29 de mar. de 2014

Convergências


Derdeil Óphoda foi despertado de seu sonho ao sentir a lâmina afiada e fria cortar sua carne. Ele sentiu como se a vontade de Azuth tirasse seu pescoço do centro do golpe da adaga. O que seria uma morte dolorosa se tornou um ferimento doloroso, enquanto o clérigo arcano de Halruaa buscava já pôr-se de pé. Seu instinto foi disparar de seu dedo um míssil mágico. Sacrificou o que lhe restava da sua vitalidade, mas o pequeno raio não foi suficiente para dar conta do assassino, um homem envolto em panos negros. Apenas os olhos calculistas eram visíveis.
- Nós vamos tomar o poder de Halruaa! - Ele afirmou em chondathan, subindo na cama e atacando Óphoda, que tentou outro míssil mágico.
Derdeil percebeu a nítida desvantagem e também percebeu que o ladino viera pela janela. Correu para a porta e gritou por ajuda. Havia barulho em outros aposentos, mas da porta que ele viu abrir-se do outro lado do corredor, emergiu um facínora como o que o atacara, mas já morto.
Kaliandra Boaventura veio logo depois empunhando sua espada longa e partiu em socorro do pobre mago humano, que parecia um pouco acima da média mediocre destes, que também estava sendo atacado. Ela viu que o comparsa também não era ameaça para o poder dela e partiu para cima do bandido. Bastou um bom golpe da espada da guerreira élfica para que restasse apenas o cadáver do pretenso assassino.
- Quem são esses miseráveis? - Ela disse na língua dos elfos, enquanto já faziam uma busca pelo corpo.
- Não sei. Só sei que queriam nossas cabeças! - Disse Derdeil encontrando além de alguns valores, uma tatuagem com o símbolo de uma adaga envolta por uma máscara negra. - Talvez sejam servos do deus dos ladrões.
- Eles falaram algo sobre o poder de Halruaa... - disse a elfa.
Os dois escutaram mais barulho, de explosões, vindo do quarto de Maxmiliam Bezmont, líder dos halrunianos. Derdeil Óphoda partiu em direção ao quarto do embaixador, enquanto Kaliandra Boaventura preferiu buscar o quarto de seu líder Voronwr Turambar. Enquanto Derdeil tentou em vão vencer a porta, Kaliandra gritou por ajuda.
- Turambar! Estamos sendo atacados! Os humanos precisam de nossa ajuda superior!
- Deixe disso, Kaliandra. Entre e venha cá se refugiar em meu leito - disse o bardo parecendo um pouco embriagado.
Isso bastou para que ela não perdesse mais tempo e retornasse. Ela precisou de dois golpes de seu ombro para romper a porta, quando já ouviam o som dos guardas do palácio se aproximando. Entraram no quarto e não viram sinal de Bezmont ou de um assassino, embora houvesse sinal de luta. Derdeil sentia que havia resíduo da energia mágica evocada, embora percebesse que precisava de luz para avaliar o ambiente de penumbra. Tomou uma vela e acendeu.
Kaliandra enxergava perfeitamente com seus olhos mesmo que houvesse apenas a luz do luar vinda da janela entreaberta. Sabia que estavam no segundo pavimento e avançou para pensando em encontrar alguma pista ou sinal. A guerreira, no entanto, não percebera a ameaça escondida sob a cama, que pegou-a pelas costas e afundou fundo sua espada curta por entre a armadura de mythral dela. 
Derdeil percebeu que seria o próximo, mas para sua sorte os guardas chegavam apressados pelo corredor. A mulher sorriu marotamente para o mago e caminhou em direção às sombras da cama feitas pela vela.
- Nós voltaremos a nos encontrar! - E ela se mesclou às sombras desaparecendo.


