30 de jun. de 2012

A Fortaleza da Vela...

Despertos e reunidos, nossos heróis conversaram sobre seus sonhos e foram em busca do servo de Morpheus, esperançosos de que Lorde Byron estivesse menos alterado. Crufiel, no entanto, os informou que seu mestre apenas teria com eles mais tarde, em companhia da senhora Isabeau Sulivan.
Sem outra opção, dedicaram aquela manhã a conhecer melhor Soubar. Ehtur, Rock e Yorgói permaneceram no grande templo de Kelemvor, onde puderam escambiar alguns produtos coletados pelo grupo a fim de angariar algum dinheiro para benefício de todos. Úrsula e Daphne, que liberara David para buscar uma floresta próxima, optaram por conhecer os arredores. Sirius seguiu só sem avisar o que ia fazer, já que pretendia fazer negócios próprios.


O bairro hobbit era um lugar a parte dentro da cidade. Tudo era bastante organizado e limpo, além de adaptado a estatura da sua população. Os cidadãos pareciam sérios e concentrados no que faziam. Úrsula e Daphne foram comprar algumas mudas de abacaxi. A viúva de Arnoux queria conseguir informações para levar para Brasillis a cultura que tanto animara seu marido. Sirius, por sua vez, buscou um lugar para comercializar alguns itens que recolhera em Evereska. Passou por um ferreiro e um armeiro, antes de chegar à pequena guilda arcana Gengis Khan de Soubar. No caminho, no entanto, deparou-se também com a jovem druida e a gnoma, que acabaram vendo as armas élficas recolhidas pelo senhor Black. Isso causou certo desconforto entre Daphne e Sirius, cuja natureza abnegada logo se indispôs com a profundidade do materialismo individualista do ladino.
De volta ao lar de Azrael, todos foram reunidos para o almoço pela governante Isabeau Sulivan. Além deles, estavam ali os principais clérigos da ordem, assim como os capitães das tropas. Lorde Byron invadiu aquela reunião, ainda com palavras ríspidas para com Rock, mesmo diante dos apelos de que tentassem continuar.
- Devido à sua ação infantil e impensada, Azrael Sulivan está além de nosso alcance.
- Mas por que?
- Agora, todas as entidades estão cientes de nossos movimentos. Você traiu a minha confiança em você, garoto. Lembre-se que é o poder de Morpheus que o manteve oculto daquele que matou seu pai e seu povo.
- Nós precisávamos salvar nossa amiga Alissah Eagle. Estamos atrás dela a muito tempo.
- Se tivessemos salvo Azrael, provavelmente sua amiga já estaria liberta entre nós. As peças devem ser movidas no seu devido tempo. A precipitação é uma fraqueza. Até mesmo o criminoso que estava aprisionado com ela poderia ser libertado. O egoísmo vosso os impede de ver tudo num espectro mais amplo.
- Pois eu estou de saco cheio dessa sua conversinha. Por que diabos os seus interesses são os verdadeiros? Você nos enche com sonhozinhos, visões e missões, sem nos deixar pensar por nós mesmos.. eu estou farto. Pode pegar suas malditas opiniões e enfiar no rabo.. - disse Ehtur batendo na mesa.
- O poder de Morpheus é nossa única esperança.. - continuou Byron tentando manter a discussão.
- Silêncio! Vocês não estão falando de uma missão qualquer.. mas do meu marido.. do senhor dessa cidade e desse templo. Eu exijo respeito pelo homem que nunca pensou em si mesmo, mas sempre no bem deste mundo e do reino dos mortos.
- Ainda creio que possamos tentar.. eu irei pensar em Azrael dessa vez. Sinto que tenho cada vez mais.. controle...
- Isso será inútil, rapaz. Precisamos de muito mais do que antes nesse momento.. e Orcus está de prontidão esperando por você.. ele precisa de seus poderes.. você é a chave para invadir os Sete Céus.
- Assim como você só se preocupa em controlar os poderes dele, sua raposa ardilosa.. - alfinetou Ehtur deixando a comida, derrubando a cadeira e se retirando antes que perdesse de vez o controle.
- Ainda que tenhamos complicado os planos dos yuan-ti e repelido seu Deus Serpente, ainda temos que cuidar das possibilidades e consequências de seus planos. Isso sem falar no Culto do Dragão.. na guerra civil que se inicia em Cormyr.. no assassinato dos lordes da Cidade dos Esplendores..
- Assassinato dos lordes?
- Vários foram assassinados.. provavelmente pelos Ladrões das Sombras.. posso lhe afirmar que um Amkathra subiu ao poder.. tornou-se um dos novos lordes..
- Malditos.. - rangeu os dentes a jovem druida lembrando-se de seus odiosos parentes, enquanto Sirius lembrou-se bem das relações entre a guilda e a família de escravocratas.
- Somam-se a isso os autoproclamados novos nethereses e sua cidade voadora.. e também os phaerimms.. saibam que enquanto algum deles restar, vocês não terão a alma de Arnoux, nem poderá ser salva a da rainha Querdalla. Tudo isso mostra como os problemas são muito maiores...
- Deve haver algo a fazer...
- Na verdade, existe uma única esperança, mas essa resposta não está aqui.. para isso.. nós devemos rumar para a Fortaleza da Vela...


Muito longe dali, um velho homem, cujo corpo castigado por quase um século de vida apoiava-se sob um cajado, viu chegar ao seu aposento uma bela mulher. Ela era uma de seus oráculos, uma das mais misteriosas mulheres nessa morada do saber, destacando-se mesmo entre os destinados a dar voz às antigas profecias. Ao lado do velho ancião de longa barba branca estava um mago, jovem se comparado a ele, mas cujas 3 décadas de vida já haviam tornado experiente.
- Seja bem vinda, Leila Diniz..
- Mandou chamar-me, Grande Leitor?
- Sim.. este é Francisco Xavier.. vocês devem se conhecer, ainda que seus ofícios aqui não estejam diretamente relacionados. Vocês foram convocados aqui, pois somos guiados pelas grandes profecias de Alaundo. Elas não só ditam os ritmos do tempo, mas são uma leitura minuciosa dos meandros de nossa existência. Eles são como os ecos profundos advindos de um futuro sombrio, a tinta que respinga além da folha na antiga caligrafia que compõem a existência. Assim sendo, não poderiam deixar de anunciar as vicissitudes que se avizinham, as semânticas que nos conformam. Há muitas semanas, desde o eclipse sombrio no norte, mazelas vem sendo liberadas sobre este pobre plano e muitas são as notícias que chegam todo o tempo. Um grupo de recém-chegados virá em busca de nossa ajuda.. eles vem do norte e esperam que nós sejamos a solução de seus problemas. Vocês dois devem se preparar. Eu acreditei que partiriam antes, havia feito outros planejamentos, mas terão de seguir com esses arautos.. vocês representarão nossa ordem em uma arriscada missão...




