22 de mar. de 2014

Segundas possibilidades...







Kaliandra Boaventura sentia a brisa do mar a agitar seus cabelos. Era triste deixar Encontro Eterno para trás, mas era a segurança da própria ilha sagrada dos elfos que estava em jogo. Ela tentava pensar nas coisas agradáveis que haviam pelo caminho, antes que chegassem à pocilga que os humanos chamavam de cidade.
Desde que os elfos deixaram o mundo para os humanos rumo ao oeste, não queriam mais saber dos assuntos de Faerun. No entanto, a magia mudou. Os antigos deuses dos elfos não atendem mais as preces de seu povo. O bardo Voronwr Turanbar foi escolhido pela rainha Amídalas Ancalimon, soberana suprema dos elfos. Integrar aquela comitiva que obteria resposta em Evereska, a terra dos elfos que não tiveram a nobreza de seguir com sua rainha, era uma honra para a guerreira que sonhava ser uma trovadora da espada.

Derdeil Óphodda tomou sua posição no círculo para o teleporte. Não era comum ter a oportunidade de se deixar Halaraa, muito menos Halruaa. O mago e clérigo de Azuth, o deus dos magos, iria integrar a comitiva do embaixador Maximilian Bezmont, um dos poucos defensores do contato com o mundo exterior no governo. Isso era uma resposta ao convite do regente do novo Reino Livre do Norte, que tentava se afirmar e pacificar as decadentes e bárbaras terras do norte.
Óphodda sabia que haviam laços ancestrais que uniam aquela região arruinada ao maior reino mágico de Abeir-Toril. Halruaa era um reino formado pelos arquimagos sobreviventes da derrocada de Netherill, uma terra cercada de montanhas que se mantinha isolada do mundo exterior. Já as terras ao redor do vasto Anauroch são fruto do desenvolvimento dos populares sobreviventes, que não viviam nas grandiosas cidades voadoras de outrora. Ele soube que há alguns anos, uma cidade que sobrevivera no plano das sombras buscou fundar uma Nova Netherill, mas que tal projetou não frutificou. Agora era a vez de Invernunca lançar seus soldados para garantir para si a região pelo que afirmavam os banais servos de Tyr.

Braad arrotou e molhou a garganta com o último gole de aguardente que havia em sua garrafa. Ele buscou por outra, enquanto caminhava próximo ao grande rio rumo ao norte sem um destino certo. Não havia mais nenhuma. Foi quando seus olhos avistaram as torres e muros de uma grande cidade.
Conforme se aproximava, o monge bêbado foi vendo a estrada que lá chegava vinda de sudeste. Havia bastante movimento e parecia tratar-se de uma métropole, embora não tivesse certeza de onde estava. Conforme seu caminho ia se alinhando com a estrada, ele percebeu que aqui também suas tatuagens e marcas atraiam olhares de reprovação, mas houve alguém que se aproximou. Um homem de capa preta e sorriso simpático pareceu se interessar por uma das tatuagens de Braad.

O bardo humano Sérgio Reis, o cãozinho do berrante, sabia que ainda faltava muito para a cidade élfica de Evereska, onde pretendia encontrar com seu poderoso tio John Falkiner. Por mais estranho que fosse seu tio ter sido reencarnado como um elfo e ser o escolhido da deusa dos elfos, agora ele jazia catatônico no templo de Bibiana, acometido por alguma maldição mágica terrível. Depois de deixar Soubar há tanto tempo, o irmão mais novo de sua mãe, que sempre fora sua inspiração, precisava dele ao seu lado agora.
Ele avistou um cavaleiro vindo pela estrada, montado em seu cavalo de batalha. O homem o saudou em nome de Tyr e disse ser Jorge da Capadócia, da distante Cormyr. O destino dele era Invernunca e depois de algumas palavras, cada qual seguiu seu caminho. Reis soube, então, que não estava distante de Secomber, sua escala nesses dias que ainda haviam pela frente e dirigiu-se logo para a cidade.

Mari'bel percebeu que aquela era uma parte pouco familiar da Grande Floresta. Desde que a jovem fada havia vindo para cá com o deus das fadas Timothy Hunter e seu reino, ela nunca havia vindo tão para o sul, se aproximando das montanhas no interior da mata. Havia uma certa curiosidade por toda aquela beleza, que parecia florescer ainda mais com as forças do mythal.
Ela ficou triste quando os gnomos partiram, pois achava-os interessantes, mas agora achara algo para fazer. Foi quando avistou um druida que parecia perdido. O servo da natureza pediu por orientação tomando-a por uma das elfas verdes da Grande Floresta, mas ela esclareceu que era uma killoren. Ela colocou-o no caminho e seguiu o dela.


