28 de nov. de 2011

Réquiem para os demônios...


A boa vida na vila. Ainda que Rock sempre tivesse sido um estranho no ninho, ele amava aquela vida, que era a única que conhecera. à despeito dos estranhos sonhos e visões, foi entre as crianças daqui que ele cresceu, foi com os velhos daqui que ele aprendeu, foi a comida daqui que o alimentou, foi a pele dos animais dessa região que o vestiu. Ele via aquela boa vida que já não mais o cercava, desde que resolvera descobrir o que inquietava seu eu para além daquele lugar tão simples. Portanto, nosso sonhador logo viu que tratava-se de um sonho. Ou talvez uma premonição, foi o que pensou ao ver os céus escurecerem como se o próprio fim do mundo começasse. As nuvens tornaram-se vermelhas como sangue e o céu derramou demônios. Os seres abissais devoravam carne e caoticamente espalhavam sua sede de sangue.
Rock viu seu pai ferido e posto de joelho. Aquele que era o maior bárbaro da tribo e por isso mesmo, seu líder, posto de joelhos. Diante dele havia um demônio de couro vermelho e duro como um escaravelho enorme. Seus braços terminavam em pinças como as de um carangueijo, mas de seu peito irrompia um outro par de braços menores que terminavam em mãos.
- Onde está a criança sonhadora? (a pinça tencionava a pele do pescoço como uma tesoura prestes a romper o papel. Seu pai não se intimidou e a cusparada desferida mostrou que ele não era do tipo que se entregava.. ninguém naquela tribo era. O pescoço de seu pai sendo partido e a cabeça girando no ar com olhos fixos no vazio foram a última cena que Rock viu antes de despertar esbaforido).
- Acalme-se.. (disse alguém em tom sereno levando as mãos ao seu ombro e peito..) Você está bem e em segurança. Nós resgatamos você e seus amigos próximos à estrada. Estavam todos desacordados e muito feridos..
Olhando em volta, Rock reconheceu o professor Yorgói e o outro gnomo, Arnoux. Estavam realmente feridos, mas pareciam bem, ali deitados em camas de beliche, assim como ele. O rapaz com quem falava tinha um ar simples, humilde e simpático.
- Chamo-me Luan e sou um servo de Ilmater. Minha congregação dirige-se para a Cidade dos Esplendores a fim de ajudar com os transtornos causados pelo ataque da Cidadela das Sombras. Por sorte, os vimos caídos ainda antes do amanhecer. Então trouxemos vocês até esse modesto templo de Pinheiro Vermelhos e...
- O.. onde estão os outros?
- Estão nos quartos ao lado.. garanto que estão bem e...
- Eu.. eu preciso falar com eles.. senhor Yorgói.. (disse o rapaz levantado-se apesar do clérigo de Ilmater não concordar que devesse fazê-lo.)
- O que.. Rock? Onde estamos? A explosão.. (disse o gnomo levando a mão à cabeça e se lembrando..) A messalina das trevas?!?
- Não sei.. havia uma mulher?
- Sim, duas. Uma gnoma e uma humana, que estão no quarto ao lado..
- Professor, eu tive outro sonho.. sonhei com minha vila e demônios..
- Bem, uma coisa de cada vez. Melhor vermos como estão os outros...
Levantaram-se e logo estavam reunidos. Mesmo que muito feridos pela explosão que transcendera as barreiras do imponderável, Ehtur, Ryolith, Yorgói e Rock estavam de pé. Arnoux, Úrsula e Pereirão não pareciam ter se recuperado o suficiente. Para tristeza do guardião errante Ehtur, nenhum sinal de Alissah. Ele também descobriu que haviam levado sua bolsa mágica onde estava guardada a pedra estelar.. tudo mais estava lá como antes. Lembrou-se dos dois sujeitos que vira quando do encontro com a pedra.
Luan os alertou que haviam aprisionado alguém que acreditavam estar ligado aos responsáveis pelo ataque a eles. Ehtur foi ver se tratava-se do guardião da maldita que os atacara. Yorgói e Rock foram despertar as mulheres.
Ehtur não ficou verdadeiramente surpreso ao deparar-se com Syrius Black preso e acorrentado no pequeno depósito no porão do templo. Ele tinha as costas livres e o guardião pode ver bem as marcas negras que assomavam por sobre a carne mutilada.
- Ele não é o responsável.. é apenas um dos que nos acompanhava.. (desolado, Ehtur não tinha qualquer ânimo, mesmo vendo que Black acordava..) Podem libertá-lo.
- Não podemos. É preciso averiguar essas marcas consagradas à Senhora da Escuridão.. ele deve ser purificado ou estará condenado.
- Tanto faz. Façam como quiser.. (disse Ehtur já retirando-se e vendo Yorgói e Rock surgirem no alto da escada. Ambos haviam conversado com a druida Daphne, que concordara em acompanhá-los, ao menos até a floresta, muito embora, na atual conjuntura, estivesse mais preocupada em encontrar um certo lobo, que dizia esperá-la fora do entreposto.


