28 de nov. de 2012

Sob a montanha...

Úrsula foi a primeira a chegar lá, pois procurara pelo portal em meio ao lixo. O aposento era totalmente escuro e ela nada podia ver. Logo depois dela chegou Sirius Black, que trazia em si e nas vestes a luz sagrada de Selune. Com isso, já puderam ver os dois esqueletos humanos estendidos no chão. Ehtur surgiu trombando em Sirius. Um dos esqueletos vestia uma armadura de placas de bronze.. pesada, antiga e ultrapassada, mas ainda assim intacta. Estavam próximos a algumas armas. Ehtur Telcontar sentiu um cheiro de terra úmida. Leila chegou caindo sobre o guardião. Sirius e Úrsula perceberam que não haviam saídas dali. John chegou trazendo Rose Anne Amkathra com ele. Úrsula avançou e gritou a plenos pulmões:
- Halaster Mantonegro é o cara. - No exato momento em que Ryolith surgiu derrubando o clérigo e a feiticeira, uma passagem se abriu na pedra dando acesso a um corredor perpendicular em ambas as direções. Por prudência, o paladino cedeu um manto para abafar a luz de Sirius. Ele seguiu para a direita, enquanto o faro de Ehtur indicava que o ar fresco vinha da esquerda. O servo da natureza ainda estava contrariado com a mensagem arrogante de Costeau sobre Daphne e a Grande Floresta. Nem o druida, nem os paladinos de Tyr, o gnomo protetor da magia ou a serva de Selune apareceram.
Sirius Black não demorou a ver que o caminho que tomara dava para um salão e que todo o piso do aposento era uma armadilha que faria o teto esmagar quem entrasse lá dentro. Retornou até os demais e avançaram cautelosamente na direção oposta, de onde vinha a brisa.

Depois de algumas dezenas de metros, o corredor de pedra revelou uma porta a direita, além do corredor dobrar a esquerda mais adiante. Naquele ponto, Sirius percebeu que havia uma armadilha. Tentou evitá-la com um pulo para inspecionar a porta, mas isso revelou-se leviano e ele acabou sendo afetado por uma magia de Reversão da Gravidade. Úrsula teve o mesmo destino. Foi preciso que Leila Diniz intervisse dissipando a magia com seu poder arcano e inutilizando a armadilha por alguns minutos.
Como a porta era coberta de longos espinhos, preferiram seguir o corredor e a brisa. Ehtur acabou por encontrar alguns rastros de homens lagartos que passavam por ali com alguma constância e não eram antigos. Mais uma vez evitaram o problema e seguiram com o cuidado de inspecionar todas as opções com a pouca visibilidade. O aposento de onde vinha o cheiro de terra molhada também pareceu ao ladino uma armadilha e optaram por recuar. Preferiram, então, tentar a sorte com os homens lagarto.
Encontraram dois deles ocupados em uma divisão de objetos numa caverna que lhes servia de morada. Sem pestanejar ou entender o que diziam, Úrsula os fulminou com suas flechas causando estardalhaço. Dois outros levantaram-se e teriam o mesmo destino não fosse a intervenção dos demais colegas. Fizeram assim, um prisioneiro. Leila Diniz usou de seu melhor dracônico para extrair informações do humanoide de sangue frio com o auxílio do temor que sua condição de morta-viva causava nele. O homem lagarto de nome Uruk nada sabia sobre Halaster Mantonegro ou o aposento que Úrsula pretendia achar.
Desanimados com os insucessos e com aquele labirinto repleto de ameaças, o grupo viu uma nova luz no fim do túnel quando John Falkiner clamou pelos poderes de Kelemvor para achar o caminho. Sua fé o guiou de volta para a porta de ferro que não cruzaram. Continuavam impossibilitados de abri-la no entanto. Ali o homem lagarto aproveitou para fugir, sem saber que apenas corria para morte certa na armadilha da próxima sala onde o teto lhe esmagaria.
Sem alguém com habilidades ladinas para abrir portas, o grupo se via impossibilitado de passar. Tiveram de recorrer à magias de teleporte. Com a benção do fogo da lua, Sirius levou Úrsula e Ehtur para o outro lado com um pensamento. Quando Falkiner fez o mesmo, no entanto, seus poderes não funcionaram. O clérigo sabia que não fora a falta da fé ou da magia que respondia a ela. Logo percebeu que as formas tradicionais de magia de teleporte não eram permitidas sob a montanha. Mais uma piada do mago louco certamente.
John Falkiner avisou aos demais que precisaria preparar suas preces para poder levar o grupo para o outro lado e todos concordaram em descansar. Ryolith Fox ficou vigilante do lado anterior à porta, enquanto Falkiner, Rose Anne descansavam e Leila Diniz entrava em algum tipo de transe. Do outro lado, os outros três membros daquele grupo inspecionaram as proximidades antes de começar a descansar. Eles acabaram encontrando um aventureiro perdido de nome Moadib da tribo do Fantasma da Árvore. Assim como o finado Rock dos Lobos, ele era um bárbaro do norte, muito embora sua tribo vivesse mais próxima à Grande Floresta do que nas planícies geladas. Enquanto esperavam ali, ele relatou todo o seu infortúnio.


Moadib adentrou as masmorras sob a montanha com um grupo de colegas aventureiros. Seus companheiros eram Raz Al'Goul, um feiticeiro de Calimshan, Guybrush Treepwood, um pirata de Mar das Estrelas Caídas, Ravena Eagle, uma elfa verde arqueira da Grande Floresta.e Thorak Hammerfall, um anão clérigo de Moradin. Estavam em busca de um poderoso artefato chamado o Martelo de Moradin, que segundo o anão ia trazer a paz e a união pro norte, iluminar as cavernas escuras e sempre deixar a cerveja gelada..
Fato é que não muito avançaram naquele nível, que era o terceiro, depois de cruzar os dois níveis anteriores com relativa facilidade. Acabaram derrotados por um vampiro de nome Thelarin, que comandava um grupo de mortos vivos. Os poderes divinos do clérigo e as magias do feiticeiro os estavam mantendo no combate, mas o que os pegou despreparados foi o surgimento de uma medusa. Ela conseguiu petrificar seus camaradas e apenas ele havia conseguido escapar. Já não sabia dizer a quanto tempo estava vagando pelas masmorras sobrevivendo como podia e sem conseguir escapar. Um ano.. talvez mais.
Ficara limitado durante bastante tempo a uma pequena área até compreender como desarmar algumas das infindáveis armadilhas que haviam por todos os lados. Apenas recentemente começara a vir nessa direção e fora atraído pelo barulho. Alertou-os que havia uma grande quantidade de kuo-toas a sul dali, uma raça de seres peixes subterrâneos. Teceu alguns comentários sobre o quão arriscado era aquela luz constante de Sirius mesmo que abafada, antes que as notícias do mundo lá fora trouxessem grande pesar ao seu coração.
Surpresa tiveram quando a porta de ferro tombou subitamente. Puderam ver o luminoso e imorrível Francisco Xavier, que mais uma vez voltara em sua missão de proteger Leila Diniz e Sirius Black. Ele usou suas magias para moldar a pedra ao redor da porta e levá-la ao chão. Mesmo reunido, o grupo ainda precisou descansar, enquanto o novo bárbaro tentava assimilar todas as notícias que recebera.
Várias horas depois, quando se consideraram preparados, partiram mais uma vez guiados pelo caminho indicado pela fé de John Falkiner. Dessa vez viram-se conduzidos em direção a uma escada. Antes que terminassem de subi-la, no entanto, já viram a imensa massa gelatinosa que despencava degraus abaixo. Leila e Francisco lançaram bolas de fogo, mas a criatura acéfala e gosmenta parecia também resistente a magias. Ela conseguiu fagocitar Sirius, Moadib e Úrsula antes que pudessem escapar, drenando-lhes a energia vital e dando a sensação de que seus ossos seriam arrancados de seus corpos pelos poros. Foi Ehtur Telcontar que com convicção e coragem interpôs-se entre a monstruosidade e os demais, conseguindo conter seu avanço. Isso bastou para que Xavier conjurasse uma parede de força mágica, que conteve o avanço da massa amorfa. Enquanto Sirius aproveitava para teleportar-se com a graça de Selune para fora da besta, levando seus dois companheiros, Leila e Falkiner ampliaram seus poderes para vencer a resistência mágica da criatura e destruí-la sem deixar rastros.
Enquanto gastavam algum tempo recuperando os danos causados ao trio furtivo, uma nova surpresa. Das trevas, tal qual o fazia Sirius Black num passado recente, emergiu Rock dos Lobos. Ele se manifestou uma vez mais entre eles, dizendo ter sido salvo por um solar de nome Malkzyd. O poderoso celestial o enviara com a missão de espalhar sua palavra e reverter todos os problemas que se davam no plano material, pois os líderes dos planos celestes não eram tão confiáveis assim. Vendo ali um bárbaro do norte como ele, pode explicar-lhe melhor o que se dera com os povos nômades no último ano.
Mesmo ressabiados, todos tornaram ao caminho e isso os levou a uma porta. Ehtur reconheceu a língua aquática dos kuo-toa como alertara Moadib. Francisco Xavier usou de seus poderes para disfarçá-los sob a ilusão de serem um trio de kuo-toas. Mais uma vez Sirius recorreu à magia da lua para levá-los ao que mostrou-se um templo dos homens peixe que Ehtur e Moadib identificaram como Kuo Toas. Apesar da escuridão identificaram que haviam escravos humanos presos ali, amarrados a pilastras. O bando das criaturas saiu pela porta deixando apenas um vigia para trás que eles não demoraram a eliminar, pegando as chaves e abrindo caminho para seus amigos.



