Sem outra opção, dedicaram aquela manhã a conhecer melhor Soubar. Ehtur, Rock e Yorgói permaneceram no grande templo de Kelemvor, onde puderam escambiar alguns produtos coletados pelo grupo a fim de angariar algum dinheiro para benefício de todos. Úrsula e Daphne, que liberara David para buscar uma floresta próxima, optaram por conhecer os arredores. Sirius seguiu só sem avisar o que ia fazer, já que pretendia fazer negócios próprios.
O bairro hobbit era um lugar a parte dentro da cidade. Tudo era bastante organizado e limpo, além de adaptado a estatura da sua população. Os cidadãos pareciam sérios e concentrados no que faziam. Úrsula e Daphne foram comprar algumas mudas de abacaxi. A viúva de Arnoux queria conseguir informações para levar para Brasillis a cultura que tanto animara seu marido. Sirius, por sua vez, buscou um lugar para comercializar alguns itens que recolhera em Evereska. Passou por um ferreiro e um armeiro, antes de chegar à pequena guilda arcana Gengis Khan de Soubar. No caminho, no entanto, deparou-se também com a jovem druida e a gnoma, que acabaram vendo as armas élficas recolhidas pelo senhor Black. Isso causou certo desconforto entre Daphne e Sirius, cuja natureza abnegada logo se indispôs com a profundidade do materialismo individualista do ladino.
De volta ao lar de Azrael, todos foram reunidos para o almoço pela governante Isabeau Sulivan. Além deles, estavam ali os principais clérigos da ordem, assim como os capitães das tropas. Lorde Byron invadiu aquela reunião, ainda com palavras ríspidas para com Rock, mesmo diante dos apelos de que tentassem continuar.
- Devido à sua ação infantil e impensada, Azrael Sulivan está além de nosso alcance.
- Mas por que?
- Agora, todas as entidades estão cientes de nossos movimentos. Você traiu a minha confiança em você, garoto. Lembre-se que é o poder de Morpheus que o manteve oculto daquele que matou seu pai e seu povo.
- Nós precisávamos salvar nossa amiga Alissah Eagle. Estamos atrás dela a muito tempo.
- Se tivessemos salvo Azrael, provavelmente sua amiga já estaria liberta entre nós. As peças devem ser movidas no seu devido tempo. A precipitação é uma fraqueza. Até mesmo o criminoso que estava aprisionado com ela poderia ser libertado. O egoísmo vosso os impede de ver tudo num espectro mais amplo.
- Pois eu estou de saco cheio dessa sua conversinha. Por que diabos os seus interesses são os verdadeiros? Você nos enche com sonhozinhos, visões e missões, sem nos deixar pensar por nós mesmos.. eu estou farto. Pode pegar suas malditas opiniões e enfiar no rabo.. - disse Ehtur batendo na mesa.
- O poder de Morpheus é nossa única esperança.. - continuou Byron tentando manter a discussão.
- Silêncio! Vocês não estão falando de uma missão qualquer.. mas do meu marido.. do senhor dessa cidade e desse templo. Eu exijo respeito pelo homem que nunca pensou em si mesmo, mas sempre no bem deste mundo e do reino dos mortos.
- Ainda creio que possamos tentar.. eu irei pensar em Azrael dessa vez. Sinto que tenho cada vez mais.. controle...
- Isso será inútil, rapaz. Precisamos de muito mais do que antes nesse momento.. e Orcus está de prontidão esperando por você.. ele precisa de seus poderes.. você é a chave para invadir os Sete Céus.
- Assim como você só se preocupa em controlar os poderes dele, sua raposa ardilosa.. - alfinetou Ehtur deixando a comida, derrubando a cadeira e se retirando antes que perdesse de vez o controle.
- Ainda que tenhamos complicado os planos dos yuan-ti e repelido seu Deus Serpente, ainda temos que cuidar das possibilidades e consequências de seus planos. Isso sem falar no Culto do Dragão.. na guerra civil que se inicia em Cormyr.. no assassinato dos lordes da Cidade dos Esplendores..
- Assassinato dos lordes?
- Vários foram assassinados.. provavelmente pelos Ladrões das Sombras.. posso lhe afirmar que um Amkathra subiu ao poder.. tornou-se um dos novos lordes..
- Malditos.. - rangeu os dentes a jovem druida lembrando-se de seus odiosos parentes, enquanto Sirius lembrou-se bem das relações entre a guilda e a família de escravocratas.
- Somam-se a isso os autoproclamados novos nethereses e sua cidade voadora.. e também os phaerimms.. saibam que enquanto algum deles restar, vocês não terão a alma de Arnoux, nem poderá ser salva a da rainha Querdalla. Tudo isso mostra como os problemas são muito maiores...
- Deve haver algo a fazer...
- Na verdade, existe uma única esperança, mas essa resposta não está aqui.. para isso.. nós devemos rumar para a Fortaleza da Vela...
Muito longe dali, um velho homem, cujo corpo castigado por quase um século de vida apoiava-se sob um cajado, viu chegar ao seu aposento uma bela mulher. Ela era uma de seus oráculos, uma das mais misteriosas mulheres nessa morada do saber, destacando-se mesmo entre os destinados a dar voz às antigas profecias. Ao lado do velho ancião de longa barba branca estava um mago, jovem se comparado a ele, mas cujas 3 décadas de vida já haviam tornado experiente.
