12 de jul. de 2014

Juntando os cacos


Enquanto alguns descansavam ou mantinham suas atenções sobre o mago de Halruaa, Mari'bel foi prestar seu pesar pela morte dos Eagle, que eram como seus irmãos. Ela abraçou Felícia, Swam, Ravena e Raven, que pareciam lidar com a perda cada qual à sua maneira.
- Nós temos de ir ver o que pode ser feito.. se restou alguma pista - disse Raven Eagle.
- Foi isso que Fangorn determinou. Devo me reunir aos druidas depois... mas tenho de velar minha família... - disse Felícia deixando as lágrimas correrem. Seu companheiro druida Chuck Norris tentou consolá-la.
- Nós cuidaremos de fazer uma bela cerimônia... - disse o druida humano.
- Ainda não consigo acreditar que minha família morreu... e que Daphne se foi... - lamentou Ravena, que parecia a mais abalada.
- Pelo menos estamos nós vivos... - ponderou Swam.
- E tudo isso por conta dos malditos drows... criaturas malditas esses drows.. só conhecem o mal!!! - Lembrou Mari'bel.
- Eles vão se haver com os Guardiões da Natureza... - disse Ravena seguindo em frente.
- Eles sentirão a fúria de um iniciado da Ordem do Arco, disso eu sei! - Raven cruzou o arco sobre o corpo e ia seguir com sua irmã gêmea, quando Mari'bel o deteve.
- Eu buscava um iniciado da ordem, Raven. Sou uma arqueira e desejo conhecer o Caminho do Arco. Sempre fiquei impressionada com as histórias que o bardo Yorgói contava sobre os feitos de Úrsula Suarzineguer.
- Você não aguentaria o treinamento, fada - ele disse secamente e seguindo em frente.
- Eu irei com eles ver o que encontramos.. se sobrou realmente o que velar, Chuck. Daí veremos como serão as graças a existência dos Eagles.. - limpou as lágrimas Felícia e seguiu, enquanto Chuck resolveu esperar pelos demais vigiando o perigoso mago que destruíra o mythal.  
- Perdoe-me por tratar disso num momento tão triste, mas só agora soube disso. Ouvi histórias sobre a Ordem do Arco.. sobre como os mestres escolhem os neófitos que podem ser os melhores com o arco.
- E que "os arcos são extensões dos arqueiros", não é mesmo? - ele perguntou sem olhar para ela, mas mantendo-os um passo atrás de Ravena.
- Isso! - Disse Mari'bel com entusiasmo.
- Pois não passam de merdas sem sentido! Frases de efeito não farão de você uma arqueira... - ele seguiu em frente sem demonstrar interesse pela killoren. Mesmo assim, ela não desistiu.
- Eu sou uma guardiã de Timothy Hunter... eu sou uma Guardiã da Natureza... eu sou uma filha da Grande Floresta... - ela adiantou-se tomando a frente do arqueiro elfo verde.
- E o que é verdade pra você, Mari'bel? - Ele disse simplesmente, contornando-a e seguindo. Mari'bel sacou seu arco prontamente e disparou uma flecha certeira, que passou a um dedo da orelha pontiaguda de Raven Eagle, que parou na árvore mais próxima. Ele virou-se para ela indiferente àquilo.
- Parece que você é feita do material certo. Começaremos seu treinamento amanhã. Eu sigo o método do iniciado do arco Paimei Sorrowleaf, portanto, prepare-se para aprender e sofrer. Não necessariamente nessa ordem... - e ele seguiu atrás de sua irmã gêmea Ravena, que parecia entediada.
- Toda vez essa conversa...

Enquanto os outros ainda tagarelavam, Rufus Lightfoot limpou as folhas, pegou um bom galho, fez dele um bom bastão. O hobbit ponderou e desenhou um triângulo no chão da floresta. Fez alguns cálculos, pensou em quantos dias haviam andado, na direção do entreposto, do vulcão, das montanhas no caminho e teve certeza. Usou todo seu conhecimento de masmorras, calabouços, passagens subterrâneas e coisas embaixo da terra. Fizera muito bem em não se livrar de seus pertences de hobbit-aranha. Certamente, havia uma cidade drow por trás dos ataques e da horda de mortos-vivos. E ele fez um "x" no desenho, onde estaria o vulcão da Montanha da Estrela e outro nos Picos Perdidos.
- Xiiii...


