21 de fev. de 2013

Parábolas circunstanciais das vicissitudes das vidas dos seres viventes...

Tão logo Francisco Xavier partiu levando Falkiner, Úrsula e Muadib, todos que ficaram no grande salão do templo do deus do sol ficaram perplexos. O sentimento de devoção e inspiração causado pelo cálice de Amaunthor ainda inflamava-lhes o peito. A indignação rapidamente se espalhou com aquele ato e um frenesi de preocupação. Apenas o fauno e as fadas escapavam desse cenário, mantendo os ares debochados e lúdicos. Eles buscaram levar Ehtur Telcontar:
- É hora de partir.. - disse o fauno para Ehtur.
- Partir para onde? Eu quero ficar com a luz.
- Bom, sua esposa pediu ao senhor das fadas para a gente buscar você.. melhor não contrariar...
- Alissah.. sim, eu devo ir para trazer Alissah para a luz.. levem-me até ela..
- O que está havendo? - interviu Bibiana, que apesar de encantada, parecia confusa.
- Você que é gata e é do belo povo, então pode vir se quiser.. - acrescentou o fauno tocando os dois e levando-os para longe dali. Ryolith foi tomado por nova surpresa vendo mais de seus amigos serem levados. Eram tantas emoções se misturando naquele momento igualmente feliz e preocupante. As palavras lhe faltaram, enquanto viu o sumosacerdote de Amaunthor , ainda voando, se dirigir a todos: 
- Eu alertei que isso aconteceria. Em nossa bondade inocente deixamos o mal espreitar. Eu os avisei de que eles viriam tentar tomar o nosso artefato.. levar o poder luminoso de Amaunthor para longe de nós. - Essas palavras renovaram os temores de todos. - Não estivesse aqui o Segundo Sol a nos defender e tudo poderia estar perdido e as trevas terem varrido a criação. Devemos iniciar logo nossa nova investida, unir ainda mais o poder da criação que nos habita, não há nada mais importante. Devemos criar novos sóis e espalhar pelo mundo a luz perpétua do grande Amaunthor, que banhará tudo com a glória eterna de uma luz perpétua. Eu, Daelegoth Orndeir, como arauto do eterno senhor do sol lhes afirmo e lhes convoco.
- Nós devemos ir em busca do cálice, senhor. Imediatamente, meu senhor. Envie-nos agora atrás desses larápios facínoras e reaveremos a fonte da bondade. - sugeriu Ryolith Fox ajoelhado ao lado de sua amada Palas Atenas.
- Fique tranquilo, bom e leal servo de Tyr, pois eles só levaram uma cópia do artefato -respondeu Daelegoth com orgulho, enquanto buscou uma de suas bolsas de onde surgiu o artefato. - Eu me precavi contra o mal maior e pude garantir que nossa paz não fosse ameaçada, que os dignos continuem salvos. - Todos os presentes, eméritos sumosacerdotes dos grandes templos de Suzail e Caladnei, a regente se ajoelharam em adoração inconteste à glória daquela luz. - Agora, nós devemos nos concentrar no casamento de vocês dois e...
O sumosacerdote de Amaunthor foi interrompido pelo rasgo na própria realidade. Como se o próprio ar não passasse de uma folha de papel nas mãos de uma criança, uma fenda se formou até ganhar o tamanho de um portal. Através dele, chegaram sete seres construídos. Se eram alguma espécie de golens mecânicos extraplanares ninguém ali saberia dizer, fato é que tinham forma humanoide. O menor deles, que vinha à frente envolto por uma capa vermelha foi quem falou com sua voz autômata.
- Nós viemos em busca de ti, chave dos planos. É hora de você pagar por seus crimes. Você rompeu as leis cósmicas que governam a morte e fez pactos profanos para retornar do fim de sua existência. - Eles se dirigiam para levar Rock.
- Deve haver algum engano.. vocês devem estar falando da minha sombra maligna.
- É verdade. - interviu Ryolith. - Posso dar-lhes minha palavra de que esse homem é uma boa pessoa e de que possui uma sombra maligna.
- Nossas ações são governadas pela justiça primordial do equilíbrio cósmico, paladino. É esse que caminha entre vocês que deve pagar. Seu crime será pior do que a morte. Você virá conosco para Mecannus. - afirmou a criatura.
- Mecannus? O plano sem vida da ordem?! - preocupou-se Rock recuando, mas sem ter como fugir.
- Se esse homem é culpado pelos crimes que lhe são imputados, Ryolith, não devemos fazê-lo escapar da justa punição. Deixe que levem-no! - intercedeu Daelegoth.
- Está bem... - concordou o paladino, mas foi Leila Diniz quem tomou a frente do companheiro.
- Vocês não podem levá-lo! - e ante as palavras dela, os homens-máquinas pararam o avanço surpresos por vê-la.
- Nos perdoe, senhora, mas nem mesmo a deusa da magia desse mundo pode interceder em favor desse criminoso.
- Vocês nem explicarem essa história de crime direito! - protestou Rock.
- Eu.. ah.. eu proíbo vocês.. proíbo enquanto deusa da magia.. vou.. vou fechar o portal e prendê-los aqui e..
- Essa decisão não é nossa e já foi tomado. Ainda que os deuses tenham sempre o direito de se fazerem ouvir, isso não mudará nada do que tem de ocorrer.
- Então, se é assim, eu exijo me fazer ouvir por quem tomou essa decisão...
- Se é assim, você também deve nos acompanhar, senhora da magia. - e tendo dito isto, os seis outros extraplanares caíram sobre os dois e carregando-os para o portal que se desfez com a saída deles.


Enquanto isso, na Fortaleza da Vela, Francisco Xavier, John Falkiner, Muadib dos Fantasma da Árvore e Úrsula Suarzineguer surgiram no mesmo quarto de hóspedes para onde Lorde Byron os levara. De imediato, perceberam que a influência do artefato em seus corpos e mentes diminuía. O cálice caiu no chão, mas logo foi alcançado pelo bárbaro meio-elfo. Quando foi tocado por suas mãos, perdeu de todo o brilho, assim como cessou sua força para animá-los. John Falkiner, ainda sem sentir respaldo para sua fé, tomou o cálice que vira ser consagrado para Lathander e viu ao menos um pouco do brilho como a luz do dia retornar.
Francisco Xavier, o mago da Fortaleza da Vela, sugeriu que fossem ter com o Primeiro Leitor, mas tão logo deixaram o quarto, foram impedidos de seguir por um dos monges guardiões. Tiveram que esperar algum tempo, que foi dedicado a preces sem resposta e ao estudo do cálice tão rico em ouro e pedrarias. Depois de uma hora, eles receberam as devidas autorizações e foram conduzidos até a sala do Primeiro Leitor.
Ao contrário da vez anterior, Xavier viu que estavam sozinhos com aquele homem que era o guardião máximo da maior concentração de saber existente. O Primeiro Leitor os recebeu sentado em sua grande mesa, depositando sobre eles um olhar questionador:

