Tão logo perceberam que haviam retornado para Evereska, os heróis tentaram entender tudo aquilo que se passava. John Falkiner e Francisco Xavier sabiam que o efeito do desejo limitado os trouxera conforme pedido, mesmo que com atraso. Ryolith Fox deixou de lado a diplomacia e aproveitou para arrochar Rock dos Lobos que acudia Marissa. Ele tentou agarrar o bárbaro cujo corpo estava tomado pelas chagas de Makizid. O paladino sentia o mal no corpanzil de seu companheiro e duvidava que aquele pudesse ser o verdadeiro Rock. De alguma forma, Ryolith Fox sentia-se mais próximo de Tyr do que nunca e conseguia ter uma noção mais profunda da verdadeira justiça. Mesmo sentindo também a maldade que vinha do cetro de Orcus, que Úrsula carregava, ele optou por focar-se no bárbaro.
Úrsula Suarzineguer fazia um esforço hercúleo para carregar o cetro de Orcus. Ainda que o peso maior fosse o daquela maldade em sua alma. Ela sentia como se o cerne de seu ser fosse esvaziado, como se a própria realidade fosse mais fria e distante de sua consciência. Além disso, ouvia a voz sórdida do artefato em sua mente tentando convencê-la a usá-lo em seu favor. John Falkiner percebeu o risco e usou seus poderes de servo de Bibiana Crommiel para decifrar a ameaça do artefato. O clérigo temeu ver a gnoma sucumbir e alcançou o artefato, mas acabou sendo ele quem sucumbiu ao poder nefasto e abissal. Intoxicado pelo poder, o elfo tomou o cetro de Orcus para si. Não fosse a intervenção de seu seguidor Juarez Currigham, lhe concedendo uma segunda chance e só os deuses sabem o que poderia ter ocorrido, pois Úrsula correu sua mão para o arco. Diante de tamanho risco para todos, sem perder tempo, eles urgiram para a basílica de Bibiana, antigo templo de Corellon Larethian, cujas cinco torres coloridas não estavam distantes. Lá, o poder sagrado impediria as forças do artefato de se manifestarem em sua totalidade.
Vendo que os companheiros estavam bastante envolvidos com as questões morais de costume, Sirius Black seguiu sozinho para o palácio de Rhage Hesysthance Sorrowleaf para encontrar sua amada Annia.
Ryolith Fox insistia em cobrar explicações de Rock, que sequer tivera muito tempo para entender sua nova condição. O paladino invocou uma zona de verdade para arrancar respostas de Rock. Aquele que carregava as marcas de Malkizid não resistiu e as palavras fluíram de suas lábios, embora as respostas não tenham findado as desconfianças do paladino. Entretanto, a elfa das estrelas Marissa Stardust interviu entre os dois brutamontes e pediu uma chance para os dois conversarem em paz. O espada sagrada de Tyr consentiu, mas manteve sua atenção fungando no cangote do bárbaro.
Durante o caminho, Rock dos Lobos sentia-se cada vez mais Rock de Malkizid. Ele percebeu que era a chave dos planos uma vez mais. Sentia seus poderes, mas agora num nível muito superior. Percebia que nenhum plano lhe era distante, tudo agora estando ao alcance de seus passos. Não tinha certeza exata do que fazer, mas sabia que bastava um avançar de sua vontade e veria as consequências. Embora as chagas de seu corpo doessem, não o incomodavam realmente, pois havia uma chama poderosa que queimava em seu íntimo. Não era mais apenas a fúria dos bárbaros, mas o poder primordial de que tudo mais era feito.
Quando já estavam dentro do templo, todos novamente atentos ao que se fazia do cetro de Orcus, Rock escutou Malkizid em sua mente. Ele informou que governaria o Abismo. Haveria uma ordem nos lares sem fim do Abismo. Aquele mal seria combatido e contido em si mesmo. O sacrifício seria feito com as forças que tomara de Orcus. Ainda assim, ele precisaria de Rock para representá-lo e estender a Bibiana e aos elfos sua aliança.
