29 de mar. de 2014

Convergências


Derdeil Óphoda foi despertado de seu sonho ao sentir a lâmina afiada e fria cortar sua carne. Ele sentiu como se a vontade de Azuth tirasse seu pescoço do centro do golpe da adaga. O que seria uma morte dolorosa se tornou um ferimento doloroso, enquanto o clérigo arcano de Halruaa buscava já pôr-se de pé. Seu instinto foi disparar de seu dedo um míssil mágico. Sacrificou o que lhe restava da sua vitalidade, mas o pequeno raio não foi suficiente para dar conta do assassino, um homem envolto em panos negros. Apenas os olhos calculistas eram visíveis.
- Nós vamos tomar o poder de Halruaa! - Ele afirmou em chondathan, subindo na cama e atacando Óphoda, que tentou outro míssil mágico.
Derdeil percebeu a nítida desvantagem e também percebeu que o ladino viera pela janela. Correu para a porta e gritou por ajuda. Havia barulho em outros aposentos, mas da porta que ele viu abrir-se do outro lado do corredor, emergiu um facínora como o que o atacara, mas já morto.
Kaliandra Boaventura veio logo depois empunhando sua espada longa e partiu em socorro do pobre mago humano, que parecia um pouco acima da média mediocre destes, que também estava sendo atacado. Ela viu que o comparsa também não era ameaça para o poder dela e partiu para cima do bandido. Bastou um bom golpe da espada da guerreira élfica para que restasse apenas o cadáver do pretenso assassino.
- Quem são esses miseráveis? - Ela disse na língua dos elfos, enquanto já faziam uma busca pelo corpo.
- Não sei. Só sei que queriam nossas cabeças! - Disse Derdeil encontrando além de alguns valores, uma tatuagem com o símbolo de uma adaga envolta por uma máscara negra. - Talvez sejam servos do deus dos ladrões.
- Eles falaram algo sobre o poder de Halruaa... - disse a elfa.
Os dois escutaram mais barulho, de explosões, vindo do quarto de Maxmiliam Bezmont, líder dos halrunianos. Derdeil Óphoda partiu em direção ao quarto do embaixador, enquanto Kaliandra Boaventura preferiu buscar o quarto de seu líder Voronwr Turambar. Enquanto Derdeil tentou em vão vencer a porta, Kaliandra gritou por ajuda.
- Turambar! Estamos sendo atacados! Os humanos precisam de nossa ajuda superior!
- Deixe disso, Kaliandra. Entre e venha cá se refugiar em meu leito - disse o bardo parecendo um pouco embriagado.
Isso bastou para que ela não perdesse mais tempo e retornasse. Ela precisou de dois golpes de seu ombro para romper a porta, quando já ouviam o som dos guardas do palácio se aproximando. Entraram no quarto e não viram sinal de Bezmont ou de um assassino, embora houvesse sinal de luta. Derdeil sentia que havia resíduo da energia mágica evocada, embora percebesse que precisava de luz para avaliar o ambiente de penumbra. Tomou uma vela e acendeu.
Kaliandra enxergava perfeitamente com seus olhos mesmo que houvesse apenas a luz do luar vinda da janela entreaberta. Sabia que estavam no segundo pavimento e avançou para pensando em encontrar alguma pista ou sinal. A guerreira, no entanto, não percebera a ameaça escondida sob a cama, que pegou-a pelas costas e afundou fundo sua espada curta por entre a armadura de mythral dela. 
Derdeil percebeu que seria o próximo, mas para sua sorte os guardas chegavam apressados pelo corredor. A mulher sorriu marotamente para o mago e caminhou em direção às sombras da cama feitas pela vela.
- Nós voltaremos a nos encontrar! - E ela se mesclou às sombras desaparecendo.


