6 de set. de 2012

Profundezas e disfarces....


Ainda nos limites de Thay, Francisco Xavier, Leila Diniz, Sirius Black e o lobo David cruzavam o grande lago que tinham à frente sobre suas montarias fantasmagóricas. Os seres mágicos eram capazes de cavalgar a água como se chão fosse, além de viajar numa velocidade absurda, mas não maior do que a dos dragões que eles viram surgir no horizonte. Os magos vermelhos que vinham sobre eles denunciaram logo o risco que o pequeno grupo corria. Tentaram uma ação evasiva, mas isso só iria prolongar por poucos minutos a chegada dos antagonistas. Sem outra alternativa, Francisco "mudança de planos" Xavier usou de seus poderes ocultos para repetir o teleporte, como se fosse um feiticeiro, e lançá-los mais próximos do ponto em que Úrsula dissera estar o grupo agora.
Eles manifestaram-se, sem as montarias, sobre as águas torrenciais de um rio largo, caindo e sendo levados. Tiveram dificuldades tremendas de se manterem nadando, com exceção de Xavier, que chegou às margens com certa facilidade, por ser alguém que sempre preferira uma aula de nado a longos debates. 
Daphne "olhos de águia" sobrevoava a região, enquanto o restante do grupo seguia invisível ao redor do bárbaro Rock. Foi ela quem viu o tumulto súbito sobre o rio, quando os demais estavam pouco além da ponte, ainda pensando em esconder uma das identidades falsas com um manto para os companheiros desgarrados. A jovem druida lançou um alerta e rumou para o rio, onde transformou-se em um grande peixe e auxiliou no resgate de seu companheiro animal e seus amigos. Não tardou para que aqueles aliados a tanto tempo separados pudessem novamente encontrar amparo na camaradagem que os unia.
- Sirius.. onde está Bibiana? - indagou Samwise prontamente.
- Provavelmente morta! O mesmo destino de nosso bom e velho Yorgói... mortos pelos mesmos malditos que me fizeram isso. - o ladino expôs as chagas causadas pela crucificação. - Se estou aqui.. é apenas porquê o Senhor de Todo o Conhecimento abençoou-me com a sagacidade para surrupiar um pergaminho de teleporte e escapar...
Ficaram surpresos com a fortuna do encontro entre o outrora servo de Máscara e os arcanos da Fortaleza da Vela em uma ilha no meio do oceano. Um sinal de Oghma, eles repetiam. Mas o que saltava aos olhos de todos era a influência de Francisco Xavier sobre Sirius Black. Leila Diniz mantinha-se silenciosa e misteriosa como antes.
Fato é que usando as identidades falsas que possuíam e contrariando as orientações que receberam de Orimel, pois não viam outra solução, disfarçaram-se de magos vermelhos de Thay e seguiram viagem. Francisco Xavier, Leila Diniz e Rock assumiram as identidades falsas, inclusive com os dois humanos raspando seus cabelos para melhor representarem os papéis que lhes cabiam. Rock estava um tanto perturbado por uma visão, mas parecia não querer falar sobre o assunto.


