera na Cidade Obscura, enquanto eles embarcavam as pessoas em botes que haviam por ali. Lembraram aos marinheiros que eram livres e que ninguém poderia mudar isso.
- Como chegaram aqui? Ninguém pode se teleportar para essa masmorra Sob a Montanha. - questionou Falkiner.
- Nenhum lugar é vedado para mim, homem de Suzail. Inclusive, eu vim apenas trazer a embaixadora e se é com vocês que ela deseja ficar, eu partirei, mesmo achando que ela mereça melhores companhias. De qualquer forma, devem saber que Nova Netheril irá sempre proteger o seu povo. Meu pai é um homem justo e sábio. Adeus, Daphne. - Melegaunt conjurou o teleporte e nada aconteceu. Todos riram, com exceção de Daphne. - Deve haver alguma proteção mágica. Mas usarei meus poderes das sombras e isso não me impedirá.
- Espe.. - tentou alertá-lo Leila Diniz, mas Melegaunt descobriu por si próprio que aquilo também não funcionou. O mago não disfarçou sua insatisfação.
- Eu preciso descansar. Depois de estudar minhas magias poderei sair daqui.
- Claro, claro.. - iam dizendo os demais, que já tentavam alcançar Ehtur e Sirius que não haviam ficado perdendo tempo com a conversa. Ryoliyh Fox aproveitou para confirmar com sua fé que Melegaunt não era mau como os outros nethereses e sombrios que o paladino conhecera. Os dois já haviam chegado à caverna mais adiante, novo caminho que alcançaram seguindo a fé de Falkiner.
- Daphne Amkathra? Minha filha? - Todos puderam escutar os gritos de uma mãe desesperada. - Olhe só pra você!!! Parece um espantalho! Que roupas são essas? Você parece uma perdida, menina. O que eu fiz pra merecer isso, minha filha? Seu pai se matando para ganhar o controle da cidade e o respeito que nossa família merece e você indo regar árvores? Isso só pode ser carma, meu Máscara.. ó senhor dos ladrões, por que? 
- Mãe.. agora não é hora para isso... e você sabe muito bem o que eu penso da sua família...
- Você sempre será uma de nós.. uma Amkathra.
- Minha família está na Grande Floresta! - E com aquelas palavras, ela se transformou num elfo negro para enxergar melhor na escuridão e auxiliar seus amigos.
A fé de Falkiner os levou até uma estreita caverna com um chão repleto de runas mágicas. Não eram simples runas marcadas magicamente, mas sim runas místicas primordiais, uma das formas mais antigas de se fazer magia. Elas cobriam todo o chão a se perder de vista. Uma rápida inspeção revelou que causariam grande estrago. Leila Diniz e o clérigo combinaram seus poderes para anular as primeiras, mas suas forças se esgotaram antes de um terço delas. Melegaunt disse que só poderia fazer algo caso descansasse e diante de tal impasse, optaram por descansar todos. Úrsula e Muadib acharam uma sala anexa guardada por uma armadilha, enquanto os demais buscavam o repouso. Após transpô-la, eles encontraram algum dinheiro e itens mágicos.  Falkiner, por sua vez, usou o poder de Kelemvor para se transformar em um ser etéreo vagando em segurança além do alcance das magias das runas. Ele chegou até uma caverna ampla e dali para uma sala imensa repleta de ácido fumegante e esmeralda. Retornou antes que o poder findasse e alertou os colegas. 
Durante o turno de Daphne, ela avistou um vulto espreitando no corredor. Ehtur e Muadib já haviam visto rastros de homens lagartos ou similares que passavam sobre as runas. O guardião de Mielikki sentia o cheiro rançoso do ácido no ar, que parecia mais forte nessas horas que se passaram.
Antes de tentar uma nova partida, atendendo às súplicas do bárbaro Rocck, Melegaunt liberou um feitiço que foi capaz de temporariamente anular as runas. Vinte e uma sucumbiram ante seu poder das trevas. Ele despediu-se uma vez mais de Daphne e conjurou seus poderes para uma viagem planar. Todos duvidaram, mas dessa vez ele se foi. 
Avançaram e conseguiram anular as três últimas runas. Isso deixou o caminho livre para que seguissem até o ponto em que acessaram a caverna perpendicular, mais larga. Naquele ponto, encontraram uma barricada e acabaram alvejados por um relâmpago mágico. Preferiram, entretanto, usar de diplomacia e convocar o dragão para um acordo.  O lacaio dracônico trouxe o imenso dragão que era seu mestre:
- Eu sou Keygrodekkerrhylon, senhor desse rio e dessas cavernas. Vocês ousam invadir minha morada, ameaçar meus servos e cobiçar meu tesouro?

- Perdoe-nos grande dragão, mas não é essa nossa intenção.. - intercedeu Muadib.
- Temos uma importante missão.. - acrescentou Daphne.
- Fomos enviados pelo dragão Inferno para resgatar um artefato.. o cetro de Lathander. - completou Falkiner.
- O cetro do sol me pertence. Tudo aqui me pertence.
- Ele é necessário para expulsar as trevas que cobrem Águas Profundas - disse Daphne.
- E você não parece ter tanto governo por aqui.. - provocou Falkiner.
- Os kuo-toa perturbam meu território com sua deusa vadia e seus escravos, mas ainda sou o senhor dessas cavernas. O que se passa lá em cima não me importa, humanos. Os tempos são prósperos para mim. Este artefato é de minha propriedade e não irei entregá-los a vocês. 
- Nós podemos pagar por ele eliminando os kuo-toa - retrucou Ehtur. 
- Isso não me interessa. Vocês precisariam de muito ouro..
- Quanto?
- Um milhão de peças.
- É demais para nós.
- Eu aceitaria outro artefato igualmente poderoso - ponderou o imenso dragão.
- Nós possuímos um artefato.. - disse Leila Diniz olhando para o amuleto de Ryolith Fox.
- Ou melhor.. dois.. - completou Rock olhando os óculos de Sirius.
- Escolham quem deixará seu artefato ou eu decidirei! - Disse Ehtur sem pensar duas vezes. O paladino segurou entre os dedos o símbolo sagrado de seu deus que pertencera a um dos maiores paladinos da justiça daquele mundo. Sentia um enorme carinho por aquele objeto que sempre o fez sentir Tyr mais próximo dele Enquanto isso, a tensão permanecia.
- Por que eu tenho que entregar o meu artefato? Eu acabei de recebê-lo.. por que sempre eu tenho que me sacrificar para salvar a todos por aqui? Sempre o Sirius.. sempre eu que...
- Cale-se, seu ladrão egoísta. Se alguém deve se sacrificar aqui, esse alguém sou eu! - Ryolith Fox arrancou o amuleto e atirou ao dragão.. - Com ou sem amuleto Tyr, a justiça e a verdade sempre estarão comigo e com os justos. Aqui está, dragão... onde está o cetro do deus do sol?
Com satisfação, ainda que segurar o amuleto lhe causasse enorme dor, Keygrodekkerrhylon os conduziu até uma caverna contígua onde lhes entregou o cetro todo de ouro com pedras preciosas cravejadas. Assim que deixou as mãos malignas e escamosas do dragão, o artefato passou a brilhar como uma estrela dourada. O dragão negro lhes orientou que poderiam tomar as águas de sua caverna para chegar até o mar e dali até Águas Profundas. Tão logo o fizeram, John Falkiner, que recebeu o artefato viu que podia respirar mesmo sob as águas. Nadaram tudo que puderam até avistar a superfície, onde encheram uma vez mais os pulmões com ar.
Estavam muitos quilômetros em alto mar. Haviam apenas alguns botes ao longe entre eles e a torre de trevas que crescera na Cidade dos Esplendores. 


