27 de out. de 2012

Luz, trevas e sombras


Enquanto seguiam juntos puderam ver a devastação por toda Cormyr, que não parecia mais do que uma terra de ninguém. O grupo formado por John Falkiner, Ryolith Fox, Palas Atenas, Bibiana Crommiel e Leopoldo dos Távios conduzia Lorde Byron, Paulo de Tarso e a paralisada Alissah Eagle. Eles cruzaram aquelas terras varridas pela guerra e pela escuridão. O céu era cinzento com nuvens estranhamente compridas e finas, que despejavam uma chuva insípida e insignificante. Não havia vento e o cheiro era de morte e pestilência. Campos queimados, animais mortos, vilas em ruínas era tudo que havia. Por dois dias acompanharam o caminho que o inimigo havia cruzado anteriormente. Eles eram a única luz naquelas trevas.
O cálice de Amaunthor novamente conduzido pela elfa Bibiana brilhava como o alvorecer esperançoso de uma amanhã. Até onde a luz chegava, a grama se revitalizava e pequeninas flores brancas despontavam. Eles sentiam a energia do artefato lhes renovar as forças todo o tempo, conseguindo evitar a fadiga e impulsionar-lhes a viagem. Apenas Paulo sentia um ininterrupto mal estar.
Depois de um longo dia, encontraram Suzail cercada e sitiada. Haviam milhares de orcs, trolls, goblins e outras criaturas que tomavam todos os arredores da cidade. Uma horda caótica e desgovernada simplesmente varrendo tudo. Os acampamentos eram fétidos e tumultuados. As forças da cidade atacavam das muralhas, que ainda permaneciam de pé, mas eram visíveis os muitos barcos que abandonavam a cidade rumo ao leste. Eles precisaram de um teleporte para chegar ao interior da cidade em segurança e evitar o cerco bem como a cidade voadora e suas bestas aladas.
Surgiram na basílica de Tyr. Palas Atenas tomou o rumo das muralhas para auxiliar na defesa do que restava de seu amado reino. Byron, Paulo de Tarso e a catatônica Alissah ficaram ali mesmo. Os três servos dos deuses e Leopoldo urgiram à máxima velocidade em direção ao templo de Lathander. Lá, encontraram clérigos noviços ainda, que cuidavam de feridos e desamparados da melhor forma possível. O responsável com quem trataram chamava-se Felício. Ele ficou surpreso com a grandiosidade do artefato, sentindo-se indigno de tarefa tão magnânima. Conforme as pessoas iam sendo curadas pela passagem da luz do cálice, tudo era encarado como um milagre do deus do Sol. Mesmo diante do aturdido clérigo, o poder solar do artefato se propagou. O ritual começou a surgir naturalmente na prece que todos iam murmurando de joelhos em adoração. Aquele cântico era um louvor à luz que sempre expulsa a escuridão.

Onde houve trevas
Eu fiz luz
Das duas servas
Nada levas
O que o conduz
Não seria tal cruz
Mas sim o nascer
As forças primeiras da vida
Aquelas que vem do alvorecer
Das cores indefinidas
Com que lidas
E se hão de padecer
Também vão renascer
Nos filhos que irão conceber
Nos amores que irão ter
Na energia que será produzida
Mesmo que pra se perder
Nunca finda
Perpétua ainda
Abastece a luz mais linda
Faz brilhar o sol
Assim a verdade foi proferida

A cada palavra entoada o coro ia se ampliando e se estendendo. Assim como o canto, a luz também foi se espalhando por toda a cidade. O clérigo Felício Leite elevou o cálice de Amaunthor ao altar e a luz se derramou caudalosa sobre toda a cidade como um escudo protetor. Todo aquele esplendor incandescente expulsou a cidade voadora e suas tropas. Incomodados com a energia positiva e protetora daquela força, os monstros recuaram ainda que não para partir de vez. Suzail estava salva.


Durante os 7 meses que se seguiram, Suzail, a cidade do sol, sobreviveu graças à graça luminosa do cálice. Uma luz em meio às trevas e à devastação. É verdade que seus habitantes tiveram de se acostumar a um mundo sem noite. Muitos foram os que retornaram ou mudaram-se para o lugar crentes no milagre que se dera. Outros, menos confortáveis com as energias positivas do artefato partiram nos primeiros dias.
Ryolith Fox cresceu muito em prestígio junto a ordem de Tyr. Além de tornar-se um martelo do deus da justiça, posição de destaque e liderança na ordem, também foi aceito nas fileiras dos Purple Dragon já como oficial sob as ordem da Major Palas Atenas. A bela e pura paladina era uma das mais dedicadas e apaixonadas defensoras da Cidade Luz. Ryolith a acompanhava todo o tempo, como seu braço direito, ocupando a posição que um dia pertencera a Miguel Arcanjo.
John Falkiner recebeu uma doação de terra da primeira-ministra Caladnei para fundar um templo de Kelemvor, o deus da morte. Já angariara algum prestígio para o senhor dos mortos e seguidores fiéis, quando soube que Soubar havia sido atacada e tomada pelos elfos de Evereska, aliados de Nova Netheril. Seu coração lamentou, mas sua mente não via alternativa que não continuar naquela capital estrangeira para onde fora enviado. Leopoldo era sua constante companhia, também saudoso das áridas terras de seu lar.
Bibiana Crommiel além de se dedicar como uma das guardiãs e protetoras do Cálice do Sol, buscou juntos aos sábios e estudiosos um entendimento de sua nova condição. Por fim, revelou a todos que era o avatar de seu deus, Corellion Larethian, o Senhor de todos os elfos. Isso fez surgir e crescer em Suzail uma comunidade de elfos peregrinos e desgarrados desejosos de esperança em um futuro melhor.
Com o desaparecimento de Azhoun V e a morte de sua mãe, a regente Aluistar, a primeira-ministra Caladnei era uma governante vacilante diante das intrigas e queixas das casas nobres e comerciais da cidade. Sua origem estrangeira apenas colocava mais lenha na fogueira. Clamavam pela herança e glória de um reino que não existia mais, enquanto o porto era a única porta de comunicação com o mundo. Por mais que incursões pudessem ser feitas nas imediações, bastava afastar-se da luz protetora da cidade para deparar-se com dragões de trevas e hordas de orcs e trolls.
Lorde Byron e Paulo de Tarso permaneceram todo o tempo hospedados na Basílica de Tyr. Todo o tempo colaborativos, conversavam mais entre si e evitavam os grandes tumultos. Descobriram que não podiam ficar afastados mais do que algumas dezenas de metros um do outro ou de Alissah Eagle. Ela despertou graças ao poder incomensurável do Cálice do Sol, mas mesmo assim era um estado debilitado, que não a permitia sequer levantar-se da cama, numa agonia perpétua.

No dia seguinte, após darem a triste notícia a Deborah, o grupo deixou Brasillis com as palavras da clériga de Gaerl Ourobrilhante ecoando em suas mentes, com o peso da morte de Yorgói em suas consciências e com um mundo em frangalhos. Úrsula preferiu deixar o filho em segurança com sua amiga, prometendo-lhe que partia para trazer os maridos de ambas de volta, custe o que custar. Até lá, Deborah prometeu que zelaria pelo pequenino Arnoux II. Assim, partiram rumo à Cidade dos Esplendores, onde acreditavam terem melhores chances de resolver as coisas ou ao menos encontrar quem poderia fazê-lo. A druida Daphne se separou deles nesse ponto para ter com seu círculo druídico na Grande Floresta, prometendo encontrá-los antes do fim da jornada. Leila Diniz seguia escondida na bolsa mágica para evitar chamar qualquer atenção no caminho.
Enquanto iam para o sul, perceberam que a estrada estava deserta e toda a região parecia quase que abandonada. A primeira cidade no caminho estava vazia. Após uma rápida inspeção, Ehtur Telcontar percebeu que os rastros eram de vários dias e que não havia o movimento comum à pequena cidade. Quando chegou ao templo de Mielikki, a deusa dos guardiões, encontrou um outro como ele entregue a orações. Algumas frases trocadas levantaram suspeitas da presença do viajante ali sozinho. Foi Sirius Black quem percebeu que tratava-se de um espertalhão a tentar enganá-los.
Antes que ele pudesse escapar, o grupo o prendeu e interrogou. Sirius descobriu que tratava-se de um vil ladrão das sombras, que estava pilhando o templo da deusa da natureza. O bandido revelou que a guilda de criminosos logo tomará Águas Profundas, assim como já esticava suas mãos sobre toda a região com o caos do últimos tempos. Ehtur vendo que estavam perdendo tempo, sem discutir a questão, executou o bandido.
Francisco "o imorrível" Xavier aproveitou para tentar levantá-lo como um morto-vivo, como sempre fizera quando era um necromante vivo. No entanto, ele acabou transformando o sujeito em um imorrível como ele. O novo ser de luz que surgiu assumiu a forma de Razão, a pequenina familiar do mago. Diante de tal efeito, nas noites seguintes, enquanto montavam acampamento para que os demais descansassem, o não-vivo insistiu com Leila "morta-viva" Diniz para tentar o mesmo processo com ela, mas ela não aceitou. A feiticeira da Fortaleza da Vela por mais que odiasse sua atual condição temia as consequências de tal ato. Sua alma poderia voltar para o terrível Szas Tam ou até mesmo não ser recuperada do reino dos mortos.
Na cidade seguinte, já havia muito movimento, pois ao contrário de Yartar, que era caminho apenas para o oeste, Triboar também era o ponto de passagem para as rotas do norte que culminavam em Invernunca. Aqui as caravanas eram numerosas, em quantidade muito superior à capacidade da pequena cidade, o que criava um mar circundante de barracas envolvendo uma ilha de construções. Se vinham caravanas com cargas e produtos, numerosas caravanas de nobres e abastados mostrava que não eram poucos os que abandonavam a Cidade dos Esplendores. As notícias davam conta de uma série de assassinatos dos lordes  regentes locais, obrigando o arquimago Khelben Cajado-Negro Arunsun a tomar as rédeas da cidade. Águas Profundas estava em estado de sítio era o que diziam.
Sirius Black via que a criminalidade se esbaldava sem controle nas posses de comerciantes e viajantes. Ele aproveitou a oportunidade de tamanha confusão para planejar o roubo a uma caravana de nobres aliados dos Ankathra. Na tentativa de auxiliá-lo e chamar atenção, Rock dos Lobos descobriu que os fantasmas de seus ancestrais pararam de atender ao seu chamado primitivo. Parece que seus poderes iam lhe faltando cada vez mais. Ainda assim, mesmo sem o auxílio dos colegas, Sirius Black usou seus poderes das sombras para invadir uma carruagem e roubar tapeçarias, objetos de arte e jóias que poderiam financiar o que precisassem.
Mais um dia e chegaram até Lariço Vermelho, a pequena cidade que antecedia Águas Profundas e de onde já era possível avistar as torres da Cidade dos Esplendores e o mar. Foi aqui que Daphne lhes encontrou após ter concluído a iniciação de Police, sobrinho de Sting com os demais druidas na Grande Floresta. Encontravam todas essas cidades-caravanas lotadas, mas esta estava como nenhuma outra. Descobriram que apenas cidadãos autorizados e caravanas conseguiam adentrar a metrópole, o que obrigava muita gente a permanecer ou retornar para Lariço Vermelho.


