8 de nov. de 2013

Dia do Julgamento

Daphne explicara a todos do seu círculo druídico e a seus seguidores sobre seus planos. Era necessária uma força constante a zelar pela Grande Floresta. Algo maior que a constelação de círculos druídicos, vilas élficas e comunidades de outros seres e servos da natureza como centauros, treants e fadas. Essa organização não estaria ali para comandar ninguém, mas para interligar e engrandecer todos os esforços, atuando em harmonia com os deuses da natureza e todos aqueles que desejassem perpetuar o equilíbrio.
- Nós seremos os Guardiões da Natureza. Guardaremos a Grande Floresta e a vida que se espalha muito além dela. Assim como sou uma semente soprada pelo mar do litoral para florescer nesse interior, devemos ter nossos corações abertos e nossas vontades firmes. Devemos lembrar que até mesmo a escuridão e a destruição têm seu papel no grande ciclo. Todos os servos da natureza serão bem vindos se estiverem dispostos a contribuir. Temos Selune de volta, o que só pode ser uma benção e o sinal de um novo ciclo. Eu vi as escamas da serpente Dendar, um ser mais vasto do que poderia imaginar qualquer um aqui dentre nós...
Nem todos, em especial o velho druida Costeau, eram receptivos às suas palavras. Daphne já deixara a guardiã Ravena Eagle designada para acompanhar o servo de Istishia todo tempo e descobrir que segredos esconde. Ela já havia tomado o cuidado de pedir a Felícia Eagle que inspecionasse se algum dos que vieram com ela era uma cópia mágica, como ocorrera com a arquimaga Laeral. Tal tarefa foi auxiliada pela clériga Jacke Linne, uma clériga gnoma de todos os deuses que também ouvira os relatos sobre a benévola druida da Grande Floresta Daphne, serva de todos os deuses da natureza. Jack era mais experiente do que os demais seguidores que Daphne conhecera, trazendo a experiência de muitas andanças e aventuras.
Na reunião, ainda havia muito debate. Muito concordavam com Daphne, mas outros tinham receios daquela ideia. De repente, todos silenciaram ante o som de colossais asas, enquanto as folhas farfalhavam nos galhos. Logo seguiu-se o som da batalha, vindo da direção da Árvore do Grande Pai. Daphne resolveu não perder tempo e tomou nova forma como um cronotyryn, conclamando Jacke, Yorgoi, Debora e todos os demais a seguirem.  O servo de Morpheus Paulo sumiu da vista.
Mesmo com a partida do dracolich, muitas das árvores que haviam sido mortas pelas magias necromânticas deste ergueram-se como seres mortos-vivos. Foi nesse contexto que Daphne e seus Guardiões da Natureza encontraram seus aliados. Os heróis sentiam o poder nefasto emanado das criaturas, mas sem titubear lançaram-se à batalha, enquanto as árvores mortas-vivas se concentravam em atacar o treant Fangorn.
O escolhido de Bibiana Crommiel, John Falkiner, explodiu em energia positiva e implodiu um dos monstros. Ehtur Telcontar, Úrsula Suarzineguer, Rock dos Lobos e Zumbi Palimares usaram seus ataques, mas apenas o guardião conseguiu causar grandes danos com sua carga. O santo Ryolith Fox buscou esmagar aquele mal. Já Sirius Black esgueirou-se e chamou por sua amiga druida e os demais, enquanto seu coração sofria com a dor da nova perda de sua deusa. Alissah fez com que sua águia celestial a tirasse do coração do conflito.
As árvores revidaram com a força de seus troncos e com necromancia. Os heróis já não se sentiam resguardados pela proteção contra a morte de Falkiner e testemunharam o horror, quando Kavernan tombou sem vida do lombo do pégaso de Ryolith Fox. Apenas o paladino passou imune contra aquelas magias nefastas e buscou acudir o servo de Moradin que os ajudara para morrer longe de sua amada floresta. Com a ajuda de Daphne e dos recém-chegados, não tardaram as forças da natureza a eliminar aquele mal pela raiz e consagrar a área para purificá-la, evitando o retorno da ameaça 
Daphne felicitou seus companheiros e relatou a batalha com Laeral e o demilich, escutando, por sua vez, o relato de seus amigos. Sirius Black lembrava o quanto era urgente que partissem para resgatar Selune e pensando intensamente na deusa da lua, viu surgirem imagens desconexas em sua mente. Um vulcão. Homem vestindo púrpura. Um colossal dragão de ossos. Muitos dragões de ossos.
