14 de ago. de 2012

Flechadas certeiras

Sirius "a sombra dentro da sombra" Black soltou-se dos subalternos que o seguravam, como um tigre que espanta moscas. Ele esbofetiou o imbecil mais próximo e olhou Radamanthys Notívago com arrogância, enquanto mapeava melhor o aposento. Viu Bibiana acoada à frente do bandido de Máscara, assim como o outro subalterno que havia degolado o pobre Yorgói "npc também morre" Dossantis.
- Não fossem seus capatazes me atrasando, eu já estaria aqui a mais tempo do que você é capaz de dizer "a sombra dentro da sombra", mas não nos percamos em amenidades, afinal de contas o que...
- Onde está o pequenino?
- Que pequenino?Como pequenino? Você já estragou meu outro funcionário e agora.. ei, você aí.. essas coisas me pertencem...
- Claro, claro.. irei guardá-las para você.. - esnobou o sujeito.
- Não tente me enganar, Black. Você devia trazer o hobbit, que você disse ser o companheiro dela. A clériga pura e bondosa, que reabrirá o portal capaz de trazer o poder de Máscara e fazer outros como nós. Cobrirmos o mundo com nossa sombra, meu camarada. Máscara o possui. Você é parte dele, ele está no seu íntimo mais profundo. Não sucumba a devaneios heroicos e aventureiros, temos que arrancar as palavras dela e para isso precisávamos do hobbit.
- O ritual que necessitava desse livro? - Sirius diz desviando-se do cerne da questão e apanhando o livreto caído no chão, que não parecia nada mais do que uma velha caderneta de anotações. Ele ainda chegou com ela até Bibiana apresentando o livro como uma arma.. - É isso que você tem que ler? Estão aqui as palavras sagradas que você tem que... - e antes mesmo de terminar a frase, Sirius tocou em Bibiana e usou dos seus poderes sombrios para aparecer o mais longe possível de onde estava.
Tão logo manifestaram-se a duas centenas de metros da fortaleza, Bibiana "a sacerdotisa mestiça" Crommiel tomou o livro de Máscara das mãos de Sirius e passou a rasgá-lo ferozmente. Para assegurar que aquelas páginas não iriam tornar a oferecer risco a quem quer que fosse, ela passou a ingerir os pedaços de papel. Sirius, por sua vez, olhou o céu escuro, sem lua ou estrelas e chamou por Selune, a deusa da lua, em seus pensamentos. Assim como não veio resposta alguma, ele sentiu o poder de Máscara deixar seu corpo, esvair-se de seu ser. Como após à ressurreição, Sirius sentiu como se algo em sua alma se perdesse, que não pudesse mais ser recuperado.
Um instante depois, eles viram Radamanthys e seus comparsas se manifestarem e atacá-los impiedosamente.
- Você realmente achou que fossem escapar.. - foi a última coisa que Sirius ouviu antes que perdessem os sentidos.
Ao sul dali, nas ermas terras no limite interno de Thay, os demais integrantes daquele intrépido grupo enfim reuniram-se. Leila conseguiu dissipar a magia que paralisava o jovem bárbaro, mas mal tiveram tempo para levantar os caídos com poções e Daphne já avistou os magos vermelhos em grifos a se aproximar. Ela buscou ganhar algum tempo, voando e atraindo os inimigos, mas percebeu também que uma grande tropa com cavaleiros e soldados vinha por terra. Tendo poucos recursos à disposição, os heróis se viram obrigados a medidas drásticas. Úrsula escondeu-se invisível em uma tocaia, enquanto Francisco "o necromante branco" Xavier lançava graxa mágica para dificultar a movimentação das tropas e poderem atear fogo. Samwise curou-se com uma poção e Rock cuidou de fortalecer os aliados com resistências de urso, enquanto Leila os cobria com o manto da invisibilidade.
O problema começou quando quatro dos magos vermelhos, deixando de perseguir Daphne, deram-se conta do ardil e fulminaram o grupo com incontáveis bolas de fogo, que deixaram no limiar de suas forças Ehtur Telcontar e Rock, além de tombar Xavier, em quem o ataque estava concentrado, e Samwise. Num último gesto, o guardião conseguiu curar Xavier, mas isso o fez tombar diante de mais uma leva de ataques. Francisco Xavier, por sua vez, temendo o pior, correu em direção a Leila Diniz, que estava protegida no lombo de David. Úrsula escapou das magias e manteve-se furtiva seguindo em direção às tropas inimigas. Daphne, tendo apenas um mago em seu encalço conseguiu virar a situação a seu favor, agarrando o arcano e atirando-o para fora do grifo, que seguiu seu caminho. O necromante branco não vendo outra opção,  arrancou uma das páginas de seu livro e teleportou-se dali levando Leila e David.
Úrsula aproveitou para alvejar os cavaleiros da tropa já bastante próxima. Ela conseguiu derrubar três cavaleiros antes que eles se dessem conta do que se passava. Isso acabou tumultuando o avanço da tropa, obrigando-os a perseguir um inimigo que não tinham certeza de onde estava. Enquanto eles perdiam tempo, a gnoma retornava esgueirando-se velozmente e ainda invisível graças ao anel que um dia ganhara de Rhange Hesystance.


