Eles adentraram o ambiente um tanto assustador. Havia uma estranha luz negra que permeava todo o ambiente. Por causa dela, as coisas brancas ou de cores claras brilhavam como sob o efeito de alguma magia de fogo das fadas ou luzes dançantes. Derdeil Óphodda sabia que aquele era um amplo espaço extradimensional como uma mansão de Mordenkein ou mesmo um pequenino plano divino. Rufus e Azuzu caminhavam o mais longe possível de todas as coisas que por ali haviam. Kaliandra Boaventura, ainda amparada por Cameron Noites, o trovador da espada, observava com a ajuda de seu corvo Edgar os incontáveis objetos espalhados pelo chão. Todos roliços e nos mais variados modelos e tamanhos.
Ali também estavam livres dos impedimentos mágicos do plano material. Assim sendo, Mari'bel, que eles traziam ainda desacordada mesmo com os primeiros socorros, finalmente despertou. Ela também viu o estranho ambiente com reservas. Eles percebiam as paredes tomadas por cenas de homens apolíneos de corpos nus praticando atividades atléticas ou não tão atléticas nas mais variadas posições. Além disso, estátuas de falos épicos e colunas fálicas adornavam todo o espaço.
Açougueiro, Ra's Al Ghul e Odisseu de Varlan, companheiros do senhor daquele lugar, Shun Iksea, não pareciam incomodados, mas sim conformados, enquanto que o paladino de Sune, que ressurgira depois de ser exterminado pela clériga de Lolth como se nada tivesse acontecido, parecia radiante.
- Genti, é um prazer ter vocês aqui. É um prazer estar com vocês, brincar com vocês...
- É... bem... na verdade... - interviu Derdeil. - Nós ainda temos o problema dos nossos amigos, poderoso Iksea. Eles ainda estão lá fora na torre dos drows.
- Eu posso abrir a porta dos fundos pra eles. - Disse o paladino cor de rosa mexendo nas madeixas verdes.
- Uma outra saída dimensional pode alcança-los nos limites desse plano.. se não estiverem longe - explicou Ra's Al Ghul.
- Malditos drows.. eu preciso de cura.. - interviu Mari'bel olhando para Derdeil. - Também posso dizer exatamente onde estão.. sessenta pés para cima e cento e vinte pés para leste.
- Uma cura seria legal.. - acrescentou Kaliandra, que teve a concordância do elfo trovador da espada que ainda a amparava.
- Cura é sempre bom.. - conclui Cameron.
- Alguém aqui tem magias de cura? - Quis saber Derdeil voltando-se para os demais.
- Veja como atua um clérigo bom e servidor da Adama, petralha clérigo de Azuth. - Interviu Odisseu de Varlan. - Nós que não temos o individualismo em nossos corações e praticamos o bem, somos capazes de converter nosso poder em cura a qualquer momento, para o bem de Halruaa ou dos que nos cercam. - Ele tocou a fada e curou todos os seus ferimentos, fazendo o mesmo com todos os demais.
Enquanto isso, uma outra saída foi aberta no final do espaço dimensional, dando acesso ao quarto, ainda vazio, onde haviam escondido os corpos de Braad e Sérgio Reis. Foram rápidos em tirá-los dali, pois já escutavam o barulho da movimentação das tropas. Odisseu também curou os dois e estes se puseram de pé.
- Ei você... moreno alto.. bonito e sensual.. talvez eu seja a solução dos seus problemas... - disse Shun Iksea passando o dedo por uma das tatuagens do monge Braad.
- Epa.. pera ai, amigo.. eu no juego nesse time.. prefiro un trago e...
- Bebida à vontade, bofe... - disse Shun fazendo aparecer comida e bastante bebida sobre pequenas mesas de cristais adornadas de pequenos pintinhos.
- Merror beber... - escapou Braad, tirando um de seus tonéis para enchê-lo. - Lo bardo talviez tenga interesse...
- Minha Sune da deusa, que lorão é esse?!? - Disse Shun ajudando a por o bardo, ainda zonzo, de pé e tirando as pesadas roupas dele. - Você sabe que uma vez levei um lorão pruma festa e todo mundo de olho no meu bofe, mas daí apareceu o encosto pra quem o lorão prestava contas. Daí foi uma confusão.. mesa na piscina... katanas orientais.. dedos quebrados... um bafafá... eu faltei morrer esse dia. Minha amiga Paulete ficou uma fera comigo.
- É uma boa história... mas acho que você já pode soltar o meu... me soltar...
- Ó sim, sim, claro.. achei que era o seu dedinho... que cuticuti...
- Shun, nós ainda precisamos recuperar a gema que contém a alma da sacerdotisa élfica - interviu o estranho elfo que se dizia Açougueiro.
