29 de dez. de 2014

O alto custo da energia


Rufus Lightfoot havia se separado dos companheiros que ficaram orando para Bibiana Crommiel. Já passara pelas ruínas do templo de Tyr, destruído pelos raios da tormenta, quando o inesperado amanhecer chegou. No local encontrara um bom número de pergaminhos e uma espada valiosa repleta de pequenas balanças encrustadas feitas de pedras preciosas. Já estava chegando ao mercado, esmagado em boa parte por um dos rochedos que despencara das nuvens tempestuosas e lá recolheu alguns livros de magia, pergaminhos e poções. Mesmo curioso com aquele sol súbito e brilhante àquela hora da madrugada, o pequeno ladino preferiu dirigir-se para o templo de Sune, onde recolheu outros pormenores e um belo bastão cravejado de rubis com ajuda do faro de Azuzu II. 
Ao contrário de seu pequenino aliado, o restante do grupo, que estava na muralha da cidade, viu o recém-chegado e portador do sol, que salvara a todos com aquela luz pura e positiva ser repelido pelo santo paladino Ryolith Fox, servo de Tyr:
- Você não é bem vindo aqui, servo de Amaunthor.
- Se eu não viesse resgatá-lo, servo de Tyr, você e sua cidade teriam perecido. Seriam mais uma vítima da deusa dos drows.
- Não precisamos da servidão que impõe aos seus, Daelegoth Orndeir. Preferimos morrer livres, do que viver de joelhos! - O santo paladino se levantou ainda fraco apoiando-se na espada que um dia pertencera à sua finada esposa Palas Atenas.
- Será que é isso mesmo que prefere o seu povo? Os pobres filhos de Forte Arsheben? Creio que nós temos que conversar, meu caro... em particular. A graça de Amaunthor manterá o teu povo seguro.
- Certamente ninguém aqui deseja a morte, filho do sol - interviu o arquimago Eurípedes do alto da muralha. - Permita-me participar dessa tomada de decisão, pois há muito em jogo aqui. Devemos nos reunir na torre da guilda arcana.
- Esse assunto não é para você, pequeno arquimago. Apenas os verdadeiros comandantes do destino tem voz e ouvidos aqui... - disse Daelegoth alcançando Ryolith e se teleportando com ele.
Dessa forma, enquanto Eurípedes se remoía de raiva, Mari'bel, Kaliandra, Cameron, Derdeil, Braad, Sérgio Reis e Pena Branca optaram por retornar ao que restara do templo de Bibiana, onde permaneciam a própria deusa, seus seguidores elfos e o druida Chuck. O corvo Edgar foi enviado por sua mestra para a torre dos magos a fim de saber o que estava sendo discutido por lá.
No templo de Bibiana, onde a energia do mythal parecia engrandecida com a chegada da força positiva daquela súbita manhã, todos puseram-se a invocar mais energias que pudessem ser consagradas à senhora dos elfos. Bibiana cada vez mais recuperava os traços divinos enchendo o coração de todos com esperança.
No entanto, o escolhido do deus da magia Derdeil Óphodda sabia que faltava a energia do mythal da Grande Floresta que estava contida no pequeno hobbit para ativar a totalidade do poder do mythal de Myth Drannor. Graças à comunicação telepática, eles invocaram Rufus, que se apressou.
Porém, quem chegou logo foi o arquimago Eurípedes, determinado que estava a levar o mythal com ele:
- Deem-me logo o artefato. Essa cidade está condenada e não posso deixar que o mythal se perca com ela. Venham comigo ou saiam do meu caminho!
- Nada disso, humano tolo - disse Kaliandra sacando sua arma e se pondo no caminho, assim como seu amado Cameron Noites. - O mythal não sairá daqui!
- O mythal está restaurando a divindade da deusa dos elfos - protestou Mari'bel retesando seu arco.
- Da mesma forma que o salvamos... nós podemos destruí-lo, arquimago Ésquilo... - debochou Sérgio Reis fazendo sinal para Pena Branca se preparar e já elevando a moral de seus aliados.
- O arquimago tem razão amigos... - protestou Derdeil, justamente quando a mente de Kaliandra era tomada por mensagens de seu familiar Edgar. 
- Mestra, escute só...
- Eu não irei abandonar Forte Arsheben!!! - Urrou Ryolith.
- E se eu disser que Palas Atenas não morreu Ryolith... se eu disser que sei onde ela está e que você ainda pode salvá-la? Vale a pena morrer aqui sabendo disso? - Questionou Daelegoth. Edgar não os via, mas apenas os ouvia do outro lado da janela fechada da torre arcana.
- Se ficarmos vamos entregar o mythal de bandeja... - continuou Derdeil. - Melhor voltarmos para Myth Drannor com o mythal pleno.
- Merror seguirmos el mago... - ponderou Braad, mas os demais se mostraram irredutíveis.
- Ele não é o líder do grupo... - gritou Chuck.
- Eu não tenho tempo para isso... - Eurípedes avançou, invocando uma telecinésia para carregar o artefato e explodindo energia mágica bruta, mas Mari'bel o agarrou mesmo assim, enquanto Pena Branca disparou suas setas. Cameron se adiantou com a espada, mas Braad o derrubou, o que o tornou alvo da fúria de Kaliandra. A elfa o atingiu com sua espada longa, enquanto ordenava para que Edgar retornasse.
Rufus Lightfoot avistou a batalha nas ruínas da igreja de Bibiana, quando Derdeil Óphodda invocou uma torrente de água que derrubou Mari'bel e Kaliandra Boaventura, mas não impediu Cameron Noites de transformar o arquimago Eurípedes em gás antes que este tocasse o mythal. O arquimago perdeu mais tempo dispelando a magia, o que fez todos se interporem entre ele e o mythal novamente.
- Vocês pagarão por isso, seus tolos - ele disse antes de partir com um teleporte.
O hobbit chegou sorrateiro e célere, resgatando a energia mágica de seus itens e consagrando-a a Bibiana, enquanto derramava a magia no mythal flutuante. A senhora dos elfos se pôs de pé recebendo as forças plenas do mythal. Mas foi quando surgiram também dois visitantes inesperados. Lolth, senhora dos drows, agarrou Bibiana pelos cabelos como uma boneca:
- Olá, criança... me dará o prazer que Corellon não me deu...
- Tire as mãos dela, demônia maldita! Nada aqui lhe pertence... - disse Daelegoth se interpondo entre o mythal e Lolth.
- Seus truques não são capazes de me deter.. com mais este sacrifício tudo será meu.. tudo será uma parte de minha teia!!!
- Não hoje... - murmurou Bibiana, que mesmo aturdida lançou os heróis e o mythal para longe dali.