- Eu trouxe o cálice, meu senhor. Como nos foi pedido...
- Deixe-me vê-lo,  Xavier. - disse o ancião estendendo a mão. Ele pegou o cálice das mãos de John Falkiner, vendo que o brilho cessou. Passou a observar com cuidado, aproximando o cálice dourado bastante dos olhos cansados. O Primeiro Leitor parecia querer ver muito além do próprio objeto, enquanto encarava minuciosamente o artefato. Foram alguns silenciosos minutos até que ele se erguesse e apanhasse uma garrafa que estava sobre uma mesa atrás dele. De posse dela, derramou um pouco de água no cálice, fez um movimento e bebeu. - Este não é o cálice do sol! É apenas um copo de ouro encantado.Vocês foram ludibriados por magia aqui postas para enganá-los. Ao que tudo indica, os servos da luz estavam preparados para tal investida.
- Senhor, nós precisávamos do cálice para trazer de volta Arnoux e Yorgói, aliados de noss...
- Nós queremos o cálice para atacar o coração de Nova Netherill! - interrompeu Falkiner.
- Não sei se devemos dar tantos ouvidos ao tal Byron.. - ponderou Muadib.
- Nós podíamos nos alias com Netherill para pegar o verdadeiro cálice de Suzail.. - propôs Xavier.
- Vocês devem voltar com ajuda para que consigam tomar o verdadeiro cálice do sol. - falou mais alto a voz cansada do Primeiro Leitor. - Eu enviarei magos e monges para ajudá-los.
- A proximidade com o cálice de Amaunthor pode desviar nossa vontade, senhor. Daí nos juntarmos ao inimigo por uma oportunidade de reaver o item. O senhor poderia usar suas magias para tentar vermos alguém lá. - sugeriu Xavier, mas as tentativas de divinação sobre Ehtur e Ryolith não funcionaram.
- Não podemos nos juntar com Netherill. - reafirmou Falkiner.
- Vocês podem usar um campo antimágico para evitar a influência. De qualquer forma, devem descansar, recuperar suas magias e se preparar. Em breve, os convocarei para que partam...

Ehtur Telcontar e Bibiana Crommiel surgiram uma floresta, que ele não reconheceu de imediato, mas era familiar. Perceberam logo que a influência do artefato esvanecia de suas mentes e corpos. O fauno que disse se chamar Teseu e as duas fadinhas voadoras, Chichi e Chong, os conduziram por uma trilha que se embrenhava cada vez mais na mata. Os dois pixies ficaram mais entretidos em prepara um cigarro de erva dos hobbits, enquanto Teseu foi explicando aos convidados a razão daquilo tudo. Depois de quase uma hora, chegaram a um pequeno riacho. Nele, os seres feéricos sumiram e quando o elfo e o humano o tocaram viram-se no mesmo lugar, porém percebendo em tudo um ar mais idílico.
Ehtur e Bibiana entenderam que haviam passado para o reino das fadas, uma cópia imaculado do que o mundo fora em outros tempos. O verde era mais verde, o ar era mais adocicado, o canto dos pássaros mais pungente e até os mosquitos mais simpáticos. Encantados por aquela beleza bucólica, eles foram guiados em direção a uma música frenética e delirante, que denunciava uma festa. O fauno e os pixies pareciam muito animados com o que os aguardava.
Às margens de uma área menos densa da floresta, o guardião e a clériga já puderam ver os muitos seres dedicados ao contato amoroso. Duplas, trios, quartetos e assim por diante de criaturas diversas expressavam apaixonadamente seus quereres uns pelos outros sem pudor ou limites morais quaisquer. Ehtur não deixou de se preocupar, enquanto Bibiana sentiu uma desaprovação se aninhar em seu peito. Após passarem pelas cercas vivas de amante, avistaram o trono que se destacava ao centro dos celebrantes.
Enquanto um grande grupo de fadas dançava ao som de uma banda de faunos e ninfas, um garoto entediado com um coroa estava sentado no grande trono. Ele não parecia ter mais do que doze anos. Era magro, usava óculos e tinha o cabelo preto escorrendo sob a coroa. Ao lado dele havia um trono menor onde um gato gordo, que quase na cabia no assento, chupava os dedos após comer gorduroso. Mais atrás, havia um único humano, que por isso mesmo chamava atenção. O sujeito era alto e forte, embora os anos já cobrassem seu preço por trás da barba branca, e tinha junto assim um garoto, um elfo negro ainda criança de cerca de 60 anos.

Ao avistar os recém-chegados, o garoto se aprumou, pigarreou e cutucou aquele que parecia guardá-lo. Ele cochichou uma ordem de canto de boca e voltou a se aprumar. Revirando os olhos, o grande homem tossiu primeiro e depois anunciou:
- Sejam bem vindos aqueles que chegam diante do grande e poderoso Tim..
- Grande, poderoso e magnânimo...
- Aqueles que chegam diante do grande, poderoso e magnânimo Timothy Hunter, senhor de Arcádia e de todas as fadas. - disse o homem novamente revirando os olhos.
- Está bem, Navarre. Parece que deu tudo certo, Teseu.. mas quem é essa?
- Sim, chefe. Como ela é do belo povo, nós a trouxemos também.
- Nós agradecemos pelo auxílio e convite, Timothy Hunter, deus das fadas. - disse Ehtur.
- Apesar da entrada dos humanos ser proibida em meu reino, Ehtur Telcontar, com exceção do meu amigo Etienne Navarre aqui, graças à sua esposa Alissah, você ganhou o direito de vir pra cá e ficar salvo do fim do mundo lá do outro lado. E você elfa, como os elfos são fadas que saíram daqui trinta mil anos atrás, tem salvo conduto.
- Nós agradecemos muito, senhor. Eu gostaria muito de ver Alissah, mas também gostaria de contar com sua ajuda para salvar nosso mundo e não abandoná-lo. - As palavras de Ehtur Telcontar foram interrompidas pela chegada de Alissah Eagle. A dríade de pele esmeralda vinha reslandecente vestida em seda esvoaçante e transparente acompanhada de cinco outras tão belas como ela. Ruborizado, o guardião viu saltar em seus braços e beijá-lo como se isso fosse apenas o que importava.
- Aqui vocês estão seguros - declarou Timothy Hunter. - E o grande Nojento os recebe com satisfação.. - ele apontou para o gato que soltou um arroto.
- Mas não podemos deixar nosso mundo ser destruído, senhor das fadas. - respondeu Bibiana.
- Existem outros mundos.. tantos mundos.. não é o fim do mundo.. quero dizer, de todos os mundo.. é o fim de um mundo só..
- Mas a escuridão está avançando. Ainda não achamos que é o fim...
- Você djá teve maix culhões, moleque. Quandjo eu ti conhexi você era corajoso.. agora tai.. todo almofadinha... - gritou uma voz feminina em elfo. - Vira homi, rapá.. ih, viadinhu, viadinhu, viadinhu...
- Volcana, componha-se, você está completamente bêbada. - repreendeu-a Navarre.
- Vejam bem.. há uma festa acontecendo e como anfitrião, eu tenho que cultivá-la.. tô cheio de responsabilidades aqui. Ninguém nunca entende meu lado. Tudo eu.. tudo eu por aqui. Quando tudo acabar, nós conversamos.. agora, como bons hóspedes, vocês tem o dever de ir se divertir.
Sem poder discutir, Ehtur se deixou levar por Alissah e suas novas irmãs. Bibiana acabou se deixando levar pela conversa da elfa Volcana Boaventura.