21 de nov. de 2012

Decisões

Úrsula começou a nadar, mas estava bastante longe da costa. Ninguém em nenhum dos muitos navios que passavam lhe deu qualquer atenção. Ela nunca foi muito forte, gnomos nunca tiveram na natação uma prática esportiva e as correntes marinhas terminavam de tornar o avanço da gnoma praticamente nulo. Depois de extenuantes minutos, ela percebeu alguns vultos subindo das profundezas. Tentou escapar deles, mas isso não estava realmente ao seu alcance. Assim sendo, ela viu surgirem quatro criatura humanoides com guelras e nadadeiras. Pareciam algum tipo de elfos aquáticos. A língua que eles falavam também soava como elfo e assim sendo, Úrsula tentou comunicar-se na língua das fadas. Para sorte dela, a mulher que fazia parte do grupo entendeu o que dizia.
Ela explicou que eram elfos marinhos e que tinham um acordo com Águas Profundas. A vila deles ficava lá no fundo do mar e haviam se dado conta de que algum problema se dava aqui em cima. A elfa estava aterrorizada com a montanha de trevas sobre a Cidade dos Esplendores e ficou ainda mais intranquila quando Úrsula disse que aquilo era obra de Shar. Mesmo temendo aquelas trevas, os elfos do mar concordaram em levar a gnoma até a praia e se despediram lhe dizendo que iriam para o oeste.

A poucos metros das densas trevas, os amigos viram chegar Ehtur Telcontar, acompanhado do druida Costeau e de Francisco Xavier. John Falkiner trazia Daphne em seu ombro e a colocou no chão quando o guardião falou. Ryolith protestou, mas Ehtur não deu tempo para discussão e encostou um pequeno graveto que trazia na amiga. A druida se transformou em um emaranhado de ramos, que se desfizeram incorporando-se à terra. Todos se escandalizaram com mais aquela ação abrupta do servo de Miellikki, mas Costeau explicou que isso a enviou para a Grande Floresta. O local onde poderia ser realmente curada e onde ficaria livre da influência negra deles. Francisco Xavier se entregou as orações, buscando na sabedoria de Oghma uma resposta para tudo aquilo.

- Antes da chegada de vocês, Daphne era uma boa moça.. nada dessa vida aventureira e moderninha..
- Não temos tempo para isso, velho druida.. onde está Úrsula? - interviu Ehtur.
- Ela está morta.. já era.. caput.. finito.. - disse Sirius.
- Como assim?
- Atacada por um crânio voador flamejante.. - explicou Falkiner.
- Vocês foram até Porto dos Crânios?
- O mesmo que nos atacou.. - completou Ryolith.
- Na verdade, ela está aprisionada por uma poderosa magia. - tomou a palavra Leila Diniz. - Nem mesmo um desejo ou um milagre podem salvá-la. Apenas uma outra magia, igualmente poderosa, chamada Liberdade pode liberá-la.. e se for dada exatamente no mesmo lugar. Com a falta da magia sobre Águas Profundas, temos que não haja possibilidade de libertá-la.
Enquanto essas palavras eram trocadas, John Falkiner deixou a conversa, pois escutou uma mensagem mágica chegar até seu ouvido: "John, surgiu um segundo sol em Suzail. Clérigo de Lathander Orndeir clama ser arauto de Amaunthor, antigo deus sol Netheril. Expulsou sombras, monstros, libertou arredores".
- Não demoraremos a voltar. Águas Profundas está tomada pelas trevas de Shar. Estamos a caminho... - foi a resposta do clérigo de Kelemvor, que logo explicou aos camaradas o que havia se passado.
- Notícias de minha amada pátria Cormyr.. temo que não possamos perder mais tempo aqui, meu amigo - disse emocionado Ryolith Fox. - Já é hora de voltarmos pra casa!
- Creio que sim. - concordou Falkiner - Mas veja.. há um grupo de quatro cavaleiros que se aproxima pela estrada.
- É melhor passarmos pela Grande Floresta e vermos como Daphne está.. - acrescentou Sirius. - Não faz sentido ficarmos aqui.
- É praticamente caminho.. - concordou Ehtur abrindo um sorriso. - Há lá algo que vocês precisam ver...
Enquanto conversavam, viram os quatro cavaleiros se aproximarem. Mais à frente, vinham duas figuras imponentes e bem armaduradas. O homem era bastante velho e tinha um ar simpático, não parecendo mais talhado para as batalhas. A mulher tinham uma feição bela e severa, que se tornava intimidadora pela grande cicatriz que lhe cobria o olho direito. Ela também não possuía a mão direita. Ambos traziam as insígnias do deus da justiça, mas só a mulher ostentava as mesma chagas que Tyr.
Logo atrás deles, vinham um cavalo menor e um pônei. No cavalo estava uma bela meio elfa, vestindo trajes mais leves. Os cabelos pretos e olhos azuis, combinados à pele morena, chamavam a atenção, ainda que não a fizessem atraente. Sirius não deixou de notar o óculos barroco utilizado pela mulher, idêntico aos olhos de Selune, a deusa da lua, em seu símbolo sagrado, que a moça também trazia pendurado no pescoço. No pônei vinha um gnomo, muito alinhado e perfumado.
- Saudações, servos de Tyr. Eu sou Ryolith Fox, martelo da justiça de Cormyr.
- Saudações, martelo de Tyr. Eu sou sir Gareth Cormaeril, juiz da ordem sagrada dos Cavaleiros de Samular, e esta é lady Éris Helena, justiceira de nossa ordem. Nós voltamos para casa depois de uma longa viagem desde Lua Prateada. Encontramos terror e medo a afugentar os viajantes, mas não pudemos deixar de vir em socorro de nossa amada cidade.
- Eu e meu amigo Falkiner somos embaixadores de Cormyr, caro juiz, mas podemos lhes dizer que são as trevas malignas de Shar que estão por trás desta terrível maldição. Além de uma escuridão terrível, nenhuma magia ou poder mágico se dá no interior da cidade.
- Se não houvesse tanta tolerância e paciência com os criminosos, Águas Profundas não estaria assim. - disse lady Éris com raiva, atraindo ainda mais a atenção de Ryolith.
Enquanto isso, Sirius não parava de trocar olhares com a serva de Selune, que se adiantou a descer do cavalo e vir na direção dele. - Eu vejo você. Eu venho atrás de você desde seus sonhos com lady Alustriel.
- Uau.. então você tá um pouco atrasada, não é mesmo? - disse Sirius com bom humor.
- Antes de desaparecer, a rainha me mandou um pensamento. "Procure Sirius Black.. ele é a solução". Eu sou Kiriani Agrivar.. sou meio irmã de Alustriel.. sou uma serva da lua e sei que é você que pode nos salvar...

