8 de jun. de 2014

O incrível hobbit-aranha ou o resgate de Kaliandra


Kaliandra Boaventura despertou, embora se sentisse fraca demais para se levantar. O ambiente era totalmente escuro e ela nada conseguia enxergar, mas ouvia vozes. Eram vozes femininas e exaltadas que falavam em uma língua parecida com o elfo, ao mesmo tempo que era distorcida e vil... a língua dos drows, ela pensou. Pareciam discutir no aposento anexo. 
A guerreira elfa lembrou-se que combatia com seus novos aliados nas cavernas, quando Voronwr Turanbar e Tercieios desapareceram. Depois não tinha certeza de nada. Sentia os punhos e tornozelos grudos com uma substância gosmenta, que julgou ser uma resistente teia de aranha. O chão era frio e rochoso. Ao mover-se, sentiu que havia mais gente caída ao seu lado.
Kaliandra testou a resistência das teias e percebeu que poderia rebentá-las com certo esforço. Talvez seus captores tivessem subestimado sua força por estar debilitada. Embora nada enxergasse, tateando com o corpo, envolto apenas em suas roupas, sem armadura, arma ou qualquer utensílio, ela sentiu que ao seu lado estava outro elfo também preso, que permanecia inerte. Também percebeu que este corpo estava recostado a outro e pensou se não seriam o tolo Turambar e o obediente Tercieios.
As vozes continuavam vindo lá de fora e houve uma palavra que ela entendeu pois já a ouvira antes, mesmo nesse dialeto vil dos drows.
- ... Lolth....
Ela ainda tinha o nome de sua deusa Bibiana na mente, quando ouviu os passos que se aproximavam. Não teve tempo de buscar por nada e ouviu a pesada porta de pedra mover-se, deixando alguma luz entrar no ambiente. O aposento lá fora parecia iluminado por luzes dançantes de uma magia, permitindo aos seus olhos perceberem a penumbra e a sombra do vulto que se deitou no aposento. Era uma drow, baixa para os padrões élficos, e gorda como ela não julgava possível para alguém do belo povo. Os seios fartos escapavam pelos lados da roupa, assim como a barriga descia à frente da virilha. A vasta cabeleira branca descia pelas costas como um manto. Ela gritou uma ordem que você não entendeu, mas não parecia ter percebido que você despertara.
Após a ordem entraram duas outras drows, mais novas e vestindo armaduras. Elas tinham rapiers nas cinturas, enquanto a gorda tinha uma adaga curva. Elas pegaram o corpo ao lado de Boaventura, que percebia ser Voronwr Turambar agora. Levaram-no até a gorda que o esbofeteou, fazendo-o acordar.
- Seu sangue alimentará nossa magia, em nome de Lolth!!! - Ela disse em um elfico tosco. Voronwr não se intimidou.
- Araushnee traiu o grande Corellon Larethian. Traiu seu povo, seus filhos corrompida pelos pecados desse mundo. Minha morte e dos que vem comigo serão apenas mais três vidas a serem vingadas pelos elfos...
- Oh não, incapaz... - ela seguiu no mesmo élfico antiquado. - Você e o outro darão um bom sacrifício. Já para sua amiguinha, eu tenho planos maiores... muito maiores...
Nesse momento, ao lado da elfa caída, soou audível na língua das fadas, que os elfos conheciam bem, a voz do bardo Sérgio Reis.
- Kaliandra, somos nós, o valente grupo desmesurado, estamos indo em seu resgate. Quantos são os inimigos e onde está?
- Sua repugnante drow, solte Turambar. - Disse Kaliandra tentando responder à inimiga e ao aliado. - Você não pode matá-lo. Você e suas duas companhias armaduradas não são nada contra o poder de Bibiana, ela que reuniu a força de nosso panteão, herdeira do poder e glória de Corellon... Se acha que a deusa drow é páreo para a força da Nova Deusa, me faz rir de sua pequenez.
Kaliandra sentiu as amarras preguentas de teia cederem ante sua força, enquanto se erguia com a convicção de uma arauta da verdade. Não tinha certeza se conseguira responder a Sérgio Reis com seu élfico, mas sabia pelo olhar surpreso da matrona drow que conseguira surpreendê-la. Uma das drows deixou Turambar e sacou a rapier, mas a outra não impediu a guerreira elfa de roubar-lhe a lâmina esguia. Esta drow apenas manteve o bardo seguro, mas não impedindo-o de cantar:
- Kaliandra Boaventura, que há quem jura, é a guerreira mais pura, da mão mais dura e que esconjura para longe todo mal...
- Você acredita mesmo que tem chance, tola como essa criança que brinca de deusa. Só há uma mãe dos de sangue puro, os filhos de Lolth!!! - Ela invocou uma magia que a deixou grande como um troll sem parecer sentir nenhum efeito negativo pelo uso da magia.
Kaliandra Boaventura dá um grito e salta em direção das garras que aprisionavam Turambar. A ideia era golpear para libertá-lo, e, depois, matar a enorme drow. Mais uma vez Kaliandra surpreendeu suas inimigas, mesmo debilitada como estava, na escolha de seu alvo. O golpe foi preciso e crítico, atingindo o ponto nodal entre o braço direito e o ombro da inimiga. Enquanto o sangue vertia, Turambar conseguiu ver-se livre. Ao invés de avançar para o lado de Kaliandra, no entanto, ele deu um rodopio como num passo de balé e se posicionou entre a clériga drow e a outra sentinela, depois disso recuou um passo, flanqueando ambas com a guerreira Boaventura sem parar de cantar:
- Afinal... como canta o pardal... a batalha final... entre o bem e o mal... não aparece no jornal... é preciso um memorial... para contar essa epopeia....
Sem exitar, a outra drow atacou Kaliandra sem piedade. A rapier a acertou no flanco acima do quadril. Apesar de fraca, a drow era ligeira. A serva de Lolth usou uma de sua mãos para agarrar o bardo.
 - Eu vou fazê-lo gritar uma sinfonia de dor!!! 
- Vamos combinar nossas forças, Turambar. - A guerreira Boaventura golpeou na tentativa de soltar Turambar. - Cante, cante mais alto, a plenos pulmões. Que a dor faça de sua voz a força para a liberdade.
Ela feriu a clériga, mas a outra guerreira cravou a rapier nas costas da elfa, roubando-lhe o que restava de sangue e esperança nas preces à Bibiana.