Byron entregou a cada um deles um livro. 
- Quando lhes for pedido, entreguem estes tomos mágicos ao solicitante. É o preço para a entrada na Grande Biblioteca, lar de todo o saber e grande templo de Oghma, senhor da sabedoria. Não questionem nada e aceitam o que lhes disser o guardião da entrada. Chegaremos com a noite.
Úrsula viu que seu livro tratava de taxidermia. Sirius pode folhear algumas informações sobre o exótico reino de Aglarond. Daphne segurou o livro sobre o reino das fadas e o povo da rainha Titânia, senhora de Faerie. Yorgoi leu sobre o vasto deserto do Anauroch. O jovem Rock recebeu um compendio que era como um guia dos planos. Ehtur passou os olhos por um texto sobre a vil citadela de Zenthil, onde expressavam suas intenções imperialistas com as Terras dos Vales aos sul.
Byron os teleportou. Surgiram em meio a uma estrada cujos passantes não se importaram com aquilo. Aqueles que os tinham no caminho apenas os circundaram e seguiram em frente. Muito mais gente vinha do que ia. Na verdade, ninguém ia, eles logo viram. Ao longe, as grandes torres luminosas, tinham o azul do mar como pano de fundo. O crepúsculo dava cores mais caledoscópicas para o horizonte.
Seguiram em frente até os portões da Fortaleza da Vela. Fizeram como lhes foi indicado e menos de uma hora depois, estavam no interior daquele templo do saber, guiados por um monge, sendo levados até alguém que, na verdade, já os aguardava.
O velho homem, chamado todo o tempo de o Grande Leitor, os recebeu com educação e seriedade em um aposento apinhado de livros e rolos de pergaminhos. Estava acompanhado de um mago e uma mulher muito atraente. Suas palavras, entretanto, não trouxeram conforto. Apesar do apelos de Lorde Byron, o Grande Leitor não parecia convencido de poder facilitar os intentos do servo de Morpheus. 
- Mas há um caminho. O Tomo de Mystra. O cânone sagrado de toda a magia.. este livro pode ajudá-los a atravessar os planos e salvarem o paladino da morte de sua prisão. Mas para tanto, vocês devem cruzar este mundo em direção às ímpares terras de Aglarond. Vocês devem procurar a rainha bruxa daquela terra. Ela é a dona do livro e só ela pode entregá-lo a vocês. Eu enviarei Leila e Francisco para acompanhá-los como nossos representantes, dando prova de nossa boa fé para com tal empreitada.
Um novo teleporte com mais passageiros dessa vez. Surgiram em uma tórrida e úmida floresta tropical. Não bastasse com o calor excessivo, as árvores eram imensas e o chão pouco firme. Com a orientação de Ehtur e Daphne, conseguiram uma boa trilha para escapar das armadilhas da natureza local, bem como evitar um grupo de pequenos humanoides, que o guardião chamou de tasloi. Uma vez fora da floresta, viram estar bem próximo ao mar. De acordo com as leituras, sabiam que tratava-se de uma península, quase toda coberta pela vasta Mata de Yuirm. Não tiveram dúvidas do rumo a tomar ao avistarem as torres da cidade ao longe.
Acabaram interceptados por um batedor do exército local, que sobrevoava a região em seu grifo. Joel os abordou e vendo serem ordeiros os seus intentos, guiou-os em direção à capital Velprintalaar, uma curiosa cidade costeira sem muralhas. Ainda caminhavam em meio à população aglomerada naquele lugar exótico e tão cheio de vida, quando as pessoas tombaram mortas. Foi como se toda e qualquer água evaporasse, mesmo a que estava no corpo das criaturas. Muitos caíram e apenas Ehtur, Rock e Byron restaram de pé, resistindo àquela magia.


24 de jun. de 2012

Lá e de volta outra vez...



- Cidadãos de Evereska.. - começou a falar com eloquência o arquimago Rhange Hesysthance Sorrowleaf - hoje nós fomos salvos e hoje nós lutamos como um povo que renasceu das cinzas. Outrora, Evereska foi a capital do reino de Aryvandaar e assim deve ser novamente. Hoje, vimos irmãos, filhos e maridos tombarem... hoje vimos nossa rainha entregar sua alma para privar nossos inimigos da força que buscavam.. hoje vimos estes humanos chegarem em nosso socorro, quando todos haviam nos esquecido.. quando nossos poder mostrou a impossibilidade de sermos auto-suficientes. Esse é o início de um novo tempo para nós.. Evereska não deve mais se esconder, mas sim se abrir para o mundo. É preciso receber a mão que nos é estendida, ao mesmo tempo que devemos cerrar os punhos para os que investem contra nós. Nossa bela cidade precisa ser reconstruída e estas vis criaturas, orcs, trolls e outros, que vieram nos atacar, agora arcarão com o ônus da reconstrução. Eles serão nossos escravos e nos servirão até pagarem seu débito para conosco. Podemos ter perdido nosso mythal, nosso exército, nossa rainha.. mas será isso que nos fará mais fortes. Eu, humildemente, como um regente, cuidarei de nossas chagas.. até o dia em que possamos recuperar a alma da rainha Querdalla e tê-la conosco em carne e espírito. - O corpo de Querdalla jazia inerte sob os olhares atentos de todos ali. - Devemos prantear nossos mortos, devemos curar nossos feridos e devemos nos preparar para um novo amanhã... - a aclamação popular foi unânime. Todos que ainda estavam de pé aplaudiram as palavras do arquimago, parecia haver um sentimento coletivo de alívio, mas também de fúria. Passaram a recolher os elfos caídos entre a horda de orcs, goblinoides e gigantes ainda paralisados pelo poder psiônico dos elfos da estrelas.
Nossos heróis viam que não tinham mais lugar ali. Ehtur deixou claro que deviam partir, Rock, no entanto, buscou por Marissa.
- Marissa, venha conosco. As coisas não vão bem e...
- Eu não posso partir, Rock.. meu povo.. eu tenho que protegê-los e guiá-los. Nosso lugar é aqui se queremos retornar a nosso lar.
- Mas o arquimago não é confiável.. esses recém-chegados são justamente quem viemos combater...
- Ainda assim, eu devo ficar. Meu lugar é aqui com meu povo. Além do mais, alguém sensata tem que ficar de olho nisso tudo, não é mesmo?
- Mas.. mas.. como eu posso falar com você?
- Use a sua magia.. e pense em mim.. pense sempre em mim e faça as coisas certas.. o que tiver que fazer.. e eu sempre estarei com você.. - Marissa disse com um sorriso, enquanto despedia-se com um carinho no rosto do grande bárbaro.
Talvez tendo ouvido essas palavras, Rhange acrescentou que todos os heróis desta guerra seriam condecorados, inclusive os heróicos anunciadores de toda aquela tragédia. Ainda assim, eles preferiram partir, assim como faziam os emissários da cidade voadora, à exceção de um embaixador que permanecia ao lado do arquimago Sorrowleaf. Humanos e gnomos seguiram, à exceção de Sirius Black, que surgiu apenas mais à frente, despindo-se da invisibilidade que o envolvia.
- Uma pena sairmos de mãos abanando.. - comentou Sirius como quem não quer nada.