- Você não é a primeira a procurar salvação nesses braços, meu bem. Infelizmente, como pode ver atrás de mim, a escuridão anda tendo progressos significativos e Selune continua morta.
- Mas você pode trazê-la de volta, Sirius. Alustriel me garantiu que você era a solução. Através de você, nós podemos trazer Selune de volta.. - entusiasmada, ela retirou os óculos e os ofereceu ao ladino. - Aceite o poder de Selune.
Com relutância, Sirius colocou os óculos. Assim que os recebeu, ele sentiu uma força invadi-lo, como se expurgasse as sombras de seu íntimo. Dessa vez, Sirius Black não lutou contra aquilo. Ele sentiu as forças purificadoras expulsarem o que restava-lhe de conexão com o plano das sombras. Ali, diante dos olhos de todos, Sirius Black ressurgiu como um novo homem, como um homem purificado, que deixava o plano das sombras para trás.
- Ainda não é tudo.. - disse Kiriani amparando-o. - A deusa da lua reservou uma benção ainda maior para ti, Sirius. Ela mandou o fogo da lua para você. Essa é uma graça única de Selune. Está além da magia e da Weave.. é um poder sagrado vindo direto da mãe de toda a vida. - E ela entregou para o ladino um grande vaso repleto de um gel branco e brilhante.
Sem exitar, Sirius Black banhou-se com aquela energia sagrada. Conforme era coberto pela massa gelatinosa e luminosa, aquilo era absorvido por suas roupas, armas e corpo. Sirius sentiu uma conexão profunda com a deusa da lua, sentia-se próximo dela como nunca antes e uma longa esperança de trazê-la de volta. Nem mesmo as trevas de Shar o impediriam. A lua ia voltar a nascer.
O gnomo partiu com seu cavalo enquanto Sirius Black passava por sua transformação. Assim como alguns dos demais, ele avistara uma gnoma que se aproximava vinda do mar. Da maneira mais garbosa e heroica possível, ele cavalgou e ofereceu carona para a molhada gnoma. Úrsula rechaçou o convite e os gracejos do fanfarrão.
- Não se ofenda, ó bela dama. Estendo-lhe apenas um assento em minha montaria. Banco de couro.. turbinado..  meu nome é Dorgafal Rochatreme.
- Com licença.. eu tenho que encontrar meus amigos e..
- Eu posso levá-la até eles.
- Com licença, eu sou casada e tenho um filho.
- Mas onde está esse seu marido? Eu sou um dos guardiões da teia mágica. Não sei se você capta a profundidade disso, gata, mas eu sou um dos responsáveis por manter a magia funcionando.
Úrsula Suarzineguer foi recebida com alegria pelos companheiros e contou tudo sobre o resgate por Halaster Mantonegro fazendo questão de ignorar o persistente gnomo. Aquele nome trouxe preocupação ao coração de todos ali que haviam vivido em Águas Profundas. Sirius, Gareth e Éris sabiam que o arquimago louco que vivia sob a montanha era uma força do caos, de poder incomensurável. Ele vivia a séculos nas masmorras Sob a Montanha. Mães contavam histórias aos seus filhos para assustá-los de que o mago louco viria pegá-los. Aventureiros destemidos se atiravam nas masmorras infestadas de monstros que ele cavara sob a cidade.
- Eu consegui chegar até aqui porque um dos aprendizes dele me libertou por um portal.. ele pediu que eu salvasse uma mulher.. uma tal Rose Anne Amakathra.. parente da Daphne, eu imagino... - Interrompendo Úrsula e atendendo às preces de Francisco Xavier, eles viram surgir um pequeno ser de luz. A criatura celestial era um pequeno globo flutuante com um palmo de diâmetro.
- Eu fui enviado por Oghma para findar suas dúvidas e satisfazer sua sede de conhecimento, Francisco Xavier. Meu nome é Pac..
- Que a graça da sabedoria infindável do senhor do conhecimento nos cubra. Diga-me brilhante Pac, por que as criaturas que eu convoco para esse plano para servir a Oghma não aceitam esse destino?
- Não é seu dever questionar tais desígnios, quando a própria realização do mesmo é a resposta de Oghma.
- Devo desistir?
- O que deve ser, será, pois uma vez sendo, é apenas aquilo que poderia ter sido.
- Eu conheço você, celestial. - interviu o bárbaro Rock. - Eu sonhei com você. Você me guiou pelos Sete Céus.. pela Cidade de Prata.
- Eu também fui enviado para anunciar-lhe, Francisco Xavier, que os Sete Céus estão sob ataque. Orcus e sua horda abissal conseguiram abrir as entradas dos planos e tudo que há de mais puro e verdadeiro encontra-se ameaçado. Apenas uma solução é possível para findar tal malefício.
- O que?
- É preciso que este rapaz, conhecido com a chave dos planos seja eliminado para que os portais se fechem.
- O QUE?!? Ei, por que estão me olhando assim? - disse Rock vendo os olhares de Francisco e de Ehtur em sua direção.
- Você não entende, Rock.. a passagem é sempre difícil.. - disse Francisco preparando os gestos mágicos.
- Eu matei a mulher que amo, rapaz. Não terei problemas em matá-lo para concertar as coisas - disse Ehtur levantando a lança.
- Nós estivemos no reino dos mortos.. nas Planícies Cinzentas com ele.. e isso não impediu que sua versão sombria abrisse portais. - interviu John Falkiner.
- Com licença, celestial, eu também sinto-me responsável por ter liberado a força sombria do jovem rapaz. Talvez haja algum outro jeito... - ponderou Sirius Black.
- Este é o jeito mais rápido - respondeu Pac.
- Eu não aceito isso!
- Rock, todos nós em algum momento fizemos a passagem. Parece difícil no princípio, mas você encontrará paz e conforto.
- Eu não vou morrer.. não vou sacrificar minha vida...
- Rock.. desde que nos conhecemos a 4 dias.. você me fala insistentemente que o maior dos problemas é a invasão dos Sete Céus comandada por Orcus e sua contraparte sombria. Você disse para todos que deveríamos nos dedicar a isso e não às outras demandas. Ainda assim, agora que é oferecida uma solução, você se recusa a colaborar.. - avaliou Falkiner.
- Eu não vou morrer pra salvar os Sete Céus! - Rock afirmou com raiva, enquanto conjurou duas muralhas de fogo ao seu redor para lhe proteger.  Diante de suas palavras, o celestial Pac se foi.
- Vocês não podem matar esse jovem inocente.. é assassinato! - Interviu sir Cormaeril, o velho servo de Tyr.
- Cale-se, velho. - Perdeu a paciência Ehtur.
- Essa é a lei de Águas Profundas, andarilho.
- Tecnicamente não estamos em Águas Profundas... - desconversou Sirius, enquanto percebeu o medo se alastrando. Com a bravura que emanava dos paladinos, todos resistiram àquele temor supernatural com exceção do já assustado Rock. O ladino viu problemas maiores que a moralidade estagnada de um paladino crescendo no horizonte. O problema era vermelho, voador e vinha numa velocidade absurda. Ele ia ficando cada vez maior e chegaria ali em poucos segundos. A mensagem mental que o dragão enviou os manteve esperando. Pouco puderam fazer antes que o maior dragão vermelho que já haviam visto, colossal como um morro pousasse diante deles. Ehtur tentou imaginar sua idade pelo tamanho e pensou se não estaria diante de um dragão tão antigo quanto o mundo.
- Meu nome é Imvaernarho, mas vocês podem me chamar de Inferno como mais facilmente pronunciam suas mandíbulas símias. Eu estou aqui como um fiel servo da divindade da magia e trago alertas sobre esse câncer que temos diante de nós.
- És um servo de Mystra?
- Não dessa forma de Mystra que vocês mortais conhecem. Eu sirvo à força primeira da magia que está agora em sua terceira roupagem. Suas mentes tem dificuldades para abarcar um conhecimento tão vasto. Eu sirvo às forças primeiras da magia que animam a existência a muito mais tempo do que vocês perceberiam como possível. Há muito tempo, quando do eclipse, a deusa das trevas Shar lançou mão de um plano para obliterar a existência. Um ritual profano e ancestral. Quando as suas forças foram liberadas sem a conclusão devida, isso frustrou seus planos, mas não era o fim. Com a chegada dessas forças nefastas até aqui, isso lhe permitiu fazer o que era possível. Ainda que esta chaga tenha devorado apenas a chamada Cidade dos Esplendores, isso se dá apenas por hora. O câncer irá se expandir se nada for feito e no devido tempo, todo o mundo será abarcado.
- Mas o que deve ser feito?
- É necessário que um artefato chamado Cetro de Lathander seja recuperado. De posse dele, pode-se destruir o altar de Shar onde o ritual foi realizado, além de executar sua sumosacerdotisa Roberta e seu sacerdote Torpinson, os operadores de tal maldição.
- E onde está o cetro?
- Ele está com Halaster Mantonegro Sob a Montanha. Cabe a vocês procurá-lo e...
- Halaster foi encontrar Roberta. Ele me disse isso antes de partir.. queria resolver algo com os servos de Shar... - interrompeu Úrsula depois de escutar a tradução das palavras do dragão feita por Ehtur.
- Então cabe a vocês chegar às masmorras Sob a Montanha e recuperar o artefato. Eu não terei oportunidade de lhes ajudar, pois isto está além de minha missão aqui.
- O aprendiz disse que eu poderia retornar caso recuperasse uma mulher chamada Amkathra. Haveria um portal...
- Eu posso nos levar até lá.. até a mansão dos Amkathra. - disse Sirius.
- Temos que resolver o problema da passagem de Rock. - lembrou Francisco.
- Destruir o rapaz não é a única solução. Ele sequer está vivo. Ajudar os Sete Céus não é a solução real. O deus do conhecimento apenas lhes propõe a solução mais fácil. Que céus são esses que não se defendem de hordas infernais? Se ele for morto, será uma morte definitiva, pois não é mais do que uma alma em estado material, físico. Assim como o companheiro imorrível.. mas uma alma neutra. - Enquanto o dragão falava, Francisco Xavier aproveitou para lançar uma magia de enervação no bárbaro através de uma mão de força mágica. A mão atravessou as muralhas de fogo e precisou apenas encostar no bárbaro para drenar sua força vital.
Rock revidou disparando uma bola de fogo que atingiu a quase todos ali. O descontrole do jovem bárbarou terminou de minar o apoio que ainda lhe restava. Isso bastou para que Úrsula o fustigasse com suas flechas matadoras de magos, mas também de feiticeiros. Ehtur correu para terminar o serviço sujo, mesmo sendo queimado pelas muralhas de fogo. Quando o corpo do bárbaro tombou, ele se desfez como se não houvesse corpo para restar.
- Ainda assim, vocês devem se adiantar se querem evitar que o problema se amplie. Mesmo meus poderes ancestrais são limitados pelas forças tenebrosas de Shar..
- Nos ajude, grande lagarto. Deves ter algum poder ancestral útil num momento como esse...
- Não é este meu papel aqui, imorrível e...
- Pena que uma criatura tão grandiosa e antiga não seja mais do que um garoto de recados. Eu esperava mais de voc... - Francisco Xavier não pode concluir seu pensamento, pois o sopro do dragão derramou-se sobre ele como as lavas de um vulcão. Todos assistiram com assombro à cena. Nada restou do servo de Oghma.