No interior do centro da fé na nova deusa, Ahspirah Ébrius, antigo sumo-sacerdote de Corellon Larethian, recebeu-os sem disfarçar a preocupação com o mal que traziam. O antigo clérigo informou-os de que precisariam de horas para preparar um ritual de purificação. Mesmo assim, não havia certeza de sucesso. O sumosacerdote cuidou deles com o poder de sua fé, orando algumas restaurações que devolveram as forças roubadas, exceção feita a Úrsula Suarzineguer e John Falkiner, que sentiram que uma parte do que lhes fora tirado jamais voltaria. Sua almas carregariam a cicatriz perpétua de tocar um mal forjado no início dos tempos. O artefato foi guardado em um baú mágico capaz de isolá-lo do mundo e de abafar suas vilanias. Para ter certeza que a alma de Yorgoi estaria segura, Úrsula fez questão de repousar no aposento especial sobre o baú.
Vendo que os demais descansariam e passariam o tempo no templo, Rock dos Lobos aproveitou para acompanhar Marissa que pretendia ter com seu povo e anunciar essa nova era. Era o tempo de abraçarem a nova fé em Bibiana. Rock tomou a mão dela e transportou-os com seus novos poderes para o plano que se ligava ao mundo deles pela antiga graça de Corellon. Juntos eles foram para Sideyuir,onde encontraram a grande mobilização que havia para reconstruir .
Enquanto John Falkiner aguardava para que o clérigo tentasse colocá-lo em contato direto com a deusa Bibiana, ele aproveitou para conversar com seus seguidores fiéis. O clérigo Juarez informou-lhe que havia passado o último dia entrando em contato com outras terras élficas como a ilha de Encontro Eterno, a Floresta de Cormanthor, a Selva de Chondal, a Mata de Yuir e a Grande Floresta. Em resposta, as comunidades élficas informaram de milagres da deusa, mas pediam embaixadores para discutirem a doutrina. Além disso, ele informou ao escolhido de Bibiana que todos os Seldarines, o panteão élfico, estavam reunidos discutindo a chegada da deusa.
A ladina Linda Moon, por sua vez, aconchegou-se junto a Falkiner e trouxe-lhe relíquias que havia recolhido em nome dele e da deusa. A luva, a bota e os demais itens que ela trouxe tinham igual par que ela mesma já usava. O bardo Orlando e a druida Gota de Orvalho informaram das comemorações e dos contatos com os deuses da natureza fora do panteão élfico, enquanto o clérigo Lindiel Evalandriel relatou o contato de Lua Prateada que estava sendo repovoada. Vinham notícias de que tentariam ressuscitar a deusa da lua Selune com algum tipo de ritual.
O paladino Fingolfin Long relatou das defesas da cidade, enquanto a guardiã Rumingbird Eagle alertou seu líder para as ousadias de Linda Moon, que usava o bom nome de Falkiner em proveito próprio. Mais do que propagar a fé, a messalina parecia interessada em ouro.
Os demais cuidaram de fazer as derradeiras perguntas restantes ao cadáver de Melegaunt:
- Como descreveria as últimas vinte e quatro horas passadas na Cidade das Sombras? - Perguntou o necromante Francisco Xavier. Não houve nenhuma resposta do cadáver. Após conferenciar com os colegas, optou por outra questão. - Existe algo em Nova Netherill que possa nos ajudar a encontrar o imperador Telamont?
- Sim.
- A melhor forma de tomarmos a pedra é regressarmos às ruínas da Cidade das Sombras?
- Não. - E com essa palavra, as últimas energias deixaram a carcaça do antigo príncipe das sombras, fazendo-os pensar no que fazer agora depois do devido descanso.
Em outro lugar da cidade, Sirius Black chegou ao palácio dos Sorrowleaf e encontrou Annia saudosa, mas preocupada com Rhange. O ladino falou para Annia que o regente fora devorado pelo rastejante noturno e tudo que restara era seu anel, que ele encontrara nas ruínas após destruir o terrível monstro.
- Rhange irá voltar, tenho certeza. Ele não morreria assim tão fácil.. - ela ponderou agarrada ao amado, cujo cansaço era extremo. - Mas Evereska não pode ficar sem uma liderança.. enquanto não souberem o que se deu com ele, seguirão como dissermos. - Enquanto os dois amantes se enamoravam, Annia Evalandriel tecia planos em que ela e Sirius cuidariam bem da cidade, governariam até que aceitassem a ele ali como seu consorte.
Desde o conforto de uma cama de penas de ganso enlaçado ao corpo suado da mulher amada até a tampa côncava de um frio baú de madeira, todos os heróis acabaram por encontrar o necessário repouso. Além de recuperar as forças, uma vez mais, eles sonharam.