Não tiveram maiores dificuldade para deixar Evereska. Ainda que as montanhas circundantes ainda estivessem apinhadas de monstros paralisados, guiados pelo guardião Telcontar conseguiram tomar o rumo sudoeste, que julgaram culminaria em Soubar. Viajaram todo um dia, com o cuidado de evitar o pântano de Cherllimber. Daphne voando em forma de águia avistou alguns homens-lagarto facilmente contornados.
Com a chegada da noite, resolveram buscar abrigo. Daphne avistou um monte solitário ao sul e dirigiram-se para lá. Antes de atingí-lo, no entanto, foram atacados por mortos-vivos que emergiam do chão amaldiçoado. Esqueletos e espectros de trevas caíram sobre eles, sem que houvesse quem os esconjurasse. A muito custo escaparam dos desmortos, perdendo muito da própria força vital apenas para dar conta do maior dos espectros. Aproveitaram-se do sumiço temporário das aparições menores para escapar.
Voltaram pelo caminho por mais algumas horas, temerosos de não estarem ainda seguros. Durante o percurso, todos escutaram a voz de Byron dirigindo-se a rock, que chegava pela magia de Morpheus.
- Retornei a Soubar. Quando terminarem em Evereska avisem para poder buscá-los. Como seguem as coisas?
Rock logo formulou a resposta a que tinha direito. - Pherimms atacaram. Partimos Evereska. Vencemos mas com intervenção cidade voadora Shar. Rhange regente, mythal destruído. Estamos a 3 horas ao sul pântano Cherllimber planície.
Poucos minutos depois da mensagem, Lorde Byron materializou-se próximo a eles. Todos se apressaram em contar os acontecidos de forma um tanto tumultuada. O principal servo de Morpheus os acalmou e teleportou todos dali de volta para Soubar, onde poderiam conversar com a devida calma. 

- Os phaerimms sugaram a alma da rainha Querdalla...
- E do meu amor Arnoux...
- Rhange Hesysthance se proclamou regente de Everska...
- A cidade voadora de Shar apareceu..
- O mythal foi desfeito..
- Devolveram a energia pros deuses élficos...
- Usaram a teia das sombras...
- Escravizaram a horda de orcs e trolls... - todos falavam desorganizadamente. Lorde Byron precisou de calma para extrair todas as informações. Ele alertou-os de que agora haviam outros problemas também. Ainda que tivessem conseguido atrapalhar os planos dos yuan-ti e seu malévolo deus serpente, isso significou a perda do nobilíssimo Azrael Sulivan. Ele estava aprisionado em algum plano entregue a danações inimagináveis. Sua esposa Isabeau estava cuidando da cidade, mas abalada com tudo aquilo. Gengis Khan, o líder hobbit, fora orientar seus comandados. Assim sendo, eles deviam ter o merecido descanso, exaustos  que estavam após uma viagem prolongada e a batalha contra os mortos-vivos.
Todos concordaram, com exceção de Sirius Black, que indiferente às questões do servo de Morpheus, achou melhor isolar-se num canto do aposento e tentar entrar em contato com a deusa da lua. Os demais seguiram para acomodações levados pelos servos do castelo.
- Fique Rock.. desejo tratar contigo de um ritual para resgatarmos o bom paladino Azrael Sulivan. Seus poderes planares com minha orientação são a chave que abrirá este ferrolho vil. Feche seus olhos e se concentre, meu rapaz...

Daphne aproveitou para solicitar a um clérigo do castelo que enviasse uma magia até a Grande Floresta. Conseguiu contactar Gaios que disse que as coisas estavam mais sob controle desde o ataque dos fey'ri, O pior parecia ter passado e os treants tiveram uma importante lição, mesmo que muito trabalho ainda houvesse. Com pesar, informou a morte de Sting. Apesar de já haver sentido a morte do companheiro em seus sonhos, Daphne não conteve as lágrimas.

Úrsula, ao ver-se só no quarto, abriu sua bolsa mágica e tirou o corpo sem alma de Arnoux. Ela deitou-o sobre a cama, tirou-lhe a armadura, as botas. Vestiu nele roupas boas para dormir.. ajeitou-lhe os cabelos. Depois, deitou-se abraçada com a cabeça sobre o peito de seu amado e adormeceu...

Yorgoi havia expresso suas saudades de casa durante a viagem. Ter quase morrido no estômago de um phaerimm parece tê-lo feito perceber que não era tão talhado para tudo aquilo como o resistente Ehtur ou o furtivo Sirius.. veja só Arnoux.. talvez gnomos não devam deixar seus condados. Mas pela alma condenada de seu camarada não podiam desistir.. o que poderia ser pior do que uma não morte eterna?

Sirius esteve tão concentrado em suas preces, que quando deu por si, o aposento estava quase vazio. Ele viu Lorde Byron manipulando energias que emanavam de Rock, como os fantasma assustadores que ele expelia. O servo de Morpheus canalizava essas energias em direção a um pequeno altar de Kelemvor que havia no aposento, alterando a realidade para formar uma espécie de passagem para um destino vermelho e repulsivo.
O ladino desesperou-se e não encontrou tranquilidade nas palavras "afáveis" de Byron. Vendo que Crufiel estava na porta dos fundos, optou por recuar dali de onde estava mesmo. Apressou-se e tão logo saiu, correu o máximo que pode gritando por seus aliados.
Acabou sendo severamente repreendido pelos guardas, furiosos com a confusão a uma hora daquela, e pelos camaradas, todos cientes do que se passava, ao contrário do desavisado Sirius Black. Ainda assim, ele insistiu que não era normal o que se passava lá... Mesmo a contragosto, todos acabaram indo com Sirius. Ao chegar à grande sala de reuniões. Os rastros de Byron e Rock desapareciam em pleno ar. Encontraram apenas um símbolo sagrado de Morpheus caído sobre o altar de Kelemvor. Foi então que ouviram a voz de Marissa em suas mentes:
- Algo aconteceu com Rock.. eu não o sinto mais...


