30 de jan. de 2013

Prólogo



Shar caminha triunfante sendo parte de todas as trevas que haviam naquele templo profano, bem como encarnada no corpo de sua fiel serva Roberta. Ali seria o local da vitória esperada desde o início dos tempos, o local a partir de onde toda a realidade seria obliterada. A Senhora da Escuridão e Dama de Todas as perdas fizera o necessário para contornar a falha no ritual que lhe sacrificaria a jovem elfa. Mesmo diante de tal problema, se o mundo não poderia ser desfeito de uma só vez, que fosse aos poucos, como um câncer que cresce e devora a vida. Ela sentia a dor constante causada pelo artefato insignificante em suas mãos. Aquele singelo raio de luz de Lathander empunhado por alguém de coração puro poderia ter atrasado seus planos, mas Aquela que Tudo já Foi e Tudo Seria não poderia ser derrotada por criaturas tão débeis, por esforços tão tímidos, por uma vida já por si só tão decadente. Se o incômodo restava entre seus dedos de trevas e carne, o cetro de Lathander sofria muito mais, mas não por muito tempo.
No fundo do amplo aposento, preso sobre um altar, crucificado como alguém que morrera para pagar pelos pecados da humanidade, estava Halaster Mantonegro, o arquimago insano que governava as masmorras Sob a Montanha. Ele parecia inofensivo e mantido vivo apenas como um brinquedo para os caprichos da deusa de todo o mal.
- Veja, Mago Louco. Não foi você quem disse que se você caía, outros viriam para me derrotar? Onde estão eles? Espere.. eram esses míseros lacaios da sorte os heróis intrépidos que salvariam o mundo? Estes que jazem aprisionados na própria arma com que pretendiam esmagar minhas inocentes trevas com sua luz assassina? Pois saiba que a poeira de seus corpos jaz aos meus pés e suas almas vão ser destruídas juntamente com esse fútil consolo do sol. Você perdeu, Mago Louco.. sua senhora, Mystra, perdeu.. minha amada irmã Selune perdeu.. todos perderam... Toril será destruída e eu terei de volta tudo que me foi tomado!!!
Subitamente, no entanto, Halaster abriu os olhos que não escondiam a insanidade que habitava sua mente e que sempre impedira os deuses de lerem seus pensamentos. Sem dizer palavras alguma, ele atirou-se sobre ela como se pudesse tê-lo feito a qualquer momento. Suas mãos velhas e enrugadas tocaram o artefato do sol e libertaram-no das trevas que o cobriam. Sem a dor aguda e desagradável, a Senhora da Escuridão recuperou a plena consciência própria dos deuses, permitindo a ela saber inclusive o que aconteceria a seguir. O arquimago Halaster Mantonegro sumiu imediatamente, antes que qualquer coisa pudesse ser feita, recebendo do cetro de Lathander o poder para usar a magia de Mystra naquele antro de Shar.
Roberta e Torpinson foram os únicos mortais em toda a existência a testemunhar a frustração da primeira dos deuses e sobreviver. Isso não significou escapar à dor.. uma dor que os lapidaria a não falharem no futuro. Todo aquele ódio expandiu a escuridão e reverberou pelo Plano das Sombras.
Perto dali, ainda que além do alcance imediato das trevas de Shar, Halaster Mantonegro surgiu no salão de reunião onde se encontravam seus aprendizes. Todos urgiram preocupados e submissos, mas o Mago Louco os expulsou com palavras ásperas e terríveis. Afastando-os e sem tempo a perder, ele dirigiu-se para uma porta, que depois de aberta deixou correr uma colossal pilha de incontáveis objetos.
- O que busca, mestre? Podemos ajudá-lo?
