O monge Braad se juntou ao mago Derdeil para interrogar o drow que restara. Como nenhum dos dois falava a língua profana do elfo negro, optaram por amarrá-lo e levá-lo com eles, assim como o paladino Jorge resolvera que deviam levar a clériga da deusa dos drows, ainda viva, apesar de muito ferida, já que todos deviam responder por seus crimes. O druida Chuck, ainda em forma de carcaju, cavava a parede buscando estabelecer um túnel que os conduzisse dali até a superfície. A curiosidade típica dos hobbits levou o ladino Rufus a ir inspecionar o corredor de onde vinham pegadas e para onde eles ainda não haviam seguido, enquanto os demais tomavam as providências necessárias, bebendo as poções de cura e recolhendo o equipamento dos drows, que curiosamente funcionavam sem requerer qualquer sacrifício em energia vital para a ativação. A guardiã arqueira Mari'bel tentava ver os rastros presentes na sala, mas ainda estava por demais aturdida para conseguir informações verdadeiramente relevantes entre os rastros dos elfos negros e das aranhas.
Cientes de que necessitavam de se recuperar logo, Braad e Derdeil se adiantaram aos demais e atravessaram a parede ilusória que divisava o aposento do caminho por onde chegaram. Ao cruzá-la, no entanto, deram-se conta de que Voronwr e Tercieios haviam desaparecido. Além disso, pelo caminho oposto ao que seguiriam, pelo corredor que não haviam escolhido antes, onde haviam inscrições e sinais funerários em lápides alojadas nas paredes, eles viram os vultos velozes de seis esqueletos pequenos, que pareciam ser de anões, que se aproximavam. Buscaram alcançar o túnel que subia para escaparem escalando, mas os mortos vivos foram céleres e os atacaram. Braad gritou por ajuda e desferiu golpes capazes de dar o descanso eterno aos amaldiçoados. Derdeil lançou um dardo místico, mas já estava por demais exaurido.
O paladino partiu em auxílio a seus camaradas, assim como Mari'bel e o bardo Sérgio, enquanto Chuck, ainda em forma de carcaju, cavava um túnel alternativo, a guerreira Kaliandra vigiava os proisioneiros e Rufus seguia rumo ao interior dos túneis sem que os demais soubessem. Cercados entre a espada justa do paladino de Tyr e os punhos ébrios do mestre da bebedeira, os esqueletos logo pereceram de vez. Braad escalou as paredes, encontrando Popossante e Gabi esperando ali por seus mestres. O monge amarrou uma corda na árvore e passou a içar seus camaradas. Mari'bel preferiu retornar e juntar-se ao seu aliado druida pela rota alternativa, mas ao chegar viu que haviam sumido Kaliandra e os dois prisioneiros drows. Ela rastreou sinais ou quaisquer evidências, percebendo que o par de pés extra e recentes não caminhara, apenas surgira próximo da elfa e sumira, levando consigo Kaliandra e os dois prisioneiros drows. Provavelmente um teleporte, pensou a killoren.
Ela ingressou no buraco apertado e estreito, engatinhando como um animal quadrúpede a fim de alertar Chuck Norris. Logo, Rufus se juntou a eles. O hobbit informou que avançara furtivamente e vira mais dois aposentos, ambos também resguardados por uma parede invisível e por teias de aranha. No primeiro aposento, uma grande aranha se escondia no teto esperando pelo bote. No segundo, haviam caixas e barris, além de duas drows, uma aranha espectral e sinistra, além de outra também escondida no teto. Optaram por seguir e reunir-se aos demais.