Pela manhã, após um sono curto e pesado, Braad despertou e molhou sua garganta com rum. O monge bêbado e seu guia Sérgio Reis seguiam pela estrada com o intuito de chegar à Grande Floresta. O bardo ia montado em sua mula Gabi, enquanto o mestre da bebedeira ia à pé no mesmo ritmo. Havia pouco movimento naquelas primeiras horas do dia e andam sozinhos quando avistaram um cavaleiro.
- Verra... uno cabalero...
- Eu já o vi antes - percebeu Sérgio. - Saudações Jorge da Capadócia de Cormyr.
- Saudações, Sérgio Reis, o cãozinho do berrante. O que faz vindo de Invernunca novamente?
- Dessa vez vou no rumo de Invernunca, mas pretendo chegar até a Grande Floresta na verdade. Você que está no rumo errado voltando para Secomber.
- Não é possível, meu cavalo de batalha Popossante é muito bem orientado.
- Bien.. nossotros estamos indo para la miesmo... bamonos todos, non? Yo soy Braad... - disse o monge cuspindo um pouco no cavalo.
- Eu vejo o mal nessas marcas que você carrega, monge Braad. O mal não é seu, mas está em você - disse Jorge dando atenção às inúmeras tatuagens do mestre da bebedeira.
- Ah é.. ele é um servo de Tyr. Mas realmente, eu não tinha reparado nessas suas tatuagens - disse o bardo vendo que conhecia muitos dos sinais.
- Existem marcas de divindades malignas, de organizações criminosas, de seitas nefastas e de famílias tenebrosas. Esse mal acabará por contaminá-lo. Algumas me são desconhecidas é verdade e existem outras que não são mais que desenhos...
- Na verdade, eu percebo um padrão nelas.. não só nos significados, embora algumas me sejam totalmente alienígenas.. mas principalmente na disposição...
- Bien.. yo no se nada sobre padron.. pero verro una carroça adiante. Verram...
- Eles parecem estar sendo atacados por salteadores. Que a justiça de Tyr não permita que o poder de minha espada falte para proteger os oprimidos nessa hora! - Disse o paladino partindo em carga com seu cavalo Popossante.
O monge e o bardo partiram logo depois. O mestre da bebedeira deu um gole, enquanto conseguia acompanhar o cavalo pesado de batalha. Sérgio teve de lidar com Gabi que resolveu empacar. Eles viram que havia um homem mais velho e uma jovem mulher, que eram atacados por quatro salteadores. Estes ao verem a aproximação dos heróis não quiseram perder mais tempo. Dois deles saltaram sobre os cavalos fazendo-os disparar. Outro tomou as rédeas do homem lutando com ele e jogando-o para fora da carroça, enquanto o último pulou entre os grandes barris que a carroça trazia.
Alcançando a carroça, Jorge de Capadócia optou por tentar parar o avanço do par de cavalos. Ele atacou um dos sujeitos sobre os cavalos esmagando o mal que ele representava. Braad pulou na parte de trás e acertou uma voadora que lançou o bandido para cima dos barris. Sérgio ainda vinha mais atrás e tocou seu berrante para instigar a moral dos aliados na batalha. 
O bandido partiu para cima de Braad com sua espada curta. A jovem que estava sentada aproveitou a distração, acertou uma cotovelada no bandido que conduzia e derrubou-o da carroça, que ainda passou sobre ele. Ela tomou as rédeas e puxou-as abruptamente fazendo os cavalos pararem. Isso derrubou o bandido que lutava com Braad, que caiu inconsciente.
O monge bêbado saltou e deu uma nova voadora no criminoso restante no segundo cavalo. Isso também o derrubou, enquanto o mestre da bebedeira parou de pé sobre os animais, escoltado por Jorge. O paladino, no entanto, logo partiu para atacar os dois meliantes vivos, que corriam cada qual para um rumo. Braad pulou e seguiu atrás do outro. Coube a Sérgio Reis vir ter com a mulher.


Quando Mari'bel acordou assustada com o sonho, concentrou-se em algumas orações para a deusa Bibiana dos elfos, mas também para Timothy Hunter, seus deus das fadas, que mantinha estreitos laços com a deusa dos elfos. No entanto, ela foi interrompida pela chegada de um homem com um cheiro familiar.
- Veja só... a boa elfa que me ajudou antes...
- Como lhe disse, bom druida, eu sou uma killoren, uma fada.. e não alguém do belo povo - ela disse com gentileza apesar da preocupação, enquanto percebia a bela águia que agora acompanhava o druida.
- Como lhe disse, eu procurava pela Árvore do Grande Pai...
- Pois você aqui chegou, muito embora a maior parte dos grandes druidas, elfos e guardiões aqui estejam um tanto ocupados cuidando de alguns problemas...
- Entendo. Eu sinto a força mágica que correr livremente por aqui. Meu desejo era ter com os druidas locais para tentar ingressar em seu círculo druídico. Ouvi muito falar da grande Daphne Amkathra e seus guardiões da natureza...
- Ouvi dizer que ela não gosta de ser chamada assim... é Daphne da Grande Floresta..
- Claro.. mas ouvi falar dela, de Ehtur, Úrsula e outros...
- Bom... venha comigo.. creio que com sorte possamos encontrar algum dos druidas. Veja.. ali está alguém. Viviane...Viviane...
- Olá Mari'bel... o que houve?
- Este druida está em busca de alguém do seu círculo...
- Eu sou Chuck Norris, servo de Silvanus, essa é minha águia Sidhka, e gostaria de ingressar neste fecundo e equilibrado círculo druídico.
- Realmente, nosso círculo está incompleto e necessita de mais um irmão para garantir o equilíbrio das forças da natureza. No entanto, os neófitos carecem de ter laços de sangue com aqueles que substituem. Um de nossos antigos membros foi tomado pela insanidade e está desaparecido a meses. O velho Costeau servia à deusa elemental da água Istishia.
- Não conheço qualquer laço com esse homem, mas ainda assim gostaria de demonstrar meu valor para esse grupo e para os guardiões da natureza liderados pela senhora Daphne.
- Daphne é minha tia e eu mesma tive o privilégio de substituí-la no círculo. Você será avaliado pelo círculo, mas antes deve se purificar para mostrar-se merecedor. Vamos cuidar de conectá-lo ao mythal.
No entanto, antes que muito mais pudesse ser ditos, setas de bestas começaram a voar. Mari'bel e Chuck Norris foram atingidos, mas o terceiro tiro foi o mais preciso, acertando Viviane entre os olhos e matando imediatamente a jovem druida de todos os deuses. A fada e o druida viram os elfos negros, drows, que se esgueiravam entre as árvores com as bestas nas mãos, enquanto seus corpos resistiam ao veneno das setas.
Mari'bel sacou seu arco e passou a atirar, muito embora visse que eram seis os adversários. O druida Chuck invocou a ajuda da natureza, deixando a magia fluir da força do mythal, que fez surgir um trio de ratos selvagens sobre um dos drows. A águia Sidhka também partiu em carga contra um dos inimigos. Ainda assim, novas setas vieram sobre eles, enquanto três dos drows pegaram o corpo de Viviane e tiraram-no dali.
Chuck convocou mais mais ratos e Mari'bel disparou mais flechas. Embora estivessem feridos e em menor número, não desistiram de tentar recuperar o corpo da druida Viviane. Os drows, no entanto, se retiravam velozmente e deixaram uma escuridão mágica para despistar. Ainda que a arqueira fada e o druida tenham lutado e apanhado outros dois deles, um ainda vivo mesmo que inconsciente. Os últimos escaparam com o cadáver da druida, justamente quando os elfos verdes chegaram em socorro à dupla.


