- O que houve? Onde estão...
- Você foi corrompida pela escuridão. As trevas de Shar que a habitaram tomaram Águas Profundas - respondeu Costeau abruptamente.
- Mas como?
- Acalme-se, Daphne. Você precisa descansar e se recuperar. Ehtur nos alertou de que as trevas de Shar haviam se apossado de você. Eu o enviei em companhia de Costeau para resgatá-la, mas ao que tudo indica, a Senhora da Escuridão conseguiu concretizar seus planos devastadores. - Enquanto falava, o velho druida de longas barbas brancas guiou-a em direção ao perímetro das árvores. De lá, a abnegada druida viu a imensa montanha de escuridão que se erguia no oeste. Ela entendeu logo o que era aquilo. Algo em seu íntimo sabia que era um câncer que devoraria toda a vida.
- Meus amigos estão lá? Tenho que...
- Você tem que esquecer daqueles baderneiros urbanos. Aqueles malditos punks vem trazendo confusão atrás de confusão para nossa floresta. Não precisamos deles..
- O momento é de regeneração, Daphne. - interviu Gaios. - Ainda estamos abatidos pelo avanço dos tenebrosos nethereses. Suas forças avançam cada vez mais e..
- Eu entendo, mas tenho de ir até eles.. alertá-los e então retornarei.
- Você precisa se recuperar. A floresta ainda não a abençoou o suficiente para extirpar as sequelas do mal que a invadiu. Não há como dimensionar as consequência de ter a deusa da escuridão em ti. Certo é que isso foi ainda mais terrível que as diabruras de Szass Tam.
Daphne concordou em repousar. Ela havia sentido a deusa da escuridão dentro dela. O ser mais antigo da existência.. a força primeira que havia dado origem a tudo. Embora isso lhe trouxesse calafrios, Daphne entendia melhor agora o que movia Shar. Não era simplesmente maldade ou uma força irracional que buscava a destruição. Era uma consciência de um tudo que via na obliteração do todo, o único caminho para alcançar a graça inicial, a paz de ser tudo que apenas ela tinha conhecido. Toda aquela vida da Grande Floresta lembrou aquela druida, serva de todos os aspectos da natureza, que destruição e nascimento faziam parte do mesmo ciclo. O que poderiam fazer se era a hora daquele tempo morrer? Viria um novo tempo?
Os pensamentos e a conversa foram interrompidos pela sombra que cobriu as árvores denunciando a cidade voadora de Nova Netheril. Em um instante, estava entre eles um sujeito sombrio, envolto em trajes de um mago. Empunhava um cajado bifurcado na ponta e parecia um com as sombras.
- Saudações druidas da Grande Floresta. Meu nome é Hadrhune, um emissário do príncipe das sombras e imperator de Nova Netherill Telamont. Venho como um embaixador trazer-lhes nossa diplomacia.
- Que diplomacia é essa que vem depois de destruição e devastação? - questionou Gaios tomando a dianteira da discussão.
- O mal de Shar se espalha sobre Águas Profundas e logo alcançará tudo mais.. não há tempo para amenidades como essas, velho druida. A Grande Floresta é parte de Nova Netheril e eu venho buscar um de vocês para que representem os seus na Assembléia Máxima.
- E se não concordarmos com isso?
- Vocês podem protestar e queixar-se no espaço que lhes compete ou eu posso procurar outros druidas que estejam mais dispostos a cooperar. Nosso império estende a mão a vocês com uma esperança no momento em que tudo mais parece desmoronar. A Grande Floresta terá seu assento, assim como todas as partes de nosso vasto império. Nós faremos essa velha floresta prosperar e crescer como nos antigos tempos de Netheril. Suas árvores tornarão a cobrir as areias do Grande Deserto.
