Ehtur Telcontar e Úrsula Suarzineguer viram-se como os únicos sobreviventes após a partida do demilich. Além deles, havia um anjo solar e pairava o espectro de Francisco Xavier recém-libertado, mas sem um corpo para chamar de seu. Diante deles, avançando sobre os escombros, havia uma horda de devoradores mortos-vivos, que ainda desejavam destruí-los.
O guardião voou e Úrsula subiu nas costas do solar, que usou seus poderes celestiais para saber que o demilich havia se refugiado na torre da cidade. Rumaram para lá, mas os gigantes mortos-vivos, que eram capazes de capturar essências em seus ventres, dispararam magias que confundiram as mentes do trio. Eram tantas, que mesmo a vontade do solar enfim cedeu. Confusos pelo poder, eles passaram a se atacar. Úrsula fuzilou o solar, que a golpeou, enquanto Ehtur apenas babou. Bastou outro ataque da matadora de magos com Avenger para o anjo dos sete céus tombar como uma ave abatida, enquanto a gnoma buscava aplainar a queda em suas asas.
Ehtur recobrou a sede por atacar alguém, quando uma nova leva de ataques dos devoradores caiu sobre eles. Os raios de enfraquecimento roubaram a força de seus músculos. Úrsula foi atingida por quatro raios e seu corpo tombou como uma massa de carne flácida contra o chão. O guardião foi menos afetado e conseguiu avançar contra o mais próximo dos inimigos. Ainda tendo forças para empunhar o cetro de Bibiana, cada golpe seu levava ao fim um morto-vivo. Mesmo assim, havia uma horda deles nas ruínas de Luskan. O servo de Miellikki reconheceu dois cadáveres entre os devoradores, os zumbis de Francisco Xavier e Ryolith Fox. A alma do mago da Fortaleza da Vela passou a lutar pelo controle do corpo, possuindo-o e causando espasmos frenéticos.
Enquanto isso, próximo dali, Rock dos Lobos, a chave dos planos, começou a tornar-se mais consciente de si no interior da gema do demilich. Ele lutou para libertar-se e atingir outro plano, mas percebeu que o mal do arquimago morto-vivo o enfraquecia demais. Ele tentou, então, esconjurar seus aliados que estavam ali aprisionados. Dessa vez teve sucesso. O bárbaro sentiu que todas as almas ali alojadas retornaram imediatamente para seus corpos e seus respectivos planos.
Com isso, o zumbi de Ryolith Fox explodiu em uma luz ofuscante, que incomodou os devoradores. O santo servo de Tyr ressurgiu empunhando Diakaioo Ensis, a espada justa. O paladino passou a investir contra os mortos-vivos, enquanto Xavier ainda lutava pelo controle do seu corpo. Úrsula viu-se livre da confusão com a queda e passou a tentar escorrer para baixo dos escombros das ruínas da cidade. Ao mesmo tempo, ela contou com a sorte para ativar a varinha de restauração menor, recuperando um pouco de sua força. Ehtur seguia destruindo 4, 5 devoradores, mas via que dezenas vinham se aproximando. Mesmo o retorno do santo Ryolith Fox não fora suficiente para mudar a balança em favor deles, que disparavam raios enfraquecedores e tentavam sugar suas almas.
Ainda fora das ruínas, Sirius Black despertou desnorteado de volta a seu corpo. O ladino resolveu se aproximar com cautela tendo em mãos sua adaga contra mortos-vivos. Ele mergulhou nas sombras para fazer uma parada estratégica junto ao cadáver do solar e dali para próximo de seu santo aliado.
Rock dos Lobos tentou escapar para um plano contíguo e conseguiu escorregar para o plano etéreo. Ali encontrou o demilich na torre ainda existente em toda sua totalidade. Ele conversava com um serviçal lich. O arquimago de Netherill percebeu o truque de Rock e resolveu dar uma demonstração real de seu poder à jovem chave dos planos. Com um desejo mágico, o demilich aprisionou Rock dos Lobos à torre da mesma forma que tinha sido feito com ele séculos antes. O bárbaro viu-se livre da gema, mas sentia que sua essência estava presa àquele lugar do plano etéreo, incapaz de usar seus poderes para sair dali.
Os demais, vendo ser inútil permanecer mais tempo no confronto com a horda de devoradores, avançaram para a torre. Com a aproximação deles, Rock conseguiu trazê-los para o plano etéreo, onde viram-se num espectro concreto da torre material de Luskan. O demilich mesmo totalmente recuperado parecia não acreditar na insistência dos heróis.
- Mas o que diabos é preciso para acabar com vocês? - Queixou-se ele antes de conjurar mais uma magia.
- Mais do que você possua! - Bradou Ehtur Telcontar atingindo-o com o Cetro de Bibiana. A carga
disparou o poder do artefato, mas desta vez o guardião percebeu que uma parte fora absorvida pelas defesas mágicas do demilich, que parecia mais forte na torre. Sirius Black usou de sua adaga para ceifar parte das forças do morto-vivo, enquanto o paladino clamava por Tyr para esmagar aquele mal.
