Quando a última parte da comitiva de heróis chegou, eles logo passaram a discutir como deveriam proceder. Estavam a duas horas de caminhada da cidade luz, que parecia um sol nascente no horizonte a sul. Ryolith Fox não perdeu tempo com planejamentos e discussão, seguiu para a capital de Cormyr deixando as confusões de Sirius Black para depois. Ele estava determinado a fazer o que tinha de fazer. Daquela distância, todos podiam ver que uma bola de luz incandescente crescia e se erguia acima da cidade, mas ainda dentro da cúpula de luz formada pelo próprio brilho.
Percebendo que o lento mas determinado paladino poderia por tudo a perder, seus colegas resolveram que teriam de contornar o problema de sua insistente teimosia. Francisco Xavier resolveu usar de magia para acalmá-lo. Com uma sugestão mágica, o mago da Fortaleza da Vela convenceu o paladino de Tyr a esperar e não conversar com ninguém de fora do grupo. Puderam, então, retornar à discussão, onde Falkiner assegurava que deviam entrar abertamente e retomar o artefato, que afinal de contas pertencia a ele, Ryolith e Bibiana, que o haviam recuperado. A própria elfa garantia ao recém-elfo que os servos de Lathander nunca aceitariam isso. John Falkiner dizia que requisitariam o que era deles, mas os demais, como Sirius e Úrsula, defendiam a sutileza. Para alguns deles, no entanto, o problema passava por seguirem ou não as orientações de Lorde Byron.
Aproveitando que ficara por ali, Ryolith Fox investiu contra o notório ladino e criou uma zona de verdade, passando a pressionar Sirius Black a dizer o que sabia e o porquê de tê-lo abandonado. Qual era a ligação dele com Lorde Byron? Sirius tentou articular algumas palavras escorregadias e capazes de ampliar as possibilidades semânticas do entendimento, mas acabou deixando escapar o que realmente pensava. Ele viu sua língua magicamente solta contar que deixara o paladino por entender que ele ia atrapalhar tudo, entregá-los a Palas Atenas. Afirmou que não conhecia Lorde Byron mais do que qualquer um ali, tendo conhecido-o em Lua Prateada junto com o próprio Ryolith. Afora uma certa simpatia que parecia recíproca, ele apenas fora o primeiro a deixar o artefato, mas isso não significava conhecer mais dos planos do servo de Morpheus. Isso satisfez o servo da justiça por hora e ele deixou Sirius seguir para as sombras a que retornara sem o brilho de Selune. Faliner, por outro lado, percebia não sentir mais o poder de suas orações.
Sendo assim, eles seguiram para o sul assistindo de camarote à destruição que se alastrara pelo outrora próspero reino de Cormyr. Apesar de não verem sinal dos inimigos, todos entendiam quanta devastação fora causada àquelas terras. Ryolith Fox sentia a dor de ver sua pátria queimada e arrasada, tornada estéril e corroída pelas forças do mal. Cada cinza e cada lar multilado era como uma adaga cravada em seu peito, que nada pudera fazer pelos inocentes que haviam perecido. Quando estavam próximos, a maioria ficou invisível graças a Francisco Xavier, mas Ryolith Fox e John Falkiner preferiram seguir sem subterfúgios, mais que cidadãos de Suzail, heróis e artífices de sua salvação.
Enquanto os demais aguardavam, o martelo de Tyr, sem prestar atenção aos guardas, tentou abrir o portão. Todos viram que isso gerou protesto dos desavisados sentinelas, que antes pareciam entregues a orações dirigidas ao centro da cidade. Era claro para os ouvidos que toda a cidade estava entregue a um louvor transcendente e ritmado. Tudo aquilo combinava-se com a esfera de luz, que deixava a cúpula de luz protetora da cidade e ascendia como um segundo sol. A luz que se derramava chegava até os limites do reino marcados pelas montanhas ao norte e a oeste. Os guardas gritaram expulsando-os e logo esquecendo-os, pois estavam mais concentrados no cântico.do segundo sol. Por isso mesmo, bastou que se afastassem um pouco para Chico Xavier poder dar uma magia que abriu uma passagem na muralha da cidade. O túnel mágico cortava o corredor interno e saia do outro lado permitindo ver ainda melhor o brilho luminoso do âmago da metrópole. Rapidamente, todos atravessaram, com exceção de Sirius Black. Quando o salteador das sombras fincou pés naquela terra resplandescente, sentiu de imediato os efeitos negativos. A dor minava ininterruptamente suas forças. Preferiu ficar. Mesmo diante dos apelos, piadas e reclamações dos companheiros, ele preferiu ficar.