John Falkiner viu os Seldarines reunidos. Um conselho contemplativo observando a fala da jovem Bibiana Crommiel. Seus olhares eram os dos anciões que pouco entendem do mundo dos jovens.
Ryolith Fox sonhou com Palas Atenas. Uma vez mais, ele viu sua esposa presa em catacumbas. Ela tinha o pescoço e os punhos presos por correntes grossas e negras como as que ele conhecera no Forte de Zhentil.
Úrsula sonhou com seu marido Arnoux Suarzineguer. Ele era um zumbi, uma carcaça animada por magias negras. Parecia estar sendo usado como suporte para uma mesa repleta de poções e pergaminhos.
Mua D'ib sonhou com uma árvore velha e seca, que tombava sobre o chão com grande alarde. Dos destroços e restos do tronco misturados à terra, viu nascer uma nova e singela planta. As folhas verdes enrolavam-se e ganhavam os contornos de uma mulher élfica, cujo olhar contemplava o céu onde nascia uma lua crescente como o sorriso de um gato.
Sirius Black também sonhou com uma lua crescente como o sorriso de um gato. Antes, porém, veio-lhe a imagem de uma celebração. No ritual, ele dava as mãos a duas mulheres. Uma era Kiriani, ele tinha certeza, a outra era uma das filhas de Mystra, mas ele não conseguia saber qual delas. Estavam cercados por uma multidão e lhe pareceu estarem no centro da cidade de Lua Prateada. Novamente, ele foi banhado com o fogo da lua e viu aquele filete de lua surgir no céu.
Ehtur Telcontar sonhou com o reino das fadas. Ele viu grandes seres mecânicos, como aqueles que haviam levado Rock e Leila, inevitáveis era como eram chamados. As criatura que representavam a lei e a neutralidade aprisionavam o deus das fadas Timothy Hunter após terem neutralizado Etienne Navarre e Tumling.
Francisco Xavier teve um sono intranquilo, onde avistou a Fortaleza da Vela. O único lugar que chamará de lar estava envolvido em um ritual comandado pelo Primeiro Leitor. Xavier percebia que havia muitas semelhanças com o ritual de Amaunthor que consagrara o cálice em Suzail. Em seu sonho, no entanto, os símbolos que ele viam eram híbridos dos símbolos sagrados do deus do sol e de Oghma, senhor do conhecimento. Por toda parte ele via pergaminhos com um sol nascente estampados. Assim como se dera na capital do antigo reino de Cormyr, o mago viu a luz tomar conta de tudo.
Rock dos Lobos sonhou com o Abismo. Ele via seu senhor, Malkizid, o rei marcado, dominando os demônios com mão de ferro, preparando um exército que lançaria contra o demais lordes demoníacos. Ele impunha sua força para controlar todo aquele caos e aquela maldade.
Daphne da Grande Floresta ao contrário dos demais, não foi tragada para um mundo de sonhos. Ela tornou a ver-se como uma criança sentada sobre a cabeça da serepente Dendar, como se nunca tivesse saído dali.
- Você pissscou - brincou a serpente infindável. - Ssseja bem vinda de volta...
- O que está havendo? Como voltei para cá?
- Vosscê nunca saiu daqui, crianssça.. - pareceu divertir-se a serpente, que parecia seguir em seu ondular perpétuo, enquanto a atenção de Daphne era atraída para os infinitos mundos em suas escamas. A druida pode ver a alma de Melegaunt Thantul vagando pelas Planícies Cinzentas e clamando pelo nome dela. Viu também os deuses élficos reunidos ao redor de Bibiana Crommiel. Reconheceu Malkizid impondo-se como senhor do abismo. Viu tudo isso e muito mais do que sua mente conseguia abarcar. Daphne e Ehtur por sua resistência superiores foram os primeiros a serem acordados. Eles encontraram Sparrow Eagle e Volcana Boaventura, que trouxeram informações. Volcana pretendia retornar para o reino das fadas para trazer Timothy Hunter. Sparrow informou a druida das notícias da Grande Floresta, onde um grande conselho se reunia junto ao treant Turlang para deliberar sobre a queda de Nova Netherill.
Os demais heróis, um a um, foram juntando-se a eles, com exceção de Rock dos Lobos e Sirius Black. Úrsula foi a responsável por levar o baú até o altar quando o ritual pode ser iniciado. O sumosacerdote Aspirah Ébrius deu início à consagração que expurgaria o mal com a graça dos deuses e com a energia do povo élfico.