Yorgói e Rock também intercederam por Syrius Black, mas as marcas de Shar pareciam pesar mais na opinião do clérigo de Ilmater. Apenas após tecer um prece pela verdade, ele deu ouvido as palavras do prisioneiro, que sentia a verdade escapar-lhe pelos lábios, expondo mais do que ele planejara sobre Lotti, os escravos e seus escrúpulos. Luan disse que se era verdade o que ele jurava, a maldição que lhe fora lançada seria extirpada, muito embora nenhum outro que não ele pudesse ser culpado por uma vida que o conduzira ao seio da maldade.
Menos de uma hora depois, Yorgói e Rock assistiam os clérigos prepararem o ritual de purificação. Enquanto isso, no perímetro da cidade, Daphne que encontrara David viu Ehtur partir sozinho pela estrada. O divino lobo informava à sua senhora que os ataques à floresta haviam se multiplicado, lembrando-a do ataque em que a nefasta mulher que comandava os orcs e trolls a aprisionou. Os ataques agora vinham também do interior da floresta.. do próprio chão. Elfos negros como a noite.. goblins peludos e enormes.. criaturas com cabeças de polvo e magia nos tentáculos. Em seu jovem coração, a druida sentiu o perigo que afligia seu lar.
No templo de Ilmater, já livre e cercado por 4 clérigos, Syrius Black escutava a ladainha ininterrupta que prometia libertar sua carne. Ele sentiu, então, a força purificadora invadí-lo, torcê-lo e deixá-lo, mas as marcas continuavam lá. Os clérigos frustrados se entreolhavam..
- Precisaremos de mais tempo. (disse o líder deles..) Você deve nos acompanhar até Waterdeep.. lá, poderemos providenciar um ritual mais poderoso.
- Mas nosso tempo urge.. temos uma donzela a salvar.. (intrometeu-se Yorgói..) Entendo a importância de vossa demanda, mas nós precisamos partir..
- Apenas esse homem deve ir conosco, mestre gnomo.
- Mas eu tenho obrigações a cumprir com meu contratante.. se me der seu endereço, prometo procurá-los no meu retorno.. (dizia Syrius, que percebia que enxergava com mais clareza naquela pouca iluminação, embora sentisse os sentidos confusos e atordoados..)
- Você é livre para ir, senhor Black. Mas saiba que essas marcas são um chaga perpétua sempre a devorar um quinhão de sua alma.
- Sim, sim.. e vocês não ajudaram em nada, não é mesmo?
- Se há alguém por culpar aqui, é sua vontade que parece alinhar-se com a Senhora da Escuridão.. (retrucou Luan antes de levá-los dali).
Apenas Pereirão, ainda ferido e desacordado, permaneceu repousando no templo de Ilmater no entreposto de Pinheiros Vermelhos. Arnoux e Úrsula, agora despertos, acompanharam os demais pela estrada rumo à Grande Floresta e à vila de Yorgói, mesmo com a proximidade da noite. Andaram poucas horas, é verdade, pois logo foram surpreendidos. Surgidos do nada, demônios os atacaram. Eram muitos e sabiam o que queriam. Rapidamente, se apossaram do rapaz Rock, atacando os demais.
O som da batalha atraiu a atenção de Ehtur, que não longe dali inspecionava os rastros da batalha anterior onde Alissah desaparecera. Ele interrompeu sua leitura dos rastros indo em socorro daqueles que já não podia chamar de estranhos. A muito custo, com a soma de seus ataques e principalmente os poderosos ursos castanhos invocados por Daphne, conseguiram banir os demônios de volta para os Nove Infernos.

24 de nov. de 2011

De uma explosão a outra...