- Eu agradeço pela ajuda, poderoso aventureiro... - disse a mulher para Sérgio Reis, enquanto Braad derrubava o último dos bandidos que perseguira e o arrastava de volta. Jorge de Capadócia preferiu retornar e auxiliar o homem que fora derrubado no início da perseguição.
- Nào tema bela, donzela, pois eu sou a solução dos seus problemas... - gabou-se o bardo saltando da mula próximo a alguns dos barris que haviam tombado, mas que permaneciam fechados. - Quem eram esses criminosos?
- Bandoleiros eu creio... mas se me der licença.. - ela disse erguendo um dos barris e colocando na carroça. - Somos apenas mercadores com uma carga de milho...
- Milho? Que estranho... não se costuma levar milhos em barris... precisa de ajuda?
- Acho que já está tudo sob controle - ela disse erguendo o último barril.
- ...mercadores de milho, que desejam chegar em segurança até Secomber, nobre paladino de Tyr. - Dizia o homem de meia-idade que Jorge da Capadócia ia trazendo.
Braad por sua vez, vinha trazendo o corpo do que vitimara com seus golpes.


Kaliandra Boaventura e Derdeil Óphoda já haviam sido reunidos aos demais elfos e aos guardas com Adolf Wolfgang. O encarregado lhes informou que os demais enviados de Halruaa haviam sido assassinados, sem pistas de seus executores. Apenas restaram os dois homens que eles haviam abatido. Um deles ainda tinha um resto de vitalidade e o clérigo de Tyr o levantou com uma magia de cura, que custou um tanto de seu próprio vigor.
- Quem é o responsável por isso? - Disse Adolf furioso com a espada em punho e cercado por seus guardas, enquanto os elfos e o servo de Azuth assistiam tudo no canto.
- O poder de Halruaa será nosso! - Limitou-se a dizer o ladino. Para surpresa dos visitantes, o clérigo cortou o peito do homem com sua espada, novamente derrubando-o. Seguiu-se uma nova magia de cura.
- Eu não irei ser tão bom da próxima vez... - ele encostou a espada na garganta do homem. - Quem é o responsável por isso?
- Bru... Bruno Lotti... ele deu as ordens de Secomber e... - Wolfgang se satisfez com aquilo e novamente golpeou o bandido, mas dessa vez deixando-o inconsciente.
- Nós não podemos perder tempo aqui com essa tortura e seus problemas mundanos, clérigo. Temos de seguir e precisamos de nossas montarias... - protestou Turambar.
- Gostariamos de ter com o lorde... - intercedeu Kaliandra.
- Venham comigo... lorde Alagondar irá recebê-los e poderam explicar a ele pessoalmente.
Assim, o clérigo Adolf Wolfgang conduziu os cinco elfos e o humano até seu senhor. O governante de Invernunca e do novo Reino Livre do Norte os recebeu com um ar preocupado e após ouvir todo o relato do ataque, pareceu preocupar-se ainda mais.
- Saiam todos! Desejo ficar apenas com os estrangeiros. Eu disse todos! Andem! Inclusive você, Wolfgang! - Quando todos saíram, lorde Nasher Alagondar olhou em volta e se levantou para falar, mas Voronwr Turambar o interrompeu.
- Desejamos apenas nossas montarias para partirmos, Lorde do Norte.
- Eu entendo sua pressa, servo da senhora dos elfos. No entanto, desejo propor-lhes um acordo...
- Perdoe-me, milorde, mas creio que devemos tratar de Bezmont que ainda está desaparecido... - interviu Derdeil Óphoda.
- Os ladrões das sombras estão por trás disso, diplomata Óphoda. Assim como pelas tentativas de desestabilizar meu novo reino. O povo do Reino Livre do Norte corre perigo e não tenho homens em que possa confiar totalmente, Esse Bruno Lotti tem muitos espiões. Desde que Águas Profundas caiu, esses ratos vis se espalharam e agora buscam se entranhar em nossa democracia. Eu peço que me ajudem levando ordens até o capitão Eduardo de Secomber. Ele é alguém em quem tenho total confiança. Levem meu pedido de que Bruno Lotti seja preso a qualquer custo em troca dos cavalos.
- Bem... - disse Turambar com certa arrogância.
- Nós aceitamos.. - disse Boaventura. - Aceitamos e agradecemos, lorde Alagondar.
- E quanto a mim? - Quis saber Óphoda.
- Eu posso cuidar de que o teleportem para Halruaa, diplomata. Mas precisará aguardar até que tanhamos pistas de seu líder e dos criminosos que estão com ele.





22 de mar. de 2014

Segundas possibilidades...







Kaliandra Boaventura sentia a brisa do mar a agitar seus cabelos. Era triste deixar Encontro Eterno para trás, mas era a segurança da própria ilha sagrada dos elfos que estava em jogo. Ela tentava pensar nas coisas agradáveis que haviam pelo caminho, antes que chegassem à pocilga que os humanos chamavam de cidade.
Desde que os elfos deixaram o mundo para os humanos rumo ao oeste, não queriam mais saber dos assuntos de Faerun. No entanto, a magia mudou. Os antigos deuses dos elfos não atendem mais as preces de seu povo. O bardo Voronwr Turanbar foi escolhido pela rainha Amídalas Ancalimon, soberana suprema dos elfos. Integrar aquela comitiva que obteria resposta em Evereska, a terra dos elfos que não tiveram a nobreza de seguir com sua rainha, era uma honra para a guerreira que sonhava ser uma trovadora da espada.