- Sigam, aventureiros. Recuperem o artefato do sol e destruam o altar de Shar. - Com essas palavras, o dragão Inferno partiu na direção das Montanhas das Estrelas na Grande Floresta, perdendo-se no céu que já era tomado pelo anoitecer. 
Os paladinos concordaram em acompanhar o grupo, assim como a maga de Selune e o gnomo. Sirius Black os guiou escuridão adentro. O poder do fogo da lua não era desfeito nem mesmo no interior das trevas de Shar. Aqueles que ficavam contíguos a Sirius Black conseguiam enxergá-lo e assim avançam furtivos e com cautela.
Vista a 10 feet do Sirius
Tiveram de evitar patrulhas de sentinelas, que mesmo impossibilitados de ver vagavam pelas ruas de Águas Profundas. Com exceção disso, nada se ouvia. O faro aguçado de Ehtur sentia o aroma dos incensos e velas que vinham das casas. Avançaram até chegarem próximos da área nobre, mas ali perceberam que haviam barricadas e palavras de ordem era gritadas todo o tempo pelos guardas. Sirius preferiu evitar confusão e os guiou para o sul para darem a volta pelo porto.
Quando já ouviam as ondas misturadas aos gritos desesperados das pessoas no mar. Náufragos ou simplesmente desesperados que se atiraram nas águas, era impossível saber, mas as vozes davam um toque horripilante à escuridão por ali. Eles se viram atacados em meio às trevas.. aparições que drenavam suas forças. Sirius usou seu poder da lua para destruir o morto-vivo que o atacava e salvar Kiriani. John Falkiner conseguiu criar um instante de luz ao clamar pelas forças primeiras de sua fé em Kelemvor para banir dali os mortos-vivos. Ainda que só tenha destruído um deles, deu-se um fugaz brilho que lhes permitiu ver tudo por um instante.
Vista a 5 feet de Sirius
Após terminarem de se livrar das aparições, preferiram dialogar ao ver que o sul também era guardado por guardas. Estes, no entanto, concordaram apenas em deixar passar os paladinos. Aproveitando-se da escuridão, no entanto, Úrsula se esgueirou entre eles, enquanto Sirius usou do poder da lua para surgir do outro lado levando Kiriani. Logo chegaram ao palacete, onde foram conduzidos ao lorde Amkathra. A confusão era total e gritos eram trocados a esmo. Não havia sinal de diálogo ali e o Lorde apenas ocupava-se de tentar manter alguma autoridade. Os paladinos entregaram-se a tentativa vã de estabelecer algum diálogo e conseguir alguma colaboração.
Os demais não esperaram os ordeiros camaradas serem expulsos para saírem dali em busca de Rose Anne Amkathra. Guiados pelo nariz de Ehtur Telcontar, eles seguiram pelos corredores com a cautela de evitar os sentinelas. Chegaram a um aposento de onde emanava o aroma dos perfumes das várias damas ali escondidas. Não foi difícil passar dos dois homens que ali montavam guarda. Também não foi difícil convencer lady Amkathra, quando Sirius chegou perto dela e mostrou-lhe uma luz em meio à escuridão...








16 de nov. de 2012

Noite perpétua

Ehtur seguiu sua viagem com urgência pela Grande Floresta. Já faziam dois dias desde que se separara de Alissah e já se aproximava dos Picos Perdidos, as montanhas que divisavam o horizonte a norte. Precisaria cruzar o rio Dessarin para evitar a subida, mas esse era o caminho mais simples até o clã Eagle e o círculo druídico de Daphne. Por ali, ele acautelou-se ao ouvir vozes estranhas para uma floresta, vozes de anões. Ele não falava a língua dos anões, mas não era difícil reconhecê-la. Pelo timbre e tom pareciam ser quatro anões discutindo. O guardião seguiu furtivo buscando avistar os palavrantes. Quanto mais avançava, menos confiante ficava nisso, uma vez que as voz seguiam equidistantes dele. Pensou se não seria uma leucrotta ou alguma outra forma de ventriloquismo.
O servo de Miellikki buscou por rastros e não viu sinal de anões, apenas pegadas antigas de um grupo de humanos de cerca de um ano atrás sob as folhas. Os rastros levaram-no até uma gruta escondida entre as árvores. As vozes vinham lá de dentro agora. Mesmo desconfiado, Ehtur Telcontar resolveu adentrar com cautela. Antes que o fizesse, no entanto, um piado o deteve. Olhando na direção, ele viu uma pequena coruja. O pássaro se aproximou até pousar no ombro do guardião e evitar que ele continuasse. A coruja guiou Ehtur até um jovem druida.
Rapidamente, Ehtur descobriu que aquele rapaz imberbe era Police, sobrinho de Sting, falecido camarada de Daphne. Ele fora recentemente admitido ao círculo druídico durante a última passagem dela. Telcontar relatou o encontro com a colega no dia anterior e a necessidade de informar os outros druidas. Police gabou-se de seus talentos druídicos usando seus poderes para fazer com que as árvores carregassem a notícia. Além disso, ele aumento a velocidade com que viajariam. Nenhum desses truques de iniciante surpreendeu o guardião, que sentiu-se um pouco entediado com a tagarelice do jovem servo da natureza.
Depois de algumas horas de viagem, após já terem deixado as águas do rio Dessarin para trás, o velho e sábio druida Gaios surgiu diante deles emergindo de uma árvore. Ehtur Telcontar não perdeu tempo e relatou tudo que se passara, trazendo preocupação para o velho servo de Silvanus. Se Águas Profundas era o destino de Daphne possuída que estava pela força sombria de Shar, ele devia ir até ela resgatá-la. Os druidas ainda estavam às voltas com os ataques de Nova Netheril e com a área de antimagia, mas não podiam abandonar um dos seus membros. Police iria acompanhá-lo.
Ehtur lembrou ao velho druida que sua missão ali ainda era avisar ao clã Eagle do que se dera com Alissah.  Sem demora, Gaios convocou um pequenino pássaro que por ali passava. Este pousou calmamente em seu indicador e o druida pediu que Ehtur repetisse a mensagem. Qual não foi a surpresa do guardião quando a pequena ave não só repetiu a mensagem, mas com a voz do próprio Ehtur. Depois disso, ela voou rumo ao norte e eles seguiram. Ao chegarem à periferia da floresta, no entanto, eles puderam ver que tudo era mais grave do que pensavam.

Daphne empalideceu diante daquele anúncio, enquanto os guardas da cidade cuidavam de espantar a população que se aglomerava ao redor dos templos. Ela ainda não estava totalmente recuperada da possessão tenebrosa e agora era assaltada pela notícia que seu vil e escravocrata pai era o novo Lorde Público da Cidade dos Esplendores. Embora a notícia não atingisse a todos os seus colegas da mesma maneira, estes sabiam pela conversa que haviam tido com o lorde burguês Mirt que isso não era um bom sinal.
O sumosacerdote Melegost Vestrelas, no entanto, não parecia de forma alguma preocupado com aquilo e insistiu que Leila "o corpo de Mystra" Diniz devia acompanhá-lo até seus aposentos para que ele pudesse tratar sua condição com a graça da deusa da magia. A morta-viva resistia à ideia, assim como Francisco "seu protetor" Xavier, que não confiava em deixá-la à sós com esse estranho sumosacerdote. Enquanto isso, Lorde Byron despediu-se deles e saiu dali sendo acompanhado por Paulo de Tarso e indo ter com os guardas locais. Ryolith Fox e John Falkiner também deixaram o templo preocupados com o que se dava do lado de fora. Já Sirius Black e Rock dos Lobos permaneceram dentro do templo acompanhando a druida no aturdimento.
Melegost lembrou a todos ali que ele fora o responsável por libertar Sirius "você não era um ladrão da sombra?" Black da maldição imposta por Shar e retirar as trevas negras da druida de cabelos vermelhos. Com essas palavras, a feiticeira Leila ponderou sobre sua condição e mesmo com resistência, acreditou no que ele dizia e aceitou acompanhar Melegost. Do lado de fora, os embaixadores de Cormyr assistiam as ruas serem esvaziadas e os caminhos ficarem livres não só ali, mas também ao redor dos outros grandes templos próximos como os de Tyr e de Gond. Lembravam-se com preocupação que as trevas expurgadas de Daphne não haviam sido destruídas, mas sim  desaparecido cruzando o chão. Daphne era amparada por Sirius, que também não estava de todo recuperado. Rock dos Lobos continuava a pensar sobre como era possível que estivessem vivos se não haviam sido ressuscitados.. se haviam apenas cruzado um portal entre os planos.. e qual teria sido o destino do exército de Orcus e sua contraparte maligna. Havia muito mais em tudo aquilo.