- Eu quero vingança - dizia Dzariah T´sarran quando Mari´bel deu-se conta de que Rufus havia sumido. 
- Rufus sumiu... - comentou a arqueira killorien, que havia acabado de tomar uma poção de escalada aracnídea. - Os rastros dele vão para o buraco... - O druida Chuck, ainda em forma de leopardo, sentia o cheiro de Azuzu indo na mesma direção.
- Bamos dar una mirada... - disse Braad acompanhando a fada. Os dois desceram para o nível inferior e seguiram até a beira do abismo. Já não havia sinal da monstruosa aranha, mas os olhos deles avistaram uma dezena de drows subindo pela parede em direção ao ponto em que se encontravam. Retornaram o mais rápido possível.
- Tem uma tropa de drows vindo pra cá. Dez. Prontos pra batalha.. - disse a guardiã serva de Timothy Hunter.
- Devemos volver... estoy ferido ainda.
- Eu preciso de descanso, mas devemos resgatar Kaliandra - discordou o paladino.
- É prudente descansar.. - concordou Derdeil falando já do corredor.
O grupo retornou até o aposento da estátua, onde aguardaram um pouco. Percebendo que os drows não os acompanharam, voltaram até o corredor, escondidos atrás da fissura, vendo que os elfos negros haviam se posicionado no nível inferior.
- Descansem, seres da superfície. Eu zelarei por seu sono.. - disse Dzariah.
- Eu não confio nisso... - desconfiou o paladino.
- Eu não preciso dormir, pois já não tenho minhas preces atendidas por Kiaransalee, paladino. Não terei o que desejo com a sua morte...
- Eu irei ficar acordada também.. - disse Mari´bel.
- Eu também.. - interviu Sérgio Reis. - Aliás, eu já cantei minha balada pra vocês, garotas?
- Tire seu pequeno instrumento do meu caminho, bardo... - desdenhou a clériga de Kiaransalee.
- Eu posso ser o que você deseja. Seu instrumento de prazer... - o bardo piscou e Dzariah afastou-se para o final do corredor. Antes que Mari´bel fizesse o mesmo, no entanto, ele continuou sacando a viola. - Não fica com ciúme, Mari.. você é meu pão de mel. Aquilo era só conversa. Você é verdade. Aliás... você é luz.. é raio, estrela e luar... manhã de sol... 
- Pare com isso... nada de cantoria.. - interrompeu ela. - Os drows, nossos inimigos, vão escutar você..
- Cerra la matraca! - Disse Braad tomando a viola do bardo, enquanto os demais iam acomodando-se como podiam e tentando descansar.