13 de dez. de 2012

Sob o mesmo céu


Quando Daphne despertou, viu que a vasta sombra da Cidade Obscura ainda pairava sobre a Grande Floresta. O emissário Hadrhune já esperava por ela e partiram assim que ela disse estar pronta. Ele teleportou os dois com a força mágica tenebrosa de Shar, o que não deixou de incomodar a serva da natureza. Desde sua possessão, Daphne percebia que aquelas forças mágicas ofertadas pela Senhora da Escuridão eram mais do que uma antítese do poder de Mystra, afinal existia escuridão sem luz, mas não luz sem escuridão.
A urbe onde apareceram era como nenhuma outra que Daphne tivesse visto. Certamente era uma cidade de grande porte, de cerca de vinte e cinco mil habitantes, com construções sóbrias e pesadas. A parte central era mais elevada, além de possuir construções maiores e mais escuras. Ali onde apareceram, os prédios eram menores, muito próximos uns dos outros. Tinham cores cinzentas e frias, sempre tendendo aos tons mais sombrios e foscos.
Não havia nada ali que parecesse capaz de animar os espíritos dos viventes a não ser a bela vista do mundo lá embaixo. Daphne via que a cidade estava se movendo e logo também estava ela a acompanhar o emissário do senhor deste lugar. Por mais que andasse e observasse, não havia colorido, não haviam plantas e eram poucos os animais. Mesmo assim, a druida não perdeu tempo em estabelecer um vínculo espiritual, já preparado na noite anterior, com os corvos que iam atendendo ao seu chamado.. quatro ao todo. Além deles, ela vinculou-se a um rato, com o intuito de que esses olhos fossem úteis naquele ambiente perigoso e desconhecido.
Por mais que se aproximasse do centro da cidade, não havia decoração, adornos ou belas fachadas. Haviam apenas linhas retas e objetividade. As pessoas andavam nas ruas em perfeita ordenação, em filas que não se atrapalhavam mesmo nos cruzamentos das ruas. Não havia gritaria ou barulhos, jogos nem confusão. Alguns indivíduos voavam, caminhavam pelas paredes ou fundiam-se com as sombras dando mostras da energia mágica que cercava a cidade das Sombras. Senhores indiferentes eram carregados ou conduzidos por escravos. Com estes estavam a maior parte dos animais, que ela entendeu serem familiares ou servos convocados, muitos com traços abissais ou sombrios.
Chegaram finalmente a um imenso anfiteatro, Era um amplo prédio semi-circular onde caberiam facilmente milhares de pessoas. Daphne entendeu que ali era o local da Assembléia Máxima, já ouvindo as muitas vozes que perturbavam o mórbido silêncio da cidade. A arena ficava no centro de uma praça cercada de templos. Ela reconheceu alguns como o de Shar, Gruumbar, Auril e Shandakul, mas viu que haviam muitos mais. Nenhum no entanto de boas divindades como Selune, Lathander, Tyr ou Mystra.
O interior do anfiteatro era intimidador, todo em mármore negro, com colunas retorcidas, relevos macabros e gárgulas sinistras. No palco ao centro, estavam muitos homens tenebrosos e ainda mais sinistros. O mais terrível talvez fosse o que estava sentado ao centro a observar tudo. Ele trazia uma coroa negra na cabeça e um olhar de arrogante domínio sobre tudo que via. De cada lado dele estavam sentados seis outros homens também imponentes, mas ofuscados pela grandeza de um astro maior. Os mais próximos do centro pareciam mais velhos do que os das pontas. Haviam muitos outros indivíduos ali ainda a ouvir, servir ou simplesmente paparicar aquelas treze figuras sentadas. Todos pareciam mesclar-se com as sombras como Hadhrune.
Este indicou a Daphne que tomasse assento. Ele indicou a platéia onde uma gama diversa de sujeitos aguardava conversando em pequenos grupos. A druida considerou que tratava-se de gente de diferentes regiões do que esses sombrios servos das trevas chamavam de Nova Netheril. Hadhrune então seguiu em direção ao palco e ao imperador, enquanto a serva da natureza aproximou-se do público com cautela, sentando e observando.
Um homem próximo puxou conversa e confirmou as expectativas dela, pois vinha de uma das cidades próximas da Grande Floresta, da região devastada pela erupção das Montanhas das Estrelas. Enquanto conversava, ela viu se aproximarem um par de elfas. As únicas do belo povo por ali. Ela reconheceu uma delas de imediato, pois tratava-se de Annia Evalandriel, que envolvera-se com Sirius. A elfa estava muito produzida e elegante, cheia de jóias e penduricalhos, muito diferente de quando era uma ama da rainha dos elfos.
- Olá, querida.. Daphne, não é mesmo?
- Sim...
- Sou Annia.. de Evereska.. creio que se lembre de mim..
- Sim, sim, Annia. Lembro bem de você quando estivemos lá há mais de um ano...
- Como o tempo voa, não é mesmo? Fico feliz de vê-la aqui nesse conselho.
- Estou representando os druidas da Grande Floresta.. fui trazida por um dos sombrios e..
- Bom saber que reconhecem o poder de nosso vasto império. Como vai Sirius?
- Na verdade, ele está preso sob as trevas de Shar que tomaram Águas Profundas.
- Que notícia terrível... - disse Annia sem conseguir disfarçar a preocupação genuína. - Mas sei que os poderes dele são grandes.. ele há de ficar bem. Esse é mais um motivo para nos concentrarmos na esperança que nos traz nosso imperador. O regente Rhange Hesysthance Sorrowleaf me enviou como embaixadora para representar Evereska. Nossa cidade vem prosperando sob o comando do regente, que no entanto não descansa enquanto não libertar a alma da rainha Querdalla. Nossos soldados buscam até o último dos phaerimms. Aliás, nessa empreitada, ele conseguiu recuperar a alma de um dos gnomos do seu grupo...
- Arnoux? Será possível?
- Sim, sim.. o regente apenas não libertou sua alma, pois sem o corpo, isso representaria a morte do gnomo. E o arquimago Sorrowleaf tem grande apreço pelo casal de gnomos... se quiser, irei me reportar a ele após a assembléia, pode me acompanhar e tratar da alma de seu aliado...
- Seria ótimo e...
- Silêncio todos. - ecoou pelo ambiente a voz de Hadrhune. Como um senescal, após golpear o chão três vezes com seu cajado, ele anunciou que falaria o Príncipe das Sombras Telamont Tanthul, imperador de Nova Netheril.

- Meu povo de Nova Netheril, meus caros arautos e representantes de cada cidadão de nosso vasto império, sejam bem vindos à nossa capital. - Ao se levantar, o imperador Telamont pareceu crescer, como se todas as trevas ali não fossem mais do que partes periféricas de seu corpo. por um intante, Daphne pensou que cada sombra ali era uma parte dele. - Agradeço a todos por responderem tão prontamente a esta convocação, pois o tempo urge contra nós. Não recuperamos nossa glória para vê-la...
- Não há legitimidade possível nessa reunião.. - bradou outra voz. Logo, estavam ali dois seres tão ou mais sinistros do que aquele que ocupavam o centro daquele teatro. Ambos eram mortos-vivos, com corpos decrépitos e apodrecidos. Um era gordo e pelancudo, dobrando em massas de carne sobrepostas. O outro era esquálido, parecendo feito apenas de pele e ossos. Daphne via neles as mesmas forças necromânticas nefastas com que Szaas Tam a profanara.