A investida do colosso andante de Waterdeep pareceu maior do que o esperado pela Cidade das Sombras. Enquanto os dragões de trevas restantes retornavam para a cidadela voadora, a investida da estátua e dos mais poderosos defensores locais, obrigou-a a uma retirada estratégica. Retornando pelo mesmo portal por onde viera, os nefastos inimigos debandaram em retirada. Inesperado foi que seu sumiço significou a explosão do portal. A estátua, a única criatura mais próxima, acabou destruída em vários pedaços. Alguns foram desviados, desintegrados ou amortecidos, mas a maioria causou bom estrago às construções lá embaixo.
Lá embaixo, essa retirada significou o retorno dos gárgulas sombrios, deixando os bravos e feridos heróis livres para afastarem-se da cidade e do perigo. Agruparam-se mais à frente e viram o desenrolar da batalha. Yorgoi se dispôs a ajudar com seu conhecimentos mágicos e suas poções, conseguindo recuperar a força de Ryolith e parte da de Ehtur. O guardião agradeceu, mas disse que a estrada o aguardava. Ele e Alissah iriam levar a desacordada druida Daphne devolta para a Grande Floresta.
- Creio que eu não possa deixá-lo fazer isso, meu caro. Essa pobre moça estava sendo feita escrava junto com o senhor Fox, Pereirão e seus homens.
- Escrava? Ela não é escrava de ninguém.. (insistiu Ehtur já caminhando..)
- Era.. esteve aprisionada antes.. a gravidade da situação fez o senhor Black, que a guardava libertar a todos e.. veja.. ali está ele..
- Fazendo uma pequena correção.. sutil até, eu diria.. eles não eram meus escravos.. aliás, escravo é uma palavra muito forte, não acham? Que tal cativos?
Ehtur desdenhou das palavras de Syrius e fez menção de partir, mas a bela Alissah parou para argumentar.
- Dá na mesma. Quem te deu o direito de escravizar os outros?
- Veja bem, minha bela elfa esmeralda. Eu não escravizei ninguém. Nem mesmo essa pessoa por quem há uma grande recompensa da família dela pela mesma. Pelo contrário, eu libertei essas pessoas que iam ser vítimas de um ritual terrível.. há quem diga.. não eu, porque eu não sei dessas coisas.. que era um ritual malévolo, maligno do mal.. aliás, a senhorita entende de magia?
- Alguma coisa.. por que?
- O que você pode me dizer sobre isso aqui? (e Syrius foi tirando a parte superior de suas vestimentas..)
- Que antigos espíritos do mau tocaram sua carne decadente! (interviu Fox)
- Sim, sim.. eu fui uma vítima.. antes estava pior, ao menos eu melhorei cortando fora a carne e cauterizando os cortes..
- A coisa ainda está bem feia, na verdade..
- Se ela não é nada de vocês, nós devemos ir. Adeus. Vamos Alissah..
- Um instante, um instante. Bem, guardião.. vocês seguem rumo ao nordeste. Este também é o meu caminho e também o de Úrsula, Arnoux e Rock, que estão comigo.. podemos ao menos seguir juntos e discutir as problemáticas inerentes aos processos no caminho.
- Eu irei acompanhá-los, pois ainda estou confuso e perdido. E devo frisar que ainda que eu não perceba o mau com nitidez, sinto suas vibrações no ar.
Assim sendo, todos eles acabaram dando as costas para Waterdeep e puseram-se a seguir pela estrada, cada qual com seus próprios questionamentos e possibilidades. Dormiram na estrada dividindo-se em turnos. No dia seguinte estavam bastante recuperados do conflito. Pelo meio desse dia, passaram por Pinheiros Vermelhos, um pequeno entreposto onde os viajantes pousavam antes de chegarem à Cidade dos Explendores. Puderam comprar poções, se reabastecer e equipar Ryolith e Pereirão. Syrius Black fez questão de demonstrar sua camaradagem para com seus antigos cativos comprando-lhes alguns pertences.
Todo esse caminho lhes deu a oportunidade de conversarem sobre suas histórias. Yorgoi explicou que seu destino era salvar a mulher que amava.. Déhbohha Pomppieus Martinis. Seu povo havia sido atacado por orcs e trolls. Ehtur e Alissah explicaram que haviam tido problemas com essas criaturas próximo à grande floresta. Prometeram levar o gnomo e seus acompanhantes até lá, mas alertaram para a organização e grande número das criaturas.
No início da noite, quando uma vez mais afastaram-se um pouco da estrada para montar acampamento, foi que o ataque chegou. Primeiro, mesmo a pálida luz da noite deu lugar a uma escuridão total e impenetrável aos olhos. Foi Alissah quem primeiro se moveu e alertou os demais que tratava-se de uma magia. Logo, eles descobriram que além da escuridão havia mais por vir. Alguns conseguiram deixar as trevas antes de serem atacados pelos orcs e pelo troll que vinha em carga. Ehtur derrubou um com sua lança. Yorgoi invocou um cão celestial com sua varinha. Fox sacou a arma e fez uma prece para Tyr, senhor da justiça. Pereirão recuou com suas novas cimitarras. Arnoux, Úrsula e Syrius se esconderam e esgueiraram-se silenciosamente. Rock pensou em um feitiço e se afastou. E Daphne.. subitamente.. acordou..
A batalha que se seguiu foi ferrenha. Os orcs eram muitos, o troll era feroz como uma besta selvagem e ainda havia mais. A certa distância, eles descobriram a conjuradora das trevas. Ela assistia a tudo protegia por um serviçal bem armadurado e por dois gárgulas que voavam a alguns metros do chão. Ehtur seguia matando os orcs com sua lança. O destemido Ryolith concentrou todo o seu poder de esmagar o mal no troll. Yorgoi e Alissah disparavam dardos mágicos, enquanto os elementos furtivos buscavam posicionamento mais seguro.
Um dos gárgulas capturou Daphne, mas foi destruído antes de poder carregá-la para longe. Mesma sorte não teve Alissah. Enquanto Ehtur atacava a mulher que comandava as trevas, percebendo nela a maior ameaça, a feiticeira elfa verde era capturada pelo outro gárgula. Fox tombou a muito custo o troll, Syrius Black num ataque sorrateiro vitimou o último dos orcs, mas isso pareceu muito pouco diante do que estava prestes a acontecer.
Invocando forças que pareciam vir do próprio abismo da escuridão absoluta, a mulher abriu um portal de sombras vivas atrás dela, do qual derramaram-se quatro longos tentáculos de uma negrura total. O primeiro vitimou Ehtur, que pouco pode fazer antes tais forças tenebrosas, caindo à marcê das mãos do destino. Os demais dirigiram-se para Ryolith Fox.
Neste momento, todos concentraram seus ataques (à exceção do senhor Black, que buscava os pertences do troll). Rock derrubou o aliado da bruxa das trevas com um dardo místico. Úrsula descobriu que suas flechas eram inúteis. Daphne conjurou um hipogrifo para ajudar. Yorgoi e Arnoux pouco podiam fazer. Ryolith Fox avançou em carga, mas foi contido pelos tentáculos. O gárgula atravessou com Alissah pelo portal. A usurpadora do mal fazia o mesmo carregando seu protetor com um dos tentáculo e Fox com o outro. Num último gento de total desespero, Yorgoi atirou todo seu equipamento alquímico e mágico em direção ao portal, provocando uma estrondosa explosão, que pareceu fazer a própria realidade chacoalhar e deixou todos desacordados...