Os demais cruzaram parte da cidade rumo à praça central onde ficavam os templos, mas muitos antes já não havia como passar pela multidão. Quase como um enxame, incontáveis pessoas se agitavam entregues ao canto e a dança ao redor da praça, ocupando as ruas com uma algazarra ritmada e alegre. Os próprios heróis sentiam-se mais vivos, como se aquela força afastasse a fadiga e o desânimo. Sem instrumentos ou tambores, as vozes soavam como uma só, fazendo o próprio ar vibrar e ritmando o compasso de todos os corações. O grupo percebeu que não havia como passar e Ryolith atentou que podiam seguir por uma passagem secreta que ligava a sede dos Dragões Púrpuras com o Templo de Tyr.
Eles seguiram para o prédio dos guardiões da cidade e do rei, que encontraram vazio e silencioso. O martelo da justiça e membro da guarda abriu a entrada para seus amigos e confirmaram que não havia ninguém ali, fosse guarda, sentinela ou prisioneiro. Aproveitaram para pegar algumas armas e foram para a passagem secreta. Ehtur Telcontar percebeu que aquele porão não era usado há muito tempo, ainda mais se tratando do túnel secreto.
O atalho os levou até a região central, permitindo o acesso ao templo de Tyr, senhor da justiça. A basílica estava apinhada de gente. Assim como os demais, os clérigos, paladinos e fiéis estavam entregues com fervor mais austero e comportado ao canto de adoração. Todos estavam direcionados para o templo do deus do sol. A proximidade permitiu acessarem uma acomodação anexa ao corredor, onde abriram uma janela e passaram a escutar a pregação. Da lateral da Casa da Justiça, não viram o mesmo templo de Lathander que conheceram, com a forma de uma bela fênix que se erguia do chão e parecia querer ganhar os céus. Havia em seu lugar uma pirâmide, maior que qualquer outro dos templos.
O grupo resolveu sair, mas não sem antes cobrirem-se todos com a invisibilidade de Xavier e Leila criar neles a habilidade de voar magicamente. Assim agrupados, eles voaram invisíveis buscando uma entrada alternativa, pois o pregador que falava ao povo estava diante do púlpito formado pela entrada frontal. Atrás dele estavam os principais sacerdotes dos deuses locais. Nenhum sinal do cálice com eles.
- Todos vocês que estão aqui viram quando eu ressuscitei todos aqueles que tombaram na batalha contra o Império das Trevas. Aqueles que morreram por nossa pátria luminosa. Vocês viram quando eu ergui a luz além de nossos muros e fiz de escravos aqueles que nos ameaçavam. Esses monstros terríveis que não merecem nossa humanidade - ia dizendo o filho do fogo, uma linhagem de humanos com sangue de elementais do fogo. - Vocês viram a luz, a verdade e o caminho perseverarem contra as trevas, contra a noite e contra a escuridão perpétua. Todos sabem que o poder de Amauntor, o verdadeiro e único senhor do sol cresce e logo cobrirá todo o mundo. Hoje, está nascendo aqui a semente de uma novidade da qual vocês são testemunhas, o Segundo Sol está nascendo aqui.. e muitos outros nascerão para lançar a vida em uma luz perfeita e perpétua. Nossos inimigos nos servirão, aqueles que recebem nossa luz nos pagarão o devido respeito e aqueles que estiverem conosco viverão o paraíso na terra.
A multidão foi ao delírio com aquelas afirmações. Todos pareciam tomados por aquele êxtase coletivo, mesmo que conduzido pelo homem como se este fosse um maestro. A menção a Amaunthor, antigo deus do sol de Netherill e a quem o cálice fora originalmente consagrado, não passou desapercebido aos ouvidos dos heróis com seu conhecimento sobre religiões.