Ao despertar, todo o grupo com a comitiva de libertos não demorou a descobrir que já eram procurados pelos kuo-toas. Tomaram o cuidado de manter as pessoas libertadas, os dois kuo-toas cativos e Rose Anne Amkathra afastados do combate, posicionando-se para dar conta dos homens-peixe. Sirius Black derrubou os primeiros antes que pudessem se dar conta do que estava acontecendo. Muadib usou de sua mobilidade e agilidade para atingir os inimigos com seus múltiplos ataques e recuar. Ehtur garantia a segurança com o alcance de sua lança, protegido em um corredor contíguo. Úrsula mantinha-se a salvo disparando suas flechas e John Falkiner voava acima de todos liberando magia divina. Na retaguarda, Ryolith Fox, Rock dos Lobos, Leila Diniz e Francisco Xavier garantiam a retaguarda.
Dessa vez, no entanto, os servos de Blibdoolpoolp, a Mãe do Mar, não contavam apenas com suas lanças terminadas em afiadas pinças. Para surpresa de todos, um relâmpago largo rebentou no corredor eletrocutando os que não conseguiram evadir. A maior parte dos antigos escravos dos homens-peixes tombou quase mortos. Os heróis suportaram o ataque, mas viram que era hora de investir contra os guerreiros que ainda restavam antes do clérigo da Mãe do Mar. Enquanto isso, aqueles que estavam na retaguarda aproveitaram para curar os caídos. Os dois Kuo-toas, mesmo com braços amarrados, aproveitaram a distração para fugir pelo corredor que Ehtur deixara livre. Rock tentou detê-los com uma muralha de fogo, mas eles foram mais rápidos. Leila Diniz precisou concentrar-se para anular o novo relâmpago conjurado pelo clérigo kuo-toa. Isso deu tempo para que os demais chegassem até ele e o vitimassem.
Neste ponto, finalmente a fé de John Falkiner mostrou-lhe que a direção do destino mudara. Seguiram com o receio de estarem se afastando do real destino. Uma terrível armadilha na porta seguinte derramou sobre Úrsula e Muadib que tentavam abri-la uma chuva ácida venenosa. Isso mitigou a força dos músculos de ambos, fazendo Úrsula desmaiar. O servo de Kelemvor precisou clamar pela benção do deus dos mortos para realizar a necessária cura. Em seguida, abriu um túnel na parede para evitarem a porta.

Mais à frente, depois de acompanharem os rastros dos kuo-toas, encontraram a entrada principal do templo dos homens-peixe. Na direção oposta, já sabiam que estavam muito próximos do rio subterrâneo de onde vinham os escravos. A fé de Falkiner indicava que o caminho principal estava ao centro dos dois rumos. No entanto, a empolgação descuidada do clérigo acabou revelando a presença deles para os seguranças do templo.
Rock conseguiu colocar uma magia de silêncio atrás deles, evitando atrair a multidão do templo. Todos atacaram e conseguiram rapidamente matar os inimigos. O caminho estava livre...

- Eu sou Aumvor, aquele que não pode ser morto, guardião da magia de Netheril, aquele que sobreviveu à tolice de Karsus.
- Não é possível falar no glorioso reino de Netheril, se os dois únicos arcanos de Netheril que restam neste mundo não são ouvidos.  Eu sou Larloch, Senhor das Mil Criptas, mais antigo arquimago do maior império que já existiu. Este enclave não pode clamar por uma glória sem resgatar seu passado, príncipe Telamont.
- Nova Netheril não nega, mas sim busca resgatar as glórias de outrora, nobres arquimagos. Certamente, nosso império está pronto a prestar contas e reconhecer-lhes os devidos títulos e recompensas, caros senhores. Sentem-se aqui ao meu lado.. essa glória não seria glória alguma sem o respaldo de vossas argutas mentes - disse Telamont fazendo sinal para que os filhos mais próximos dessem lugar para os dois recém-chegados.

Os dois lichs parecem ter se dado por satisfeitos, tomando seus lugares ao lado do imperador. Suas órbitas vazias pontuadas pelo sinistro brilho vermelho fitaram a multidão como se fossem seus escravos. As trevas por ali tão plenas não pareciam incomodá-los, mas muitos foram os presentes na platéia que sentiam o medo vindo dos dois.
- Continuemos então, agora com a presença de todos que aqui merecem estar, meus estimados cidadãos. As forças destrutivas de Shar cobrem a chamada Cidade dos Esplendores. Aquelas trevas primordiais logo se expandirão e alcançarão as boas terras de nosso vasto império. Farão isso se não nos mobilizarmos para proteger nossos filhos.
- Quem você quer enganar? - gritou um homem em meio à platéia, que pelos burburinhos, Daphne descobriu ser o embaixador de Secomber, uma importante cidade ao sul da Grande Floresta. - Todos sabemos que vocês servem a Shar...
- Olhe ao seu redor, simplório homem! - Ordenou o imperador com raiva, mas sem perder a diplomacia. - Existe sim um templo de Shar nessa cidade e muitos servos dessa deusa primeira, mas há também um templo de Gond, senhor da construção.. um templo de Gruumbar, senhor da Terra.. um templo de Azuth, senhor dos magos e muitas outras divindades. Há servos de Shar em Nova Netheril, mas nunca escravos de seus desígnios. Nosso objetivo é o bem estar de nosso povo! Para tanto é necessário mobilizar um exército. Cada cidade e cada região deve convocar seus cidadãos para defender nossa pátria, nosso solo e nossos filhos. Cada um de vocês, embaixadores aqui presentes, deve retornar ao seu lar e inflamar o coração de seus irmão para que possamos salvar Águas Profundas e todo esse mundo. - As palavras fortes e hábeis do imperador Telamont iam conquistando todos ali e até mesmo Daphne via nelas uma preocupação genuína de um governante para com seus governados. - Escutem o meu chamado, meus filhos. Quem entre vocês está comigo? Quem entre vocês ama esse império? Quem entre vocês concorda com marchemos para salvar Águas Profundas?
Todos ergueram as mãos, muitos com entusiasmo. Daphne logo percebeu que apenas meia-dúzia de embaixadores não o fizeram. Cinco deles preferiram se abster e apenas um deles, o embaixador de Secomber, se negou a concordar. Rapidamente um mar de trevas o envolveu e ele despareceu para terror de todos. Nas duas questões que se seguiram, ninguém mais ousou discordar. Decidiu-se que todas as cidades cederiam membros de sua população para formar um exército que marcharia para o oeste para salvar a Cidade dos Esplendores das trevas de Shar. Com a vitória, seria a vez de cuidar dos problemas com os zhentarianos no leste e os insurgentes de Suzail ao sul.
Desse modo, os embaixadores foram dispensados, enquanto a cúpula central entregou-se a conversas internas. Daphne deixou o anfiteatro e foi convidada por Annia a acompanhá-la até a estalagem que pouco distava dali. Lá chegando, ela usou de um pergaminho de divinação para criar uma tela onde podiam ver o arquimago Sorrowleaf. Este pareceu satisfeito ao ver a druida e confirmou-lhe que estava com a alma de Arnoux. Rhange ficou feliz com as notícias anunciadas por Annia e despediu-se com o convite para receber Daphne e seus aliados tão logo a crise fosse debelada.
Antes de partir, a druida recuso o convite da elfa, que já fazia pequenas carícias em seus cabelos ruivos. Não muito longe dali, através dos olhos de seus corvos, ela sabia que os embaixadores que haviam se abstido na votação não tiveram a mesma sorte dos demais, sendo capturados na saída e conduzidos ao que parecia ser o prédio da guarda.



7 de dez. de 2012

Ainda Sob a Montanha.. a sombra cresce...