15 de nov. de 2011

O eclipse...



Ehtur acompanhou o eclipse de seu refúgio nas árvores. Mais uma vez ele estava sozinho contemplando o lado sombrio do mundo. Pode ouvir os uivos longínquos, provavelmente de algum licantropo intoxicado de energias tenebrosas. Sentiu o cheiro de fumaça trazido pelo vento do sul. Imaginou um princípio de incêndio para além dos dois grandes picos que irrompiam entre as árvores, bloqueando sua vista naquela direção. Achou que aquele seria um bom caminho a tomar, enquanto adormeceu com seu sexto sentido ligado.
Quando acordou, algumas poucas horas depois, a manhã já clareava o azul do céu no horizonte. Desceu de seu refúgio nas árvores, checou o perimêtro, embora não houvesse nenhum sinal além de pequenos roedores e seres rastejantes. Os animais e as árvores pareciam aliviados com a manhã que seguia-se ao eclipse, mostrando que a vida sempre continuava em seu ciclo sem fim. Ehtur resolveu seguir para o sul, lá poderia dar seu quinhão ao equilíbrio desse lugar tão antigo e sagrado.
Andou pouco mais de uma hora, atento aos riscos naturais inerentes à Grande Floresta. O primeiro encontro que se interpôs foi com um guardião dessas árvores, um druida, que concedeu-lhe a permissão para caminhar sem riscos por ali, afinal Ehtur era ele mesmo um guardião de Miellikki, deusa dos protetores da natureza e dos animais da floresta. O druida chamava-se Bhonno, informou Ehtur do ataque orc e troll no sul, narrando como a situação estava sendo controlada por outros como ele a sudoeste dali. A ele, no entanto, cabia proteger aquela área. Assim, despediram-se.
Nas horas seguintes de caminhada rumo a sudoeste, Ehtur voltou a se aproximar da fronteira da floresta. Ainda caminhando oculto entre as árvores, ele pode ver a estrada que seguia paralela à vegetação, onde algumas carroças e viajantes seguiam com seus negócios. O senhor Telcontar logo percebeu uma andarilha que advinha do âmago da mata. Um elfa selvagem, com o tom esverdeado de pele que lhes era peculiar. Ela parecia distraída e ficou surpresa quando ele a abordou. Disse chamar-se Alissah. Antes que ele pudesse dizer quem era, teve início o ataque.
Na estrada, um grande grupo de orcs e trolls atacou quem por ali passava. Os viajantes corriam desesperados tentando salvar as próprias vidas. Apenas Ehtur Telcontar não se importou com os riscos, sacou sua lança e fez o que tinha que fazer. Alissah o acompanhou.
A lança do guardião somou-se à magia da feiticeira elfa de maneira letal. Eles derrubaram 1 dos trolls e 5 dos orcs evitando um mal maior. Os inimigos destruíram apenas uma carroça e não roubaram muito mais do que algumas sacas de alimento e um par de cavalos. Um dos mercadores salvos, de nome Tom Sawyer, agradeceu a ambos com uma gratidão profunda. Explicou a eles que levava uma carga secreta e especial para Waterdeep.. diamantes azuis de Turmish.. gemas raras e consagradas à Deusa da Lua, Selune. Deu-lhes uma como paga pelo resgate e ofereceu outra caso o protegessem até a grande metrópole da Costa das Espadas, a Cidade dos Explendores. Ambos, fascinados pelo brilho das jóias e pela sintonia na batalha, concordaram em um bater de corações.
Foram quatro dias tranquilos de viagem. Quatro dias de uma paz que serviu para Ehtur ver naquela elfa mais do que a beleza esmeralda de seus olhos. O errante deixou-se encantar pela simplicidade madura daquela jovem inexperiente, que parecia fascinada pela seriedade dele. Ela falava sobre um mundo além da floresta que desejava a mais tempo do que ele possuia de vida e, ainda assim, era ele quem tinha histórias a contar. Talvez histórias demais...