Do lado de fora de Suzail, Sirius Black já aguardava a chegada dos companheiros a várias horas sem ver nada de diferente. Apenas a barulheira lá dentro cessara. Tudo estava mais calmo naquele dia perpétuo, enquanto o novo sol que se erguera permanecia imutável acima. Foi então que ele avistou alguém se aproximando. Sabedor que a luz da cidade ofuscava a vista de quem descia pela estrada, ele aguardou o humanóide tornar-se mais discernível. Percebeu que era um orc, ou melhor, um meio-orc, ou melhor, uma meio-orc, que parecia acreditar estar devidamente escondida naquele descampado. Ela não parecia usar armaduras ou armas pesadas e cambaleava um pouco. Sirius se limitou a fazer um montinho de areia a alguns passos da cidade luz.
Quando ela estava a poucas dezenas de metros de distância, enfim avistou o vulto dele. Caiu então de joelhos suplicando por ajuda:
- Pur favur, mi ajudi.. istu firida.. - ela disse na língua dos humanos, sem ouvir resposta dele. - Tu fugindu dus urcs, iu sii du planu dilis di ataca, mas iu num quiru.. iu quiru a luz.
- Planos de atacar?
- Sim.. ilis vai invadi.. uma hurda.. uma grandi hurda de urcs.. o grandi Long Dong Silver juntu us urcs das muntanhas.. e juntu us urcs das prufundizas. Ilis vai invadir tudu!!! - Sirius percebeu que ela não estava mentindo, parecia realmente assustada e até violentada por tudo aquilo.
- Eles vão ser derrotados pela luz de Suzail...
- Naum.. dissa vez naum.. Long Dong Silver tim ajuda dus magus nigrus. Ilis vai atravissar a luz. Agura, ilis taum na grandi urgia prufana di istrupu e viulaçaum.
- Em quanto tempo eles estarão aqui?
- Duis dias.. iu axu... miu numi é Daniela...
- Venha.. faça o seguinte... entre na luz da cidade..
- Iu pussu? Ubrigada, iu simpri quis sir humana.. mais minha mai ira uma urc itrupada pur um humanu. Lá iu ira minus qui ginti, mas aqui vucis matam os mistiçus...
- Eu não sou desses.. - respondeu Sirius no justo momento em que Daniela adentrou a luz de Suzail. Assim como tinha acontecido ao ladino de Águas Profundas, a meio-orc foi fustigada pela luz solar da cidade, caindo inconsciente no chão. Siris acabou sendo lesado para resgatá-la e tendo de gastar uma carga de sua varinha de cura.
Daniela acordou muito agradecida e tentou se entregar a Sirius, mas ele recusou sem muitos pudores. Isso não a fez desistir e acabaram entretidos ali na conversação por algum tempo do lado de fora dos muros de Suzail.

Quando despertaram na Fortaleza da Vela, Muadib, Úrsula, Falkiner e Xavier não demoraram a ser convocados pelo Primeiro Leitor. Ele os alertou de que o auxílio que prometera estava sendo preparado e entregou ao mago dois pergaminhos, um de campo antimágico e um de teleporte maior. Enquanto Francisco copiava-os em seu livro de magias, seu superior invocou o poder da visão além do alcance, mostrando-lhes em um espelho a imagem do que buscavam. Dessa vez, eles buscaram por Sirius Black. A magia teve sucesso e resolveram não esperar. Francisco Xavier os teleportou imediatamente para fora dos muros de Suzail, fazendo-os surgir junto ao ladino e à meio-orc.
Após rápidas explicações, pensaram como proceder, incertos do quanto demoraria a chegar o auxílio vindo da grande biblioteca de Oghma. A ameaça da tal horda de Long Dong Silver soava tanto como mais uma ameaça como uma oportunidade.
Esse processo foi novamente interrompido pela chegada de Rock dos Lobos. O bárbaro lhes explicou que fora devolvido do plano de Mecannus porque Leila Diniz se oferecera em sacrifício para ficar em seu lugar e dar-lhe tempo de provar sua inocência. Ele ainda não estava de todo recuperado, corroído pelo remorso, com a imagem da esfinge azul que condenou sua defensora.



Ehtur despertou feliz como nunca antes. Ele estava abraçado com a mulher dos seus sonhos em um lugar longe das ameaças. 
- Alissah, eu quero que você entenda que eu não posso ficar aqui com o mundo ameaçado pelas trevas. Eu preciso convencer o deus das fadas a nos ajudar.  
- Ehtur, você é meu amado. Eu atravessaria os infinitos lares do Abismo para estar com você. Você me trouxe de volta de algo pior do que a morte. Você nunca desistiu de mim. Se você me diz que devemos voltar e salvar nosso mundo, eu vou com você.
Enquanto seguiam em direção à área da festa, viam os corpos entorpecidos dos celebrantes. Faunos, centauros, fadas, elfos, ninfas e todo o tipo de seres feéricos estavam espalhados entre e sobre as árvores, arbustos e afins. No centro de tudo, encontraram Timothy Hunter acompanhado apenas de Etienne Navarre, Tumling e do gato Nojento.
- Chegou a hora, garoto. Vamos salvar nosso mundo.. - bradou Volcana, que vinha acompanhada por Bibiana.
- Vocês precisam entender que eu não posso arriscar tudo isso aqui. Já falei que existem outros mundos... se quiserem são bem vindos para ficar desfrutando de nossa segurança... você é marido de Alissah e elfos são fadas que nos deixaram, não é mesmo?
- Mas ainda não é o fim desse mundo.. eu acredito nisso.. - acrescentou Ehtur.
- Não é o que minha mãe ia querer. Ela morreu no tempo dos problemas por coisas desse mundo. Eu mesmo nasci nele.. mas não posso por as fadas em risco por isso. Minhas obrigações como deus das fadas são grandes...
- Elfos são fadas? Nós? Moleque, eu andei com você antes de você ter espinhas. Quando eu vim pra cá fugida dos carolas de Lathander, achei que você ia nos ajudar. Aquele mundo é o seu mundo também.. você nasceu lá e não aqui, ou já se esqueceu disso também? - vociferou Volcana. - Aquele mundo é o mundo de todos nós. Meu querido Armil morreu por ele. É lá que está o corpo de Bahr Kokhba.. Nietzsche está lá!!!
- Mas a escuridão tá correndo solta lá, tia Volcana.. digo.. Volcana.. nem lua tem mais lá! O oeste está sendo coberto pela escuridão.. o leste está sendo coberto pelas garras vermelhas de Thay.. o sul envenenado por serpentes e o norte nas garras dos zhentarianos.
- Eu acredito que existe motivo para esperança. Se você puder nos ajudar, nós ainda temos chance de salvar tudo por lá. Eu sei que a situação parece sem solução, mas nós podemos conseguir. Existem deuses que morreram, mas também deuses que retornaram... existe gente trabalhando pelo equilíbrio.. Mielliki está lá.. Oghma.. Silvanus...
O deus das fadas parecia sensibilizado pelos os pedidos, tão sinceros, tão sentidos, que ele dominou seus temores. Ele se aconselhou com o gato que estufou o peito e soltou um longo miado. Olhando para o seu guardião, Timothy Hunter reuniu a coragem para dizer:
- Está bem.. talvez eu possa enviar alguns súditos para ajudá-los.. aqueles que aceitarem ir, é claro.. vocês podem fazer o que for possível.. mas saibam que nem por isso, as portas desse plano se abrirão aos que não são fadas. Se algo acontecer, você só poderá retornar guiado por Alissah.
- Alissah ficará aqui! - disse Ehtur Telcontar sem pensar duas vezes.
- Então, só poderá entrar guiado por uma das fadas.. sem problema.. eu preciso avisar meus aliados. Se puder me levar até eles..
- Eu posso colocá-lo em contato com eles, mas você terá de sair por Cormanthor.