Prolongaram a viagem e encontraram Águas Profundas cercada por guardas e barricadas, além de patrulhada por suas estátuas colossais. A estrada era ocupada por uma fila sem fim de carroças, animais e pessoas. Quando enfim chegaram até o guarda que controlava o acesso, relataram quão urgente era a missão e porquê deveriam encontrar o clérigo de Oghma do Templo do Conhecimento. Isso não comoveu o responsável pela entrada que lhes negou acesso. Daphne, a druida de palavras doces como mel, precisou de toda a sua diplomacia para conseguir que ao menos ela entrasse. Os colegas concordaram em esperar por ela ali. Ela chegou ao templo do deus da sabedoria e encontrou centenas de fiéis ali reunidos em uma celebração.
A experiente serva da natureza transformou-se em um pássaro de luz, surgindo em meio a todos como uma mensageira de Oghma. Ela relatou que o enviado de Oghma estava lá fora, aquele que tinha sido escolhido para lhes abençoar e trazer as respostas que buscavam, uma mensagem do próprio Oghma. A luz que iria guiá-los naquela escuridão. Assim sendo, a celebração transformou-se em uma procissão desejosa daquela benção sagrada, que seguiu o pássaro luminoso até o exterior da cidade. O sumo-sacerdote Guggle Ciahbe guiava as pessoas que cantavam pelas ruas de Águas Profundas até deixarem as muralhas. Lá chegando, o sacerdote chefe teve com Francisco Xavier e liberou a entrada de todos sob sua responsabilidade.
Não foram preciso mais que alguns minutos para deixar o servo do deus do conhecimento a par de tudo que havia se passado com eles e da mensagem que receberam de Oghma através de Sirius Black. Foi o próprio quem os levou até Khelben Arunsun. O arquimago os recebeu e ficou preocupado com as notícias graves que traziam, dos descaminhos desse mundo e também dos poderes de Orcus nos multiplanos. Apesar das obrigações que o prendiam a Águas Profundas, Khelben Cajado-Negro se dispôs a ir aos Sete Céus ter com os líderes celestiais e colocá-los a par das notícias que traziam. Enquanto isso, o grupo deveria ir até Suzail, a antiga capital do finado reino de Cormyr. Lá deveriam convencer os cormyrianos a utilizar o artefato do sol que os mantinha a salvo de Nova Netheril contra a Cidade Voadora das Sombras. Ele os enviou com um teleporte antes de partir para outro plano.


Ehtur Telcontar, Rock dos Lobos, a druida Daphne, Sirius Black, Úrsula Suarzineguer e Francisco Xavier, trazendo Leila Diniz escondida, surgiram no centro de Suzail, na grande praça próxima ao palácio e entre os principais templos da cidade. A luz brilhante e forte os ofuscou num primeiro momento, mas logo puderam dar-se conta de todo o brilho da cidade, em especial do templo de Lathander diante deles. Era dali a fonte de toda aquela energia. A chegada não passou desapercebida e logo os guardas mais próximos os cercaram. O martelo de Tyr Ryolith Fox reconheceu os antigos camaradas e os saudou com palavras amistosas, antes de perder o sorriso e encrencar com Sirius Black.
- Finalmente você irá pagar por seus crimes, Sirius Black. Você está preso em nome da justiça de Tyr e do reino de Cormyr.
- Preso? Claro, claro. Bem humorado como sempre, Ryolith.. na verdade, nós temos uma missão importante e...
- Não me interessa! Finalmente vou fazer você pagar por seus crimes, bandido.
- Acalme-se, Ryolith.. - interviu Daphne. - Realmente nós temos uma importante missão.. somos embaixadores de Águas Profundas.. fomos enviados por Khelben Arunsun...
- Isso em nada anula ou redime ou crimes impetrados por este vil bandido, Daphne da Grande Floresta. Tráfico de escravos, cárcere privado, roubo, corrupção...
- Quem são esses, Ryolith? - perguntou John Falkiner.
- Estes são antigos aliados, John. Eles me ajudaram no passado e...
- E agora viemos buscar a ajuda de vocês.. - interviu Daphne. - Nós precisamos do artefato que protege a cidade de vocês...
- Sinto, mas não creio que isto esteja sob nossa tutela, senhores. Certamente, teriam que ter com os responsáveis pelo templo e pela cidade - respondeu o clérigo de Kelemvor. 
- Levem-nos até eles.. nós precisamos do artefato para atacar o coração de Nova Netheril! - disse a druida.
- Vocês só podem estar loucos... o que os faz pensar que teriam sucesso? A magia não funciona no deserto... - repeliu a ideia John Falkiner, enquanto de dentro do templo do deus do sol surgiu  Lorde Byron, para surpresa de todos, que observava tudo. Dentro do templo, Paulo seguia orando.
- O que você está fazendo aqui, Byron?
- Eu escapei do reino de Orcus agora que ele marcha sobre os Nove Infernos e ceifa as Planícies Cinzentas com o clone maligno do amigo de vocês. Graças à ajuda de Paulo de Tarso e Alissah, através de um ritual, conseguimos escapar e encontrar refúgio aqui nessa terra encantada.
- Alissah está aqui? - disse Ehtur sem esperar resposta e entrando no templo atrás do cheiro da mulher que parecia procurar desde sempre.
- De qualquer forma, seja como for, não adianta ficar aqui assim. Ou vocês acham que adianta só se defender pra sempre? É preciso arriscar! - disse Sirius.
- É preciso fazê-lo pagar por seus crimes, isso sim, fanfarrão. Você vem comigo! - agarrou-o Ryolith. Seguiu-se uma longa e acalorada discussão onde nenhum dos pontos de vista prevalecia. Cada vez mais gente juntava-se àquela discussão, inclusive porque os soldados cuidaram de chamar a primeira-ministra Caladnei. Esta decretou que o artefato, a única garantia de sobrevivência da cidade não deixaria seus muros. A frustração tomou conta do grupo, mas não parecia haver meios de convencer os líderes de Suzail. Já pensavam em partir e simplesmente encontrar Khelben Arunsun para relatar o fracasso da missão.
Enquanto isso, Ehtur Telcontar, pouco afeito a discussões, já havia chegado ao pequeno quarto no templo de onde vinha o cheiro adocicado e inesquecível da elfa verde que um dia lhe acompanhara. Ao abrir a porta, o guardião a encontrou deitada em uma cama. Estava pálida e fraca, quase morta. Ele entrou e pegou a pequenina mão dela com a mão grossa e calejada dele.
- Alissah?
- Eh.. Ehtur.. q.. que.. b.. bom.. q.. que está aqui. N.. não sa.. sabe co.. como eu so.. nhei em revê-lo..
- O que houve? Você não parece bem.. parece envenenada.. eu possuo algumas ervas e..
- Na.. nada po.. de ser feito por mim. Shar colocou alguma mal.. dição ter.. terrível em mim. Algo que me de.. vora por dentro, corrói minhas entranhas e suga minha alma. Ne.. nhu.. ma ma.. magia dos clé.. rigos foi ca.. paz de me cu.. rar e ape.. nas a for.. ça do ar.. te.. fato me fez des.. per.. tar, mas ape.. nas pa.. ra me man.. manter assim.. semi-viva.. pre.. sa a es.. sa cama e a es.. se quarto.. mas ao me.. nos ago.. ra vo.. você está aqui comigo... - disse a elfa com muito esforço.
- Eu sei quem pode ajudá-la. - Ehtur saiu e retornou com Francisco Xavier, enquanto lá fora os outros ainda estavam concentrados na discussão sobre o cálice. - Faça algum milagre, Xavier. Use seus novos poderes para curá-la.. eu vi do que você é capaz.
Francisco Xavier usou todo seu poder e conhecimento. Lançou magias e bençãos, que no entanto mostraram-se inúteis como Alissah já havia alertado. Enquanto isso, Ehtur assistia ao sofrimento da jovem elfa da Grande Floresta com aperto no coração.
- Há algo superior.. muito forte.. que desfaz qualquer coisa positiva que eu lance sobre ela. É como se uma parte da própria Shar a habitasse.
- Isso me devora por dentro...
- Só há uma solução então.. - e deixando correr uma lágrima e sem pensar duas vezes, Ehtur pegou suas ervas e envenenou Alissah Eagle. Foi preciso menos de um minuto para retirar-lhe a vida. Nesse exato momento, do lado de fora, os corpos de Byron e Paulo de Tarso tombaram sem vida no chão para surpresa de todos.