Daphne despertou na Grande Floresta. Sentiu a paz que apenas seu lar lhe proporcionava. Viu que estava com Gaios e Costeau. Eles discutiam, mas ficaram felizes ao vê-la despertar. A Grande Floresta também sorria dentro dela.
- O que houve? Onde estão...
- Você foi corrompida pela escuridão. As trevas de Shar que a habitaram tomaram Águas Profundas - respondeu Costeau abruptamente.
- Mas como?
- Acalme-se, Daphne. Você precisa descansar e se recuperar. Ehtur nos alertou de que as trevas de Shar haviam se apossado de você. Eu o enviei em companhia de Costeau para resgatá-la, mas ao que tudo indica, a Senhora da Escuridão conseguiu concretizar seus planos devastadores. - Enquanto falava, o velho druida de longas barbas brancas guiou-a em direção ao perímetro das árvores. De lá, a abnegada druida viu a imensa montanha de escuridão que se erguia no oeste. Ela entendeu logo o que era aquilo. Algo em seu íntimo sabia que era um câncer que devoraria toda a vida.
- Meus amigos estão lá? Tenho que...
- Você tem que esquecer daqueles baderneiros urbanos. Aqueles malditos punks vem trazendo confusão atrás de confusão para nossa floresta. Não precisamos deles.. 
- O momento é de regeneração, Daphne. - interviu Gaios. - Ainda estamos abatidos pelo avanço dos tenebrosos nethereses. Suas forças avançam cada vez mais e..
- Eu entendo, mas tenho de ir até eles.. alertá-los e então retornarei.
- Você precisa se recuperar. A floresta ainda não a abençoou o suficiente para extirpar as sequelas do mal que a invadiu. Não há como dimensionar as consequência de ter a deusa da escuridão em ti. Certo é que isso foi ainda mais terrível que as diabruras de Szass Tam.
Daphne concordou em repousar. Ela havia sentido a deusa da escuridão dentro dela. O ser mais antigo da existência.. a força primeira que havia dado origem a tudo. Embora isso lhe trouxesse calafrios, Daphne entendia melhor agora o que movia Shar. Não era simplesmente maldade ou uma força irracional que buscava a destruição. Era uma consciência de um tudo que via na obliteração do todo, o único caminho para alcançar a graça inicial, a paz de ser tudo que apenas ela tinha conhecido. Toda aquela vida da Grande Floresta lembrou aquela druida, serva de todos os aspectos da natureza, que destruição e nascimento faziam parte do mesmo ciclo. O que poderiam fazer se era a hora daquele tempo morrer? Viria um novo tempo?

Os pensamentos e a conversa foram interrompidos pela sombra que cobriu as árvores denunciando a cidade voadora de Nova Netheril. Em um instante, estava entre eles um sujeito sombrio, envolto em trajes de um mago. Empunhava um cajado bifurcado na ponta e parecia um com as sombras.
- Saudações druidas da Grande Floresta. Meu nome é Hadrhune, um emissário do príncipe das sombras e imperator de Nova Netherill Telamont. Venho como um embaixador trazer-lhes nossa diplomacia.
- Que diplomacia é essa que vem depois de destruição e devastação? - questionou Gaios tomando a dianteira da discussão.
- O mal de Shar se espalha sobre Águas Profundas e logo alcançará tudo mais.. não há tempo para amenidades como essas, velho druida. A Grande Floresta é parte de Nova Netheril e eu venho buscar um de vocês para que representem os seus na Assembléia Máxima.
- E se não concordarmos com isso?
- Vocês podem protestar e queixar-se no espaço que lhes compete ou eu posso procurar outros druidas que estejam mais dispostos a cooperar. Nosso império estende a mão a vocês com uma esperança no momento em que tudo mais parece desmoronar. A Grande Floresta terá seu assento, assim como todas as partes de nosso vasto império. Nós faremos essa velha floresta prosperar e crescer como nos antigos tempos de Netheril. Suas árvores tornarão a cobrir as areias do Grande Deserto.
- O seu império tenebroso e nefasto mata os guardiões dessa floresta.. nos aterroriza com dragões.. nega a magia fecunda de Mystra.. usam da magia negra da mesma deusa que diz combater.. trás morte e desequilíbrio.. Ainda quer nos convencer de que são nossos salvadores? Vocês são conquistadores sanguinário, servo das sombras. - disse Gaios investindo contra o embaixador. Este não mudou de expressão e com um simples gesto, lançou um pequenino raio negro de seu indicador. O raio atingiu o mais velho daqueles druidas em cheio e logo mais ele não estava lá. Apenas um monte de cinzas restou. Daphne percebeu que aquela era uma magia da tessitura das sombras de Shar e viu seu maior mentor ser destruído por ela.
- Eu posso destruir cada um de vocês sem a menor dificuldade, mas não é isso que eu vim fazer. No entanto, não terei problemas em fazê-lo. A Grande Floresta é território de Nova Natheril e pela lei é crime se opor a um emissário direto do rei. Tenho o direito de executá-los sumariamente.. mas o que eu ganharia com isso? Apenas o trabalho de procurar outros druidas.. escolham um de vocês.. essa pessoa deve me acompanhar...
- Nós iremos cooperar.. entendemos o recado, embaixador. - disse Costeau. Rapidamente chegaram a conclusão de que Daphne seria quem iria acompanhá-lo. Ela temia pelo próprio círculo sem Gaios, mas não pode escapar à questão. Conseguiu ao menos o direito de terminar suas orações e seu descanso. Hadrhune viria buscá-la no dia seguinte. Costeau partiu para alertar seus camaradas, deixando-a em companhia dos demais druidas do círculo que responderam ao chamado da morte de Gaios. Daphne dormiu pensando em corvos.




Eliminado o kuo-toa, foi a vez de liberar o acesso para os camaradas e libertar os cativos. Eram três homens e uma mulher, todos eles humanos. Ryolith Fox sentiu a maldade em três deles. Um era mais velho e estava bastante acima do peso. Após acordá-los, descobriram que eram três membros da família Thuul e um segurança. Haviam sido capturados enquanto fugiam da cidade desesperados com a escuridão e seu navio foi atacado por algo que os lançou ao mar. O patriarca Zabbas era arrogante e violento. A filha dele, Shallyn, preocupava-se com pai, embora parecesse confiar em Sirius e seu brilho lunar. 
Como a fé de John Falkiner lhes dizia que o caminho era seguir em frente, buscaram ali e Sirius Black acabou encontrando uma passagem secreta. Esta, no entanto, dificilmente poderia ser aberta por esse lado. Mesmo com a força de todos ali reunida, nada se deu. Por fim, foi o servo de Lathander que clamou pelos poderes do deus da morte e tornou-se etéreo como um fantasma. Ele atravessou a parede espessa e encontrou um vasto aposento sem iluminação. Via apenas o brilho perdido de uma luz refletida no horizonte, que perfilava uma multidão de centenas de criaturas. Sem ter o que fazer, o clérigo retornou.
Não tendo outra opção e acompanhados do quarteto, além de Rose Anne Amkathra, o grupo avançou pelos corredores sob a montanha, tendo de silenciar o patriarca gordo dos Thuul que insistia em querer comprá-los com um dinheiro que não tinha e a tratar a filha com desprezo. Sirius seguiu buscando por armadilhas com a ajuda de Úrsula. Moadib e Ehtur vinham logo atrás rastreando e prontos para qualquer eventualidade.
Mais à frente, encontraram o grupo de kuo-toas, que eliminaram sem maiores dificuldades, inclusive fazendo dois prisioneiros além de libertar mais escravos. Conseguiram melhores informações sobre os inimigos, entendendo que trabalhavam próximo a um rio subterrâneo que dava acesso ao mar por onde traziam os escravos. Haviam muitos deles. Moadib disse que evitou a região por perceber que eram numerosos. Isso criou o complicador de aumentar muito a comitiva e dificultar que avançassem em segurança. Encontraram armadilhas e tesouros, mas acabaram optando por descansar antes de continuarem.

28 de nov. de 2012

Sob a montanha...