Primeiramente, foram até uma fazenda, onde usaram de autoridade e arrogância, como é típico da elite arcana local, para conseguir comprar uma carroça, dois cavalos e um escravo de nome Eráclito. Disfarçaram o lobo cobrindo-o com palha na carroça. Eráclito ia conduzindo o veículo, enquanto Leila e Francisco iam descansando sentados. Rock ia a pé, assim como Ehtur, invisível, e Sirius, posto como escravo mal trapilho.  Daphne mantinha-se nos ares, agora como um simples corvo dessa vez. Úrsula e Samwise além de invisíveis, iam escondidos também pela palha.
A cada posto de vigília, que ficavam espaçados 8 quilômetros um do outro, o grupo levantava mais e mais suspeitas. Embora fossem sempre liberados ao mostrar os documentos, o tempo ia se alargando, assim como a desconfiança dos guardas. Daphne mantinha-se atenta ao vôo do mago vermelho sobre um grifo, que ainda estava bastante à frente e parecia ser a maior ameaça no momento. Quando ele pousou em uma das pequenas fortificações mais à frente, ela achou prudente conferir o que lá se passava. 
Ela levou consigo Razão, a doninha de Xavier, para que esta pudesse compreender a língua estrangeira de Thay. Enquanto o animal esgueirou-se para o posto, a druida avistou as pessoas crucificadas na entrada da cidade à frente, além de um grande tumulto. O pequeno familiar captou a mensagem de que as autoridades estavam informadas sobre uma estranha movimentação e que providências estavam sendo tomadas. Sabedores disso, o grupo apressou-se em deixar aquele caminho e buscar refúgio em alguma propriedade rural mais afastada da estrada.
Novamente fazendo uso do disfarce, Xavier quase complicou-se por conta de seu sotaque e sua pouca habilidade com as palavras. Foi preciso que o jovem bárbaro intervisse e conseguisse apaziguar as desconfianças do dono da propriedade. Conseguiram pouso e descanso passando-se justamente por investigadores em busca de espiões. Úrsula realmente encontrou rastros na propriedade, próximos à senzala, mas de um escravo que fugira a não muito tempo, o que não parecia ter sido percebido ainda.
Pela manhã, quando já se preparavam para partir após farto desjejum para o trio de falsos magos, Daphne surgiu para alertar o grupo de que o verdadeiro mago montado no grifo vinha se aproximando naquela direção. Francisco "me falta diplomacia" Xavier impulsivamente optou por chamar logo a atenção do mago thayano à despeito da preocupação de seus companheiros, que não podiam, no entanto, revelarem-se.
- Seu sotaque é estranho, além de sua fala enrolada, certamente indigna de estar entre os nossos. Revele seu disfarce, ignóbil farsante!
- Fa.. fa.. farsante, ee.. eu? Nã.. nã.. não... so.. so.. sou ga... gago...
- Não existem magos vermelhos de Thay gagos, imbecil! Somos seres perfeitos e superiores, além das falhas das pessoas comuns. Somos selecionados entre os melhores filhos das melhores famílias de sangue mulhorandi. Seu único talento é a estupidez.
- Perdoe-o, milorde. - interviu Rock esbofeteando Xavier. - Ele não completou o curso, mas sempre almejou ser um de nós. Tinha talento arcano, mas não venceu as próprias limitações. Por piedade, permiti que ele caminhasse comigo, me service como um fiel lacaio com algum talento mágico.
- Piedade é para os fracos! Você apenas está se entretendo com um macaco que pensa que é gente - repudiou o mago vermelho. - Onde estão as tatuagens de vocês?

- Ele nunca as recebeu.. já eu estou peregrinando para encontrar o sinais que encantarei para cobrir minha pele. Quero símbolos realmente poderosos.
- Mas e ela que não tem sequer os cabelos raspados e veste vermelho?
- Ela.. ora.. ela é minha acompanhante.. uma rapariga que me esquenta a cama. Se continuar a me servir com tanta dedicação farei dela minha concubina. Vim aqui inspecionar em busca de espiões e aproveitar da hospitalidade dos fazendeiros dessas terras. Minhas montarias foram requisitadas para os combates e estou tendo de me virar com minhas magias. - falou convincentemente Rock "calmo e articulado" dos Lobos graças ao elmo da eloquência que haviam adquirido.
O mago vermelho, que havia enfim pousado, deixou o grifo, caminhou até Xavier e começou a surrá-lo.  Não parecia satisfeito em deixar tudo como estava. Depois de deixar alguns hematomas e arrancar o sangue do falso mago vermelho, ele satisfez-se. - É assim que se lida com inferiores! Nunca deixe-os pensar que podem ser iguais a você.
Para provar que havia entendido, Rock completou a surra, deixando Francisco Xavier seriamente ferido.
- Os espiões de Aglarond estão sendo crucificados nas cidades aos montes. O que encontrou aqui? - disse o mago parecendo satisfeito com aquilo.
- Venha comigo.. irei mostrar-lhe os rastros.. - e assim Rock conseguiu sair dali acompanhado apenas do mago vermelho. Úrsula foi a única que os seguiu sorrateiramente, enquanto o autêntico mago vermelho tentava mostrar a Rock como o apego dele aos inferiores era uma fraqueza. Quando chegaram atrás da senzala e Rock indicava o local dos rastros, Úrsula "a matadora de magos" Suarzineguer fuzilou o inimigo com uma chuva de flechas. Antes que ele se desse conta do que acontecia, seu corpo já estava pregado e morto na parede ao fundo da senzala.
Daphne avisou sobre o sucesso na resolução do problema. Ela chamou Francisco "o necromante branco" Xavier, que animou o corpo do mago como um zumbi e cuidando de manter o disfarce para os demais cidadãos daquela área rural. Conseguiram assim partir da fazendo com seu pequeno teatro. Desfizeram-se da carroça, assim como libertaram o grifo e Eráclito. Colocando o escravo sobre o animal, deram lhe a notícia e este ficou feliz como só o sabe quem já recuperou a liberdade.
Foi então que Rock pôs-se a explicar o que lhe afligia o peito...