Rock escutou algumas palavras de Byron antes de entrar numa espécie de transe, como se sonhasse acordado. Dessa vez, no entanto, ao invés de simplesmente se deixar levar, ele tentou controlar o que quer que fosse aquilo. Ao invés de preocupar-se com Azrael Sulivan, ele pensou em Alissah Eagle, a elfa buscada por Ehtur Telcontar. A imagem dela surgiu aos poucos. Estava ferida e desacordada sobre um chão pedregoso e escuro. Havia alguém ao seu lado e ambos estavam encarcerados em uma jaula de metal retorcido.
Um mero instante depois, ele já sentia o cheiro pestilento do ar. Toda sua pele sentia o calor extremo e desconfortável, ainda que seco como um deserto. Abrindo os olhos, ele viu o céu flamejante que vira tantas vezes em seus sonhos.  Lorde Byron estava ali com ele e parecia animado, apesar de preocupado.
- Temos que encontrar logo Azrael.
- Acho que ele está lá.. - despistou Rock apontando a jaula que via ao longe. Quando chegaram nela, no entanto, Lorde Byron soube prontamente que fora ludibriado.
- Quem são esses dois? Onde está Azrael?.. Ro.. - antes que ele concluísse o nome do jovem bárbaro. O imenso diabo vermelho manifestou-se.
- Vocês se atrevem a invadir meu reino?!? Eu que tanto procurei por esse reles mortal, tenho a sorte de recebê-lo como um presente. - vangloriou-se Orcus bêbado de satisfação. - Todas as saídas de meu reino estão seladas e nem mesmo os deuses poderão salvá-los agora, humanos.
- Morpheus está além do que você chama de divindades, pobre diabo. - retrucou Byron tentando ganhar tempo. Ele teleportou-se com Rock para dentro da jaula e envolveu-os em uma escuridão mágica.
Foi então que Orcus demonstrou o que significava a extensão de seu poder naquele lugar. A escuridão se desfez, o metal que compunha a jaula moveu-se como serpentes liberando a passagem, as correntes que prendiam os dois prisioneiros arrastaram-nos para longe dali, muito além do alcance dos dois viajantes planares, enquanto outras tentaram agarrá-los e contê-los. O príncipe diabólico resolveu dominar suas mentes, além de paralisar os seus corpos. Rock e Byron resistiram, mas quanto tempo teriam?
Numa tentativa desesperada, Lorde Byron tocou em Rock e tentou uma viagem planar. Surgiram no castelo em Soubar. O mais poderoso servo de Morpheus estava furioso. Olhou fundo nos olhos de Rock e berrou:
- Você é um moleque. Moleque.. você não é quimera não... é um moleque. Poderia ter matado nós dois.. e graças a você, Azrael Sulivan pode estar perdido para sempre. - Dito isso, desferiu um tapa no neófito.
- O que houve? - disseram todos os demais que viram-nos surgir do nada, após já terem sido alertados por Marissa. Restou a Rock explicar, pois Lorde Byron retirou-se bufando e sem dar explicações. Ehtur ficou agitado com as notícias.
As explicações se estenderam a Isabeau Sulivan, que surgiu buscando esclarecimentos. Apesar de estar abatida, a serva de Kelemvor orientou todos a se recolherem. Que tudo se desse no dia seguinte...

Todos deitaram e sonharam.
Ehtur viu tudo que acontecera com Rock e Byron, mas soube, graças à sua atenção clínica, que foram as estranhas forças de Rock que os resgataram e não uma magia de Byron. Ainda assim, a imagem que lhe ficou foi a de Alissah...
Sirius sonhou com uma bela mulher sentada num vasto trono em um amplo aposento. Ela tinha uma vasta cabeleira branca e era muito parecida com Alustriel, embora de aparência mais jovem. Ela dirigiu-se a quem quer que perturbasse seu pensamento. Sirius pode falar pouco mais do que sua conexão com Alustriel, que julgava ser irmã desta que via, antes de despertar...
Daphne sonhou com as areias do deserto cobrindo a Grande Floresta. A areia vinha numa tempestade do leste, cujo horizonte era coberto por uma escuridão.
Úrsula sonhou com um campo repleto de almas. Todas gritavam, cantavam ou entoavam palavras de louvor ou de convocação. Ela não entendia a maior parte do que era dito e sentia-se perdida entre todos aqueles espíritos. Buscou Arnoux desesperadamente. Quando julgou encontrá-lo e puxou-o para si, despertou...
Rock sonhou que era uma árvore. Sentiu o vento arrancar-lhe as folhas até que ficasse com galhos secos. Os galhos por sua vez foram corroídos e devorados até que só restasse o tronco. O tronco foi pulverizado pelo fogo até que só ficassem as raízes. As raízes dissolveram-se na terra...
Yorgói sonhou com um trono onde havia uma rainha morta e um garoto chorando sobre seu cadáver. Ambos pareciam elfos muito delicados, mas estavam cercados por gatos de aspecto maligno.

Acordaram todos com  nascer do sol...

16 de jun. de 2012

Teias...

- Força, Marissa. - incentivou Ehtur vendo que a elfa das estrelas começava a ficar sem forças, depois de ter paralisado os phaerimms.
- Nós estamos protegendo você.. - apressou-se a completar Rock, num tom devotado.
- Meus poderes estão se esgotando.. não posso contra tantos. Precisamos tentar outra coisa.. eu acho.. acho que talvez eu possa despertar o poder do meu povo.. acho que consigo despertá-los para nos ajudar. É nossa única esperança.
- Nós a levaremos pra lá.. - disse Ehtur posicionando-se para voltar ao palácio. Ele cuidou de lembrar quais eram os phaerimms que haviam tomado as vidas de Yorgói e Arnoux, enquanto trocava sua lança por uma não mágica. Úrsula, tentando se recuperar do choque, esgueirava-se invisível na direção do corpo do marido, enquanto sentia as lágrimas correrem pelo rosto.
- Eu mesma chegarei até eles.. será mais rápido.. posso levar alguém comi..
- Eu vou.. - disse Rock prontamente, sem que ninguém discordasse. Marissa e ele sumiram um instante depois de mãos dadas. Ehtur cerrou as mãos sobre a lança e investiu em sua melhor carga contra o phaerimm que engolira Yorgói. Daphne e David investiram contra o outro que tomara a alma de Arnoux, permitindo a Úrsula apanhar o corpo e tirá-lo dali.
Sirius Black recuou e pegou adagas não mágicas, enquanto estudava a forma mais eficaz de atacar. Viu surgirem de dentro do palácio Feanor Inglorium, que vinha de espada em punho pronto para o combate. A capitã Villya Loong veio a seguir gritando comandos que mal eram ouvidos. De várias direções chegaram também outros elfos melhor equipados para a batalha do que os pobres soldados que tombavam diante dos phaerimms. Os arquimagos posicionaram-se numa distância segura das criptas de onde os phaerimms emergiam. Por fim, o patriarca Tagore Ebrius escorou-se no portão e praguejou:
- Malditos phaerimms... - abriu uma garrafa e começou a beber assistindo todos os demais se lançarem à luta.

Marissa e Rock apareceram em um dos enormes quartos do palácio, onde dezenas de elfos das estrelas, ainda fracos e acanhados, procuravam se recuperar.
- Filhos das estrelas.. meu povo... - ela falou na mente de todos ali, inclusive de Rock - esse lugar está ameaçado. Evereska está sendo assaltada por monstros ainda mais terríveis do que os rakshasas. Muitos estão morrendo.. nós precisamos ajudá-los..
- Mas como, minha princesa, se não temos nossos poderes.. não temos forças para fazer nada. Sem nossos IDs somos incapazes e inúteis.. um peso morto.. os rakshasas não nos mataram, mas destruíram nossas almas.
- Os evereskines nos ajudaram, como era o dever deles.. agora é nossa vez de mostrar porque fomos abençoados pelos Seldarinne. Essa graça não é um apêndice, algo externo à nossa existência, mas sim uma materialização de nosso espírito divino tocado pelos deuses. Nossa alma não pode ser tirada de nós. Tenham fé.. unam-se a mim, Marissa Stardust.. despertem suas almas e nossas estrelas brilharão como uma só constelação.
Essas palavras da jovem princesa inflamaram os corações de todos ali. O elfo mais próximo, que a questionara antes, foi quem primeiro se ajoelhou diante dela. Marissa foi tocá-lo nos ombros para demovê-lo de tal ato, afinal aquilo não era necessário. Ao tocá-lo, a elfa das estrelas viu o brilho voltar ao elfo. Em um minuto, ele viu seu ID materializar-se ao seu lado.

