27 de set. de 2014

A noite dos mortos-vivos


A cidade estava cercada em todas as direções. Calculava-se que haveriam dezenas... talvez mais de uma centenas de milhares de mortos-vivos. Ashaben nem sempre fora uma grande cidade, havia lhes contado o bardo Sérgio Reis. Até poucos anos atrás, era uma aldeia de mil habitantes, uma simples extensão das pequenas fazendas cooperativas e da vida agrária do Vale das Névoas. Ela só cresceu com a chegada dos refugiados de Cormyr, muitos deles servos de Tyr, livrando-a de uma breve invasão pelo reino burguês de Sembia. 
Hoje em dia, a cidade possuía uma grande muralha, onde agora cerca de dez mil combatentes, quase todos servos de Tyr, se posicionavam sob as ordens dos firmes paladinos do deus da justiça. À frente deles estava o santo martelo de Tyr, Ryolith Fox, um homem marcado pela existência com dor e sofrimento, pois perdera seu reino e sua amada, mesmo que ambos ainda buscasse. Ele era o líder da Justa Resistência, que mantinha as Terras dos Vales com alguma autonomia de Sembia e do Forte de Zhentil, além de buscar recuperar Suzail dos servos de Amaunthor. Mas tudo isso tornou-se secundário há três dias atrás.
Emergindo das cavernas das minas dos anões a leste da cidade, abaixo da floresta de Cormanthor, os primeiros mortos-vivos apareceram, eram drows sem pele que expeliam ácido e se regeneravam dos ataques dos anões. Eles emergiram e chegaram até os muros da cidade, conseguindo matar alguns arqueiros e um mago, além dos pobres campesinos pegos desprevenidos do lado de fora do muro. Aqueles que tombaram voltaram como zumbis, o mago como uma sombra e eles partiram quando a madrugada findava.
Na noite seguinte, eles eram milhares. Vinham de todas as direções, surgindo das árvores da Floresta de Cormanthor que envolve a cidade de Ashaben. Ryolith Fox havia ordenado durante o dia que o povo devia se proteger na cidade e que todos os capazes de lutar deviam unir-se às tropas em Ashaben. Reuniu três mil homens aos mil que já tinha e esperava que chegassem mais cinco mil na próxima noite com a notícia. Mais uma vez, um punhado de arqueiros perdeu a vida, assim como dois clérigos que tentaram socorrê-los, enquanto uma dezenas dos mortos-vivos conseguiu ser destruída, partindo todos com a proximidade do amanhecer. Os corpos dos mortos que não puderam ser devolvidos à vida foram abençoados e queimados.
Durante esse terceiro dia, chegou o apoio que a Resistência esperava, mas o medo já habitava o coração da população, mesmo que houvesse o dobro de defensores. Com a noite, no entanto, eles viram que o número dos inimigos aumentara cinco vezes. Além dos drows sem pele, haviam agora espectros sombrios, zumbis altos de ogres, trolls e gigantes. Carniçais de orcs, hobgoblins e anões. A batalha acabou não acontecendo, pois as flechas dessa vez não derrubaram um morto-vivo que fosse, enquanto que eles apenas cercaram a cidade deixando claro sua superioridade, partindo mais uma vez com a chegada do amanhecer.
E então os heróis chegaram ao portão e entraram com a benção de Shun Iksea. Chuck Norris foi ressuscitado, mesmo que algo dele parecesse perdido para sempre, depois de ser uma alma penada. Haviam deixado o belo templo de Sune e chegaram à igreja de Bibiana Crommiel. Um quinteto de elfos um tanto perdidos e entorpecidos se entregavam a lamúrias e cânticos para a deusa dos elfos.
- Ó Senhora do belo povo, por quê nos abandonastes? - Repetia Dhyon, o clérigo responsável no ambiente esfumaçado e melancólico.
- Acalme-se clérigo. Deve prezar pelo seu papel e se recompor. Sou Kaliandra Boaventura.. este é Cameron Noites...
- O trovador da espada Cameron Noite... - interviu o elfo que reconhecia o cheiro da erva dos hobbits no ar.
- Nós somos de Encontro Eterno - tornou a falar Kaliandra. - Estamos aqui para ter a ajuda de Bibiana com um grave problema...
- Bibiana não responde nossas preces, dama Boaventura... - lamuriou-se o clérigo.
- Ainda assim, temos aqui uma gema... - tomou a palavra a clériga de Sune Gisele Bundchen. - Nela está aprisionada a líder demoníaca...
- A serva de Bibiana e senhora do clã Fey'ri Sarya Dlardrageth... - cortou-a Açougueiro. - Somos todos filhos de Bibiana agora.
- Somos todos filhos de Bibiana... - repetiram os cinco elfos do templo fazendo o mesmo sinal de união.
- Para Bibiana somos todos iguais... não existem mais diferenças de cor de pele, de origem ou mistura - concordou o clérigo Dhyon.
- É o que Bibiana colocou em nossos corações... - disse outro dos elfos da igreja de Bibiana.
- Viram?! Me dê a pedra, Gisele! Deixe-me libertar esta injustiçada mulher - bradou Açougueiro.
- Eu acho que o potente Shun Iksea deve ser quem destrua a pedra, esse deus apolíneo que caminha ao nosso lado - ponderou Derdeil Óphodda.
- Shuuun! Shuuun!! - Disse o próprio paladino de Sune dando gritinhos histéricos com o próprio nome. - Sou eu mesma que vou dar fim nessa gema dos infernos. Esse vai pro meu mago / clérigo predileto - Ele ergueu a espada rósea, deu uma piscadinha para Derdeil e golpeou o rubi que Gisele lhe entregara.