- Parece que Lathander já era... - comentou Úrsula murmurando.
- Isso é impossível. Eu estive com ele a menos de 10 dias! - protestou Falkiner.
- Parece que Lathander já era a menos de 10 dias... - completou Telcontar.
Quando já estavam nos fundos da pirâmide, novamente Francisco Xavier invocou seus poderes para criar uma passagem mágica. Isso, porém, encerrou a esfera de invisibilidade. Todos correram para dentro, ainda podendo ouvir os protestos da multidão. Mirando alcançar o cálice, encontraram os corredores vazios e dobraram à esquerda. Ryolith tomou a direção contrária de seus companheiros, pois com a entrada naquele lugar sagrado, deixara de sentir o poder sugestivo de Xavier. Sem tempo a perder, os heróis desceram uma escada em busca do artefato. Ryolith acabou chegando a uma porta. Ao abrí-la viu que estava em um mezanino e que no amplo salão abaixo, adentrava a comitiva que ele vira diante do templo. No ponto oposto do aposento estava o altar e o cálice.
Enquanto seus amigos encontravam apenas as salas de treinamento e o depósito de armas, o paladino de Tyr não titubeou. Aproveitando a concentração de todos no eloquente sumosacerdote filho do fogo, Ryolith Fox se atirou na direção do artefato. Ele teria conseguido se alguém que ele buscava, mas não vira até então, não tivesse surgido diante dele. Palas Atenas. A espada de Tyr e major do Dragões Púrpuras não permitiu ao grande amigo passar. Logo, todos os olhares estavam sobre eles, mas o paladino deixou-se contagiar pela luz de tudo ali. A presença de Palas bastou para tranquilizá-lo.
O sumosacerdote de Amaunthor e seu cortejo de clérigos e fiéis dirigiu-se aos dois servos de Tyr, saudando-lhes a honra e a presença de espírito. Eram certamente bons servos da luz, seres de corações puros que deveriam prosperar nesse novo e brilhante mundo que surgia. Ryolith sentiu os dedos de Palas agarrarem-lhe pelo glúteo direito trazendo-o para perto dela, enquanto o servo do sol abençoava uma vindoura união. Ao povo do bem, as dádivas do bem, para que crescessem e se multiplicassem.
No alto do mezanino, o restante do grupo que havia encontrado o local após voltar e seguir os passos do paladino, resolveu se aproveitar da atenção de todos naquela celebração. Francisco Xavier moldou a parede de pedra com sua magia abrindo uma passagem fina e comprida, por onde o cálice poderia passar. Enquanto ele tecia as magias, os demais investiram no intuito de ganhar tempo. Rock dos Lobos conjurou uma mão de pura força mágica, mas ela não conseguiu retirar o artefato do altar. O filho do fogo ganhou os ares furioso com a ousadia dos heróis. Os ataques pouco efeito tiveram, mas foram suficientes para Xavier conjurar uma mão espectral, que era capaz de liberar magias de toque a longa distância. O lorde do sol derramou o poder luminoso do artefato sobre eles, clareando os pensamentos dos que se opunham a ele, encantando a todos e fazendo-os ver quão tolos estavam sendo. Por mais que suas vontades lutassem, parecia não haver como resistir àquela benção.
Antes que sucumbissem totalmente, no entanto, algo de extraordinário se deu. Duas pequenas fadas acompanhadas de um fauno dispararam uma chuva de setas que atingiu o sumosacerdote de Amaunthor. Se não foram capazes de derrubá-lo, ao menos quebraram sua concentração. Isso ganhou tempo para que Francisco Xavier conjurasse um teleporte. A mão espectral cuidou de levar o artefato e ele alcançou os aliados que pode: Úrsula, Falkiner e Muadib. Assim partiram os quatro e o cálice.
Mais uma vez a sorte sorri aos aventureiros que tentam imprimir sua marca nestes Reinos Esquecidos. Tomara que no fim as coisas continuem neste caminho.
ResponderExcluir