Do lado de fora do palácio, os arquimagos tiveram o cuidado de resgatar quantos corpos foi possível sem suas magias entrarem em contato com os phaerimms. Isso salvou os corpos de perecidos, mas também de alguns soldados ainda moribundos, colocando-os o mais seguros possível.
Das montanhas ainda vinham o som de trombetas, que certamente não eram élficas. Orcs.
Os soldados seguiam combatendo, um tanto mais animados com os reforços. Suas investidas, no entanto, surtiam pouco efeito. Os trovadores da espada também viram suas habilidades especiais, em boa parte mágicas, apenas servirem de iguaria para o inimigo. Talvez alguns tenham sentido-se aliviados quando a capitã Loong, assumindo a linha de frente do conflito, ordenou que abandonassem suas posições e seguissem para a defesa do perímetro da cidade.
Os phaerimms pouco se importaram. Os mais adiantados seguiram dizimando os que ofereciam resistência e abrindo caminho. Um grupo de seis monstros rebentou pelas defesas e cruzou o caminho até o palácio. Tagore Ebrius pouco tempo teve para escapar, enquanto as criaturas chegaram aos salões.
Ehtur estuporara o phaerimm que vitimara Yorgói. Com o flanco aberto, Sirius terminou o serviço. O guardião passou a violar a carcaça dura do monstro. Sirius, por sua vez, preferiu seguir os phaerimms que invadiram o palácio.
Mais à frente, Daphne e David logo perceberam que seus ataques não eram absorvidos pelos inimigos, como era o caso dos demais. Somando-se ao flanco de Feanor, conseguiram acoçar os phaerimms que não paravam de chegar, bloqueando uma nova passagem. Isso impediu que Villya e seus homens fossem encurralados. Úrsula pode colocar o cinturão de força de gigante do marido para facilitar o trabalho de carregar o falecido.
O patriarca Ebrius cambaleou para a linha de frente, bebeu um longo gole, antes de cantarolar em élfico:
- Oih, voih bebier piá eskhieccer meos pobienmas.. oih voih bebier piá eskhieccer mias angústhrias...
Os arquimagos seguiram com um ataque desesperado. Comungando todos os poderes, eles lançaram um magia tão épica, que julgaram estar acima da capacidade de absorção dos inimigos. Os phaerimms viram-se engolidos pelo próprio chão, desaparecendo de vista. O alívio, entretanto, não durou sequer um segundo, pois um instante depois, os monstros estavam de volta, totalmente recuperados e ainda mais ameaçadores.
- Parem de atacar.. por todos os deuses.. PAREM DE ATACAR!!! A MAGIA APENAS OS FORTALECE.. ESTERCO!- gritou Daphne desesperada, dirigindo-se aos arquimagos. Ehtur, sem nem mais uma gota de paciência com os elfos, ficou feliz em encontrar um bracinho de gnomo escapando da carne fétida do monstro. Puxou-o, sentindo o pulso do camarada e satisfeito de que não precisaria dos deuses para trazê-lo de volta.

Dentro do palácio, Rock assistia a Marissa dar as mãos ao povo dela formando um grande círculo. Todos comungavam em uma mesma sintonia e o jovem bárbaro sentia por não poder ajudar, desconhecedor que era dessas coisas psiônicas. Permanecia, ao menos, vigilante. Viu que a energia se espalhou e todos os elfos das estrelas esmeraram-se para recuperar o âmago de seus seres. Porém, dessa vez, ao contrário da anterior, não houve sucesso. A energia não se espalhou.
- É melhor irmos um por um. Fiedro.. faça como eu fiz.. venham Khassandha e Domythilla...

Sirius Black julgou que poderia dar conta dos phaerimms, pegando-os inadvertidamente pelas costas. Quando atacou o primeiro, entretanto, não conseguiu derrubá-lo e a criatura só precisou de um pensamento para dominá-lo e fazer dele seu lacaio, levando-o junto para dentro do castelo. Curiosamente, não haviam guardas oferecendo qualquer resistência. Os phaerimms rapidamente chegaram à sala do trono. Quando Sirius Black chegou, acompanhando o último deles, viu que descobriam uma passagem secreta sob o assento real, que fora arrancado e atirado de lado.

Villya e os demais trovadores da espada se empenhavam, mas eram cada vez menos efetivos e tombavam mais rápido. O phaerimms já passavam de uma centena. Feanor era mais efetivo, lutando ao lado da druida e seu lobo, mas também já não conseguia deixar de ser acertado pelos inúmeros braços dos monstros. A situação era periclitante e a derrota era iminente. Os arquimagos resolveram agir para desespero de Daphne - Conjuraremos elementais. Não haverá o que absorver, pois a magia é o que os trás até aqui. - gritou um deles tentando tranquilizar a todos. Os vinte imensos elementais surgiram caindo como uma avalanche sobre os phaerimms.. mas foram absorvidos como uma saborosa brisa de verão pelos monstros, novamente fortalecidos pelo ataque.
Todos já pensavam se não seria melhor atacar os arquimagos, enquanto buscavam recuar. Foi Tagore Ebrius que surpreendeu, quando chegou, ainda que cambaleante à frente. Inchando as bochechas, ele soltou uma baforada gélida que atingiu vários phaerimms, ainda que tenha exigido uma ação evasiva dos próprios aliados. O sopro gélido castigou os inimigos, ganhando algum tempo.

Sirius descia ocupado em defender seu novo amo, embora tivesse consciência de tudo que acontecia. Com as adagas em mãos, viu os monstros descerem pelo túnel finamente trabalhado, que como as criptas, tinha uma arquitetura anã e não élfica. Os phaerimms flutuavam acima dos degraus e logo chegaram diante de uma pequena piscina em um aposento perfeitamente redondo. No centro do aposento, acima da piscina, havia uma grande esfera flutuante, que emanava uma luz prateada. A rainha Querdallla estava atrás da esfera e parecia orar.
- Está tudo acabado, rainha dos vermes.. - gabou-se o primeiro dos monstros falando na mentes de todos que ali estavam.
- Só está acabado, quando termina, besta irracional. - disse a rainha em um tom ríspido.
- Não se agarre a vãs esperanças, sua humanoide simplória. A magia de seu mythal é nossa.. ela irá nos alimentar por longo tempo.
- Isso é o que você pensa, monstro.. recebam esse presente, deuses de meu povo. - E como essas palavras, para surpresa dos phaerimms, toda a luz prateada se foi. A magia do mythal desfez-se, não deixando nenhum rastro. A esfera tombou sobre a água, enquanto a rainha sorria satisfeita.

Rock percebeu que algo aconteceu com o mythal.. a energia que alimentava a cidade cessara. Teriam os phaerimms cumprindo seu objetivo. Ainda havia mais da metade do elfos das estrelas a recuperar.

