Derdeil Ophodda seguiu disparado pela escuridão sobre Chuck Norris em forma de veloz cavalo. Quando as aparições começaram a surgir e atacá-los, não fosse a energia do fragmento do mythal ao qual se conectaram e teriam perecido. Derdeil conjurou uma luz da manhã antes mesmo de ver luz brilhar em Forte Arsheben, além da súbita tormenta de relâmpagos que se formou. As nuvens negras e crivadas de relâmpagos cobria toda a cidade como um anúncio do armagedom.
Em seus pensamentos, o mago de Halruaa chamou pelo deus dos magos. Ele concentrou-se como pode, mas não havia resposta. Mas ao pensar em outras possibilidades ouviu:
- Diga Derdeil Óphodda, escolhido da magia...
- Quem está por trás disso?
- A senhora das aranhas...
Dentro dos muros da cidade, Mari'bel, entre os arqueiros da defesa, via os inimigos despontarem e sentiu as gotas ácidas pingarem das nuvens. A horda era ainda mais vasta que a anterior. Foi quando as aparições começaram a emergir do solo.
No templo de Bibiana, os elfos que se reuniam ao redor de sua deusa sem poderes e os aventureiros buscavam preces. A fé de todos pareceu reunir-se na deusa sem poderes dos elfos, fazendo Bibiana Crommiel brilhar. Aquela luz se não era quente, ao menos cintilava e se expandia esconjurando as aparições sombrias que também chegavam por ali. A senhora dos elfos ia recuperando os traços divinos.
Mesmo envolto em luz, Forte Arsheben estava banhado em ácido e isso servia para quebrar a confiança das tropas. Quando seis relâmpagos deixaram as nuvens e explodiram o templo de Tyr, toda a moral que Ryolith Fox mantinha de pé tombou por terra junto com as pedras da casa da justiça.
O efeito mostrou a Derdeil Óphodda que aquele era um efeito, no mínimo, épico se não uma intervenção divina. Chuck Norris intensificou o galopar. Evitando ao máximo as gotas ácidas, Edgar subiu à máxima velocidade, cruzou as nuvens nefastas e do alto conseguiu ver o ponto brilhante que se aprozimava a galope.
- Mestre Óphodda...
Mari'bel e Braad, assim como alguns dentre os demais defensores da cidade buscaram a proteção de alguma cobertura física contra a chuva ácida. A iniciada do arco encontrou uma janela de onde conseguia vitimar ao menos um morto-vivo drow, quando não dois por ivestida. O monge bêbado se pôs a defendê-la enquanto bebia. Lá fora, o arquimago Eurípedes conseguiu proteger ele e mais alguns com magia contra o ácido, mas foi o santo Ryolith Fox quem devolveu ânimo aos vivos.
- Nós não viemos aqui para viver, defensores de Forte Arsheben. Nós viemos aqui para fazer justiça! Nós viemos para morrer lutando contra o mal sem fim!!! Nós viemos fazer a morte temer por ter de nos levar!!! - E com essas palavras, ele saltou sobre a massa avassaladora de mortos-vivos drows.
Como se o próprio Tyr envolvesse o santo paladino, cada golpe de Ryolith Fox era como o de dez homens como ele. A cada volteio de sua espada, várias aberrações mortas-vivas tombavam ao solo, enquanto o triplo tomava seu lugar e continuava subindo. O arquimago lançou meteoros de fogo sobre a horda. Reanimada com a proeza épica de seu líder, as tropas de Forte Arsheben se reposicionaram e conseguiram conter o avanço da horda sobre as muralhas da cidade. Braad tombou nessa leva de ataques protegendo a fada.
Kaliandra Boaventura tinha dificuldade em manter a concentração com as imagens mentais e comunicações de Edgar, mesmo assim, Cameron Noites segurou a mão dela instigando-a a entregar sua vontade a Bibiana. A elfa soube que Derdeil estava chegando.
Quando Edgar pousou no ombro do escolhido de Azuth, faltavam poucas centenas de metros até a cidade:
- Mestre Óphodda... ó meu grande senhor... tá tudo fodido.. Kaliandra está no templo de Bibiana...
- Então é para lá que nós vamos! - Com um gesto, Derdeil Óphodda usou de seu poderes de escolhido e se teleportou para o templo da deusa dos elfos.
Derdeil, Chuck e Edgar viram os elfos, além de Sergio Reis reunidos em oração para Bibiana no exato momento que um rochedo caiu sobre a metade do pequeno templo. Pela cidade outros desses pedregulhos celestes destruiu parte do muro da cidade e construções espalhando o caos e a morte.
Sem demora, um a um, os heróis e elfos foram se conectando ao mythal.
- Devemos depositar toda a energia no mythal - alertou Derdeil para seus aliados. - Passem até mesmo a energia depositada nos itens mágicos.