Subitamente, as ponderações e temores deram lugar ao terror, quando as trevas se fizeram totais como se toda a luz simplesmente deixasse de existir. Iniciativas de gerar magias luminosas logo revelaram sem sucesso. Outras tentativas de feitiços e preces confirmaram que a magia não mais funcionava. Não só magias luminosas foi o que descobriram a seguir.. toda a forma de magia e até mesmo habilidades extraordinárias dependentes dela. Todos ali, cada qual a sua maneira, deram-se conta de que um mal maior se dera e buscaram se reagrupar, retornando ao interior da Basílica de Mystra. Daphne havia perdido os sentidos e Francisco não parecia estar em parte alguma. Conseguiram se reunir no saguão do templo, esperando algum tempo até o retorno de Leila Diniz. Sem sinal de Xavier e carregando sua amiga druida, Sirius Black lhes garantiu que poderia guiá-los e retirá-los dali, afinal de contas conhecia as vielas de Águas Profundas como ninguém. Sem magia e sem enxergar nada não viam outra solução. Deixaram o templo agrupados e com cautela.
Durante o caminho escutavam os gritos e preces desesperadas, mas contaram com a sorte das ruas estarem esvaziadas. Apenas os guardas e os cidadãos mais ousados ainda buscavam deixar as ruas na vã esperança de encontrar abrigo livre do que quer que fosse aquilo. Foram preciso algumas horas para que chegassem até a muralha leste da cidade, um caminho que antes fariam em poucos minutos. Lá acabaram atacados por uma criatura gelatinosa e escorregadia, que espreitava nas trevas. O ser ameboide lhes feria como ácido,  corroendo-lhes roupas e armaduras. Ele era pouco afetado por ataques e conseguia agarrá-los, já tão próximos do portão desprotegido da cidade.

Centenas de metros abaixo dali, Úrsula sentiu seu corpo ser puxado como quando fora tragada pela terra. Apesar da escuridão ser total, ela sabia que estava livre. Não conseguia ver nada, mas ouvia uma respiração próxima, que foi seguida de uma voz rouca e cansada, além de surpresa.
- Uma gnoma? Eu certamente esperava algo mais grandioso preso por um efeito tão poderoso. Quem é você, pequenina?
- Eu sou Úrsula Suarzineguer.. quem é você? - A matadora de magos perguntava enquanto percebia que suas posses mágicas não funcionavam.
- Eu sou Halaster Mantonegro, senhor deste plano. Vim averiguar o que se passa nessa confusão terrível impetrada pelos servos da Senhora da Escuridão e acabei encontrando você, embora eu esperasse me deparar com Khebel, Laeral ou outrem mais importante.
- Posso garantir que meu arco é devastador e.. - mesmo sem ver, Úrsula percebeu que em sua mente começou a se formar uma imagem turva e esfumaçada do ambiente. Ela percebia a taverna onde entrara atrás de Sirius e fora seguida pelos outros. O lugar estava vazio e em ruínas, destruído que fora pelo imenso crânio flamejante e voador que a aprisionara. Não havia sinal de seus companheiros ou de quem quer que fosse. - Como conseguiu me libertar.. como posso ver sem enxergar?
- Eu possuo poderes e magias que não dependem da Lady dos Mistérios, gnoma. Ainda assim, preciso inspecionar melhor o que se passa. Os servos de Shar de Águas Profundas parecem ter completado mais um de seus malditos pla...
- Halaster Mantonegro!!! Você quebrou o pacto e adentrou um território que não é seu. - Úrsula percebeu que aquela voz era do crânio que a aprisionara. Haviam nove deles agora pairando acima dela e do estranho mago de cabelos desgranhados. Eles falavam em uníssono e também não pareciam afetados pela falta de magia ou pelas trevas.
O arquimago Halaster fez apenas um gesto com o cajado que empunhava e a senhora Suarzineguer viu os crânios terem o mesmo destino que acontecera com ela naquele mesmo lugar. As criaturas foram tragadas pela terra e desapareceram totalmente sem deixar qualquer rastro.
- Vamos. Vou levá-la para um lugar seguro antes de continuar minha busca, aprendiz...

Chegando ao limite da Grande Floresta acompanhado do mais antigo e do mais novo membro do círculo druídico de Daphne, Ehtur Telcontar viu algo para o qual não estava preparado. A surpresa também não escapou aos outros dois servos da natureza. O trio viu o imenso paredão de trevas que havia para o oeste, imenso como uma montanha, negro como a noite sem luar.
- Aquilo está em Águas Profundas... - lamentou Gaios já repensando seu planejamento. - Não adianta levar Police.. ele não será de ajuda suficiente.. é preciso alguém mais experiente. - Tendo dito isso, o druida convocou outro dos seus, Costeau. Mesmo protestando, o ancião apresentou-se e dali seguiu com Ehtur. Eles fundiram-se às árvores da Grande Floresta, mas emergiram muito longe dali, já bem próximos da Costa da Espada.
Daquele ponto conseguiam ter uma real percepção da coluna tenebrosa. Além de ter quilômetros de altura, ela cercava toda a Cidade dos Esplendores e a área contígua, parecendo querer tocar o céu. Sem demora os dois puseram-se a avançar em sua direção.
Chegaram vindos do sul e Ehtur logo percebeu que não seria prudente adentrar as trevas. Mais do que uma escuridão, aquilo também afetava a magia e a natureza que envolvia. Enquanto estavam ali a estudar aquela estranha manifestação, algo foi expulso pela escuridão. O espectro disforme logo ganhou solidez e contornos, tornando-se novamente o luminoso e imorrível Francisco Xavier. Ele não sabia explicar o que havia acontecido e apenas se lembrava de estar no templo de Mystra esperando por Leila Diniz. Pode ao menos contar ao guardião o que se dera antes da escuridão, enquanto o guardião fora enterrar Alissah Eagle.

Rock usou da força bruta para arrombar o portão, enquanto Ryolith Fox ganhava tempo para que os demais seguissem atrás de Sirius, o mais adiantado dentre eles. Os ataques do paladino de Tyr apenas partiam a criatura em partes menores, que continuavam a atacar. Ele então partiu correndo atrás dos demais e deixando a cidade para trás. Correram o máximo que podiam, esperançosos de encontrar o fim daquela noite perpétua.
Eles precisaram afastar-se bastante das muralhas da cidade. O silêncio lá fora indicava que ninguém tivera a mesma sorte que eles. Quando finalmente a luz se fez pela estrada que chegava pelo leste, eles viram que não havia sinal de caravanas. Avistaram apenas três viajantes que logo reconheceram, mas Daphne ainda não se recuperara.

Úrsula voltou a enxergar e viu-se em um grande aposento. O ar ali era pesado e o lugar rústico e mal iluminado. Havia uma grande mesa onde dois sujeitos estavam sentados, além de outros quatro que por ali andavam. Eles fizeram um silêncio respeitoso ante a chegada de Halaster como alunos diante de um professor. O velho mago, no entanto, não se demorou por ali. Deu ordens a um deles que chamou de Trobriand. Ele orientou que a gnoma seria sua nova aprendiz e que os demais cuidassem dela como era devido. Ele tornou a partir para tratar das trevas conjuradas pelos servos de Shar. Úrsula viu que os olhares que lançaram para ela não foram animadores.

Úrsula "matadora de magos" Suarzineguer analisou o ambiente e seus ocupantes. Havia ali um elfo de pele escura, três humanos, um sujeito de aspecto pedregoso e um outro, grande e musculoso, que da cintura para baixo era um grande escorpião. Nenhum deles parecia confiável. A gnoma temeu pela própria segurança, embora aquilo fosse melhor que estar enterrada viva.
- Bem vinda ao Mundo Sob a Montanha. - dirigiu-se a ela o primeiro dos aprendizes em excelente gnomo. - Eu sou Trobriand, o Mago do Metal.
- Desculpem, mas eu não posso me demorar por aqui. Tem muita coisa acontecendo lá em cima...
- Não existem muitas saídas daqui, minha cara. Este lugar não é como os que você está acostumada. Mas venha comigo.. creio que possamos ter interesses em comum - disse o mago conduzindo-a em direção a uma porta.
- O que quer dizer com isso?
- Eu preciso que uma pessoa.. uma mulher.. uma mulher muito importante para mim seja resgatada em Águas Profundas. Se me prometer salvá-la, posso tirá-la daqui. Sem magias lá em cima eu seria inútil como uma pedra. Posso devolver sua liberdade em troca da sua ajuda. Você me parece o tipo de gente que consegue entrar e sair de lugares sem maiores problemas.
- Parece um bom negócio, mas eu não sou uma profunda conhecedora de Águas Profundas.
- Você não terá problemas para achá-la. Ela vive na grande mansão da família Amkathra na parte nobre da cidade. Seu nome Rose Anne Amkathra.. tire-a de lá e eu prometo que terá minha gratidão eterna.
- Tudo bem, eu prometo que vou fazer o possível.. mas como vai me tirar daqui.
- Atravesse esse portal.. - ele disse diante de uma parede de pedra. - Você sairá próxima de Águas Profundas.
Úrsula aceitou e seguiu em frente. Subitamente, estava cercada de água por todos os lados. Lutou para chegar à superfície. Quando conseguiu, viu os barcos que partiam fugindo à máxima velocidade possível. À frente, uma grande coluna de trevas se erguia onde antes havia uma cidade.