- O seu império tenebroso e nefasto mata os guardiões dessa floresta.. nos aterroriza com dragões.. nega a magia fecunda de Mystra.. usam da magia negra da mesma deusa que diz combater.. trás morte e desequilíbrio.. Ainda quer nos convencer de que são nossos salvadores? Vocês são conquistadores sanguinário, servo das sombras. - disse Gaios investindo contra o embaixador. Este não mudou de expressão e com um simples gesto, lançou um pequenino raio negro de seu indicador. O raio atingiu o mais velho daqueles druidas em cheio e logo mais ele não estava lá. Apenas um monte de cinzas restou. Daphne percebeu que aquela era uma magia da tessitura das sombras de Shar e viu seu maior mentor ser destruído por ela.
- Eu posso destruir cada um de vocês sem a menor dificuldade, mas não é isso que eu vim fazer. No entanto, não terei problemas em fazê-lo. A Grande Floresta é território de Nova Natheril e pela lei é crime se opor a um emissário direto do rei. Tenho o direito de executá-los sumariamente.. mas o que eu ganharia com isso? Apenas o trabalho de procurar outros druidas.. escolham um de vocês.. essa pessoa deve me acompanhar...
- Nós iremos cooperar.. entendemos o recado, embaixador. - disse Costeau. Rapidamente chegaram a conclusão de que Daphne seria quem iria acompanhá-lo. Ela temia pelo próprio círculo sem Gaios, mas não pode escapar à questão. Conseguiu ao menos o direito de terminar suas orações e seu descanso. Hadrhune viria buscá-la no dia seguinte. Costeau partiu para alertar seus camaradas, deixando-a em companhia dos demais druidas do círculo que responderam ao chamado da morte de Gaios. Daphne dormiu pensando em corvos.
Eliminado o kuo-toa, foi a vez de liberar o acesso para os camaradas e libertar os cativos. Eram três homens e uma mulher, todos eles humanos. Ryolith Fox sentiu a maldade em três deles. Um era mais velho e estava bastante acima do peso. Após acordá-los, descobriram que eram três membros da família Thuul e um segurança. Haviam sido capturados enquanto fugiam da cidade desesperados com a escuridão e seu navio foi atacado por algo que os lançou ao mar. O patriarca Zabbas era arrogante e violento. A filha dele, Shallyn, preocupava-se com pai, embora parecesse confiar em Sirius e seu brilho lunar.
Como a fé de John Falkiner lhes dizia que o caminho era seguir em frente, buscaram ali e Sirius Black acabou encontrando uma passagem secreta. Esta, no entanto, dificilmente poderia ser aberta por esse lado. Mesmo com a força de todos ali reunida, nada se deu. Por fim, foi o servo de Lathander que clamou pelos poderes do deus da morte e tornou-se etéreo como um fantasma. Ele atravessou a parede espessa e encontrou um vasto aposento sem iluminação. Via apenas o brilho perdido de uma luz refletida no horizonte, que perfilava uma multidão de centenas de criaturas. Sem ter o que fazer, o clérigo retornou.
Não tendo outra opção e acompanhados do quarteto, além de Rose Anne Amkathra, o grupo avançou pelos corredores sob a montanha, tendo de silenciar o patriarca gordo dos Thuul que insistia em querer comprá-los com um dinheiro que não tinha e a tratar a filha com desprezo. Sirius seguiu buscando por armadilhas com a ajuda de Úrsula. Moadib e Ehtur vinham logo atrás rastreando e prontos para qualquer eventualidade.
Mais à frente, encontraram o grupo de kuo-toas, que eliminaram sem maiores dificuldades, inclusive fazendo dois prisioneiros além de libertar mais escravos. Conseguiram melhores informações sobre os inimigos, entendendo que trabalhavam próximo a um rio subterrâneo que dava acesso ao mar por onde traziam os escravos. Haviam muitos deles. Moadib disse que evitou a região por perceber que eram numerosos. Isso criou o complicador de aumentar muito a comitiva e dificultar que avançassem em segurança. Encontraram armadilhas e tesouros, mas acabaram optando por descansar antes de continuarem.
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