- Cale-se seu imbecil paquidérmico de abissal grandeza. Você Sabe Quem estará aqui a qualquer momento se puder sentir isso que trago em minhas mãos. Aqui está.. finalmente! - Com essas palavras, Halaster Mantonegro uniu ao Cetro de Lathander um bastão de cancelamento. O item mágico não só cancelou todos os atributos e rastros mágicos do artefato de Lathander como impediria que qualquer meio de busca ou divinação o encontrasse. Não parecia importar ao senhor das masmorras Sob a Montanha que tal ato também prendeu as pobres almas que jaziam no interior do artefato em um limbo perpétuo.


John Falkiner soube que estava morto e aquelas eram as Planícies Cinzentas, afinal de contas não era sua primeira viagem àquele lugar, que a maioria via apenas uma única vez. Dessa vez, no entanto, tudo estava calmo e pacífico. Nada de hordas infernais capturando almas aterrorizadas. Haviam apenas alguns poucos e esparsos grupos de almas que clamavam por suas divindades. Chamou-lhe atenção a maior concentração que eram de elfos clamando por Corellon Larethian, senhor dos elfos.
O clérigo se pôs a chamar por Kelemvor, deus da morte, enquanto via alma após alma ser resgatada pelo brilho de seus deuses, em geral bons ou netros. Apenas os elfos, assim como ele, iam ficando. Muitos dos que partiam eram servos de Chauntea e outras divindades da natureza. Falkiner resolveu então avançar caminhando até a muralhas das almas falsas e condenadas que divisavam o reino dos mortos.
Pelo caminho inóspito, cruzando entre os espíritos suplicantes, ele viu surgir entre os brilhantes símbolos sagrados das divindades, o sol radiante de Lathander. Antes de partir, após recolher seus fiéis servos, o patrono dos nascimentos e do amanhecer chamou-o:
- O que faz aqui esquecido e abandonado, campeão do bem? Tu que fostes puro para empunhar meu cetro caminha sem destino. Onde está seu deus dos mortos para ampará-lo e cobri-lo com as glórias de que és mais do que digno? Venha comigo de coração aberto e recebas as recompensas eternas que mereces.
John Falkiner, ex-servo de Kelemvor, que já tinha aceito o poder de Lathander em vida no momento derradeiro desta, aceitou a oferta e sua alma, enfim, encontrou o descanso eterno.


24 de jan. de 2013

No coração das trevas...

Enquanto tentavam se manter na água, com mais ou menos dificuldade, todos percebiam o quão distantes estavam de Águas Profundas. Mesmo os botes que haviam no caminho estavam por demais distantes e não rumavam para a escuridão e sim para o sul. Foi então que todos começaram a escutar uma série de mensagens mágicas cada qual com um destinatário.
- Onde estão vocês, por Corellon? Estão sumidos a três dias! O sol não é tão brilhante assim. Há algo de errado com esses servos de Lathander... - as palavras de Bibiana Crommiel se dirigiam principalmente a John Falkiner, mas também a Ryolith Fox. Entretanto, o paladino de Tyr acabou por não ouvi-la, pois foi destinatário de uma ordem de Palas Atenas:
- Martelo Fox, retorne imediatamente a Suzail. Novas ameaças se apresentam e as tropas devem permanecer mobilizadas. Retorne com o prisioneiro imediatamente!
- Onde você está? - foi o questionamento dirigido à druida Daphne. Ela escutou a voz do velho druida Costeau da Grande Floresta. - Há uma convocação para guerra em todas as cidades próximas! Não me diga que está com os vagabundos! Retorne imediatamente!
- Aconteceu algo com nosso vínculo, eu não sinto mais você. Se escutar essa magia, me responda. Estou em Evereska. Saudades, Marissa. - foram as doces palavras de Marissa Stardust que chegaram aos ouvidos do bárbaro Rock dos Lobos.
- Voltei para Lua Prateada com Dorgafal devido aos neonetheres. Não pude esperar. Espero por você lá, escolhido de Selune. - foram as palavras de Kiriani que chegaram aos ouvidos de Sirius Black. Úrsula, por sua vez, escutou um recado de Deborah, protetora do pequeno Arnoux.