No campo de batalha que se tornara o centro da cidade, a surpresa dos phaerimms deixou todos a par de algo havia acontecido. Os gritos dos orcs e outros monstros que formavam os exércitos ao redor da cidade também mostraram que nada mais os mantinha do lado de fora. Os elfos investiram com fúria renovada aproveitando-se do fim do fluxo mágico que vinha alimentando os monstros. Os soldados em volta da cidade eram poucos para horda que invadia. Tagore Ebrius foi quem falou, antes de seguir bebendo:
- Eu adoro Evereska, o problema são só essas malditos phaerimms.
- O mythal caiu.. é hora de recuar.. - disse Yorgói, que mal acabara de despertar, sendo curado pelas ervas de Ehtur. O guardião concordou e comandou os demais a reagrupar. Feanor foi o único que resistiu à idéia, uma vez que Villya e a maior parte dos trovadores tombou. Os arquimagos, aparentemente animados com o novo curso dos eventos, uma vez lançaram um feitiço, dessa vez uma área de anti-magia, que abarcou toda a cidade. Os phaerimms tombaram ao chão agitando-se como trutas pescadas por uma rede e o patriarca Ebrius aproveitou para atingí-los mais uma vez com outro sopro gélido.

Na caverna, os outros phaerimms, que já tinham a rainha em suas garras e lançavam ameaças ininterruptas, sentiram o efeito da anti-magia, também sendo afetados e tombando. Sirius Black viu-se livre e prontamente atacou seu dominador. Ele conseguiu cortá-lo duas vezes, antes de se ver dominado novamente.

Assim como sob a sala do trono, lá fora, os phaerimms rapidamente se recuperaram, absorvendo a magia que impunha a área de anti-magia. Ehtur pegou Arnoux de Úrsula e Yorgói, rumando para o interior do palácio. Daphne e David vinham logo depois, ainda tentando convencer Feanor a acompanhá-los. A horda de monstros estava cada vez mais próxima e mesmo o patriarca Inglorium via que seria suicídio ficar ali sozinho. Os phaerimms, indiferentes aos heróis, concentraram-se nos arquimagos, abandonando tudo e voando em direção a eles.
Mesmo assim, os arquimagos voltaram-se para atacar a horda. Sem a mesma capacidade para absorver magia que os phaerimms, os orcs, trolls, gigantes e outras criaturas tombaram aos montes ante o poder épico dos arquimagos. Mas era justamente isso que atraia os phaerimms como lobos famintos para um rebanho.

O primeiro dos phaerimms já tinha a rainha em mãos novamente. Sem mais demora, furioso como estava, ele absorveu a alma da rainha, da mesma forma que Black vira o outro fazer com Arnoux. Foi nessa hora, ali na pequena sala secreta sob o trono, que Sirius Black ouviu uma arrogante voz familiar:
- Sua empreitada maléfica finda aqui, seres abissais. - disse Rhange Hesysthance, que bradava uma varinha e com um gesto e uma palavra, paralisou os seis monstros. Isso libertou Sirius Black, que não pode deixar de ficar surpreso com seu salvador.- Pegue a rainha, Sirius. Vamos acabar com a raça desses porcos malditos.
Sirius trouxe o corpo sem alma de Querdalla e lá em cima encontraram-se com Ehtur e os gnomos. Não houve muito tempo para explicação, mas souberam que deveriam retornar à batalha.
O patriarca Sorrowleaf ia na frente e chegou paralisando mais de uma dezena de phaerimms com o poder de sua varinha. As criaturas estavam se banqueteando entre os arquimagos, que sucumbiam como moscas. Se antes eram soldados que combatiam por ali, agora eles viam mulheres, velhos e crianças empunhando o que quer que tivessem em mãos contra a horda que varria a outrora gloriosa cidade de Evereska. Ao longe, um ponto negro se aproximava no céu. Sem mais demora, nossos heróis se lançaram uma vez mais àquele combate.
Para ampliar as esperanças, viram Marissa e Rock retornarem com trinta elfos das estrelas, plenamente recuperados. O ataque psiônico conjunto que se seguiu paralisou toda a horda, mas não afetou os gigantes, nem os phaerimms. Os monstros, no entanto, vendo em Rhange a nova fonte de energia mágica para alimentá-los, lançaram-se contra o arquimago, que uma vez mais fez uso da incrível varinha, cujo efeito parecia psiônico e não mágico.
Ehtur, Daphne, David, Sirius, Úrsula e Rock concentraram seus ataques nos gigantes, buscando derrubar o que ainda restava de força bruta nas tropas dos phaerimms. A cada investida, levavam dois deles ao chão.
Mesmo com o poder do patriarca Sorrowleaf e dos elfos das estrelas, os phaerimms ainda eram mais numerosos e estavam prestes a por fim àquela insistente resistência.
Foi quando o ponto negro distante, revelou-se uma sombria cidade voadora. A mesma sombria cidade voadora do eclipse. Tão logo ela se colocou acima de Evereska, numerosos homens negros materializaram-se no campo de batalha. Desferiam raios mágicos que pareciam feitos de trevas. Rock reconheceu as energias da Teia das Sombras naqueles efeitos.. aquilo estava para a magia, assim como o vazio estava para a existência, como a escuridão estava para a luz.. de certa forma uma não-magia. Aquilo não era algo que os phaerimms pudessem absorver e dessa vez, foram eles que tombaram como moscas. Os pouco mais de quarenta phaerimms restantes viram que era hora de uma retirada estratégica, teleportando-se para longe dali.
Um dos recém-chegados da sombria cidade bradou:
- Como embaixadores de Nova Netheril, nós viemos em socorro da grande cidade de Evereska, capital do grande império de Aryvandaar. Oferecemos nosso auxílio contra inimigos em comum.. nefastas e terríveis criaturas que são os phaerimms.
- Evereska os saúda, cavaleiros da salvação. Chegaram na devida hora para que não fosse a derradeira hora.. - disse Rhange Hesysthance Sorrowleaf, a única figura de destaque entre os elfos ainda de pé, indo cumprimentar o embaixador. - Nova Netheril e Evereska começam aqui uma grande amizade.


7 de jun. de 2012

Assim nascem (e morrem) os heróis...