Daphne deixou de sentir seu animal, mas sabia que ele ainda estava vivo. Ela retornou para encontrar seus aliados perdidos e condenados. Os quatros magos vermelhos já pousavam acreditando terem finalizado o problema e pretendendo pilhar os derrotados. Um deles tomou  o machado de Rock e suas luvas, enquanto o outro pego o manto e o amuleto. Mais à frente, um tomou a lança de Ehtur, mas o outro foi surpreendido ao tentar retirar o anel de invisibilidade do guardião, também presente de Rhange Hesystance. Um enorme descarga elétrica atravessou-o, quase matando-o. Úrsula "a matadora de magos" Suarzineguer aproveitou-se disso para derrubar o outro mago e apenas terminar o serviço com o eletrocutado. Rapidamente se apossou das varinhas de bola de fogo que os feiticeiros escarlates possuíam.
A druida da Grande Floresta conseguiu manter um dos grifos ali para carregar Samwise e sua montaria, enquanto Úrsula dividiu-se em fulminar os inimigos com bolas de fogo, que ela ativava por instinto, e curar Ehtur. As tropas perderam a coesão e não fosse o retorno do líder dos arcanos vermelhos, que não fora eliminado pela queda e teriam escapado dali com as águas celestiais conjuradas por Daphne. No entanto, sozinho, mesmo com magias poderosas, o mago tatuado de Thay não foi capaz de dar conta daquela ameaça e partiu, mas partiu prometendo voltar.

Muito longe dali, após um dia inteiro de viagem, John Falkiner e Ryolith Fox sentiam as agruras penosas do Grande Deserto. O calor era terrível em suas armaduras completas de metal, o peso era insuportável sobre a areia fofa, a sede era uma navalha constante em seus pensamentos, mas mesmo assim eles continuavam. Thela e Elair buscavam minimizar-lhes o infortúnio, mas não era tarefa fácil. Conseguiram avançar em segurança por todo o tempo duna após duna.
Após suas preces noturnas, John clamou pelo poder divino de Kelemvor, senhor dos mortos, podendo novamente se comunicar com seus guias. Solicitou que descrevessem a cidade em ruínas, pois poderia levá-los diretamente para lá com uma magia, o que não deixou de deixar os dois beduínos um tanto preocupados. Ainda assim, eles confiaram na convicção do clérigo. Falkiner orou ao deus dos mortos e eles partiram do sul rumo ao norte.
Ao invés de uma cidade em ruínas, no entanto, eles encontraram um grande acampamento. Barracas luxuosas, mas leves e facilmente levantadas dançavam ao sabor do vento. Ao redor as árvores e o verde denunciavam o oásis. Não tardaram a surgir beduínos com lanças e cimitarras ameaçando-os. Elair tranquilizou a todos e explicou quem eram os dois, prontamente deixados em paz. Dali, eles foram conduzidos até a tenda principal e ao líder daqueles nômades, o Khar Pereirão.
O guerreiro não se conteve indo abraçar o amigo Ryolith. Ambos conversaram sobre a escravidão que cruzara seus caminhos, lembrando os tempos terríveis que se sucedem desde então. Ambos haviam retornado para seus povos e buscavam libertá-los dos neonethereses ou sombrios, como os beduínos os chamavam. Agora era uma mesma esperança que colocava-os em contato.
- Uma tribo do norte encontrou um artefato. Um pedaço do sol dizem alguns.
- É um artefato dedicado a Amaunthor, um deus primitivo do sol.. - ponderou Falkiner cruzando todas as informações que tiveram até aqui.
- Os sombrios estão vasculhando todas as ruínas do deserto.. fizeram acordos com os monstros e dragões.. dizem que é o reino deles e somos súditos deles. Pois eu digo que Pereirão não é súdito de ninguém. O tal artefato está com os Távios. Vocês podem encontrá-los com sorte a três dias de viagem daqui. Descansem, comam, bebam e arranjem uma boa mulher para passar a noite entre minhas dançarinas.. amanhã Thela e Elair seguirão com vocês pelas obrigações da honra.
Ryolith logo recolheu-se, após suas preces. John Falkiner demorou-se um pouco mais, mas acabou bastante desgostoso quanto às dançarinas que julgou muito assanhadas e fora de forma. Acabou por orar por iluminação e deitou-se.
Na manhã seguinte, o despertar deles foi principiado pelo caos. Tão logo deixaram o interior de suas barracas, o par de servos dos deuses puderam ver a odiosa, mas também incrível da cidade voadora. Se Ryolith Fox já vira aquilo, John Falkiner prontamente percebeu o mal que sustentava tudo aquilo. Todos se agitavam e debandavam levando consigo suas móveis e preparadas moradas. Falkiner buscou seu colega e seus guias e sem mais demora, teleportou-se para o norte.


