26 de set. de 2012

Meio mortos.. meio vivos...


Sirius logo reconheceu o reino dos mortos. Ele experimentava um sensação rara.. morrer pela segunda vez. Por isso mesmo, dessa vez não se viu aturdido como é comum a todos que chegam às Planícies Cinzentas pela primeira vez. Olhando em volta, ele não viu o cortejo sem fim de almas a suplicar por seus deuses como quando fora desintegrado pela primeira vez. Dessa vez um tsunami de caos varria aquela imensidão. Demônios pilhavam as almas indefesas como lobos em um galinheiro. Os seres infernais deliciavam-se numa espécie de orgia gastronomia sádica em que nada parecia o suficiente.
Além desse contexto, Sirius Black viu as almas ainda autistas de Francisco e Samwise. Ele agitou os dois e os despertou. Explicou onde estavam e mostrou o risco que corriam. Viram que ainda haviam almas que se entregavam a clamar por seus deuses e partiam envoltas por luz. O mago da Fortaleza da Vela não viu outra solução que não clamar pelo Senhor de todo conhecimento, Oghma. O pequenino arqueiro optou por rezar para Yondalla, senhora dos hobbits, muito embora não fosse lá muito apegado a essas coisas. Sirius pensou em Selune e imaginou que não teria sucesso em orar para ela.
Em seguida, ele suspirou vendo que um dos demônios voadores atentou para eles. Um dos grandes. Vermelho, escamoso e com cara de mau. Buscou suas adagas. Lembrou que estava morto. O demônio se aproximava rápido. Não tinha para onde correr. Lembrou-se novamente da Senhora da Lua. Viu as garras grandes como adagas do demônio rasgarem o ar na direção deles. Uma luz surgiu entre eles e o predador alado. A luz expandiu-se como um enorme pergaminho, protegendo-os do contato e repelindo a ameaça.
- Estas almas são minhas, pequeno deus. - rosnou o demônio.
- Pelo pacto que conjuga a existência e as leis primordiais está aqui um de meus devotos e sua alma tem o direito ao repouso eterno em meu reino. Ouse tocá-lo e não haverá inferno grande o suficiente em que eu não possa encontrá-lo, diabrete! - soou a voz musical e eloquente de Oghma, ao mesmo tempo que as palavras se desenhavam no tecido do pergaminho.
- Olhe a sua volta, contador de histórias.. lhe parece que as regras de antigamente tem algum valor? Os tempos estão mudando.. não vamos mais jogar esse jogo segundo as suas regras.. guerras ancestrais estão entrando no centro da espiral. Essa colheita é o movimento que antecede o gozo de nossa ascensão.
- As coisas não se dão simplesmente porque lordes demôniacos assim desejam. Os pontos, as linhas e os círculos independem dos seus joguetes.
- Apenas uma das almas lhe pertence! As outras são minhas, pois o seu poder não as alcança... - e o demônio avançou, furioso que estava, passando por sobre o pergaminho.
- Não é verdade, meu senhor, que tudo sabe. Sirius converteu-se a sua fé.. ele crê que o conhecimento é o caminho, não é mesmo Sirius? E o pequeno Samwise pode ser convertido...
- Bem.. é que.. na verdade.. eu creio em Selune... - o demônio gargalhou de satisfação, após as palavras vacilantes de Sirius.
- Os dois são meus! E não há nada que possam fazer a respeito.. - ele esticou os braços e agarrou Samwise sem dificuldade. Antes que alcançasse Sirius, no entanto, Francisco Xavier se interpôs, impedindo-o. pois o demônio era incapaz de tocá-lo. Sirius Black aproveitou para tentar agarrar Samwise, mas suas mãos atravessaram os pés do pequenino, como se fosse fumaça. Sem nada entender ele recuou, mas foi o necromante branco que falou:
- Pois eu me sacrifico para que esse homem cujo destino é seguir em frente não seja levado - bradou Xavier convicto. - Ó Oghma, senhor de todos os saberes e estudos, pelos mesmos códices atemporais que estruturam a colmeia da existência, eu clamo que aceite o abnegado sacrifício de teu servo em nome da salvação desse homem redimido. - E dito isso, alma de Francisco Xavier, o necromante branco da Fortaleza da Vela explodiu em luz...


Daphne viu-se uma cobaia durante meses. Embora tivesse dificuldade de medir a passagem do tempo, trancada e agrilhoada na torre, a experiente druida conseguia ter alguma noção com seus vastos conhecimentos da natureza. Ela pôde assistir às visitas que o arquimago lich recebia de outros magos vermelhos de Thay. Ela nada entendia, mas percebia que o morto-vivo só tinha interesse por Leila Diniz. A feiticeira da Fortaleza da Vela fora trancada em outro cômodo do laboratório. Daphne nunca a via.. um dia sentiu o cheiro do sangue dela por um instante.. várias vezes escutou seus gritos de dor.
Szaas Tam passava dias ininterruptos com a feiticeira, sem atender ninguém. Sem precisar descansar, comer ou se distrair, a vil curiosidade dele parecia não ter limites. As únicas vezes em que ele deixava Leila de lado era quando resolvia prestar atenção na druida da Grande Floresta. Ele também dedicava-se por 2 ou 3 dias a experimentos sinistros e necromânticos. A intensidade das magias lançadas por ele era incomensurável para Daphne. Elas moldavam suas carne e ossos, manipulando sua habilidade de se transformar e ceifando-lhe a vida, de certa forma.
Nas primeiras vezes, Daphne transformou-se em um zumbi. A cada sessão de tortura mágica, física e espiritual, ela ia sendo moldada em uma nova forma.. carniças.. esqueletos. Quanto mais o processo avançava, mais os poderes celestiais e a luz que envolviam a druida iam dando lugar a um vazio inóspito. Até mesmo a saudade de David, foi desaparecendo, esvanecendo. O laço de amor com a vida foi morrendo e ela foi se tornando uma sombra do que era. Embora seu coração nunca desistisse, uma razão fria a tornava inerte.
Foi numa noite como outras, em que os gritos de Leila "a cobaia principal" Diniz ecoavam pela torre em uníssono com os trovões do lado de fora, que o tormento se concretizou. Daphne viu Szaas Tam surgir envolto pelo mesmo brilho prateado cintilante que ela já vira recobrir o corpo da feiticeira. O arquimago da necromancia de Thay parecia extasiado com tamanho poder, que percorria seu corpo. Ele deitou a atenção sobre a mulher acorrentada diante dele e começou a clamar pelas forças nefastas sob seu comando. Aquelas forças sinistras assaltaram o corpo da serva da natureza de maneira avassaladora, varrendo-lhe os últimos vestígios de pureza. Ela transformou-se uma vez mais em uma morta-viva e percebeu que aquila condição agora fazia parte dela.
- Em breve, eu terminarei de expurgar sua índole e essa perversa humanidade que insiste em limitar seu potencial. Não tardará que esteja talhada para me servir,,,