Braad, Sérgio, Derdeil e Jorge esperaram ainda por alguns minutos até verem seus colegas emergirem rasgando o solo da Grande Floresta. Já era noite, mas todos sentiam novamente as beneces dos tecido mágico da floresta sagrada abastecendo suas forças. Derdeil usou seus conhecimentos civilizados de primeiros-socorros, muito embora abalado com as notícias do desaparecimento de Kaliandra Boaventura. O mago de Halruaa percebeu em seu coração que se afeiçoara à elfa duma maneira que nunca lhe acontecera antes. Ainda assim, eles se afastaram caminhando por 1 hora em busca de um lugar seguro para que dormissem. Enquanto isso, conversaram:
- Usted sabe quien és Ehtur Telcontar, palada? Yo tengo de achar este vil hombre acá e los servos da natureza podem conocê-lo...
- O monge deseja saber se vocês tem conhecimento sobre Ehtur Telcontar, servos da natureza?
- Ehtur Telcontar é um guardião da Grande Floresta... um de seus campeões e defensores... - disse Mari'bel.
- Pero este Ehtur lancio una maldiçon sobre uno amigo.. su alma está priesa e tormantada por ele e yo tengo que libertá-lo.
- Eu também tenho que ajudar.. essa alma tá muito atormentada mesmo e acabou resolvendo me atormentar.. - disse Sérgio Reis encolhendo-se entristecido e amuado.
- Acho difícil isso.. Ehtur é um guardião.. não é um mago ou clérigo para amaldiçoar alguém.. - ponderou Chuck Norris.
- Além disso, ele é um defensor da natureza... uma referência entre os protetores da Grande Floresta. Aliado do meu deus, o senhor das fadas, Timothy Hunter, da poderosa druida Daphne, da grande arqueira Úrsula e da boa clériga Deborah.
- Os servos da natureza dizem a verdade, Braad, e não há maldade alguma em nenhum deles, enquanto que você ainda carrega essas marcas malignas em seu corpo. Talvez a situação precise ser melhor esclarecida pela diplomacia... - julgou o paladino Jorge.
Acabaram por chegar a um local tranquilo, onde puderam enfim descansar. Dividiram-se em turnos, sendo o primeiro do paladino e do monge, que puderam conversar mais sobre a alma amaldiçoada de Francisco Xavier. Os turnos se sucederam de modo que todos pudessem ter as necessárias oito horas de sono, em especial aqueles que lidavam com magia. Quando dormiram, todos sonharam.
Rufus Lightfoot sonhou com uma vila de hobbits sendo coagidos e torturados por malditos orcs. As casas pegavam fogo, enquanto os hobbits escravizados seguiam entre os orcs, como se fossem seus escravos. No céu, pairava o vulto de um imenso lagarto voador.
Mari'bel sonhou com a druida Viviane, a sobrinha de Daphne. A jovem druida estava presa e atada a um altar negro em forma de aranha, como se fosse uma vítima preparada para um ritual. Seu rosto estava paralizado em um olhar fixo de puro terror. Um olhar em que a perspectiva de Mari'bel mergulhou como se fosse seu próprio terror.
Chuck Norris sonhou com um incomensurável carvalho antigo. Todas as árvores pareciam diminutas diante dele, como gramíneas verdejantes ao pé de uma árvore imponente. A copa do carvalho parecia se misturar ao próprio céu. Lá do alto, ele viu algo soltar-se e amparou entre seus dedos uma pinha singela, que trouxe um certo conforto, como uma benção divina do Grande Pai.
Derdeil Óphoda sonhou com uma grande esfera prateada encrustada de símbolos élficos, que flutuava e emanava uma energia pulsante. O mythal pairava entre as árvores cercado por diversos seres como um garoto meio-elfo com seu gato, um treant imponente, um centauro, alguns druidas e muitos elfos verdes. Ele sentia que seu destino estava próximo.
Sérgio Reis sonhou que era uma pequena mosca voando numa imensidão escura. Sua visão multifacetada nada via até que percebeu-se grudado em uma teia. Nesse momento, ele sentiu-se grande de novo, como um humano, apenas para ver uma aranha colossal aproximar-se e embalá-lo na teia para o jantar, como se fosse uma mosca.