Sirius e Bibiana acordaram ao mesmo tempo pela água fria. Sentiam a dor terrível de estarem presos pelas mãos e pés. Não amarrados ou acorrentados, mas sim crucificados no aposento onde haviam estado antes e onde o corpo de Yorgói ainda jazia. Se a dor era terrível, o humor de seus algozes não parecia muito melhor.
- Você escolheu seu lado, Black. Se eu não posso mais completar o ritual.. - e Radamanthys trazia os restos do livreto nas mãos.. - ao menos eu vou poder sacrificar a alma de vocês dois em troca de alguma coisa. Tenho certeza que alguma entidade do além vai retribuir a alma de uma clériga elfa e um herói de merda. Ainda pode levar o gnomo de brinde. - ele colocou a lâmina da rapier na goela de Sirius. - Eu terei muito prazer em matar você, seu verme.. mas antes.. antes você irá assistir à morte dela. Verá que você fracassou em sua missão e não conseguiu nada bancando o herói.
- Bom, eu ganhei todo esse papo furado do tipo "eu posso fazer um discursinho" de você né... - disse Sirius com ironia, enquanto tentava ganhar tempo. - Mas se você pensar bem.. não há porque se prender a isso. Se não tem mais ritual.. acontece.. vida que segue e... - a rapier pressionou-lhe a garganta, impedindo Black de prosseguir.
- Eu não tenho medo de você, servo do mal. Eu destruí seu libelo nefasto e impedi os planos sórdidos de seu Deus das Sombras e dos Ladrões, que se esconde atrás de máscaras e servos incapazes. Minha tarefa foi um sucesso e tenho certeza que Corellon Larethian terá bom lugar para minha alma se for esse o meu destino ou que não permitirá que seus atos vis possam me alcançar. você é o único derrotado aq.. - o golpe de Radamanthys abriu a garganta da clériga, impedindo-a de terminar. A meio-elfa engasgou com o próprio sangue, sentindo a vida escapar como lhe faltavam as palavras.
Para a surpresa de todos, no entanto, tão logo as primeiras gotas de sangue tocaram o solo, um brilho prateado de um portal trouxe luz àquelas trevas e tragou Bibiana "a sacerdotisa mestiça" Crommiel. Ramanthys Notivago e seus homens não acreditavam no que viam, mas Sirius ficou tranquilo como se soubesse o que se passava.
- Onde ela está? - ameaçou Notívago.
- Bem.. eu posso lhe dizer o que está acontecendo...
- Você VAI me contar.. ande.. ou corto a sua garganta..
- E me ver partir? Vamos Radamanthys, que mal posso representar com mãos e pés multilados, nu e desarmado?
- Se tentar algo.. existe outros pedaços de você que eu posso cortar.. - ele arrancou uma das estacas que prendia Sirius, satisfazendo-se com a dor que isso causava. Uma vez livre e mal se mantendo em pé. Sirius via que não havia nenhum sinal de esperança. - E então?
- E então o que?
- O que se deu com a clériga?
- Ah.. é um ritual de proteção poderoso.. coisa fina.. e o ingrediente final é o sangue de um inocente...
- Sangue de um inocente?!? Ora.. e de que me serve isso agora? - enfureceu-se Radamanthys Notívago já frustrado com tantos revezes. Sem mais demora ele investiu contra Sirius, que conseguiu esquivar-se numa última manobra e arrancar um pergaminho que seu inimigo trazia na cintura. Ele torceu para que aquilo fosse o que ele julgava que alguém como Radamanthys teria, enquanto todos os outros servos de Mask já vinham atingi-lo. Ele leu o pergaminho, mesmo sem entender nada do que dizia.
Um instante depois, ao invés de escuridão e espadas, Sirius deparou-se com água salgada em todas as direções. Prendendo o ar, ele lutou para subir à superfície, vendo que estava próximo de algumas pequenas ilhotas de areia, onde conseguiu chegar, antes que os tubarões se aproximassem daquelas águas mais rasas. Ele chegou sôfrego à praia, arrastado e atirado pelas ondas, no limite entre a vida e a morte. Não morreu crucificado, não morreu afogado, não morreu comido, mas talvez morresse ali de fome. Ainda caído viu surgirem dois pares de pés.
- Veja o que a maré trouxe, Leila...
- Parece que os deuses realmente tem planos para você, Sirius Black...
- Quer ceviche?


Um comentário:

  1. Os personagens sempre se saem melhor na narrativa do Jorge!

    PS. Os desenhos estão ótimos!

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