Durante um dia inteiro, o guardião Rafael guiou Palas Atenas, Ryolith Fox, John Falkiner e Leopoldo dos Távios pelo interior da floresta de Cormanthor. A viagem foi rápida e tranquila pela estrada e nada dava sinais de que pudesse haver algum problema. O servo de Kelemvor aproveitou para criar um símbolo mágico sagrado que o auxiliaria a expurgar mortos-vivos.
No segundo dia, no entanto, não tardaram a avistar o problemas. Antes de deixar a proteção das árvores, já puderam avistar as numerosas tropas que perambulavam e perturbavam viajantes e camponeses. Um desses grupo vinha em direção contrária, outros invadiam propriedades e confiscavam bens, enquanto mais próximos, mercadores tinham suas carroças detidas e reviradas.
Percebendo estarem em desvantagem, optaram por retroceder e tomar um caminho pelas trilhas do interior da floresta, Rafael lhes alertou que se aproximariam das terríveis ruínas de Myth Drannor, um perigo repleto de demônios, mortos vivos e phaerimms. Acreditava que poderiam evitar problemas se fossem cautelosos e silenciosos, embora as armaduras completas dos servos dos deuses não ajudassem.
Durante a noite acabaram atacados por um par de demônios cobertos de correntes. Embora a ameaça tenha sido facilmente debelada, perceberam que os monstros haviam sido conjurados. Seguiram os rastros, mas Rafael avisou que estavam próximos demais das perigosas ruínas e preferiram não continuar.
No dia seguinte chegaram a ter um vislumbre distante de Myth Drannor, mas concentraram-se em buscar Forte Zhentil. Naquele ponto, só teriam que cruzar os campos rumo ao norte, por estradas marginais de terra. Entretanto, mesmo ali não tardaram a encontrar um grupo de zentarianos perturbando campesinos. Eram seis ao todo, liderados por uma grande mulher em uma armadura negra. Seus capatazes agrediam uma pobre mulher e seus filhos arrombando a porta e causando terror em seus corações.
Sem se conter mais, o grupo voou na direção deles. John "castigo dos céus" Falkiner atirou um cometa sobre os inimigos, derrubando todos que estavam do lado de fora com exceção da mulher. Palas Atenas e Ryolith Fox caíram sobre ela e esmagaram o mal que representava. Capturaram o soldado que invadira a casa e tentara se esconder sobre uma cama.
A senhora da casa ofereceu acomodação para eles em agradecimento, pois deviam ter sido enviados pelos deuses. Eles acabaram aceitando e descansaram ali para se recuperar. A mulher ofereceu suas filhas em casamento a Falkiner e Fox, mas enquanto o primeiro declinava com educação, o segundo saiu para ter com a paladina de Tyr.


Sirius abriu os olhos tentando se recuperar da cegueira que lhe fora causada pelo brilho súbito. Viu que estava em um lugar belo e bucólico. O céu era azul e um vasto gramado verdejante se estendia à frente. Haviam muitas árvores onde pessoas recostadas liam livros e pergaminhos tranquilamente. Homens e mulheres comiam frutas ou pães e não pareciam desfrutar de outra coisa que não o prazer do conhecimento. Sirius dirigiu-se primeiro para uma mulher que comia uma maçã, mas no caminho achou melhor ter com um homem baixo e rechonchudo, que roía um milho.
- Com licença.. que lugar é este?
- Este é o reino de Oghma, a terra de todo o conhecimento, meu caro. Esse lugar é o berço do saber e a fonte de toda sapiência.
- Reino de Oghma? Bem.. faz sentido.. e onde eu falo com o responsável?
- Você pode encontrá-lo na Casa do Saber, a grande biblioteca que abastece-nos de informações e cultura.
- Como eu faço pra chegar lá?
- Todos os caminhos levam pra lá! - afirmou como se fosse uma obviedade.
Sirius despediu-se e seguiu. Ele sentia-se incrivelmente bem disposto e animado. Pelo caminho, as árvores deram lugar a pequenos casebres, praças e jardins onde pequenos grupos de homem e mulheres praticavam jogos, artes ou encenações de todo o tipo. Todos pareciam se divertir e se entregar com paixão às tarefas.
Mais adiante, Sirius Black avistou grandes anfiteatros, estádios e arenas onde multidões se aglomeravam e assistiam a declamações, debates, colóquios, tragédias, comédias e muito mais. Foi dali que avistou a colossal edificação que parecia realmente o centro de tudo que havia. O prédio era perfeitamente circular e cheio de detalhes. Para lá convergia muita gente, mas ninguém de lá chegava. Sirius avançou mesmo assim.
Diante finalmente de uma das entradas, ele deparou-se com uma quimera entalhada na parede, que dirigiu-se a ele.
- Seja bem vindo, Sirius Black. É um enorme prazer enfim conhecê-lo.
- Você me conhece?
- Estou conhecendo agora, mas espero por você há muito tempo. Será que você pode assinar o seu nome aqui, embaixo de onde lê-se Timothy Hunter.
- Claro, claro.. mas por que eu sou esperado? - perguntou Sirius enquanto assinava simplesmente passando o dedo, mas deixando sua perfeita grafia.
- Você vai cumprir grandes coisas, ora. Mas é melhor entrar logo, pois o chefe está esperando...
Ao entrar, Sirius encontrou Oghma num pequeno e confortável aposento assim que atravessou o portal. Uma lareira trazia calor e aconchego, enquanto uma música envolvente e sedutora tocava. Ele recebeu o ladino de braços abertos, servindo-lhe vinho.
- Seja bem vindo, Sirius, "aquele que voltou duas vezes" Black. Nós temos negócios a tratar...
- Finalmente alguém que fala minha língua. Mas de que negócios exatamente?
- Você está aqui, Francisco Xavier não. Ele se sacrificou pra salvar, se sacrificou porque sabia que você era importante. Eu perdi um de meus seguidores e você está aqui no lugar dele.
- E Samwise?
- A alma dele foi levada e será profanada pelos demônios. Você está aqui, mas não fiará. Eu irei ressuscitá-lo, você retornará ao mundo dos vivos e deve realizar algo para mim.
- Claro.. o que?
- Você irá reencontrar seus aliados e retornará para o oeste?
- O oeste? Mas e o Livro de Mystra?
- Não existe Livro de Mystra?
- Não existe? Mas então Byron, a ordem da Fortaleza da Vela, Symbul.. todos estavam mentindo?
- Se tal livro existisse, eu já o teria lido, você não acha?
- Perdoe-me, tem razão. E onde eu voltarei? Como vou reunir todo mundo.. todas essas horas foram...
- Horas não.. meses...
- Meses?
- Sim, você está aqui a meses. O tempo não é o mesmo em todos os lugares. Você irá retornar ao reino de Thay. Lá, encontrará Úrsula Suarzineguer, cuja mente contará com minha inspiração e auxílio pra escapar. Ela o guiará até Ehtur Telcontar e Rock dos Lobos.
- E quanto a Daphne e Leila?
- Daphne Ankathra e Leila Diniz estão além do meu alcance, pois estão próximas demais de Szaas Tam. Não posso auxilia-los além disso. Quando retornar, estarás além do meu alcance.
- Posso fazer mais uma pergunta?
- O que aconteceu com Selune?
- Selune está morta.