Úrsula foi a primeira a chegar lá, pois procurara pelo portal em meio ao lixo. O aposento era totalmente escuro e ela nada podia ver. Logo depois dela chegou Sirius Black, que trazia em si e nas vestes a luz sagrada de Selune. Com isso, já puderam ver os dois esqueletos humanos estendidos no chão. Ehtur surgiu trombando em Sirius. Um dos esqueletos vestia uma armadura de placas de bronze.. pesada, antiga e ultrapassada, mas ainda assim intacta. Estavam próximos a algumas armas. Ehtur Telcontar sentiu um cheiro de terra úmida. Leila chegou caindo sobre o guardião. Sirius e Úrsula perceberam que não haviam saídas dali. John chegou trazendo Rose Anne Amkathra com ele. Úrsula avançou e gritou a plenos pulmões:
- Halaster Mantonegro é o cara. - No exato momento em que Ryolith surgiu derrubando o clérigo e a feiticeira, uma passagem se abriu na pedra dando acesso a um corredor perpendicular em ambas as direções. Por prudência, o paladino cedeu um manto para abafar a luz de Sirius. Ele seguiu para a direita, enquanto o faro de Ehtur indicava que o ar fresco vinha da esquerda. O servo da natureza ainda estava contrariado com a mensagem arrogante de Costeau sobre Daphne e a Grande Floresta. Nem o druida, nem os paladinos de Tyr, o gnomo protetor da magia ou a serva de Selune apareceram.
Sirius Black não demorou a ver que o caminho que tomara dava para um salão e que todo o piso do aposento era uma armadilha que faria o teto esmagar quem entrasse lá dentro. Retornou até os demais e avançaram cautelosamente na direção oposta, de onde vinha a brisa.

Depois de algumas dezenas de metros, o corredor de pedra revelou uma porta a direita, além do corredor dobrar a esquerda mais adiante. Naquele ponto, Sirius percebeu que havia uma armadilha. Tentou evitá-la com um pulo para inspecionar a porta, mas isso revelou-se leviano e ele acabou sendo afetado por uma magia de Reversão da Gravidade. Úrsula teve o mesmo destino. Foi preciso que Leila Diniz intervisse dissipando a magia com seu poder arcano e inutilizando a armadilha por alguns minutos.
Como a porta era coberta de longos espinhos, preferiram seguir o corredor e a brisa. Ehtur acabou por encontrar alguns rastros de homens lagartos que passavam por ali com alguma constância e não eram antigos. Mais uma vez evitaram o problema e seguiram com o cuidado de inspecionar todas as opções com a pouca visibilidade. O aposento de onde vinha o cheiro de terra molhada também pareceu ao ladino uma armadilha e optaram por recuar. Preferiram, então, tentar a sorte com os homens lagarto.
Encontraram dois deles ocupados em uma divisão de objetos numa caverna que lhes servia de morada. Sem pestanejar ou entender o que diziam, Úrsula os fulminou com suas flechas causando estardalhaço. Dois outros levantaram-se e teriam o mesmo destino não fosse a intervenção dos demais colegas. Fizeram assim, um prisioneiro. Leila Diniz usou de seu melhor dracônico para extrair informações do humanoide de sangue frio com o auxílio do temor que sua condição de morta-viva causava nele. O homem lagarto de nome Uruk nada sabia sobre Halaster Mantonegro ou o aposento que Úrsula pretendia achar.
Desanimados com os insucessos e com aquele labirinto repleto de ameaças, o grupo viu uma nova luz no fim do túnel quando John Falkiner clamou pelos poderes de Kelemvor para achar o caminho. Sua fé o guiou de volta para a porta de ferro que não cruzaram. Continuavam impossibilitados de abri-la no entanto. Ali o homem lagarto aproveitou para fugir, sem saber que apenas corria para morte certa na armadilha da próxima sala onde o teto lhe esmagaria.
Sem alguém com habilidades ladinas para abrir portas, o grupo se via impossibilitado de passar. Tiveram de recorrer à magias de teleporte. Com a benção do fogo da lua, Sirius levou Úrsula e Ehtur para o outro lado com um pensamento. Quando Falkiner fez o mesmo, no entanto, seus poderes não funcionaram. O clérigo sabia que não fora a falta da fé ou da magia que respondia a ela. Logo percebeu que as formas tradicionais de magia de teleporte não eram permitidas sob a montanha. Mais uma piada do mago louco certamente.
John Falkiner avisou aos demais que precisaria preparar suas preces para poder levar o grupo para o outro lado e todos concordaram em descansar. Ryolith Fox ficou vigilante do lado anterior à porta, enquanto Falkiner, Rose Anne descansavam e Leila Diniz entrava em algum tipo de transe. Do outro lado, os outros três membros daquele grupo inspecionaram as proximidades antes de começar a descansar. Eles acabaram encontrando um aventureiro perdido de nome Moadib da tribo do Fantasma da Árvore. Assim como o finado Rock dos Lobos, ele era um bárbaro do norte, muito embora sua tribo vivesse mais próxima à Grande Floresta do que nas planícies geladas. Enquanto esperavam ali, ele relatou todo o seu infortúnio.


Moadib adentrou as masmorras sob a montanha com um grupo de colegas aventureiros. Seus companheiros eram Raz Al'Goul, um feiticeiro de Calimshan, Guybrush Treepwood, um pirata de Mar das Estrelas Caídas, Ravena Eagle, uma elfa verde arqueira da Grande Floresta.e Thorak Hammerfall, um anão clérigo de Moradin. Estavam em busca de um poderoso artefato chamado o Martelo de Moradin, que segundo o anão ia trazer a paz e a união pro norte, iluminar as cavernas escuras e sempre deixar a cerveja gelada..
Fato é que não muito avançaram naquele nível, que era o terceiro, depois de cruzar os dois níveis anteriores com relativa facilidade. Acabaram derrotados por um vampiro de nome Thelarin, que comandava um grupo de mortos vivos. Os poderes divinos do clérigo e as magias do feiticeiro os estavam mantendo no combate, mas o que os pegou despreparados foi o surgimento de uma medusa. Ela conseguiu petrificar seus camaradas e apenas ele havia conseguido escapar. Já não sabia dizer a quanto tempo estava vagando pelas masmorras sobrevivendo como podia e sem conseguir escapar. Um ano.. talvez mais.
Ficara limitado durante bastante tempo a uma pequena área até compreender como desarmar algumas das infindáveis armadilhas que haviam por todos os lados. Apenas recentemente começara a vir nessa direção e fora atraído pelo barulho. Alertou-os que havia uma grande quantidade de kuo-toas a sul dali, uma raça de seres peixes subterrâneos. Teceu alguns comentários sobre o quão arriscado era aquela luz constante de Sirius mesmo que abafada, antes que as notícias do mundo lá fora trouxessem grande pesar ao seu coração.
Surpresa tiveram quando a porta de ferro tombou subitamente. Puderam ver o luminoso e imorrível Francisco Xavier, que mais uma vez voltara em sua missão de proteger Leila Diniz e Sirius Black. Ele usou suas magias para moldar a pedra ao redor da porta e levá-la ao chão. Mesmo reunido, o grupo ainda precisou descansar, enquanto o novo bárbaro tentava assimilar todas as notícias que recebera.
Várias horas depois, quando se consideraram preparados, partiram mais uma vez guiados pelo caminho indicado pela fé de John Falkiner. Dessa vez viram-se conduzidos em direção a uma escada. Antes que terminassem de subi-la, no entanto, já viram a imensa massa gelatinosa que despencava degraus abaixo. Leila e Francisco lançaram bolas de fogo, mas a criatura acéfala e gosmenta parecia também resistente a magias. Ela conseguiu fagocitar Sirius, Moadib e Úrsula antes que pudessem escapar, drenando-lhes a energia vital e dando a sensação de que seus ossos seriam arrancados de seus corpos pelos poros. Foi Ehtur Telcontar que com convicção e coragem interpôs-se entre a monstruosidade e os demais, conseguindo conter seu avanço. Isso bastou para que Xavier conjurasse uma parede de força mágica, que conteve o avanço da massa amorfa. Enquanto Sirius aproveitava para teleportar-se com a graça de Selune para fora da besta, levando seus dois companheiros, Leila e Falkiner ampliaram seus poderes para vencer a resistência mágica da criatura e destruí-la sem deixar rastros.
Enquanto gastavam algum tempo recuperando os danos causados ao trio furtivo, uma nova surpresa. Das trevas, tal qual o fazia Sirius Black num passado recente, emergiu Rock dos Lobos. Ele se manifestou uma vez mais entre eles, dizendo ter sido salvo por um solar de nome Malkzyd. O poderoso celestial o enviara com a missão de espalhar sua palavra e reverter todos os problemas que se davam no plano material, pois os líderes dos planos celestes não eram tão confiáveis assim. Vendo ali um bárbaro do norte como ele, pode explicar-lhe melhor o que se dera com os povos nômades no último ano.
Mesmo ressabiados, todos tornaram ao caminho e isso os levou a uma porta. Ehtur reconheceu a língua aquática dos kuo-toa como alertara Moadib. Francisco Xavier usou de seus poderes para disfarçá-los sob a ilusão de serem um trio de kuo-toas. Mais uma vez Sirius recorreu à magia da lua para levá-los ao que mostrou-se um templo dos homens peixe que Ehtur e Moadib identificaram como Kuo Toas. Apesar da escuridão identificaram que haviam escravos humanos presos ali, amarrados a pilastras. O bando das criaturas saiu pela porta deixando apenas um vigia para trás que eles não demoraram a eliminar, pegando as chaves e abrindo caminho para seus amigos.



