11 de abr. de 2015

Somos um só

O pequeno pássaro negro singrava o céu vendo aquela massa urbana que parecia devorar os campos ao redor com ferro e fogo. O clima era mais ameno ao norte da floresta de Cormanthor, vindo com o vento a brisa do Mar da Lua. Edgar observava com atenção a poderosa mulher montada no pesadelo albino, que matara o clérigo de Bane e conduzia as tropas dos zhentarianos para a cidade. Era um grande centro urbano, mas que parecia crescer além da própria capacidade. Era tudo muito caótico desde o porto até as estradas. Uma nuvem de fumaça espessa cobria todo o lugar, mesmo o mar e os campos ao redor. Haviam muitas fábricas e chaminés, além de fogueiras e podridão trazendo essa aura mal-cheirosa. Além disso, o que havia de campos ao redor da cidade estava tomado pelos acampamentos das tropas de mais de 40 mil soldados, entre humanos, orcs, meio-orcs e punhados de outros humanoides malignos.
O centro da cidade era formada por uma magnífica fortaleza. Uma joia da arquitetura e engenharia, o forte mantinha a partir do planalto central uma visão total das ruas, vielas e campos. Era como uma pedra fundamental emergindo da decadência que a circundava. Tinha paredes negras de rocha e poucas janelas ou passagens, mesmo nas torres. A própria construção lembrava uma grande manopla negra de Bane.
As tropas ficaram estacionadas no acampamento, enquanto sua líder de olhar psicótico se dirigiu para a fortaleza central. Lá, Edgar a perdeu de vista. Mas não teve dúvidas e se dirigiu para uma das grandes chaminés de onde vinha fumaça. Desceu por ali com agilidade, conseguindo evitar o fogo, mas não sem deixar de ser visto por um dos cozinheiros que trabalhavam na enorme cozinha. O familiar de Derdeil Óphodda usou seu anel de invisibilidade para sumir, o que surpreendeu o cozinheiro, mas os deveres do serviço impediram o humano de se preocupar com aquilo. Havia um jantar para servir.
O corvo Edgar aguardou e depois acompanhou o banquete que foi levado para um amplo salão de jantar. Nele, o familiar reconheceu a mulher que avistara, além de generais e sacerdotes do deus da tirania. Toda a parede oposta era tomada por um mural onde Bane esmagava Tyr, Ilmater e Torm. Sozinho à cabeceira, estava um homem loiro e barbudo, que vestia uma armadura de placas verde escuro. Havia uma aura terrível de medo nele, da qual nem mesmo seus subalternos pareciam escapar.
Sem conter sua curiosidade animal, Edgar se aproximou pousando sobre a mesa furtivamente, mas acabou paralisado por uma magia daquele que chamaram de Fzoul Chembryl.

Longe dali, após mais de um dia na colossal caverna de tesouros sob as ruínas de Myth Drannor, os heróis atenderam ao conclame de Sérgio Reis e foram encontrar os elfos recém chegados. Derdeil Óphodda teleportou a si e aos colegas para o palácio, onde encontraram mais de uma centena de elfos de pele esverdeada conversando com o bardo, Braad e os outros elfos que seguiam Kaliandra Boaventura.
A trovadora da espada Kaliandra Boaventura recebeu aqueles que eram os últimos elfos sobreviventes de Cormanthor, fossem refugiados após as investidas de Bane ou de Lolth. Todos haviam sentindo o chamado que trazia de volta a rainha dos elfos. Eles traziam consigo um prisioneiro drow, espancado e inconsciente, atado com muitas cordas e nós. Com a ajuda de Cameron e Dhyon, ela se pôs a conectar todos os elfos ao mythal da cidade, enquanto entregou a lâmina da lua dos Evalandriel para ser identificada por Derdeil. O mago de Halruaa reuniu todos os itens recém-encontrados para estudar seus poderes como o livro dos Ébrius, o manto achado por Rufus e a espada da elfa, entre outros. Mesmo que antes, uma breve e ríspida discussão com Cameron Noites tenha se dado.
Mari'bel e Rufus aproveitaram para inspecionar os arredores da ruína com todo o cuidado, mapeando todas os rastros e áreas de interesse. O que mais chamou a atenção de ambos, foram os rastros de um dragão das sombras gargântico que indicavam seu covil. Esperaram pelo escolhido do deus da magia  e os itens mágicos e foram com ele até a entrada. Lá dentro encontraram além de tesouros, quatro pequenos filhotes, que ofereceram pouca resistência. Dois acabaram mortos, enquanto os dois últimos escaparam.

No palácio, os elfos viram chegar um grifo com um cavaleiro ao fim do ritual de conexão ao mythal.
- Eu sou Katniss Everdoom... - disse a elfa retirando o elmo que escondia seu rosto. Ela vestia uma armadura com os símbolos sagrados da guarda real de Encontro Eterno. - Eu venho em nome da rainha Amídalas Ancalimon, como embaixadora de Encontro Eterno em busca de Kaliandra Boaventura.
- Aqui estou, embaixadora Everdoom... - adiantou-se Kaliandra reconhecendo a jovem que não era mais do que uma aspirante a embaixadas, quando Boavetura partira a menos de um mês.
- Vim cuidar dos preparativos para a chegadas dos elfos...
- Você deve se conectar ao mythal de Myth Drannor, nosso novo lar... - sorriu Kaliandra. - Eu irei enviar uma mensagem para a rainha. Ó magnânima rainha, aqui fala tua serva, com a graça de Bibiana, tudo está pronto para sua chegada...
- Tenham esperança, pequenos vermes... - soou a voz de Lolth, deusa das aranhas, em resposta. - Quando eu terminar de sacrificar sua pueril deusa, será a vossa energia vital que eu sacrificarei... - o restante foi uma gargalhada sinistra.
Isso, apesar do medo que espalhou, não abalou Kaliandra Boaventura, que caiu de joelhos e agarrou o corpo semi-consciente do jovem drow ainda amarrado.
- Somos um só, maldita! Responderemos à morte que carregas com a vida... às suas trevas com luz... às suas tramoias com esperança. - Ela sacou sua espada longa e a aproximou do drow. - Que o amor de Bibiana nos guie e que mostre que um novo tempo dos elfos se inicia. Somos um só!
Kaliandra cortou as amarras que continham o elfo negro.
Derdeil Óphodda, após retornar com Rufus e Mari'bel, enviou uma mensagem mágica para Edgar. Além de ter passado todo o tempo paralisado a ouvir as palavras dos servos de Bane, ele percebeu a mensagem mágica na língua infernal. Fzoul Chembryl não perdeu tempo e se teleportou, surgindo em pleno palácio, à despeito das proteções mágicas que deveriam evitar aquilo.
Ele arremessou Edgar no chão e pisou com violência sobre o corvo.
- Você sentirá o que seu deus iria sentir ante o poder de Bane! - Proclamou o escolhido da tirania para o escolhido da magia com ódio no olhar. - Imploda!!!
Derdeil Óphodda soube que aquela energia o desintegraria para sempre, mas tinha uma nova arma secreta. Seu manto único queimou a energia mágica que o formava devolvendo a magia sobre Fzoul Chembril. O escolhido de Bane teve de clamar por suas forças de escolhido para resistir ao próprio poder exterminador. Ele soube que a ameaça que rechaçara seu exército não era tão pueril. Sem perder tempo, como chegara, partiu.

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