14 de out. de 2012

Arquivo X


Borracha apanhou o meteorito do guardião de Mielikki caído e saiu do local da confusão. Depois de ter roubado o meteorito, ele pretendia sair em direção a Amn. Na primeira noite nesse caminho, enquanto Guilermo Patifes estava dormindo, o ladrão fez um sacrifício de sangue oferecido a Shar,
- Ó grande Deusa da escuridão, estamos aqui, eu, seu mais fiel servo, e a pedra do espaço que a Senhora almeja. Aceite esse sangue como prova de minha fidelidade e essa pedra como prova de merecimento de seu abraço. Saiba que sempre estarei aqui para fazer o trabalho que me for dado e que sempre terei prazer em cumprir seus desígnios. Que a escuridão me acompanhe aonde for e que seu infinito poder me ajude a cumprir todos os meus objetivos. Obrigado GRANDE DEUSA SHAR!!!

Nessa noite, enquanto está se mutilando em honra a Shar, Borracha ouve em resposta..
Seu coração é um para comigo, minha criança das trevas. Você é um pequenino portal para a minha escuridão infindável. O seu sangue alimenta as forças mais antigas e primordiais desse universo, O ritual não foi realizado como devido.. mas ainda há tempo. Há sempre tempo. Você deve transformá-lo em um arma.. a mais mortal de todas as armas jamais vistas.. uma verdadeira matadora de deuses. Com este metal estelar, você se tornará um instrumento direto da minha vontade. Mas não há porquê chegar às consequências antes das causas.
Vá até Águas Profundas e chegue ao Porto dos Crânios. Lá você encontrará Roberta Siflis, minha sacerdotisa, e Estevans Torpinson, meu agente local. Eles farão da pedra, a arma...
- Ei, o que você tá fazendo? - a voz esganiçada de Patifes interrompeu o momento - Tá tentando se matar? Posso ficar com a sua espada?...
- Claro que nao, faco isso, pois dessa vez não houve necessidade de se derramar sangue para se cumprir a missão, mas é bom que meu corpo se lembre que talvez da próxima vez, haja. Mas nao percarmos mais tempo, rumemo para Águas Profundas, pois o tempo é curto e ainda temos muita coisa para fazer... Vamos Patifes, deixemos para descansar depois...

Viajou por dois dias aguentando as opiniões desnecessárias e o entusiasmo enfadonho de Patifs, enquanto descansavam o mínimo possível. Sempre que fechava os olhos, o ladrão via a escuridão envolvê-lo como se fosse o próprio toque da Senhora da Noite. Isso o impelia rumo à Cidade dos Esplendores. Avistou o mar e as altas torres de Waterdeep, rapidamente tomando o rumo das docas que o guiariam até Porto dos Crânios. 
O acesso se dava por uma taverna. O ambiente era esfumaçado e degradado, cheirando ao suor e veneno de seus ocupantes. Sair dali não deixou de ser um alívio. A escada deu para o porão, que servia como depósito da taverna. Borracha enxergava perfeitamente naquela escuridão graças à graça de Shar. Via os ratos que corriam por ali e as aranhas paradas em suas teias. Patifs moveu o barril e logo abriu a porta secreta que até uma criança encontraria. A escada que havia depois era estreita e mal feita. 