- Hobbit-aranha, hobbit-aranha.. faz tudo o que pode uma aranha...

Kaliandra Boaventura abriu os olhos e sentiu mais uma vez o chão frio sob ela. Estava nua sobre a pedra nua. Ela despertou com o som da batalha e da correria. Viu alguns vultos correrem antes que sua vista se firmasse, atordoada que estava pelo veneno de aranha ao qual seu corpo resistia. Conseguiu soltar-se facilmente das amarras de teia, quando ouviu os resmungos de alguém que voltava. Era um drow baixo vestido com uma armadura de mythral que lembrava uma teia.
- Que morram todos nesse maldito abismo, por essas ordens das vadias.. - ele resmungava na língua dos drows, sem ser entendido pela prisioneira elfa. Mas mudou para um elfo tosco. - Ao meno eu vu ter mina diversão. Você vai se mina compensação, degraçada!
Sem exitar, a elfa fez um olhar de terror e voz amedrontada - Óh terrível drow, não me faça mal. Eu farei o que você quiser...
- Você será mina.. - ele abriu o portão e entrou.
- Tenha piedade... eu estou indefesa... nada posso fazer...
-Você irá senir mu poder rasgá-la, fêmea pofana - ele falou deixando caírem as calças e o falo exposto. Kaliandra deixou cair o medo e avançou como uma meretriz profissional nas artes do sexo, engolindo o membro do inimigo. Este perdeu-se nos gozos do prazer, do qual só despertou quando sentiu os dentes dela cravarem uma mordida feroz em seu pênis. Ao menos tempo, a guerreira elfa levantou-o erguendo o elfo negro com facilidade, enquanto sentia o órgão sexual ser rasgado por sua dentada.
O drow não perdeu tempo, mesmo no ar e muito ferido, sacou uma adaga e cortou a elfa nas costas, fazendo-a tombar inconsciente.
- Vadia infeliz!!! Ahhhh!!! Todas são!!! Meu membro! Ahhhh!!! Eu farei com seu cadáver. Assim que recuperar isso. Eu a rasgarei com minha rapier! Ainda está quente. Onde está minha poção de cura? É pena que não a irei ouvir gritando... ahhhh... - gritou o drow sentindo a lâmina perfurante entrar pelo flanco direito e matá-lo.
- Hobbit aranha, hobbit aranha... mata o drow e não apanha... - cantarolou Rufus, enquanto fazia sinal para Azuzu vir. Ele pegou a poção de cura da mão do drow, retirou o falo da boca da elfa e a derramou na garganta de Kaliandra, que despertou engasgando.


- Quem?..
- Rufus... Rufus Lightfoot.. lembra? - Ele baixou o manto drow, deixando ver os cabelos cacheados e o rosto bonachão.
- Sim, mestre hobbit.
- Bom, nós viemos salvar você... o pessoal tá lá em cima. A saída tá vigiada, então você vai ter que ir com Azuzu, enquanto eu aviso o pessoal e volto pra gente sair enquanto os drows estão ocupados.
Kaliandra aproveitou tudo que podia do drow morto, mesmo que rapier não fosse sua lâmina predileta e a armadura tenha ficado um pouco curta e justa. Rufus amarrou Azuzu às costas dela para facilitar a escalada de ambos.
- Você só não pode tocar na teia, se não vem uma aranha monumental assim ó. Sempre pra cima, são 200 pés até a caverna. De lá mais 20 até o nível onde os outros estavam quando os deixei. Vá com cuidado.. - ele disse antes de sumir de vista escalando. Mas ela ainda ouviu - Hobbit aranha, hobbit aranha...