Sirius Black aguardava Annia se aprontar para se unir aos demais. Rock dos Lobos ouvia de Marissa que os elfos das estrelas se uniriam a Bibiana e passariam a viver com os demais elfos como um só povo. Satisfeito com essa notícia, a chave dos planos resolveu usar seus poderes e levar todos até Evereska.
Com as explosões positivas do ritual, não havia mal que permanecesse. Os clérigos convergiram toda aquela energia sobre o cetro de Orcus que jazia deitado sobre o altar. Durante horas, as forças do bem e da pureza lutaram para avançar sobre o mal e a vilania do artefato. Os gritos do item mágico ecoavam na mente daqueles que já o haviam tocado e fazia a própria película entre os planos reverberar. Por fim, a gema esmeralda em forma de crânio em seu topo tornou-se cristalina como um diamante. O corpo negro do artefato tornou-se prateado e gracioso como se fosse feito pelos antigos elfos de outrora.
Diante dos olhos surpresos de todos, a gema purificada deixou escapar um pequeno feixe de luz branca. A alma de Yorgoi Dossantis surgiu diante deles com o ar sôfrego, mas aliviado, de quem enfim encontra o merecido repouso.
- Obrigado, meus amigos.. - acenou a pequena alma antes de desaparecer rumo às Planícies Cinzentas.
Os corações de todos sentiram um certo alívio, enquanto alguns olhos deixaram as lágrimas misturarem-se ao canto nobre dos elfos ao redor. Se não tinham a pedra, ao menos tinham salvado um amigo.
Para aumentar o deslumbramento deles, foi a vez de verem surgir uma bela mulher. Reconheceram Bibiana Crommiel, muito embora, agora, ela fosse muito mais do que a elfa que eles haviam conhecido. Vendo o povo se curvar, ela os impediu.
- Não se curve, meu povo, nem diante de mim, nem de ninguém. Chegou ao fim o tempo de nos curvarmos. Somos agora todos como se um fossemos. Meus amigos.. é tão bom vê-los.. - ela disse abraçando os aliados mais próximos. - Venho de uma reunião com todo o panteão dos deuses élficos. Apresentei a eles, que são deuses vindos de outro mundo como nossos primeiros ancestrais, as necessidade desse mundo e de nós aqui nascidos. Nosso povo chegou aqui estrangeiro, mas depois de 30 gerações já tem suas raízes ancoradas nessa terra nutritiva. Não é mais tempo de fugas ou partidas, não é mais tempo de divisões e bairrismos. Todo o panteão concordou em retirar-se e retornar aos seus antigos lares. Enquanto isso, nós ficaremos e construiremos nossa identidade marcada pela vida que aqui semeamos. Todos os elfos serão como um só, para consigo e para com esse mundo. Eu, Bibiana Crommiel, serei mestra e aprendiz nessa caminhada, serei guia e serei serva de vossas necessidades, mas garanto que não deixaremos esse mundo sem o toque saudável de nosso cuidado.
Como que corroborando as palavras da deusa, todos viram surgir entre eles os elfos das estrelas, como que surgidos do nada. Marissa, que vinha ao lado de Rock dos Lobos, ainda desnorteado pelo esforço, dirigiu-se à deusa, mas também foi impedida de ajoelhar-se.
- Minha senhora Bibiana, receba a fidelidade e adoração de meu povo.. seu povo.. nós que fomos chamados de elfos da estrelas, mas que abrimos mão de nossas graças em nome da união de todos.
- Que assim seja.. - disse Bibiana afagando o rosto de Marissa com ternura. - Uma nova Era para nós e para esse mundo que acolheu nossos ancestrais antes dos impérios e das guerras. - Mesmo os contidos elfos lançaram gritos de celebração com aquelas palavras.
A deusa dos elfos caminhou até o altar e tomou para si o Cetro de Bibiana. Entregou-o a John Falkiner, seu escolhido. Informou a todos que o regente Rhange estava além do alcance de todos agora e que a cidade passaria a ser comandada por Aspirah Ébrius, causando certa revolta a Annia, que chegara com Sirius. A bela elfa, no entanto, não ousou prolongar os questionamentos à deusa.
Bibiana Crommiel despediu-se de todos e regressou ao seu reino, onde muito aguardava para ser feito. Assim, como muito havia por ser feito em Faerun.