Caminharam por uma hora e meia por túneis sinuosos e com um palmo de esgoto escorrendo por ele. Precisaram evitar perder tempo com alguns ratos do tamanho de cães e um quarteto de zumbis. Mal valiam a experiência do embate. Quando ele sentiu a brisa e o cheiro salgado de podridão, soube que estava no lugar certo. Porto dos Crânios.. a miniatura sombria e distorcida da Cidade dos Explendores.. um câncer do submundo crescendo abaixo do solo.
Viam as vielas que iam se formando tão logo abriam-se as paredes do corredor para a grande caverna junto ao encontro do rio com o mar. Por ali, já haviam goblins engalfinhando-se e revirando o lixo, enquanto lá na frente o movimento era intenso.
- Vamos Patifes, temos que encontrar Roberta Sifilis ou Estevam Torpinson, sao eles que nos ajudarão... Sabe onde encontrá-los???
- Vamos precisar de algumas informações. - Patifes sacou as duas espadas rapiers que carregava e foi até os goblins. - Krek, carkrir korn atridziek Sikis ak Torkinkon? (ele cruzou as lâminas no pescoço do goblin mais próximo.. os outros saíram correndo.. o capturado arregalou os olhos e suou frio.
- Torkinson.. Torkinson.. - e apontou em frente. - Takerna Kranios Voakores..
- Bom, já sabemos por onde começar.. - disse Patifes matando o goblin.
- Crânios Voadores hein... Vamos, não devemos perder tempo... Torpinson já deve estar nos esperando... Na taverna, seja respeitoso e discreto. O que viemos fazer aqui é de suma importância... Eu diria que o futuro de Faerun depende disso... - disse Borracha com uma risada sinistra.
- Você é quem manda.. - disse Patifes seguindo em frente e pisando na carcaça do goblin. As ruas do Porto dos Crânios eram estreitas, sinuosas e escorregadias todo o tempo. O chão era de terra batida, mas poças de água haviam em grande quantidade, além do esgoto que corria paralelo à rua em vários lugares. Se não havia muita gente na rua, todos que andavam tinham armas à mão e olhares mal-encarados. Não demoraram a achar a tal Crânios Voadores.. era um pequeno edifício de dois andares. A entrada era ocupada por dois orcs de pequeno porte, um meio-orc mais corpulento e um punhado de goblins. 
Lá dentro havia muita fumaça, quase formando uma névoa. A música era alta e se misturava aos gritos de todos para poderem se fazer escutar. Uma mulher de pouca beleza e ancas largas rebolava enquanto alguns jovens batucavam em tambores. Ao redor, inúmeras meninas magrelas e mau-alimentadas ofereciam os corpos nus a homens sem escrúpulos. Alguns homens passavam servindo bebida. Eram todos grandalhões com armas na cintura e prontos a resolver problemas da casa. Nas mesas espremidas e apinhadas de gente, havia jogo e toda espécie de consumo de drogas, além de gritaria, discussões, negociações e afins. Atrás do balcão, oposto ao palco, havia acesso à cozinha. Na parede oposta aos dois, uma escada dava acesso ao nível superior. Era guardada por um goblinóide grande e peludo.. um ursopraga.. e um minotauro..
Pegando algumas conversas no ar no caminho até a dupla que guardava a porta, o servo de Shar soube que a nata da criminalidade estava reunida lá em cima.. os negócios andavam em alta desde o eclipse e da passagem da Cidade das Sombras. Parece que os recém chegados eram mais uma peça no tabuleiro das forças de Shar.. uma oportunidade e tanto para o submundo de Águas Profundas.
Eles esperaram por algum tempo, naquele lugar quente, barulhento e desagradável, fazendo uso de alguns cristais alucinógenos de Patifs, enquanto aguardavam serem recebidos. O lugar foi se tornando mais colorido, aconchegante e animado. A cerveja foi se tornando doce e saborosa como hidromel. Até mesmo Patifes ia se tornando uma companhia agradável. Borracha começava a valorizar a presença e toda a ajuda que ele representou.. até mesmo os assuntos idiotas que não o faziam calar a boca sequer por um segundo pareciam legais agora. Eles debateram sobre mulheres e ambos acabaram falando demais após um amistoso abraço. Falavam sobre as arenas de gladiadores do sul, quando o minotauro silenciou-os aproximando-se. - Torpinson espera por vocês... venham comigo...
Você esforçou-se para controlar o entusiasmo que tomou conta de você com a notícia. 
- Maravilha, mino. - disse Patifes abraçando o minotauro e sendo repelido com um empurrão de pronto.
- Tire suas mãos fétidas de mim, humano.
- Acalme-se Minotauro, você deveria experimentar alguns desses cristais de Patifes, certamente lhe deixariam mais amigável. Mas não percamos tempo, nos leve a Torpinson, temos muito que tratar com ele...
- Não me venha com esse veneno para afeminados, seu drogado.. - disse o minotauro de maneira ríspida e seguindo até a escada. Vocês três subiram e no andar superior, você deparou-se com um ambiente muito diferente. Não havia música, além da que chegava lá de baixo. Havia menos fumaça e um certo cheiro adocicado no ar. Várias belas mulheres acompanhavam homens de todos os tipos.. desde gordinhos carecas fora de forma até malandros bem vestidos e com dentes de ouro. 
O minotauro levou a dupla direto a um sujeito que estava sentado em uma mesa fumando um charuto. Uma garota ruiva e branquela massageava as costas dele.
- Sejam bem vindos, rapazes.. pode ir, Homero. E então, o que vocês tem pra mim?
- Tenho algo especial pra você, Torpinson... É verdade que você consegue transformar isso em uma arma poderosa? - e Borracha mostrou a pedra das estrelas. Torpison pareceu se interessar. Deu uma longa tragada do charuto.
- Maryanna.. meu bem.. vá buscar uma bebida pra mim e pros rapazes. Três bons uísques. - A garota sorriu e saiu. - Então você trouxe o metal estelar.. a Senhora da Escuridão já havia me alertado sobre isso. mas vocês demoraram além do planejado. A cidade das trevas já retornou.. mas ainda dá pra causarmos um bom estrago.. Bom.. parece que dessa vez poderemos fazer o ritual como se deve... como você se chama?
- Eu sou Guilermo Patifs. Nós somos parceiros nessa.. 
- Acalme-se Patifes. Meu nome é Borracha e nosso animado amigo aqui do lado chama-se Patifes... Ele foi de grande ajuda para aquisição do metal... Infelizmente tivemos alguns contratempos, por isso só agora conseguimos traze-lo, porem como você mesmo disse, ainda há tempo para fazermos algo pela senhora das sombras, certo?
Torpinson mais uma vez tragou o charuto parecendo pensar. - É.. acho que sim, Borracha.. espero que você tenha apagado seus rastros.. - e ele deu uma grande gargalhada como se vocês fossem todos velhos amigos. Patifs quase morreu de tanto rir com a gracinha infame e Borracha deu uma risadinha. Maryanna retornou com três copos largos cheios de uísque.
- O Borracha sempre apaga...
- Um brinde, senhores. À glória eterna que nos aguarda. Vocês dormem aqui hoje. Eu cuidarei de que o metal seja tratado. - Ele estendeu a mão. - Creio que amanhã à noite teremos tudo encaminhado...
- Um brinde!!!
Torpinson insistiu. - Você deve me entregar o metal, Borracha..
- E como vamos saber que podemos confiar em você? - preocupou-se Patifs sem conter a língua grande.
- Vocês que vieram me procurar.. ele precisa ser moldado.
- É claro! Me desculpe, as vezes os comprimidos de Patifes mexem com minha cabeça... Tome.
- E por favor, não ligue pra ele, ele é conhecido por sua língua grande... Vamos idiota, vamos nos divertir... Se precisar de nos estaremos la embaixo Torpinson... Bom trabalho.
Torpison apenas riu. - Comprimidos?.. Hora.. isso é pra meninas em festinhas do pijama, meu velho. - Ele enfiou a mão no bolso e jogou-lhes algumas sementes. - Tome isso.. sementes de cactus do Anauroch.. isso irá deixá-lo mais perto da verdade das coisas... - ele guardou a pedra e tragou o charuto.
- Ótimo!!! Provarei agora mesmo dessas maravilhas... Veremos aonde isso me levará... Huhauhauhauhauhau. Agora sim Patifs, vamos nos esbaldar com as meninas la embaixo, ou você não é muito chegado à uma fêmea?
- Ora, pois eu sou o garanhão mais viril que se tem notícia em pelo menos 3 regiões do mundo. As mulheres não viverem até gritarem sobre meu membro viril.- disse Patifs pegando no próprio pau, enquanto desciam a escada.
Eles tomaram cada um uma semente do pacote. Haviam seis ali.. eram grandes, vermelhas e pareciam uma estopa ressecada. Quando colocou na boca, sentiu um gosto amargo como nada do que havia sentido antes. Achou melhor irem até o balcão, onde tomaram mais uma cerveja e Patifs engoliu a semente dele. Em pouco tempo, ambos estavam com uma caneca na mão e uma ninfeta com idade para ser filha deles na outra.

Borracha sentiu a pouca luz chegar-lhe ao rosto e ouviu a porta que se mexera. Abrindo os olhos e enxergando perfeitamente mesmo na penumbra, ele via cinco corpos nus espalhados além do seu. Quatro garotas, além dele e Patifs estavam ali. O cheiro de sexo era intoxicante e não lembrava de nada além de flashes esparsos após sair do balcão.. uma grande serpente.. um deserto.. um portal.. uma sensação de coisas se repetindo.. uma conexão entre tudo e todos.
- Parece que vocês se divertiram.. - ele reconheceu a voz de Torpinson..
- Meu irmão... o que é aquilo que me deu... O negócio é bruto... divertiram é pouco, foi como se eu tivesse... não sei... sonhando ou tendo premonições, sei la... algo assim... Mas lhe digo, suas sementes são muito boas, dá pra ficar rico vendendo coisas como essa... e o metal??? Obteve exito???.
- Eu já ganho um bom dinheiro nesse ramo, meu velho. Essas sementes não são pra qualquer um.. são pra quem aguenta a verdade. Vocês dois tem outras obrigações agora..
- Não podem esperar até esse vulcão parar de explodir na minha cabeça.. - resmungou Patifs saindo debaixo de uma das garotas.
- O ritual vai ser hoje a noite.. vocês já estão aqui a quase 18 horas... então não podemos perder tempo.. você verá o punhal na hora certa, Borracha. Limpem-se.. comam alguma coisa se quiserem.. venho buscá-los em uma hora pra começar a purificá-los e levá-los até a sacerdotisa.
- Ótimo!!! Estaremos esperando! Cara, você lembra de alguma coisa de ontem? Esse negocio é muito bruto... se bobear eu te comi e não lembro...
- Mais fácil eu ter comido a sua bunda rechonchuda. - disse Patifes. - Eu também não lembro de merda nenhuma.. lembro de estarmos dançando com as meninas, mas nem sei se são essas aí. - Ele começou a recolher as coisas que estavam espalhadas por todas as partes. - Quem é essa sacerdotisa? Ela é gostosa? Que merda de dor de cabeça.. eu preciso de uma cervejinha...
-  Na verdade eu também não sei quem é a sacerdotisas, mas acho melhor você a tratar com respeito. Nem todos tem a minha paciência para suas gracinhas...