Derdeil Óphodda tomou sua posição no círculo para o teleporte. Não era comum ter a oportunidade de se deixar Halaraa, muito menos Halruaa. O mago e clérigo de Azuth, o deus dos magos, iria integrar a comitiva do embaixador Maximilian Bezmont, um dos poucos defensores do contato com o mundo exterior no governo. Isso era uma resposta ao convite do regente do novo Reino Livre do Norte, que tentava se afirmar e pacificar as decadentes e bárbaras terras do norte.
Óphodda sabia que haviam laços ancestrais que uniam aquela região arruinada ao maior reino mágico de Abeir-Toril. Halruaa era um reino formado pelos arquimagos sobreviventes da derrocada de Netherill, uma terra cercada de montanhas que se mantinha isolada do mundo exterior. Já as terras ao redor do vasto Anauroch são fruto do desenvolvimento dos populares sobreviventes, que não viviam nas grandiosas cidades voadoras de outrora. Ele soube que há alguns anos, uma cidade que sobrevivera no plano das sombras buscou fundar uma Nova Netherill, mas que tal projetou não frutificou. Agora era a vez de Invernunca lançar seus soldados para garantir para si a região pelo que afirmavam os banais servos de Tyr.

Braad arrotou e molhou a garganta com o último gole de aguardente que havia em sua garrafa. Ele buscou por outra, enquanto caminhava próximo ao grande rio rumo ao norte sem um destino certo. Não havia mais nenhuma. Foi quando seus olhos avistaram as torres e muros de uma grande cidade.
Conforme se aproximava, o monge bêbado foi vendo a estrada que lá chegava vinda de sudeste. Havia bastante movimento e parecia tratar-se de uma métropole, embora não tivesse certeza de onde estava. Conforme seu caminho ia se alinhando com a estrada, ele percebeu que aqui também suas tatuagens e marcas atraiam olhares de reprovação, mas houve alguém que se aproximou. Um homem de capa preta e sorriso simpático pareceu se interessar por uma das tatuagens de Braad.

O bardo humano Sérgio Reis, o cãozinho do berrante, sabia que ainda faltava muito para a cidade élfica de Evereska, onde pretendia encontrar com seu poderoso tio John Falkiner. Por mais estranho que fosse seu tio ter sido reencarnado como um elfo e ser o escolhido da deusa dos elfos, agora ele jazia catatônico no templo de Bibiana, acometido por alguma maldição mágica terrível. Depois de deixar Soubar há tanto tempo, o irmão mais novo de sua mãe, que sempre fora sua inspiração, precisava dele ao seu lado agora.
Ele avistou um cavaleiro vindo pela estrada, montado em seu cavalo de batalha. O homem o saudou em nome de Tyr e disse ser Jorge da Capadócia, da distante Cormyr. O destino dele era Invernunca e depois de algumas palavras, cada qual seguiu seu caminho. Reis soube, então, que não estava distante de Secomber, sua escala nesses dias que ainda haviam pela frente e dirigiu-se logo para a cidade.

Mari'bel percebeu que aquela era uma parte pouco familiar da Grande Floresta. Desde que a jovem fada havia vindo para cá com o deus das fadas Timothy Hunter e seu reino, ela nunca havia vindo tão para o sul, se aproximando das montanhas no interior da mata. Havia uma certa curiosidade por toda aquela beleza, que parecia florescer ainda mais com as forças do mythal.
Ela ficou triste quando os gnomos partiram, pois achava-os interessantes, mas agora achara algo para fazer. Foi quando avistou um druida que parecia perdido. O servo da natureza pediu por orientação tomando-a por uma das elfas verdes da Grande Floresta, mas ela esclareceu que era uma killoren. Ela colocou-o no caminho e seguiu o dela.


Quando Derdeil Óphodda, Maximiliam Bezmont e os outros três diplomatas de Halruaa surgiram na praça central diante do palácio da justiça de Invernunca, o povo surpreendeu-se, muito embora os que ali esperavam não.
- Sejam bem vindos. Eu sou Adolf Wolfgang, servo de tyr, que fui enviando por nosso regente lorde Nacher Alagondar, campeão da justiça, para receber-vos. Que o Reino Livre do Norte e Halruaa dêem as mãos.
- Somos gratos pelas boas vindas.. - disse o embaixador Bezmont com diplomacia num chondathan perfeito e sem sotaque. Já Derdeil estava mais curioso com os arredores rústicos e primitivos, que seus olhos contemplavam pele primeira vez. Tudo lhe parecial arcaico ali, ele percebia que o tecido mágico do novo deus da magia não tinha ali nenhuma alternativa. Ao contrário das cidades de Halruaa onde os mythais e piscinas de mana mantinham o acesso à magia sem custos vitais, aqui nada mágico funcionava a menos que se pagasse com a própria energia vital.
Foi então, que seus olhos avistaram algo que nunca havia visto a não ser em livros. Um grupo de cinco belos e altos elfos, em especial uma elfa de corpo dourado e cabelos brancos. Eles destacavam-se entre a multidão de camponeses e artesãos humanos da fria cidade.
- Vejam, elfos... - ele disse. Todos olharam e viram a comitiva que chegava.
- Coom licençaa.. - disse Voronur Turanbar num chondathan arrastado. - Soou Voronwr Taranbar, servoo de Amidalas Ancallion, senhoora dos elfos. Nós viemoos de Encontro Eterno e desejamoos ter coom os senhoores destas terras. Precisamoos de moontarias.
- Puis sejam bem-vindus, viajantes élficus - disse Adolf Wolfgang em um elfo satisfatório. - Nussu senhur lurde Nacher Alagondar terá prazer em recebê-lus. - Ele passou ao chondathan e se dirigiu a todos - Se me permitirem guiá-los até o interior do Palácio da Justiça, irei acomodá-los agora que o dia já finda e pela manhã poderão todos ter com nosso senhor.