Pela manhã, após um sono curto e pesado, Braad despertou e molhou sua garganta com rum. O monge bêbado e seu guia Sérgio Reis seguiam pela estrada com o intuito de chegar à Grande Floresta. O bardo ia montado em sua mula Gabi, enquanto o mestre da bebedeira ia à pé no mesmo ritmo. Havia pouco movimento naquelas primeiras horas do dia e andam sozinhos quando avistaram um cavaleiro.
- Verra... uno cabalero...
- Eu já o vi antes - percebeu Sérgio. - Saudações Jorge da Capadócia de Cormyr.
- Saudações, Sérgio Reis, o cãozinho do berrante. O que faz vindo de Invernunca novamente?
- Dessa vez vou no rumo de Invernunca, mas pretendo chegar até a Grande Floresta na verdade. Você que está no rumo errado voltando para Secomber.
- Não é possível, meu cavalo de batalha Popossante é muito bem orientado.
- Bien.. nossotros estamos indo para la miesmo... bamonos todos, non? Yo soy Braad... - disse o monge cuspindo um pouco no cavalo.
- Eu vejo o mal nessas marcas que você carrega, monge Braad. O mal não é seu, mas está em você - disse Jorge dando atenção às inúmeras tatuagens do mestre da bebedeira.
- Ah é.. ele é um servo de Tyr. Mas realmente, eu não tinha reparado nessas suas tatuagens - disse o bardo vendo que conhecia muitos dos sinais.
- Existem marcas de divindades malignas, de organizações criminosas, de seitas nefastas e de famílias tenebrosas. Esse mal acabará por contaminá-lo. Algumas me são desconhecidas é verdade e existem outras que não são mais que desenhos...
- Na verdade, eu percebo um padrão nelas.. não só nos significados, embora algumas me sejam totalmente alienígenas.. mas principalmente na disposição...
- Bien.. yo no se nada sobre padron.. pero verro una carroça adiante. Verram...
- Eles parecem estar sendo atacados por salteadores. Que a justiça de Tyr não permita que o poder de minha espada falte para proteger os oprimidos nessa hora! - Disse o paladino partindo em carga com seu cavalo Popossante.
O monge e o bardo partiram logo depois. O mestre da bebedeira deu um gole, enquanto conseguia acompanhar o cavalo pesado de batalha. Sérgio teve de lidar com Gabi que resolveu empacar. Eles viram que havia um homem mais velho e uma jovem mulher, que eram atacados por quatro salteadores. Estes ao verem a aproximação dos heróis não quiseram perder mais tempo. Dois deles saltaram sobre os cavalos fazendo-os disparar. Outro tomou as rédeas do homem lutando com ele e jogando-o para fora da carroça, enquanto o último pulou entre os grandes barris que a carroça trazia.
Alcançando a carroça, Jorge de Capadócia optou por tentar parar o avanço do par de cavalos. Ele atacou um dos sujeitos sobre os cavalos esmagando o mal que ele representava. Braad pulou na parte de trás e acertou uma voadora que lançou o bandido para cima dos barris. Sérgio ainda vinha mais atrás e tocou seu berrante para instigar a moral dos aliados na batalha. 
O bandido partiu para cima de Braad com sua espada curta. A jovem que estava sentada aproveitou a distração, acertou uma cotovelada no bandido que conduzia e derrubou-o da carroça, que ainda passou sobre ele. Ela tomou as rédeas e puxou-as abruptamente fazendo os cavalos pararem. Isso derrubou o bandido que lutava com Braad, que caiu inconsciente.
O monge bêbado saltou e deu uma nova voadora no criminoso restante no segundo cavalo. Isso também o derrubou, enquanto o mestre da bebedeira parou de pé sobre os animais, escoltado por Jorge. O paladino, no entanto, logo partiu para atacar os dois meliantes vivos, que corriam cada qual para um rumo. Braad pulou e seguiu atrás do outro. Coube a Sérgio Reis vir ter com a mulher.