- Vamos. - foi tudo que Torpison disse ao vir buscá-los. Vocês subiram até o nível superior, para lá entrarem por uma passagem secreta e seguirem por um túnel profundezas adentro. O caminho foi longo e não havia ninguém além de vocês três. Patifs tentou puxar conversa por três vezes e Borracha apenas uma, todas repelidas por Torpison que parecia muito mais sério do que anteriormente. O ladrão via claramente na escuridão total, mas Patifs dava seus tropeções. Em algum momento, o servo de Shar sentiu o assovio frio ao pé do seu ouvido.. as energias negativas que povoavam o ambiente eram tantas que quase o faziam flutuar. Certamente, Shar estava no próprio ar que ele agora respirava.
Foi ai que ele a viu surgir. Ela era pálida como o luar e com cabelos tão negros que misturavam-se às trevas. A mortalha negra que ela vestia cobria quase todo o corpo, mas ela parecia ser uma humana alta e esbelta, com seios e ancas fartas. Os olhos eram frios e cruéis como os de um morto-vivo, azuis como o céu, terríveis como a morte. Os lábios finos e quase brancos falaram. - Que o fim de tudo seja a nossa apoteose  irmãos.. hoje meu peito dispara, pois o fim está próximo. Sois arautos do caos e eu a serva do mal que os completará.
- Disponha.. - interviu Patifs..
- Cale-se, imbecil. - ela cortou-o imediatamente. Do meio da veste sombria surgiu a mão dela empunhando uma adaga cor de chumbo, de uma feitura única. A curvatura era pouco menor que a de uma cimitarra, havendo na ponta um volteio no sentido contrário. uma aura de sombras parecia irradiar dela. - Tomem suas armas.. é hora de agradecermos a Shar por todo o seu amor por nós...
Borracha tomou uma das adagas para si, assim como Patifs, mas ao contrário desse, o fez com paixão e entusiasmo, enquanto recitava um clamor:
- A sua Arte, Senhora, veio às trevas. Quem poderá escapar de seu poder? Sua forma é um eterno mistério; Sua presença paira. Sobre as terras escuras. Os mares te obedecem, As tempestades te temem. A sua vontade detém o dilúvio. Senhora de minha vida: Guia-me com sabedoria, Faça com que eu compreenda o que não tem explicação. Conforta-me em tuas sombras quando preciso for. Distribua trevas para obscurecer a mente dos que não entendem. Encha-me de coragem para enfrentar a luz de cabeça erguida. Purifique-me com esse ritual para que eu possa louvar-te como mereces. Ajuda-me a ver na escuridão com teus olhos sombrios. E peço-te que me mostre o caminho da tua verdade para que eu não me perca nunca de ti. E Eu, tua pequena criatura, Faço a saldação:Minha Grande Rainha das Sombras, Minha Grande Mãe, Minha Grande Deusa, SHAR!!!!! - Ao final, Borracha cortou os próprios pulsos profundamente, derramando seu sangue na adaga em louvor a Shar.
A sacerdotisa, Torpinson e Patifs assistiram a tudo entre a surpresa e o êxtase. Borracha viu que o sangue que escorria de sua veias tornara-se negro e grosso, até fechar os cortes, que quase lhe custaram o movimento das mãos.
- Levante-se Borracha.. Nossa Senhora está feliz contigo. É horas de bebermos das trevas eternas.. - e a sacerdotisa levou os três adiante até o aposento. Lá haviam seis bancadas de pedra com vítimas prontas para o sacrifício. Ele reconheceu a elfa verde Alissah presa em uma delas.. ela estava semi-nua e desacordada. Ao lado dela estava um sujeito que parecia um paladino. Ao redor havia um meio-elfo, um orc e dois humanos. - Tomem suas posições.. - disse a clériga indo para junto do orc e indicando um dos homens para cada um dos três.


- A primeira.. a força primeira e única, mãe desse tudo que a contrapõem. Recebeste nossa dádiva, Senhora da Noite, na forma do sangue que derramamos por ti. Mas essa é uma retribuição ínfima ante tudo com que nos agracia. Entregamos esses meros mortais.. sujos.. impuros infiéis.. incapazes de ver a tua grandiosidade. O sangue deles deve regar o caminho que trilhamos para alcançá-la.. o deles e o de todos mais. É hora do mundo ser novamente tomado pelas trevas e a luz deve ser de todo apagada. Chegou ao fim o tempo das sombras.. tem início o tempo das trevas! - Com essas palavras, ela cortou a garganta do orc que sufocou despertando horrorizado para engasgar com o próprio sangue. Os demais fizeram o mesmo e a agonia se repetiu. O sangue dos quatros escorreu pela pedra fria até tocar o chão. A própria escuridão pareceu adensar-se e ganhar vida com isso. Um vento frio e sinuoso soprou convergindo para o centro do aposento entre Alissah e o paladino. Borracha sentia seus cortes selados doerem como se congelassem sem sangue. Uma energia incomensurável invadiu seu corpo.. ele se sentia poderoso como nunca antes.. sentia-se invencível.
- Derramamos o sangue das ovelhas, Mãe da Escuridão. Agora, iremos consagrar-te a pura e o valoroso. Desse casal luminoso começara a derrocada dos que vivem... - e ela foi na direção de Alissah. Borracha seguiu em direção ao Paladino, mutilando seu rosto com a adaga.

- Sim Grande Deusa, receba este sangue puro e infiel, mostre sua grandeza perante este mundo e a estes falsos deuses, derrame seu poder sobre estas terras, transforme o sagrado em profano e luz em trevas. Seu poder é incomensurável e sua fúria grandiosa. Venha minha Rainha e mostre a todos o tamanho do poder que posso sentir... Aqui começa o fim da Faerun que conhecemos, uma nova era surgirá... A ERA DAS TREVAS! - ele gargalhou diabolicamente.
Torpison também se encaminhou para finalizar o paladino, mas a sacerdotisa fez sinal para que ele deixasse você continuar. - Que onde houve vida, que haja.. - ia dizendo ela com a adaga elevada sobre Alissah, que seguia desacordada, mas intranquila, como se sua bondade pudesse sentir todo o mal que a cercava e ameaçava. Porém, como se o tempo parasse um instante, uma explosão inesperada se deu. e seis pessoas surgiram pela parede arrebentada.
- Ali estão eles.. terminando o ritual.. - disse um sujeito de mãos pra cima.. um humano vestindo longo manto e tendo um cajado em uma das mãos.
- Não por muito tempo.. - disse um sujeito grandalhão vindo em carga sobre Borracha com uma enorme espada de duas mãos.  O golpe dele foi acompanhado do ataque dos demais. Uma elfa conjurou uma magia de um pilar de fogo sobre a sacerdotisa de Shar.
- Nos encontramos de novo, Roberta.. 
- Vamos correr, vamos lutando, tá na hora de enfrentar.. seguimos o caminho até a serva terrível de Shar. Ela quer a realidade obliterar, mas não vamos deixar.. - começou a cantar um gnomo de aparência afeminada enquanto tocava uma violinha e fazia passinhos marcados. A meio-elfa que empunhava um arco disparou várias flechas contra Roberta. O humano de baixa estatura que restara se escondeu. 
O golpe do guerreiro acertou o ladrão consagrado a Shar em cheio e quase lhe custou a vida. Ele o rasgou do ombro à bacia. Entretanto, rapidamente, seu sangue espeço consagrado a Shar selou o corte e ele não sentiu dor nenhuma.. como se estivesse muito além disso. Roberta também emergiu do pilar de fogo como se nada tivesse acontecido. Duas das flechas da arqueira a acertaram, mas sem muito estrago. Torpinson conjurou uma magia e dobrou de tamanho, se movimentando para a batalha. Patifs sacou as armas e foi para cima do mago.
- Vocês ousam interromper meu ritual.. eu agraciarei a Destruidora com as suas entranhas, sua elfa maldita. - gritou Roberta manipulando as próprias trevas do aposento.
Borracha partiu para o combate usando a adaga em uma mão e uma rapier na outra. Tentou ser mais rápido do que o grandalhão. - Que patética essa vã tentativa. O poder de Shar é muito maior que isso.. é pura perda de tempo.. desistam e se entreguem a Shar... - Borracha deu seus dois melhores golpes tentando pegar o grandalhão desprevenido. Ele tirou algum sangue dele, mas foi como tirar algumas pedrinhas de uma montanha. Para sorte dele, Torpinson investiu contra o guerreiro com muito mais impacto, acertando um golpe que quase destruiu a armadura. Patifs também teve sorte com o mago, que não conseguiu evitar seus ataques e já parecia precisar de ajuda. Roberta ergueu seis tentáculos de trevas que direcionou contra cada um dos recém-chegados. Ela conseguiu aprisionar a elfa, o guerreiro e o mago, mas os outros três escaparam, embora ficassem acoados.
- O poder de Shar é supremo, Maialee. Nada pode vencê-lo. Ele é o início, o fim e o meio. Você nunca conseguirá vingar os Evalandriel. Você apenas se atirou no abismo da escuridão perpétua!
- Cale a boca, sua vagabunda mal-amada. - gritou Maialee sofrendo, pois parecia que os tentáculos de trevas sugavam a energia vital dela e dos demais, enquanto fortalecia Roberta. - Há algo muito maior que Shar. Algo que ela teme.. a luz. Explosão Solar! - e uma luz fulminante e quente tomou todo o aposento, incinerando a carne de vocês como se o próprio sol se fizesse presente. Os tentáculos se desfizeram e Borracha sentiu até o seu sangue perder a estranha consistência que adquirira. O gnomo bardo e a meio-elfa arqueira aproveitaram para investir, ambos atacando Patifs, que acabou com quatro flechas cravadas no corpo e três misseis mágicos na fuça. O guerreiro acertou Torpinson com violência e o mago conjurou um círculo mágico que envolveu todos eles e fez o paladino, mesmo ainda preso, despertar.
Sem se preocupar com os riscos, Borracha foi em carga contra a tal elfa da luz para fincar a adaga consagrada a Shar nela. - Nem mesmo a luz pode com as trevas tola! A escuridão não tem fim e o fim da luz é a escuridão! Sinta o poder de Shar e pereça ante a escuridão infindável infiel! 
A adaga afundou na carne macia da elfa. Aquelas palavras reverberaram na orelha comprida dela, mesmo que a espada do guerreiro tenha tomado um pouco mais do sangue negro do servo de Shar num ataque oportuno. A pureza dela era tamanha, que Borracha sentia-se esmagado como a sombra de um folha sob o zênite do sol. Torceu a adaga e sentiu o poder de Shar jorrar através de si. A luz apagou-se de todo. Torpinson acertou dois golpes retumbantes no guerreiro, praticamente derrotando-o. Patifes, mesmo ferido, acertou quatro golpes e fatiou o mago para dificultar que voltasse do outro mundo.
- Que a glória de Torm os perdoe por tamanha vilania. - disse o paladino que despertara e tentava forçar as correntes. - Que a certeza da justiça se derrame sobre o vosso destino.. - as correntes começaram a ceder. - Que seja feita a Vossa vontade.. assim na terra como no céu... - ele arrebentou as correntes e se pôs de pé, mesmo fragilizado. 
- Basta disso! - Gritou Roberta enlouquecida. - Chega de seus esforços irrisórios e pueris. - Ela avançou sobre o paladino enfiando a adaga consagrada no bucho dele. - Vocês vieram aqui para morrer e suas almas serão entregues a Shar. SHAR. A Primeira. A Eterna. A Devoradora. SHAR! - Enquanto a vida se esvaia do campeão de Torm, o gnomo e a meio-elfa investiram contra Borracha. Três misseis mágicos e três flechas foram o suficiente para arrancá-lo de cima da clériga. Maialee aproveitou a chance, deixou correr uma lágrima pelo sacrifício dos que ficariam e avançou. Pulando por sobre a bancada onde Roberta matava o paladino, tocou em Alissah e ambas sumiram. Foi o que Borracha viu antes de tombar.