O homem que Braad encontrara chama-se Bruno Lotti e levou-o até uma taverna chamada Libélula Feliz. O estabelecimento se localizava na grande praça do mercado da cidade e estava realmente superlotado de gente. Todas as mesas estavam tomadas de gente procedendo toda forma de ilícito. Lotti levou o monge até outros 4 humanos que assim como eles traziam a marca da adaga envolta pela máscara negra.
Braad disfarçava o desconhecimento e tentava entender o máximo que fosse possível, assim que molhasse a garganta e reabastecesse suas garrafas com boa bebida.. ou melhor, com qualquer bebida alcólica. Todas as atenções estavam concentradas sobre o bardo que se apresentava no palco tocando um viola e uma gaita de um modo regional desconhecido por ali. Mulheres se apertavam próximas do palco e gritavam declarações apaixonadas, o que atraia homens, que por sua vez fomentavam todo a jogatina e beberagem paralela.
Sérgio Reis estava realmente concentrado em sua performance, satisfeito com o bom pagamento que arranjara para trabalhar pela próxima semana. O contato com o tal Expedito Eike pagaria 20 peças de ouro por noite, mais hospedagem e alimentação. Isso fora as mulheres que arrastava para sua cama. Ele reparou no estranho sujeito tatuado que entrou no ambiente, mas logo voltou a olhar a bela loira da primeira fila.
- Desde que Águas Profundas foi coberta pela escuridão, as atividades dos Ladrões das Sombras se deslocaram... - explicava Lotti para Braad, enquanto Gutierrez, Esteban, Gonçalo e Montoya prestavam atenção e concordavam. - É bom encontrar outro irmão por aqui.
- Yo rialmente andei meo perdido por aí... - disse Braad esvaziando seu copo primeiro e falando cuspindo depois. - Donde estás lo riesto da mia bebida?
- Já está vindo. O importante é que você continue conosco, mas tome mais cuidado com isso, pois pode ser pego.
- Ah si, si.. - disse Braad enrolando um pano sobre a tatuagem em seu antebraço.
- E essas outras marcas?
- No sei da.. burrrp... onde vieram... - ele recebeu o pequeno barril de rum da garçonete. - Bueno.. yo tengo que dar una vuelta.. conecer la citade... despues conversamos mais...
- Sim.. você já sabe onde nos encontrar.
Enquanto Braad deixava a taverna, Sérgio Reis subia as escadas com três belas moças em direção ao quarto, onde elas ficaram um tanto decepcionadas com o berrante do cãozinho.


Mari'bel andou um pouco mais para o sul e já avistava a base da montanha que emergia após as árvores. Ela já havia percebido a mudança que ia se dando no solo há algum tempo. Dessa vez, foram seus ouvidos que a alertaram para uma aproximação. Mantendo-se camuflada, ela observou os três mortos-vivos que passavam velozes mais à frente. Ela não sabia que criaturas seriam aquelas, mas sabia que não eram nada naturais.
Mesmo que já findasse a tarde, ela esgueirou-se com cuidado e seguiu os rastros das criaturas como uma boa guardião que era. Deixou seu arco preparado para qualquer eventualidade e seguiu. Ela avançou pela montanha até uma caverna. Na entrada, ela encontrou outros rastros.. rastros maiores e reptílicos. Embora não pudesse ter certeza, sabia que era uma combinação de pistas perigosas e uma ameaça além de sua capacidade. A killoren recuou furtivamente até as árvores e depois correu o máximo que podia para alertar seu deus e os demais.

Apesar do desconforto de sua cama, Kaliandra Boaventura adormeceu. A guerreira elfa sonhou com uma bela mulher. A mais bela elfa que seus olhos jamais haviam visto.
- Olá, Kaliandra Boaventura, minha filha.
- Quem é você, bela senhora?
- Eu sou Bibiana Crommiel, deusa dos elfos, mãe do belo povo. Eu vim recebê-la entre nós agora que voltaste ao teu verdadeiro lar.
- Nós viemos em nome da rainha Amídalas Ancalimon, devemos seguir até Evereska.
- Sim, minha criança. É o que devem fazer. Mas você deve saber que nesses tempos difíceis, eu estou de braços abertos para todos os elfos, já que somos como um só povo.
As palavras da deusa dos elfos reverberavam fundo no íntimo de Boaventura, ela sentia que só havia verdade e doçura no que era dito. Ela sentia como se agora sua alma pudesse ter paz novamente por haver uma divindade olhando pelos elfos, garantindo suas tradições, sua pátria e sua família.

Derdeil Óphodda achou difícil preparar-se para dormir sem seus servos invisíveis e facilidades mágicas, mas acabou por adormecer. Ele sonhou com um velho mago, que prontamente entendeu tratar-se de seu senhor Azuth, deus dos magos, braço direito do deus da magia.
- Óphodda, me devoto seguidor, escute o que lhe fala seu antigo deus, que já foi um homem como você. Não há razão no que faz o novo pretenso deus e se o sirvo não é por vontade, mas por dever de ofício. Ainda assim, eu venho consagrar uma missão a você que tem os escrúpulos necessários para cumprí-los. Nesses tempos extremos, medidas extremas.
- Diga-me, ó grande Azuth, o primeiro dos magistrados, arauto de Mystrul. Eu sou teu servo e instrumento da tua vontade...
- O mythal que existe na Grande Floresta deve ser destruído para que as coisas sejam restauradas ao que eram, Derdeil Óphodda, e tu deves cuidar disso!