De dentro das duas partes da gema, saiu um espectro que logo se tornou uma magnífica elfa com uma beleza sem igual. Ela estava nua e trazia as formas perfeitas e divinas. Mesmo com asas de morcego e os chifres na testa, todos ali sentiram as bocas secarem e o sangue desacelerar por um instante.
- Criaturas infelizes e inferiores... agora que estou livre, destruirei todos os meus inimigos e vocês pagarão o preço por meu aprisionamento!!! - Ela disse com um ódio tão grande quanto sua formosura.
- Calma, minha senhora. Somos filhos de Bibiana, lembra-se? Estes são nossos aliados agora... estamos com eles contra os drows..
- Ah, sim... claro... Bibiana... é verdade, Açougueiro. Queiram me perdoar a confusão... Bibiana recebeu a todos nós e atende nossas preces... - disse Sarya pousando próxima ao outro fey'ri, embora todos os olhares estivessem sobre ela, pois até mesmo as mulheres sentiam um certo desejo percorrer seu íntimo.
- Quem vai pagar meu prejuízo? - Questionou Rufus Lightfoot apanhando os dois pedaços do rubi, que se desvalorizara com isso.
- Precisamos falar com Bibiana... - interviu Kaliandra.
- Precisamos saber o motivo do silêncio da deusa... - disse Dhyon.
- Precisarei de dez minutos para entrar em comunhão com a deusa... - respondeu Sarya.
- Nesse caso a gente vai indo... - disse Shun pegando Gisele pela mão. - Vamos indo pra muralha cair no pau... onde já se viu, ficar olhando essa chifruda magrela horrenda...
Mari'bel e Sérgio Reis foram para a entrada da Igreja, de onde viam os últimos raios do sol sumirem no horizonte e começavam a escutar o som dos passos da horda morta-viva que se avizinhava. Eles aproveitaram esse momento para dividir alguns achados e fazer uso de produtos recém-adquiridos a bom preço pela lábia do hobbit Rufus. Também gastaram o que lhes restava da energia do mythal para abastecer de magias os últimos itens. Enquanto o druida Chuck Norris discutia com o corvo Edgar, Derdeil e Cameron trocaram farpas quanto a dois livros de magias tomados dos drows, mas o trovador da espada parecia mais ocupado de impressionar Kaliandra:
- Sabe Kaliandra... - ele disse pegando-a pela mão e afastando-a do mago humano. - Depois de tudo que passamos, quase sendo sacrificados por aquela clériga maligna da deusa dos drows, eu repensei muitas coisas... vi que estou em um momento novo da minha vida. Tem aquela hora que o sujeito percebe que não tem mais que ficar procurando, pois tudo que ele mais precisa está ali bem ao lado dele... - o rosto de Kaliandra foi ficando ruborizado, percebendo aonde seu treinador queria chegar. - Você é a mais bela elfa que eu já vi, uma mulher guerreira e maga também... uma mulher pura, recatada e de fibra. Eu gostaria de que assim que retornarmos ao nosso lar em Encontro Eterno... bem.. eu gostaria de falar com o patriarca Boaventura e pedir sua mão... eu gostaria de pedir sua mão em casamento... - finalmente falou Cameron se ajoelhando.
- Era só o que me faltava... - resmungou Derdeil continuando a copiar as magias em seu livro.
- Oh Cameron... que coisas mais lindas... - disse Kaliandra Boaventura sem jeito. - Eu ficaria muito... muito feliz com isso...
O grito de Sarya Dlardrageth, no entanto, atraiu a atenção de todos, inclusive do romântico casal. Açougueiro a amparou, enquanto ela balbuciava algo sobre o horror que caíra sobre a deusa Bibiana. O monge Braad tentou animá-la com um pouco de bebida, mas o elfo demoníaco pegou sua senhora no colo, enquanto Derdeil alertou Shun com uma mensagem mágica e eles partiram para os muros da cidade.
Kaliandra liberou Edgar, que assim como os elfos demoníacos fey'ri, saiu voando para o alto e pode ter uma visão mais clara da vastidão da ameaça, embora as árvores da floresta encobrissem muitos dos inimigos. Ra's Al Ghul sumiu da vista de todos como por encanto, enquanto Odisseu de Varlan seguiu com o grupo.
Enquanto Derdeil Óphodda foi encaminhado para a Academia Arcana, todos os demais foram levados até Ryolith Fox, que conversava com Shun e Gisele.
- É um prazer tê-los, conosco campeões. Não fossem essas péssimas condições em que a vida nos obriga a lutar contra o mal, nossos agentes poderiam atuar melhor na defesa dessa cidade. - O santo paladino de Tyr os agradeceu pela companhia na batalha, encaminhando-os para as tropas. Mari'bel e os elfos dispararam com os milhares de arqueiros no alto da muralha, embora logo descobrissem o pouco efeito que isso tinha na horda morta-viva.
Quando o pequeno corvo Edgar avistou, escondidos entre as árvores, um grupo de elfas vivas cercadas por guardiões sombrios e incorpóreos, sua mestra Kaliandra reportou ao santo Ryolith Fox. O martelo de Tyr ordenou que eles atacassem o coração do problema, enquanto ele mantinha a moral das tropas na defesa da cidade.