- Seja bem vinda, Leila Diniz..
- Mandou chamar-me, Grande Leitor?
- Sim.. este é Francisco Xavier.. vocês devem se conhecer, ainda que seus ofícios aqui não estejam diretamente relacionados. Vocês foram convocados aqui, pois somos guiados pelas grandes profecias de Alaundo. Elas não só ditam os ritmos do tempo, mas são uma leitura minuciosa dos meandros de nossa existência. Eles são como os ecos profundos advindos de um futuro sombrio, a tinta que respinga além da folha na antiga caligrafia que compõem a existência. Assim sendo, não poderiam deixar de anunciar as vicissitudes que se avizinham, as semânticas que nos conformam. Há muitas semanas, desde o eclipse sombrio no norte, mazelas vem sendo liberadas sobre este pobre plano e muitas são as notícias que chegam todo o tempo. Um grupo de recém-chegados virá em busca de nossa ajuda.. eles vem do norte e esperam que nós sejamos a solução de seus problemas. Vocês dois devem se preparar. Eu acreditei que partiriam antes, havia feito outros planejamentos, mas terão de seguir com esses arautos.. vocês representarão nossa ordem em uma arriscada missão...
Byron entregou a cada um deles um livro.
- Quando lhes for pedido, entreguem estes tomos mágicos ao solicitante. É o preço para a entrada na Grande Biblioteca, lar de todo o saber e grande templo de Oghma, senhor da sabedoria. Não questionem nada e aceitam o que lhes disser o guardião da entrada. Chegaremos com a noite.
Úrsula viu que seu livro tratava de taxidermia. Sirius pode folhear algumas informações sobre o exótico reino de Aglarond. Daphne segurou o livro sobre o reino das fadas e o povo da rainha Titânia, senhora de Faerie. Yorgoi leu sobre o vasto deserto do Anauroch. O jovem Rock recebeu um compendio que era como um guia dos planos. Ehtur passou os olhos por um texto sobre a vil citadela de Zenthil, onde expressavam suas intenções imperialistas com as Terras dos Vales aos sul.
Byron os teleportou. Surgiram em meio a uma estrada cujos passantes não se importaram com aquilo. Aqueles que os tinham no caminho apenas os circundaram e seguiram em frente. Muito mais gente vinha do que ia. Na verdade, ninguém ia, eles logo viram. Ao longe, as grandes torres luminosas, tinham o azul do mar como pano de fundo. O crepúsculo dava cores mais caledoscópicas para o horizonte.
Seguiram em frente até os portões da Fortaleza da Vela. Fizeram como lhes foi indicado e menos de uma hora depois, estavam no interior daquele templo do saber, guiados por um monge, sendo levados até alguém que, na verdade, já os aguardava.
O velho homem, chamado todo o tempo de o Grande Leitor, os recebeu com educação e seriedade em um aposento apinhado de livros e rolos de pergaminhos. Estava acompanhado de um mago e uma mulher muito atraente. Suas palavras, entretanto, não trouxeram conforto. Apesar do apelos de Lorde Byron, o Grande Leitor não parecia convencido de poder facilitar os intentos do servo de Morpheus.
- Mas há um caminho. O Tomo de Mystra. O cânone sagrado de toda a magia.. este livro pode ajudá-los a atravessar os planos e salvarem o paladino da morte de sua prisão. Mas para tanto, vocês devem cruzar este mundo em direção às ímpares terras de Aglarond. Vocês devem procurar a rainha bruxa daquela terra. Ela é a dona do livro e só ela pode entregá-lo a vocês. Eu enviarei Leila e Francisco para acompanhá-los como nossos representantes, dando prova de nossa boa fé para com tal empreitada.
Um novo teleporte com mais passageiros dessa vez. Surgiram em uma tórrida e úmida floresta tropical. Não bastasse com o calor excessivo, as árvores eram imensas e o chão pouco firme. Com a orientação de Ehtur e Daphne, conseguiram uma boa trilha para escapar das armadilhas da natureza local, bem como evitar um grupo de pequenos humanoides, que o guardião chamou de tasloi. Uma vez fora da floresta, viram estar bem próximo ao mar. De acordo com as leituras, sabiam que tratava-se de uma península, quase toda coberta pela vasta Mata de Yuirm. Não tiveram dúvidas do rumo a tomar ao avistarem as torres da cidade ao longe.
Acabaram interceptados por um batedor do exército local, que sobrevoava a região em seu grifo. Joel os abordou e vendo serem ordeiros os seus intentos, guiou-os em direção à capital Velprintalaar, uma curiosa cidade costeira sem muralhas. Ainda caminhavam em meio à população aglomerada naquele lugar exótico e tão cheio de vida, quando as pessoas tombaram mortas. Foi como se toda e qualquer água evaporasse, mesmo a que estava no corpo das criaturas. Muitos caíram e apenas Ehtur, Rock e Byron restaram de pé, resistindo àquela magia.
meu livro era sobre fadas, e nao sobre o deserto... meu sonho na noite anterior foi sobre o deserto...
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