5 de set. de 2015

Bêbados planos



O solar enfurecido lançou-se contra Derdeil Óphodda, que estava também à mercê do demônio de duas cabeças. O celestial cedeu ao descontrole e isso acabou fazendo-o errar seu ataque vorpal. Ele acabou cortando a fonte e as portas dispararam a bater. Rufus Lightfoot aproveitou o momento e resgatou Mari'bel usando suas mãos mágicas, arrastando-a pro que restou da fonte.


A mente da fada foi tomada pela visão transcendente de um magnífico anfiteatro. Ainda que seu tamanho fosse impressionante, havia algo de magnânimo naquele lugar. Ela identificou logo as divindades que palavreavam ao centro. Ele viu logo o ancestral sequoia que era Silvanus, bem como a mulher fornida e sorridente que era Chauntea, mesmo com a preocupação.

- O mundo está morrendo... eu...- ela dizia com lágrimas nos olhos.
Mari'bel reconheceu ainda Shar, senhora da escuridão, Talos, senhor da destruição, por serem deuses da natureza, e Bane, com quem lutara em Myth Dranor. Haviam ainda mais três, familiares, mas que ela não identificou de imediato.
Acoçado pelo Solar, Derdeil Ophoda escapou para outro plano. Ao ver-se numa ermidão nebulosa, entendeu que estava nas bordas das Planícies Cinzentas. No entanto, o solar logo usou seus poderes e foi atás do escolhido do deus da magia. O celestial surgiu e o agarrou, enforca-o, mas Derdeil conseguiu murmurar um nome:
- Rhange...
Ao fim do último fonema, o solar foi obliterado da existência.

Enquanto isso, Mari'bel se concentrava e tentava ver os deuses. Rufus e Kaliandra Boaventura pensavam em como protegê-la. Derdeil Ophoda usou seu fogomágico para trafegar entre os planos e conseguiu retornar ao aposento das portas. Lá, reunidos na fonte, eles se viram mirando outro lugar. Mari'bel percebeu que não era mais uma visão, eles estavam no anfiteatro.

- Seja bem vinda, minha filha - soou a voz do Grande Pai em sua mente. - Vejo que trás em você a força da primeira floresta, que sua alma é multiplicadora do equilíbrio. Meus olhos sorriem de vê-la assim, mas devo avisá-la que não há em quem confiar-se aqui. Nós devemos lutar pelo equilíbrio... pelo equilíbrio maior.
Mari'bel tentava dar conta daquilo e Kaliandra identificou o senhor do conhecimento, Oghma, bem como o senhor da guerra, Tempus, além dos deuses que a fada lhe falara. Havia outro ainda, um estranho deus escondido num velho manto cinzento, Morpheus. Todos pareciam se ocupar dele, mais que dos apelos de Chauntea.
Porém, a deusa da agricultura tombou exaurida nos galhos de Silvanus. Mari'bel e todos os seres viventes de Faerun sentiram um vazio em seus íntimos, que para guardiã killoren foi algo ainda mais forte. Mais foi a elfa aterrorizada que suspirou um nome:
-Rhange...
 Derdeil Ophoda tinha sua mente ocupada em outro lugar. Ele enxergava a multiplicidade da existência e o movimento cósmico dos planos como se fosse as escamas de uma serpente infindável num perpétuo movimento. Nada era, tudo estava. Ele sentia seu mundo perder-se, agonizar, mas ele já era um cidadão do cosmos. Curiosamente, uma força sedutora e sombria o convidava a deixar tudo aquilo e encontrar a plenitude. Kaliandra e Rufus sentiam o vazio que trás o luto e uma certa desorientação da falta.
Foi então de Rhange Hesysthance, o deus da magia se fez presente. Com seu sorriso sarcástico, ele fitou os outros deuses.
- Você não tem juízo de vir aqui - sorriu Bane golpeando com sua manopla a tribuna de onde falava.
- Nunca tive isso e veja onde cheguei, não é mesmo? - Debochou Rhange. - Posso fazer tudo de novo...
- Não comigo chefiando os trabalhos... - e com essa palavras Bane transformou o deus da magia num tasloi acorrentado.
Mas antes que algo mais pudesse ser feito, a atenção de todos foi capturada pela chegada de Lolth, com seu corpo monstruoso metade aranha, metade drow. Montado nela vinha um estranho demônio, que outrora fora um belo solar, Malkizid.
- Acabou! - Ela disse simplesmente. Isso criou teias finíssimas que prenderam a maioria. Mas a pequena Mari'bel conseguiu se manter livre, assim como Rufus. A fada serva de Timothy invocou o poder natural que houve, havia e haverá em sua vida e atacou a deusa Lolth. As flechas, no entanto, não só erraram, como retornaram para cravejarem o corpo de Mari'bel, ostentando-a no ar como que crucificada,
- Você não é nada! Se nem todos os deuses puderam me impedir, você acha que uma fadinha insignificante poderia? - Gritou Lolth entre a fúria e o triunfo.
- Lolth esse não era o acordo - gritou Rhange Hesysthance que seguia preso.
- Acordos foram feitos para serem quebrados - os olhos da senhora das aranhas queimaram uma chama púrpura.
- Eu sabia - gritou Kaliandra mesmo presa na teia. - Eu sempre soube! O que foi que eu disse? Vingança!!!
Os galhos colossais de Silvanus romperam a prisão de teias e agarraram o corpo de Chauntea. O deus das florestas despediu-se de Mari'bel, lembrando-a em sua mente de que eram agentes do equilíbrio, cada um tinha o seu papel e não podiam confiar em ninguém ali. Isso foi a última coisa antes de Lolth acabar com tudo.