Muito longe dali, quando John Falkiner e Ryolith Fox acordaram, viram que os Távios já se preparavam para seguir viagem. Bibiana não dormira e não parecia sentir-se cansada. Disse ter ficado contemplado o céu sem lua ou estrelas por toda a noite orando por seu Deus e pela sorte de Sirius Black, Samwise e todos os demais. 
O Khar Xeita empunhava o artefato do deus do sol e convocava seu povo a prosseguir com a chegada de mais uma manhã. Ele anunciou aos estrangeiros que o destino daquela tribo era as ruínas nas montanhas no limite do deserto. Era lá que o cálice sagrado cumpriria finalmente seu destino.
- Nós estivemos lá - interviu Falkiner. - Não é seguro.
- Fomos atacados por uma naga e asabis. Eram servos poderosos do mal... - completou Fox. - E ainda existem muitos dragões azuis no caminho.
- Não devemos temê-los, pois nossa causa é certa e justa. Nossa missão é levar o artefato e assim faremos. Marcharemos com cuidado e evitaremos problemas, mas não podemos deixar de fazer o que deve ser feito. Vocês são bem vindos a nos acompanharem nessa peregrinação, valentes do sul. Venham comigo e meu povo para essa empreitada sagrada. 
- Iremos com prazer. Gostaríamos de poder contar com a benção do artefato após o destino dele estar cumprido. - disse Falkiner.
- Precisamos dele contra nossos inimigos das trevas. - acrescentou Fox.

- Não temam essas forças do mal, meus amigos. - Juntamente com as palavras do Khar, os três perceberam que a magia subitamente se desfez. John e Ryolith sentiram o vazio íntimo de perderem o contato com seus deuses. Também deram pela falta dos benefícios de seus artigos mágicos. Curiosamente, tão subitamente quanto a magia faltara, o amuleto do servo de Tyr que pertencera ao grande paladino Bar Kohkba começou a brilhar, permitindo a Ryolith "justiceiro do bem" Fox recuperar algum contato com o Senhor da Verdade. Apenas o artefato do sol parecia continuar como antes. - ...Nada pode deter aquilo que está certo.Tragam-lhes camelos.
- Vossas magias falham como as nossas? - indagou o servo de Kelemvor, que melhor percebera o acontecido. - Sentimos nossos poderes subitamente perderem-se.. nosso contato com os planos divinos está negado...
- Na verdade, meu amuleto abençoa-me, Falkiner. Sinto o olhar vigilante e o senso da justiça de meu Deus através desse símbolo sagrado.
- Eu também não me sinto privada de meus poderes.. - acrescentou Bibiana.
- O poder do cálice não nos faltará. Lamento que a magia tenha partido, clérigo da morte, mas não podemos perder tempo. Devemos partir.
Desse modo, os três servos dos deuses seguiram com a tribo nômade dos Távios por algum tempo, tentando acostumar-se ao molejo de suas novas montarias. Tudo seguiu bem até que avistassem os dragões azuis surgirem entre eles e a cordilheira a leste. Havia um dragão enorme, além de mais quatro um pouco menores. Seria um genocídio.
- Ó Khar Xeita, senhor dos Távios. Não teremos benefício se o poder desses seres atingir seu povo. - interviu John "guardião dos mortos" Falkiner. O líder dos beduínos concordou e despachou seus homens, mulheres e crianças em quatro grupos distintos. Restaram apenas o trio de servos dos deuses, o próprio Khar e cinco de seus melhores guerreiros, que avançaram em frente à máxima velocidade ainda almejando as ruínas. Sentiam o poder do cálice inflamar seus corações e abafar o medo que um dragão daqueles poderia causar.
O maior dos dragões e, por isso mesmo, o mais rápido deles, caiu sobre o grupo cuspindo um estrondoso relâmpago que quase custou a vida de todos. Bibiana foi a primeira a reagir usando de seus poderes divinos para castigar o monstro com o poder do Senhor dos Elfos. Isso, no entanto, representou pouco mais do que um incômodo. Os nômades investiram com suas lanças, que pouco penetraram na couraça da besta safira. John Falkiner avançou em carga e golpeou com sua espada não tendo muito mais sucesso. Por fim, foi a vez de Ryolith Fox, com a benção de Tyr e Bar Kohkba, esmagar a maldade personificada que combatia. O golpe certamente foi o mais efetivo, mas nem por isso significou um problema para o dragão.
Antes que o monstro agisse, no entanto, o Khar Xeita ergueu o cálice, cujo brilho expandiu-se ainda mais. Sem temor ou receio, ele gritou para a criatura.
- Seu destino é a derrota, ser vil e desprezível. Nem os sombrios, nem qualquer outras abominações poderão lhe dar poder suficiente. Você está no caminho de uma força que não pode ser contida, dragão. A força daquilo que é certo. - E tendo dito isso, arremessou o líquido cintilante que se produziu no interior da taça e jorrou como lava escaldante sobre as escamas safiras do servo do mal. Aquela energia transbordou como uma explosão solar incomensurável devorando todo mal em seu caminho e varrendo até mesmo as sombras mais tímidas. Os demais dragões fugiram aterrorizados.. o maior deles tremeu no limite de suas forças. Suas poderosas escamas haviam sido pulverizadas por aquela luz purificadora. Ryolith Fox não exitou. Clamando por todos os poderes da verdade e da justiça, ele fustigou o dragão azul com o peso de sua espada.