Em Waterdeep, Arnoux Xuazineguer não teve qualquer dificuldade para entrar no quarto de Syrius Black. No quarto não havia nada além de uma cama simples de palha e um baú vazio. O decepcionado Arnoux pôde fazer pouco além de urinar sobre a cama e a muda de roupas do gatuno. Isso o manteve por ali o suficiente para, ao sair, deparar-se com homens da lei que pareciam também ter negócios a acertar com o senhor Black. Arnoux foi rápido o suficiente para sumir da vista e escapar pela janela, a tempo de, vindo pelo caminho certo, conversar com as autoridades e informar-se dos crimes de Syrius. Comprometeu-se a ajudar e voltou para o quarto, onde explicou tudo a sua amada Úrsula. Ambos resolveram estender a noite do eclipse com algum serviço de entretenimento no saguão da estalagem.
Não lograram muito sucesso, a bem da verdade, pois ainda que espectadores houvessem, não pareciam público afinado ao talento do casal de gnomos. Receberam, no entanto, uma proposta de emprego diversa, um anão chamado Glóin precisava que duas cartas fossem entregas em locais específicos: a primeira, a 100 peças de ouro, era endereçada a uma torre ao sul, aos pés do monte Waterdeep; a segunda, era para um certo professor Yorgói Dossantis, na guilda Alfarrábios e Afins, paga com 50 peças.
No dia seguinte, não tiveram problemas para achar a guilda e o tal professor. Encontraram-no juntamente com um humano de aspecto rústico e grandalhão chamado Rock. O professor Yorgói, entretanto, tinha lágrimas e desespero nos olhos. Informaram-no da carta, o que o animou subitamente, mas tão repentinamente quanto mudou o humor do professor, o rapaz bárbaro teve uma crise, gritando como um louco alucinado. Seus olhos vidrados contemplavam o nada e seus dedos pareciam tentar esmagar o próprio crânio.
Rock havia tido estranhos sonhos toda a noite e o eclipse os povoava, cobrindo toda a existência com uma escuridão medonha e gélida. Se chegara à cidade ansioso por treinamento mágico em um local como essa guilda arcana, agora era a busca por respostas que o trouxera até aqui. Arnoux e Úrsula viram Yorgói ser rápido e usar de uma estranha poção em uma garrafinha similar a um cogumelo, que acalmou e derrubou o grandalhão berrante.
- Vão cuidar de seus afazeres. Eu cuidarei do rapaz, mas precisarei dos vossos serviços. Tenho uma nobre missão.. salvar uma donzela indefesa.. graças a essa carta que me trazem. Pagarei bem se me acompanharem e nosso destino não é longe daqui...

