18 de set. de 2015

Tudo que é sólido desmancha no ar


Derdeil Óphodda percebia fragmentos de outros planos na junção da porta multicolorida. Ela surgira em pleno ar à frente deles depois que voltaram mais uma vez de uma ilusão para a fonte onde as alucinações começavam. Mari'bel olhou pelo chão e viu os rastros de um humano andando de cócoras para esta porta. As pegadas vinham do ponto da parede onde haviam encontrado a porta marrom do peixe invisível.
Rufus Lightfoot tentou tocar a porta multicolorida em busca de armadilhas ou pistas, mas o hobbit-aranha e pirata espacial acabou paralisado.
- Foi uma das cores apenas... A verde creio... - Entendeu Kaliandra Boaventura analisando as forças cromáticas primordiais a todo o espectro mágico. - Isso não é simplesmente um tipo de magia. É algo inerente a qualquer tipo de magia.
A guardiã killoren se debruçou sobre aquelas pegadas e sabia que se tratava de alguém poderoso, ancestral e que não era nenhum daqueles cujos rastros ela acompanhara até aqui. Percebeu que havia algo de ritualizado naquele estranho modo de se mover.
- Não temos tempo para mais disso. Edgar imite esses passos! - Ordenou Derdeil ao seu familiar corvo em forma de kobold.
- Assim ó... - explicou Mari'bel mostrando como.
O pequeno Edgar fez como ordenado e ao encostar na porta, desapareceu junto com ela. Rufus voltou a se mover.
- Nem sinal deles.. - Mari'bel atravessou o lugar.
- Não sinto mais Edgar... - ponderou Derdeil.
- Outro plano é o que parece... - falou Kaliandra.
- É esse o peixe? - disse Rufus Lightfoot ao pegar o peixe invisível e cair de bunda na água da fonte, o que fez a água espirrar no dragão Ohterrível.
Isso também fez com que se abrisse a porta marrom de onde saíam os rastros. Mas atrás da porta estava mais uma vez o inevitável de formas geométricas e tom mecânico:
- Vocês perturbam o fluxo dos planos e devem ser julgados por isso.
Rufus se adiantou às ações do extraplanar, conseguiu se mover e espiar do outro lado vendo o aposento repleto de rodas dentadas, placas metálicas e outras engrenagens. Depois disso, foi como se o próprio tempo parasse.