Abrindo os olhos, Derdeil Óphodda reconheceu seus aliados, os elfos servos de Bibiana e o mythal. Estavam novamente nas ruínas de Myth Drannor como ele tanto desejara.

13 de dez. de 2014

De Araunshee a Lolth...

Ela já teve dois nomes e muitos epítetos. Ela surgiu no princípio. Sentiu aquele toque ajudando-a a se levantar. Ela o olhou pela primeira vez como o olhou todas as outras vezes. A sinfonia criadora ainda tocava quando eles começaram a bailar pela primeira vez. Ao mesmo que se enamorava e seus cabelos se embaraçavam, ela percebia aquele povo, aquelas vidas, aqueles interesses longínquos que conformavam sua existência: uma mulher que envolvia seu recém-nascido; uma menina que se admirava com uma borboleta pousando na ponta de sua orelha; uma anciã que contava histórias enquanto bordava. Tantas delas, que despertavam do sono desde antes da viagem. Um novo conformar.
Com a dança e a música veio a prosperidade nesse mundo novo. Esse mundo não conhecia nada como o belo povo que chegava. Era um mundo bruto, rústico, mas ainda assim magnífico. Seu consorte anunciou a todos que aquela seria a nova morada dos elfos. Assim como os Seldarine se entenderiam com as divindades desse mundo, também os elfos deviam se aproximar e se apresentaram àquele mundo e seus habitantes.
Araunshee viu seus filhos povoarem as florestas daquele mundo. Eles não eram seus verdadeiros filhos. Seu amor por Corellon Larethian, pai de todos os elfos,
lhe dera dois filhos: o jovem Vhaeraun, deus da esperteza e da juventude e a pequenina Elistraee, a deusa do nascimento. Ele representava a jovialidade e o espírito da mudança próprio dos jovens, que seu pai já não
podia mais inspirar. Ela representava esses tantos nascimentos que se apresentavam aos elfos. Ambos tinham a bela pele negra de sua mãe, mas os olhos azuis do pai. Os que adoravam a senhora dos elfos acima de tudo eram chamados Illythir, filhos da mãe na primeira língua.
Mas entre os outros elfos, outra era a mãe do belo povo. Sehanine fora a primeira esposa de Corellon, mas nunca aceitara o pai dos elfos como o primeiro, mas sim como seu igual. Era ele também seu filhos afinal de contas. Eles brincaram e competiram no princípio. O êxtase dos começos mascarava as frustrações das brigas que iam surgindo. O filho que eles tiveram, Solonor Larethian, ao invés de unir seus pais, jogou-os de vez um contra o outro. Assim, o jovem deus da guerra viu seus pais destoarem nos versos e aconchegou-se ao peito da mãe. Ao rei dos elfos restou o trono e a solidão.
Mas isso durou pouco, pois Araunshee logo o encantou com sua doçura e admiração eloquente. Isso foi antes dos servos do mal corromperem e macularem a essência da existência. Antes dos elfos precisarem partir pelos portais para outra existência,
Nesse novo mundo, Corellon entendeu-se bem com Silvanus, senhor do que vive, Chauntea, aquela que era o próprio mundo, Selune, a primeira filha, Jergal, senhor dos mortos, Morpheus, senhor dos sonhos, e Bahamut, senhor dos dragões. Mas também inimizades surgiram com Shar, o caos, Talos, a destruição, Tiamat, senhora dos dragões, e seu inimigo supremo, Gruumsh, senhor dos orcs, cujo olho arrancou na primeira batalha.
Os elfos mostraram aos outros povos sua magia, mas apenas os dragões a compreenderam e a melhoraram enquanto ainda existiam como um povo, antes dos próprios elfos os amaldiçoarem por isso. Os outros preferiam a magia simples de manipular a força tênues do mundo e não os pontos nodais em si mesmos. A alta magia élfica ancorada na energia comum do belo povo ergueu impérios e mythais capazes de protegê-los e potencializá-los.
Porém, entre os deuses e entre o povo élfico, pequenas fissuras começavam a comprometer a estrutura que se expandia. O jovem deus da guerra cada vez mais alimentava seu povo a combater e levar a batalha aos inimigos com impetuosidade e destemor. Tinha sempre ao seu lado seu jovem irmão Vhaeraun, muitas vezes se entregando os dois às batalhas contra as hordas de orcs em meio aos mortais.
Corellon tinha muita satisfação com aquela amizade, mas Sehanine e Araunshee não a viam com bons olhos. Sehanine, deusa do amor, deusa da fertilidade, deusa da experiência, entendia que um conflito entre os dois herdeiros era inevitável, alertando seu filho, mas sem intervir diretamente. Araunshee temia o que a antiga esposa de seu marido pudesse fazer contra seu filho. Ela temia a atenção que seu marido dedicava a ela e ao filho dela. 
Foi nessa época que Araunshee conheceu o anjo Malkizid. Ele veio como embaixador de Zaphkiel, senhor dos Sete Céus, que alguns chamava de Deus Uno, para ter com Corellon. Ela percebeu que o anjo se encantou por ela, deusa da paixão, do interesse, do prazer. Embora adorasse seu marido mais do que tudo, Araunshee não deixou de dar atenção aos olhares do anjo.
Quando foi a hora de Corellon Larethian enviar alguém de sua confiança na embaixada aos Sete Céus, Solonor recusou a missão. A discussão foi áspera. No mundo, reinos élficos lutavam entre si. Até mesmo pactos satânicos eram celebrados entre alguns do belo povo.
Foi Vhaeraun quem aceitou a missão e foi com Malkizid, mas eles nunca chegaram aos Sete Céus. Malkizid aceitou a oferta do amor de Araunshee em troca do poder para derrotar Corellon, enfraquecido que estava pelas disputas com o próprio filho. Ele seu uniu à deusa nas cavernas sombrias do Abismo e desejou-a ainda mais.
As famosas Guerras da Coroa se seguiram. Cinco ao todo, onde os Illythir foram expulsos para baixo da terra. Passaram a ser chamados drows. Araunshee passou a ser Lolth. Junto com ela, seus filhos e Vaehrun foram expulsos dos Seldarine por Corellon, que ainda chorava o assassinato de seu filho Solonor. Não fosse a união de Sehanine a outra duas deusas elfas, Aerdri e Hanali, para formar Angahard, a senhora de tudo, e ele também teria sido morto.
Lolth cooptou demônios para seu ninho de teia no Abismo. Seu amante, no entanto, foi aprisionado na limite do caos absoluto. Uma prisão de onde nunca poderia ter sido libertado, enquanto algo ainda existisse. Uma prisão feita de nada, onde apenas o vazio o acompanhava. 
A senhora dos drows jurou que se vingaria daquela derrota. Ela teria sua vitória qualquer que fosse o sacrifício.