Se por um lado todos estavam aliviados por estarem de volta à Evereska, por outro lado o cenário dantesco que os aguardava não era dos mais reconfortantes. Eles podiam ver o arquimago Rhange Hesysthance Sorrowleaf que terminava de selar a passagem entre este plano e o plano de Sildeyuir. O arquimago tinha as órbitas oculares queimadas como que pelo fogo, mas não parecia ocupado com isso. Todos os outros vinte homens em volta encontravam-se no mesmo estado, muito embora dessem vazão a toda a dor e horror gritando súplicas para os céus, postados de joelhos. Todo o restante de homens, cerca de uma centena, jazia morta e espalhada pela praça diante da Alta Academia Arcana. Apenas a rainha Querdalla permanecia como antes de atravessarem o portal, ainda que a aflição povoasse seus olhos. Ela buscava manter o controle e transparecer tranquilidade com uma feição serena. As poucas mulheres, como Sparrow Eagle, estavam paralisadas, congeladas no ato de surpreender-se.
- Rainha.. rainha.. onde está Annia? - disse Sirius Black, o primeiro a se levantar, ainda incrédulo do que Marissa havia dito sobre a ama da rainha.
- Ela desapareceu, Sirius Black. Ela explodiu em luz.. ela.. causou tudo isso, que vocês vêem. Foi algo terrível.. eu preciso cuidar de meu povo, mas fico feliz que vocês tenham tido sucesso... mas onde está Gabriel? - Adiantou-se a rainha, enquanto todos os demais se levantavam.
- Ele não voltou, mas nós precisamos tomar providências.. acho que vocês ainda não estão entendendo a gravidade da situação.. tudo vai acabar.. essa cidade, todo o resto.. ó Annia, minha Annia.. - desesperou-se Sirius.
- Meu irmão... meu pobre irmão está morto! - gritou o patriarca Sorrowleaf ao perceber a morte do capitão Maedros. Mesmo ainda sem os olhos, que pareciam regenerar-se lentamente, o arquimago caminhou até o corpo do irmão, erguendo-o com certa dificuldade devido ao peso da armadura negra. - Porcos malditos! Não me servem para nada! Eu juro pelas forças primordiais da existência que essa mulher irá sentir a força de toda minha ira. Ela pagará por isso. Aquela prostituta perniciosa pagará por seus crimes e suas escolhas sórdidas.
- Ele morreu como um herói.. - comentou Yorgói, mas foi a rainha Querdalla quem pareceu acalmar um pouco o acesso de fúria de Rhange.
- Acalme-se, Rhange. Nossos clérigos, com a benção de nossos deuses, irão ressuscitá-lo para liderar nosso exército como antes.
- Não creio que os deuses sejam tão benévolos uma vez mais, majestade. - disse Sorrowleaf partindo com o corpo do irmão. Sirius achou aquilo muito estranho e exagerado. Chamou Arnoux para acompanhá-lo e seguiram o elfo.
Enquanto isso, Marissa se pôs de pé e demandou a atenção da rainha.
- Majestade, meu povo precisa de cuidados. Estão vivos, mas devemos buscar recuperá-los.. tenho certeza que posso lhes devolver seus poderes e isso pode ser a salvação de Evereska. Há muito o que ser feito, mas eu acredito que podemos ter esperanças.
- Os templos ficarão sobrecarregados e toda a cidade precisará colaborar, embora estejam temerosos e assustados em seus lares. Arquimago Tolkien.. reúna quantos arquimagos precisar e leve todos os que pereceram para o templo de Corellion Larethian.. que o Senhor dos Elfos nos diga quantas boas almas pode nos devolver.. arquimago Martthin, faça o mesmo e leve todos os feridos para o templo de Angharradh e que a Grande Mãe seja rápida em recuperar-lhes as chagas. Os demais venham comigo, devemos levar os elfos das estrelas para o palácio. Sinto que vocês, meus amigos, terão de procurar abrigo no palácio dos Inglorium, pois o palácio estará tomado. Conversem com o patriarca Feanor Inglorium, tenho certeza que ele os receberá.
Todos concordaram e foi assim que eles se dividiram. 


Sirius e Arnoux seguiram o arquimago com a máxima cautela possível e acabaram por perdê-lo de vista em uma esquina. Resolveram apertar o passo e correram, apenas para deparar-se com ruas vazias e nenhum sinal dele. Puderam, no entanto, avistar a sombria e sinistra torre negra que destacava-se do restante da cidade naquela direção. Escolheram essa direção.




Os demais aventureiros chegaram à morada dos Inglorium, onde encontraram um Feanor transtornado. Debruçado sobre um mapa, ele apenas pensava sobre a vingança do assassinato de Gildor Inglorium. Haviam vários pontos marcados em vermelho, que denunciavam possíveis células do Eldreth Veluuthra.
- Nós lamentamos sua dor e prometemos ajudá-lo, Feanor Inglorium - disse Ehtur tentando estabelecer um entendimento com o nobre elfo.
- Eu agradeço, guardião. Minha existência agora conta com um único objetivo. Irei alcançar todos aqueles que se envolveram nessa ignóbil trama. Essa seita que considera vocês humanos piores do que orcs matou seu último bom elfo. Eles sentirão o fio frio de minha espada.
- Nós entendemos, patriarca. - disse a jovem druida em seu tom mais doce. - Entretanto, precisamos salvar esta cidade. Se Evereska não se aprumar, não haverá lugar para se dar sua vingança. Os phaerimms chegarão logo, seu exército foi dizimado, seus arquimagos são inúteis contra eles e a única esperança, os elfos das estrelas, são um povo de enfermos. Rogo que busque o equilíbrio e a serenidade que são os caminhos da natureza, isso lhe permitirá enxergar a profundidade desse lago chamado vida. Sei que sou uma simples serva da natureza, pedindo não mais que meu quinhão, enquanto perpetuo as sementes que me são dadas. Abra seus olhos além do sangue de seu irmão e semeie as sementes que ele lhe deixou.
- Você tem razão, Daphne. Palavras muito sábias para alguém tão jovem. Isso tudo me lembra que não fui o devido anfitrião até agora.. meu irmão não perdoaria meus modos.. se iremos salvar tudo, que o façamos com comida nos estômagos. Vocês precisam de um banho e hidromel. 


Sirius Black e Arnoux não tiveram dificuldades para encontrar a entrada da torre, que revelou-se a base de um pequeno palácio, onde a torre se destacava. A entrada era guardada por dois elfos, enquanto dois outros vigiavam o perímetro do alto. O gnomo permaneceu invisível, enquanto Sirius retirou o anel e caminhou abertamente até o portão.
- Com licença, eu tenho um recado para o arquimago Sorrowleaf e gostaria de saber se ele já chegou. Você poderia dizer a ele que eu fiquei muito impressionado com a morte do capitão Maedros e gostaria de esclarecer alguns por menores com ele e...
- Não sou um garoto de recados, humano. Entre você mesmo e diga.. - disse o guarda abrindo o portão.
- Queria eu contar com algum aliado que alertasse meus amigos do meu destino, pois sou homem incauto e destemido, que não consegue fugir da própria natureza. Que assim seja.. - disse Sirius entrando, mas dando um jeito de alertar Arnoux do que acontecera.

Rock solicitou a Feanor um favor. O patriarca indicou a ele um jovem mago que poderia transmitir uma mensagem mágica para o principal servo de Morpheus. Rock relatou da maneira mais sucinta possível o cumprimento da missão de alertar a cidade, o problema com a arrogância do elfos e o surgimentos dos elfos das estrelas. Após alguns minutos, duvidou que a resposta viria, mas ela veio.

- Estamos enfrentando os yuan-ti nas selvas do sul. Estamos à volta com um deus serpente ancestral disposto a oblitera a existência. Boa sorte. - Foi tudo que disse a voz oracular de Lord Byron antes de desfazer-se no ar.



