- Não fossem seus capatazes me atrasando, eu já estaria aqui a mais tempo do que você é capaz de dizer "a sombra dentro da sombra", mas não nos percamos em amenidades, afinal de contas o que...
- Onde está o pequenino?
- Que pequenino?Como pequenino? Você já estragou meu outro funcionário e agora.. ei, você aí.. essas coisas me pertencem...
- Claro, claro.. irei guardá-las para você.. - esnobou o sujeito.
- Não tente me enganar, Black. Você devia trazer o hobbit, que você disse ser o companheiro dela. A clériga pura e bondosa, que reabrirá o portal capaz de trazer o poder de Máscara e fazer outros como nós. Cobrirmos o mundo com nossa sombra, meu camarada. Máscara o possui. Você é parte dele, ele está no seu íntimo mais profundo. Não sucumba a devaneios heroicos e aventureiros, temos que arrancar as palavras dela e para isso precisávamos do hobbit.
- O ritual que necessitava desse livro? - Sirius diz desviando-se do cerne da questão e apanhando o livreto caído no chão, que não parecia nada mais do que uma velha caderneta de anotações. Ele ainda chegou com ela até Bibiana apresentando o livro como uma arma.. - É isso que você tem que ler? Estão aqui as palavras sagradas que você tem que... - e antes mesmo de terminar a frase, Sirius tocou em Bibiana e usou dos seus poderes sombrios para aparecer o mais longe possível de onde estava.
Tão logo manifestaram-se a duas centenas de metros da fortaleza, Bibiana "a sacerdotisa mestiça" Crommiel tomou o livro de Máscara das mãos de Sirius e passou a rasgá-lo ferozmente. Para assegurar que aquelas páginas não iriam tornar a oferecer risco a quem quer que fosse, ela passou a ingerir os pedaços de papel. Sirius, por sua vez, olhou o céu escuro, sem lua ou estrelas e chamou por Selune, a deusa da lua, em seus pensamentos. Assim como não veio resposta alguma, ele sentiu o poder de Máscara deixar seu corpo, esvair-se de seu ser. Como após à ressurreição, Sirius sentiu como se algo em sua alma se perdesse, que não pudesse mais ser recuperado.
Um instante depois, eles viram Radamanthys e seus comparsas se manifestarem e atacá-los impiedosamente.
- Você realmente achou que fossem escapar.. - foi a última coisa que Sirius ouviu antes que perdessem os sentidos.
Ao sul dali, nas ermas terras no limite interno de Thay, os demais integrantes daquele intrépido grupo enfim reuniram-se. Leila conseguiu dissipar a magia que paralisava o jovem bárbaro, mas mal tiveram tempo para levantar os caídos com poções e Daphne já avistou os magos vermelhos em grifos a se aproximar. Ela buscou ganhar algum tempo, voando e atraindo os inimigos, mas percebeu também que uma grande tropa com cavaleiros e soldados vinha por terra. Tendo poucos recursos à disposição, os heróis se viram obrigados a medidas drásticas. Úrsula escondeu-se invisível em uma tocaia, enquanto Francisco "o necromante branco" Xavier lançava graxa mágica para dificultar a movimentação das tropas e poderem atear fogo. Samwise curou-se com uma poção e Rock cuidou de fortalecer os aliados com resistências de urso, enquanto Leila os cobria com o manto da invisibilidade.
O problema começou quando quatro dos magos vermelhos, deixando de perseguir Daphne, deram-se conta do ardil e fulminaram o grupo com incontáveis bolas de fogo, que deixaram no limiar de suas forças Ehtur Telcontar e Rock, além de tombar Xavier, em quem o ataque estava concentrado, e Samwise. Num último gesto, o guardião conseguiu curar Xavier, mas isso o fez tombar diante de mais uma leva de ataques. Francisco Xavier, por sua vez, temendo o pior, correu em direção a Leila Diniz, que estava protegida no lombo de David. Úrsula escapou das magias e manteve-se furtiva seguindo em direção às tropas inimigas. Daphne, tendo apenas um mago em seu encalço conseguiu virar a situação a seu favor, agarrando o arcano e atirando-o para fora do grifo, que seguiu seu caminho. O necromante branco não vendo outra opção, arrancou uma das páginas de seu livro e teleportou-se dali levando Leila e David.