Quando Malkizid retornou após ser libertado pela chave dos planos, ela sabia que a hora de sua vitória chegara. A partida dos deuses elfos para o mundo de onde haviam vindo, apenas facilitou isso. Ela sabia que assim poderia facilmente destruir a tola mortal promovida a deusa, todos os filhos de Corellon e Sehanine, e governar sobre as ruínas que restassem. Então ela envolveria tudo em sua teia, podendo até mesmo descartar aquele velho mundo como uma casca seca de serpente.
Primeiro, a deusa dos drows sumiu completamente, silenciando até para seus filhos mais devotos. Depois, um a um, ela sacrificou seus filhos e aliados. Vhaeraun, seu primogênito, foi o último, e isso a banhou com um poder tão incomensurável, que a própria tessitura da existência tremeu. Foram tantos dentre os drows mortais que haviam sido sacrificados em sua glória, que ela abraçou as energias negativas para trazê-los de volta como um cortejo de mortos-vivos. 
Quando o ignóbil mortal Rhange Hesysthance Sorrowleaf acendeu a deusa da magia e mudou seu funcionamento, foi como se escancarassem as portas para sua vitória. Era agora o momento de sacrificar seus inimigos...

11 de dez. de 2014

Evereska (introdução do jogo...)

Daphne da Grande Floresta orava para as forças da natureza, enquanto a clériga Jacke cuidava da ressurreição de sua sobrinha Viviane. Os drows haviam levado o corpo da jovem druida, mas não teriam a alma dela, isso ela podia garantir. 
Próximo dali, Ehtur Telcontar, seu fiel amigo, conversava com Fangorn, Falcon Eagle e Timothy Hunter acertando os detalhes da salvaguarda do mythal como desejara o poderoso dragão Imvaernarhro. O grupo de aventureiros partira há algumas horas e tinham um druida de seu círculo e uma fada com eles, eles iam averiguar até onde ia aquela ameaça drow. Foi quando o primeiro lampejo surgiu em sua mente.
Ela ainda ouvia Jacke a pronunciar as palavras, assim como o campo de força com o qual o mythal abastecia de magia élfica toda a Grande Floresta. Mas em sua mente só havia uma imagem. A serpente sem fim. Dendar. Daphne a via imobilizada, presa a uma teia fina. O desespero tomou conta dela, mas ela já não podia fazer mais nada. A magia da clériga gnoma , serva de todos os deuses, não conseguiu resgatar a alma de Viviane, pois esta estava já profanada por uma força muito superior à de Jacke. Além disso, a pequenina sentiu a força abissal que correu por ela e alcançou sua guru Daphne. 
Daphne ouviu o desespero de seus colegas. Ela ouviu Jacke, que resistira à maldição milagrosamente, gritar seu nome sacudi-la, invocar inúteis bençãos e proteções contra o mal. Ouviu Ehtur enviar mensagem mágica ao dragão milenar, sem obter respostas. Por fim, o guardião e adepto da lança reuniu seus antigos companheiros de aventuras e rumou para Evereska. Lá estava o também catatônico John Falkiner, escolhido de Bibiana, assim como o poderoso cetro da deusa dos elfos. O bardo Yorgoi dizia que aquilo poderia quebrar a maldição sobre a mestra das muitas formas. 