- Movimento estranho na região, sopram ventos de guerra. População fugindo. Estamos abandonando Brasillis e indo para Lua Prateada.
Ehtur e Muadib não receberam mensagens que todos pudessem ouvir, assim como Leila Diniz. A feiticeira da Fortaleza da Vela, no entanto, recebeu uma mensagem apenas em sua mente, que parecia endereçada a ela e ao imorrível Chico Xavier. Sem a presença do fantasma de luz foi só ela quem soube das palavras do Primeiro Leitor:
- É hora de retornarem para casa, com a graça de Oghma. Tragam com vocês o sumosacerdote Gugle Ciahbe. Devemos nos proteger.
Enquanto a lich silenciosamente refletia sobre o que ouvira, Ehtur e Muadib escutaram um pouco de cada coisa, um tanto mais aqui ou ali, além de ouvir as respostas de seus colegas.
- O mal paira sob Águas Profundas, precisamos salvá-la, logo voltaremos a Suzail. Proteja o artefato. - foi a  resposta de John Falkiner.
- O mais breve possível estarei de volta. Aqui a situação está crítica. O crime já não é mais, Ehtur não é mais um criminoso. - alertou Ryolith Fox.
- Problemas sérios paraíso. Repercutindo nosso mundo. Fui sacrificado para resolver. Não funcionou. Voltei para destruir clone sombra no abismo. Demônios usando meu poder preciso... - e não haviam mais palavras para Rock completar sua mensagem.
- Luz Selune ainda brilhará. Estamos artefato Lathander. Alto-mar distante Águas Profundas. Difícil chegar cidade. Seguimos plano ritual. Baixar pau prostituta das trevas. Beijos me liga - respondeu Sirius à serva de Selune que lhe trouxera o artefato.da lua.
- Estamos em Águas Profundas. Cidade tomada pela escuridão. Arnoux se encontra com Rhange Hesysthance. Yorgoi não sei. Siga bem jornada. Cuide Arnouxzinho, confie Agente Matoso Lua... - também faltaram palavras para Úrsula completar sua mensagem para a viúva de Yorgói.
Leila Diniz respondeu apenas com seus pensamentos, mantendo o recado em segredo:
- Chico Xavier não está comigo. Estou em alto-mar perto de Águas Profundas. Preciso de ajuda urgente. A Fortaleza da Vela corre perigo.
Mal haviam terminado de enviar suas respostas mágicas, súbita e inesperadamente, viram-se agarrados pelas pernas. Ehtur, Sirius, Ryolith, Daphne, Rock e Falkiner sentiram as mãos imensas e escamosas segurá-los com força. Apenas o servo de Kelemvor viu-se livre, liberto graças ao cetro de Lathander, que além de derramar sua luz solar, passou a gritar ideias na mente do clérigo:
- Eu sou o Cetro do Sol, bastião do poder do Senhor do Amanhecer. Quem é você que me empunha, clérigo?
- Eu sou John Fallkiner! - retrucou o clérigo em seus pensamentos.
- John.. não me parece um nome muito especial e..
- Me chamam de Falkiner...
- E a quem você serve?
- A Kelemvor, senhor dos mortos e da morte.
- Deus da morte? Isso nada lhe trará, clérigo.. abrace o poder do nascimento.. da vida.. a fonte primitiva e gloriosa da existência...
Os demais foram puxados muitos metros para o fundo do mar. Ryolith Fox usou da força para soltar-se. Daphne transformou-se em um enorme tubarão não cabendo mais nas garras do que a agarrara, nadando pra ajudar o paladino. Ehtur, Sirius e Rock atacaram as mãos do que pareciam ser enormes kuo-toas, versões monstruosas dos menores. Além disso, graças a luz de Sirius e do cetro, viram que circulavam por ali 3 aboleths. Reconheceram o imenso aboleth que havia escapado.. o menor dos três. Foram as três criaturas das profundezas que assaltaram mentalmente o restante do grupo, dominando primeiro Muadib. Úrsula e Falkiner resistiram, enquanto a mente morta-viva de Leila Diniz mostrou-se imune a tal ameaça.