Enquanto alguns se organizavam, em outra parte de Waterdeep, Syrius Black, orgulhoso das próprias habilidades, dirigia-se para uma estalagem de onde poderia acessar a festa da noite do eclipse. Ele entregou o fruto do crime para o porteiro e este ofertou-lhe uma de quatro máscaras que possuia. Syrius escolheu uma máscara de pano cinzento que cobria todo o rosto, mas ficava solta abaixo do nariz, muito similar àquela que simbolizava Márcara, senhor dos ladrões. Após uma curta caminhada pelo esgoto, ele adentrou a festa. Os convidados eram inúmeros e todo o ambiente reverberava a lascívia dos presentes. Todos estavam mascarados, com uma das quatro máscaras, mas haviam desde senhoras vestidas em grossos casacas de pele até mulheres totalmente nuas.. de grandalhões em corseletes de couro até jovens magricelas de tanga. A música era sinistra como um violino teatral em momentos de tragédia anunciada.
Syrius precisou apenas de um drinque, antes de misturar-se a quatro mulheres de máscara negras que dançavam no centro do salão como meretrizes ninfomaníacas. Uma entrega total durante o eclipse. A carne delas era fria e macia ante o toque quente dele. Isso é sua última lembrança.. ou a última fugidia imagem nebulosa recuperada por sua mente em um relato dúbio posterior.
Fato é que Syrius Black acordou nú e com as costas doloridas na altura das escápulas. Gente nua inerte no chão não faltava e ele pode recolher as próprias roupas, alguns pertences e moedas dos outros e partir, fatigado em um certo torpor. Sorte ou não, encontrou-se com Lotti ao entregar as máscaras, que também deixava a festa e contou alguns detalhes de que ele não se lembrava. Conversaram sobre os escravos, Black pediu uma nova estalagem e foi encaminhado para o Colírio do Olho, onde os escravos seriam entregues.
Foi lá, com uma bacia de água, que Syrius Black descobriu as sinistras e tenebrosas marcas negras em suas escápulas, como volumosas cicatrizes negras, que apareciam refletidas na água. Possuído pelo terror e pelo medo, ele tentou lavar e arrancar aquilo de sua carne, sem sucesso. Desesperado, esquentou a lâmina de suas adagas e mutilou as próprias costas para arrancá-las. Ferido e alucinado, queimou a pele arrancada. Desfaleceu como um doido desvairado com as costas em carne viva.
No dia seguinte, chegaram os seis escravos humanos que ele devia guardam: quatro homens de peles morenas, aspecto de guerreiros, sendo 3 acordados e 1 inerte; um desmaiado caucasiano de traços delicados e ar nobre; uma mulher estranhamente familiar, de ar rústico e também desacordada. Syrius os deixou descansar ali acorrentados, providenciou água e pão. Ele cuidou de providenciar um transporte para a entrega dos escravos no tal ritual e resolveu ir até o mercado alugar uma carroça.


O mercado de Waterdeep era um lugar fascinante. Podemos afirmar com certeza que se trata do maior centro de compras, vendas, escambos, mutretas e afins de toda Faerun. Tudo poderia ser ali encontrado: desde de simples vidrinhos com areia colorida do Anauroch até pérolas negras do tamanho de punhos trazidas do Grande Mar; de facas de cozinha capazes de cortar meias de seda até martelos carregados da energia dos raios e trovões. Ele ocupava toda a região central de Waterdeep acima das docas, sendo uma área muito bem patrulhada pelas autoridades locais e especialmente agitada. Em torno do mercado, ficavam grande parte dos templos das divindades da cidade. O templo da deusa do comécio Waukeen era, obviamente, o mais destacado, com sua fachada de ouro e suas seis torres, cujos sinos dourados poderiam alimentar um pequeno reino. Os anjos de mármore em alto relevo faziam o templo parecer uma grande nuvem de contornos dourados e povoada por anjos. Outros templos como o de Oghma, senhor do conhecimento, e Mystra, senhora da magia, também chamavam alguma atenção dos incontáveis estrangeiros. Os cidadãos locais costumavam estar mais atentos aos próprios pertences...
A cidade e o mercado estavam especialmente radiantes. O eclipse havia passado sem nenhuma das tragédias previstas. Alguns incidentes foram obviamente relatados e certamente a Guilda dos Ladrões das Sombras tinha tido seu incremento de lucro, mas a ordem, como de costume, havia se afirmado. Nenhum ataque de mortos-vivos comedores de cérebro ou peste incurável assolou a cidade e Waterdeep estava sempre acostumada e preparada para o pior. Talvez isso tenha impedido um grande número de infartos no exato momento em que o céu abriu-se em um rasgo, como se páginas de um livro folheado fossem distanciadas. Do centro da fissura sombria, emergiu uma cidade voadora.