6 de dez. de 2014

Sol da meia-noite


Derdeil Ophodda seguiu disparado pela escuridão sobre Chuck Norris em forma de veloz cavalo. Quando as aparições começaram a surgir e atacá-los, não fosse a energia do fragmento do mythal ao qual se conectaram e teriam perecido. Derdeil conjurou uma luz da manhã antes mesmo de ver luz brilhar em Forte Arsheben, além da súbita tormenta de relâmpagos que se formou. As nuvens negras e crivadas de relâmpagos cobria toda a cidade como um anúncio do armagedom.
Em seus pensamentos, o mago de Halruaa chamou pelo deus dos magos. Ele concentrou-se como pode, mas não havia resposta. Mas ao pensar em outras possibilidades ouviu:
- Diga Derdeil Óphodda, escolhido da magia...
- Quem está por trás disso?
- A senhora das aranhas...
Dentro dos muros da cidade, Mari'bel, entre os arqueiros da defesa, via os inimigos despontarem e sentiu as gotas ácidas pingarem das nuvens. A horda era ainda mais vasta que a anterior. Foi quando as aparições começaram a emergir do solo.
No templo de Bibiana, os elfos que se reuniam ao redor de sua deusa sem poderes e os aventureiros buscavam preces. A fé de todos pareceu reunir-se na deusa sem poderes dos elfos, fazendo Bibiana Crommiel brilhar. Aquela luz se não era quente, ao menos cintilava e se expandia esconjurando as aparições sombrias que também chegavam por ali. A senhora dos elfos ia recuperando os traços divinos.
Mesmo envolto em luz, Forte Arsheben estava banhado em ácido e isso servia para quebrar a confiança das tropas. Quando seis relâmpagos deixaram as nuvens e explodiram o templo de Tyr, toda a moral que Ryolith Fox mantinha de pé tombou por terra junto com as pedras da casa da justiça.
O efeito mostrou a Derdeil Óphodda que aquele era um efeito, no mínimo, épico se não uma intervenção divina. Chuck Norris intensificou o galopar. Evitando ao máximo as gotas ácidas, Edgar subiu à máxima velocidade, cruzou as nuvens nefastas e do alto conseguiu ver o ponto brilhante que se aprozimava a galope.
- Mestre Óphodda...
Mari'bel e Braad, assim como alguns dentre os demais defensores da cidade buscaram a proteção de alguma cobertura física contra a chuva ácida. A iniciada do arco encontrou uma janela de onde conseguia vitimar ao menos um morto-vivo drow, quando não dois por ivestida. O monge bêbado se pôs a defendê-la enquanto bebia. Lá fora, o arquimago Eurípedes conseguiu proteger ele e mais alguns com magia contra o ácido, mas foi o santo Ryolith Fox quem devolveu ânimo aos vivos.
- Nós não viemos aqui para viver, defensores de Forte Arsheben. Nós viemos aqui para fazer justiça! Nós viemos para morrer lutando contra o mal sem fim!!! Nós viemos fazer a morte temer por ter de nos levar!!! - E com essas palavras, ele saltou sobre a massa avassaladora de mortos-vivos drows. 
Como se o próprio Tyr envolvesse o santo paladino, cada golpe de Ryolith Fox era como o de dez homens como ele. A cada volteio de sua espada, várias aberrações mortas-vivas tombavam ao solo, enquanto o triplo tomava seu lugar e continuava subindo. O arquimago lançou meteoros de fogo sobre a horda. Reanimada com a proeza épica de seu líder, as tropas de Forte Arsheben se reposicionaram e conseguiram conter o avanço da horda sobre as muralhas da cidade. Braad tombou nessa leva de ataques protegendo a fada.
Kaliandra Boaventura tinha dificuldade em manter a concentração com as imagens mentais e comunicações de Edgar, mesmo assim, Cameron Noites segurou a mão dela instigando-a a entregar sua vontade a Bibiana. A elfa soube que Derdeil estava chegando.