Mesmo feridos, curaram-se como puderam e seguiram para as ruínas, após recolher o que restara do couro do dragão. Encontraram o terreno todo revirado, tudo ali parecia ter sido perturbado, embora já não houvesse sinal de qualquer criatura vivente. Os rastros davam conta de que os asabis haviam partido a horas. Viram isso pouco antes de ver a terrível cidade voadora das sombras surgir no horizonte a oeste, assim como a agitação dos dragões no alto das montanhas. Buscavam uma resposta e Falkiner foi quem encontrou a serpente, que para surpresa de todos lhes falou:
- Venham comigo.. lá poderemos conversar em segurança. Vocês trazem o cálice de Amaunthor, mas não estarão em segurança aqui, uma vez que os dragões estão aliados aos que se chamam Neo Nethereses. - e ela retornou às sombras atrás de uma parede corroída pelo tempo. Ali, os viajantes encontraram uma passagem, escadarias que desciam camufladas por uma mera ilusão de ótica.
Foi no interior das galerias sob o deserto, que o grupo conheceu a verdadeira forma daquele mensageiro. Naquele lugar vasto e suntuoso, ele escutaram como Pil'it'ith, um ser aparentemente antiquíssimo, fora assaltado e desrespeitado pelos monstros vis que haviam estado ali anteriormente. A naga e seus serviçais o drogaram e roubaram importantes relíquias. Ele lhes explicou calmamente o que ocorria e o porquê de ajudá-los.
- Os Filhos de Shar.. ou Sombrios, como vocês humanos os chamam.. ou Neo Nethereses, como eles mesmos se chamam, alijaram todo o Anauroch do contato com a magia. Eles negam a benção de Mystrul a este mundo e se nada for feito, logo tal chaga se espalhará por todo o mundo. Isso em nada me interessa, ver tais servos da Destruidora eclipsarem tudo com suas artes sombrias e esse artefato que está em vossas mãos talvez seja uma das poucas esperanças que restam. Eu tenho meios ancestrais e que estão além do simples tecido mágico do mundo para enviá-los às suas terras do sul, onde poderão vencer a batalha que talvez traga a esperança de vencer a guerra. Não posso enviar todos, no entanto. Meu poder é suficiente para 4 de vocês!
Foi assim que ao trio de servos dos deuses juntou-se Leopoldo, o guerreiro em quem o Khar depositava maior confiança. Por não poder deixar seu povo sem seu líder, ele designou o beduíno como o portador do cálice de Amaunthor, o representante dos Távios e do Khar Xeita. Eles despediram-se e prometeram que não deixariam de levar o bem ao triunfo.
Um instante depois, Ryolith e John viram-se diante do palácio de Volcana Boaventura, onde a guerra corria solta...

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