- ..tece nas melhores famílias.. - você despertava sentindo os ferimentos e reconhecendo a voz de Patifes. -Ele é muito dedicado..
- Shar não o escolheu por acaso.. - disse Roberta que o curava.

- O que aconteceu? Onde estamos? Cade a elfa?
- Elas conseguiram fugir.. - já foi resmungando Patifs.
- Nós matamos todos os outros. Mas agora o corpo de Alissah foi consagrado a Shar. O nome dela é murmurado pela Senhora da Escuridão em sua fome infinita. Eu falhei com a Destruidora, Borracha. - Roberta disse acariciando o rosto do ladrão e olhando no fundo dos seus olhos. Os olhos negros dela eram como um abismo sem fim. - Apenas com o ritual completo, a Destruidora poderá derramar toda a escuridão sobre essa terra pútrida e decadente. O tempo do ocaso chegou, mas não pudemos terminar o que devia ser terminado. Mas nós vamos resolver isso, não vamos Borracha? Você e Patifes irão trazer a elfa Alissah para mim..
- Sim.. - ele disse automaticamente.
- Mas a graça de Shar é tamanha, que mesmo sem termos sido dignos dela, ela nos agraciou com sua dádiva. Uma parte dela já corre dentro de nós...
- Não se preocupe Roberta, nós traremos a elfa de volta, e de quebra traremos também a cabeça daquela criatura cheia de luz que a levou. Repito, não se preocupe, falhas acontecem, mas nós arrumaremos a tempo. Também sinto o grande poder de Shar em nós e é isso que me dá a certeza de que teremos exito. Agora acho q não devemos perder tempo, por acaso temos aliados que possam no fazer algumas magias como um favor à causa? Temos que localizar a menina e iniciar a busca o quanto antes.
- Não será possível rastreá-la com os poderes das trevas, Borracha. Enquanto a luz pálida e vã de Selune estiver sobre a garota, nenhuma divinação poderá alcançá-la. Entretanto, a magia que as levou daqui tinha um destino único possível.. um refúgio. Maialee levou Alissah para Lua Prateada.. lá ela buscará a proteção de Alustriel, uma das Sete Irmãs. Por isso, vocês terão de ser furtivos e astutos para dar conta da missão. Meus poderes irão deixá-los a um dia de viagem da cidade. Vocês devem cuidar de entrar disfarçados. Fiquem atentos e evitem chamar atenção, pois existem proteções mágicas.
- Eu já estive lá uma vez.. a algum tempo.. - manifestou-se Patifs..- Num tem nada de mais lá. Muito mato.. árvore.. muitas raças.. mas não tive problemas, se é que me entendem. O mulherio não resistiu a pecar comigo não.. tô te falando...
Mal terminaram de falar, o brilho negro dos olhos de Roberta pareceram envolvê-los. Tinha algo naqueles olhos que lhes causava calafrios.. calafrios do tipo que apenas Shar podia atiçar em vocês. Logo, viram-se no meio de uma planície fria do norte. Não podiam ver nada além de vegetação e o céu nublado. Uma garoa fria e fina caía irritante. Patifes se abaixou, pegou um punhado de grama e cheirou. Depois chupou um dedo e sentiu a direção do vento. Por fim, ele fez um retângulo com os dedos e olhou enquadrando uma das direções. - A cidade é pra lá.. - disse confiante.. - Chegamos em umas 12 horas de caminhada...
- Pois então não percamos tempo, e de agora em diante não se esqueça que meu nome é Paulo de Tarso.. Quando chegarmos lá vamos direto à uma taverna, lá você pode usar suas habilidades com as garotas e tentar conseguir alguma informação pra gente, enquanto isso tentarei conseguir algo com os viajantes que estiverem no local. Não se esqueça, apenas temos que encontrar a menina e trazê-la de volta, nada mais, por isso meça suas palavras...
- Pode deixar, mas eu não sei se você sabe a 2a lei do guilermismo, uma doutrina que estou disseminando por aí. De acordo com a 2a lei do guilermismo, eu nunca me engano.. ou melhor, o Guilermo, no caso eu, nunca me engano, o que remete à 1a lei do guilermismo, que diz que cedo ou tarde todos concordam comigo. Essa pertinente e perspicaz teoria é como uma dessas leis básicas da vida.. tipo cair.. ou voar.. ou a magia.. e é com base nela.. - e Patifes pôs-se a falar ininterruptamente como sempre, detalhando todas as coisas não importantes sobre a tal doutrina. Isso tornou mais longas as horas de caminhada. Ele só calou, quando pararam para descansar e dividiram os turnos.
Quando já se aproximavam de Lua Prateada, Borracha parecia um estranho sujeito todo encoberto nas roupas de um monge. Borracha retocou o disfarce de Paulo de Tarso e se dirigiram para a estrada. Ali eram numerosas as caravanas e viajantes, a maioria vinha do sul para Lua Prateada, haviam grandes grupos, que pareciam mais de refugiados do que de simples comerciantes. Um grande número de soldados e cavaleiros seguia nas margens como que controlando a situação e foi um desses que se dirigiu a eles quando se aproximaram.
- Sejam bem vindos viajantes, que a graça de Elmo sempre os proteja.. vejo que vão para a Cidade da Lua de Prata e vem do Oeste.. fogem também dos ataques de lá ou tem negócios a tratar?
- E quem quer saber? - disse Patifes com certa petulância.
- Sou o agente Mattoso, rapaz.. onde estão meus modos, não é mesmo? E quem sois vós?
- Não ligue para ele, agente Mattoso, sua boca é muito maior que sua espada, porem não maior que sua ignorância. Meu nome é Paulo, e o dele é Guilherme. E sim, viemos em busca de tranquilidade já que as coisas para o lado de la não estão boas... esperamos que em Lua Prateada, com a graça de Tyr. - Ele puxou um símbolo sagrado do deus da justiça, beijando-o. - Para que possamos encontrar trabalho e paz. Não é fácil encontrar trabalho para um homem na minha idade. E você, o que o trás a essas bandas?
-Creio que não entendem o que se passa aqui por estas bandas. Estamos por demais preocupados com os sucessivos ataques de monstros vindos do oeste. Muitos são os que preferem procurar abrigo em Lua Prateada e suas defesas mágicas. Nós que guardamos as estradas em nome do Conselho dos Lordes do Norte não estamos aqui  para fazer juizo de forasteiros com pouca graça como vós. A regra de ouro que lhes passarei é a seguinte, não se metam em encrencas por aqui que não será necessário lhes infligir nenhum tipo de sanção. Entretanto caso achem que exista algum tesouro de grande valia que valha a pena o risco da morte nos julgamentos públicos de Silverymoon gostaria de lhes lembrar que nesses vales a morte é uma dádiva ao se enfrentar a justiça... - disse o guerreiro com bastante calma. - Os servos de Tyr são bem vindos, mas esses são tempos de guerra e há cheiro de sangue no ar.Com o que você trabalha, velho?
- Em Cormyr, sempre trabalhei nos templos de Tyr, meu Senhor, ajudando a curar os enfermos, infelizmente minhas habilidades de cura não compreendem a magia, meu bom Deus não me agraciou com essa dádiva, porém sou perito em primeiros socorros... não fosse minha idade avançada, e estaria eu disposto a qualquer trabalho, meu Senhor, porém receio não ter os requisitos necessários para tarefas árduas, entretanto, um estrangeiro numa terra estrangeira não tem muita escolha certo? Trabalharei no que me oferecerem, meu Senhor... Por acaso sabes de alguém em Lua Prateada que possa estar precisando de empregados?
- Há muito serviço para enfermeiros e socorristas. Os feridos são muitos e as famílias desamparadas numerosas.. você chega em uma má hora, mas com bons serviços a prestar. Que o olhar vigilante de Elmo os guarde. Não sei de ninguém além dos bons templos de Tyr, Elmo, Selune.. em qualquer um deles poderá emprestar seus serviços em prol da comunidade..
- Mas vamos falar sério agora.. e as tavernas? Onde estão las chicas? - interviu Patifes.
- Existem boas estalagem, mas se você é desses que gostam de perturbar a ordem pública com música alta, baderna e tumulto terá problemas com a lei. Esta é uma cidade pacata e de gente equilibrada. Há muitos discípulos do bom mestre Rose aqui se querem saber. - irritou-se Mattoso.
- Não ligue para ele, nobre cavaleiro, sua língua é por demais comprida, porém maior que suas verdadeiras atitudes, ele não causará problemas... Mas diga-me quem é mestre Rose??
- O mestre Rose é o líder de uma ordem monástica local. A ordem monástica de Rose prega a paz e a tranquilidade através de uma vida simples e abnegada. Vejam.. a cidade está logo adiante.. daqui devo retornar para Everlund a fim de buscar novos refugiados. - disse o agente se despedindo. - Até qualquer dia...
Paulo de Tarso e Patifes adentram a cidade sem maiores dificuldades em meio à massa de refugiados que chegava de várias direções. A cidade era bela e colorida, perfeitamente integrada à natureza, com uma arquitetura sinuosa e cheia de curvas: Tudo ali lhes causava imensa repugnância, uma vez que os símbolos da deusa da lua e dos outros deuses da natureza estavam por toda a parte.
Borracha conteve o asco e buscaram uma taverna. Como a cidade estava abarrotada,demoraram um longo tempo para conseguir algo, conseguindo apenas um quarto na pensão de uma velha senhora.)
- Sejam bem vindo senhores.. - disse a velha senhora ao recebê-los. - Meu nome é Benedita, mas vocês podem me chamar de Velha.. todos me chamam assim por aqui.. o quarto tem duas camas e custará duas peças de ouro por dia. - Ela transmitia uma grande paz, deixando você e Patifes muito serenos. - Isso não inclui refeições. Também não podem chegar depois do toque de recolher às 21h. Tenho outros hóspedes, mas tenho certeza que não terão problemas.. aqui fica o banheiro de uso de todos...
- Ótimo, aqui esta seu pagamento. Agora diga-me nobre senhora, achas que consigo algum tipo de trabalho na igreja de Selune? Quero muito ajudar a Deusa-luz nessa batalha, Com quem devo falar para ajudar a curar os enfermos? Disseram-me que os mais poderosos servos de Selune estariam por aqui. Mal posso esperar para conhece-los. A senhora reza para a Grande Deusa Selune?
- Olha meu fio.. eu rezo pra todos os deuses, mas a minha predileta é Eldath, senhora da paz. - disse a Velha com satisfação, enquanto guardava o dinheiro. - Vocês querem uns biscoitinhos?
- Eu aceito.. - disse Patifes imediatamente. - Tem um cafezinho? Uma manteiga também seria bom..
- Lá no templo de Selune tem muita gente boa, honesta. Uns rapazes loiros e bonitos que vão de porta em porta levando a palavra da deusa da lua, sabe. Tem um rapaz lá muito bom chamado Victor. Ele é sobrinho da cunhada da prima da minha vizinha.. um menino muito respeitador e tranquilo. Talvez ele posso ajudar vocês...
- Ok senhora, obrigado pela ajuda. Vamos Patifes, depois comemos, vamos encontrar o Victor, quanto antes o encontrarmos, antes começamos a ajudar. Até logo senhora.