Daphne não sabia quanto tempo se passara até Szaaz Tam retornar. Dessa vez, a magia nefasta dele a assaltou e corroeu como sempre. O brilho prateado e a soberba do poder ainda estavam nítidas nele. Ela procurou não dar mais prazer com o próprio sofrimento e tentava ser o mais indiferente possível a tudo aquilo. A experiência dessa vez, no entanto, foi distinta, pois conforme ela se transformava em morta-viva, seu corpo foi se esvanecendo. Tronando-se sombria e incorpórea, Daphne viu-se transformada em uma aparição, como as que tanta vezes combatera e destruíra. 
Seus grilhões atravessaram-na e caíram não chão. O arquimago lich não pareceu se preocupar com isso e apenas avaliava mais aquele progresso em suas experiências. Porém tal fato permitiu que recuperasse seus atributos mentais e pudesse refletir melhor e com mais clareza. Nesse instante também, célere como um raio, surgiu um lobo espectral atravessando a parede da torre, agarrando a sombra lúgubre que Daphne se tornara e partindo dali antes que qualquer coisa pudesse ser feita.
- David.. - disse Daphne reconhecendo seu lobo e sentindo suas formas etéreas misturarem-se. O que trouxe algum calor àquelas formas frias e não-vivas.
- Minha alma não poderia descansar, enquanto você não estivesse em segurança... - e assim o campanheiro animal salvou sua amada senhora, carregando-a pelos céus de Thay
David e Daphne voaram juntos por longo tempo, enquanto ela foi conseguindo converter-se novamente na forma de mulher, mesmo que continuasse fantasmagórica. Eles pousaram após um vasto lago, nas ruínas de uma vasta cidade, onde encontraram Úrsula, Ehtur, Rock e Sirius. O ladino havia se reunido ao grupo um dia antes, após seguir os rastros de Úrsula Suarzineguer por mais de dois dias. Ele retornara com um estranho brilho celestial e agora era capaz de falar e entender qualquer idioma. David pousou e todos o viram desfazer-se e sumir com o vento, enquanto a própria druida ia se tornando material.
- Agora eu posso partir e descansar em paz.. você está em segurança.. - disse o fiel animal na mente da druida, indo reunir-se à matilha de seus ancestrais nos reinos dos deuses da natureza.
Com a chegada da noite, o grupo partiu para o oeste pois vários espectros começaram a se levantar naquelas estranhas ruínas. Viajaram para o oeste, reunidos mas em frangalhos, pois não sabiam o que mais poderiam fazer...


21 de set. de 2012

Vida que começa, vida que termina...







John Falkiner e Ryolith Fox não tiveram muito tempo para sofrer com a perda do cálice de Amaunthor e de Bibiana. Restava ainda um dos servos da cidade voadora e seu dragão de sombras, além dos trolls e orcs que continuavam vindo. O sombrio tentou ganhar os ares mas a investida dos servos dos deuses somadas às setas certeiras de Volcana Boaventura significaram a ruína para ele, que acabou não passando de um morto levado por sua montaria. Precisaram apenas terminar com o troll mais próximo para que os invasores já combalidos desistissem e recuassem na direção das montanhas.
Haviam muitos mortos por velar, feridos para curar e poucas mãos para fazê-lo. A governadora Boaventura começou a dar ordens aos soldados e cidadãos que restavam, conduzindo com racionalidade o emprego das forças restantes. Os dois servos dos deuses com a ajuda de Leopoldo dos Távios recolheram os pertences malignos dos neonetheres e os guardaram em segurança, além de amparar todos os necessitados que ali haviam.
- Parece que foi inútil.. não conseguimos chegar a tempo.. - lamentou Ryolith olhando toda a destruição em volta.
- Não diga isso, paladino. - interferiu a governadora Boaventura. - Isso é tudo culpa daquele maldito traidor Aldebaran Atenas. Sempre desconfiei daquela víbora, mesmo se passando por certinho e bom moço. Um servo de Bane bem no meio de nós.. bem embaixo do meu nariz. Vocês nos trouxeram um sopro de esperança...
- Mas perdemos a guerra.. - lamentou o servo de Tyr.
- Graças a vocês revertemos um revés no instante derradeiro. - corrigiu-o Boaventura - Graças à chegada de vocês tudo mudou e pudemos matar os quatro capitães dos malditos e debelar a invasão. Claro que não é possível que fiquemos aqui. Arabel está destruída.. pela manhã guiarei o povo até Suzail. Ao menos as fronteiras são menores para defender e... - a eloquente elfa parou de falar subitamente ao ver Palas Atenas que trazia como podia o moribundo e ferido Miguel. 
- ACUDAM!!! - gritava a capitã dos Dragões Púrpuras. Todos acorreram a ajudá-la, deitando o corpanzil do monge de Tyr no chão. Além de extremamente ferido, Miguel parecia acometido de algum mal ainda maior...
- Me.. me pe.. perdoe, Palas... - ele murmurava.
- Que a benção de Kelemvor alivie seu sofrimento, monge. - disse John Falkiner debruçando-se sobre o enfermo. Mas para a surpresa de todos ali, a cura espiritual não melhorou em nada o estado de Miguel. - Há algo errado...
- Aldebaran, além de feri-lo por tentar me defender, o amaldiçoou com a terrível manopla negra que carregava. Nada é capaz de remover essa maldição que o está devorando... é tudo minha culpa.. me perdoe, Miguel.
- Eu.. eu.. jurei.. jurei por Tyr.. p.. protegê-la.. eu não.. não sabia... eu.. sempre... eu sempre amei.. você... - e com essas palavras, Miguel Arcanjo, monge de Tyr perdeu a vida ali no meio da destruída Arabel. A capitã Palas Atenas não conteve mais as lágrimas que pingavam sobre o corpo de seu amigo e protetor. Ela olhou para o céu sem lua ou estrelas e cerrou o punho.
- Eu juro agora, por tudo que é mais justo nesse mundo que você será vingado, Miguel. Não haverá dia ou noite, deserto ou oceano, demônio ou deus que me impeça de fazer com que Aldebaran Atenas ou como for que ele se chame, aquele que um dia eu chamei de pai, pague pela sua morte com a vida.
Todos buscaram consolar a paladina e a noite findou entre lágrimas, sangue e tristeza.