- Jorge sentou praça na carniçaria... - começou a cantar, enquanto dedilhava a viola Sérgio Reis. - Eu estou feliz porque escapei da sua companhia...
- Pobre paladino... isso é jeito de falar bardo - repreendeu-o Kaliandra Boaventura.
- Eu não estou carregando nem as roupas nem as armas de Jorge... para que meus inimigos não me alcancem... para que meus inimigos mortos-vivos ácidos não me toquem... e nem mesmo um ataque mental eles possam ter para me fazerem mal... Armas de ataque à distância o meu corpo não alcançarão... cordas e correntes se arrebentem, sem o meu corpo tocar. Porque eu estou cantando essa balada em nome de Jorge... salve Jorge... salve Jorge... - ele cantou. - Faz o coro Kaliandra...
- Salve Jorge - disse a elfa sem entusiasmo.
- Xalve Xorge... - disse o monge Braad erguendo o 23o brinde aos elfos verdes. - Que Tyr o rexeba. Uhu!!! Vou beber uma garrafa por você, PALADA!!! 
- De Capadócia... - gritou Sérgio com a voz grossa e batucando na viola. - De Capadócia... que era de Cormyr... de Cormyr!!! Essa será a canção "Como Sérgio Reis, o cãozinho do berrante, escapou da morte certa onde pereceu o paladino de Tyr". Acho que tá meio grande... talvez seja melhor tirar o Tyr do final...
- Talvez seja melhor a balada de Jorge de Capadócia, servo de Tyr - disse Kaliandra se afastando do bardo e chamando a todos para que fossem recuperar todas as partes do mythal que pudessem como Fangorn indicara.

Derdeil Óphodda ainda que amarrado e vigiado, mantinha seu silêncio e não via motivo para temor. Seus companheiros se dividiam nas opiniões sobre ele. Apenas o druida parecia irracionalmente contra ele. Os demais, mesmo a fada, eram abertos ao diálogo. O monge por sinal lhe tinha grande simpatia, tendo compartilhado o 24o brinde aos Eagle com o mago antes de partir. Kaliandra também o defendera dizendo que devia haver justiça, mas que acreditava nas palavras dele. 
Em seu íntimo, o mago sabia que agora era Derdeil Óphodda, escolhido de Azuth, aquele que feriu o deus da magia! Aquele que sabia como ferí-lo novamente. E deuses não são famosos por perdoarem esse tipo de coisa. Sua mente, entretanto, tentava se concentrar na análise de todas as implicâncias e consequências mágicas e divinas do que se passara, enquanto durasse esse atraso. Derdeil ficou preso junto ao treant Fangorn, enquanto o garoto-deus Timothy Hunter estava ocupado erigindo o que parecia ser uma enorme estátua multicolorida de um gato.
- Talvez o que tenha se dado aqui não seja tão terrível quanto parece... - comentou Óphodda como quem não quer nada.
- Não fosse a intervenção dos deuses da natureza e tudo teria sido ainda mais terrível, mago de Halruaa - ponderou Fangorn voltando a atenção para o mago e clérigo de Azuth.
- Realmente esta é uma região de alguma forma especial para o mundo, nobre treant. Tantos deuses presentes no plano material ao mesmo tempo é sinal de que este é de alguma forma um ponto nodal da realidade. Há algo de especial aqui.
- A Grande Floresta guarda forças primevas da vida de Abeir-Toril, Derdeil, servo de Azuth. Forças mais antigas que os mais antigos impérios, forças mais poderosas que as mais poderosas magias, forças mais fundamentais que os mais fundamentais elementos... forças que cabem em uma semente e que não cabem em lugar algum...
- Sim, sim.. claro.. mas o que eu quero dizer é que novas formas de magia estão se tornando possíveis. Seja através de poderosos artefatos... ou através da presença dos deuses... as coisas continuam a se dar, ainda que requeiram um maior esforço e qualificação.
- Eu pouco sei sobre magia, Derdeil, mas sei que a existência sempre tende e encontra um equilíbrio. Suas ações desequilibradas perturbaram nossa harmonia sem se importar com nossa dor.
- Acredito que há uma justiça maior por trás de meu objetivo, Fangorn da Grande Floresta. Se não consegui cumprí-lo ainda, é apenas porque estou aqui detido e impedido de chegar ao próximo mythal, onde não falharei novamente em dar cabo do deus da magia.
Essas palavras, no entanto, acabaram por encerrar o interesse do treant no mago e este voltou a cuidar de suas orações para Silvanus e a escutar os sons da floresta.