Edgar viu-se em um lugar quente e úmido. Havia muito vapor no ar e o chão era liso. Ele caminhou e conseguiu evitar cair em uma grande piscina que havia ali. Enquanto margeava a borda, ele ouviu uma voz:
- Seja bem vinda, pequena criatura. Você e seus companheiros realmente se superaram para chegar até aqui...
- Zalathorm? - O familiar questionou incrédulo vendo o velho enrolado em uma toalha branca.
- Vocês poderão sobreviver ao que parece a esse mundo.. - prosseguiu falando o velho.
- Queira perdoar a incompreensão vossa magnanimidade, mas é que estou preso nessa forma vil e monstruosa. Não fosse isso, fosse eu um belo corvo como antes e entenderia sua sabedoria.
- Não seja por isso... - disse o nethyarca supremo de Halruaa. Em um instante, Edgar era de novo um pequeno corvo negro. A emoção foi tamanha, que ele não tinha palavras por alguns segundos.
Quando o fluxo temporal retornou, todos viram-se presos até o pescoço por casulos metálicos, não conseguiam ver os próprios corpos e nem mover um músculo sequer. Com apenas as cabeças livres viam o imenso inevitável que se assemelhava a uma esfinge. Flutuando próximo estava o inevitável que os capturara.
- Estes que aqui são apresentados, Derdeil Óphodda, escolhido de Rhange Hesysthance, do reino de Halruaa em Faerun, Abeir-Toril no ano das Tempestades Relampejantes, Mari'bel da Grande Floresta, serva de Timothy Hunter, Rufus Lightfoot, também conhecido como o pirata espacial Hobbit Aranha, Kaliandra Boaventura, espírito materializado da capitã de Myth Drannor no reinado de Amídala Ancalímon no ano da Ascensão dos Elfos, Óhterrível, representação da jovialidade bondosa dracônica e agora dragão de bronze errante, doravante denominados de acusados, são responsáveis por ininterruptas viagens planares, desequilibrando a harmonia móvel dos planos da existência muito além de suas prerrogativas como naturais de regiões definidas da realidade. Sendo assim, os acusados infringiram muitas regras que incorrem em penas gravíssimas.
- Isso é uma ilusão... Mais uma ilusão... - Gritou Kaliandra. - Isso não é real, não é real, não é real...
- Eu não aceito tais acusações! - Protestou Mari'bel. - Em tudo que faço sou uma agente do equilíbrio. Toda a minha existência tem se pautado pela luta e pelos ensinamento do equilíbrio. Quando minhas mãos energizadas buscam acalmar um ferido ou quando meus dedos ágeis disparam contra os agentes da senhora das aranhas, eu sou uma agente do equilíbrio. Ouvindo a sabedoria do Primeiro Pai, sentindo o amor da Primeira Mãe, brilhando a força vital das fadas e da natureza, eu tenho sido uma agente do equilíbrio. Desde o equilíbrio da menor e mais simples semente até o equilíbrio dos mais longínquos e incompreensíveis planos! Eu sou uma agente do equilíbrio!!!
- Você não cumpriu o seu papel! - Os olhos da esfinge metálica brilharam com um azul intenso e Mari'bel foi totalmente obliterada restando apenas uma marca de queimado no ponto onde ela estivera presa.
- Isso é uma ilusão... Mais uma ilusão... - Gritou Kaliandra Boaventura. - Isso não é real, não é real, não é real. Eu vou ter minha vingança!
- Sua vingança dar-se-á assim que esse mundo complete o ocaso já iniciado.
- Eu preciso terminar minha missão... Tenho que me vingar de Shei Long para me tornar uma valquíria.
- Assim, nesse ponto descruzado tal fato já é considerado feito.
Os olhos da esfinge brilharam num tom vermelho dessa vez. A trovadora da espada viu-se livre e sentiu um par de asas irromper em suas costas. Ela sentia todo o poder invadi-la, sua força crescer, sua vontade tornar-se incontornável.
Derdeil Ophodda não se abalou com a morte de uma ou com o sucesso da outra. Ele apenas fechou os olhos e se concentrou. O escolhido do deus da magia buscou se focar no fogomágico que o habitava, vencer o que quer que fosse aquilo.
Mais uma vez, Derdeil abriu os olhos. Ele e os demais estavam em pé na fonte.
Dessa vez, no entanto, não havia porta com energia cromática. Também não havia rastros de alguém que caminhasse de cócoras.
Sem saber o que poderiam fazer, todos tornaram a tentar agarrar os peixes. Mas a atenção de Derdeil Óphodda foi desviado pela voz de Edgar falando seu nome em sua mente.
- Edgar está vivo - ele disse, enquanto Rufus erguia o peixe azul da água.
A porta de mesma cor se abriu e revelou o eladrin do outro lado.

- Queira perdoar minha emoção, ó poderoso mago - Edgar disse agitando as asas e voando para perto do velho.
- Isso não é nada, pequenino. Como lhe disse, aqui é o espaço das possibilidades para os que não irão sucumbir com esse mundo - disse Zalathorm sem alterar o tom de voz.
- Viemos como nos convocou, ó poderoso mago, mas eu sirvo o grande Derdeil Óphodda, que é quem merece todos os créditos por chegarmos até aqui.
- Então, pequeno ser que porta em si a energia do deus da magia depositada em ti por esse Derdeil Óphodda. O que há nesse homem que faz com que ele mereça ser salvo?