Enquanto ainda amparavam o ladino de Selune, o tempo-espaco pareceu estremecer e um rasgo cortou o ar como um portal dimensional. Lá de dentro surgiram quatro humanóides mecânicos, como golens extraplanares, quatro inevitáveis. Na verdade, os olhos dos heróis já haviam visto criaturas como aquela quando do julgamento de Rock dos Lobos, que já se agarrava a seus poderes de chave dos planos, temendo ser o alvo de uma nova busca. 
- Baixem suas armas e nos acompanhem para que sejam julgados, mortais de Abeir-Toril - disse o primeiro deles.
- Eu não fiz nada.. - saiu gritando Rock.
- Qual é a acusação? - Disse Ehtur Telcontar com resistência.
- Perturbar o tecido da existência através de viagens temporais - respondeu no mesmo tom mecânico e ritmado a criatura.
- Não sabemos nada sobre isso.. nós somos pessoas ocupadas que devem salvar uma deusa e.. - a voz de Sirius Black faltou após um simples piscar dos olhos vermelhos brilhantes da criatura.
- Não é dada voz aos que buscam rebuscar as palavras - disse o inevitável, um dos seres que viviam em Meccanus, o plano da ordem e da neutralidade.
- Não sabemos nada sobre isso.. - disse Daphne com diplomacia repetindo as palavras de Sirius.. - Nós somos pessoas como severas obrigações que devem salvar uma deusa.. a deusa da lua Selune em sua nova encarnação. Nada sabemos sobre viagens no tempo.
- Você, Daphne da Grande Floresta, de nada é acusada, assim como a maior parte dos que estão aqui: a acusação recaí sobre Ehtur Telcontar da Grande Floresta, Úrsula Suarzineguer de Brasillis, Sirius Black de Águas Profundas, Ryolith Fox de Cormyr, John Falkiner de Soubar, Rock da tribo dos Lobos e o arquimago Mun-ha de Netherill, pois carregam em si os riscos de uma existência alternativa e perturbadora desta.
- Nós realmente não sabemos nada sobre isso! - Afirmou Ryolith Fox com convicção.
- Permitam que eu inspecione vossas mentes sobre isso e se falam a verdade serão deixados em paz.
- Que assim seja.. - disse o santo paladino de Tyr.
O inevitável começou inspecionando a mente de Rock dos Lobos e novamente seus olhos tornaram a piscar.
- Você é um criminoso com contas a acertar com o universo. Aquela que paga por seus crimes logo terá a essência findada e você será convocado a responder por suas faltas! Mas hoje não é esta a razão dessa convocação e não há em sua mente lembranças do episódio.
O ser de outro plano inspecionou as mentes de John Falkiner, de Ryolith Fox, de Úrsula Suarzineguer e Sirius Black, mas não encontrou nada que fundamentasse suas palavras. Fazendo apenas comentários com sua percepção ampliada das memórias. Quando chegou a vez do guardião Ehtur Telcontar, ele encontrou o que procurava. A mente de todos os envolvidos foi assaltada pelas imagens de Ehtur lutando contra um orc imenso como um troll, no perímetro da Grande Floresta à vista do treant Turlang e de um belo unicórnio. Disso decorreu que suas mentes foram assaltadas por tudo que viveram nessa vida paralela, causada pelo desejo desvirtuado do arquimago demilich de Netherill.
- Há uma lembrança que os incrimina!
- Mas só nos lembramos dela, porque você nos fez lembrar... - protestou novamente Sirius para perder a voz novamente. 
- Pulsões de existências e reverberações cósmicas acabariam por trazer a todos vocês vislumbres daquilo que não foi, mas ao ter sido deslocou todo o tecido da existência. - O invitável fez sinal de que o seguissem.
- Eu não vi o que vocês viram.. - interviu Daphne. - Mas não podemos partir, pois as forças de nosso mundo dependem de nós.
Ehtur e Úrsula já impacientes pensavam em pegar suas armas. Num piscar de olhos, no entanto, como se o tempo tivesse parado, todos eles estavam envoltos por uma cela hermética de força.