Após correr por algumas horas e alertar as lideranças da Grande Floresta como Falcon Eagle, líder dos ellfos verdes, o treat Turlang, além de Viviane dos druidas e guardiões da natureza, Mari'bel viu-se muito cansada. Bebeu um pouco de hidromel e recolheu-se muito cansada.
Ela teve um sonho curioso com uma bela mulher, a mais linda elfa que já vira. Era Bibiana Crommiel, senhora do belo povo, que estava debruçada sobre um homem catatônico. Ela olhava com amor e ternura, mas subitamente uma fumaça rosa emergiu dele e envolveu a mulher, parecendo ser um mal terrível do qual ela não conseguia se libertar.

Braad vagou pelas ruas já pouco movimentadas de Secomber com o avançado da hora. Por fim, ele encontrou uma pequena capela de Oghma, o senhor do conhecimento, o que trouxe lembranças da Fortaleza da Vela. O monge entrou na esperança de algumas respostas.
Após um gole de bebida, eles se pôs a orar. Para sua surpresa, rapidamente, ele obteve uma resposta. Uma figura espectral surgiu diante dele. Era o fantasma de Francisco Xavier, o mago que conhecera na Fortaleza da Vela.
- Braad... me ajude, Braad.. minha alma está amaldiçoada... eu estou preso em uma agonia eterna...
- Lo que houve, Xavier? Quien fez esto com usted?
- Eeehtur... Daaaphne... na Grande Floresta...

Ainda que desapontadas com o potencial do instrumento do bardo, Sérgio Reis provava às mulheres que um homem pode trabalhar de outras maneiras. Eles se divertiram como podiam por um bom tempo já que não havia mais show aquela noite. Ainda assim, as três fugiram aterrorizadas quando o espectro surgiu.
A alma penada rogou uma maldição sobre Sérgio Reis, que viu suas ínfimas partes íntimas murcharem como uma casca seca inútil.
- Você deve guiar o monge à Grande Floresta e libertar minha alma, se desejar sua virilidade de volta! - Proclamou o espírito atormentado antes de desaparecer tão inexplicavelmente quanto surgira.
O bardo recolheu suas roupas frustrado e resolveu descer para tomar uma bebida. Encontrou a taverna já vazia. Havia apenas a mesa de Eike, onde ele se vangloriava do sucesso da noite. O homem tatuada bebia sozinho no balcão.
- Vajam só, aí está a galinha dos ovos de ouro... - disse Expedito Eike.
- Aqui está seu dinheiro.. - disse Reis devolvendo o adiantamento que recebera. - As coisas mudaram, tenho que partir pela manhã.. - ele deu as costas ao grupo e foi ter com o homem no bar. - Me traga o mesmo que ele está bebendo... você por algum caso conhece algum monge que precise ir para a Grande Floresta?
- Buuurp... yo soy un monge procurando uno guia até la Gran Floresta.. yo me yamo Braad...





14 de mar. de 2014

Mudanças


- O mundo mudou... eu sinto isso na água, eu sinto isso na terra, eu farejo isso no ar - disse Yorgoi para Deborah.
- Vai dar tudo certo, amor. Nós estamos no alcance do mythal da Grande Floresta... com Úrsula e Arnoux aqui, Nova Brasillis é uma das cidades mais seguras dos reinos. Além disso, Ehtur, Alissah, Daphne e Jacke estão a poucos quilômetros no interior da Grande Floresta.
- Mas ainda me preocupo com Ryolith e Rock. Tem 6 meses que eles partiram.. um para o sul pra salvar seu reino e outro para o norte atrás das tribos bárbaras.
- Eles são o santo paladino de Tyr e a chave dos planos, amor.
- E tem o Sirius... Falkiner...
- O corpo de Falkiner está em segurança em Evereska com os elfos de Bibiana. Kiriani.. quer dizer, Selune está cuidando de Sirius.
- Mas a praga dos nishruus não para de crescer. Depois que provaram de Sirius e Falkiner parece que onde há um clérigo de Bibiana ou Selune, lá também há um maldito devorador de magia. Isso fora o deus da magia, a deusa da escuridão, os servos da tríade da luz em Cormyr. Tem certeza que é hora de termos um filho?
- Eu não vim ao mundo para curar seus amigos vagabundos e cuidar do filho dos outros, Yorgoi Arturiu Kaetannói Lopillis Dossantis!
- Claro, amor.. vamos continuar trabalhando então. De qualquer forma, creio que devemos aceitar as tropas de Invernunca pelo abacaxi. Dizem que o Shashentar, escolhido de Waukeen, está pagando o dobro do preço pelo quilo do abacaxi.

5 de mar. de 2014

O crepúsculo dos escolhidos dos deuses...


Sem perder mais tempo, depois que os embaixadores de Invernunca partiram, Daphne se transformou em em uma enorme águia dourada de penas de aço. Embora Ryolith Fox ainda ansiasse por resgatar sua amada Palas Atenas e John Falkiner ainda estivesse desacordado, ambos não poderiam fazer muito ali sozinhos. Todos os demais subiram nas costas da druida das muitas formas levando os servos dos deuses com eles e ela voou para o norte. Sirius Black repetia as palavras de sua amada deusa Selune de que deviam garantir a segurança do mythal. Ehtur e as guardiãs da natureza, no entanto, ainda lembravam-se da ideia de Timothy Hunter de levar o mythal para a Grande Floresta.