Longe dali, uma aarakocra, um bárbaro do norte de uma terra que aqui é chamada de oeste e um guardião de muitos lugares tentavam fugir de aparições mortas-vivas. A druida das mil formas, Daphne, carregava Leila Diniz com suas garras e voava invisível o mais rápido que podia na forma do povo pássaro das longínquas selvas de Cuult. Ehtur Telcontar levava Úrsula "a última dos gnomos" Suarzineguer. No entanto, os seres de trevas eram muito rápidos e eles acabaram sendo alcançados. Antes que fossem todos vencidos, chegaram a avistar mais um dos magos vermelhos de Thay, que surgiu ao longe e levantou seus aliados e inimigos. Quando apenas a experiente druida restou, ele aproximou-se dela, cercado por ainda mais aparições, todas as quais de alguma forma ligadas ligadas ao estranho e sinistro cajado que ele portava. Daphne tentou uma vez mais iludir o perigo transformando-se em mosca, mas dessa vez viu-se aprisionada em uma esfera invisível. Ordenando aos seus lacaios que pegassem a todos, o poderoso mago os teleportou.
Surgiram em um imenso castelo. No amplo salão havia todos os tipos de magos vermelhos, além de serviçais menores e mortos-vivos. Tudo parecia cheirar a sangue e era como se o próprio lugar perturbasse os laços profundos entre Daphne e a natureza. Colocaram grilhões em seus companheiros, que perturbavam seus pensamentos e sentidos, deixando-os desnorteados e confusos. Ela assistiu impotente como uma mosca às ordens que o arcano proferia, mesmo sem as entender. Percebeu que ele tinha muita autoridade, que era temido e que chamava-se Cumulus Nimbus.
Viu levarem Rock e Ehtur. Francisco e Samwise passeavam por ali como dois reles zumbis. De Sirius nada sabia, desintegrado mais uma vez. Foi a vez de Cumulus Nimbus levá-la juntamente com Leila Diniz. As duas foram conduzidas por labirínticos corredores e infindável escadaria até verem-se em uma espécie de laboratório. De trás de uma bancada replete de papéis e objetos, surgiu aquele ser tão cadavérico e terrível, quanto imponente e temível. Os dois pontos vermelhos brilhantes que lhe serviam de olhos eram certamente os mais cruéis e intimidadores já vistos por Daphne. Ele vestia uma robe vermelho, que parecia prestes a converter-se em um mar de sangue a qualquer instante. Os braços e os dedos (ou garras..) eram mais compridos que o normal. Ainda restava cabelo circundando-lhe o crânio exposto na maior parte. Ossos distorcidos saiam-lhe do pescoço e do peito. Era pouca a carne que havia por ali, embora o arquimago fosse bastante expressivo. 
Com um gesto da mão, ele fez sumir a esfera e lançou a druida ao chão, devolvendo-a à forma humana.
- Eu sou Szass Tam, zulkir da necromancia e senhor de Thay - ele disse na língua do oeste. - Você e seus amigos perturbaram demais o meu tempo, mas acabaram vindo em boa hora.
- Nós viemos recuperar o Livro de Mystra, não queremos guerra.. - interviu Daphne.
- Livro de Mystra? Pelos nove infernos, criança da floresta, o que eu iria fazer com um livro da Deusa da Magia?
- Eu não entendo...
- Não existe Livro de Mystra, neófita. Ainda que meu poder prescinda da Senhora da Rede, não me beneficiaria de nenhum dos brinquedos especiais dela. Melhor será o dia em que a magia se libertar de um invólucro tão simplista. Não me curvei aos dois deuses da magia anteriores e não me curvarei a ela. Sua causa foi perdida.. mas ela me servirá bem. Vocês me trouxeram algo precioso.. algo que eu nem vislumbrava alcançar. - Enquanto Cumulus Nimbus colocava grilhões em Daphne turvando-lhe os pensamentos, Szass Tam alcançou Leila Diniz e correu uma garra sobre ela. - Talvez isso deva preocupar a deusa da magia afinal de contas. Parece que o destino escreve certo por linhas tortas. Você poderá entreter meus momentos de folga com algumas pesquisas, metamorfa. Servirá para quando eu quiser descansar do poder que sua amiguinha irá me proporcionar. Seus amigos serão boa força para as minas nas montanhas. Enquanto isso, minhas tropas já se preparam para invadir Aglarond... 
Na manhã seguinte, após suas preces e um pouco do pão, que conjurara magicamente juntamente aos outros alimentos para saciar uma parca parte da fome dos viventes, John "morte justa" Falkiner encontrou-se com a governadora Boaventura. Enquanto todos se preparavam para partir rumo ao sul, a elfa reservou algumas palavras para os servos dos deuses.
- Vocês não devem vir conosco.. vocês devem buscar o artefato!
- Mas onde?
- Aquele crápula certamente o levou para Forte Zenthil, a capital dos servos de Bane, senhor da tirania. Uma chaga imperialista ao norte da Terra dos Vales e da floresta de Cormathor. Desde o retorno de Bane, o poder deles vem crescendo.. eles ainda enfrentavam a resistência dos servos de Cyric, mas acho que isso já não é mais um problema para eles. Essa conquista deve fazê-los investir contra os povos livres novamente.. e nós precisamos daquele poder benigno ao nosso lado contra os servos das sombras.
- Mas que chance teríamos.. - ia dizendo Falkiner, antes de ser interrompido abruptamente por Palas "sede de vingança" Atenas:
- Pouco me importa o cálice de Amaunthor.. agora a única coisa que me move é a vingança. Eu irei fazer justiça e vingar Miguel enquanto força em mim houver. Nada mais importa.
- Palas.. - interviu Ryolith Fox - Acalme-se.. a vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena, já diz o grande jurista Siheu Madrugah. Eu sei a dor que sentes em teu peito por esse protetor que sempre foi como um.. irmão para ti. Ainda assim, não pode deixar esse veneno consumir o seu corpo e a sua vontade. Não é isso que Miguel ou Tyr querem para o teu destino. A justiça precisa ser feita.. mas não uma justiça qualquer.. não a imposição de uma vontade, mas sim da verdade. Daquilo que é certo!
- Você pode tentar aplacar minha ira, Ryolith, mas eu sei muito bem o que devo fazer. Eu seguirei com vocês, mas não para ser juíza e sim carrasca! - mesmo nesse tom mais ameno, ela ainda agarrava-se ao ódio.
- Eu sei que na hora certa você fará o que é certo.. - Ryolith buscou a mão dela, mas a capitã Atenas recusou-lhe o toque.
- Bem.. creio que devamos nos teleportar então.. - desconversou Falkiner.
- Vocês devem seguir para Vale da Sombra. É uma pequena, mas famosa cidade ao norte da Terra dos Vales, próxima da fronteira com Forte Zenthil. Lá poderão se informar da situação e se equipar. Nessa pequena vila vivem vários antigos heróis como Tempestade Mão de Prata e até o arquimago Elminster Arunsun. Creio que seja um bom ponto de partida.. boa sorte, meus caros, que Tymora esteja convosco.. com todos nós.. e até breve. Agora se me dão licença, eu tenho um povo para guiar.. vamos, vamos meu povo.. abram algumas garrafas de vinho e hidromel.. cantem uma música e vamos marchar antes que eu tenha que atirar em alguém...
Sem mais demora, John Falkiner teleportou-se com Ryolith Fox, Palas Atenas e Leopoldo dos Távios para Vale da Sombra. Sentiram logo a mudança abrupta para o clima mais ameno e para o vento forte, que soprava do oeste em direção ao leste. A pequenina comunidade mal podia ser chamada de vila. Eram poucas as construções entre fazendas, moinhos, estalagens e templos. Logo informaram-se da casa de Mão de Prata e para lá seguiram.
Ao chegar, descobriram que a mulher não se encontrava, pois partira em uma missão. Quem lhes informou foi o marido da mesma, Falcão Mão de Prata. Ele cuidou de auxilia-los vendo que eram bons servos dos deuses vindos do bom reino de Cormyr. Se no sul sabia-se que tudo ia mal, no norte, de Forte Zenthil, soavam tambores de guerra.