Dentro dos muros de Suzail, a população retornou horas depois a se aglomerar e todos se concentraram diante do templo de Amaunthor. No alto do púlpito da grande pirâmide estava Daelegoth Orndeir, além de outros sumosacerdotes. Diante deles, à frente da multidão, estava Ryolith Fox que em seu mais fino traje aguardava a chegada de sua prometida Palas Atenas. A multidão tinha os olhos concentrados no paladino de Tyr e abriu caminho para a mulher que surgiu voando um metro acima do chão.
Palas vinha linda e graciosa até pousar ao lado do amado. Para Ryolith, mesmo todo o brilho da cidade era ofuscado pela beleza dela. Quando ela chegou até ele, deram as mãos e se postaram de joelhos diante do servo de Amaunthor.
- Irmãos, filhos da luz, estamos reunidos aqui hoje para celebrar a união de duas almas puras e imaculadas. Diante de vós, dar-se-á uma união capaz de multiplicar a bondade que nos cerca. São dois amantes que aqui se entregam aos deveres recíprocos do casamento, mas é também todo um povo que abraça esse laço como se fossemos uma só vontade. Pela benevolência reconfortante do sol eterno, desse enlace nascerá um novo dia, um novo tempo, um novo sol.
A multidão foi ao delírio com essas palavras e ele prosseguiu:
- Ryolith Fox, martelo de Tyr, campeão da justiça e da verdade, arauto do correto e impoluto, tu aceitas como tuas obrigações amar e defender essa mulher, cuidá-la e ampará-la, gerar e criar bons filhos, inspirar e conduzir pelo caminho de uma harmônica família?
- Eu aceito.
- Palas Atenas, espada de Tyr, campeã da justiça e da verdade, dama da pureza e da perseverança, tu aceitas como tuas obrigações amar e defender esse homem, cuidá-lo e ampará-lo, gerar e criar bons filhos, inspirar e conduzir pelo caminho de uma harmônica família?
- Eu aceito. - com as aquelas palavras, Ryolith também sentiu o aperto reconfortante dos dedos enlaçados deles. A multidão observava fascinada a luz caudalosa que se derramava deles, que apreciam agora o centro de toda a energia da cidade do sol. Essa energia positiva e purificadora os envolvia e crescia.
- Então, pelos poderes investidos a mim por Amaunthor, o sol eterno deste e de todos os planos, senhor que governa a vida, a criação e o destino, eu os declaro um casal, homem e mulher, esposo e esposa. Onde antes haviam dois, agora é como se apenas um houvesse. O que a luz do sol iluminou com sua benção, treva alguma será capaz de tocar. Pode beijar a noiva.
Sem mais esperar, já com o coração pululante, Ryolith Fox tomou em seus braços a amada Palas Atenas e a beijou como sempre sonhara fazer. E toda aquela luz expandiu-se gloriosa.



O planejamento sobre o que fariam e sobre a tal horda invasora não se definira por um longo tempo.
- Nós devemos aproveitar a invasão e no momento certo, pegar o cálice. - afirmava Xavier.
- Se nós fizermos isso, a cidade vai cair.. ser varrida. - discordava Falkiner.
- Não dá pra convencer essas pessoas? - ponderou Muadib.
- Você viu como tava antes.. olha essa gritaria.. estão dominados como nós ficamos - constatou Rock.
- Eu continuo não podendo entrar... - lembrou Sirius, mas foi interrompido pelas palavras que chegavam do espelho guardado na bolsa mágica de Francisco Xavier. Quando sacou o espelho, o mago se deparou com a imagem e a voz de Ehtur Telcontar:
- Tô voltando.. e com reforços...




10 de fev. de 2013

A casa do sol que se ergue...

Quando a última parte da comitiva de heróis chegou, eles logo passaram a discutir como deveriam proceder. Estavam a duas horas de caminhada da cidade luz, que parecia um sol nascente no horizonte a sul. Ryolith Fox não perdeu tempo com planejamentos e discussão, seguiu para a capital de Cormyr deixando as confusões de Sirius Black para depois. Ele estava determinado a fazer o que tinha de fazer. Daquela distância, todos podiam ver que uma bola de luz incandescente crescia e se erguia acima da cidade, mas ainda dentro da cúpula de luz formada pelo próprio brilho.
Percebendo que o lento mas determinado paladino poderia por tudo a perder, seus colegas resolveram que teriam de contornar o problema de sua insistente teimosia. Francisco Xavier resolveu usar de magia para acalmá-lo. Com uma sugestão mágica, o mago da Fortaleza da Vela convenceu o paladino de Tyr a esperar e não conversar com ninguém de fora do grupo. Puderam, então, retornar à discussão, onde Falkiner assegurava que deviam entrar abertamente e retomar o artefato, que afinal de contas pertencia a ele, Ryolith e Bibiana, que o haviam recuperado. A própria elfa garantia ao recém-elfo que os servos de Lathander nunca aceitariam isso. John Falkiner dizia que requisitariam o que era deles, mas os demais, como Sirius e Úrsula, defendiam a sutileza. Para alguns deles, no entanto, o problema passava por seguirem ou não as orientações de Lorde Byron.
Aproveitando que ficara por ali, Ryolith Fox investiu contra o notório ladino e criou uma zona de verdade, passando a pressionar Sirius Black a dizer o que sabia e o porquê de tê-lo abandonado. Qual era a ligação dele com Lorde Byron? Sirius tentou articular algumas palavras escorregadias e capazes de ampliar as possibilidades semânticas do entendimento, mas acabou deixando escapar o que realmente pensava. Ele viu sua língua magicamente solta contar que deixara o paladino por entender que ele ia atrapalhar tudo, entregá-los a Palas Atenas. Afirmou que não conhecia Lorde Byron mais do que qualquer um ali, tendo conhecido-o em Lua Prateada junto com o próprio Ryolith. Afora uma certa simpatia que parecia recíproca, ele apenas fora o primeiro a deixar o artefato, mas isso não significava conhecer mais dos planos do servo de Morpheus. Isso satisfez o servo da justiça por hora e ele deixou Sirius seguir para as sombras a que retornara sem o brilho de Selune. Faliner, por outro lado, percebia não sentir mais o poder de suas orações.
Sendo assim, eles seguiram para o sul assistindo de camarote à destruição que se alastrara pelo outrora próspero reino de Cormyr. Apesar de não verem sinal dos inimigos, todos entendiam quanta devastação fora causada àquelas terras. Ryolith Fox sentia a dor de ver sua pátria queimada e arrasada, tornada estéril e corroída pelas forças do mal. Cada cinza e cada lar multilado era como uma adaga cravada em seu peito, que nada pudera fazer pelos inocentes que haviam perecido. Quando estavam próximos, a maioria ficou invisível graças a Francisco Xavier, mas Ryolith Fox e John Falkiner preferiram seguir sem subterfúgios, mais que cidadãos de Suzail, heróis e artífices de sua salvação.