John Falkiner sem esperar mais e percebendo a hesitação de Leila Diniz, levou a todos, mesmo o bárbaro dominado, através de uma porta dimensional, na direção de seus colegas. O servo de Kelemvor alcançou os camaradas agarrados que podia e teleportou-se para salvar a todos, mas sua magia acabou anulada por um dos aboleths. Leila Diniz imediatamente tentou cancelar a magia do inimigo, mas o poder era grande demais. Nesse momento de desespero ressurgiu o espírito de luz Francisco Xavier.
Mesmo que Sirius Black tenha conseguido ser o único a perfurar as grossas escamas dos leviatãs kuo-toa, ele, Ehtur e Rock acabaram engolidos pelos monstros, que voltaram a buscar as profundezas. Daphne e Ryolith subitamente desapareceram, sem explicação. Muadib, servindo aos seus dominadores, atacou John Falkiner com uma enxurrada de espadadas, aumentando os problemas do portador do cetro de Lathander. Leila buscou o auxílio de seu guardião, contando-lhe da mensagem da Fortaleza da Vela. Os aboleths aproveitaram para lançar magias necromânticas de efeitos de morte, que teriam ceifado a vida de todos ali, não estivessem sob a proteção da energia do artefato.
Mesmo esmagado e consumido naquelas entranhas, o escolhido de Selune não esmoreceu e rasgou o interior do monstro rumo ao exterior. Graças ao seu talento com adagas, conseguiu isso prontamente, enquanto Ehtur Telcontar e Rock dos Lobos demoraram mais. Com a escapada de Sirius, sem mais esperar, Leila Diniz levou-o com ela, deixando Chico Xavier para auxiliar os demais. Apareceram na praia próxima às trevas que cobriam Águas Profundas, onde avistaram Ryolith caído na areia, sozinho. Não havia sinal de Daphne. A escuridão crescera bastante e já tocava o mar.
Sirius aproveitou para usar de uma varinha mágica e se curou, enquanto Leila chamava pelo paladino. Enquanto isso, Falkiner e Úrsula também acabaram dominados, passando a obedecer aos aboleths assim como Muadib, apenas Xavier permanecia consciente de seus próprios atos. Ehtur finalmente conseguiu sair das entranhas da criatura, retomando sua lança e guardando a adaga. O guardião via que estava muito no fundo e preservou o ar para subir, justamente quando surgiu o dragão negro atacando kuo-toas e aboleths. O ácido jorrou borbulhante e ferindo os inimigos. Estes focaram sua atenção no dragão e a batalha foi feroz, com ácido e tentáculos para todos os lados. Ehtur concentrou-se em subir, enquanto percebia que seus colegas acima tomavam o rumo inverso.
Depois de acordarem Ryolith Fox, que não sabia o que poderia ter acontecido com Daphne, Leila teleportou-os de volta para o mar. Sirius aproveitou para usar uma porta dimensional e aparecer contíguo a Falkiner. O ladino da lua pegou o cetro do sol e levou Falkiner. O clérigo tentou atacar o amigo por estar dominado, mas Sirius o nocauteou com um golpe não letal. Depois, guardou o artefato em sua bolsa mágica. Lá embaixo, foi a vez de Rock dos Lobos conseguir escapar. Ehtur tentou resgatar Úrsula em sua rota de fuga, mas as complicações da batalha entre o dragão negro e os aboleths o impediram. Perdendo um dos seus e todos os seus servos kuo-toas, os aboleths prefiram escapar com um teleporte. Leila tentou impedi-los, mas uma vez mais o nível do poder era assombroso e ela não teve sucesso. O dragão aproveitou para apagar o domínio mental sobre Muadib e Úrsula, largando-os na superfície. Ali os deixou e partiu para os domínios Sob a Montanha.