O demilich invocou um novo desejo. Esse, no entanto, não era um desejo comum, do tipo acessível a qualquer mago antigo e poderoso. Rock dos Lobos via que era algo épico e profano, talvez uma magia única. Foi nesse momento que Xavier retomou o controle de seu corpo, muito embora ainda parecesse um zumbi corcunda. Ele usou uma magia para dispelar o desejo do arquimago morto-vivo. Apesar da presteza, a intensidade não foi suficiente. Nesse instante, apesar de preso, Rock dos Lobos deu-se conta de tramas mais primordiais conformadoras da realidade. Como se o próprio tempo recuasse um passo, ele fez com que uma nova chance fosse dado ao mago da Fortaleza da Vela. Mesmo estando preso, sentia seus poderes transcenderem. Com maior convicção, Francisco Xavier viu sua anti-magia negar o poder ancestral do demilich, livrando seus aliados das palavras daquele mal milenar.
Ainda assim, a fúria crescente dele foi capaz de sugar mais uma vez a alma de Sirius Black, fazendo tomar o corpo inerte. Ehtur desferiu mais ataques flanqueando com Ryolith Fox. Sabiam que não teriam outra chance, mas viram que seus golpes não foram suficientes para findar o pequeno crânio flutuante.
Com um brilho sinistro em seus olhos de diamante, o demilich sugou a alma do mago para certificar-se de que nada negaria seu próximo desejo épico, desta vez, temperado por um ódio que ele não sentia há muito tempo:
- Eu desejo que suas existências insignificantes deixem o meu caminho e pereçam ante o meu poder!
(...)
Sirius Black abriu os olhos sentindo o cheiro podre dos cais de Águas Profundas. Sentia um pouco de dor de cabeça de alguma ressaca, muito provavelmente. Diante dele estavam algumas pessoas em uma espécie de círculo.
- Quem são vocês? - Ele perguntou.
- Eu sou Ehtur Telcontar - disse o sujeito grande e loiro que parecia-lhe vir do norte ou do mato.
- Eu sou Ryolith Fox e acho que você tem algo haver com eu não saber o porquê de estar aqui.. - disse o sujeito de armadura completa e sotaque do sul.
- Eu também não deveria estar aqui.. - acrescentou o bárbaro vestindo peles.
- Onde nós estamos? - Perguntou o gnomo que segurava a mão da esposa.
- Eu sou um mago da Fortaleza da Vela, não sei que lugar é esse.
- É Águas Profundas.. vocês estão no porto - disse o jovem Sirius Black vendo que aquela era certamente uma das ressacas mais estranhas de seus 18 anos. - Se tiverem alguns trocados, eu posso ajudá-los.. levá-los a algum lugar...
- Por que deveríamos pagá-lo? - Protestou Ryolith detectando o mal. - Eu vejo uma aura cinzenta ao seu redor, Sirius Black.
- Cinzento não é negro.. - disse Sirius rapidamente. - Eu posso guiá-los até onde queiram descobrir o que se passa..
- Eu vou embora.. deveria estar na Grande Floresta.. - disse Ehtur.
- Eu sou de Cormyr - respondeu Ryolith. - Sou um paladino de Tyr de Suzail. Talvez um templo possa nos trazer algumas respostas...
- Ou uma guilda mágica.. - ponderou o mago. - Eu sou Francisco Xavier.
- Eu sou Arnoux e essa é Úrsula.. ela não fala a língua dos humanos do norte - disse o gnomo com um ar protetor.
- Bem, se abrirem suas carteiras posso levar vocês lá.. - disse o ladino percebendo que algumas coisas estavam estranhas. Haviam coisas das quais não se lembrava e faltavam coisas que estariam ali, como a placa recém-pintada do bar do Beholder Caolho sobre a qual seu amigo Biel vomitara há uma semana e que tinha uma bela pintura satírica do monstro cheio de olhos. Em seu lugar estava apenas uma tábua velha escrita Beholder Caolho de maneira tosca. - Esse lugar aqui mesmo é uma tradicional pocilga local do meu amigo Kléberson.. - ele disse caminhando até a entrada e abrindo. Lá dentro, não reconheceu ninguém, enquanto os outros já pensavam em ignorar o citadino e seguir. - O muié, quede Kléberson?
- Klebersinho? - Perguntou a atendente meio-orc enquanto servia umas canecas na mesa.
- O Kléberson dono desse bar, mulher!
- O Kléberson é fio do seu Kluriston, que é o dono do bar - respondeu a mulher dando as costas para Sirius.
- O que? - Sirius ficou perturbado com aquilo. - Que ano é esse? - Perguntou a um dos homens bebendo.
- 1348...
- Não é possível.. devia ser 1358...
- Esse aí já está bêbado.. - riram os outros membros da mesa, enquanto Sirius saiu atordoado para ter com os demais, que já compartilhavam da surpresa.
- Tinha que ser 1343.. - afirmou Arnoux, o gnomo.
- Para mim seria, 1359.. - falou Ehtur.
- 1360 para mim.. - disse Xavier. - Por algum motivo estamos deslocados no tempo. Eu simpatizo com você, Sirius, Leve-nos até a guilda arcana mais próximo.
Sirius Black assim o fez. Logo chegaram a Alfarrábios e Afins - Guilda Mágica e Escola de Magia, onde encontraram outro gnomo que parecia perdido e recém chegado à cidade.
- Prazer, sou Yorgói Dossantis.. estou atrás de emprego e soube que há uma guilda pro..
- Eu posso levá-lo lá por algumas moedas.
- Aqui estão.. 5.. - disse o gnomo parecendo satisfeito com a solicitude. Sirius recebeu o ouro e virou o gnomo para o prédio.
- É aqui. - Aproveitaram para seguir o gnomo até o interior da guilda. Enquanto ele foi contratado, perceberam que não teriam ali maiores respostas.
- É melhor buscarmos um templo.. - insistiu Ehtur.
- Vocês vão.. eu tenho que ir até um orfanato...
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