Enquanto os demais aguardavam, o martelo de Tyr, sem prestar atenção aos guardas, tentou abrir o portão. Todos viram que isso gerou protesto dos desavisados sentinelas, que antes pareciam entregues a orações dirigidas ao centro da cidade. Era claro para os ouvidos que toda a cidade estava entregue a um louvor transcendente e ritmado. Tudo aquilo combinava-se com a esfera de luz, que deixava a cúpula de luz protetora da cidade e ascendia como um segundo sol. A luz que se derramava chegava até os limites do reino marcados pelas montanhas ao norte e a oeste. Os guardas gritaram expulsando-os e logo esquecendo-os, pois estavam mais concentrados no cântico.do segundo sol. Por isso mesmo, bastou que se afastassem um pouco para Chico Xavier poder dar uma magia que abriu uma passagem na muralha da cidade. O túnel mágico cortava o corredor interno e saia do outro lado permitindo ver ainda melhor o brilho luminoso do âmago da metrópole. Rapidamente, todos atravessaram, com exceção de Sirius Black. Quando o salteador das sombras fincou pés naquela terra resplandescente, sentiu de imediato os efeitos negativos. A dor minava ininterruptamente suas forças. Preferiu ficar. Mesmo diante dos apelos, piadas e reclamações dos companheiros, ele preferiu ficar.
Os demais cruzaram parte da cidade rumo à praça central onde ficavam os templos, mas muitos antes já não havia como passar pela multidão. Quase como um enxame, incontáveis pessoas se agitavam entregues ao canto e a dança ao redor da praça, ocupando as ruas com uma algazarra ritmada e alegre. Os próprios heróis sentiam-se mais vivos, como se aquela força afastasse a fadiga e o desânimo. Sem instrumentos ou tambores, as vozes soavam como uma só, fazendo o próprio ar vibrar e ritmando o compasso de todos os corações. O grupo percebeu que não havia como passar e Ryolith atentou que podiam seguir por uma passagem secreta que ligava a sede dos Dragões Púrpuras com o Templo de Tyr.
Eles seguiram para o prédio dos guardiões da cidade e do rei, que encontraram vazio e silencioso. O martelo da justiça e membro da guarda abriu a entrada para seus amigos e confirmaram que não havia ninguém ali, fosse guarda, sentinela ou prisioneiro.  Aproveitaram para pegar algumas armas e foram para a passagem secreta. Ehtur Telcontar percebeu que aquele porão não era usado há muito tempo, ainda mais se tratando do túnel secreto.
O atalho os levou até a região central, permitindo o acesso ao templo de Tyr, senhor da justiça. A basílica estava apinhada de gente. Assim como os demais, os clérigos, paladinos e fiéis estavam entregues com fervor mais austero e comportado ao canto de adoração. Todos estavam direcionados para o templo do deus do sol. A proximidade permitiu acessarem uma acomodação anexa ao corredor, onde abriram uma janela e passaram a escutar a pregação. Da lateral da Casa da Justiça, não viram o mesmo templo de Lathander que conheceram, com a forma de uma bela fênix que se erguia do chão e parecia querer ganhar os céus. Havia em seu lugar uma pirâmide, maior que qualquer outro dos templos.
O grupo resolveu sair, mas não sem antes cobrirem-se todos com a invisibilidade de Xavier e Leila criar neles a habilidade de voar magicamente. Assim agrupados, eles voaram invisíveis buscando uma entrada alternativa, pois o pregador que falava ao povo estava diante do púlpito formado pela entrada frontal. Atrás dele estavam os principais sacerdotes dos deuses locais. Nenhum sinal do cálice com eles.
- Todos vocês que estão aqui viram quando eu ressuscitei todos aqueles que tombaram na batalha contra o Império das Trevas. Aqueles que morreram por nossa pátria luminosa. Vocês viram quando eu ergui a luz além de nossos muros e fiz de escravos aqueles que nos ameaçavam. Esses monstros terríveis que não merecem nossa humanidade - ia dizendo o filho do fogo, uma linhagem de humanos com sangue de elementais do fogo. - Vocês viram a luz, a verdade e o caminho perseverarem contra as trevas, contra a noite e contra a escuridão perpétua. Todos sabem que o poder de Amauntor, o verdadeiro e único senhor do sol cresce e logo cobrirá todo o mundo. Hoje, está nascendo aqui a semente de uma novidade da qual vocês são testemunhas, o Segundo Sol está nascendo aqui.. e muitos outros nascerão para lançar a vida em uma luz perfeita e perpétua. Nossos inimigos nos servirão, aqueles que recebem nossa luz nos pagarão o devido respeito e aqueles que estiverem conosco viverão o paraíso na terra.
A multidão foi ao delírio com aquelas afirmações. Todos pareciam tomados por aquele êxtase coletivo, mesmo que conduzido pelo homem como se este fosse um maestro. A menção a Amaunthor, antigo deus do sol de Netherill e a quem o cálice fora originalmente consagrado, não passou desapercebido aos ouvidos dos heróis com seu conhecimento sobre religiões.
- Parece que Lathander já era... - comentou Úrsula murmurando.
- Isso é impossível. Eu estive com ele a menos de 10 dias! - protestou Falkiner.
- Parece que Lathander já era a menos de 10 dias... - completou Telcontar.
Quando já estavam nos fundos da pirâmide, novamente Francisco Xavier invocou seus poderes para criar uma passagem mágica. Isso, porém, encerrou a esfera de invisibilidade. Todos correram para dentro, ainda podendo ouvir os protestos da multidão. Mirando alcançar o cálice, encontraram os corredores vazios e dobraram à esquerda. Ryolith tomou a direção contrária de seus companheiros, pois com a entrada naquele lugar sagrado, deixara de sentir o poder sugestivo de Xavier. Sem tempo a perder, os heróis desceram uma escada em busca do artefato. Ryolith acabou chegando a uma porta. Ao abrí-la viu que estava em um mezanino e que no amplo salão abaixo, adentrava a comitiva que ele vira diante do templo. No ponto oposto do aposento estava o altar e o cálice.
Enquanto seus amigos encontravam apenas as salas de treinamento e o depósito de armas, o paladino de Tyr não titubeou. Aproveitando a concentração de todos no eloquente sumosacerdote filho do fogo, Ryolith Fox se atirou na direção do artefato. Ele teria conseguido se alguém que ele buscava, mas não vira até então, não tivesse surgido diante dele. Palas Atenas. A espada de Tyr e major do Dragões Púrpuras não permitiu ao grande amigo passar. Logo, todos os olhares estavam sobre eles, mas o paladino deixou-se contagiar pela luz de tudo ali. A presença de Palas bastou para tranquilizá-lo.
O sumosacerdote de Amaunthor e seu cortejo de clérigos e fiéis dirigiu-se aos dois servos de Tyr, saudando-lhes a honra e a presença de espírito. Eram certamente bons servos da luz, seres de corações puros que deveriam prosperar nesse novo e brilhante mundo que surgia. Ryolith sentiu os dedos de Palas agarrarem-lhe pelo glúteo direito trazendo-o para perto dela, enquanto o servo do sol abençoava uma vindoura união. Ao povo do bem, as dádivas do bem, para que crescessem e se multiplicassem.
No alto do mezanino, o restante do grupo que havia encontrado o local após voltar e seguir os passos do paladino, resolveu se aproveitar da atenção de todos naquela celebração. Francisco Xavier moldou a parede de pedra com sua magia abrindo uma passagem fina e comprida, por onde o cálice poderia passar. Enquanto ele tecia as magias, os demais investiram no intuito de ganhar tempo. Rock dos Lobos conjurou uma mão de pura força mágica, mas ela não conseguiu retirar o artefato do altar. O filho do fogo ganhou os ares furioso com a ousadia dos heróis. Os ataques pouco efeito tiveram, mas foram suficientes para Xavier conjurar uma mão espectral, que era capaz de liberar magias de toque a longa distância. O lorde do sol derramou o poder luminoso do artefato sobre eles, clareando os pensamentos dos que se opunham a ele, encantando a todos e fazendo-os ver quão tolos estavam sendo. Por mais que suas vontades lutassem, parecia não haver como resistir àquela benção.
Antes que sucumbissem totalmente, no entanto, algo de extraordinário se deu. Duas pequenas fadas acompanhadas de um fauno dispararam uma chuva de setas que atingiu o sumosacerdote de Amaunthor. Se não foram capazes de derrubá-lo, ao menos quebraram sua concentração. Isso ganhou tempo para que Francisco Xavier conjurasse um teleporte. A mão espectral cuidou de levar o artefato e ele alcançou os aliados que pode: Úrsula, Falkiner e Muadib. Assim partiram os quatro e o cálice.


3 de fev. de 2013

A volta dos que não foram...