20 de set. de 2014

Enquanto Freud explica, Shun Iksea dá os toques...


- Onde está a pedra, pequenino? – Quis saber o elfo Açougueiro pressionando Rufus Lightfoot, que ele agarrara antes que Ra’s Al Ghul completasse o teleporte.
- Que pedra? – Desconversou Rufus.
- A gema vermelha com o espírito aprisionado... eu vi você falar para a elfa Kaliandra que tinha encontrado a pedra!
- Ah, a pedra... xiiiii... pois é... ficou com a Kaliandra...
- Não tente me enganar, hobbit! – Disse o Açougueiro cerrando os punhos.
- Se você tivesse perguntado antes de sair de lá... – Rufus reconhecia o aposento onde estavam, que ficava no primeiro andar da primeira torre do palácio, onde havia a plataforma de levitação em que foram atacados pelo fantasma do beholder.
- Teremos de voltar e encontra-los então... – disse o elfo visivelmente contrariado.
Eles tomaram o caminho da plataforma, carregando Rufus e Azuzu com eles. Odisseu de Varlan era o mais adiantado deles e foi o primeiro a subir na plataforma, sendo seguido pelos demais. Ele também foi o primeiro a ser atacado pelo beholder espectral quando chegou ao terceiro andar. Os demais se refugiaram no segundo andar, justamente quando começaram a sentir suas energias vitais serem drenadas pelo campo de energia negativa épico que envolvia o castelo. Odisseu tentou escapar, assim como Açougueiro e Ra's Al Ghul.
Rufus aproveitou para se esconder com Azuzu, enquanto o trio combatia a aberração morta-viva, que lançava seus raios contra o clérigo de Halruaa e o elfo entre o abrir e fechar do olho de antimagia. Isso acabou revelando que o feiticeiro Ghul não era humano, pois sua pele era estranhamente azul. Foi ele quem conseguiu resgatar os dois companheiros, pois Odisseu foi paralisado e Açougueiro estava sob o efeito de uma lentidão, levando ambos para além do alcance do beholder. O hobbit e seu cão aproveitaram para seguí-los escondidos, tendo tempo de ouvir a discussão.
- Não temos condições de ficar aqui! - Protestou Ra's.
- Eu preciso da pedra! Partir sem ela não é opção! - Gritou Açougueiro.
- Eu estou partindo! Não vou morrer por essa maldita pedra!
- Nós temos um acordo! - Disse o elfo com dedo em riste. - Lembre-se bem disso.. você me deve!
Sem mais discutir, o feiticeiro tentou um novo teleporte ao qual Rufus se juntou. Surgiram diante do palácio, onde encontraram Cameron Noites quase já se forças, que tentava carregar sozinho os corpos de Kaliandra e Mari’bel, além do corvo Edgar. O elfo trovador da espada retirara-os do palácio com sua última porta dimensional, mas isso não os levara além do campo de energia negativa, que já derrubara as duas acompanhantes e o familiar. 
O misterioso Ra’s Al Ghoul usou de seu última magia de teleportação, que dessa vez salvou a todos. Eles surgiram no extremo da caverna, onde haviam encontrado os Escondidos, sentindo que ali estavam além do alcance do campo de energia negativa, muito embora não além das limitações sobre a magia. Rufus aproveitou para adentrar no esconderijo dos drows refugiados, mas encontrou lá apenas uns restos de moedas e gemas-de-sangue.