- Não se preocupem com o tempo, pois em Meccanus ele não se dá na perspectiva deste vosso mundo. 
Alguns dos heróis como Sirius e Falkiner mostraram que podiam escapar daquela prisão mágica, mas mesmo assim, por fim, todos concordaram em acompanhar os arautos do julgamento. Eles seguiram pelo portal entre os planos, levando também Daphne como advogada. 
A perfeição artificial do plano de Meccanus, como antes, os surpreendeu. Tudo parecia estar em seu devido lugar e nenhum movimento era disperdiçado. Tudo e todos tinham a precisão de um relógio, atuando como um único mecanismo integrado. Eles foram conduzidos pelas avenidas amplas, cercadas de edifícios e construções plenas de movimento.

O destino deles foi uma enorme pirâmide de amplos degraus. O que parecera a entrada moveu-se e eles ouviram a mesma voz que partira do arauto.
- A acusação recaí sobre Ehtur Telcontar da Grande Floresta, Úrsula Suarzineguer de Brasillis, Sirius Black de Águas Profundas, Ryolith Fox de Cormyr, John Falkiner de Soubar, Rock da tribo dos Lobos e o arquimago Mun-ha de Netherill  pois carregam em si os riscos de uma existência alternativa e perturbadora desta. Como vocês se declaram?
- Esse julgamento é uma farsa... - protestou Ehtur. - Eu não reconheço essas acusações...
- Quem são nossos acusadores? - Gritou também Úrsula.
- Não há legitimidade nessa corte se não estão presentes todos os réus - acrescentou Ryolith.
- Creio que meus amigos querem mostrar que são inocentes, excelência - tentou melhorar as coisas Daphne.
- O arquimago de Netheril Mun-ha aqui não se encontra, pois sua situação é distinta, sendo considerado culpado e tendo pena mais severa a responder. Quem os acusa são as forças primordias que governam a existência. 
- Nós não fizemos nada... - insistiu Ehtur. 
- No dia 27 de uktar do ano dos dragões ladinos do calendário de Harptos de Abeir-Toril, vocês que aqui são acusados travaram batalha com o arquimago de Netheril Mun-ha nas ruínas da cidade litorânea da Costa da Espada Norte de nome Luskan, tomando parte nos efeitos de uma magia de Desejo Épico que acabou por transfigurar o tecido da realidade cósmica. A existência alterada de vocês foi transportada para um recorte temporal, criando um lócus alternativo a esta realidade, sendo resolvido pelo cetro primordial, em Abeir-Toril denominado Cetro de Lathander, que os enviou de volta, pondo ponto final ao problema.
- Eu não participei dessa batalha.. - questiionou Falkiner.
- Mas participou do efeito - respondeu prontamente a pirâmide inevitável. - Esteve ligado a ele por um artefato redimido denominado Cetro de Bibiana, anteriormente Cetro de Orcus. Assim como cabe sanção a Francisco Xavier da Fortaleza da Vela, que pereceu e cuja alma se perdeu além do alcance do cetro.
- Como pode chamar isso de julgamento? Como podemos ser julgados se o principal responsável não está aqui? - Tornou a protestar o guardião de Miellikki.
- Eu acredito na justeza do julgamento, mas concordo com meu amigo de que há problemas aqui. - Concordou o santo paladino de Tyr.
- A sentença do arquimago de Netheril Mun-ha está decretada: ele será aprisionado no plano de Cárceres por 1200 anos sem qualquer direito. Poderá circular pelo Plano Prisão depois disso, mas como todos seus habitantes, nunca mais irá deixá-lo. Quanto a vocês, terão todas as suas lembranças obliteradas quanto ao acontecido e mesmo aquelas que possam vir a remeter a elas. Serão devolvidos a Abeir-Toril até que nosso próximo encontro deva acontecer. - Após aquelas palavras, todos eles, como exceção de Daphne, sentiram as testas queimarem no centro, onde surgiu um símbolo de um triângulo dentro de um círculo, que sumiu logo depois. - Esta marca os lembrará da missão que agora os guia como protetores do equilíbrio planar. Afastem-se do equilíbrio e sentirão tudo lhes faltar.