Quando Derdeil Óphodda, Maximiliam Bezmont e os outros três diplomatas de Halruaa surgiram na praça central diante do palácio da justiça de Invernunca, o povo surpreendeu-se, muito embora os que ali esperavam não.
- Sejam bem vindos. Eu sou Adolf Wolfgang, servo de tyr, que fui enviando por nosso regente lorde Nacher Alagondar, campeão da justiça, para receber-vos. Que o Reino Livre do Norte e Halruaa dêem as mãos.
- Somos gratos pelas boas vindas.. - disse o embaixador Bezmont com diplomacia num chondathan perfeito e sem sotaque. Já Derdeil estava mais curioso com os arredores rústicos e primitivos, que seus olhos contemplavam pele primeira vez. Tudo lhe parecial arcaico ali, ele percebia que o tecido mágico do novo deus da magia não tinha ali nenhuma alternativa. Ao contrário das cidades de Halruaa onde os mythais e piscinas de mana mantinham o acesso à magia sem custos vitais, aqui nada mágico funcionava a menos que se pagasse com a própria energia vital.
Foi então, que seus olhos avistaram algo que nunca havia visto a não ser em livros. Um grupo de cinco belos e altos elfos, em especial uma elfa de corpo dourado e cabelos brancos. Eles destacavam-se entre a multidão de camponeses e artesãos humanos da fria cidade.
- Vejam, elfos... - ele disse. Todos olharam e viram a comitiva que chegava.
- Coom licençaa.. - disse Voronur Turanbar num chondathan arrastado. - Soou Voronwr Taranbar, servoo de Amidalas Ancallion, senhoora dos elfos. Nós viemoos de Encontro Eterno e desejamoos ter coom os senhoores destas terras. Precisamoos de moontarias.
- Puis sejam bem-vindus, viajantes élficus - disse Adolf Wolfgang em um elfo satisfatório. - Nussu senhur lurde Nacher Alagondar terá prazer em recebê-lus. - Ele passou ao chondathan e se dirigiu a todos - Se me permitirem guiá-los até o interior do Palácio da Justiça, irei acomodá-los agora que o dia já finda e pela manhã poderão todos ter com nosso senhor.


O homem que Braad encontrara chama-se Bruno Lotti e levou-o até uma taverna chamada Libélula Feliz. O estabelecimento se localizava na grande praça do mercado da cidade e estava realmente superlotado de gente. Todas as mesas estavam tomadas de gente procedendo toda forma de ilícito. Lotti levou o monge até outros 4 humanos que assim como eles traziam a marca da adaga envolta pela máscara negra.
Braad disfarçava o desconhecimento e tentava entender o máximo que fosse possível, assim que molhasse a garganta e reabastecesse suas garrafas com boa bebida.. ou melhor, com qualquer bebida alcólica. Todas as atenções estavam concentradas sobre o bardo que se apresentava no palco tocando um viola e uma gaita de um modo regional desconhecido por ali. Mulheres se apertavam próximas do palco e gritavam declarações apaixonadas, o que atraia homens, que por sua vez fomentavam todo a jogatina e beberagem paralela.
Sérgio Reis estava realmente concentrado em sua performance, satisfeito com o bom pagamento que arranjara para trabalhar pela próxima semana. O contato com o tal Expedito Eike pagaria 20 peças de ouro por noite, mais hospedagem e alimentação. Isso fora as mulheres que arrastava para sua cama. Ele reparou no estranho sujeito tatuado que entrou no ambiente, mas logo voltou a olhar a bela loira da primeira fila.
- Desde que Águas Profundas foi coberta pela escuridão, as atividades dos Ladrões das Sombras se deslocaram... - explicava Lotti para Braad, enquanto Gutierrez, Esteban, Gonçalo e Montoya prestavam atenção e concordavam. - É bom encontrar outro irmão por aqui.
- Yo rialmente andei meo perdido por aí... - disse Braad esvaziando seu copo primeiro e falando cuspindo depois. - Donde estás lo riesto da mia bebida?
- Já está vindo. O importante é que você continue conosco, mas tome mais cuidado com isso, pois pode ser pego.
- Ah si, si.. - disse Braad enrolando um pano sobre a tatuagem em seu antebraço.
- E essas outras marcas?
- No sei da.. burrrp... onde vieram... - ele recebeu o pequeno barril de rum da garçonete. - Bueno.. yo tengo que dar una vuelta.. conecer la citade... despues conversamos mais...
- Sim.. você já sabe onde nos encontrar.
Enquanto Braad deixava a taverna, Sérgio Reis subia as escadas com três belas moças em direção ao quarto, onde elas ficaram um tanto decepcionadas com o berrante do cãozinho.


Mari'bel andou um pouco mais para o sul e já avistava a base da montanha que emergia após as árvores. Ela já havia percebido a mudança que ia se dando no solo há algum tempo. Dessa vez, foram seus ouvidos que a alertaram para uma aproximação. Mantendo-se camuflada, ela observou os três mortos-vivos que passavam velozes mais à frente. Ela não sabia que criaturas seriam aquelas, mas sabia que não eram nada naturais.
Mesmo que já findasse a tarde, ela esgueirou-se com cuidado e seguiu os rastros das criaturas como uma boa guardião que era. Deixou seu arco preparado para qualquer eventualidade e seguiu. Ela avançou pela montanha até uma caverna. Na entrada, ela encontrou outros rastros.. rastros maiores e reptílicos. Embora não pudesse ter certeza, sabia que era uma combinação de pistas perigosas e uma ameaça além de sua capacidade. A killoren recuou furtivamente até as árvores e depois correu o máximo que podia para alertar seu deus e os demais.