Depois de um longo e fatigante tempo, conseguiram estar todos reagrupados na praia. Sirius restituiu o artefato ao clérigo de Kelemvor.
- Vamos, Falkiner. Avancemos contra essas trevas. Eu serei capaz de esmagá-las.. dizimá-las.. trazer a luz onde ela falta. É hora, avancemos. O poder de Lathander não pode esperar.
- Eu preciso descansar.. todos precisamos. Precisamos recuperar nossas forças...
- Está bem.. está bem.. mas andem logo com isso.. - queixava-se o artefato na mente do clérigo. Ehtur, Muadib e Úrsula garantiram o descanso dos camaradas. Enquanto eles sonhavam, trio se revesou na guarda, também sonhando um pouco. Todos sentiram que aquilo tinha algo haver com Morpheus, pois a mais de um ano ninguém sonhava. Apenas Muadib considerou que aquilo se devia a ter escapado da masmorra sob a montanha.
Falkiner sonhou com um sol escaldante sobre Suzail. Havia um enorme tempo que parecia querer tocar o céu e um homem sentado no topo. Ele tinha a pele morena e cabelos negros compridos, usava um cetro e uma coroa. Ele parecia oprimir tudo que sua luz tocava, poderoso como um sol muito acima de tudo mais. Ryolith Fox viu uma cena muito parecida, mas sua atenção era dominada pela figura de Palas Atenas torturada por tudo aquilo.
Sirius, por sua vez, viu-se diante de Selune, a deusa da lua. Curiosamente, ela não parecia com o que Sirius esperava. Lembrava-o muito de sua mãe, mas mais jovem, lembrava-o de uma prima com quem trocara beijos certa vez, mas mais velha. Parecia ter um pouco de todas as mulheres que conhecera.
- Eu sou a Deusa da Lua que ainda vive em você, Sirius. A energia que o banhou. Lembre-se sempre que a luz do sol trás a vida, mas a luz do sol também queima e mata em demasia. A luz da lua, por outro lado, guia na escuridão.
Úrsula, em seu sonho, viu através dos olhos de Arnoux, que estava aprisionado em uma gema vermelha em um cajado de Rhange Hesysthance. Ela reconheceu outros vultos, embora sem ter certeza de quem eram.
Ehtur sonhou com a Grande Floresta. Com o carvalho e com sua amada Alissah. No curto tempo que teve, o guardião a viu conversando com dois pequeninos pixies, que pareciam trazer boas notícias animados que estavam.
Rock sonhou com o inferno uma vez mais. Dessa vez, via pelos olhos de Yorgói aprisionado numa gema encrustada no cetro de Orcus. Dali ele viu os hardas infernais e abissais marcharem contra os Sete Céus através do portal invocado por sua contraparte sombria. Tudo no entanto falhou quando o portal se desfez junto com Kcor.
Muadib teve um pesadelo com uma chuva de demônios que varriam as planícies e florestas do norte. Ele via sua tribo, seu povo, seus irmãos e irmãs sendo massacrados por criaturas de pesadelos. Fogo e enxofre se derramava parecendo exterminar tudo o que era vivo. Ficou feliz de ter de acordar para lutar contra aranhas sombrias que haviam surgido das trevas.
Leila Diniz e Francisco Xavier, que não podiam sonhar por não estarem vivos, mas que precisavam concentrar-se para recuperarem suas forças mágicas, receberam nova mensagem da Fortaleza da Vela mais. Uma vez mais, O Primeiro Leitor os convocava a retornarem imediatamente.
Depois de algumas horas, John Falkiner convocou Thunder a mostrar seu verdadeiro poder. Mesmo sem gostar do nome, o Cetro de Lathander instigou o clérigo a avançar contra a escuridão. O campeão de Kelemvor conseguiu chegar até o perímetro da escuridão, lançando a luz 18 metros adiante.