Patifes protestou, agarrou alguns biscoitos e seguiu Borracha. Eles cruzaram as ruas de Lua Prateada vendo o estado conturbado da cidade, tão cheia e movimentada. Encontraram o templo de Selune sem maiores dificuldades, pois ele era uma grande abóboda prateada no centro de um belo parque. Ali se aglomeravam muitos carentes e necessitados dos que buscavam refúgios, sendo atendidos por numerosos clérigos e noviços. Havia uma longa fila que recebia comida quente, enquanto em outro ponto distribuíam-se colchões e casacos. Grupos também saiam de tempos em tempos para abrigos próximos, mas eram muitos mais os que chegavam a todo instante.
- Posso ajudá-los? - disse um rapaz de sorriso angelical e cabelos loiros resplandescentes. - Vejo que procuram por algo.. meu nome é Victor Esleier, sou um servo da deusa da lua e estou aqui para ajudar aos velhos e necessitados. - O corpo dele tinha algumas cicatrizes e tatuagens mal escondidas pelas vestes.
- Olá, Victor, meu nome é Paulo da Tarso, e esse é meu ajudante Guilherme... Somos refugiados do leste e estamos aqui para ajudar os mais necessitados. Você por acaso sabe de algo que um velho pode fazer para ajudar a grande deusa lua?
- Ajuda é sempre bem vinda, Paulo e Guilherme. A situação é delicada e muitos são os necessitados. A graça de Selune nos dá força para alimentar tantas bocas e curar tantos feridos. - Ele foi dizendo enquanto fez sinal para que o acompanhassem. - Se me permitem dizer, enquanto caminhamos até o templo, eu sou um homem redimido pela luz da Senhora que Guia através da Escuridão.. eu era um homem perdido, dedicado a sacrifícios, rituais satânicos e orgias sanguinolentas, mas a luz dela me encontrou e hoje estou aqui.. um novo homem.. com uma causa verdadeira. - Ao fim destas palavras, os dois já sentiam um certo incômodo dada a proximidade com o templo. Patifes não disfarçava o incômodo tão bem quanto Borracha. - Eu irei ter com os membros de minha congregação, mas vocês fiquem livres para servir comida aos famintos.. ou curar os feridos.. aqui estão dois símbolos de nossa ordem para identificá-los. - Ele estendeu os dois símbolos sagrados de Selune, dois olhos entre sete estrelas, para eles.

- Pois que a graça de Selune esteja contigo, Victor, e pelo que vejo já posso começar a ajudar as pessoas, então se me da licença... Vamos Guilherme, são muitos os enfermos... Tchau Victor, espero que possa revê-lo em breve.
Borracha e Guilermo se misturam às fileiras de socorristas. Passam muitas horas ali acudindo soldados e camponeses, jovens e velhos, todos ocupados de cuidar e zelar por suas mulheres e crianças. Esses pobres diabos pouco sabiam além das artes da agricultura e do artesanato. Poucos eram os realmente preparados para empunhar uma espada ou um arco. Ainda assim, sob o disfarce de Paulo, a lábia de Borracha soube garimpar um veio informativo. Soube que os poderosos se concentravam no palácio, ao redor da arquimaga Alustriel, rainha da cidade. Haviam notícias de uma grande reunião que se realizaria como preparação para a guerra eminente. As hordas de goblinóides e orcs encabeçadas pelos devoradores de mentes logo deixariam Everlund e cairiam sobre Lua Prateada.
Ao fim do dia, suas mãos estavam calejadas de tantas massagens e cheirava ao sândalo dos emplastros curativos. A maior parte dos refugiados foi conduzida a uma grande área junto ao tempo, onde haviam barracos e moradias improvisadas.
- Se eu amarrar mais uma tala, vou ficar louco, quando vamos ter alguma ação, Bor.. Paulo? - disse Patifes largando as bandagens sobre a mesa próxima.
- Vamos. Chega de trabalho por hoje. Patifes, vamos tentar sequestrar a menina iluminada esta noite, para isso precisamos vigiar o palácio e talvez alguns pergaminho para nos ajudar. Você sabe onde podemos comprar uns pergaminhos na cidade? São coisas simples como magias de silencio, não adianta pensarmos em ficar invisíveis, provavelmente as proteções magicas do castelo nos impediriam de ficar invisíveis, hoje a noite teremos que contar com nossas habilidades em se esconder. O ideal seria se conseguíssemos contato com alguém de dentro do palácio. 
- Eu posso conseguir o que você precisa. Da outra vez que estive aqui, conheci um cara numa taverna que vendia produtos contrabandeados. - disse Patifes orgulhoso e se gabando como de costume. - Vamos lá.. a taverna se chama Universo Paralelo. Estará cheia de filhinhas de papai gatinhas e chapadas. - ele esfregou as mãos e já saiu andando.
- Eu não preciso de drogas, preciso de pergaminhos mágicos!!!
- Calma, cara. Muito trabalho e nenhuma diversão podem matar você, sabia? - Tentou acalmá-lo Patifes. - Tem contrabandos mágicos lá. Achei apenas que pudéssemos unir o útil ao agradável.. se não, que graça tem sermos os caras maus, hein? Bom, vamos lá.. é por aqui...
Eles deixaram a região central da cidade em direção ao leste. Perto da muralha, entram em uma viela onde uma música repetitiva e ritmada soava quase como um mantra. O cheiro de ervas aromáticas também era intenso e tudo aquilo já criava um ar diferente. Tão logo entraram, depararam-se com dezenas de grandes almofadas que cobriam boa parte do salão. Sobre algumas pequenas mesas baixas e circulares haviam grandes narguiles e garrafas de bebida. Dezenas de pessoas esparramadas sobre as almofadas ouviam a musica da banda que era formada por um percursionista e um sujeito soprando o que parecia um grande bambu. Todo o lugar era multicolorido, mas a iluminação era de penumbra, além de haver uma certa névoa adocicada no ar. Patifes animou-se.
- Vou procurar meu contato e pegar umas bebidas. - Patifes pegou dois drinques, que a garçonete chamou de Delírio Verde. Era adocicado como um licor. Vocês encontraram o contato de Patifes fumando um narguilê numa das mesas do fundo. Ele estava acompanhado de duas garotas e mais dois outros sujeitos.
- Fala, meu camarada.. - disse Patifes forçando a amizade.
- Quem é vivo sempre aparece.. - disse o sujeito sorrindo e deixando de abraçar uma das garotas. - Parece que a ameaça de guerra começou a atrair abutres...
- Abutres? Nós.. não não, meu caro John Nattas.. eu e meu amigo só viemos atrás dos seus bons serviços..
- Meus bons serviços? - disse John com um sorriso forçado. - Acho que eles estão além do seu alcance, Patifes...
- Mas talvez não além dos meus... - Paulo de Tarso disse estendendo a mão ao sujeito. - Paulo de Tarso, ao seu dispor!
- Muito prazer, Paulo de Tarso.. mas alguém que tem este homem por arauto, não tem muito o meu respeito.. - disse John sem deixar de cumprimentá-lo, mas logo voltando a abraçar as garotas.
- Que isso, John, meu velho.. assim eu fico até magoado... - comentou Patifes fingindo o que dizia.
- Eu não ando com tempo pra perder... tempos de crise são tempos de oportunidades....
- Pois é de oportunidades que tenho a a falar. E temos uma boa, agora. E, não se engane, é provável que tenhamos as mesmas opiniões sobre Patifes, mas um guia é sempre bom em terras desconhecidas, e, no fim, não fosse por ele não teríamos nos encontrado, e assim não teria a oportunidade de gastar meu dinheiro aqui...  
- Seu amigo parece ter mais humildade.. e dinheiro que você, Patifes..
- Ora John, meu velho.. como diz a sabia filosofia do guilermismo em sua 13a lei.. eu sou necessário a qualquer tipo de relação com a verdade dos fatos para o bem e para o mal! - Patifes falava aproveitando pra dar uma paquerada nas garotas, John já não prestava atenção nele e preferia querer ouvir o que você tinha a dizer. - O que posso fazer por você, Paulo de Tarso?