21 de nov. de 2012

Decisões

Úrsula começou a nadar, mas estava bastante longe da costa. Ninguém em nenhum dos muitos navios que passavam lhe deu qualquer atenção. Ela nunca foi muito forte, gnomos nunca tiveram na natação uma prática esportiva e as correntes marinhas terminavam de tornar o avanço da gnoma praticamente nulo. Depois de extenuantes minutos, ela percebeu alguns vultos subindo das profundezas. Tentou escapar deles, mas isso não estava realmente ao seu alcance. Assim sendo, ela viu surgirem quatro criatura humanoides com guelras e nadadeiras. Pareciam algum tipo de elfos aquáticos. A língua que eles falavam também soava como elfo e assim sendo, Úrsula tentou comunicar-se na língua das fadas. Para sorte dela, a mulher que fazia parte do grupo entendeu o que dizia.
Ela explicou que eram elfos marinhos e que tinham um acordo com Águas Profundas. A vila deles ficava lá no fundo do mar e haviam se dado conta de que algum problema se dava aqui em cima. A elfa estava aterrorizada com a montanha de trevas sobre a Cidade dos Esplendores e ficou ainda mais intranquila quando Úrsula disse que aquilo era obra de Shar. Mesmo temendo aquelas trevas, os elfos do mar concordaram em levar a gnoma até a praia e se despediram lhe dizendo que iriam para o oeste.

A poucos metros das densas trevas, os amigos viram chegar Ehtur Telcontar, acompanhado do druida Costeau e de Francisco Xavier. John Falkiner trazia Daphne em seu ombro e a colocou no chão quando o guardião falou. Ryolith protestou, mas Ehtur não deu tempo para discussão e encostou um pequeno graveto que trazia na amiga. A druida se transformou em um emaranhado de ramos, que se desfizeram incorporando-se à terra. Todos se escandalizaram com mais aquela ação abrupta do servo de Miellikki, mas Costeau explicou que isso a enviou para a Grande Floresta. O local onde poderia ser realmente curada e onde ficaria livre da influência negra deles. Francisco Xavier se entregou as orações, buscando na sabedoria de Oghma uma resposta para tudo aquilo.

- Antes da chegada de vocês, Daphne era uma boa moça.. nada dessa vida aventureira e moderninha..
- Não temos tempo para isso, velho druida.. onde está Úrsula? - interviu Ehtur.
- Ela está morta.. já era.. caput.. finito.. - disse Sirius.
- Como assim?
- Atacada por um crânio voador flamejante.. - explicou Falkiner.
- Vocês foram até Porto dos Crânios?
- O mesmo que nos atacou.. - completou Ryolith.
- Na verdade, ela está aprisionada por uma poderosa magia. - tomou a palavra Leila Diniz. - Nem mesmo um desejo ou um milagre podem salvá-la. Apenas uma outra magia, igualmente poderosa, chamada Liberdade pode liberá-la.. e se for dada exatamente no mesmo lugar. Com a falta da magia sobre Águas Profundas, temos que não haja possibilidade de libertá-la.
Enquanto essas palavras eram trocadas, John Falkiner deixou a conversa, pois escutou uma mensagem mágica chegar até seu ouvido: "John, surgiu um segundo sol em Suzail. Clérigo de Lathander Orndeir clama ser arauto de Amaunthor, antigo deus sol Netheril. Expulsou sombras, monstros, libertou arredores".
- Não demoraremos a voltar. Águas Profundas está tomada pelas trevas de Shar. Estamos a caminho... - foi a resposta do clérigo de Kelemvor, que logo explicou aos camaradas o que havia se passado.
- Notícias de minha amada pátria Cormyr.. temo que não possamos perder mais tempo aqui, meu amigo - disse emocionado Ryolith Fox. - Já é hora de voltarmos pra casa!
- Creio que sim. - concordou Falkiner - Mas veja.. há um grupo de quatro cavaleiros que se aproxima pela estrada.
- É melhor passarmos pela Grande Floresta e vermos como Daphne está.. - acrescentou Sirius. - Não faz sentido ficarmos aqui.
- É praticamente caminho.. - concordou Ehtur abrindo um sorriso. - Há lá algo que vocês precisam ver...
Enquanto conversavam, viram os quatro cavaleiros se aproximarem. Mais à frente, vinham duas figuras imponentes e bem armaduradas. O homem era bastante velho e tinha um ar simpático, não parecendo mais talhado para as batalhas. A mulher tinham uma feição bela e severa, que se tornava intimidadora pela grande cicatriz que lhe cobria o olho direito. Ela também não possuía a mão direita. Ambos traziam as insígnias do deus da justiça, mas só a mulher ostentava as mesma chagas que Tyr.
Logo atrás deles, vinham um cavalo menor e um pônei. No cavalo estava uma bela meio elfa, vestindo trajes mais leves. Os cabelos pretos e olhos azuis, combinados à pele morena, chamavam a atenção, ainda que não a fizessem atraente. Sirius não deixou de notar o óculos barroco utilizado pela mulher, idêntico aos olhos de Selune, a deusa da lua, em seu símbolo sagrado, que a moça também trazia pendurado no pescoço. No pônei vinha um gnomo, muito alinhado e perfumado.
- Saudações, servos de Tyr. Eu sou Ryolith Fox, martelo da justiça de Cormyr.
- Saudações, martelo de Tyr. Eu sou sir Gareth Cormaeril, juiz da ordem sagrada dos Cavaleiros de Samular, e esta é lady Éris Helena, justiceira de nossa ordem. Nós voltamos para casa depois de uma longa viagem desde Lua Prateada. Encontramos terror e medo a afugentar os viajantes, mas não pudemos deixar de vir em socorro de nossa amada cidade.
- Eu e meu amigo Falkiner somos embaixadores de Cormyr, caro juiz, mas podemos lhes dizer que são as trevas malignas de Shar que estão por trás desta terrível maldição. Além de uma escuridão terrível, nenhuma magia ou poder mágico se dá no interior da cidade.
- Se não houvesse tanta tolerância e paciência com os criminosos, Águas Profundas não estaria assim. - disse lady Éris com raiva, atraindo ainda mais a atenção de Ryolith.
Enquanto isso, Sirius não parava de trocar olhares com a serva de Selune, que se adiantou a descer do cavalo e vir na direção dele. - Eu vejo você. Eu venho atrás de você desde seus sonhos com lady Alustriel.
- Uau.. então você tá um pouco atrasada, não é mesmo? - disse Sirius com bom humor.
- Antes de desaparecer, a rainha me mandou um pensamento. "Procure Sirius Black.. ele é a solução". Eu sou Kiriani Agrivar.. sou meio irmã de Alustriel.. sou uma serva da lua e sei que é você que pode nos salvar...