Derdeil Óphodda, Braad e Sérgio Reis haviam sido resgatados por Shun Iksea, escolhido de Sune, a deusa do amor e da beleza, que surgira com seu bolsão dimensional. Ele carregou os três para lá e se dispôs a recuperar parte de suas energias vitais através de seus métodos pouco ortodoxos. Shun virou o bardo de bruços, incomodado com o pequeno instrumento do músico, e passou a invadi-lo com sua poesia mais melodiosa, fazendo Sérgio dançar o miudinho, enquanto dedilhava sua energia vital. Verdadeira felicidade, o paladino de Sune encontrou ao debruçar-se sobre a longa firmeza do monge Braad, que tentava burlar aquilo com muita bebedeira, enquanto Shun Iksea galgava o máximo das forças morenas e tatuadas do mestre da bebedeira. Finalmente, Derdeil parecia mais conformado que seus camaradas com os métodos lascivos de Shun Iksea, entendendo aquilo como necessário à sobrevivência de todos ali e percebendo que as barreiras entre homo e heterossexualidade eram tão limitadoras quanto as fronteiras entre bem e mal.
Retornando ao plano material, ainda próximos do castelo, mas já do lado de fora das torres, eles voaram agarrados a Shun Iksea. Derdeil enviou uma mensagem mágica, recebendo a resposta de Rufus sobre onde estavam.

Eles foram ao encontro dos demais, justamente no momento em que estes foram confrontados com o surgimento dos fantasmas atormentados de Chuck Norris e Swam Eagle. O fantasma do druida, no entanto, lutou contra o controle inimigo e conseguiu escapar com os outros para o refúgio no plano de Shun Iksea. Já Swam, que gritava como um banshee, foi abandonada à própria sorte.
Uma vez lá, eles usaram da água do mythal para recuperar Odisseu de Varlan, que pode invocar seus poderes para recuperar alguns deles, como Mari'bel e Kaliandra, mas que ainda precisava de descanso para recuperar a todos. O Açougueiro, por sua vez, insistia na devolução da pedra:
- Onde está a pedra, Kaliandra?
- Que pedra? - Disse a elfa sem nada entender.
- O hobbit me disse que a entregou a você... eu preciso libertar a alma de uma poderosa sacerdotisa que se encontra aprisionada nela - o Açougueiro disse em um tom que mostrou a todos como era justa sua busca.
- Não adianta romper a pedra aqui no plano de Shun Iksea, pois a alma não encontrará o caminho para o corpo - alertou Derdeil com seus conhecimentos mágicos. - Deixe-me ver a pedra, Rufus...
- Xiiii... - desconversou o hobbit.
- Você tem minha palavra que a devolverei a você... - completou o mago, recebendo a pedra e analisando-a. - É prudente que espere nosso retorno para o plano material, quando todos estivermos descansados e recuperados.
- Quem é essa sacerdotisa? - Quis saber Mari'bel.
- Seu nome é Sarya Dlardrageth - disse o Açougueiro.
- Dlardrageth? - Ponderou Sérgio Reis coçando as ancas latejantes. - Mas esse é o nome da líder dos fey'ri... uma família de elfos que se misturou com demônios.
- Isso não importa mais... - disse Açougueiro revelando sua verdadeira forma, deixando crescer os chifres, as asas e o rabo de demônio. - Me deem logo a pedra.
- No.. nada desso.. - Braad entrou na frente dele.
- Vocês são como os malditos drows! - Disse Mari'bel sacando o arco.
- Nós servimos a Bibiana... somos todos um agora! - Disse o elfo demoníaco fazendo o sinal da senhora dos elfos, o que conteve o ímpeto de todos.
- Não briguem.. não briguem... que tal uma partidinha de cubol pra relaxar... - disse Shun Iksea despertando.
No entanto, o paladino da beleza recebeu uma mensagem de sua deusa Sune, que convocou seu preferido e o mandou seguir para o Vale das Névoas na Terra dos Vales ao redor da floresta de Cormanthor. Ela o alertou de que lá os ataques dos drows e dos mortos-vivos começavam a causar grande mal e ele devia defender os seguidores do amor e da beleza.
Sem mais demora, eles retornaram ao plano material, mesmo que Derdeil e Odisseu ainda precisassem terminar de descansar. Shun Iksea partiu na frente, deixando-os guardando os companheiro ainda naquele fim de manhã. O Açougueiro mais uma vez reclamou a gema de Rufus:
- Dê-me a pedra, Rufus!
- Xiiii... esqueci lá no plano do Shun... - desconversou o hobbit montando em Azuzu.
- Eu estou farto de suas brincadeiras!!! - Apelou o elfo demoníaco, mas mais uma vez os camaradas de Rufus se colocaram entre os dois.
- Espere até encontrarmos com Shun e você terá a pedra - disse Mari'bel.
- Beba un poco e fica traquilo, hombre.. - disse Braad abrindo um dos tonéis que enchera do líquido mágico do plano de Shun Iksea.
- Acalme-se, Açougueiro - interviu Ra's Al Ghul. - Que diferença fará isso agora?
Mesmo contrariado, Açougueiro aceitou e quando os dois clérigos de Halruaa acordaram, eles seguiram. Foram para a cidade do Forte de Asheben, onde foram impedidos de entrar, mas Shun Iksea surgiu e os levou para dentro até o belíssimo templo de Sune. Lá haviam três belas clérigas, umas das quais auxiliou Odisseu a ressuscitar Chuck Norris. A líder delas, no entanto, Giselle Bundchen, recebeu de Rufus a gema e considerou que seria mais sábio entregá-la ao sacerdote de Bibiana da cidade e não a Açougueiro, o que o deixou ainda mais contrariado com o hobbit. Ainda assim, ela lembrou que logo chegaria a noite e, com ela, chegariam os mortos-vivos.