10 de nov. de 2012

Águas Profundas

Já de longe, Ehtur avistou a criatura equina. Ele vinha pensando sobre o cheiro, que vinha misturado ao ranço de cinzas no ar. Precisou de mais alguns passos para perceber que era um unicórnio.. e de uma cor que nunca vira antes.. um unicórnio azul. A cor densa misturava-se à sombra das árvores tornando-o quase uma miragem. Os vastos conhecimentos daquele viajante sabiam que unicórnios eram criaturas mágicas e aquele ali, querendo ser visto, era mais.. era uma fada.
- Bom entardecer, guardião. Eu sou um enviando de Miellikki.
- Miellikki?
- Sim.. a deusa dos guardiões que também cavalga a Grande Floresta tem olhado com bons olhos para ti, Ehtur Telcontar. Ela se compadece de tua dor e irá mostrar-te como deve enterrar Alissah Eagle.
- Eu pretendo levá-la de volta à sua família, o clã Eagle do norte da Grande Floresta. Eu prometi que...
- Ela ficará aqui, guardião. A deusa irá mostrar como você irá consagrar Alissah à Grande Floresta. Ela será uma só com esse lugar e seu espírito protegerá essas terras ancestrais. Venha comigo. - E dito isso, o unicórnio azul guiou Ehtur Telcontar por algumas centenas de metros adentro da floresta. O experiente guardião via até onde haviam chegado os efeitos da lava e do fogo vindos das Montanhas das Estrelas. A vida ali se regenerava ainda.
O guia parou diante de um grande e antigo carvalho. 
- É aqui. Cave aqui.
Ehtur Telcontar pegou uma pequena pá e começou a cavar o chão à frente do carvalho. Depois de algum tempo, tinha uma cova adequada. Sob orientação do unicórnio, depositou Alissah na terra e cobriu-a. Quando terminou, o servo de Miellikki tocou a terra com seu chifre dourado. - Oremos, pois viver e morrer são apenas partes do mesmo ciclo. Esse ciclo sem fim.
Entregaram-se às orações, saudando a natureza antiga e sábia daquela árvore e depois de algum tempo, Ehtur viu a gramínea crescer sobre a terra. A vegetação rasteira brotava rápida e graciosamente, cobrindo como um tapete o túmulo da elfa verde. Algumas pequenas flores coloridas foram despontando. Por fim, uma pequena névoa se formou dando o toque final daquela benção. O coração de Ehtur batia num ritmo inédito, num misto de alegria e tristeza, dor e satisfação. Ele sentiu a lágrima correr livre pela bochecha, correr por um fio de barba e cair para perder-se entre a névoa rasteira. Foi apenas a primeira.
A névoa dançava ao sabor de um vento inexistente e logo assomou como um delicado rodomoinho. Daquelas brumas formou-se uma mulher e Ehtur sentiu o toque primaveril de seus dedos em seu rosto.
- Você me salvou, Ehtur Telcontar. Você acabou com a dor.. com meu sofrimento. Você me libertou. Agora tudo é tão perfeito.. graças a você.. obrigada.. - e ele a abraçou, como se mais nada importasse.


Francisco Xavier logo percebeu que não seria sua luz imorrível que curaria Sirius Black. O servo de Oghma teve sabedoria para perceber a grandeza do mal das trevas sobre o ladino. Levou-o até o sacerdote Ciahbe e mesmo este considerou o poder por demais nefasto. Era generalizado o caos na cidade e seria preciso mais tempo e fé para curá-lo. Ponderando com Leila Diniz, julgaram que seria melhor buscar ajuda no templo de Mystra. Se havia uma divindade capaz de ajudá-los seria a Senhora da Magia. 
Antes de seguirem, ele lembrou-se do grupo que acompanhava Sirius Black. Lembrou que a magia que aprisionou Úrsula era uma abjuração de nível altíssimo, quase épico e que não poderia ser revertida nem por um desejo ou um milagre. Apenas uma magia de liberdade absoluta no mesmo local em que o crânio flamejante enclausurara a gnoma poderia surtir algum efeito. Isso estava muito além de seu alcance ou mesmo de Leila Diniz. No entanto, o necromante branco sentia-se culpado sabendo do triste destino de seus camaradas. Conversou com sua protegida e optou por tentar um resgate ousado de seus corpos que levantaria como imorríveis.
Teleportaram-se de volta para o interior da taverna. Mesmo semi-destruído pela passagem do crânio voador, o local estava muito tumultuado. Não viram sinal dos corpos de seus amigos sumidos. Antes que as incontáveis ameaças caíssem sobre eles , um novo teleporte os tirou dali menos de 6 segundos depois.

Buscaram o templo de Mystra, mas apareceram nas ruas de Águas Profundas próximas ao templo. Tudo parecia muito pior do que o sacerdote de Oghma Guglee Ciahbe falara. O belo conjunto de torres integradas que compunha a Basílica da Mystra era um dos prédios mais altos da Cidade dos Esplendores. Os cumes pareciam desejar arranhar o céu. Corredores, passarelas, escadas e mesmo arcos de pura força mágica interligavam vários dos andares em pontos distintos. O lugar estava cercado de gente suplicante por ajuda, que uma muralha de força invisível impedia de entrar. Dois guardas lá dentro assistiam o desespero da multidão com indiferença, apenas zelando pela entrada térrea. A massa de gente era maior ali se destacava dentre as muitas que haviam ao redor daquela área repleta de territórios divinos. Talvez apenas a multidão ao redor do templo de Tyr rivalizasse.
Francisco Xavier voou e levou Leila Diniz consigo, transpondo a muralha pelo alto. Mesmo contra a vontade, acabaram enfrentando a resistência dos dois guardas arcanos do templo. Ambos conjuraram leões celestiais para conseguir conter os vigias, permitindo-lhes dominar a situação.


Enquanto viajava para o norte a fim de dar as notícias para os Eagle, Ehtur e Alissah descobriram que ela não podia se afastar mais do que 600 metros do carvalho. Nesse espaço, ela era capaz de coisas fantásticas como viajar entre as árvores, sentir o sabor do vento lambendo a copa das árvores, sentir toda a Grande Floresta. Ehtur entendeu que ela havia se tornado uma dríade e sabia que uma benção como essa não era uma benção qualquer. Ele mesmo sentia-se mais integrado àquele lugar, uma empatia com os mistérios do mundo das fadas que se descortinavam para ele. Pensava se deveria retornar a Cormyr e cumprir a tal punição de Palas Atenas agora que parecia ter tudo que sempre buscou. Despediu-se de Alissah do ponto em que ela não podia seguir com um beijo.

No dia seguinte, o guardião avistou um enorme pégasos de trevas voando vinda do sul. Estava voando muito alto e ele precisou pegar o arco. Disparou quantas flechas pode, conseguindo acertar algumas. Isso fez a monstruosidade parar e ele percebeu que sua amiga druida Daphne lutava contra as forças de Shar para controlar o próprio corpo. Antes que ele pudesse fazer outra coisa, no entanto, ela assumiu a forma de uma nuvem de escuridão e partiu numa velocidade ainda maior que anterior. Partiu em direção a Águas Profundas.

John Falkiner pela primeira vez avistou as Planícies Cinzentas com seus próprios olhos. Estava acompanhado de seu companheiro de tantas batalhas Ryolith Fox, do suspeito Byron, do misterioso Paulo de Tarso e do bárbaro Rock. Em volta o caos era total. Demônios de todos os tipos, espécies e tamanhos pilhavam as almas como raposas em um galinheiro. O fogo corria trazendo um tom vermelho para aquele lugar de outro modo incolor.