Úrsula aproveitou para alvejar os cavaleiros da tropa já bastante próxima. Ela conseguiu derrubar três cavaleiros antes que eles se dessem conta do que se passava. Isso acabou tumultuando o avanço da tropa, obrigando-os a perseguir um inimigo que não tinham certeza de onde estava. Enquanto eles perdiam tempo, a gnoma retornava esgueirando-se velozmente e ainda invisível graças ao anel que um dia ganhara de Rhange Hesystance.
A druida da Grande Floresta conseguiu manter um dos grifos ali para carregar Samwise e sua montaria, enquanto Úrsula dividiu-se em fulminar os inimigos com bolas de fogo, que ela ativava por instinto, e curar Ehtur. As tropas perderam a coesão e não fosse o retorno do líder dos arcanos vermelhos, que não fora eliminado pela queda e teriam escapado dali com as águas celestiais conjuradas por Daphne. No entanto, sozinho, mesmo com magias poderosas, o mago tatuado de Thay não foi capaz de dar conta daquela ameaça e partiu, mas partiu prometendo voltar.
Muito longe dali, após um dia inteiro de viagem, John Falkiner e Ryolith Fox sentiam as agruras penosas do Grande Deserto. O calor era terrível em suas armaduras completas de metal, o peso era insuportável sobre a areia fofa, a sede era uma navalha constante em seus pensamentos, mas mesmo assim eles continuavam. Thela e Elair buscavam minimizar-lhes o infortúnio, mas não era tarefa fácil. Conseguiram avançar em segurança por todo o tempo duna após duna.
Após suas preces noturnas, John clamou pelo poder divino de Kelemvor, senhor dos mortos, podendo novamente se comunicar com seus guias. Solicitou que descrevessem a cidade em ruínas, pois poderia levá-los diretamente para lá com uma magia, o que não deixou de deixar os dois beduínos um tanto preocupados. Ainda assim, eles confiaram na convicção do clérigo. Falkiner orou ao deus dos mortos e eles partiram do sul rumo ao norte.
Ao invés de uma cidade em ruínas, no entanto, eles encontraram um grande acampamento. Barracas luxuosas, mas leves e facilmente levantadas dançavam ao sabor do vento. Ao redor as árvores e o verde denunciavam o oásis. Não tardaram a surgir beduínos com lanças e cimitarras ameaçando-os. Elair tranquilizou a todos e explicou quem eram os dois, prontamente deixados em paz. Dali, eles foram conduzidos até a tenda principal e ao líder daqueles nômades, o Khar Pereirão.
O guerreiro não se conteve indo abraçar o amigo Ryolith. Ambos conversaram sobre a escravidão que cruzara seus caminhos, lembrando os tempos terríveis que se sucedem desde então. Ambos haviam retornado para seus povos e buscavam libertá-los dos neonethereses ou sombrios, como os beduínos os chamavam. Agora era uma mesma esperança que colocava-os em contato.
- Uma tribo do norte encontrou um artefato. Um pedaço do sol dizem alguns.
- É um artefato dedicado a Amaunthor, um deus primitivo do sol.. - ponderou Falkiner cruzando todas as informações que tiveram até aqui.
- Os sombrios estão vasculhando todas as ruínas do deserto.. fizeram acordos com os monstros e dragões.. dizem que é o reino deles e somos súditos deles. Pois eu digo que Pereirão não é súdito de ninguém. O tal artefato está com os Távios. Vocês podem encontrá-los com sorte a três dias de viagem daqui. Descansem, comam, bebam e arranjem uma boa mulher para passar a noite entre minhas dançarinas.. amanhã Thela e Elair seguirão com vocês pelas obrigações da honra.
Ryolith logo recolheu-se, após suas preces. John Falkiner demorou-se um pouco mais, mas acabou bastante desgostoso quanto às dançarinas que julgou muito assanhadas e fora de forma. Acabou por orar por iluminação e deitou-se.
Na manhã seguinte, o despertar deles foi principiado pelo caos. Tão logo deixaram o interior de suas barracas, o par de servos dos deuses puderam ver a odiosa, mas também incrível da cidade voadora. Se Ryolith Fox já vira aquilo, John Falkiner prontamente percebeu o mal que sustentava tudo aquilo. Todos se agitavam e debandavam levando consigo suas móveis e preparadas moradas. Falkiner buscou seu colega e seus guias e sem mais demora, teleportou-se para o norte.