A Cidade das Sombras tinha grandes torres negras como o ônix e muralhas como que feitas da própria escuridão. A luz que para ela se dirigia parecia ser tragada, tornando a percepção de tudo que a envolvia nebulosa. Certeza era que os grandes seres que voavam ao seu redor eram dragões.. dragões das sombras. Se não haviam sido chacinados por falências de suas artérias coronarianas, os cidadãos não se furtaram a buscar abrigos seguros para o que se seguiria. Ainda que aterrorizados e às pressas, todos já pareciam saber que mais uma batalha viria.
Em meio a esse rotineiro caos, Arnoux reconheceu Syrius a dirigir sua carroça. A discussão nada proveitosa entre a ira de Xuazineguer e a embromação de Black, quase levou às vias de fato, não fosse a orientação do professor Yorgói de que o grupo buscasse um abrigo. Quase como se o destino quisesse enfatizar as palavras do professor, nesse momento, uma das colossais estátuas andantes de Waterdeep ganhou vida e os ares para lutar contra os dragões.. ali nao era mais lugar para eles.


Estando todos na carroça, refugiaram-se no Colírio, onde Syrius Black teve que encarar a verdade sobre os escravos que guardava. Os indivíduos que trouxera com ele em nada concordavam com o aprisionamento das pessoas que ali estavam, mas o senhor Black relutava em admitir a profundidade do problema. A situação extrema, no entanto, pareceu simplificar as coisas para todos. Uma terrível cidade voadora e sombria parecia ser a própria arauta do fim dos tempos, o que facilitou a imediata libertação dos prisioneiros. Mesmo sob protesto do Olho, aparentemente enrolado por Syrius, os ex-escravos foram curados e convidados a acompanhá-los em uma provável luta pela sobrevivência.


Pereirão era o líder de três deles. Dizia que vieram do Anauroch onde foram presos por traficantes de escravos que destroem os oásis de sua tribo. Estavam perdidos e longe de casa. O outro era um servo de Tyr.. um paladino. O servo do senhor da justiça chamado Rhyolith Fox vinha de Cormyr, um nobre reino ao sul. Apenas a garota não acordara.. ela parecia paralisada por algum encanto, que nem mesmo os poderes do paladino pareciam resolver.
Temerosos quanto à segurança de onde se encontravam, os estrondos lá fora e a falta de escrúpulos do caolho Olho levaram eles a sair dali. Chegando à rua, usaram a carroça para deixar a cidade cujas ruas já estavam em sua maior parte desertas. Quando eles estavam próximos da saída, Alissah, que esgueirava-se com Ehtur para escapar dessa cidade louca, reconheceu a desfalecida druida Daphne Amkathra na carroça desembestada que passava.
Isso não chamou a atenção apenas dos dois. Nove grandes gárgulas das trevas atiraram-se do céu sobre eles, matando o cavalo, destruindo a carroça e sugando suas forças com raios tenebrosos. Ehtur conseguiu vitimar dois deles, que explodiram em uma energia sombria. Dois outro carregaram 3 dos homens de Pereirão. Fox conseguiu carregar o corpo do nômade, mas tinha sua força sugada, assim como o próprio Pereirão e Ehtur. Black escapava furtivamente, enquanto os demais corriam desesperados.
Os cinco gárgulas restantes se reuniram a 10 metros de altura, observando-os como um gato que brinca com o rato antes de engulí-lo. Seus olhos brilhavam com a energia sombria que enfraquecera os heróis, todos feridos e receosos do fim. Ao fundo, o mundo parecia estar acabando, ainda que a estátua e vários indivíduos de grande poder combatessem a cidade de sombras...

13 de nov. de 2011

Possibilidades primeiras...



Ehtur Telcontar caminhava errante pelas planícies frias do norte próximo à Grande Floresta e ao rio. Um caminho mediano, paralelo a ambas as referências anteriores, também à meio caminho de um lugar e um destino qualquer.. já longe demais para voltar, perto o suficiente para não esquecer. Ehtur sabia que essas terras eram repletas de orcs, quando não de algum troll. Ainda que a floresta fosse bem protegida pelos druidas e elfos e que cidades de bom tamanho não estivessem longe, esses malditos seres imprevisíveis nas maldades tinham de dar vazão ao mal. Pois bem, o senhor Telcontar também era imprevisível e caminhava atento a possíveis problemas.
Isso o fez ver dois homens que andavam mais próximos da floresta em direção contrária à sua. Eles não pareciam nada preocupados com as imediações. Um deles gesticulava e falava um tanto alto sobre como estava certo sobre alguma coisa.. o outro parecia entediado. Vestiam bom equipamento, mas eram nitidamente indivíduos urbanos. A observação, no entanto, foi interrompida pelo assovio que seguiu-se, anunciando a chegada do meteoro. Pelo visto, a vida também é imprevisível.
A grande bola de fogo explodiu contra o chão, abrindo uma enorme cratera e lançando calor e terra em ambas as direções. Não fossem os reflexos ligeiros de Ehtur e ele já estaria em uma cova. Ele desceu incerto e duvidoso pela cratera em direção à uma pedra metálica que jazia no fundo. Logo os dois homens que ele avistara surgiram na beira da cratera e reinvidicaram a pedra, que ele trazia envolta em panos (ainda que não estivesse quente de forma alguma). Daí seguiu uma curta perseguição, mas um guardião bem sabe usar uma floresta em proveito próprio. Precisou de pouco tempo para despistar seus perseguidores e refugiar-se no alto das árvores observando melhor o que o destino lhe deu. Tempo suficiente, no entanto, para a chegada de um eclipse não-usual que ele percebera pouco antes...