- Use sua fé, clérigo. Invoque o poder divino e minha luz crescerá. - Falkiner assim o fez e a luz ampliou-se até o dobro do tamanho. Assim, todos puderam avançar cercados por aquela luz, sendo que Sirius Black sentia seu brilho lunar ampliado por aquela força, assim como Chico Xavier. Conseguiam ver os seres de trevas esgueirando-se no limite da luz. Depois de alguns passos, eles atiraram-se sobre o grupo, mesmo que a luz os queimasse e ferisse. Eram Sombras da Noite, seres feitos de puras trevas e energias negativas, certamente mais fortes naquele antro de trevas, pensou Ehtur Telcontar. Aquelas eram Asas Noturnas, a forma mais fraca, mas uma bastava para varrer uma pequena cidade.. havia uma dúzia delas. O cetro de Lathander desejou loucamente destruir aqueles inimigos. O grupo atirou-se à batalha, imaginando o longo caminho que ainda teriam até a passagem pelos esgotos até Porto dos Crânios onde poderiam acabar com tudo aquilo.
- Por que perder tempo com isso? Vamos até o centro da escuridão.. ao cerne do mal. Não estou aqui para esmagar lacaios. - Bastava o toque de Thunder para que os seres de trevas explodissem em luz. No entanto, o avançar revelou que infindáveis inimigos haviam.
- A entrada está distante ainda.. - respondeu Falkiner percebendo que aquelas hordas de trevas tomaram-lhes tempo demais.
- Pois teleportem-se para o lugar! Onde está o poder de sua fá, clérigo? Você devia abraçar o poder luminoso de Lathander! - Com aquelas palavras do artefato em sua mente, John Falkiner alertou seus camaradas e eles dividiram-se em dois grupos cada qual ligado a um dos teleportadores. Leila Diniz acabou levando Sirius, Chico e Rock para o que parecia ser uma biblioteca. John Falkiner teve mais sucesso e levou os demais para outra escuridão. A área iluminada por Thunder permitia ver que estavam em Porto dos Crânios.
Eles avançaram o mais rápido que podiam, mas logo viram o caminho impedido por outra Sombra da Noite. Muito maior que as anteriores, essa era uma Andarilha da Noite. Sem hesitar, o grupo avançou e uma vez mais, o Cetro de Lathander demonstrou seu poder destruindo a criatura. Esse tempo foi o suficiente, para que Leila Diniz corrigisse o primeiro teleporte e trouxesse o restante do grupo para Porto dos Crânios. Eles aceleraram o avanço até a taverna de Torpinson. O prédio estava cercado de dezenas de Andarilhas da Noite. As criaturas esgueiravam-se por todo o prédio como se estivessem prontas a proteger a fortaleza com seus próprios corpos.
Através de portais dimensionais, o grupo evitou a batalha e urgiu para o templo de Shar, que havia nas cavernas atrás da taverna. Onde quer que tenham surgido, a escuridão era total, Nem mesmo a luz solar do artefato ou lunar de Sirius brilhava e isso revelou que estavam no lugar certo. Eles sentiram a presença tenebrosa que trouxe calafrios às suas almas.
- Eu sou a senhora da escuridão, eu sou a noite e a força primeira de tudo que já não será mais. Eu sou Shar, o início e o fim. Vocês reles mortais julgam-se capazes de impedir meu plano? Minhas trevas se espalharão até cobrirem toda Toril. Vocês pagarão por tal ousadia.. - com aquelas palavras, todos sentiram o toque frio da morte. Entrentanto, uma vez mais, o Cetro de Lathander salvou suas vidas, mesmo que a luz não brilhasse mais.
- Atacar!!! - gritou Thunder na mente de todos. Eles investiram com seus melhors ataques, mas viram que a magia não funcionava, como quando estavam envoltos pela luz do cetro. Seus golpes pareciam incapazes de alcançá-la. Para piorar, perceberam que Estevan Torpinson estava lá e também se pôs a atacá-los. O artefato clamou em suas mentes para que concentrassem a fé naquela investida:
- Acreditem.. depositem em mim sua fé. Acredite, clérigo. Abrace Lathander e seu poder crescerá. Aceite a luz do sol em seu coração e terás o poder necessário para findar essas trevas e esse mal.