- Escutei outra voz. A voz de Zalathorm... - Derdeil disse mais uma vez errando um dos peixes que tentava agarrar. - Edgar está com Zalathorm.
Foram as últimas palavras dele antes de desaparecer.
- Que lugar é esse? - Disse Derdeil perdido entre a névoa. - Edgar?!?
- Estou aqui, mestre.. - respondeu o familiar pousado no ombro do velho mago envolto numa toalha.
- Graças a seu familiar e à sua perseverança, filho de Halruaa, você aqui chegou podendo sobreviver ao fim desse mundo que se aproxima. No entanto, isso passa por você escolher uma trilha que o desvincule dessa sina que não seja sua.
- Eu vim cumprir minha missão, nethyarca supremo. Temos de salvar Halruaa ou o que resta dela. Temos de levar esse poder a quem pode resolver tudo...
- Não diga esse nome ou você sacrificará todas as opções que restam para que escapemos a essa entropia que carrega tudo deste plano para o derradeiro final. Por que você o serve mesmo sendo ele um agente cabal da destruição de seu próprio mundo?
- Eu caminhei na escuridão quando servi a pálida sombra que era Azuth, que se achava digno de ser deus dos magos. Mas logo atingi o bom senso! Diga meu nome! Eu sou Derdeil Óphodda! Eu vim aqui como um cidadão dessa magocracia porque fui convocado por você, mas minha vontade só serve a um só: Rhange Hesysthance Sorrowleaf, o verdadeiro e único deus da magia e dos magos!
Ao termino dessas palavras, o deus da magia se materializou ali diante deles, decretando que seria o fim de Zalathorm e que Derdeil o servira bem como sempre cumprindo sua missão.
- Parece que sua mente está presa demais a esse mundo para sobreviver a ele... - falou Zalathorm e Derdeil percebeu que o que vira fora apenas mais uma ilusão. - Adeus, Derdeil Óphodda!
Dito isso, o escolhido do deus da magia foi destruído e Edgar voltou a ser um simples corvo. Mas não por muito tempo, com um toque do nethyarca no pássaro, Edgar sentiu mais poder do que nunca.
- Eu vejo que existe uma outra energia vital remanescente em você, pequeno corvo. Não seria esta quem merece prosseguir pelos múltiplos planos da existência?
- Sim, ó grande Zalathorm. Ela é realmente um ser único... Kaliandra Boaventura
A trovadora da espada viu-se num lugar enevoado bastante distinto da fonte. Não deixou de se surpreender ao deparar-se com o velho envolto numa toalha. Logo reconheceu Edgar no ombro dele.
- Esta é Kaliandra, mestre.
- Seja bem-vinda, futura valquíria. Espero que ao contrário de seu camarada esteja disposta a se desapegar dessa existência que se desfaz... - falou o velho mago.
- Eu sou movida pela vingança contra o maldito Shei Long. É isso que devo fazer para tornar-me uma valquíria. Nada mais me importa.
- É verdade isso? Nem mesmo a deusa dos elfos? Ou o destino desse belo povo? - Provocou Zhalatorm.
- É por eles que me vingo... - Ponderou Kaliandra.
- Sendo assim, sucumbirá com eles e esse mundo - determinou o mago.
- Desapega, Kaliandra - gralhou Edgar.
- Onde está... - ela ia pensando no companheiro, mas mudou as palavras. - Minha raposa Fox?
- Eu posso lhe oferecer sua vingança. Posso entregá-la a você antes do fim, mas desde que esteja certa de abandonar suas raízes nesse mundo perdido e seguir para as potencialidades maiores da existência múltipla - continuou Zalathorm.
A elfa ponderou entre a razão e seus sentimentos. Por mais que aquilo parecesse estranho, ela sabia o que fazer.
- Está bem. Eu aceito... Mas existem os outros... Mari'bel...
Dito isso, a guardiã killoren surgiu naquele ambiente úmido e esfumaçado. Ela também chegou sem entender muito, mas ao ver Kaliandra soube que aquele devia ser o tal Zalathorm.
- Seja bem vinda, pequena fada. Espero que como anunciado por sua aliada, você também esteja disposta a deixar para trás o cadáver dessa existência para buscar os brotos germinantes do universo - sorriu o velho mago.
- Eu não quero que esse mundo morra... Não aceito que perdemos para a aranhuda maldita! - Protestou Mari'bel.
- Se quiser carregar as energias vitais que a habitam para novos amanhãs é preciso que reconheça que o equilíbrio passa por deixar que o que deve perecer pereça.