Arnoux Xuazineguer e Úrsula são um casal de gnomos mambembes em busca de construir uma vida juntos. Waterdeep, segundo Arnoux, era a jóia do norte e tudo que eles precisavam. Uma cidade cosmopolita e cheia de possibilidades. Não intolerantes de mentes pequenas com seus truques baratos. Eles seguiriam vivendo de amor e do que mais as mãos dele pudessem proporcionar...
Ainda assim, nem mesmo Arnoux estava preparado para o que encontraram. A cidade estava um caos naquele fim de tarde. As ruas estavam tomadas por humanos em sua maioria, mas também anões e elfos, todos muito agitados. Era nítido que algo preocupava a todos ali e que o tempo parecia urgir. Arnoux abordou um guarda que o alertou para o eclipse próximo e os problemas que ele causava. Logo, aquelas ruas estariam tomadas de ladinos inescrupulosos e por isso, ele indicou uma estalagem próxima para o descanço do casal.
Foi na entrada da estalagem que Arnoux trombou com a perna de Syrius Black, um tipo um tanto sinistro, mas que logo veio com palavras simpáticas se desculpando antes de seguir em frente. Foi apenas ao procurar por seu dinheiro, que Arnoux se deu conta que uma das sacolas havia sido levada. Sem desejar preocupar a companheira, ele a acomodou no quarto e foi informar-se de como encontrar os aposentos do sr. Black. Que notícia boa não foi saber pelo estalajadeiro qual era o quarto dele por algumas moedas, ao mesmo tempo que o eclipse principiava lá fora...

Daphne Amkathra acariciava o pelo grosso do pescoço de David, seu lobo. Ambos mantinham os sentindos aguçados para as imediações da Grande Floresta. Seus sentidos aguçados lhe permitiam perceber as corujas de seu colega druida Sting, que não devia estar longe dali. Ela sabia que o eclipse próximo traria problemas, ela que desde a juventude aprendeu a enfrentar os problemas de frente.
Logo a possibilidade de problemas se confirmou. Primeiro, ela viu as tochas.. depois viu que eram 6.. 6 orcs. O cheiro da maldade deles misturado à madeira queimada das tochas fez Davi se animar. Um aviso rápido na língua dos druidas para Sting e ela rumou para a batalha, justo quando o eclipse principiava...

Rock encontrou uma cidade muito mais confusa do que esperava. E chamavam o seu povo de bárbaro. As ruas estavam apinhadas de gente correndo para todos os lados como se uma guerra estivesse prestes a começar. Ante a antipatia demonstrada pela guarda, foi preciso intimidar uma das autoridades, para que ele explicasse que logo um eclipse traria problemas mil e que a rua não era um bom lugar. Ele indicou-lhe uma estalagem.
Foi apenas na estalagem que Rock deu-se conta de que fora roubado. Não podendo fazer nada, subiu para o quarto e ao abrir a janela do quarto, viu, ao menos, que se o destino tira com uma mão, dá com a outra. Do outro lado da rua havia um prédio onde lia-se: Alfarrábios e Afins - Guilda Mágica e Escola de Magia. Ele achara um lugar para cumprir o seu propósito ao deixar seu povo, entender a magia que o envolvia. Entender os sonhos e as visões que o acompanhavam. Entender a si mesmo, que não era como seus irmãos e irmãs. Pela janela, ele também pode ver o eclipse que começava...

Em Suzail, capital do honrado reino de Cormyr, Rhyolith Fox guiava seus tutelados numa patrulha em auxílio às forças de vigilância local. O eclipse que se aproximava tiraria os ladinos das sombras para perturbar a ordem das boas famílias dessa grande cidade.
Foi, portanto, sem surpresas que se encontraram com um grupo de elite, os Dragões Púrpuras, força máxima de proteção do povo de Cormyr. O capitão saudou-os e requisitou ajuda para uma perseguição que se apresentava. Eles correram para a estalagem mais próxima, justo quando o eclipse se iniciava...