Perceberam que logo seriam eles a ser levados. Os dois servos dos deuses se puseram a orar, enquanto os demais buscaram seus poderes em vão. As preces trouxeram Tyr e Kelemvor, que manifestaram-se como seu símbolos sagrados, a balança da justiça e a balança de prata empunhada por uma mão de ossos da morte. Os deuses surgiram a tempo de impedir que as almas de seus servos fossem levadas.
- As leis que os defendem não valem mais aqui, pequenos deuses. Este aqui agora é um território do caos do abismo.. - debochou o demônio mais próximo.
- Ouse me desafiar ou ameaçar e a poeira de sua carcaça sequer servirá para alimentar as larvas mais insignificantes do abismo. Meu servo terá o destino certo que sua alma merece, uma vez que sua missão no mundo e em prol dos necessitados não está terminada -  bradou sua sentença Tyr com a firmeza do golpe de um martelo.
- Pois este não fará falta já que temos tantas.. - gabou-se o demônio. - E estes aqui não estão sob sua proteção, deus maneta. - O ser abissal agarrou Paulo de Tarso, que não conseguiu escapar de ser capturado, pois não sentia seus poderes. Os demais tentaram ajudá-lo sem sucesso, ao passo que Kelemvor nada fazia.
Enfurecido, o Senhor da Justiça e dos Justos explodiu em chamas divinas e purificadoras, exterminando o demônio e todos os demais que dali se aproximavam.
- É hora de partir, Ryolith.
- Eu agradeço pelo salvamento, meu senhor. Não sou outra coisa se não um servo de teus desígnios. Mas como a vossa própria sabedoria vasta anunciou, um dever transcendente ainda me prende a John Falkiner e essas almas desgarradas.
- Se é essa a sua vontade. - Com um brilho azulado, o Grande Juiz partiu. Assim, foi o Senhor da Morte que os levou dali. Logo se viram no Palácio de Cristal, o antiquíssimo lugar que fora morada de 4 deuses da Morte desde o início dos tempos. As paredes eram de um vidro translúcidos e ao prestarem atenção, deram-se conte de que assistiam à morte de seus ancestrais refletidas nas paredes. 
Kelemvor lhes aparecia agora como uma grande figura envolta numa mortalha e cuja face estava escondida numa máscara. Cada um que o olhava via o rosto perfeitamente refletido na máscara espelhada. Ele anunciou que salvaria John Falkiner, seu bom servo, mas que baniria os demais para integrar o Muro dos Falsos que protegia seu reino. Eles podiam ver a grande muralha feita de corpos sobrepostos no que parecia uma agonia perpétua.
- Eu sou a Chave dos Planos, deus da morte. Se me ajudar, eu posso acabar com tudo isso que está acontecendo. Orcus está usando uma cópia sombria de mim pra fazer tudo isso e roubar as almas. Você tem que me ouvir. 
- Não importa quem vocês são. Aqueles que aqui chegam sem professar a fé em nenhum deus devem integrar o Muro dos Falsos.. assim foi escrito e assim deve ser feito.
- Pois saiba que nós conhecemos o paradeiro de Meianoite, aquela cujo corpo foi o da atual Senhora da Magia. Aquela que um dia caminhou ao teu lado.. que um dia repousou em teus braços.
- O que você sabe sobre Meianoite, viajante? - disse o Deus dos Mortos visivelmente interessado. 
- Sei que ela o interessa.. e nós sabemos onde ela está.. se nos ressuscitar, nós poderemos ajudá-lo com isso.
- Não me compete a ressurreição de vocês. Você, John Falkiner, meu fiel servo, irá retornar ao mundo dos vivos e encontrará essa mulher. Quando estiver com ela, você deve chamar por mim.. eu preciso ter com ela.
- E quanto a nós? - Preocupou-se Rock.
- Ao menos nos devolva para as Planícies Cinzentas. Se você quer continuar jogando pelas regras que ninguém mais obedece sabe muito bem que foi você quem nos trouxe até aqui. Nosso destino era ser levados pelos demônios, não fosse sua intervenção, matador de leões. Nada pode contra quem não lhe pertence, essas são as regras, não é mesmo? Então, nos devolva ao que nos competia e não exceda a sua jurisprudência.
- Que assim seja! - Com essas palavras, todos sumiram. John Falkiner se viu ressuscitado em frente ao templo de Kelemvor em Águas Profundas. Via o imenso tumulto nas ruas da metrópole. Ryolith Fox, Lorde Byron, Paulo de Tarso e Rock dos Lobos viram-se ainda mortos, como almas impotentes de volta às Planícies Cinzentas.
Não muito longe, eles viam a massa de demônios, que parecia preparar-se para alguma coisa. Entenderam melhor quando avistaram Orcus e Kcor no centro daquilo tudo. A versão bizarra e distorcida do bárbaro conjurava um portal, que ao se formar era grande o suficiente para toda aquela horda atravessá-lo. Rock olhava-o e sentia-se ele agora uma sombra de sua sombra.
- É a nossa saída daqui. - disse o servo de Morpheus. - Vamos. - Ele foi seguido de pronto por Paulo e com menos convicção por Rock e Ryolith. Pularam no portal temendo deixarem o purgatório rumo ao inferno. Ao contrário do que esperavam, eles surgiram vivos, novamente feitos de carne e osso e caindo em Águas Profundas na Basílica de Mystra.
Ali já estavam Francisco Xavier, Leila Diniz, John Falkiner e o sumosacerdote da deusa da magia, Melegost Vestrelas. O magistrado da magia estava muito interessado nas revelações sobre Leila Diniz, além de ter libertado Sirius Black da maldição colocada pela serva de Shar. Apesar disso, Ryolith Fox sentiu a maldade nele e viu que não eram boas as intenções do sumosacerdote.
Não puderam deter-se mais sobre isso, apesar do esforços inquisitoriais do paladino, pois chamou-lhes mais a atenção, a chegada da enorme monstruosidade de trevas sobre a cidade. Atacaram-na e logo descobriram que era sua companheira, a druida Daphne, que fora dominada dias atrás em Suzail. Com muito esforço conseguiram expulsar as trevas que a habitava e recuperar o corpo da amiga, mas a escuridão escapou escorregando para as profundezas. 
Enquanto ela recuperava os sentidos e seus amigos a amparavam, todos eles puderam escutar os gritos de comando e os guardas que surgiam dispersando aquela multidão. Eles usavam de força ostensiva, abrindo caminho enquanto gritavam.
- Retornem para suas casas.. limpem as ruas, assim determina o novo lorde de Águas Profundas, lorde Higgor Amkathra!


4 de nov. de 2012

Deslizes

Deu-se uma correria e por um curto instante o brilho ininterrupto diminuiu . Fox e Falkiner não demoraram a perceber que se Byron e Tarso haviam caído, isso estava relacionado com a convalescente Alissah Eagle. Quando chegaram ao quarto dela no interior do Templo de Lathander, Telcontar ofereceu uma resistência inicial tentando ganhar tempo para Xavier.
- Eu vou precisar de mais tempo.. uma hora, Ehtur.
- O que houve aqui, Ehtur? Você matou Alissah?! - Gritava o paladino em busca de respostas, enquanto tentava passar da porta.
- Eu apenas a envenenei para acabar com seu sofrimento dela. Ela estava definhando e agonizante. Eu fiz o que era preciso ser feito. Francisco Xavier irá trazê-la de volta..
- Ainda assim.. matar alguém é crime em Cormyr, guardião. Além de Alissah você assassinou Byron e Tarso, cujas vidas estavam ligadas a ela. Pelas leis de meu reino você deve me acompanhar e responder por seus crimes! - Afirmou Ryolith Fox fazendo valer sua autoridade de Dragão Púrpura e de Martelo de Tyr. Ehtur Telcontar preferiu seguir com ele, tentando com isso ganhar tempo para o mago da Fortaleza da Vela trabalhar. John Falkiner ficou por ali interessando nos rituais necromânticos que aquele ser que parecia feito de luz conduzia.
Lá fora, o restante do grupo soube do que se passava e uma vez passaram a protestar com Ryolith Fox. Apenas Sirius Black tomara providências de cuidar do falecido Lorde Byron. Daphne após acertar que Úrsula cuidaria de tudo, preferiu ficar a ajudar Sirius a cuidar dos caídos. Os demais seguiram  para o prédio da guarda de Suzail. Lá encontraram a major do Dragões Púrpuras Palas Atenas. Ela os saudou com cordialidade como sempre, conseguindo manter o ar encantador mesmo em tempos terríveis. Esse encantamento derramava do olhos do paladino de Tyr. A luz extra da cidade parecia engrandecê-la ainda mais que aos demais. Ela despachava algumas ordens, mas parou tudo para tratar do problema que tratava para ouvir o que Ryolith tinha a dizer:
- Major Atenas,, Palas.. por incrível que pareça, eu trago Ehtur Telcontar por violar nossas leis e ser responsável pelo assassinato de três pessoas.. um de forma direta e dolosa e outros dois de forma indireta e culposa. Ele vitimou Alissah Eagle, Lorde Byron e o estranho Paulo de Tarso. Envenenou a elfa e isso deu conta dos outros dois.
- Se me ouvirem, eu...
- Em defesa de meu cliente - interviu Úrsula - não existe nenhuma prova material ou assinatura em qualquer documento que dê testemunho.. eu disse, tes te mu nho.. da presença de meu cliente no local do crime. Deixa comigo Ehtur. - cochichou Úrsula entrando no centro da debate.
- Silêncio, senhora Suarzineguer. Não é preciso uma defensora para os crimes de um réu confesso...
- Querida Atenas, um julgamento vai demorar.. - começou Úrsula, mas Ehtur a interrompeu:
- Eu não tenho tempo para julgamentos. Alissah será ressucitada por Xavier, logo nada disso faz sentido ou é necessário.
- Estes tempos de guerra, Ehtur Telcontar e por isso funciona aqui a lei marcial! - Palas Atenas silenciou a todos com suas palavras firmes e certeiras. - Em nenhuma outra época a lei e a justiça são tão necessárias. Quando o caos se espalha, a ordem se mantém firme e inabalável para tornar a conter o que parece a perdição. Sendo minha essa decisão, em nome do povo de Cormyr, do rei Azhoun V e de Tyr, eu sou a juiza que baterá o martelo cego da verdade. Assim sendo, decreto que deverá prestar 2 anos de serviços na defesa de Suzail, dedicando suas forças e sua vida a proteger esse povo e essas muralhas, sempre buscando os interesses de Cormyr.
- É uma justa decisão.. - disse Ehtur se curvando diante da pequena paladina. 
- Agora vá ver Alissah retornar.. - disse Palas Atenas com um sorriso e dispensando-os todos para retornar às exigências de seu cargo.