Úrsula despertou em uma cama perfumada e confortável de lençóis vermelhos. Haviam grilhões em seus braços e tinha dificuldade para raciocinar. Haviam móveis pelo quarto, mas nenhuma janela e apenas uma porta. Ela usou de suas habilidades contorcionistas para escapar das correntes. Estava vestida como uma boneca de criança. Tentou em vão escapar dali até que viu o maldito mago vermelho que comandava as aparições aparecer. Úrsula "exterminadora de magos" Suarzineguer tentou atacá-lo, mas sem um arco, suas investidas não foram bem sucedidas. Cumulus Nimbus não teve dificuldade em subjugá-la e colocá-la sob ele. Foi então que a gnoma sentiu a luxúria violenta do maníaco invadi-la.. e essa foi apenas a primeira vez...
Durante um tempo que ela já não sabia ao certo quanto, Úrsula preferiu o torpor e o autismo à vivenciar tamanho tormento. Mas uma dor, distinta de todas as outras que vinha sentindo, despertou-a. A água que se espalhou no lençol denunciou o que as contrações confirmavam. Ela gritou e rapidamente a removeram dali, sendo carregada até um quarto que já parecia preparado para aquilo. Além de guardas, haviam parteiras que tentavam tranquilizá-la naquela língua estranha de Thay. Úrsula suou e chorou por horas a fio, enquanto o trabalho de parto estendia-se indefinidamente.
Quando todos estavam fatigados pela espera e cuidavam de minimizar o desconforto, Úrsula deu um grito longo que foi seguido por um choro. As parteiras, sem a proximidade opressiva dos guardas, envolveram o garoto nos panos rubros do sangue da mãe e entregaram a ela. Úrsula chorou.. dessa vez de alegria.. apertando o corpo do pequenino menino contra o dela. - Ele se chamará Arnoux.. como o pai.. - e sem vacilar pulou da maca e disparou a correr, pegando todos despreparados. Quando os armadurados guardas conseguiram começar a se movimentar, ela já estava no meio do corredor.
Para surpresa de Úrsula, um portal mágico surgiu no meio do caminho. Ela não pensou duas vezes e pulou.
Úrsula surgiu em uma plantação de trigo, no limite de suas forças, mas o bebê parecia tranquilo. A mãe apressou-se em retirar a coleira que lhe perturbava os pensamentos e arrancar um pedaço do vestido para embalar melhor o filho. Ela ouviu a voz de Sirius Black e quando ele se apresentou, a gnoma desconfiou. Temendo pela segurança do pequeno Arnoux, ela saiu dali escondida, lembrando-se que Sirius fora desintegrado e nunca falara a língua dos gnomos.
Depois de passar a noite em um celeiro, alimentando-se com a própria placenta e amamentando o filho, a aarqueira seguiu na direção das montanhas buscando algo que pudesse ajudar. Viu lá incontáveis minas e um sem número de escravos entregues a um trabalho árduo e chicotadas. Ela viu Ehtur e Rock, que como alguns outros, usavam os mesmos grilhões especiais que ela, enquanto orcs e gnolls simplesmente serviam como lhes era de costume.
Contando com toda a furtividade e o silêncio do filho, Úrsula infiltrou-se em uma das cavernas. Ela precisou apenas de pedras para eliminar um guarda em um canto de pouco movimento e conseguir as chaves para libertá-los. Mais alguns escravos soltos e um motim bastaram para camuflar a escapada deles, que levaram tudo que lhes pareceu útil...


12 de set. de 2012

A esperança é a última que morre...

Quando Ryolith Fox, John Falkiner, Bibiana Crommiel e Leopoldo dos Távios surgiram na praça central de Arabel diante do palácio da governadora viram que o caos era geral. Alguns poucos soldados restantes defendiam a entrada do palácio de orcs e trolls que avançavam incontroláveis. Do alto, uma dezena de arqueiros disparavam flechas sob o comando da governadora Boaventura, parecendo ser esta a última defesa efetiva. Ao redor, templos e casarões eram assaltados impiedosamente pelos inimigos. A outrora gloriosa cidade de Arabel, a segunda maior do próspero reino de Cormyr, havia sido tomada pela horda invasora.
O servo de Kelemvor sentiu seus poderes voltarem, agora que estava fora do Anauroch. Todos eles perceberam que o brilho do cálice de Amaunthor diminuíra, mesmo que ainda sentissem a benção sagrada que recaia sobre eles. Leopoldo empunhava o artefato assustado com todo aquele estranho mundo urbano. Bibiana mantinha-se vigilante.
- Onde fica o templo de Lathander? - ponderou Falkiner vendo apenas um templo de Tyr e outro de Mystra, além de avistar os dragões sombrios e seu cavaleiro tenebrosos pairando acima deles.
- Não há um templo de Lathander em Arabel. O templo do deus do sol fica em Suzail. - retrucou Fox já mapeando o combate.
- E por que cargas d`água fomos trazidos pra cá? - irritou-se o clérigo, muito embora seu colega paladino não tenha ouvido essa segunda questão, pois já se atirara em carga contra um dos trolls que acabara de romper o portão do castelo e invadido o prédio. Ryolith fustigou a criatura, mas percebeu que afastara-se demais do cálice, deixando de contar com o poder divino do sol do deserto. Falkiner optou por orar por poder divino para incinerar aquele mal, libertando um ataque flamejante. Esse mesmo poder divino incorporou-se aos músculos e ossos do servo da morte, fazendo dele um gigante e dando-lhe força sobre humana. Bibiana convenceu Leopoldo a entregar-lhe o cálice de Amaunthor e erguendo-o aos céus, potencializou seus poderes.
A luz jorrou como se um universo se formasse. Todos os seres malignos ficaram cegos e atordoados. O servo de Tyr sentiu aquele poder divino fortalecê-lo ainda mais e aproveitou para tombar os trolls. Mas se por um lado o artefato lhes deu tamanha vantagem sobre os inimigo que estavam no solo, por outro atraiu de vez a atenção dos que estavam no ar.
Os dragões caíram sobre eles com sopros de trevas negativas. John Falkiner sentiu o dreno de suas energias, apenas para sentir a luz abençoada do cálice devolver-lhe o que perdera. O brilho luminoso do artefato do antigo deus do sol manteve também aquela energia nefasta longe de Bibiana e Leopoldo. Dois dos dragões pousaram, enquanto o humano tenebroso sobre um deles multiplicou-os magicamente e o outro almejou tomar o cálice.
Todos entregaram-se de corpo e alma ao combate. Ryolith "matador de dragões" Fox clamou pelo que restava de poder divino para esmagar as escamas negras da maldade que rastejam diante de sua sede por justiça. John "defensor dos mortos" Falkiner atacou com suas espada bastarda larga flanqueando um dos dragões. Bibiana "mensageira do divino" Crommiel atirou o conteúdo do cálice, como vira o Khar Xeita fazer no deserto, e o jorro brilhante fulminou o dragão, desfazendo-o como se fosse uma mera ilusão e levando ao chão o capanga de Nova Netheril. Leopoldo dos Távios atacava como podia embora seus poderes estivessem aquém da força inimiga.
Uma nova revoada das setas dos defensores do palácio tombou os orcs e trolls que ainda restavam cegos por ali, além de castigar os dragões. Mais alguns minutos bastaram para transformar o que parecia uma suprema derrocada numa vitória eminente. Ryolith contou com a predestinação digna do heróis para atingir o inimigo verdadeiro entre as ilusões e tombá-lo. Bibiana golpeou o outro usando o cálice como se fosse uma maça. Banhados naquela luz divina, movidos pelo que havia de mais justo e verdadeiro, eles sentiram o doce sabor da mais árdua vitória.
- PAREM! - veio o grito estrondoso que paralisou todos ali com exceção de Falkiner. A sinistra voz não lhes era estranha e logo lembraram-se de Aldebaran Atenas, servo fiel de Tyr, senhor da justiça. Ele agora vestia uma armadura negra e o símbolo do deus da tirania, Bane, uma manopla negra de punho cerrado. O efeito mágico que se dera era por demais devastador preocupou-se John. Parecia ser algo épico, muito além de suas capacidades. Mesmo assim, ele era a única coisa que restava entre o traidor, os dragões e o cálice de Amaunthor. - Seu brinquedo lendário não irá salvá-los, papa defunto. O poder de Bane irá varrer e purificar Cormyr e logo esta será uma terra digna de um povo forjado a ferro e fogo.
- Mi mi mi... só se for por cima do meu cadáver.. eu sempre soube que você era um enrustido de uma figa - disse Volcana Boaventura surgindo na porta do palácio e disparando uma chuva de flechas sobre a armadura completa do servo do mal. Isso, entretanto, não foi suficiente para detê-lo. O servo do medo e da tirania passou por cima de quem estava à sua frente, gigante que estava pelo poder de Bane e por uma manopla negra misteriosa que tinha na mão direita. Essa manopla, ao tocar o cálice, fez cessar a luz. Num passe de mágica, Aldebaram, Bibiana e o cálice não estavam mais lá.