- Você escolheu seu lado, Black. Se eu não posso mais completar o ritual.. - e Radamanthys trazia os restos do livreto nas mãos.. - ao menos eu vou poder sacrificar a alma de vocês dois em troca de alguma coisa. Tenho certeza que alguma entidade do além vai retribuir a alma de uma clériga elfa e um herói de merda. Ainda pode levar o gnomo de brinde. - ele colocou a lâmina da rapier na goela de Sirius. - Eu terei muito prazer em matar você, seu verme.. mas antes.. antes você irá assistir à morte dela. Verá que você fracassou em sua missão e não conseguiu nada bancando o herói.
- Bom, eu ganhei todo esse papo furado do tipo "eu posso fazer um discursinho" de você né... - disse Sirius com ironia, enquanto tentava ganhar tempo. - Mas se você pensar bem.. não há porque se prender a isso. Se não tem mais ritual.. acontece.. vida que segue e... - a rapier pressionou-lhe a garganta, impedindo Black de prosseguir.
- Eu não tenho medo de você, servo do mal. Eu destruí seu libelo nefasto e impedi os planos sórdidos de seu Deus das Sombras e dos Ladrões, que se esconde atrás de máscaras e servos incapazes. Minha tarefa foi um sucesso e tenho certeza que Corellon Larethian terá bom lugar para minha alma se for esse o meu destino ou que não permitirá que seus atos vis possam me alcançar. você é o único derrotado aq.. - o golpe de Radamanthys abriu a garganta da clériga, impedindo-a de terminar. A meio-elfa engasgou com o próprio sangue, sentindo a vida escapar como lhe faltavam as palavras.
Para a surpresa de todos, no entanto, tão logo as primeiras gotas de sangue tocaram o solo, um brilho prateado de um portal trouxe luz àquelas trevas e tragou Bibiana "a sacerdotisa mestiça" Crommiel. Ramanthys Notivago e seus homens não acreditavam no que viam, mas Sirius ficou tranquilo como se soubesse o que se passava.
- Onde ela está? - ameaçou Notívago.
- Bem.. eu posso lhe dizer o que está acontecendo...
- Você VAI me contar.. ande.. ou corto a sua garganta..
- E me ver partir? Vamos Radamanthys, que mal posso representar com mãos e pés multilados, nu e desarmado?
- Se tentar algo.. existe outros pedaços de você que eu posso cortar.. - ele arrancou uma das estacas que prendia Sirius, satisfazendo-se com a dor que isso causava. Uma vez livre e mal se mantendo em pé. Sirius via que não havia nenhum sinal de esperança. - E então?
- E então o que?
- O que se deu com a clériga?
- Ah.. é um ritual de proteção poderoso.. coisa fina.. e o ingrediente final é o sangue de um inocente...
- Sangue de um inocente?!? Ora.. e de que me serve isso agora? - enfureceu-se Radamanthys Notívago já frustrado com tantos revezes. Sem mais demora ele investiu contra Sirius, que conseguiu esquivar-se numa última manobra e arrancar um pergaminho que seu inimigo trazia na cintura. Ele torceu para que aquilo fosse o que ele julgava que alguém como Radamanthys teria, enquanto todos os outros servos de Mask já vinham atingi-lo. Ele leu o pergaminho, mesmo sem entender nada do que dizia.
Um instante depois, ao invés de escuridão e espadas, Sirius deparou-se com água salgada em todas as direções. Prendendo o ar, ele lutou para subir à superfície, vendo que estava próximo de algumas pequenas ilhotas de areia, onde conseguiu chegar, antes que os tubarões se aproximassem daquelas águas mais rasas. Ele chegou sôfrego à praia, arrastado e atirado pelas ondas, no limite entre a vida e a morte. Não morreu crucificado, não morreu afogado, não morreu comido, mas talvez morresse ali de fome. Ainda caído viu surgirem dois pares de pés.
- Veja o que a maré trouxe, Leila...
- Parece que os deuses realmente tem planos para você, Sirius Black...
- Quer ceviche?
Os personagens sempre se saem melhor na narrativa do Jorge!
ResponderExcluirPS. Os desenhos estão ótimos!