Muito longe dali em direção ao norte, aos pés do picos gelados da Grande Geleira, Rock dos Lobos lutava contra a neve para avançar em busca dos bárbaros perdidos. Ele buscava o lugar que vira em seus sonhos. Sacrificou mais de sua constituição para invocar magias que aumentassem sua resistência e movimentação, mas mesmo assim a tarefa era árdua. Apenas a vastidão branca sem fim era o que ele encontrava. 

Após horas de vôo, os heróis deixaram o mar verdejante da floresta pelos campos cinzentos dos vales do norte. Assim como as montnhas Nether ficavam cada vez mais próximas, o rio Rauvin surgia magestoso descendo rumo ao vasto Pântano Perpétuo à oeste. No caminho do rio estava Everlund, já toda reconstruída. Haviam barcos no porto, carroças das estradas e trabalhadores no campo, mostrando que ali a vida tentava voltar ao normal.
Seguindo por mais um par de horas, os heróis avistaram as ruínas de Lua Prateada aos pés da antiga cordilheira. Mesmo arruinada e despovoada, a cidade sagrada de Selune mantinha sua beleza alva e élfica. Era como uma estrela cintilante entre os campos e as rochas.



Ainda do alto, Daphne e Ehtur perceberam as formas gasosas e róseas que rondavam os prédios em ruínas  da cidade. Nishruus, seres extraplanares que se alimentam de magia em suas mais diferentes formas. Grandes como nenhum outro que tivessem notícia. Estavam se alimentando da energia abundante do mythal nesse novo tempo da magia. As criaturas vagavam a esmo, mas próximas às ruínas do palácio de Alustriel, onde repousava o mythal da lua. Ryolith Fox invocou sua montaria sagrada e passou a voar em separado dos demais.
Resolveram se aproximar diretamente, mas antes de se aproximarem do palácio, eles esconderam seus itens mágicos nas bolsas mágicas. Concentraram-se e sacrificaram seu vigor para ativar as bolsas e garantir a segurança de Gungnir, Avenger, Negativa, Dikaioo Ensis e Evorel, além das demais armas. Só então desceram, com armas sem magia para não dar ainda mais poder aos inimigos. Porém, bastou chegarem na área da cidade, para que a mais próxima das criaturas se movesse na direção deles. Sem perder tempo, Ehtur Telcontar saltou em carga e investiu contra o monstro. Ele viu que a maior parte do golpe esvaiu-se na forma gasosa do nishruu. Ainda assim, ele ficou na entrada do caminho para o palácio combatendo um, enquanto seus aliados avançaram. Concentrado na batalha, Ehtur não vira que mais dois nishruus se aproximavam, enquanto o primeiro já roubava o magia de sua bolsa.
Daphne, Jacke, Úrsula, Sirius, Falkiner e Ryolith venceram as escadas, mas encontraram as poderosas portas que guardavam o salão do mythal ainda fechadas. O santo paladino de Tyr cuidou de rompê-las dando-lhes a visão do grande salão subterrâneo. Com paredes espelhadas e circular, o salão do mythal parecia transbordar as forças mágias do artefato. O mythal era uma grande esfera prateada de mais de dois metros de diâmetro, que flutuava no centro do salão acima de uma pequenina piscina de água. Porém, envolvendo a esfera, havia o maior dos nishruus. Este era enorme, ocupando a maior parte do aposento.


Sem exitar, os servos de Selune correram em direção ao artefato sagrado consagrado à senhora da esperança. Úrsula percebeu a magia de sua bolsa ser sugada pelo nishruu, assim como as garras e presas gasosas ferirem seu corpo, mas tocou o mythal. Sirius Black, o escolhido de Selune, não teve a mesma sorte. A criatura passou a absorver a magia da lua do escolhido de Selune, que tombou catatônico. O nishruu parecia aumentar ainda mais com aquela nova fonte de energia. A criatura avançou ainda mantendo o mythal em seu interior, enquanto Ryolith aguardava montado em seu cavalo alado. Jacke e Daphne não tinham certeza do que fazer diante do destino de Sirius e tendo Falkiner caído com elas.

Ainda longe dali, após horas vagando pela imensidão gélida sem fim, Rock dos Lobos tocava o amuleto psionico que Marissa lhe dera. Talvez não fosse tão fácil quanto pensou reunir os que restavam de seu povo.  Ele sacrificou mais de seu vigor para enviar uma mensagem mágica:
- Aqui é Rock da tribo dos Lobos, aquele que irá guiá-los e recuperar os povos bárbaros! Sigam para a Grande Floresta!
- Ó grande enviado de Ughtar, eu sou Groo, filho de Gruu, neto de Grou, que era filho de Gruo, da tribo dos... - o mau uso da resposta a fez findar antes de completa.
Assim sendo, aquele que era a chave dos planos escolheu teleportar-se para junto de seus camaradas na Grande Floresta.