Derdeil Ophoda despertou em um mundo estranhamente familiar. Ele chamou:
- Rhange...
- Eu estou aqui, meu profeta, meu filho.
- Onde estamos?
- Estamos no meu mundo, que assim sendo também é seu...
- É uma honra, mestre.
- Você saiu melhor que a encomenda, Derdeil. Graças a seus esforços conseguimos enfim fazer desse mundo nosso.
- E os outros deuses, meu senhor?
- Que outros deuses? Aqui Rhange Hesysthance é o caminho, a verdade e a vida... - ele deu um sorriso sinistro que assustou Edgar.

Mari'bel acordou em uma floresta Seu coração mal podia acreditar. Aquele cheiro do solo, o gosto das folhas, a temperatura do ar, a luminosidade sombreada, aquela era a Grande Floresta. Seu lar. Ela tateou as árvores mais próximas, mastigou uma amora silvestre que crescia num raio de sol. Procurou rastros, mas o que encontrou foi a desacordada Kaliandra Boaventura. A fada a socorreu, despertando-a.
- Rhange Hesysthance maldito! - Kaliandra gritou com a sede de vingança assim que despertou.
O deus da magia logo apareceu e falou:
- Vocês estão aqui. Mas isso não é ótimo? - Ele disse dominando-a e imobilizando-as. - Adiantaram ainda mais meus planos. Agora o mundo é meu. Agora todos os mundo serão meus. Nada mais pode me impedir pois abriram caminho dos planos pra mim... - foi a última coisa que elas souberam antes de se perderem de todo.

Todos acordam com a cara afundada na areia da praia. Sentiam-se perdidos, enquanto a água do mar vinha e lambia seus corpos. Rufus, Maribel e Kaliandra foram despertando aos poucos. O hobbit se levantou e viu um ser barrigudo pairando acima deles. Tinham dificuldade de lembrarem-se das coisas, mas Kaliandra queria se vingar, sentia a sede por vingança conformando seu ser, embora não soubesse de quem. Rufus se afastou em direção à floresta do outro lado da praia.
O ser barrigudo, que também era barbudo desceu e convocou um kraken. Depois ele fez surgir um banquete se fim. que Rufus comeu como se não houvesse amanhã. Kaliandra Boaventura seguiu gritando por vingança. Mari'bel não aceitou, pois embora não entendesse bem porquê, sentia que não devia confiar em ninguém estranho. Mesmo que seu entendimento dissesse que ele também era uma espécie de deus da natureza, seus instintos diziam para não confiar.
- De quem devo me vingar? - Gritou Kaliandra, que tentava pensar em deuses que a pudessem libertar daquela agonia. A única imagem em seu imaginário foi do gordo e barbudo recém-chegado. Ela o agarrou e perguntou para ele. - Diga-me, ó deus único que eu conheço, de quem devo me vingar?

Kaliandra Boaventura acordou deitada no chão de uma floresta. Sentia uma desorientação, além de dor de cabeça. Em sua mente uma palavra se repetia: vingança. Mas os dedos dela encontraram outra mão. Seus olhos logo viram um belo elfo de meia idade.
- Cameron? - Ela não sabia se a pergunta era para o elfo desmaiado ou para ela mesma. Após despertá-lo, ela viu que haviam muitos outros. Mari'bel, Rufus Lightfoot, Derdeil Óphodda, Edgar, Jorge de Capadócia, Braad, Chuck Norris, Sérgio Reis, Pena Branca. Todos iam despertando, mas também estavam confusos, perdidos. Não se lembravam de como haviam chegado ali.
Atormentada, Kaliandra sacou sua espado e a colocou na garganta de Cameron Noites:
- Quem é você? - Ela dizia sem controlar as lágrimas. Mas ele se desvencilhou do ataque e a beijou com paixão.
Kaliandra cortou a garganta dele e gritou:
- Bibianaaa!!!

Derdeil'Ophoda despertou sozinho boiando nas água de um fétido pântano.
Ele pensou sobre Edgar e o encontrou boiando ali ao seu lado.
Depois pensou na fada Mari'bel e foi a vez dela chegar trazida pelas águas turva. Lembrou-se de Rufus e viu o hobbit ao virar em outra direção. Pensou em Kaliandra e a avistou mais à frente. Foi então que ele sentiu que haviam tipos outros de magia ativos naquela realidade. Foi daí que ele viu que o cruzamento do tecido mágico e de tudo que o cercava era simétrico. Uma combinação perfeita demais. Tudo ali era um figmento de sua imaginação, até mesmo seus aliados. Ele forçou sua mente para despertar, buscando um poder maior que o habitasse.

Derdeil ÓPhoda viu-se na fonte. Estava inteira. Seus colegas estavam ali ao seu lado um tanto desnorteados como ele.
- É tudo uma ilusão! - Disse o escolhido do deus da magia
- Eu estou falando isso desde o começo.. - disse Rufus bufando.
Mari'bel orou para deuses da natureza.
Kaliandra Boaventura orou para Bibiana.
Derdeil Ophoda silencia todos:
- Isso é uma ilusão e temos que sair daqui. Como estamos sendo controlados? - Ele forçou todo seu conhecimento arcano. Derdeil conjurou um quebrar encantamento com o que lhe restava de fogo mágico e isso os fez ver uma porta multicolorida que flutuava no espaço. Kaliandra Boaventura percebia como aquele brilho prismático, na verdade, era a representação da conjunção de todas as energias possíveis nas existências, antes de cruzarem para o outro lado.

Todos despertaram... na fonte.

Um comentário:

  1. Nem aterrorizada nem louca Maribel sussurraria o nome do deus da magia, isso não aconteceu.

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