Depois dessa última palavra, como num piscar de olhos, eles estavam de volta à Grande Floresta. As memórias permaneciam em suas mentes e não sentiam nenhuma mudança, não havia sinal da marca, mas já não havia nada de Mecannus ou dos inevitáveis. Ehtur apressou-se em contar tudo para todos que por ali estavam, indo na direção de Alissah, que aguardava com a preocupação de sempre. Os olhos de Úrsula, no entanto, encontraram uma espiã nas sombras das árvores.
- Ei, quem é você? Vamos responda...
A mulher se moveu pelas sombras como Sirius Black costumava fazer. Ela sorriu com uma simpatia marota, baixando o capuz e deixando todos verem seus traços meio élficos, meio humanos. Era bela, com fartos cabelos cacheados e orelhas levemente pontudas. Os olhos azuis brilhavam contrastando com os cabelos negros.
- Meu nome é Siath Led Ocaith.. eu sou uma embaixatriz que vem lhes estender a mão... - ela disse na língua dos gnomos.
- A mão de quem? - Desconfiou Úrsula.
- Szaas Tam oferece ajuda contra o demilich de Netheril. Ele oferta ajuda.. e seu marido, Úrsula.. como prova de boa vontade...
- Não há nada de bom em Szaas Tam... - as palavras escaparam com rancor dos lábios de Daphne, que se lembrava do que sofrera nas mãos daquele monstro.
- Nós não negociamos com o mal! - Bradou Ryolith.
- Me parece que vocês precisam de ajuda para salvar a deusa da lua e para encontrar os inúmeros receptáculos do espírito do demilich, não é mesmo? - Siath sorria com certa arrogância charmosa, enquanto parecia paquerar Sirius com os olhos.
- E o que Szaas Tam quer em troca? - Disse Ehutr com sua lança Gungnir, a certeira, em mãos.
- Apenas o reconhecimento de sua supremacia sobre as terras do sul e do leste - disse a mulher se aproximando de Black, que parecia preferir evitá-la protegendo-se atrás de Daphne.
- Apenas o reconhecimento? - Questionou o ladino de Selune.
- Nào somos nós quem pode dar esse reconhecimento... - completou o escolhido de Bibiana.
- E de que vale nosso reconhecimento? - questionou o escolhido de Malkizid.
- Vocês devem buscar pelos grandes reis e regentes das principais cidades... - concordou Ryolith, que não sentia o mal na mulher.
- Águas Profundas não existe mais. Nova Netherill findou em ruínas. Cormyr foi invadida por Sembia com o apoio do Forte de Zhentil. Das maiores metrópoles aos menores vilarejos, restam apenas as ruínas após o vôo dos dragões. O leste já é de Thay. Quem responde por essas terras agora se não os destemidos servos da natureza da Grande Floresta?
- Não nos cabe nenhuma decisão desse tipo... - disse Daphne com diplomacia e calma.
- Me entregue meu marido como prova de boa vontade, como você diz... - interviu Úrsula.
- Aqui está... - Siath disse colocando a mão em uma bolsa mágica e atirando o cadáver multilado de um gnomo para Úrsula, que abraçou-o vendo ser seu marido. - E quanto à prova de boa vontade de vocês?
- Aqui está.. - disse Ehtur partindo em carga contra a embaixadora do lich de Thay. O golpe foi certeiro e teria custado a vida dela, se uma esquiva sobrenatural não a permitisse evitar a maior parte do dano, além das setas de Úrsula que seguiram-se.
- É assim que tratam os mensageiros? - Debochou Siath recuando.
- Calma, guardião Ehtur. - Gritou Zumbi aproximando-se e usando sua aura de paz para fazer todos baixarem as armas.
- A oferta está feita... - E Siath desapareceu mergulhando nas sombras.
- Chega de perder tempo.. temos de salvar Selune!!! - Gritou Sirius atraindo a atenção de todos.
- Partamos antes que algo mais nos retarde.. - disse John Falkiner usando um teleporte e levando alguns de seus camaradas para o lugar que Sirius descrevera, enquanto Jacke levou os demais.
Eles surgiram no alto de um vulcão e logo viram quatro dragões vermelhos voando em sua direção, cuspindo fogo e acabando com a paz que Zumbi lhes infundira.



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