- E.. eu.. eu aceito. - disse John Falkiner renegando seu antigo deus e aceitando lathander como seu noovo senhor. Um brilho curto e fulgaz como o de um vaga-lume permitiu a todos verem o clérigo de Lathander john Falkiner atirar-se sobre a mulher de trevas. Entre as sombras dançantes, eles viam a clériga Roberta possuída pela mais antiga das deusas. Ryolith Fox acompanhava o amigo clamando para esmagar aquele mal. John Falkiner viu-se agarrado pela Senhora da Escuridão, que tomou-lhe o artefato após ele falhar em atingi-la e ceifou sua morte sem que ninguém pudesse salvá-lo dessa vez.
Rock clamou por Malkizid e acabou transformando-se em pura energia que foi absorvida pelo artefato. O mesmo destino teve o luminoso Chico Xavier buscando engrandecer as forças do artefato. Leila Diniz caiu depois tendo os restos de sua alma sugados por Thunder. Ryolith Fox concentrou sua fé na justiça e alcançou o artefato ainda nas mãos do avatar de Shar. Embora o artefato clamasse para ele aceitar Lathander, foi por Tyr que Ryolith Fox baixou o cacete na Prostituta Primordial. Sem conseguir tomar-lhe o cetro, o paladino viu-se destruído, mas sua alma também foi sugada pelo artefato.
Restavam apenas Sirius Black, Ehtur Telcontar, Úrsula Suarzineguer e Muadib. Sirius investiu para tomar o cetro das mãos da irmã gêmea da deusa que vivia nele. Ignorou as bravatas de Thunder e também fracassou em tomá-lo de Shar. Enquanto seus aliados combatiam Torpinson, o escolhido de Selune também foi morto, tendo sua alma absorvida pelo artefato. Úrsula não alcançou o cetro antes de perecer, Ehtur tocou-o mas não tirou das mãos da Senhora da Escuridão, tendo o mesmo destino e foi Muadib, quem menos entendia a causa de tudo aqui, quem tomou o Cetro de Lathander. Shar alvejou-o com seu poder de morte e destruição, mas o guardião bárbaro da tribo do Fantasma da Árvore resistiu com a ajuda dos espíritos de seus colegas. Confiante na vitória, ali já sozinho, ele ergueu o Thunder para atingir o mal à sua frente, mas foi Torpinson quem o acertou com o poder das trevas de Shar. Muadib caiu morto e sua alma também acabou capturada pelo artefato.
- Acabou! Eu venci! - Shar ergueu o cetro de maneira triunfante, deixando suas tevas açoitarem o artefato derrotado.






9 de jan. de 2013

Amor ou armadilha

Arnoux Suarzineguer não podia dizer que aquilo era o que ele pretendia em se tratando de estar por dentro do dinheiro. Mas ao menos era melhor do que viver nas entranhas do maldito phaerimm que sugou sua alma. Aquilo o tragou e foi como um piscar de olhos.. como deixar de existir.. como morrer, mas pior. E então ele surgiu.. ou ressurgiu.. quer dizer.. viu-se sendo alguma coisa de novo, mas dessa vez, contido numa pedra vermelha.. um rubi, ele imaginava, dado o grande valor da alma a ser guardada.
Só fazia pensar em Úrsula e em seu filho.. já teria nascido? Como estariam? Com ele preso, quem estaria protegendo a indefesa Úrsula? É claro que ela sabia disparar algumas flechas, mas sem ele para defendê-la do mundo o que seria dela? Era tudo culpa dele.. foi ele quem a roubou de sua família, de sua comunidade e de sua vida pacata com promessas de amor eterno e emoções sem igual. Acabou deixando-a grávida e no meio de uma guerra de elfos e monstros devoradores de magia.