13 de set. de 2014

O que acontece no plano de Shun Iksea, fica no plano de Shun Iksea...

Eles adentraram o ambiente um tanto assustador. Havia uma estranha luz negra que permeava todo o ambiente. Por causa dela, as coisas brancas ou de cores claras brilhavam como sob o efeito de alguma magia de fogo das fadas ou luzes dançantes. Derdeil Óphodda sabia que aquele era um amplo espaço extradimensional como uma mansão de Mordenkein ou mesmo um pequenino plano divino. Rufus e Azuzu caminhavam o mais longe possível de todas as coisas que por ali haviam. Kaliandra Boaventura, ainda amparada por Cameron Noites, o trovador da espada, observava com a ajuda de seu corvo Edgar os incontáveis objetos espalhados pelo chão. Todos roliços e nos mais variados modelos e tamanhos. 
Ali também estavam livres dos impedimentos mágicos do plano material. Assim sendo, Mari'bel, que eles traziam ainda desacordada mesmo com os primeiros socorros, finalmente despertou. Ela também viu o estranho ambiente com reservas. Eles percebiam as paredes tomadas por cenas de homens apolíneos de corpos nus praticando atividades atléticas ou não tão atléticas nas mais variadas posições. Além disso, estátuas de falos épicos e colunas fálicas adornavam todo o espaço.
Açougueiro, Ra's Al Ghul e Odisseu de Varlan, companheiros do senhor daquele lugar, Shun Iksea, não pareciam incomodados, mas sim conformados, enquanto que o paladino de Sune, que ressurgira depois de ser exterminado pela clériga de Lolth como se nada tivesse acontecido, parecia radiante.
- Genti, é um prazer ter vocês aqui. É um prazer estar com vocês, brincar com vocês...
- É... bem... na verdade... - interviu Derdeil. - Nós ainda temos o problema dos nossos amigos, poderoso Iksea. Eles ainda estão lá fora na torre dos drows.
- Eu posso abrir a porta dos fundos pra eles. - Disse o paladino cor de rosa mexendo nas madeixas verdes. 
- Uma outra saída dimensional pode alcança-los nos limites desse plano.. se não estiverem longe - explicou Ra's Al Ghul.
- Malditos drows.. eu preciso de cura.. - interviu Mari'bel olhando para Derdeil. - Também posso dizer exatamente onde estão.. sessenta pés para cima e cento e vinte pés para leste.
- Uma cura seria legal.. - acrescentou Kaliandra, que teve a concordância do elfo trovador da espada que ainda a amparava.
- Cura é sempre bom.. - conclui Cameron.
- Alguém aqui tem magias de cura? - Quis saber Derdeil voltando-se para os demais. 
- Veja como atua um clérigo bom e servidor da Adama, petralha clérigo de Azuth. - Interviu Odisseu de Varlan. - Nós que não temos o individualismo em nossos corações e praticamos o bem, somos capazes de converter nosso poder em cura a qualquer momento, para o bem de Halruaa ou dos que nos cercam. - Ele tocou a fada e curou todos os seus ferimentos, fazendo o mesmo com todos os demais.
Enquanto isso, uma outra saída foi aberta no final do espaço dimensional, dando acesso ao quarto, ainda vazio, onde haviam escondido os corpos de Braad e Sérgio Reis. Foram rápidos em tirá-los dali, pois já escutavam o barulho da movimentação das tropas. Odisseu também curou os dois e estes se puseram de pé.
- Ei você... moreno alto.. bonito e sensual.. talvez eu seja a solução dos seus problemas... - disse Shun Iksea passando o dedo por uma das tatuagens do monge Braad.
- Epa.. pera ai, amigo.. eu no juego nesse time.. prefiro un trago e...
- Bebida à vontade, bofe... - disse Shun fazendo aparecer comida e bastante bebida sobre pequenas mesas de cristais adornadas de pequenos pintinhos. 
- Merror beber... - escapou Braad, tirando um de seus tonéis para enchê-lo. - Lo bardo talviez tenga interesse...
- Minha Sune da deusa, que lorão é esse?!? - Disse Shun ajudando a por o bardo, ainda zonzo, de pé e tirando as pesadas roupas dele. - Você sabe que uma vez levei um lorão pruma festa e todo mundo de olho no meu bofe, mas daí apareceu o encosto pra quem o lorão prestava contas. Daí foi uma confusão.. mesa na piscina... katanas orientais.. dedos quebrados... um bafafá... eu faltei morrer esse dia. Minha amiga Paulete ficou uma fera comigo.
- É uma boa história... mas acho que você já pode soltar o meu... me soltar...
- Ó sim, sim, claro.. achei que era o seu dedinho... que cuticuti...
- Shun, nós ainda precisamos recuperar a gema que contém a alma da sacerdotisa élfica - interviu o estranho elfo que se dizia Açougueiro.
- Nós precisamos descansar para voltar pra lá.. - disse Derdeil.
- Isso, isso. Vamos todos tirar a roupa e descansar - concordou o paladino Iksea.
- Eu disse descansar apenas... - corrigiu o mago. - Kaliandra será que você gostaria de se juntar a mim para continuarmos seus estudos arcanos...
- Claro, Derdeil.. é que.. - Kaliandra vacilou nas palavras.
- Eu posso ajudá-la agora, doce Boaventura - completou o elfo Cameron.
- Eu vinha ensinando os meandros e as vicissitudes arcanas para ela, elfo.
- Pode me chamar de Noites, amigo Óphodda. Ou Cameron. Como preferir, mas pelo que vejo.. meu livro de magia é maior do que o seu.
- Eu também preciso recuperar minhas preces e orações... - disse Odisseu.
- Que seja.. - resignou-se Açougueiro.
- Eu velarei o vosso sono, meus olímpicos.. - disse Shun. - Deitati bardinho...
- Olha o passarinho... - disse Sérgio Reis tentando escapar.
- Que gracinha o passarinho preto...
- Eu sou o corvo Edgar.
- Passarinho... que som é esse? Passarinho...
- Queira me desculpar, paladino, mas não entendo a razão disso.. - falou Edgar confuso, enquanto os demais acomodaram-se na medida do possível.
- Fica tranquilo, passarinho... eu jogo nas onze...