Enquanto Arnoux buscava a morada dos Inglorium, Sirius Black foi conduzido pelo interior do palácio por um mordomo muito similar ao que imaginava ser uma múmia. Apesar de arrogante como os seus, o mordomo Oriel levou-o diretamente ao que parecia um laboratório. Haviam grandes mesas cobertas de frascos e poções. Uma claraboia deixava entrar a luz do mundo lá fora. Sob ela havia uma grande bancada onde jazia o corpo ainda armadurado de Maedros Sorrowleaf. Rhange ordenou a saída do criado e logo desmereceu a presença do humano.
- Eu gostaria de conversar, arquimago Sorrowleaf.. afinal de contas, meus amigos Arnoux e Úrsula me contaram sobre os pequenos presentes mágicos que você ofereceu para suborná-los.
- Eu agraciei o jovem casal de gnomos com um singelo presente, o qual apenas os ajudaria a permanecerem vivos em Sildeyuir. Você, no entanto, Sirius Black, carrega culpas legítimas e perpétuas em seu comportamento inconsequente.
- Eu e meus comandados estamos apenas tentando salvar vocês desde que chegamos aqui. Infelizmente, suas grandes orelhas preferem não entender que mais do que essa cidade, essas montanhas ou essa região.. O MUNDO TODO corre perigo.. TUDO está ameaçado.. os phaerimms são uma ameaça além da compreensão, mas vocês não me dão a devida atenção.
- Pois saiba que aquela meretriz explosiva se perdeu através dos teus meandros, humano. Sua lascívia e viciosidade a corromperam deixando-a na trilha da desrazão. Seus assuntos aqui estão encerrados.. vá para o lado dos seus e deixe-me prestar o devido respeito ao meu falecido irmão...


Sirius foi o último a se juntar ao grupo sob a proteção da família Inglorium, ainda desconfiado do comportamento do patriarca Sorrowleaf. Ainda assim, como os demais, sob o conforto dos lençóis élficos, ele deixou-se abraçar pelo sono.. e com o sono, vieram os sonhos. Todos sonharam com um phaerimm incomensuravelmente grande, cuja boca era capaz de engolir toda Evereska e as montanhas circundantes num único movimento. Quando o monstro assim o fez, todos acordaram em simultâneo desespero. 
O senhor Black, por sua vez, teve sonho distinto. Ele continuou a sonhar com Alustriel, filha de Mystra. Dessa vez, no entanto, ele viu a arquimaga sucumbir em definitivo. Seu corpo desfez-se em uma cintilante energia prateada que foi absorvida com êxtase pelos phaerimms. As criaturas transbordavam o poder e Sirius acordou num grito mudo, consumido pelo suor.


O processo de avisar o patriarca Inglorium e, uma vez mais, tomarem o rumo do castelo real foi ligeiro. Ainda assim, ficaram surpresos ao encontrar todo o conselho reunido sem a presença deles e de Feanor. A rainha apresentava a todos uma mulher ao seu lado, onde antes estava Gabriel, sem parar por conta dos recém chegados.
-... nossos clérigos vem fazendo todo o possível com a graça dos Seldarine. Ainda assim, como é devido, dentro de 3 dias, sepultaremos com a devida honra nossos mortos nas criptas sobre as quais vivemos. Como sempre foi e sempre será, os mortos sedimentarão o solo para que sigam os vivos. Desse modo, permitam-me apresentar-vos nossa nova capitã das tropas, Villya Loong. Como sabem, ela também é a líder de nossos Trovadores da Espada, estando mais do que preparada para essa missão em momento de tantas dificuldades.
- Eu agradeço pela confiança da rainha Querdalla e de todos os súditos de nosso grandioso povo. Nossas tropas estão firmes nas montanhas e continuamos seguros de que tudo ficará sob controle. Estamos mobilizando a população e todos irão colaborar.
- Temos providências por tomar e não cargos por ocupar.. - disse o arquimago Rhange Hesysthance nitidamente contrariado com a cerimônia
- Nada está sob controle.. - interviu Ehtur calando a discussão, mas sendo arrogantemente ignorado. Sem paciência para mais joguetes, o guardião retirou-se abertamente. Da mesma maneira procedeu o arquimago.
Daphne, Yorgói juntaram-se a Feanor na tentativa de dar alguma utilidade àquilo tudo. Eles contaram sobre os dois sonhos..
- Os phaerimms estão chegando... - disse Daphne no justo instante que todos ali sentiram a magia deixando de existir. Qualquer um com conhecimento mágico, logo via que não era um efeito de supressão mágica, mas sim um desaparecimento do tecido mágico que compunha toda a magia. Yorgói e Rock informaram os colegas, que buscaram Marissa, ainda indiferente ao problema. Houve um princípio de desespero, mesmo entre as figuras tão destacadas que ali estavam, que logo sucumbiu com o retorno da magia. A normalidade faltara por menos de um minuto. A discussão caótica que se seguiu, só parou quando toda a terra chacoalhou. 
Ehtur que já se encontrava nos portões do palácio viu os phaerimms que emergia das criptas sob a cidade. Exatamente, como eles haviam alertado. Ele pegou a lança e preparou-se pra lutar. Quando os demais a ele se reuniram, souberam que o alvo seria o mythal.
- Mas onde fica o maldito mythal? - praguejou Rock ficando nervoso.
- Sob o palácio... - respondeu Marissa após uma rápida inspeção telepática. Precisamos contê-los.


Estando reunidos, nossos heróis puseram-se a defender Marissa, que lhes parecia a única esperança. Ehtur, Daphne (como um grande urso polar), David e Sirius protegiam a elfa das estrelas de todos os lados. Os phaerimm devoravam a magia que permeava o próprio ar da cidade, ficando mais fortes a cada instante. As flechas mágicas que os atingiam sequer os arranhava, além de alimentá-los com mais magia. Yorgói cantou para animar os camaradas, ainda do portão do palácio, enquanto lá dentro pareciam todos mais ocupados em salvaguardar a rainha. Os soldados se quedavam imóveis como que prestes a virar geleia ante monstros tão terríveis. Das montanhas vinha o som de trombetas que certamente não eram élficas.
Sem mais o que fazer, Marissa Stardust libertou uma explosão mental que lançou vários phaerimms paralisados ao chão. Isso trouxe algum alento, mantendo a confiança do grupo em protegê-la e ganhar algum tempo. Os phaerimms, no entanto, eram cada vez mais numerosos e a resistência imprecisa e ineficiente. Um segundo ataque de Marissa, ainda mais feroz, lançou outros monstros ao chão, mas os efeitos já se faziam sentir na garota, além de atrair toda a atenção sobre eles em definitivo.
Arnoux optou por avançar invisível e tentar finalizar um dos phaerimms paralisado. O golpe, todavia, teve um efeito aquém do desejado, além do gnomo ver toda a sua magia sugada pelo monstro. Atrás de todos eles, outro phaerimm surgiu agarrado Yorgói e engolindo-o prontamente para o terror de todos. Arnoux não teve melhor sorte. Um enorme phaerimm agarrou-o e antes que o gnomo pudesse esquivar-se, todos viram sua alma ser arrancada de seu pequeno corpo e alimentar a força do monstro. As lágrimas de Úrsula já corriam quando o corpo de seu marido tombou ao solo.