- Como eu dizia - não parava de falar o bardo Sérgio Reis - não faz sentido o R.. deus da magia ter deixado destruírem Evereska, a cidade sagrada, ou estar feliz com isso. A cidade também tinha importância pra ele...
- Mas é a cidade sagrada de Bibiana... - problematizou Kaliandra com o pouco que aprendera até aqui.
- Sim... era a cidade do grande John Falkiner, meu tio, escolhido de Bibiana... mas também era a cidade onde o deus da magia viveu quando era mortal, o que não faz muito tempo. Também tinha gente dele lá... sei lá.. só acho estranho.. pronto.. falei... ou eu não posso ter opinião? Talvez esse grupo seja humanófobo...
- Yo soy humano, chico... - disse Braad antes de tomar uma dose.. - A los Eagle...
- Eu também... e aquele maldito que atacou o mythal também é... - acrescentou Chuck Norris.
- O paladino também era.. - acrescentou Rufus.
- Talvez você não saiba a hora de fechar sua matraca, Sérgio - interviu Mari'bel indicando que já estavam entrando na área outrora dedicada ao mythal.
Uma vez entre as árvores consagradas ao redor do pequeno lago, eles perceberam que não haviam mais fragmentos que fossem do mythal. Mari'bel procurou rastros, mas não haviam, a não ser os deles mesmos. Onde antes caíram ou se cravaram os pedaços do mythal, restavam apenas as marcas, como se as pedras houvessem sido absorvidas pelo solo, pelas árvores e muito provavelmente pela água. Chuck Norris sacrificou o próprio vigor e invocou uma magia para detectar magia. Logo, ele percebeu o brilho mágico em todos os lugares onde os fragmentos tocaram.
- É tudo mágico. As árvores.. a água.. o solo.. tudo que foi tocado pelos fragmentos do mythal... tudo tem uma aura mágica agora...
- Vamos bebê-la? - Ponderou Mari'bel.
- Uhuuuuuuu... - disse Rufus tirando a roupa enquanto corria e pulava na pequena piscina de água natural.
- A los Eagle... elex eram vintche e xiete ou vintche e otcho?
- O que mais você vê nas auras mágicas, druida? - Quis saber Sérgio.
- Acho que é bom bebê-la... - respondeu o druida para a killoren. - Mal não vai fazer...
- Meus fragmentos continuam iguais... - disse Kaliandra concentrando-se em uma das pedras que trazia consigo.
O que Sérgio Reis viu...
- Acho que também irei me banhar... - Mari'bel começou a se despir, o que causou certo alvoroço.
- Eu também..  - adiantou-se o druida já tirando a roupa. O bardo Sérgio Reis preferiu sacar uma folha de papel para desenhar as formas da fada, muito embora os acompanhantes não serem do seu apreço.
Consumindo a água mágica e se banhando nela, todos sentiram o frescor único, assim como sentiram-se revigorados. Até mesmo o sacrifício do druida foi recuperado.
- Temos que levar essa água... - comentou Rufus.
- Yo tengo esses tonéis vacios? Puedem encher-los... - disse Braad apontando os pequenos barris de rum anão que esvaziara.
Enquanto os colegas cuidavam disso, Kaliandra Boaventura concentrou-se com seus conhecimentos arcanos sobre sua pedra, o que acabou por fazê-la tornar a brilhar, como antes, antes de o deus da magia Rhange Hesysthance surgir delas. O brilho atraiu a atenção de todos.
- O que você fez, Kaliandra? - Questionou o bardo.
O desenho...
- Eu não sei ao certo... eu me concentrei... pensei nas regras básicas do conhecimento arcano... e começou a brilhar e... - a guerreira elfa foi interrompida pela intensificação do brilho, que passou a envolvê-la, como se ela absorvesse a energia do mythal. Chuck Norris viu que agora Kaliandra possuía uma aura mágica. Imediatamente, todos sacaram suas pedras e passaram a tentar se concentrar. Nenhum deles conseguiu nada, no entanto. Mesmo Sérgio, que tinha algum conhecimento, nada obteve.
- Nada... - disse Mari'bel saindo da água para se vestir.
- Também não consegui... - disse Chuck ainda na água. Subitamente, entretanto, a pedra dele e de Rufus começaram também a brilhar. Porém, quando o brilho se expandiu passou para a água, aumentando sua aura.
- Essa energia pertence à Grande Floresta - lembrou Kaliandra.
- É melhor voltarmos e falarmos sobre isso com Fangorn - disse Mari'bel.
- Eu quero ir ao arsenal dos elfos verdes ver se encontro algo.. e também algum resto mortal do paladino... - disse Sérgio.
- Vamos trocar a água... - disse Rufus derramando a água de volta na piscina.