A alma de Sirius Black foi a primeira a perceber que algo se passava, como se alguém o chamasse de volta de um longo coma. Quando deu por si, o ladino de Selune estava vivo.. era alguém com um corpo novamente. Estava de pé e diante dele tinha dois homens deveras familiares. Lorde Byron empunhava na mão esquerda o Cetro de Lathander, tendo ao seu lado esquerdo o misterioso Paulo de Tarso.
- O que está acontecendo aqui? - disse Sirius percebendo que não estava mais de posse do artefato da deusa da lua, nem brilhava nele a resplandescente magia lunar com que se banhara.
- Mais uma vez eu vim salvá-los, meu caro. No entanto, não podemos perder tempo ou o senhor dessas catacumbas irá nos descobrir. Vamos..
Sem questionar, Sirius os acompanhou. Haviam quatro portas no pequeno aposento em que estavam. Paulo de Tarso abriu uma delas, que não revelava nada do outro lado. Ao atravessá-la, ele sumiu. Sirius fez o mesmo e surgiu em um local todo feito de fogo. Não era inóspito como o Abismo ou o Inferno, mas sim completamente inabitável, muito embora ele visse pássaros de fogo voarem pelo céu em chamas e grandes serpentes de fogo nadando em lagos de lava. Ele começou a sentir os efeitos nocivos do lugar, quando Byron surgiu e o tocou cobrindo com uma magia de proteção contra o fogo. Em seguida, o servo de Morpheus arrastou-os através de uma viagem planar de volta a Faerun. Após a vertigem, Sirius Black viu-se diante da Fortaleza da Vela.
Acompanhou Lorde Byron e Paulo de Tarso que dirigiram-se para aquela que era a maior casa de saber deste mundo. Ao contrário do que ele vivenciara quando esteve aqui há muito tempo atrás, os monges guardiões não os detiveram ou cobraram os livros valiosos para entrarem. Pelo contrário. Eles afastaram-se com um medo respeitoso. Assim agiram todos aqueles que eles encontraram pelo caminho, sempre abrindo caminho para Lorde Byron. Quando finalmente estavam acomodados em um grande e luxuoso quarto em uma das torres, o misterioso servo de Morpheus voltou a falar:
- Aqui estamos em segurança, ao menos por enquanto.. assim podemos libertar os demais que ainda estão aprisionados no artefato...
- O que houve com a luz de Selune que havia em mim?
- Foi absorvida pelo artefato de Lathander. O poder da lua que existia em você agora pertence ao deus do sol... mas agora permita-me concentrar-me, pois preciso invocar a graça de Morpheus para libertar seus camaradas. - E tendo dito isso, Byron passou a uma prece, que aos olhos e ouvidos de Sirius parecia uma magia de ressurreição. Foi preciso uma hora até que a luz se expandisse e tivessem diante deles Francisco Xavier. Desta vez, no entanto, não como um imorrível espírito de luz, mas sim como um homem de carne e osso.
- Pela sabedoria eterna de Oghma, que truque é esse?
- Seja bem vindo, meu amigo.. - tranquilizou-o Sirius com um abraço.
- O que aconteceu? Onde estamos?.. Eu conheço esse lugar...
- Você está em casa, mago. Mas é hora de observar e não de questionar. - disse Lorde Byron tornando às invocações. Mais uma série de preces, que os conhecimentos arcanos de Xavier sabiam serem um milagre divino, muito mais que uma mera ressurreição, trouxeram de dentro do Cetro de Lathander Leila Diniz. Assim como seu protetor, ela não carregava mais em si o peso da morte.. estava de todo viva. Incrédula, a feiticeira não conteve as lágrimas, que depois de tanto tempo pode voltar a verter.
Paulo de Tarso aproveitou o interregno para sair, tendo avisado antes. Uma hora depois, a nova magia de Lorde Byron não trouxe mais ninguém.
- Vocês eram os únicos que haviam? - questionou ele.
- Não.. estão todos aí.. Ehtur, Rock, Ryolith, Úrsula, Moadib.. apenas o que chamam Falkiner não foi capturado pelo artefato.
- Então será preciso mais que o poder de Morpheus para libertá-los. - Lorde Byron enfiou a mão em sua bolsa mágica e dela tirou um grande e largo tomo. O poder que emanava dele era perceptível até mesmo para um leigo completo. Bastou que ele folheasse as páginas e o próprio tecido mágico vibrou, de modo que todos ali souberam do que se tratava.
- O Tomo de Mystra! - exclamou surpreso Xavier. - Ele estava com você?
- Ele estava aqui o tempo todo, mago. Aqui na Fortaleza da Vela.
Sem perder tempo, Lorde Byron passou a ler o livro. No início, o idioma era dracônico, mas paulatinamente ia se tornando mais e mais arcaico, até que por fim, nem mesmo o amplo saber de Chico Xavier sabia o que ele dizia, embora Leila Diniz sentisse uma familiaridade nela, como se fossem suas aquelas palavras. Nâo souberam quanto tempo passou, mas ao fim dele, viram todos os seus amigos reencarnados diante de si. Todos ficaram satisfeitos por estarem vivos, nem todos ao saberem quem era o responsável por isso. Só então perceberam o sujeito escondido entre as cortinas, como um capanga vigilante. Crufiel deixou o esconderijo e juntou-se ao seu mestre.
- Agora que estão todos aqui.. as explicações podem começar.
Lorde Byron lhes contou que haviam se passado 3 meses desde que haviam sido derrotados pela clériga de Shar. Crufiel demorou quase todo esse tempo para encontrá-los graças às pistas que Morpheus lhes trouxera dos sonhos do Mago Louco. Se alguns deles podiam estar ali, era porque antes de encontrarem o fim terrível que a derrota lhes reservou, ele e Paulo de Tarso haviam alcançado a Fortaleza da Vela, se apossado do Livro de Mystra e completando o ritual que os trouxera de volta das Planícies Cinzentas sem ressucitá-los. Isso os fez de todo materiais, ainda que sequer tenham se dado conta, e criou as condições para que pudessem sonhar, morrer e reviver uma vez mais. Com o retorno de Morpheus e dos sonhos, ele lhes enviou esperança.
Além disso, se eles haviam falhado em destruir o altar e as trevas de Shar, outros haviam feito o serviço. O próprio príncipe das sombras Telamont, rei de Nova Netherill destruiu a essência de Shar, mesmo que isso tenha custado a total obliteração de Águas Profundas, transformada em uma colossal buraco negro de puro vazio. Com essa vitória e um poderoso exército, Nova Netherill expandiu suas fronteiras cobrindo as terras da Costa da Espada até o fim do Anauroch, dos limites da Grande Floresta ao norte até as proximidades de Suzail no sul. Em todo esse vasto império, a magia de Mystra não tinha mais lugar, como se o próprio tecido mágico tivesse sido destruído. Novas cidades sombrias e voadoras foram criadas.. o império não parecia encontrar adversários. Suas forças estavam agora concentradas contra Suzail, que não era a luz no fim do túnel que queria parecer. Os servos de Lathander foram intoxicados pelo poder.. o bem excessivo nebulou seus pensamentos. Se havia esperança, essa era retomar o cálice de Amaunthor e usá-lo como arma contra o coração de Nova Netherill, a capital e primeira das cidades voadoras.
- O artefato pertence a Suzail e a protege. Nós não podemos confiar em você, Byron. O bem não engana.. o bem salva! - protestou Ryolith Fox.
- O cálice não é um escudo, paladino de Tyr, é uma arma.. uma foice para ceifar o mal. - a explicação descambou para uma discussão e Francisco e Leila preferiram sair para encontrarem-se com seus superiores. Para findar o bate-boca, Lorde Byron preferiu usar suas magias para adormecer o paladino. Os demais que ficaram pediram ao servo de Morpheus que enviasse mensagens mágicas para aqueles que lhes eram caros. Ele explicou que isso seria em vão caso os destinatários estivessem nos territórios de Nova Netherill. Ainda assim, tentaram. Ehtur comunicou-se com Alissah, mas não obteve resposta. Sirius alertou Kiriani, descobrindo que ela estava em Lua Prateada e que as coisas não iam bem por lá, pois sem o mythal que fora destruído e com as forças de defesa que eram pequenas, não havia chance contra o império maligno das trevas. Mas se ele estava vivo, para ela Selune vivia. Ele tentou contactar Annia, que Úrsula disse ter visto em seus sonhos e que Daphne já lhe dissera estar viva, mas não obteve resposta. Úrsula falou com Déborah e ficou sabendo que Arnouxzinho estava bem, mas que estavam a abandonar Lua Prateada rumo ao norte. A arqueira matadora de magos avisou à viúva de Yorgoi que tinha pistas do paradeiro dele agora, pistas estas que corroboravam com um sonho que Deborah tivera, o mesmo que Rock. O bárbaro, por sua vez, enviou mensagem para Marissah, sem ter resposta no entanto. Ryolith mandou mensagem para Palas Atenas e também teve apenas o silêncio como retorno.