Mari´bel percebia que o sono dos colegas era inquieto. O ódio que crescia nela pelos drows, seus captores e torturadores, a impedia de nutrir qualquer simpatia por Dzariah. Mantinha a atenção nela, no caminho até os outros drows e em seus camaradas. Foram algumas longas horas.
Quando aproximou-se de Sérgio Reis para acordá-lo, ele despertou agitado. Tinha os olhos vidrados de quem vira algo assustador.
- O que foi? Tudo bem?
- Um... um sonho... Lo.. a deusa dos drows... ela me ameaçava.. dizia que iria nos alcançar por nos metermos nos planos dela... e depois me atacou. Pode ter sido mais que um sonho. Preciso de algo para me acalmar, Mari.
- Tentarei descansar um pouco - disse a killorien receosa com aquele relato.
Ao dormir, Mari´bel testemunhou a mesma cena que atormentava a mente de seus amigos. Colossal como uma montanha, Lolth avançou fechando as mãos sobre ela. Não havia como escapar. Sentia-se como um pequeno inseto indefeso. Os olhos dela eram como abismos frios e de pura maldade, onde seus maiores medos se refletiam.
- Você pagará por se meter em meu caminho, maldita fada. Meus filhos brotarão da terra, o céu será sempre negro e os fracos alimentarão os fortes. O sangue dos tolos vai regar o solo do triunfo como alimenta meu poder.
Mari´bel acordou não menos aterrorizada do que Sérgio Reis. Viu que os outros já estavam de pé impressionados com o que haviam visto.
- La deusa estava rabiosa... - dizia Braad tomando um trago de rum.
- Era como se o verdadeiro mal estivesse diante de mim. Um mal inevitável... - confessava Jorge.
- Eu percebi o desequilíbrio... eu senti a natureza perdendo a cada palavra dela... - detalhou o druida, que voltara à forma humana antes de se deitar.
- Eu entendi que a deusa dos drows realizou algum sacrifício para alimentar a magia de seu povo - ponderou Derdeil.
- Eu não tenho as respostas de minhas preces... - contestou Dazriah.
- Talvez esteja aí o sacrifício... - completo o mago Óphoda.
- Bom.. pessoal.. então... - falou Rufus Lightfoot surgindo como se sempre estivesse estado ali. - Eu encontrei a Kaliandra, ela tá vindo pra cá com o Azuzu, mas tem um monte de drows vigiando entre nós e ela. Vocês tem que dar conta deles, enquanto eu chego com ela aqui...
- Devemos partir para esmagar e punir o mal... - bradou o paladino.
- Vocês devem matá-los! Exterminá-los!! Todos!!! - Concordou Dzariah.
- Devemos aproveitar a vantagem de estarmos no nível superior - considerou Mari´bel.
- Eu dispararei meus raios de luz para ajudá-los! - A drow sacou a varinha mágica e avançou no corredor, enquanto a killoren sacou seu arco. Todos os demais as acompanharam, enquanto o hobbit simplesmente sumiu mais uma vez. Chuck Norris optou pela forma de leopardo mais uma vez.


Ferida como estava, quando chegou ao cenário da batalha, Kaliandra só precisou levar um ataque para tombar indefesa novamente. Ainda que tenha ferido alguns drows antes, não fosse Azuzu correr e carregá-la, ela não teria chegado até o bardo Sérgio Reis. Ainda cantando, o cãozinho do berrante era o único que restara, com o paladino quase morto aos pés.
Braad e Mari´bel tentavam içá-los com uma corda, após recuarem, enquanto Dzariah esvaía o que lhe restava de vigor com raios de luz e Derdeil disparava seus mísseis mágicos. No entanto, os inimigos eram muitos. Rufus e Chuck Também recuaram e haviam subido de volta sem maiores dificuldades. Quando o mestre da bebedeira e a arqueira conseguiram puxar seus colegas, não perderam tempo e partiram. Óphoda usou de seus talentos curativos e uma magia para amenizar a situação do paladino e levantar sua estimada Kaliandra. Os drows pareciam debilitados o suficiente para não acompanhá-los.
Dos salões, passaram ao caminho criado por Chuck Norris e dali à Grande Floresta, onde a energia harmônica da floresta os tranquilizou. Mari´bel seguiu os rastros de Popossante e Gabi, encontrando as montarias a namorar não longe de onde as haviam deixado. Colocaram o corpo de Jorge da Capadócia sobre sua montaria e se dirigiram para um ponto mais seguro da mata, onde Kaliandra enfim despertou.





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