Enquanto todos estavam fora, Derdeil continuava a orar para Azuth. Ainda tinha suas magias, mas temia o que pudesse ter acontecido ao deus dos magos. Foi quando ouviu uma voz familiar em sua mente. A voz de um deus a tranquilizá-lo.
- As coisas foram como deviam ter sido, Derdeil Óphodda, escolhido de Azuth.
- Onde está... Azuth?
- Em recuperação, poderoso mago. Você receberá todo o poder de Azuth como escolhido que és. No entanto, Derdeil Óphodda deves esperar e deixar a Grande Floresta para que receba a energia longe da influência dos deuses da natureza.
A conversa foi interrompida pelo som da aproximação de várias pessoas. Derdeil viu seus companheiros chegarem e havia uma aura mágica de poder neles, como a que ele sentia em si mesmo. Faltavam Kaliandra e Sérgio.
- Nobre Fangorn... meu deus Timothy Hunter... nós não encontramos mais fragmentos do mythal, porém testemunhamos a magia que se derramou sobre a mata ao redor do mythal... - foi falando Mari'bel conforme chegavam.
- E sobre nós mesmo... - acrescentou Chuck.
- Como isso foi possível? - Questionou Fangorn.
- Parece que a energia está voltando pra floresta - ponderou Mari'bel.
- Eu posso explicar o que... - tentou falar Derdeil, mas foi prontamente cortado pela killoren.
- Ninguém te perguntou nada, mago.
- O que você pode explicar, Derdeil? - Perguntou o treant Fangorn.
- É preciso despertar a magia do mythal através do conhecimento arcano - ele falou. - Vocês precisam voltar ao lugar da destruição, onde a energia se dispersou para ativar as pedras. Eu posso fazê-lo, se me libertarem é possível liberar a energia dos fragmentos. Vocês tem que pensar que existem novas formas de magia circulando no momento.
- Mostre o que você pode fazer, mago... - disse Fangorn esticando um de seus galhos e recolhendo um fragmento que entregou para o servo de Azuth. Dali, eles partiram para o local do mythal.
Reencontrando o local onde destruira o mythal, Derdeil Óphodda ativou as pedras uma a uma. O treant Fangorn foi o primeiro agora que absorveu o brilho, pois a luz ficou na mão do mago, contida. Quando os demais iam conseguindo ativar os fragmentos, iam integrando-nos aos itens que carregavam e suas roupas. Os fragmentos restantes foram devolvidos ao solo da Grande Floresta.
Reencontraram, então, Kaliandra e Sérgio que retornavam acompanhados dos elfos verdes e que também tomaram parte na comunhão com as forças do mythal.
- Não há um só corpo... ou sequer parte de corpo de elfo... eles levaram todos... - disse Raven Eagle um tanto frustrado.
- Algo terrível está sendo preparado... - pensou Felícia,
- Enquanto eu estive presa no entreposto... - lembrou-se Kaliandra. - A matrona dos drows disse que sacrificaria meus companheiros... Voronwr e Tercieios... e que um destino ainda pior me aguardava...
- Com tais sacrifícios eles alimentariam suas magias... - observou Derdeil. - Isso está nos planos da deusa dos drows... os sacrifícios são uma forma de alimentar a magia.
- E o que aconteceria, Derdeil de Halruaa, se todo um importante e poderoso clã de elfos fosse sacrificado para a senhora das aranhas? - Quis saber o treant Fangorn.
- Um terrível e incomensurável poder...

Um comentário:

  1. Rufus, o hobbit aranha banhado nas águas mágicas, Lightfootdomingo, julho 13, 2014

    Legal esse tal de Raven, objetivo como as flechas.

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