Enquanto isso, Francisco Xavier e Leila Diniz encontraram o Primeiro Leitor e o conselho de sábios reunidos e foram recebidos com grande satisfação. Todos no caminho já haviam ficado exultantes com o retorno deles. Além de entregar um livro raro que tinha guardado, Francisco Xavier explanou sobre tudo que se dera até então, questionando a posse do Livro de Mystra por Byron. Após a narrativa, o Primeiro Leitor lembrou-os de que haviam descumprido as ordens de retornarem de imediato e que isso estava relacionado com as dificuldades atuais. O Livro de Mystra sempre estivera ali e o papel deles fora o de manter as ameaças distantes. Agora, no entanto, o servo de Morpheus trouxera a ameaça para dentro do lar do saber. Foram alertados de como os problemas cresciam e que deviam se acomodar e esperar, retornando aos antigos afazeres.
- Eu me recuso a voltar a ser uma mera profetisa entorpecida trancada em uma torre! - protestou Leila Diniz. - Eu sou dona de meu destino agora.
- Vocês cumprirão as ordens que lhes cabem, profetisa. Eu assim proclamo. Comam, bebam e descansem, pois o vosso destino está na Fortaleza da Vela. - Sem ter como discutir, deixaram o salão de conferências.
Com a demora dos dois colegas, Sirius Black tentou deixar o quarto para encontrá-los, mas descobriu poucos passos depois, que sem a companhia de Lorde Byron, os guardas monges impediam que circulassem além do quarto. Resolveram entâo dormir.

John Falkiner respirava com prazer a brisa adocicada. Perdeu a conta de quantas vezes bebeu do rio de mel e cana que corria por ali. Sempre se alegrava quando colhia os frutos, vendo crescer outro no lugar imediatamente depois. Amou os belos espíritos de muitas mulheres, cantou com os espíritos de muitos homens, percebeu enfim que a eternidade era luminosa e gloriosa. Foi em algum momento desse contexto, que ele escutou uma voz familiar em sua mente:
- Falkiner? Você está morto? Onde está você? Suzail precisa de você.. eu preciso de você.. está tudo perdido por aqui..
- Estou morto, Bibiana. Minha alma encontrou a paz no reino de Lathander.
- Lathander? Você não servia a Kelemvor?
- Sim, mas o deus da morte me abandonou nas Planícies Cinzentas e o deus do sol amparou minha alma.
- Você precisa voltar.. as coisas estão terríveis aqui.
- Então, ressuscite-me.. - aceitou o clérigo. Ele chegou a sentir as energias que pareciam que iriam tragá-lo, mas ele percebeu que continuava no mesmo lugar. Um ser todo feito de luz aproximou-se:
- Não podes partir, servo da luz. Lathander não permitirá sua partida.
- Eu gostaria de falar com nosso senhor Lathander.. - e bastou que ele dissesse isso para que a figura bronzeada, máscula e apolínea de Lathander se fizesse presente.
- Diga, John Falkiner, o que lhe atormenta?
- Eu preciso voltar à vida, meu senhor.
- Infelizmente, isso é impossível, pois o trajeto de seu destino chegou ao fim. Assim sendo, força alguma é capaz de devolvê-lo a vida. Seu destino é seguir aqui e aproveitar a eternidade.
- Mas eu preciso voltar.. o mundo precisa de mim...
- O mundo sempre precisa de grandes campeões, meu filho. Mas seu papel foi cumprido e é hora da vida buscar outro campeão. Sua narrativa no livro de destino já encontrou seu ponto final. - e tendo dito isso, o deus do sol partiu.
Resignado e só, John Falkiner preparava-se para retornar ao descanso eterno, quando a voz de Bibiana tornou a soar em sua mente:
- O que houve? Não consigo trazê-lo de volta.
- Eu não posso voltar. Meu tempo em vida findou.
- Você precisa voltar.. não se deixe enganar por esses servos de Lathander. Eles estão escravizando e impondo uma tirania da luz em Suzail.
- Desculpe, Bibiana. Não há nada que eu possa fazer. O próprio Lathander me informou disso.
- Você está sendo enganado.. chame por Kelemvor.. fale com ele. Lathander não está sendo sincero...
- Eu falarei com Kelemvor e... - mal tinha pronunciado o nome de seu antigo deus, John Falkiner o viu surgir diante de si, com o mesmo manto cinzento e poido, com a mesma máscara de espelho que refletia o rosto do clérigo.
- Aqui estou neste local onde não sou bem vindo por teres me convocado, John Falkiner. Tu escolhestes me abandonar e agora me invoca...
- Eu chamei por você nas Planícies Cinzentas, mas não buscastes por mim..
- Isso porque seu coração já não estava mais comigo. Tu renegastes meus conselhos e minhas orientações em prol de outra verdade. Agora deve arcar com as consequências, enquanto eu pareço ser o único capaz de fazer aquilo que precisa se feito...
- E o que precisa ser feito?
- Cuidar da morte.. nem que seja para ver o mundo em que eu mesmo vivi, morrer! Não cabe a mim, como não cabia a você se prender aos vivos, mortal, mas sim pavimentar o caminho dos mortos e conduzí-los ao destino certo.
John Falkiner pensou em argumentar, mas antes que pudesse dizer algo, Kelemvor havia partido. Ele viu-se só uma vez mais naquele paraíso idílico. Suspirou desgostoso com tudo aquilo. Sentiu novamente as energias estranhas invadirem suas entranhas... Dessa vez, um instante depois, ele estava de pé em ruínas do que pareciam ser uma cidade élfica. Diante dele estava Bibiana Crommiel.
- O que? Mas como? Eu não podia voltar!
- Eu usei o poder de Corllon Larethian que vive em mim e a alta magia élfica dessas ruínas para invocá-lo. Nós estamos em Myth Dranor na floresta de Cormanthor. Três meses se passaram que estou buscando por sua alma.. agora podemos cuidar do que se passa em Suzail. É melhor nos teleportarmos, pois estas ruínas estão infestadas de phaerimms, demônios, mortos-vivos e membros do Culto do Dragão. - Enquanto a elfa terminava de falar, o clérigo percebia que havia algo de estranho e diferente. Suas mãos estavam mais esguias. Tocando o rosto, percebeu que estava mais fino, as orelhas maiores..
- O que há comigo?
- Ah.. eu não tinha nenhuma parte do seu corpo.. já fazia tempo.. não podia simplesmente ressuscitá-lo.. tive que reencarná-lo nesse corpo élfico, pois todo o meu poder está relacionado ao belo povo. - John Falkiner sentiu que demoraria a se acostumar com aquilo, mas pensaria nisso em outro lugar e em outro momento, pois Bibiana os teleportou dali. Eles apareceram em Sembia a leste de Suzail, onde poderiam se hospedar com alguma segurança e onde ela pode contar todos os problemas que a levaram a escapar de Suzail. Ele pensou que tentaria entrar em contato com seus amigos no dia seguinte.