Apesar do desconforto de sua cama, Kaliandra Boaventura adormeceu. A guerreira elfa sonhou com uma bela mulher. A mais bela elfa que seus olhos jamais haviam visto.
- Olá, Kaliandra Boaventura, minha filha.
- Quem é você, bela senhora?
- Eu sou Bibiana Crommiel, deusa dos elfos, mãe do belo povo. Eu vim recebê-la entre nós agora que voltaste ao teu verdadeiro lar.
- Nós viemos em nome da rainha Amídalas Ancalimon, devemos seguir até Evereska.
- Sim, minha criança. É o que devem fazer. Mas você deve saber que nesses tempos difíceis, eu estou de braços abertos para todos os elfos, já que somos como um só povo.
As palavras da deusa dos elfos reverberavam fundo no íntimo de Boaventura, ela sentia que só havia verdade e doçura no que era dito. Ela sentia como se agora sua alma pudesse ter paz novamente por haver uma divindade olhando pelos elfos, garantindo suas tradições, sua pátria e sua família.

Derdeil Óphodda achou difícil preparar-se para dormir sem seus servos invisíveis e facilidades mágicas, mas acabou por adormecer. Ele sonhou com um velho mago, que prontamente entendeu tratar-se de seu senhor Azuth, deus dos magos, braço direito do deus da magia.
- Óphodda, me devoto seguidor, escute o que lhe fala seu antigo deus, que já foi um homem como você. Não há razão no que faz o novo pretenso deus e se o sirvo não é por vontade, mas por dever de ofício. Ainda assim, eu venho consagrar uma missão a você que tem os escrúpulos necessários para cumprí-los. Nesses tempos extremos, medidas extremas.
- Diga-me, ó grande Azuth, o primeiro dos magistrados, arauto de Mystrul. Eu sou teu servo e instrumento da tua vontade...
- O mythal que existe na Grande Floresta deve ser destruído para que as coisas sejam restauradas ao que eram, Derdeil Óphodda, e tu deves cuidar disso!

Após correr por algumas horas e alertar as lideranças da Grande Floresta como Falcon Eagle, líder dos ellfos verdes, o treat Turlang, além de Viviane dos druidas e guardiões da natureza, Mari'bel viu-se muito cansada. Bebeu um pouco de hidromel e recolheu-se muito cansada.
Ela teve um sonho curioso com uma bela mulher, a mais linda elfa que já vira. Era Bibiana Crommiel, senhora do belo povo, que estava debruçada sobre um homem catatônico. Ela olhava com amor e ternura, mas subitamente uma fumaça rosa emergiu dele e envolveu a mulher, parecendo ser um mal terrível do qual ela não conseguia se libertar.

Braad vagou pelas ruas já pouco movimentadas de Secomber com o avançado da hora. Por fim, ele encontrou uma pequena capela de Oghma, o senhor do conhecimento, o que trouxe lembranças da Fortaleza da Vela. O monge entrou na esperança de algumas respostas.
Após um gole de bebida, eles se pôs a orar. Para sua surpresa, rapidamente, ele obteve uma resposta. Uma figura espectral surgiu diante dele. Era o fantasma de Francisco Xavier, o mago que conhecera na Fortaleza da Vela.
- Braad... me ajude, Braad.. minha alma está amaldiçoada... eu estou preso em uma agonia eterna...
- Lo que houve, Xavier? Quien fez esto com usted?
- Eeehtur... Daaaphne... na Grande Floresta...

Ainda que desapontadas com o potencial do instrumento do bardo, Sérgio Reis provava às mulheres que um homem pode trabalhar de outras maneiras. Eles se divertiram como podiam por um bom tempo já que não havia mais show aquela noite. Ainda assim, as três fugiram aterrorizadas quando o espectro surgiu.
A alma penada rogou uma maldição sobre Sérgio Reis, que viu suas ínfimas partes íntimas murcharem como uma casca seca inútil.
- Você deve guiar o monge à Grande Floresta e libertar minha alma, se desejar sua virilidade de volta! - Proclamou o espírito atormentado antes de desaparecer tão inexplicavelmente quanto surgira.
O bardo recolheu suas roupas frustrado e resolveu descer para tomar uma bebida. Encontrou a taverna já vazia. Havia apenas a mesa de Eike, onde ele se vangloriava do sucesso da noite. O homem tatuada bebia sozinho no balcão.
- Vajam só, aí está a galinha dos ovos de ouro... - disse Expedito Eike.
- Aqui está seu dinheiro.. - disse Reis devolvendo o adiantamento que recebera. - As coisas mudaram, tenho que partir pela manhã.. - ele deu as costas ao grupo e foi ter com o homem no bar. - Me traga o mesmo que ele está bebendo... você por algum caso conhece algum monge que precise ir para a Grande Floresta?
- Buuurp... yo soy un monge procurando uno guia até la Gran Floresta.. yo me yamo Braad...





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