O terrível nishruu não exitou e avançou sobre Daphne e Jacke atraído pela magia no corpo de John Falkiner. No interior da forma enevoada do monstro, a mente de Úrsula sucumbiu ao controle da criatura. A gnoma sacrificava sua vitalidade para ativar os itens mágicos e alimentar o nishruu. Daphne transformou-se em uma enorme hidra, mas seus ataques foram de pouca eficácia. Ryolith Fox partiu em carga levando Jacke consigo, enquanto o nishruu passou a sugar toda a energia mágica élfica que havia no corpo inerte de John Falkiner, escolhido de Bibiana. Daphne tentou uma nova forma, transmutando-se em um observador. No entanto, viu que o nishruu absorvia a magia de seu olho central antes que o campo de antimagia se formasse.
No entanto, o santo paladino certificou-se de que a gnoma Jacke Linne seria capaz de teleportar-se com o mythal agora que a criatura o deixara e estava mais concentrada nos corpos de Sirius Black e John Falkiner. Deixando-a no artefato, Ryolith Fox sacrificou seu vigor, conjurou uma magia e atraiu a atenção do monstro para si, que o encurralou. Daphne aproveitou a deixa para mudar novamente para a enorme águia de penas de aço e carregar o mythal dali com sua aliada gnoma. Assim que ganharam o céu, a druida das muitas formas mudou para uma fênix e partiu para o plano astral.
Foi quando Rock dos Lobos surgiu como resultado de seu teleporte. Ele viu seus aliados dominados ou caídos. Quando percebeu a ameaça real do nishruu, este apenas atravessou-o, sugando a magia de seu machado Ruidoso. Ryolith Fox resistiu enquanto pode com sua graça divina, mas também acabara sucumbindo ao domínio mental do nishruu. A enorme criatura, por sua vez, deixou o subterrâneo e flutuou até o ponto em que Daphne e o mythal desapareceram para o outro plano. Abaixo, os demais nishruus aglomeravam-se, mas sem deixar o nível do chão.
Ehtur Telcontar avistou tudo e pode retirar-se, já que estava cercado por outros nishruus, tendo a muito custo ferido um deles. O guardião sabia que o mythal fora tirado de lá e esperava uma chance de ver o que se dera com seus colegas. Ele refugiou-se nas árvores próximas da cidade e esperou. Já Rock dos Lobos aproveitou que o monstro partira para reunir seus aliados. Como estava fechada a escadaria pelos nishruus no topo, sacrificou o que lhe restava de vigor para teleportar todos dali. O feiticeiro bárbaro buscou a segurança da Grande Floresta.


Tão logo chegou ao plano astral, onde as leis do espaço e do tempo não se aplicavam, Daphne sentiu as forças mágicas que ali fluíam sem as restrições da teia mágica de Faerun. Alguns efretis, que acreditava, poder apoderar-se do mythal tentaram intimidá-la, mas bastou que a druida se tornasse uma criohidra para dar conta do problema.
Ela tornou à forma de fênix, usando os poderes extraordinários da criatura mágica para retornar à Faerun. Ao voltar para o plano material, ela surgiu acima da Grande Floresta como esperava, mas muitas milhas ao sul. Estava no interior de uma colossal caverna, cujo calor escaldante logo lhe indicou tratar-se de um vulcão. Daphne da Grande Floresta soube que estava na Montanha da Estrela, mais precisamente em um covil de dragão colossal e quente.
- Seja bem vinda, Daphne da Grande Floresta, ainda que não tenha sido convidada ao meu lar - disse a voz retumbante e estrondosa do dragão Imvaernarho, mais conhecido como Inferno pelos não-dragões.
- Perdoe-me pela chegada abrupta e sem aviso, ó mais antigo e poderoso dentre todos os dragões, Imvaernarho - disse Daphne pondo-se de joelhos, usando sua máxima diplomacia, enquanto tornava à forma normal. Jacke não conseguia articular nenhuma sílaba, pois sua mente não julgava possível a uma dragão ser tão grande, a menos que estivesse vivo há muitos milênios.
- Vejo que resgataram o mythal de Lua Prateada. Ele deve garantir a segurança de minha grande floresta, druida. Você e seus guardiões da natureza devem garantir que a magia flua por esse ecossistema. Não deve aqui se pagar o preço vil cobrado por esse novo deus da magia - o desprezo era nítido no dracônico clássico dele.
- Este é nosso intento, magnânimo Imvaernarho. Pretendemos garantir a segurança do mythal e o equilíbrio nesse tempo desequilibrado. Também não corroboramos com o novo deus da magia e suas tramóias!
- Eu servi a Mystrul, a verdadeira divindade da magia e sei que este aventureiro inconsequente não sabe o que lhe espera ao tentar ser maior que o jogo. Ainda assim, é hora de mover as peças para posições estratégicas antes que todas as forças se apresentem. Venha comigo.. eu irei levá-las até a Árvore do Grande Pai!
Mesmo para Daphne, aquela foi uma experiência única. Nas costas de Imvaernarho, ela cruzou o céu rápida como um raio. O dragão colossal percorria em minutos o que ela demoraria horas, mesmo em sua forma mais veloz. Ela sentia sob seus dedos as escamas milenares daquele ser mais antigo que muitos dos deuses. Ela sentia sua forma e até mesmo sua essência, enquanto percebia que como druida das muitas formas estava pronta para o desafio final, transformar-se em dragoa, em uma dragoa colossal.
Quando chegaram ao destino, os druidas e elfos lá embaixo se espantaram, mas ela logo os tranquilizou com a visão do mythal. Imvaernarho partiu sem demora deixando para a druida as explicações. Ela preferiu transformar-se em um espírito da natureza, enviando telepaticamente pelas árvores a notícia de sua chegada para seus amigos.
Ehtur recebeu a mensagem e voltou às ruínas da cidade de Lua Prateada. Ele cuidou de esperar que o nishruu ferido se afastasse dos demais. Só então o atacou e destruiu, fazendo da lança que empunhava um item mágico. Os outros ouviram a notícia e voaram rumo ao norte, já sobre a Grande Floresta. Apenas os escolhidos dos deuses, catatônicos, como se mortos, nada escutaram.