Livres e vivos, uma vez mais, os heróis tornaram a trilhar o reino dos sonhos. Úrsula sonhou com seu pequeno Arnoux e Déborah sendo perseguidos, enquanto seguiam numa fuga que parecia em vão. Francisco Xavier contemplou um pergaminho em branco onde uma mensagem ia surgindo, muito embora ele fosse incapaz de compreendê-la à despeito de seus vastos conhecimentos.
Muadib sonhou com um imenso carvalho solitário na vastidão erma, de onde vinha o som ritmado de tambores. Ele viu o vulto sombrio de Rock no alto da imensa árvore, que disparou contra ele os espíritos agonizantes de seus familiares. Ehtur,por sua vez, sonhou mais uma vez com Alissah, ela estava ajoelhada diante de um garoto sentado em um trono, ao lado do qual estava um gato também em um trono. Ao redor dela voavam as duas fadas que ele já havia visto antes.
Rock viu sua contraparte de trevas vagando por uma imensidão gelada. Ryolith sonhou com Palas Atenas. Ela o acorrentava sem piedade, passando a torturar seu corpo com ferros em brasa, navalhas e ácido. Falkiner sonhou que estava deitado em posição fetal e estava unido a Bibiana por um cordão umbilical feito de luz. Ele ouviu uma voz masculina em sua mente quando ela se aproximou e após isso, sentiu o afago dela e a beijou.
Leila Diniz sonhou que caminhava pelas Planícies Cinzentas até que adentrou o reino de Kelemvor. Ali, ela encontrou o deus dos mortos em sua forma fantasmagórica, mas ao tocá-lo, ele fez-se homem, um belo cavaleiro de cabelos negros em uma armadura prateada e eles se beijaram. Sirius Black sonhou com uma escuridão total, de onde veio uma voz familiar, que ele pensou ser Selune, mas logo soube ser Shar, quando ela disse que estava satisfeita por ele ter voltado para ela.. que ele sempre havia pertencido a ela.

Os que acordaram na Fortaleza da Vela logo se deram conta de que Lorde Byron não estava por lá. Discutiram se não seria uma boa oportunidade para partir, quando enfim Xavier e Leila retornaram para avisar que não seguiriam com eles. Nesse momento receberam uma mensagem de John Falkiner, que alertou-os de que partiria rumo ao encontro deles, pois haviam complicações em Suzail com as quais deviam lidar. Enviaram então uma mensagem para o servo de Morpheus, que respondeu que esperassem, pois ele estava angariando recursos para auxiliá-los na missão vindoura. Sem ter outro jeito, esperaram.
Enquanto Falkiner e Bibiana teleportaram-se para o sul, surgindo a certa distância da grande biblioteca, os demais viram Byron voltar. Ele trazia consigo vários tomos que distribui entre todos ali.
- Eu conversei com os responsáveis por essa fortaleza e os convenci a nos ajudar. Mostrei ao Primeiro Leitor e aos conselheiros que não teriam paz mantendo essa pretensa neutralidade, enquanto forças fora do controle se espalham pelo mundo. Esses tomos mágicos irão engrandecer seus espíritos, tornando-os mais poderosos e capazes de salvar o mundo. Graças a mim, vocês terão a chance de expandir seus corpos e mentes. Serão preciso 6 dias para que completem a leitura, mas ao final disso estarão prontos para ir até Suzail e recuperar o cálice. - Tendo dito isso, Lorde Byron entregou um tomo a cada um deles, mas o paladino de Tyr não se convenceu.
- Eu não irei tirar o cálice de Suzail, Byron. Eu irei ter com Palas Atenas.. irei explicar a eles tudo que se passa e que se passou...
- Não despreze a ajuda que eu lhe estendo nesse momento difícil, senhor Fox. Eu não poderei acompanhá-los, pois meu destino é Halruaa, o grande reino mágico ao sul.
- Conveniente como sempre, não é mesmo? Sempre tendo uma missão em outro lugar.. eu não preciso de sua ajuda ou de seus presentes vis.. - Ryolith Fox atirou o tomo furiosamente no chão. Lorde Byron se abaixou e pegou o grande livro, guardando-o consigo.
- Se é assim que pensa, paladino.. siga com sua justiça cega. Aos demais, bons estudos.. recuperem o cálice e retornem à Fortaleza da Vela quando tiverem o cálice. Caso precisem de mim, enviem uma mensagem, muito embora eu talvez esteja além do alcance de vocês dessa vez. Boa sorte, meus caros.. - e com essas palavras o servo de Morpheus se foi.
Os demais iniciaram suas leituras. Francisco Xavier foi quem parou um pouco para liberar a entrada de John Falkiner e Bibiana Crommiel, precisando criar dois pergaminhos para pagar o preço da entrada. Durante seis dias, eles conversaram sobre os riscos que enfrentariam, depois de terem se surpreendido com o novo corpo do antigo servo de Kelemvor. Bibiana, uma vez mais, explicou o que se dera com os servos de Lathander.
- Há um novo sumo-sacerdote.. ele controla a todos como um rei agora.. a regente Caladnei.. os outros clérigos de Lathander.. até mesmo Palas Atenas.. Eles começaram escravizando os orcs e trolls, mas logo passaram aos criminosos humanos.. e depois passaram a adquirir escravos das cidades do sul. A luz do artefato os cegou.. estão obcecados e intoxicados com o poder. Quando eu era a única voz que restava de oposição, tentaram me silenciar e precisei fugir. O poder do Senhor dos Elfos que vive em mim me manteve à salvo.
- Quer dizer que Palas Atenas virou uma escravocrata? - provocou Sirius Black. - Quem diria, não é mesmo Ryolith?
- Eu não acredito nisso... - protestou o paladino.
- É verdade Ryolith.. eu vi.. - insistiu a elfa..
- Você duvida de Bibiana?
- Eu acredito em você, Bibiana, mas deve haver outra explicação.. eu preciso conversar com Palas.. tenho certeza que ela me dará uma boa explicação...
- Eu também preciso de respostas, meu amigo.. - disse Falkiner tentando consolá-lo - Mas fomos nós que recuperamos o artefato.. devemos reclamá-lo por um bem maior e...
- O artefato pertence a Suzail, capital do grande reino de Cormyr!!! - protestou Ryolith Fox pondo um ponto final à discussão.
Durante aqueles dias, eles aproveitaram para realizar algumas pesquisas, preparar suas magias, além de estudar os tomos encantados. Ao fim do processo, sentiam os efeitos benéficos que pareciam ter transformado o âmago de seus seres.
Quando estavam prontos pra partir, dividiram-se em três grupos que partiriam simultaneamente: Francisco Xavier, que levaria Sirius Black, Úrsula e Ryolith; Leila Diniz, que levaria Rock e Muadib; John Falkiner, que levaria Bibiana e Ehtur. No momento derradeiro, no entanto, Sirius Black largou de Ryolith, deixando o paladino para trás. Os dois primeiros grupos sumiram, mas a magia de Falkiner falhou, permitindo que ele levasse o enfurecido paladino com eles...