Quando Edgar pousou no ombro do escolhido de Azuth, faltavam poucas centenas de metros até a cidade:
- Mestre Óphodda... ó meu grande senhor... tá tudo fodido.. Kaliandra está no templo de Bibiana...
- Então é para lá que nós vamos! - Com um gesto, Derdeil Óphodda usou de seu poderes de escolhido e se teleportou para o templo da deusa dos elfos.
Derdeil, Chuck e Edgar viram os elfos, além de Sergio Reis reunidos em oração para Bibiana no exato momento que um rochedo caiu sobre a metade do pequeno templo. Pela cidade outros desses pedregulhos celestes destruiu parte do muro da cidade e construções espalhando o caos e a morte. 
Sem demora, um a um, os heróis e elfos foram se conectando ao mythal.
- Devemos depositar toda a energia no mythal - alertou Derdeil para seus aliados. - Passem até mesmo a energia depositada nos itens mágicos.
Com a força que recebeu de Sérgio Reis, os fragmentos que Derdeil lançara entre eles passaram a flutuar e se fundirem em uma só esfera. Isso também fez com que em toda cidade, seus cidadãos fossem tocados pela energia positiva. Isso levantou vários dos que haviam tombado e até mesmo o monge Braad. Foi quando Mari'bel e Braad resolveram procurar o restante do grupo. O monge correu carregando a arqueira para o templo de Bibiana.
O bardo teve sua mente invadida por imagens ininterruptas da glória do povo élfico e mais de trinta mil anos da história do belo povo, como se as lembranças de milhares de vidas fossem depositadas em sua mente. De seus lábios começou a escapar uma balada que trazia paz ao coração de todos, mesmo em meio à tanta desolação. Era uma cantiga sobre como cada vida era uma vibração de uma longa canção. Por isso mesmo, não havia morte, mas apenas silêncio e som.
As palavras de Sérgio Reis facilitaram que Kaliandra Boaventura e Chuck Norris conseguissem entregar suas energias também. Este esforço fez com que o mythal se reintegrasse em sua plenitude. Toda a cidade e sua população foi envolvida pela benção de positividade, que dessa vez repeliu os mortos-vivos para longe de seu campo, assim como trouxe incômodo a seres de sangue extraplanar e malignos. Os sentidos de todos ficaram mais apurados e até conseguiam conversar e perceber as coisas uns pelas mentes dos outros. Foi quando perceberam Rufus Lightfoot revirando as ruínas do templo de Tyr.
Ainda assim, a tormenta seguia acima de Forte Arsheben. Seis novos relâmpagos deixaram as nuvens negras e destruíram o templo de Sune. Mesmo repelidos, a horda morta-viva ainda cercava a cidade. Ryolith Fox, o único combatente fora dos muros, seguia seu combate sem trégua, enquanto Eurípedes lançava bolas de fogo do muro e os arqueiros disparavam.
O bardo seguia em seu contato profundo com visões transcendentes e percebeu como num sonho, seu tio John Falkiner. Além do escolhido de Bibiana, ele reconheceu a cidade de Evereska, assim como a Basílica de Bibiana. Os demais aliados de Falkiner lá estavam também e eram ameaçados por um ser angelical marcado pela pura maldade. Aquilo parecia para ele um ponto nodal da existência, como se varias camadas de realidade se sobrepusessem num único ponto. Cada possibilidade como uma escama de serpente.
- Malkizid... - ele pensou movendo os lábios, mas sem pronunciar, enquanto a imagem chegava até seus camaradas. Foi quando Braad e Mari'bel chegaram ao que restara do templo de Bibiana, o mestre da bebedeira foi o último a entregar seus poderes para o artefato élfico. O poder se intensificou e eles logo se deslocaram com portais dimensionais de Derdeil e Cameron para o muro. Bibiana e os elfos do templos ficaram entregues às orações e à proteção do mythal.