Jorge da Capadócia também sonhou com uma teia. Uma teia negra e sem fim que pairava acima de um abismo. Presos nela estavam diversos deuses: Tyr, Chauntea, Silvanus, Mielikki, Selune, Bibiana, além de outros, que ele não teve como reconhecer. Os deuses lutavam, mas apenas ficavam mais presos à teia sinistra.
Braad sonhou com o aposento funerário dos anões que havia visto. Seu olhar correu pelas lápides na parede até encontrar uma estátua no centro do aposento. Tinha a forma de um hominídeo gafanhoto. A estátua moveu-se um pouco e sob ela haviam vários pequenos barris de madeira onde lia-se RUM.
Uma vez que estavam todos despertos e o sol já estava brilhando no céu, lançando seus raios entre as densas folhas da Grande Floresta, alguns deles conversaram sobre os sonhos, enquanto Derdeil preferiu guardar para si o que vira. Presságios ou delírios oníricos, não tiveram certeza de nada.
- Pois bem.. devemos retornar até as cavernas agora que estamos recuperados e resgatar a elfa Kaliandra Boaventura.. - disse o paladino pegando as rédeas de Popossante.
- Yo tengo que ir em busca de Ehtur, palada.. - disse Braad.
- Eu também - concordou Sérgio.
- Temos de retornar até os Guardiões da Natureza.. - disse Chuck ainda ansiando pela inserção no círculo druídico e pensando na mensagem onírica enviada por Silvanus.
- A elfa já era, paladino - disse Derdeil. - Passaram-se quase 12 horas, os drows já devem tê-la matado. Devemos seguir.
- Nosso dever para com ela não se encerra assim. Há uma donzela indefesa, apriosionada por ajudar a resgatar Mari'bel. Uma dozela que viajava em sua companhia e que pensei ser sua aliada, mago.
- Ela era - disse o halruniano - mas tenho coisas mais importantes agora. Já perdi meus compatriotas e isso também não me deteve.
- Pois eu vejo o mal que existe em seu coração, Derdeil Óphodda. Mesmo que crimes não tenha cometido, vejo agora que não é um arauto da bondade. Se preferem seguir, que assim seja, mas eu não irei me furtar ao meu dever para com alguém que lutou ao meu lado.
- Então até mais, Jorge... - disse Derdeil sem se importar e seguindo.
- Hasta la vista.. - disse Braad, que ainda pensava nas bebidas do seu sonho, já que o licor que encontrara com os drows já acabara e não trouxera uma real satisfação, restando a boca seca e o risco de uma certa lucidez.
- Que a justiça de Tyr os guarde.. - disse Jorge da Capadócia tomando o rumo contrário dos demais com seu cavalo.
- Ora, pelas barbas do velho Lightfoot, eu irei com você paladino.. - disse Rufus fazendo sinal para que Azuzu retornasse. - Afinal de contas, estou curioso do que ainda tem lá embaixo, mesmo que nós hobbits odiemos aranhas...
- Eu também irei, já que ela estava lá pra me salvar... - disse Mari'bel pegando o novo arco que fizera durante seu turno.
- Bom.. eu não vou voltar sem você.. - disse Chuck.
- Esta bien, esta bien.. entonces nossotros volvemos e depos seguimos juntos até Ehtur.
Vendo que todos optaram por retornar, até mesmo o mago Derdeil voltou e seguiram todos de volta. Encontraram a passagem criada por Chuck e usaram-na para descer. Deixaram Popossante e Gabi a esperar e seguiram rastejando até o aposento onde Kaliandra desaparecera. Mari'bel viu que os rastros estavam iguais e resolveram tomar o rumo que Rufus inspecionara no dia anterior. Pelo caminho, a fada viu que haviam rastros saindo das cavernas interiores. Chegaram sem maiores dificuldades ao último aposento, visto que até mesmo as teias haviam sido removidas. Ainda assim, tiveram que dar conta das duas grandes aranhas que ficaram para trás guardando as caixas e barris. Ao inspecionarem tudo viram que haviam mantimentos, roupas, braceletes, além de muitos papéis.
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