Durante 22 horas ininterruptas o grupo viajou velozmente sobre as montarias fantasmagóricas convocadas por Francisco "o necromante branco" Xavier. A incrível velocidade daqueles seres mágicos impedia até mesmo Daphne de voar, pois acabaria ficando para trás. Quando a segunda leva de conjurações terminou, no entanto, todos precisavam de descanso, em especial, o mago da Fortaleza da Vela.
Decidiram que Daphne e Ehtur cuidariam cada um de um turno, enquanto que Xavier, Leila Diniz e Rock dormiriam todo o tempo. Os demais se alternariam em períodos menores e iguais com um dos dois servos da natureza. Estavam próximos do segundo paredão de pedra tendo o vislumbre do segundo planalto, ao centro do qual assomava uma colossal montanha, cujo cume era coberto de neve e encoberto por nuvens. Vieram circundando o paredão e evitando estradas. A área ali era mais erma, embora tivessem avistado uma pequena cidade no caminho.
Em pouco tempo, os preparativos mostraram-se desnecessários, uma vez que logo depois dos primeiros se deitarem, a experiente druida percebeu a aproximação dos mortos vivos. Um grito bastou para levantar a todos, que deram-se conta de estarem cercados. Os mortos vivos pareciam guerreiros preparados para o combate, não tinham corpos mutilados e decompostos como os dos zumbis ou deformados como os dos carniçais que encontraram até aqui. Estes vestiam finas armaduras de batalha e portavam armas de fina qualidade. Além disso, eles eram resistentes aos ataques, absorvendo parte do dano que recaia em seus corpos sem vida.
Mesmo contra seres malignos de tal feitura, o grupo conseguiu resistir e defender-se, tombando-os aos poucos e evitando chamar atenção a princípio. Ehtur "empalador de cadáveres" Telcontar trespassava-os com toda a fúria sem precisar se conter. Os demais, mesmo não sendo tão efetivos, combinavam os ataques para um sucesso maior. Foi quando as magias começaram que o verdadeiro problema se revelou. O grupo viu-se fustigado por bolas de fogo e relâmpagos, que pareciam vir de muito longe. Mais devastador foi o efeito do murchar horrível, que evaporou a água dos corpos de todos da maneira mais agressiva possível de se imaginar. Vendo a vida escapar-lhes como vapor pelos poros, todos cuidaram de escapar como podiam. Daphne tomou a forma de uma mosca e voou. Sirius, Úrsula e Ehtur, invisíveis, julgaram ser mais prudente evadir do local. Rock conjurou uma magia para fugir mais rápido, enquanto restavam os caídos Francisco, Samwise e Leila.
Uma nova leva de magias seguiu-se. Novas bolas de fogo e relâmpagos derrubaram Ehtur e Rock. Daphne conseguiu passar desapercebida, enquanto Sirius e Úrsula restavam graças à esquiva sobrenatural que possuíam. Finalmente, um grupo de seis magos se manifestou no local com a arrogante certeza da vitória. Desdenhosos da real ameça que representava aquele grupo de heróis, pareciam mais interessados em levar a feiticeira da Fortaleza da Vela.


Enquanto Daphne aproveitou para curar seus companheiros discretamente, não sendo mais do que uma simples mosca, Úrsula "a matadora de magos" Suarzineguer aproveitou para surpreender os inimigos e fulminá-los com suas setas certeiras com a ajuda de Sirius. Isso trouxe em respostas mais uma chuva de magias. Se antes os reflexos o salvaram, dessa vez Sirius "morrer de novo" Black acabou sendo desintegrado.
Dessa vez, dois outros magos vermelhos de Thay surgiram. Eles viram o guardião e o bárbaro se levantarem, ainda que muito feridos. Assim como a meia-dúzia de magos anterior, estes encontraram o mesmo destino sob as setas certeiras da arqueira gnoma. Longe dali, o líder deles não se deu por satisfeito e, dessa vez, enviou quatro grandes aparições para perseguí-los.
No limite de suas forças e muito combalido, o grupo não mais se demorou. Daphne se transformou em um aarackocra resgatou o corpo de Leila Diniz e voou o mais rápido que podia. Ehtur, por sua vez, apanhou Úrsula e correu junto com Rock seguindo o rumo da druida.



6 de set. de 2012

Profundezas e disfarces....


Ainda nos limites de Thay, Francisco Xavier, Leila Diniz, Sirius Black e o lobo David cruzavam o grande lago que tinham à frente sobre suas montarias fantasmagóricas. Os seres mágicos eram capazes de cavalgar a água como se chão fosse, além de viajar numa velocidade absurda, mas não maior do que a dos dragões que eles viram surgir no horizonte. Os magos vermelhos que vinham sobre eles denunciaram logo o risco que o pequeno grupo corria. Tentaram uma ação evasiva, mas isso só iria prolongar por poucos minutos a chegada dos antagonistas. Sem outra alternativa, Francisco "mudança de planos" Xavier usou de seus poderes ocultos para repetir o teleporte, como se fosse um feiticeiro, e lançá-los mais próximos do ponto em que Úrsula dissera estar o grupo agora.
Eles manifestaram-se, sem as montarias, sobre as águas torrenciais de um rio largo, caindo e sendo levados. Tiveram dificuldades tremendas de se manterem nadando, com exceção de Xavier, que chegou às margens com certa facilidade, por ser alguém que sempre preferira uma aula de nado a longos debates. 
Daphne "olhos de águia" sobrevoava a região, enquanto o restante do grupo seguia invisível ao redor do bárbaro Rock. Foi ela quem viu o tumulto súbito sobre o rio, quando os demais estavam pouco além da ponte, ainda pensando em esconder uma das identidades falsas com um manto para os companheiros desgarrados. A jovem druida lançou um alerta e rumou para o rio, onde transformou-se em um grande peixe e auxiliou no resgate de seu companheiro animal e seus amigos. Não tardou para que aqueles aliados a tanto tempo separados pudessem novamente encontrar amparo na camaradagem que os unia.
- Sirius.. onde está Bibiana? - indagou Samwise prontamente.
- Provavelmente morta! O mesmo destino de nosso bom e velho Yorgói... mortos pelos mesmos malditos que me fizeram isso. - o ladino expôs as chagas causadas pela crucificação. - Se estou aqui.. é apenas porquê o Senhor de Todo o Conhecimento abençoou-me com a sagacidade para surrupiar um pergaminho de teleporte e escapar...
Ficaram surpresos com a fortuna do encontro entre o outrora servo de Máscara e os arcanos da Fortaleza da Vela em uma ilha no meio do oceano. Um sinal de Oghma, eles repetiam. Mas o que saltava aos olhos de todos era a influência de Francisco Xavier sobre Sirius Black. Leila Diniz mantinha-se silenciosa e misteriosa como antes.
Fato é que usando as identidades falsas que possuíam e contrariando as orientações que receberam de Orimel, pois não viam outra solução, disfarçaram-se de magos vermelhos de Thay e seguiram viagem. Francisco Xavier, Leila Diniz e Rock assumiram as identidades falsas, inclusive com os dois humanos raspando seus cabelos para melhor representarem os papéis que lhes cabiam. Rock estava um tanto perturbado por uma visão, mas parecia não querer falar sobre o assunto.