A resposta do mago foi a concordância silenciosa de Mari'bel, que já sentia o luto em seu peito.
- Também tem o Rufus... - completou Kaliandra. - E minha raposa Fox.
O pequeno hobbit, ao contrário da raposa familiar apareceu ali.
- Isso é uma sauna? Por que você tá de toalha se tava aqui sozinho? Pronto, acabou? Podemos ir embora?
- Você precisa deixar pra trás isso tudo que acaba e... - foi dizendo o mago.
- Posso levar meu dragão? - Interrompeu Rufus. - Ele nem é daqui mesmo...
- Isso não será problema... - sorriu Zalathorm parecendo animado com aquele grupo. - Agora que todos que estão verdadeiramente prontos, devemos seguir. Seremos um grupo lançado nas correntes incertas da multiplicidade incontrolável dos planos. Os únicos que saberão que um dia houve um lugar como esse que deixamos. Assim como cheguei a este mundo trinta e sete mil anos atrás, deixo-o agora na companhia de vocês e...
- Derdeil. Derdeil Óphodda... Falta ele, mestre... - gralhou Edgar interrompendo.
Isso fez com que Derdeil Óphodda se materializasse mais uma vez.
- Rhange Hesysthance!!! - O escolhido do deus da magia surgiu dizendo.
- Nãããooo... - gritaram os demais, mas já era tarde demais.
Todos abriram os olhos. Estavam em pé na fonte.
Não haviam peixes dessa vez.
Logo viram que não haviam rastros, nem mesmo os deles.
Haviam apenas as seis portas de cores diferentes.
- Vamos ver as portas... - Disse Rufus Lightfoot para Ohterrível já caminhando para a porta roxa. Atrás dele veio Mari'bel rastreando informações nos menores detalhes.
Derdeil e Kaliandra trocaram acusações, mas isso parecia inútil agora.
A porta roxa não tinha nada e não parecia ter sido nunca mexida. O hobbit a abriu e encontrou uma escada que subia. A killoren encontrou alguns grãos de poeira de deserto.
A porta vermelha também nunca havia sido mexida, atrás dela, no entanto, havia uma escada que descia. Nela havia pequeninos cristais de enxofre.
A porta laranja não tinha sinais de ser mexida e também revelou uma escada que subia. Mas ali, Mari'bel não encontrou sinal de nada, considerando aquilo perfeito demais como numa ilusão.
Rufus averiguou o mesmo na porta amarela, assim como encontrou outra escada que subia. Mari'bel encontrou algumas pétalas no degrau.
A porta verde revelou outra escada que subia. No degrau havia pólen e folhas.
A porta azul também tinha sua escada que subia, mas nos degraus haviam sinais de gotas chuviscadas.
Eles discutiram por algum tempo qual seria o melhor caminho a seguir e até se haveria realmente um caminho a seguir que não redundasse em mais uma ilusão, despertando novamente na fonte. Cansada de tudo aquilo, Maribel retornou à fonte, fechou os olhos e pegou o peixe invisível. A porta marrom se abriu mais uma vez e revelou um corredor dessa vez.
- Esse é o caminho... - disse a guardiã de Timothy Hunter.
Sem mais demora, eles seguiram pelo corredor. Nele haviam rastros que de um elfo que seguiam até a porta central. Ao final dele encontraram três portas com símbolos em dracônico, um em cada: bem, mal, neutralidade. Analisaram as portas e não encontraram nada além das runas. Ao abrirem a porta da runa do bem puderam ver uma extensa planície de clima temperado.
- Estamos ao sul da Grande Floresta... - percebeu a serva da natureza.
Ainda assim, Rufus abriu a segunda porta, a da neutralidade, que revelou um frio intenso e uma montanha de neve.
- O Pico do Mundo... - disse Mari'bel que sabia ser fisicamente impossível os dois lugares estarem contíguos.
- E a última porta? - Questionou Derdeil, mas os demais não lhe deram ouvidos. Rufus e Ohterrível atravessaram a porta do símbolo do bem e viram que a passagem era como um pequeno túnel no pé de uma grande montanha. Os demais seguiram os dois.
A fada iniciada do arco encontrou por ali muitos rastros de hobbits, uma centena deles, de poucos dias antes. Mas o que realmente chamou a atenção deles foi a comitiva de elfos que passava no horizonte a norte dali.

Um comentário:

  1. Não interessa então os rastros do elfo q tinha no corredor e entrava na porta da neutralidade????

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