O sono de todos foi inquieto. Não houve sonhos como da última vez. Quando despertaram, todos viram-se nus, com os corpos molhados de suor como se estivessem em uma sauna. Suas mucosas latejavam entre a dormência e a dor.
- O que houve, Edgar? - Perguntou Kaliandra pelo elo mental dos dois, mas tão logo sua mente foi tomada pelas cenas dantescas da mente da pequena ave, ela ajoelhou-se autista e começou a balançar levemente.
- O que foi, Kaliandra? - Quis saber Cameron ignorando a própria dor.
- O horror... o horror... - ela murmurava com os olhos fixos no vazio.
- Vamos parar de enrolação. Temos de encontrar a gema com a alma da sacerdotisa elfa - interviu Açougueiro.
- Nós também temos de impedir o ritual dos drows - lembrou Derdeil.
- Nós interrompemos ao roubar os dois elfos que seriam sacrificados, não é mesmo? - Questionou Ra's Al Ghul.
- Nós não eramos os alvos... e sim o clã Eagle da Grande Floresta. Eles mataram todos... faltava apenas a druida Felícia Eagle, que a clériga drow capturou antes de escaparmos - explicou Kaliandra.
- Nossa preocupação é encontrar a gema com a alma aprisionada... - cortou-a Açougueiro. - Vamos... - e ele abriu a porta que os conduziria de volta para o plano material. 
- É melhor irmos e fazer o que for possível.. - disse Cameron.
Todos foram saindo, retornando para o plano material em um aposento vazio da torre. Rufus Lightfoot aproximou-se da Kaliandra Boaventura e cochichou na língua dos hobbits:
- A tal da gema tá comigo. Mas não confio nesse cara aí não...
O ladino hobbit seguiu com Azuzu e já foi se escondendo. No entanto, quando apenas Shun Iksea estava no bolsão dimensional, uma dezena de fantasmas se manifestou no aposento. Um deles gritou um ataque sônico que fez sumir a passagem. Outro encarnou no corpo de Mari'bel, dominando a mente da fada. Os demais foram alvos de encaradas aterrorizantes que roubavam-lhes a força e o vigor. Além disso, só então eles perceberam que as forças nefastas e negativas do tecido mágico local haviam se ampliado. Agora, todo o tempo, eles sentiam que o tecido mágico drenava-lhes a força vital, mesmo que resistissem ao máximo.
Ra's Al Ghul não exitou e alcançou seus dois companheiros, teleportando-se dali. Os outros chamaram por Rufus, mas como ele não apareceu, também fugiram com magias. As portas dimensionais invocadas por Derdeil e Camerom levaram, respectivamente, Braad e Sérgio, Kaliandra e Mari'bel. O primeiro trio formado pelos três humanos surgiu em um aposento vazio, onde poucos segundos depois, Shun Iksea se juntou a eles. O segundo trio formado pelos elfos e a fada apareceram em um quarto, onde um homem negro dormia. Este desapareceu fundindo-se com as sombras, enquanto que Cameron e Kaliandra ajudaram a fada a se libertar do controle do fantasma, que escapou atravessando as paredes.
O campo de energia negativa parecia cada vez mais intenso e eles cada vez mais próximos da morte.