Quando Mari'bel acordou assustada com o sonho, concentrou-se em algumas orações para a deusa Bibiana dos elfos, mas também para Timothy Hunter, seus deus das fadas, que mantinha estreitos laços com a deusa dos elfos. No entanto, ela foi interrompida pela chegada de um homem com um cheiro familiar.
- Veja só... a boa elfa que me ajudou antes...
- Como lhe disse, bom druida, eu sou uma killoren, uma fada.. e não alguém do belo povo - ela disse com gentileza apesar da preocupação, enquanto percebia a bela águia que agora acompanhava o druida.
- Como lhe disse, eu procurava pela Árvore do Grande Pai...
- Pois você aqui chegou, muito embora a maior parte dos grandes druidas, elfos e guardiões aqui estejam um tanto ocupados cuidando de alguns problemas...
- Entendo. Eu sinto a força mágica que correr livremente por aqui. Meu desejo era ter com os druidas locais para tentar ingressar em seu círculo druídico. Ouvi muito falar da grande Daphne Amkathra e seus guardiões da natureza...
- Ouvi dizer que ela não gosta de ser chamada assim... é Daphne da Grande Floresta..
- Claro.. mas ouvi falar dela, de Ehtur, Úrsula e outros...
- Bom... venha comigo.. creio que com sorte possamos encontrar algum dos druidas. Veja.. ali está alguém. Viviane...Viviane...
- Olá Mari'bel... o que houve?
- Este druida está em busca de alguém do seu círculo...
- Eu sou Chuck Norris, servo de Silvanus, essa é minha águia Sidhka, e gostaria de ingressar neste fecundo e equilibrado círculo druídico.
- Realmente, nosso círculo está incompleto e necessita de mais um irmão para garantir o equilíbrio das forças da natureza. No entanto, os neófitos carecem de ter laços de sangue com aqueles que substituem. Um de nossos antigos membros foi tomado pela insanidade e está desaparecido a meses. O velho Costeau servia à deusa elemental da água Istishia.
- Não conheço qualquer laço com esse homem, mas ainda assim gostaria de demonstrar meu valor para esse grupo e para os guardiões da natureza liderados pela senhora Daphne.
- Daphne é minha tia e eu mesma tive o privilégio de substituí-la no círculo. Você será avaliado pelo círculo, mas antes deve se purificar para mostrar-se merecedor. Vamos cuidar de conectá-lo ao mythal.
No entanto, antes que muito mais pudesse ser ditos, setas de bestas começaram a voar. Mari'bel e Chuck Norris foram atingidos, mas o terceiro tiro foi o mais preciso, acertando Viviane entre os olhos e matando imediatamente a jovem druida de todos os deuses. A fada e o druida viram os elfos negros, drows, que se esgueiravam entre as árvores com as bestas nas mãos, enquanto seus corpos resistiam ao veneno das setas.
Mari'bel sacou seu arco e passou a atirar, muito embora visse que eram seis os adversários. O druida Chuck invocou a ajuda da natureza, deixando a magia fluir da força do mythal, que fez surgir um trio de ratos selvagens sobre um dos drows. A águia Sidhka também partiu em carga contra um dos inimigos. Ainda assim, novas setas vieram sobre eles, enquanto três dos drows pegaram o corpo de Viviane e tiraram-no dali.
Chuck convocou mais mais ratos e Mari'bel disparou mais flechas. Embora estivessem feridos e em menor número, não desistiram de tentar recuperar o corpo da druida Viviane. Os drows, no entanto, se retiravam velozmente e deixaram uma escuridão mágica para despistar. Ainda que a arqueira fada e o druida tenham lutado e apanhado outros dois deles, um ainda vivo mesmo que inconsciente. Os últimos escaparam com o cadáver da druida, justamente quando os elfos verdes chegaram em socorro à dupla.