Com a força que recebeu de Sérgio Reis, os fragmentos que Derdeil lançara entre eles passaram a flutuar e se fundirem em uma só esfera. Isso também fez com que em toda cidade, seus cidadãos fossem tocados pela energia positiva. Isso levantou vários dos que haviam tombado e até mesmo o monge Braad. Foi quando Mari'bel e Braad resolveram procurar o restante do grupo. O monge correu carregando a arqueira para o templo de Bibiana.
O bardo teve sua mente invadida por imagens ininterruptas da glória do povo élfico e mais de trinta mil anos da história do belo povo, como se as lembranças de milhares de vidas fossem depositadas em sua mente. De seus lábios começou a escapar uma balada que trazia paz ao coração de todos, mesmo em meio à tanta desolação. Era uma cantiga sobre como cada vida era uma vibração de uma longa canção. Por isso mesmo, não havia morte, mas apenas silêncio e som.
As palavras de Sérgio Reis facilitaram que Kaliandra Boaventura e Chuck Norris conseguissem entregar suas energias também. Este esforço fez com que o mythal se reintegrasse em sua plenitude. Toda a cidade e sua população foi envolvida pela benção de positividade, que dessa vez repeliu os mortos-vivos para longe de seu campo, assim como trouxe incômodo a seres de sangue extraplanar e malignos. Os sentidos de todos ficaram mais apurados e até conseguiam conversar e perceber as coisas uns pelas mentes dos outros. Foi quando perceberam Rufus Lightfoot revirando as ruínas do templo de Tyr.
Ainda assim, a tormenta seguia acima de Forte Arsheben. Seis novos relâmpagos deixaram as nuvens negras e destruíram o templo de Sune. Mesmo repelidos, a horda morta-viva ainda cercava a cidade. Ryolith Fox, o único combatente fora dos muros, seguia seu combate sem trégua, enquanto Eurípedes lançava bolas de fogo do muro e os arqueiros disparavam.
O bardo seguia em seu contato profundo com visões transcendentes e percebeu como num sonho, seu tio John Falkiner. Além do escolhido de Bibiana, ele reconheceu a cidade de Evereska, assim como a Basílica de Bibiana. Os demais aliados de Falkiner lá estavam também e eram ameaçados por um ser angelical marcado pela pura maldade. Aquilo parecia para ele um ponto nodal da existência, como se varias camadas de realidade se sobrepusessem num único ponto. Cada possibilidade como uma escama de serpente.
- Malkizid... - ele pensou movendo os lábios, mas sem pronunciar, enquanto a imagem chegava até seus camaradas. Foi quando Braad e Mari'bel chegaram ao que restara do templo de Bibiana, o mestre da bebedeira foi o último a entregar seus poderes para o artefato élfico. O poder se intensificou e eles logo se deslocaram com portais dimensionais de Derdeil e Cameron para o muro. Bibiana e os elfos do templos ficaram entregues às orações e à proteção do mythal.
Tão logo surgiram, eles viam o caminho que se abriu entre a horda e a pequena menina drow vestida de negro que vinha entre eles. Era ao mesmo tempo delicada e profana. Tinha os traços ingênuos de uma pequena garotinha junto a enfeites de pura devassidão.
- Nem mesmo o Deus da Justiça em pessoa arrancaria minha vitória, pequeno paladino! - Disse Lolth olhando o santo Ryolith Fox nos olhos que eram incapazes de ter medo.
- O bem sempre vence. A justiça a esmagará como uma aranha!!! - Gritou Ryolith Fox erguendo a espada que um dia fora de Palas Atenas e partindo para a carga.
O chão sob seus pés, no entanto, viu surgir uma imensa garra feita de trevas e teias, que o agarrou, enquanto parecia drenar suas forças. No alto dos muros, todos sentiram a energia divina e moral de Ryolith que impulsionava a todos se esvair. As luzes que haviam crescido de Bibiana para o povo e para a cidade sumiu como uma chama de vela em um vendaval. A escuridão foi total. Apenas os cabelos da criança deusa drow e a armadura prateada do paladino pareciam se destacar. O corvo Edgar usou um dos anéis que pegara de Eurípedes, o arquimago, e ficou invisível.
- Peça justiça ao seu deus cego e maneta quando meus servos demoníacos ceifarem sua alma nos campos cinzentos, pequeno paladino... - Debochou Lolth levitando para destruir definitivamente a existência de Ryolith Fox.
- Hoje não, filha das trevas... - disse uma voz límpida e firme. Subitamente, vindo do horizonte a leste um colossal sol se ergueu derramando a energia da manhã, muito embora faltassem muitas horas para o amanhecer. Ainda assim, dia se fez. Muitos dos mortos-vivos foram imediatamente destruídos. Os que restaram fugiram caoticamente buscando a proteção das árvores. A mão que continha Ryolith se desfez e o paladino caiu exaurido de joelho sobre a terra. Lolth se fora com uma praga em seus lábios e chegava um belo homem moreno vestido de dourado.
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