6 de set. de 2014

Mais vale um besouro na mão do que dois elfos voando...


Separado do restante do grupo e não tendo como cruzar a ponte entre as torres, que estava sendo vigiada pela aranha-espectro gargântica, Rufus Lightfoot resolveu explorar o que estava mais próximo. O hobbit-aranha encontrou outra cozinha, onde pode se empanzinar de queijo de rothé e pães de fungos. Desceu até o quarto pavimento, onde ele também passou pelos quartos de alguns oficiais onde recolheu gemas, em especial, um belo rubi com um estranho brilho no interior, além de roupas, equipamentos e papelada de todo o tipo. Porém, sempre que se deparava com uma ameaça, como um grupo de seis fantasmas ou um roper aracnídeo, ele recuava, o que acabou levando-o de volta para o aposento antes da ponte.

Sem novas mensagens de Kaliandra Boaventura, mesmo reunidos com seu familiar, o corvo Edgar, Derdeil Óphodda, Mari'bel, Braad e Sérgio Reis seguiram em frente e deram de cara com duas clérigas drows, que descansavam em um quarto. O mago Derdeil tentou enfraquecê-las com uma magia de silêncio, mas não teve sucesso contra a resistência mágica delas. O mestre da bebedeira Braad partiu em carga contra uma delas, derrubando-a sobre a cama e mantendo-a agarrada. A outra, no entanto, o derrubou com uma magia que poderia ter ceifado-lhe a vida. O bardo Sérgio Reis cantou para animá-los a lutar e a arqueira Mari'bel atirou uma de suas flechas especiais, que manteve a inimiga presa além de causar enorme dano com as outras. Derdeil acabou com a clériga drow com alguns mísseis mágicos auxiliado pelo corvo Edgar que a atrapalhava, transtornado que estava pensando que sua mestra precisava dele.
A drow que restara, livre do desmaiado monge, invocou um pilar de fogo profano sobre os demais, que vitimou Sérgio Reis e feriu a fada e o mago. Ainda assim, Mari'bel despejou outra saraivada sobre a maldita da raça dos seus inimigos favoritos, o que matou de vez a clériga de Lolth. Os dois sabiam que não havia tempo a perder, recolheram o que podiam entre poções e equipamentos. Derdeil Óphodda aproveitou aquele tempo para sacrificar as duas clérigas, o que trouxe poder para ele e para a arqueira, além de deixar mais marcas negras em sua aura. Por fim, eles esconderam os corpos dos companheiros feridos e desacordados sob as camas e partiram guiados pelo corvo, uma vez que não houvesse forma de cura mágica que funcionasse.
Seguindo pela escada do quarto seguinte, eles chegaram a um enorme aposento onde se viram confrontados por quatro demônios vampíricos de quatro braços. As criaturas os cercaram e drenaram suas energias vitais. Mesmo fortalecidos pelos sacrifícios, a ameaça era demais e Derdeil e Mari'bel investiram contra a porta, irrompendo em um pequeno templo onde uma sacerdotisa e seu acólito procediam um ritual profano para Lolth com alguns corpos de elfos verdes.