Pelo mundo refratado na gema, o gnomo pôde enxergar o mundo lá fora. Não sabia quanto tempo se passara, mas reconheceu o excêntrico mago Rhage Hesysthance Sorrowleaf. Ele olhou a gema por algum tempo antes de cravá-la em seu cajado.
Já havia algum tempo que Arnoux estava ali, embora fosse difícil precisar o tempo nessa prisão. O marido e protetor de Úrsula via muitas coisas e as vezes até escutava algumas coisas que o arquimago élfico falava, embora não entendesse a maior parte. Foi em um dia desses, em que as coisas pareciam agitadas e tudo movia-se bastante no espectro da gema, que Arnoux viu chegar próximo deles uma dupla estranha, um dos quais lhe parecia familiar.
- Eu não estou surpreso com essa visita, Byron.
- Eu o avisei dela há muitos anos, Rhange.
- Como vê.. as coisas estão melhores do que você previu, meu caro. Nem mesmo seu pequeno grupo de aventureiros foi capaz de mudar as coisas...
- Melhores para quem? Para nosso velho amigo Azrael Sulivan?.. Para sua esposa Isabeau?.. Para o bom povo de Soubar?.. As coisas não parecem bem, Rhange... para os habitantes que restam em Águas Profundas certamente não vão bem. Para mim.. um espírito encarnado ambulante.. estão longe do ideal. Nunca tive um grupo de aventureiros.. Rock, Sirius, Daphne e os demais fizeram o que destino esperava deles...
- Rock, Sirius e Daphne? - Estes nomes despertaram a total atenção de Arnoux na esperança de notícias de sua esposa Úrsula.
- Certamente não estão bem para Morpheus.. como pode ver, contratei seu antigo pessoal.
- Crufiel sempre fez o que precisava ser feito. O retorno de Morpheus está próximo.
- Claro, claro... mas você não veio fazer pregação, Byron.. então diga logo a que veio.
- Este que me acompanha é Paulo de Tarso, que esteve aprisionado comigo no Abismo e nas Planícies Cinzentas.
- É um prazer incomensurável conhecer o Grande Arquimago Rhange Hesysthance - disse Paulo numa reverência eloquente.
- Nós precisamos de dois tomos para entrarmos na Fortaleza da Vela.
- E por quê eu deveria dá-los a vocês?
- Não deve. Não precisa. Eu apenas preciso pegar alguns pertences que deixei aqui no castelo da falecida Isabeau.
- Será que suas histórias da carochinha e seus poemas burlescos serão suficientes para valer a entrada, seu velho fanfarrão perpétuo?
- Uma vez, um sábio elfo me disse que é preciso ser feito o que é preciso ser feito.
- Fique tranquilo. Eu tenho dois bons exemplares do Compendium da Ascensão de Evereska que você poderá usar. Desde a reunião da Assembléia Máxima na capital de Nova Netherill, recebemos chancela do próprio Príncipe das Sombras Telamont. Todas as bibliotecas de Faerun devem recebê-lo e conhecer a nova história que se escreve desse novo velho império. - Rhange Hesysthance mantinha o olhar arrogante, enquanto as pequenas gemas voadoras seguiam voando ao redor de sua cabeça. O velho elfo apoiou-se no cajado e fez sinal para que o clérigo de Morpheus esperasse. - Mas antes que se vá.. você sabe algo sobre Úrsula Suarzineguer, a gnoma que integrava esse seu grupo de aventureiros? Há muito tempo não tenho notícias deles...
- A última vez que a vi, estava sendo tragada viva pelas profundezas em Porto dos Crânios, o que acabou significando a morte para o restante de nós. desde que retornei das Planícies Cinzentas, não sei mais dela, pois Águas Profundas sucumbiu aos planos da Senhora da Escuridão. Com sua licença, regente..
- Úrsula? Aprisionada? Tragada viva? - Arnoux pensou desesperadamente que tinha que sair dali, embora não soubesse como.