- Você não é a primeira a procurar salvação nesses braços, meu bem. Infelizmente, como pode ver atrás de mim, a escuridão anda tendo progressos significativos e Selune continua morta.
- Mas você pode trazê-la de volta, Sirius. Alustriel me garantiu que você era a solução. Através de você, nós podemos trazer Selune de volta.. - entusiasmada, ela retirou os óculos e os ofereceu ao ladino. - Aceite o poder de Selune.
Com relutância, Sirius colocou os óculos. Assim que os recebeu, ele sentiu uma força invadi-lo, como se expurgasse as sombras de seu íntimo. Dessa vez, Sirius Black não lutou contra aquilo. Ele sentiu as forças purificadoras expulsarem o que restava-lhe de conexão com o plano das sombras. Ali, diante dos olhos de todos, Sirius Black ressurgiu como um novo homem, como um homem purificado, que deixava o plano das sombras para trás.
- Ainda não é tudo.. - disse Kiriani amparando-o. - A deusa da lua reservou uma benção ainda maior para ti, Sirius. Ela mandou o fogo da lua para você. Essa é uma graça única de Selune. Está além da magia e da Weave.. é um poder sagrado vindo direto da mãe de toda a vida. - E ela entregou para o ladino um grande vaso repleto de um gel branco e brilhante.
Sem exitar, Sirius Black banhou-se com aquela energia sagrada. Conforme era coberto pela massa gelatinosa e luminosa, aquilo era absorvido por suas roupas, armas e corpo. Sirius sentiu uma conexão profunda com a deusa da lua, sentia-se próximo dela como nunca antes e uma longa esperança de trazê-la de volta. Nem mesmo as trevas de Shar o impediriam. A lua ia voltar a nascer.
O gnomo partiu com seu cavalo enquanto Sirius Black passava por sua transformação. Assim como alguns dos demais, ele avistara uma gnoma que se aproximava vinda do mar. Da maneira mais garbosa e heroica possível, ele cavalgou e ofereceu carona para a molhada gnoma. Úrsula rechaçou o convite e os gracejos do fanfarrão.
- Não se ofenda, ó bela dama. Estendo-lhe apenas um assento em minha montaria. Banco de couro.. turbinado..  meu nome é Dorgafal Rochatreme.
- Com licença.. eu tenho que encontrar meus amigos e..
- Eu posso levá-la até eles.
- Com licença, eu sou casada e tenho um filho.
- Mas onde está esse seu marido? Eu sou um dos guardiões da teia mágica. Não sei se você capta a profundidade disso, gata, mas eu sou um dos responsáveis por manter a magia funcionando.
Úrsula Suarzineguer foi recebida com alegria pelos companheiros e contou tudo sobre o resgate por Halaster Mantonegro fazendo questão de ignorar o persistente gnomo. Aquele nome trouxe preocupação ao coração de todos ali que haviam vivido em Águas Profundas. Sirius, Gareth e Éris sabiam que o arquimago louco que vivia sob a montanha era uma força do caos, de poder incomensurável. Ele vivia a séculos nas masmorras Sob a Montanha. Mães contavam histórias aos seus filhos para assustá-los de que o mago louco viria pegá-los. Aventureiros destemidos se atiravam nas masmorras infestadas de monstros que ele cavara sob a cidade.
- Eu consegui chegar até aqui porque um dos aprendizes dele me libertou por um portal.. ele pediu que eu salvasse uma mulher.. uma tal Rose Anne Amakathra.. parente da Daphne, eu imagino... - Interrompendo Úrsula e atendendo às preces de Francisco Xavier, eles viram surgir um pequeno ser de luz. A criatura celestial era um pequeno globo flutuante com um palmo de diâmetro.
- Eu fui enviado por Oghma para findar suas dúvidas e satisfazer sua sede de conhecimento, Francisco Xavier. Meu nome é Pac..
- Que a graça da sabedoria infindável do senhor do conhecimento nos cubra. Diga-me brilhante Pac, por que as criaturas que eu convoco para esse plano para servir a Oghma não aceitam esse destino?
- Não é seu dever questionar tais desígnios, quando a própria realização do mesmo é a resposta de Oghma.
- Devo desistir?
- O que deve ser, será, pois uma vez sendo, é apenas aquilo que poderia ter sido.
- Eu conheço você, celestial. - interviu o bárbaro Rock. - Eu sonhei com você. Você me guiou pelos Sete Céus.. pela Cidade de Prata.
- Eu também fui enviado para anunciar-lhe, Francisco Xavier, que os Sete Céus estão sob ataque. Orcus e sua horda abissal conseguiram abrir as entradas dos planos e tudo que há de mais puro e verdadeiro encontra-se ameaçado. Apenas uma solução é possível para findar tal malefício.
- O que?
- É preciso que este rapaz, conhecido com a chave dos planos seja eliminado para que os portais se fechem.
- O QUE?!? Ei, por que estão me olhando assim? - disse Rock vendo os olhares de Francisco e de Ehtur em sua direção.
- Você não entende, Rock.. a passagem é sempre difícil.. - disse Francisco preparando os gestos mágicos.
- Eu matei a mulher que amo, rapaz. Não terei problemas em matá-lo para concertar as coisas - disse Ehtur levantando a lança.
- Nós estivemos no reino dos mortos.. nas Planícies Cinzentas com ele.. e isso não impediu que sua versão sombria abrisse portais. - interviu John Falkiner.
- Com licença, celestial, eu também sinto-me responsável por ter liberado a força sombria do jovem rapaz. Talvez haja algum outro jeito... - ponderou Sirius Black.
- Este é o jeito mais rápido - respondeu Pac.
- Eu não aceito isso!
- Rock, todos nós em algum momento fizemos a passagem. Parece difícil no princípio, mas você encontrará paz e conforto.
- Eu não vou morrer.. não vou sacrificar minha vida...
- Rock.. desde que nos conhecemos a 4 dias.. você me fala insistentemente que o maior dos problemas é a invasão dos Sete Céus comandada por Orcus e sua contraparte sombria. Você disse para todos que deveríamos nos dedicar a isso e não às outras demandas. Ainda assim, agora que é oferecida uma solução, você se recusa a colaborar.. - avaliou Falkiner.
- Eu não vou morrer pra salvar os Sete Céus! - Rock afirmou com raiva, enquanto conjurou duas muralhas de fogo ao seu redor para lhe proteger.  Diante de suas palavras, o celestial Pac se foi.
- Vocês não podem matar esse jovem inocente.. é assassinato! - Interviu sir Cormaeril, o velho servo de Tyr.
- Cale-se, velho. - Perdeu a paciência Ehtur.
- Essa é a lei de Águas Profundas, andarilho.
- Tecnicamente não estamos em Águas Profundas... - desconversou Sirius, enquanto percebeu o medo se alastrando. Com a bravura que emanava dos paladinos, todos resistiram àquele temor supernatural com exceção do já assustado Rock. O ladino viu problemas maiores que a moralidade estagnada de um paladino crescendo no horizonte. O problema era vermelho, voador e vinha numa velocidade absurda. Ele ia ficando cada vez maior e chegaria ali em poucos segundos. A mensagem mental que o dragão enviou os manteve esperando. Pouco puderam fazer antes que o maior dragão vermelho que já haviam visto, colossal como um morro pousasse diante deles. Ehtur tentou imaginar sua idade pelo tamanho e pensou se não estaria diante de um dragão tão antigo quanto o mundo.
- Meu nome é Imvaernarho, mas vocês podem me chamar de Inferno como mais facilmente pronunciam suas mandíbulas símias. Eu estou aqui como um fiel servo da divindade da magia e trago alertas sobre esse câncer que temos diante de nós.
- És um servo de Mystra?
- Não dessa forma de Mystra que vocês mortais conhecem. Eu sirvo à força primeira da magia que está agora em sua terceira roupagem. Suas mentes tem dificuldades para abarcar um conhecimento tão vasto. Eu sirvo às forças primeiras da magia que animam a existência a muito mais tempo do que vocês perceberiam como possível. Há muito tempo, quando do eclipse, a deusa das trevas Shar lançou mão de um plano para obliterar a existência. Um ritual profano e ancestral. Quando as suas forças foram liberadas sem a conclusão devida, isso frustrou seus planos, mas não era o fim. Com a chegada dessas forças nefastas até aqui, isso lhe permitiu fazer o que era possível. Ainda que esta chaga tenha devorado apenas a chamada Cidade dos Esplendores, isso se dá apenas por hora. O câncer irá se expandir se nada for feito e no devido tempo, todo o mundo será abarcado.
- Mas o que deve ser feito?
- É necessário que um artefato chamado Cetro de Lathander seja recuperado. De posse dele, pode-se destruir o altar de Shar onde o ritual foi realizado, além de executar sua sumosacerdotisa Roberta e seu sacerdote Torpinson, os operadores de tal maldição.
- E onde está o cetro?
- Ele está com Halaster Mantonegro Sob a Montanha. Cabe a vocês procurá-lo e...
- Halaster foi encontrar Roberta. Ele me disse isso antes de partir.. queria resolver algo com os servos de Shar... - interrompeu Úrsula depois de escutar a tradução das palavras do dragão feita por Ehtur.
- Então cabe a vocês chegar às masmorras Sob a Montanha e recuperar o artefato. Eu não terei oportunidade de lhes ajudar, pois isto está além de minha missão aqui.
- O aprendiz disse que eu poderia retornar caso recuperasse uma mulher chamada Amkathra. Haveria um portal...
- Eu posso nos levar até lá.. até a mansão dos Amkathra. - disse Sirius.
- Temos que resolver o problema da passagem de Rock. - lembrou Francisco.
- Destruir o rapaz não é a única solução. Ele sequer está vivo. Ajudar os Sete Céus não é a solução real. O deus do conhecimento apenas lhes propõe a solução mais fácil. Que céus são esses que não se defendem de hordas infernais? Se ele for morto, será uma morte definitiva, pois não é mais do que uma alma em estado material, físico. Assim como o companheiro imorrível.. mas uma alma neutra. - Enquanto o dragão falava, Francisco Xavier aproveitou para lançar uma magia de enervação no bárbaro através de uma mão de força mágica. A mão atravessou as muralhas de fogo e precisou apenas encostar no bárbaro para drenar sua força vital.
Rock revidou disparando uma bola de fogo que atingiu a quase todos ali. O descontrole do jovem bárbarou terminou de minar o apoio que ainda lhe restava. Isso bastou para que Úrsula o fustigasse com suas flechas matadoras de magos, mas também de feiticeiros. Ehtur correu para terminar o serviço sujo, mesmo sendo queimado pelas muralhas de fogo. Quando o corpo do bárbaro tombou, ele se desfez como se não houvesse corpo para restar.
- Ainda assim, vocês devem se adiantar se querem evitar que o problema se amplie. Mesmo meus poderes ancestrais são limitados pelas forças tenebrosas de Shar..
- Nos ajude, grande lagarto. Deves ter algum poder ancestral útil num momento como esse...
- Não é este meu papel aqui, imorrível e...
- Pena que uma criatura tão grandiosa e antiga não seja mais do que um garoto de recados. Eu esperava mais de voc... - Francisco Xavier não pode concluir seu pensamento, pois o sopro do dragão derramou-se sobre ele como as lavas de um vulcão. Todos assistiram com assombro à cena. Nada restou do servo de Oghma.