Kaliandra Boaventura viu que naquele momento, quando a serva malévola de Lolth, a drow albina da máscara de ferro, terminou de cortar a garganta de Ravena Eagle, que ela seria a próxima. Naquele aposento fantasmagórico do plano etéreo, Raven já perdera também a vida e ela mesma parecia a peça final do funesto ritual de sacrifício profano de nível épico que obliteraria toda as realidades.
Quando a poderosa clériga drow e senhora dos mortos-vivos usou seus poderes telecinéticos para arrastar a elfa, arrancando-a de suas correntes, a guerreira-maga Kaliandra foi passando por cima dos pedaços de corpos que ela apenas vislumbrara antes. Reconheceu os corpos dos Eagles: o garoto Pidgen; Crow, Owl, Merlim e o patriarca Falcon de um lado. Parrot, Vulture, Condor e a clériga de Bibiana Hawk de outro. Todos estripados e esquartejados como animais em um matadouro. Ela ia sendo conduzida por sobre o caleidoscópio de corpos em direção a um imenso altar em forma de aranha. Sobre ele, haviam mais corpos e partes de corpos de elfos verdes. Ao longe, ela viu que ainda havia um corpo preso e de pé. Um outro elfo de aparência apolínea, mas inconsciente. Um gesto da serva do mal, no entanto, o despertou e também começou a movê-lo. Os olhos dele se prenderam aos dela, como se o germe de uma esperança nascesse em cada um dos peitos.
- É chagado o grande momento - disse a drow na língua dos elfos. - Com vocês, eu terei toda a magnitude do sacrifício final para a senhora de todos os drows! A superfície será varrida e eu controlarei um amanhã sombrio e negativo!!! Lolth bebera o sangue de todos os seus inimigos, inundará seus filhos com sua magia e se cercará de criados mortos-vivos!!!
- Bibiana não permitirá! O mal está fadado à derrota! - Bradou Kaliandra recobrando um pouco de seus movimentos.
- Isso mesmo, criança tola. Acredite - deliciou-se a serva de Lolth.
- Você e sua deusa não terão sucesso, Irae! O bem sempre vence! Bibiana irá acabar com vocês - gritou o elfo.
- Isso mesmo, trovador da espada! Tenha esperanças, Cameron Noyttes.. é isso mesmo que eu desejo! Isso tornará meu ritual muito mais completo e poderoso... - aproximou-se com a adaga a drow Irae.


Posicionados diante do altar, trocando olhares de desespero e piedade mútuos, o casal de elfos via a iminência da morte se aproximar com a adaga retorcida da clériga de Lolth. Antes, no entanto, que a vida lhes fosse roubada, algo inesperado aconteceu. Um grupo de quatro indivíduos surgiu teleportando-se no aposento. Eram quatro homens ao todo. Um deles vestia uma armadura completa rosa com detalhes em verde limão como seus longos cabelos sedosos. Atrás dele estava um elfo alto e de muita beleza, mas com algumas cicatrizes e de ar arredio. Havia ainda um humano de traços do sul, das terras desérticas de Calimshan, com a pele morena e roupas pesadas. Finalmente, o último humano parecia ser da mesma etnia de Derdeil, dos que vinham de Halruaa, portando um cajado e símbolos religiosos, assim como seu aliado mago.
- Seus planos mequetrefes estão acabados, sua mocreia de araque! - Gritou o sujeito que vinha de armadura rosa. - Eu sou o grande Shun Iksea, servo de Sune e da beleza absoluta! Eu irei penetrar seus planos vis e deflorar seus maus intentos. Ataque da beleeeza....
- Ande logo com isso.. não temos muito tempo.. - disse o elfo, enquanto o paladino Shun corria em carga contra a drow. A investida atingiu e feriu a serva de Lolth, mas pareceu servir apenas para enfurecê-la. As gemas vermelhas de sua máscara metálica explodiram em energia, que usou para fulminar o colorido paladino de Sune. Ela implodiu Shun Iksea com um pensamento e já se preparava para fazer isso de novo, quando um besouro pousou em seu ombro banindo-a dali.
- É a nossa chance - disse o elfo para o humano calimshita.
O estranho humano indicou que formassem um círculo que incluía Kaliandra e Cameron, livres da paralisia mágica.
- E quanto ao paladino? - Questionou Cameron.
- Vamos sair daqui, Cameron - disse Kaliandra pegando a mão dele.
Antes que sumissem, no entanto, Irae surgiu irada. Com um gesto, ela agarrou o besouro que ainda voava por ali, mas o calimshita terminou a viagem planar. Eles desapareceram, ressurgindo em um aposento onde havia uma grande e musculosa clériga de Lolth. Um drow de claça preta de couro limpava o sangue de Mari'bel de sua lâmina, enquanto o corpo dela tombava inerte ao lado de Derdeil. Além deles, a forma fantasmagórica de Swan Eagle gritava como um banshee tendo um grande urso espectral ao seu lado. Derdeil lutava com a clériga para que não consolidasse seu domínio sobre os dois espíritos atormentados, invocando toda a energia que angariara com seus sacrifícios e até mesmo a sua própria.
- Kaliandra... - disse o mago vendo a elfa de mãos dadas com Cameron e os demais.
- Ande Ra's Al Ghoul... - gritou o elfo chamado Açougueiro.
Uma nova magia do calimshita os teleportou, levando o mago ferido e a desfalecida arqueira, fazendo todos surgirem sobre a ponte, chamando a atenção de um sonolento hobbit que terminava sua última fatia de queijo.
- Ei Azuzu.. onde você arrumou esse queijo?... Olha só isso...