Primeiramente, foram até uma fazenda, onde usaram de autoridade e arrogância, como é típico da elite arcana local, para conseguir comprar uma carroça, dois cavalos e um escravo de nome Eráclito. Disfarçaram o lobo cobrindo-o com palha na carroça. Eráclito ia conduzindo o veículo, enquanto Leila e Francisco iam descansando sentados. Rock ia a pé, assim como Ehtur, invisível, e Sirius, posto como escravo mal trapilho.  Daphne mantinha-se nos ares, agora como um simples corvo dessa vez. Úrsula e Samwise além de invisíveis, iam escondidos também pela palha.
A cada posto de vigília, que ficavam espaçados 8 quilômetros um do outro, o grupo levantava mais e mais suspeitas. Embora fossem sempre liberados ao mostrar os documentos, o tempo ia se alargando, assim como a desconfiança dos guardas. Daphne mantinha-se atenta ao vôo do mago vermelho sobre um grifo, que ainda estava bastante à frente e parecia ser a maior ameaça no momento. Quando ele pousou em uma das pequenas fortificações mais à frente, ela achou prudente conferir o que lá se passava. 
Ela levou consigo Razão, a doninha de Xavier, para que esta pudesse compreender a língua estrangeira de Thay. Enquanto o animal esgueirou-se para o posto, a druida avistou as pessoas crucificadas na entrada da cidade à frente, além de um grande tumulto. O pequeno familiar captou a mensagem de que as autoridades estavam informadas sobre uma estranha movimentação e que providências estavam sendo tomadas. Sabedores disso, o grupo apressou-se em deixar aquele caminho e buscar refúgio em alguma propriedade rural mais afastada da estrada.
Novamente fazendo uso do disfarce, Xavier quase complicou-se por conta de seu sotaque e sua pouca habilidade com as palavras. Foi preciso que o jovem bárbaro intervisse e conseguisse apaziguar as desconfianças do dono da propriedade. Conseguiram pouso e descanso passando-se justamente por investigadores em busca de espiões. Úrsula realmente encontrou rastros na propriedade, próximos à senzala, mas de um escravo que fugira a não muito tempo, o que não parecia ter sido percebido ainda.
Pela manhã, quando já se preparavam para partir após farto desjejum para o trio de falsos magos, Daphne surgiu para alertar o grupo de que o verdadeiro mago montado no grifo vinha se aproximando naquela direção. Francisco "me falta diplomacia" Xavier impulsivamente optou por chamar logo a atenção do mago thayano à despeito da preocupação de seus companheiros, que não podiam, no entanto, revelarem-se.
- Seu sotaque é estranho, além de sua fala enrolada, certamente indigna de estar entre os nossos. Revele seu disfarce, ignóbil farsante!
- Fa.. fa.. farsante, ee.. eu? Nã.. nã.. não... so.. so.. sou ga... gago...
- Não existem magos vermelhos de Thay gagos, imbecil! Somos seres perfeitos e superiores, além das falhas das pessoas comuns. Somos selecionados entre os melhores filhos das melhores famílias de sangue mulhorandi. Seu único talento é a estupidez.
- Perdoe-o, milorde. - interviu Rock esbofeteando Xavier. - Ele não completou o curso, mas sempre almejou ser um de nós. Tinha talento arcano, mas não venceu as próprias limitações. Por piedade, permiti que ele caminhasse comigo, me service como um fiel lacaio com algum talento mágico.
- Piedade é para os fracos! Você apenas está se entretendo com um macaco que pensa que é gente - repudiou o mago vermelho. - Onde estão as tatuagens de vocês?

- Ele nunca as recebeu.. já eu estou peregrinando para encontrar o sinais que encantarei para cobrir minha pele. Quero símbolos realmente poderosos.
- Mas e ela que não tem sequer os cabelos raspados e veste vermelho?
- Ela.. ora.. ela é minha acompanhante.. uma rapariga que me esquenta a cama. Se continuar a me servir com tanta dedicação farei dela minha concubina. Vim aqui inspecionar em busca de espiões e aproveitar da hospitalidade dos fazendeiros dessas terras. Minhas montarias foram requisitadas para os combates e estou tendo de me virar com minhas magias. - falou convincentemente Rock "calmo e articulado" dos Lobos graças ao elmo da eloquência que haviam adquirido.
O mago vermelho, que havia enfim pousado, deixou o grifo, caminhou até Xavier e começou a surrá-lo.  Não parecia satisfeito em deixar tudo como estava. Depois de deixar alguns hematomas e arrancar o sangue do falso mago vermelho, ele satisfez-se. - É assim que se lida com inferiores! Nunca deixe-os pensar que podem ser iguais a você.
Para provar que havia entendido, Rock completou a surra, deixando Francisco Xavier seriamente ferido.
- Os espiões de Aglarond estão sendo crucificados nas cidades aos montes. O que encontrou aqui? - disse o mago parecendo satisfeito com aquilo.
- Venha comigo.. irei mostrar-lhe os rastros.. - e assim Rock conseguiu sair dali acompanhado apenas do mago vermelho. Úrsula foi a única que os seguiu sorrateiramente, enquanto o autêntico mago vermelho tentava mostrar a Rock como o apego dele aos inferiores era uma fraqueza. Quando chegaram atrás da senzala e Rock indicava o local dos rastros, Úrsula "a matadora de magos" Suarzineguer fuzilou o inimigo com uma chuva de flechas. Antes que ele se desse conta do que acontecia, seu corpo já estava pregado e morto na parede ao fundo da senzala.
Daphne avisou sobre o sucesso na resolução do problema. Ela chamou Francisco "o necromante branco" Xavier, que animou o corpo do mago como um zumbi e cuidando de manter o disfarce para os demais cidadãos daquela área rural. Conseguiram assim partir da fazendo com seu pequeno teatro. Desfizeram-se da carroça, assim como libertaram o grifo e Eráclito. Colocando o escravo sobre o animal, deram lhe a notícia e este ficou feliz como só o sabe quem já recuperou a liberdade.
Foi então que Rock pôs-se a explicar o que lhe afligia o peito...