Tão logo surgiram, eles viam o caminho que se abriu entre a horda e a pequena menina drow vestida de negro que vinha entre eles. Era ao mesmo tempo delicada e profana. Tinha os traços ingênuos de uma pequena garotinha junto a enfeites de pura devassidão. 
- Nem mesmo o Deus da Justiça em pessoa arrancaria minha vitória, pequeno paladino! - Disse Lolth olhando o santo Ryolith Fox nos olhos que eram incapazes de ter medo.
- O bem sempre vence. A justiça a esmagará como uma aranha!!! - Gritou Ryolith Fox erguendo a espada que um dia fora de Palas Atenas e partindo para a carga.
O chão sob seus pés, no entanto, viu surgir uma imensa garra feita de trevas e teias, que o agarrou, enquanto parecia drenar suas forças. No alto dos muros, todos sentiram a energia divina e moral de Ryolith que impulsionava a todos se esvair. As luzes que haviam crescido de Bibiana para o povo e para a cidade sumiu como uma chama de vela em um vendaval. A escuridão foi total. Apenas os cabelos da criança deusa drow e a armadura prateada do paladino pareciam se destacar. O corvo Edgar usou um dos anéis que pegara de Eurípedes, o arquimago, e ficou invisível. 
- Peça justiça ao seu deus cego e maneta quando meus servos demoníacos ceifarem sua alma nos campos cinzentos, pequeno paladino... - Debochou Lolth levitando para destruir definitivamente a existência de Ryolith Fox.
- Hoje não, filha das trevas... - disse uma voz límpida e firme. Subitamente, vindo do horizonte a leste um colossal sol se ergueu derramando a energia da manhã, muito embora faltassem muitas horas para o amanhecer. Ainda assim, dia se fez. Muitos dos mortos-vivos foram imediatamente destruídos. Os que restaram fugiram caoticamente buscando a proteção das árvores. A mão que continha Ryolith se desfez e o paladino caiu exaurido de joelho sobre a terra. Lolth se fora com uma praga em seus lábios e chegava um belo homem moreno vestido de dourado.