- Sigam, aventureiros. Recuperem o artefato do sol e destruam o altar de Shar. - Com essas palavras, o dragão Inferno partiu na direção das Montanhas das Estrelas na Grande Floresta, perdendo-se no céu que já era tomado pelo anoitecer. 
Os paladinos concordaram em acompanhar o grupo, assim como a maga de Selune e o gnomo. Sirius Black os guiou escuridão adentro. O poder do fogo da lua não era desfeito nem mesmo no interior das trevas de Shar. Aqueles que ficavam contíguos a Sirius Black conseguiam enxergá-lo e assim avançam furtivos e com cautela.
Vista a 10 feet do Sirius
Tiveram de evitar patrulhas de sentinelas, que mesmo impossibilitados de ver vagavam pelas ruas de Águas Profundas. Com exceção disso, nada se ouvia. O faro aguçado de Ehtur sentia o aroma dos incensos e velas que vinham das casas. Avançaram até chegarem próximos da área nobre, mas ali perceberam que haviam barricadas e palavras de ordem era gritadas todo o tempo pelos guardas. Sirius preferiu evitar confusão e os guiou para o sul para darem a volta pelo porto.
Quando já ouviam as ondas misturadas aos gritos desesperados das pessoas no mar. Náufragos ou simplesmente desesperados que se atiraram nas águas, era impossível saber, mas as vozes davam um toque horripilante à escuridão por ali. Eles se viram atacados em meio às trevas.. aparições que drenavam suas forças. Sirius usou seu poder da lua para destruir o morto-vivo que o atacava e salvar Kiriani. John Falkiner conseguiu criar um instante de luz ao clamar pelas forças primeiras de sua fé em Kelemvor para banir dali os mortos-vivos. Ainda que só tenha destruído um deles, deu-se um fugaz brilho que lhes permitiu ver tudo por um instante.
Vista a 5 feet de Sirius
Após terminarem de se livrar das aparições, preferiram dialogar ao ver que o sul também era guardado por guardas. Estes, no entanto, concordaram apenas em deixar passar os paladinos. Aproveitando-se da escuridão, no entanto, Úrsula se esgueirou entre eles, enquanto Sirius usou do poder da lua para surgir do outro lado levando Kiriani. Logo chegaram ao palacete, onde foram conduzidos ao lorde Amkathra. A confusão era total e gritos eram trocados a esmo. Não havia sinal de diálogo ali e o Lorde apenas ocupava-se de tentar manter alguma autoridade. Os paladinos entregaram-se a tentativa vã de estabelecer algum diálogo e conseguir alguma colaboração.
Os demais não esperaram os ordeiros camaradas serem expulsos para saírem dali em busca de Rose Anne Amkathra. Guiados pelo nariz de Ehtur Telcontar, eles seguiram pelos corredores com a cautela de evitar os sentinelas. Chegaram a um aposento de onde emanava o aroma dos perfumes das várias damas ali escondidas. Não foi difícil passar dos dois homens que ali montavam guarda. Também não foi difícil convencer lady Amkathra, quando Sirius chegou perto dela e mostrou-lhe uma luz em meio à escuridão...