- Eu agradeço pela ajuda, poderoso aventureiro... - disse a mulher para Sérgio Reis, enquanto Braad derrubava o último dos bandidos que perseguira e o arrastava de volta. Jorge de Capadócia preferiu retornar e auxiliar o homem que fora derrubado no início da perseguição.
- Nào tema bela, donzela, pois eu sou a solução dos seus problemas... - gabou-se o bardo saltando da mula próximo a alguns dos barris que haviam tombado, mas que permaneciam fechados. - Quem eram esses criminosos?
- Bandoleiros eu creio... mas se me der licença.. - ela disse erguendo um dos barris e colocando na carroça. - Somos apenas mercadores com uma carga de milho...
- Milho? Que estranho... não se costuma levar milhos em barris... precisa de ajuda?
- Acho que já está tudo sob controle - ela disse erguendo o último barril.
- ...mercadores de milho, que desejam chegar em segurança até Secomber, nobre paladino de Tyr. - Dizia o homem de meia-idade que Jorge da Capadócia ia trazendo.
Braad por sua vez, vinha trazendo o corpo do que vitimara com seus golpes.


Kaliandra Boaventura e Derdeil Óphoda já haviam sido reunidos aos demais elfos e aos guardas com Adolf Wolfgang. O encarregado lhes informou que os demais enviados de Halruaa haviam sido assassinados, sem pistas de seus executores. Apenas restaram os dois homens que eles haviam abatido. Um deles ainda tinha um resto de vitalidade e o clérigo de Tyr o levantou com uma magia de cura, que custou um tanto de seu próprio vigor.
- Quem é o responsável por isso? - Disse Adolf furioso com a espada em punho e cercado por seus guardas, enquanto os elfos e o servo de Azuth assistiam tudo no canto.
- O poder de Halruaa será nosso! - Limitou-se a dizer o ladino. Para surpresa dos visitantes, o clérigo cortou o peito do homem com sua espada, novamente derrubando-o. Seguiu-se uma nova magia de cura.
- Eu não irei ser tão bom da próxima vez... - ele encostou a espada na garganta do homem. - Quem é o responsável por isso?
- Bru... Bruno Lotti... ele deu as ordens de Secomber e... - Wolfgang se satisfez com aquilo e novamente golpeou o bandido, mas dessa vez deixando-o inconsciente.
- Nós não podemos perder tempo aqui com essa tortura e seus problemas mundanos, clérigo. Temos de seguir e precisamos de nossas montarias... - protestou Turambar.
- Gostariamos de ter com o lorde... - intercedeu Kaliandra.
- Venham comigo... lorde Alagondar irá recebê-los e poderam explicar a ele pessoalmente.
Assim, o clérigo Adolf Wolfgang conduziu os cinco elfos e o humano até seu senhor. O governante de Invernunca e do novo Reino Livre do Norte os recebeu com um ar preocupado e após ouvir todo o relato do ataque, pareceu preocupar-se ainda mais.
- Saiam todos! Desejo ficar apenas com os estrangeiros. Eu disse todos! Andem! Inclusive você, Wolfgang! - Quando todos saíram, lorde Nasher Alagondar olhou em volta e se levantou para falar, mas Voronwr Turambar o interrompeu.
- Desejamos apenas nossas montarias para partirmos, Lorde do Norte.
- Eu entendo sua pressa, servo da senhora dos elfos. No entanto, desejo propor-lhes um acordo...
- Perdoe-me, milorde, mas creio que devemos tratar de Bezmont que ainda está desaparecido... - interviu Derdeil Óphoda.
- Os ladrões das sombras estão por trás disso, diplomata Óphoda. Assim como pelas tentativas de desestabilizar meu novo reino. O povo do Reino Livre do Norte corre perigo e não tenho homens em que possa confiar totalmente, Esse Bruno Lotti tem muitos espiões. Desde que Águas Profundas caiu, esses ratos vis se espalharam e agora buscam se entranhar em nossa democracia. Eu peço que me ajudem levando ordens até o capitão Eduardo de Secomber. Ele é alguém em quem tenho total confiança. Levem meu pedido de que Bruno Lotti seja preso a qualquer custo em troca dos cavalos.
- Bem... - disse Turambar com certa arrogância.
- Nós aceitamos.. - disse Boaventura. - Aceitamos e agradecemos, lorde Alagondar.
- E quanto a mim? - Quis saber Óphoda.
- Eu posso cuidar de que o teleportem para Halruaa, diplomata. Mas precisará aguardar até que tanhamos pistas de seu líder e dos criminosos que estão com ele.





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