Muito longe dali, quando John Falkiner e Ryolith Fox acordaram, viram que os Távios já se preparavam para seguir viagem. Bibiana não dormira e não parecia sentir-se cansada. Disse ter ficado contemplado o céu sem lua ou estrelas por toda a noite orando por seu Deus e pela sorte de Sirius Black, Samwise e todos os demais. 
O Khar Xeita empunhava o artefato do deus do sol e convocava seu povo a prosseguir com a chegada de mais uma manhã. Ele anunciou aos estrangeiros que o destino daquela tribo era as ruínas nas montanhas no limite do deserto. Era lá que o cálice sagrado cumpriria finalmente seu destino.
- Nós estivemos lá - interviu Falkiner. - Não é seguro.
- Fomos atacados por uma naga e asabis. Eram servos poderosos do mal... - completou Fox. - E ainda existem muitos dragões azuis no caminho.
- Não devemos temê-los, pois nossa causa é certa e justa. Nossa missão é levar o artefato e assim faremos. Marcharemos com cuidado e evitaremos problemas, mas não podemos deixar de fazer o que deve ser feito. Vocês são bem vindos a nos acompanharem nessa peregrinação, valentes do sul. Venham comigo e meu povo para essa empreitada sagrada. 
- Iremos com prazer. Gostaríamos de poder contar com a benção do artefato após o destino dele estar cumprido. - disse Falkiner.
- Precisamos dele contra nossos inimigos das trevas. - acrescentou Fox.

- Não temam essas forças do mal, meus amigos. - Juntamente com as palavras do Khar, os três perceberam que a magia subitamente se desfez. John e Ryolith sentiram o vazio íntimo de perderem o contato com seus deuses. Também deram pela falta dos benefícios de seus artigos mágicos. Curiosamente, tão subitamente quanto a magia faltara, o amuleto do servo de Tyr que pertencera ao grande paladino Bar Kohkba começou a brilhar, permitindo a Ryolith "justiceiro do bem" Fox recuperar algum contato com o Senhor da Verdade. Apenas o artefato do sol parecia continuar como antes. - ...Nada pode deter aquilo que está certo.Tragam-lhes camelos.
- Vossas magias falham como as nossas? - indagou o servo de Kelemvor, que melhor percebera o acontecido. - Sentimos nossos poderes subitamente perderem-se.. nosso contato com os planos divinos está negado...
- Na verdade, meu amuleto abençoa-me, Falkiner. Sinto o olhar vigilante e o senso da justiça de meu Deus através desse símbolo sagrado.
- Eu também não me sinto privada de meus poderes.. - acrescentou Bibiana.
- O poder do cálice não nos faltará. Lamento que a magia tenha partido, clérigo da morte, mas não podemos perder tempo. Devemos partir.
Desse modo, os três servos dos deuses seguiram com a tribo nômade dos Távios por algum tempo, tentando acostumar-se ao molejo de suas novas montarias. Tudo seguiu bem até que avistassem os dragões azuis surgirem entre eles e a cordilheira a leste. Havia um dragão enorme, além de mais quatro um pouco menores. Seria um genocídio.
- Ó Khar Xeita, senhor dos Távios. Não teremos benefício se o poder desses seres atingir seu povo. - interviu John "guardião dos mortos" Falkiner. O líder dos beduínos concordou e despachou seus homens, mulheres e crianças em quatro grupos distintos. Restaram apenas o trio de servos dos deuses, o próprio Khar e cinco de seus melhores guerreiros, que avançaram em frente à máxima velocidade ainda almejando as ruínas. Sentiam o poder do cálice inflamar seus corações e abafar o medo que um dragão daqueles poderia causar.
O maior dos dragões e, por isso mesmo, o mais rápido deles, caiu sobre o grupo cuspindo um estrondoso relâmpago que quase custou a vida de todos. Bibiana foi a primeira a reagir usando de seus poderes divinos para castigar o monstro com o poder do Senhor dos Elfos. Isso, no entanto, representou pouco mais do que um incômodo. Os nômades investiram com suas lanças, que pouco penetraram na couraça da besta safira. John Falkiner avançou em carga e golpeou com sua espada não tendo muito mais sucesso. Por fim, foi a vez de Ryolith Fox, com a benção de Tyr e Bar Kohkba, esmagar a maldade personificada que combatia. O golpe certamente foi o mais efetivo, mas nem por isso significou um problema para o dragão.
Antes que o monstro agisse, no entanto, o Khar Xeita ergueu o cálice, cujo brilho expandiu-se ainda mais. Sem temor ou receio, ele gritou para a criatura.
- Seu destino é a derrota, ser vil e desprezível. Nem os sombrios, nem qualquer outras abominações poderão lhe dar poder suficiente. Você está no caminho de uma força que não pode ser contida, dragão. A força daquilo que é certo. - E tendo dito isso, arremessou o líquido cintilante que se produziu no interior da taça e jorrou como lava escaldante sobre as escamas safiras do servo do mal. Aquela energia transbordou como uma explosão solar incomensurável devorando todo mal em seu caminho e varrendo até mesmo as sombras mais tímidas. Os demais dragões fugiram aterrorizados.. o maior deles tremeu no limite de suas forças. Suas poderosas escamas haviam sido pulverizadas por aquela luz purificadora. Ryolith Fox não exitou. Clamando por todos os poderes da verdade e da justiça, ele fustigou o dragão azul com o peso de sua espada.


Mesmo feridos, curaram-se como puderam e seguiram para as ruínas, após recolher o que restara do couro do dragão. Encontraram o terreno todo revirado, tudo ali parecia ter sido perturbado, embora já não houvesse sinal de qualquer criatura vivente. Os rastros davam conta de que os asabis haviam partido a horas. Viram isso pouco antes de ver a terrível cidade voadora das sombras surgir no horizonte a oeste, assim como a agitação dos dragões no alto das montanhas. Buscavam uma resposta e Falkiner foi quem encontrou a serpente, que para surpresa de todos lhes falou:
- Venham comigo.. lá poderemos conversar em segurança. Vocês trazem o cálice de Amaunthor, mas não estarão em segurança aqui, uma vez que os dragões estão aliados aos que se chamam Neo Nethereses. - e ela retornou às sombras atrás de uma parede corroída pelo tempo. Ali, os viajantes encontraram uma passagem, escadarias que desciam camufladas por uma mera ilusão de ótica.
Foi no interior das galerias sob o deserto, que o grupo conheceu a verdadeira forma daquele mensageiro. Naquele lugar vasto e suntuoso, ele escutaram como Pil'it'ith, um ser aparentemente antiquíssimo, fora assaltado e desrespeitado pelos monstros vis que haviam estado ali anteriormente. A naga e seus serviçais o drogaram e roubaram importantes relíquias. Ele lhes explicou calmamente o que ocorria e o porquê de ajudá-los.
- Os Filhos de Shar.. ou Sombrios, como vocês humanos os chamam.. ou Neo Nethereses, como eles mesmos se chamam, alijaram todo o Anauroch do contato com a magia. Eles negam a benção de Mystrul a este mundo e se nada for feito, logo tal chaga se espalhará por todo o mundo. Isso em nada me interessa, ver tais servos da Destruidora eclipsarem tudo com suas artes sombrias e esse artefato que está em vossas mãos talvez seja uma das poucas esperanças que restam. Eu tenho meios ancestrais e que estão além do simples tecido mágico do mundo para enviá-los às suas terras do sul, onde poderão vencer a batalha que talvez traga a esperança de vencer a guerra. Não posso enviar todos, no entanto. Meu poder é suficiente para 4 de vocês!
Foi assim que ao trio de servos dos deuses juntou-se Leopoldo, o guerreiro em quem o Khar depositava maior confiança. Por não poder deixar seu povo sem seu líder, ele designou o beduíno como o portador do cálice de Amaunthor, o representante dos Távios e do Khar Xeita. Eles despediram-se e prometeram que não deixariam de levar o bem ao triunfo.
Um instante depois, Ryolith e John viram-se diante do palácio de Volcana Boaventura, onde a guerra corria solta...