Enquanto isso, no Templo do Cisne Rosa de Lathander, em um dos quartos de hóspedes guardados por alguns homens de Ryolith, Falkiner estudava o que imorrível Francisco Xavier executava. Ele foi praticamente a única testemunha do sucesso do necromântico branco. Quando todo o efeito positivo das conjurações do mago potencializadas pela luz do artefato do sol e aquele lugar sagrado atingiram o cadáver de Alissah Eagle, uma explosão ofuscante varreu tudo ali. Instantes depois, Falkiner e Xavier continuavam diante de uma falecida Alissah Eagle, porém, dessa vez, pairava acima da elfa verde da Grande Floresta uma mulher toda feita de trevas. Ela tinha olhos vermelhos de pura maldade e parecia prestes a se desfazer a qualquer momento. O poder benigno de tudo ali  a assaltava dolorosamente. 
- Shar! É o poder.. a parte de Shar que estava nela!!! - gritou Francisco já buscando uma de suas magias, que não foi capaz de acertá-la, pois ela fugiu atravessando o teto do aposento. 
O clérigo de Kelemvor usou de uma porta dimensional para surgir voando acima do templo. Lá ele encontrou as sombras da noite de Shar e as fulminou com sua luz chamuscante também engrandecidas pelo poder do Cálice de Amaunthor. Isso deteve a criatura tempo suficiente para que Daphne ali chegasse voando como uma quimera imensa. Ela desferiu as mordidas de suas cabeças de leão e dragão, a chifrada da cabeça de bode e duas patadas, tudo sem nenhum efeito contras as trevas vis e frias de Shar. Um instante bastou para que a sombria e malevolente mulher invadisse o corpo da druida e a controlasse.


John Falkiner tentou conter o que se passava, agora auxiliado por Rock que lançava bolas de fogo lá de baixo, enquanto os demais se aproximavam vindos do prédio da guarda. A imensa quimera das trevas desapareceu em pleno ar e eles a perderam de vista.


Lá embaixo, descobriram todos que Lorde Byron e Paulo de Tarso foram tragos de volta pelo poder de Xavier e de alguma forma estavam mudados. Alissah Eagle, no entanto, não retornou.

- Só posso dizer diante do vasto conhecimento de Oghma, meu caro Ehtur, que era a hora dela morrer. Esse sacrifício é como os deuses escreveram o fim dela no grande livro da eternidade.
- Eu preciso enterrar Alissah.
- Temos um ótimo cemitério no templo de Kelemvor e..
- Eu preciso enterrá-la na Grande Floresta. Eu jurei que um dia iria levá-la para casa, assim farei e ninguém irá me impedir! Quando retornar cumprirei a pena.
- Eu entendo sua necessidade, Ehtur. Nós iremos acompanhá-lo como já teríamos de ir a Águas Profundas tratar com o tal Khelben Arunsun que os enviou. Iremos como os responsáveis por você.. não haverá problemas. Tenha certeza que minha ama.. amiga Palas Atenas não se oporia.

Quando eles surgiram em Águas Profundas, teleportados pelo pergaminho que Rock lera e por Falkiner, eles encontraram uma situação muito mais caótica do que haviam deixado. No caminho até a Torre de Khelben Cajado-Negro viram que a Cidade dos Esplendores era varrida pelo caos e medo. Ehtur os deixou e seguiu para a Grande Floresta. Os demais encontraram a Torre Negra cercada por mais gente do que seria possível atravessar. Sirius conseguiu descobrir que Khelban Arunsun não retornara, não havia sinal dele. Mais lordes haviam sido assassinatos e todos sentiam-se desorientados com a ausência de Khelben, que atuava como o Lorde Público da cidade. Mesmo assim, aquela massa de gente preferia se acotovelar ali, como se isso lhes trouxesse alguma segurança.
Sirius Black também descobriu que restavam poucos lordes vivos e operantes. O nome que lhe chegou aos ouvidos foi o do mestre burguês Mirt Lobo Velho. Rumaram para lá. Não encontraram muito melhor e apesar do grande número de guardas e soldados, não tiveram maiores dificuldades para chegar ao tal Mirt. Era um sujeito gordo e baixo, mas que conseguia manter mesmo a multidão que ocupava o salão atenta às orientações que passava. Ele parecia cansado e de saco cheio.
- Somos embaixadores de Cormyr.. - falava John Falkiner para abrir caminho. - Temos que tratar com o Lorde Público..
- É comigo mesmo, rapazes.. cheguem mais.. saiam da frente dos embaixadores, seu careca duma figa. Sejam bem vindos. Perdoem a bagunça, mas pelo que sei Cormyr não está melhor.. eu sou o Lorde Público.. ou melhor.. um dos 4 lordes que restam e dizem a mesma coisa. Ao menos boa parte da guarda está aqui comigo e mantendo as patrulhas como devem. Ei.. você não é o ladrão Sirius Black?...
- Grande Mirt, não é bem assim, não é?.. Como definir tanta vida numa palavrinha qualquer.
- Nós viemos ter com Lorde Arunsun, mas tudo indica que ele está desaparecido - pontuou Fox com um olhar de reprovação para o ladrão.
- Não temos notícias dele desde ontem.. não sei o que aconteceu, mas ele está simplesmente sumido e sabe como são esses magos e..
- Creio que nós temos a resposta para isso.. - disse o bárbaro da tribo dos Lobos do norte. - Nós avisamos o arquimago do que está se passando em outros planos da existência e ele partiu para avisar as entidades cósmicas que governam o universo.
- Garoto, eu não entendi porra nenhuma do que você disse, mas tenho certeza que é importante mesmo. Seja como for a cidade esta em frangalhos e os Ladrões das Sombras.. amigos desse aí que acompanha vocês.. estão assassinando lordes do café da manhã até a ceia. Como podem ver, não tem nada em que eu possa ajudar e não sei nada sobre os planos de vocês.
Eles deixaram o palacete ainda mais decepcionados e frustrados com mais aquela negativa. Negativa também foi a energia sombria que caiu sobre eles, poucas centenas de metros além do portão. A sacerdotisa sombria de Shar que tantos problemas lhes causara e seu assecla caíram com todos os poder sombrios de Shar sobre eles, vitimando Sirius Black de pronto e lesionou a todos. Paulo de Tarso os conhecia como Roberta e Torpinson. Roberta os aprisionou com seus tentáculos de trevas, enquanto o gigantesco Torpinson atacou Falkiner. O grupo respondeu à altura, mostrando o quanto haviam evoluído desde o último encontro. Enquanto Lorde Byron carregou Sirius Black para um lugar seguro, Paulo de Tarso se mantinha à margem dos eventos. John Falkiner revidou a investida do servo de Shar e Úrsula usou suas flechas para dar conta de alguns tentáculos. Ryolith Fox e Rock dos Lobos uma vez libertos investiram contra a serva das trevas. 

Encurralados e vendo se aproximar a guarda e as estátuas colossais que protegiam a Cidade dos Esplendores, Roberta e Torpinson desapareceram nas sombras. Todos logo se deram conta de que Sirius Black também sumira. Francisco Xavier usou uma magia para localizar o predestinado que conversara com Oghma e sentiu que estava para baixo. Logo pensaram em Porto dos Crânios, o vil covil da bandidagem sob Águas Profundas onde haviam encontrados os dois servos do mal anteriormente. Foi Paulo de Tarso que os guiou até uma passagem para os esgotos e dali para as cavernas que levavam à cidadela do crime.
Se Águas Profundas estava à beira do precipício, aquele covil do crime prosperava como nunca. As ruas estavam apinhadas de todo tipo de gente. Foi fácil descobrirem onde encontrar Estevam Torpinson. Úrsula foi escondida a fim de descobrir o que se passava lá dentro, além de receber uma invisibilidade perfeita de Leila Diniz. A furtiva gnoma não teve dificuldade para entrar e passar pelos guardas que limitavam o acesso aos nível superior. Foi lá que ela viu Torpinson com o inconsciente Sirius Black. Sem pensar duas vezes, a matadora de magos disparou uma chuva de flechas sobre o inimigo, um clérigo de Shar. O ataque surtiu pouco efeito, além de alertar a todos ali para uma ameça. Úrsula aproveitou o tumulto para escapar e na escada aproveitou para matar os três guardas. Isso terminou por semear o tumulto e logo toda a taverna estava tomada pelo caos.

Todos os outros urgiram para socorrer a gnoma, mas junto com eles chegou uma das gigantes caveiras flutuantes amaldiçoadas que guardavam a cidade. Imediatamente, elas lançaram uma abjuração que desapareceu com Úrsula, fazendo-a ser tragada pela terra. Os aliados da mãe de Arnoux II investiram contra a monstruosidade morta-viva, sem qualquer resultado. A abominação da natureza, no entanto, precisou apenas de um pensamento para que cada um deles assistisse ao seu pior temor aparecer e lhes roubar a vida. Apenas Leila Diniz, já morta, e Francisco Xavier, um imorrível, não foram afetados, todos os demais caíram como frutas maduras no fim da estação. Sem mais demora, o crânio flamejante e voador partiu. 

Francisco Xavier não perdeu tempo e avançou com Leila Diniz, sentindo que aquela era a direção de Sirius. Ao chegar ao fim do aposento, os dois arcanos da Fortaleza da Vela teleportaram-se e surgiram em uma aposento amaldiçoado pela energia profana de Shar. Torpinson e Roberta executavam ali outro ritual em que Sirius Black seria uma das vítimas. Havia, além dele, um paladino e quatro outros sujeitos. Atacados pelos servos de Shar e sem muita resistência para oferecer, a dupla preferiu agarrar o escolhido e teleportar-se para longe dali.
Eles surgiram no templo de Oghma em Águas Profundas.
Enquanto isso, Ehtur já avistava a Grande Floresta ao longe. Eles escolhera um caminho mais curto, deixando de lado a estrada e seguindo a planície.
Nas Planícies Cinzentas, John Falkiner, Ryolith Fox, Lorde Byron, Paulo de Tarso e Rock dos Lobos viam o que era o verdadeiro caos.