Arnoux Suarzineguer não podia dizer que aquilo era o que ele pretendia em se tratando de estar por dentro do dinheiro. Mas ao menos era melhor do que viver nas entranhas do maldito phaerimm que sugou sua alma. Aquilo o tragou e foi como um piscar de olhos.. como deixar de existir.. como morrer, mas pior. E então ele surgiu.. ou ressurgiu.. quer dizer.. viu-se sendo alguma coisa de novo, mas dessa vez, contido numa pedra vermelha.. um rubi, ele imaginava, dado o grande valor da alma a ser guardada.
Só fazia pensar em Úrsula e em seu filho.. já teria nascido? Como estariam? Com ele preso, quem estaria protegendo a indefesa Úrsula? É claro que ela sabia disparar algumas flechas, mas sem ele para defendê-la do mundo o que seria dela? Era tudo culpa dele.. foi ele quem a roubou de sua família, de sua comunidade e de sua vida pacata com promessas de amor eterno e emoções sem igual. Acabou deixando-a grávida e no meio de uma guerra de elfos e monstros devoradores de magia.
Pelo mundo refratado na gema, o gnomo pôde enxergar o mundo lá fora. Não sabia quanto tempo se passara, mas reconheceu o excêntrico mago Rhage Hesysthance Sorrowleaf. Ele olhou a gema por algum tempo antes de cravá-la em seu cajado.
Já havia algum tempo que Arnoux estava ali, embora fosse difícil precisar o tempo nessa prisão. O marido e protetor de Úrsula via muitas coisas e as vezes até escutava algumas coisas que o arquimago élfico falava, embora não entendesse a maior parte. Foi em um dia desses, em que as coisas pareciam agitadas e tudo movia-se bastante no espectro da gema, que Arnoux viu chegar próximo deles uma dupla estranha, um dos quais lhe parecia familiar.
- Eu não estou surpreso com essa visita, Byron.
- Eu o avisei dela há muitos anos, Rhange.
- Como vê.. as coisas estão melhores do que você previu, meu caro. Nem mesmo seu pequeno grupo de aventureiros foi capaz de mudar as coisas...
- Melhores para quem? Para nosso velho amigo Azrael Sulivan?.. Para sua esposa Isabeau?.. Para o bom povo de Soubar?.. As coisas não parecem bem, Rhange... para os habitantes que restam em Águas Profundas certamente não vão bem. Para mim.. um espírito encarnado ambulante.. estão longe do ideal. Nunca tive um grupo de aventureiros.. Rock, Sirius, Daphne e os demais fizeram o que destino esperava deles...
- Rock, Sirius e Daphne? - Estes nomes despertaram a total atenção de Arnoux na esperança de notícias de sua esposa Úrsula.
- Certamente não estão bem para Morpheus.. como pode ver, contratei seu antigo pessoal.
- Crufiel sempre fez o que precisava ser feito. O retorno de Morpheus está próximo.
- Claro, claro... mas você não veio fazer pregação, Byron.. então diga logo a que veio.
- Este que me acompanha é Paulo de Tarso, que esteve aprisionado comigo no Abismo e nas Planícies Cinzentas.
- É um prazer incomensurável conhecer o Grande Arquimago Rhange Hesysthance - disse Paulo numa reverência eloquente.
- Nós precisamos de dois tomos para entrarmos na Fortaleza da Vela.
- E por quê eu deveria dá-los a vocês?
- Não deve. Não precisa. Eu apenas preciso pegar alguns pertences que deixei aqui no castelo da falecida Isabeau.
- Será que suas histórias da carochinha e seus poemas burlescos serão suficientes para valer a entrada, seu velho fanfarrão perpétuo?
- Uma vez, um sábio elfo me disse que é preciso ser feito o que é preciso ser feito.
- Fique tranquilo. Eu tenho dois bons exemplares do Compendium da Ascensão de Evereska que você poderá usar. Desde a reunião da Assembléia Máxima na capital de Nova Netherill, recebemos chancela do próprio Príncipe das Sombras Telamont. Todas as bibliotecas de Faerun devem recebê-lo e conhecer a nova história que se escreve desse novo velho império. - Rhange Hesysthance mantinha o olhar arrogante, enquanto as pequenas gemas voadoras seguiam voando ao redor de sua cabeça. O velho elfo apoiou-se no cajado e fez sinal para que o clérigo de Morpheus esperasse. - Mas antes que se vá.. você sabe algo sobre Úrsula Suarzineguer, a gnoma que integrava esse seu grupo de aventureiros? Há muito tempo não tenho notícias deles...
- A última vez que a vi, estava sendo tragada viva pelas profundezas em Porto dos Crânios, o que acabou significando a morte para o restante de nós. desde que retornei das Planícies Cinzentas, não sei mais dela, pois Águas Profundas sucumbiu aos planos da Senhora da Escuridão. Com sua licença, regente..
- Úrsula? Aprisionada? Tragada viva? - Arnoux pensou desesperadamente que tinha que sair dali, embora não soubesse como.
Agora com o artefato nada pode mais conter o destino de todos os que caminham por estes reinos de incerteza.
ResponderExcluir