- Nós precisamos descansar para voltar pra lá.. - disse Derdeil.
- Isso, isso. Vamos todos tirar a roupa e descansar - concordou o paladino Iksea.
- Eu disse descansar apenas... - corrigiu o mago. - Kaliandra será que você gostaria de se juntar a mim para continuarmos seus estudos arcanos...
- Claro, Derdeil.. é que.. - Kaliandra vacilou nas palavras.
- Eu posso ajudá-la agora, doce Boaventura - completou o elfo Cameron.
- Eu vinha ensinando os meandros e as vicissitudes arcanas para ela, elfo.
- Pode me chamar de Noites, amigo Óphodda. Ou Cameron. Como preferir, mas pelo que vejo.. meu livro de magia é maior do que o seu.
- Eu também preciso recuperar minhas preces e orações... - disse Odisseu.
- Que seja.. - resignou-se Açougueiro.
- Eu velarei o vosso sono, meus olímpicos.. - disse Shun. - Deitati bardinho...
- Olha o passarinho... - disse Sérgio Reis tentando escapar.
- Que gracinha o passarinho preto...
- Eu sou o corvo Edgar.
- Passarinho... que som é esse? Passarinho...
- Queira me desculpar, paladino, mas não entendo a razão disso.. - falou Edgar confuso, enquanto os demais acomodaram-se na medida do possível.
- Fica tranquilo, passarinho... eu jogo nas onze...
O sono de todos foi inquieto. Não houve sonhos como da última vez. Quando despertaram, todos viram-se nus, com os corpos molhados de suor como se estivessem em uma sauna. Suas mucosas latejavam entre a dormência e a dor.
- O que houve, Edgar? - Perguntou Kaliandra pelo elo mental dos dois, mas tão logo sua mente foi tomada pelas cenas dantescas da mente da pequena ave, ela ajoelhou-se autista e começou a balançar levemente.
- O que foi, Kaliandra? - Quis saber Cameron ignorando a própria dor.
- O horror... o horror... - ela murmurava com os olhos fixos no vazio.
- Vamos parar de enrolação. Temos de encontrar a gema com a alma da sacerdotisa elfa - interviu Açougueiro.
- Nós também temos de impedir o ritual dos drows - lembrou Derdeil.
- Nós interrompemos ao roubar os dois elfos que seriam sacrificados, não é mesmo? - Questionou Ra's Al Ghul.
- Nós não eramos os alvos... e sim o clã Eagle da Grande Floresta. Eles mataram todos... faltava apenas a druida Felícia Eagle, que a clériga drow capturou antes de escaparmos - explicou Kaliandra.
- Nossa preocupação é encontrar a gema com a alma aprisionada... - cortou-a Açougueiro. - Vamos... - e ele abriu a porta que os conduziria de volta para o plano material.
- É melhor irmos e fazer o que for possível.. - disse Cameron.
Todos foram saindo, retornando para o plano material em um aposento vazio da torre. Rufus Lightfoot aproximou-se da Kaliandra Boaventura e cochichou na língua dos hobbits:
- A tal da gema tá comigo. Mas não confio nesse cara aí não...
O ladino hobbit seguiu com Azuzu e já foi se escondendo. No entanto, quando apenas Shun Iksea estava no bolsão dimensional, uma dezena de fantasmas se manifestou no aposento. Um deles gritou um ataque sônico que fez sumir a passagem. Outro encarnou no corpo de Mari'bel, dominando a mente da fada. Os demais foram alvos de encaradas aterrorizantes que roubavam-lhes a força e o vigor. Além disso, só então eles perceberam que as forças nefastas e negativas do tecido mágico local haviam se ampliado. Agora, todo o tempo, eles sentiam que o tecido mágico drenava-lhes a força vital, mesmo que resistissem ao máximo.
Ra's Al Ghul não exitou e alcançou seus dois companheiros, teleportando-se dali. Os outros chamaram por Rufus, mas como ele não apareceu, também fugiram com magias. As portas dimensionais invocadas por Derdeil e Camerom levaram, respectivamente, Braad e Sérgio, Kaliandra e Mari'bel. O primeiro trio formado pelos três humanos surgiu em um aposento vazio, onde poucos segundos depois, Shun Iksea se juntou a eles. O segundo trio formado pelos elfos e a fada apareceram em um quarto, onde um homem negro dormia. Este desapareceu fundindo-se com as sombras, enquanto que Cameron e Kaliandra ajudaram a fada a se libertar do controle do fantasma, que escapou atravessando as paredes.
O campo de energia negativa parecia cada vez mais intenso e eles cada vez mais próximos da morte.
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