- O que você pode fazer por mim é muito simples meu caro, preciso de alguns itens e informações. Temo que minhas perguntas possam gerar algum tipo de problema se escutadas por outras pessoas. Não teríamos um lugar mais reservado para conversar?

- Você precisa de bastante coisa.. posso conseguir a maior parte dos pergaminhos.. e quanto às informações.. bem, venha comigo.. - e ele se levantou fazendo sinal para que o acompanhasse. Patifes ficou conversando com as garotas, enquanto vocês subiram a escada em direção aos quartos. Lá em cima, um casal se esfregava junto a uma porta. Vocês entraram, John trancou-a. - Que tipo de informações?
- É simples meu caro, preciso estar no castelo hoje a noite. Seja como empregado ou mesmo entrando de forma escondida. Haverá uma reunião lá hoje, e talvez o destino do mundo seja selado nela, seria de vital importância que eu conseguisse saber o que será decidido nessa reunião... Sendo você um homem de negócios, me diga, o que você quer para me colocar la dentro hoje?
Dessa vez John sorriu largamente. - Isso é fácil. Dentro do palácio você estará, Paulo. O preço é alto, é claro, mas infiltrar um espião lá não será problema. Se você criar alguma confusão ou for pego, eu não tenho nada com isso e se chegarem até mim, eu cuidarei que você seja envenenado em sua cela na prisão. Bem, mas falemos de dinheiro... - e ele animou-se novamente. - Por 5 mil peças você estará lá a tempo para espreitar a tal reunião...
- Pois temos um acordo Jhon. Agora conte-me, qual é o seu plano para me colocar dentro do castelo?
- Isso é simples.. há poucos soldados no palácio devido à guerra.. uma boa governante não se preocupa com a própria segurança quando seu povo está ameaçado. - John disse aquilo com um sorriso irônico. -Ainda mais quando você é a arquimaga mais poderosa do Norte. Tenho contatos na cozinha do palácio.. você poderá se passar facilmente por um criado.. um ajudante. Para quem você espiona, amigo? Para os zentharianos? Para os thayanos?
- Veja bem meu caro John, não é que eu não confie em ti, alias, minha vida esta em suas mãos, mas meu patrão é um tanto quanto reservado, e ficaria chateado comigo caso eu revelasse sua identidade. Eu diria que depende da informação que eu obtiver, digamos que espiono para meu próprio lucro. Mas acho ótima sua ideia, vou preparar um disfarce de ajudante de cozinha, que horas devo estar pronto?
- Volte com o início da noite.. - disse John desanimado com sua falta de informações e indo abrir a porta. -Mas é melhor já nos encontrarmos mais próximos do palácio pra não levantarmos suspeitas. Nos encontraremos nos fundos do jardim atrás do palácio... o que você vai fazer com seu amigo?
Borracha encontrou Patifes abraçado com duas moças. - E então? Que que eu te disse.. garantido, não é mesmo? Com licença garotas, eu e meu parceiro.. mas não em um sentido sexual.. temos que conversar..
- Como assim? Eu não vou com você? Não vamos pegar a garota? Eu não vim até aqui pra ser seu seguidor não...
- Veja bem meu caro, tentarei lhe explicar da melhor maneira possível, e daí você tome a atitude que achar melhor. Nós estamos prestes a invandir um dos lugares mais guardados magicamente de Faerun, haverão guardas por todos os lados e armadilhas em todos os cantos. Eu acabei de gastar 10 mil peças de ouro com seu amigo ali, para que eu aumente, ainda que pouco, as chances de exito dessa missão. Minha idéia era entrar em silencio, localizar o alvo, e me teleportar com o alvo dali,e isso é o que farei. Entenda bem, que se por acaso sua vida estiver em jogo eu irei embora mesmo assim. Mas lembre-se, a escolha é sua, essa é uma missão onde a furtividade é mais útil que a força, e, por isso, talvez uma pessoa fizesse melhor o trabalho que duas. Faça o que achar melhor, apenas não atrapalhe nossos planos. O que me diz? Tem dinheiro suficiente para a empreitada?
- Peraí.. vamos por partes,, pra começar.. onde fica a parceria? Onde está a dupla mais chuta bundas da história das forças do mal? Nós chegamos até aqui graças aos seus músculos e meus miolos.. ou graças à sua dedicação e ao meu talento.. como você preferir.. o que quero dizer que a nossa chance de falhar.. e nós NÃO falharemos.. é reduzida por estarmos os dois. Até agora só colecionamos sucessos e se eu sei de alguém que caiu.. bom.. foi você. Além dos fatos estarem ao meu lado, terceira lei do guilermismo, pagarei por tudo isso ai que você acha necessário.. falarei com John Natas, vou negociar e até ver se consigo uns outros produtos. Nós vamos entrar, pegar e partir. Rápido e rasteiro.. como eu gosto.. aliás, as meninas são muito simpáticas.. você pode entretê-las enquanto eu falo com o barão...

(Borracha afastou-se dali e procurou um lugar sombrio, tranquilo e silencioso onde pudesse comungar com a Senhora da Escuridão. Ele sentia-se muito motivado com a chance de reafirmar seu valor ante a Dama de Tudo e do Nada. A cidade da Lua Prateada com seus adornos graciosos e seus prédios de mármore branco eram como uma luz pálida diante da vastidão da noite. Ela sabia que os olhos atentos da Rainha das Trevas estavam satisfeitos em vê-lo disfarçar-se e enganar os tolos e crédulos habitantes locais. Lutavam apenas para resistir ao inevitável e por isso mesmo, eram os alicerces necessários à ascensão dos escolhidos da deusa.
Durante o dia, ele se refugiou do desagradável sol, tomando o cuidado de evitar chamar atenção. O fluxo de refugiados só aumentava, enquanto notícias das hordas de orcs e trolls ganhavam os ares. Diziam que uma enorme batalha se dava próxima à Grande Floresta com tropas vindas da Cidade dos Esplendores.
Com a chegada do crepúsculo, já devidamente paramentado, fez uma prece final desejando azar a todos os seus inimigos e partiu. Encontrou John Nattas a esperá-lo, mas nenhum sinal de Patifes, que chegou atrasado.
Borracha e Patifes adentraram o palácio depois de John Nattas lhes dar as devidas orientações. O castelo para os tolos era uma magnífica obra de arquitetura, com incontáveis torres que parecia desejar atingir o céu.. Logo perceberam que havia um cerco protetor de guardas vigilantes mantendo afastados do castelo todo e qualquer estranho, ele, no entanto, que chegavam com os criados não foram perturbados. Todos ali pareciam pessoas de algum talento, ainda que talentos servis. Haviam mais mulheres do que homens entre humanos e meio-elfos. Ninguém parecia ter alguma autoridade, coisa que você só viram ao chegarem à entrada do castelo, onde um elfo, alto e magro com cara de arrogante, vestindo um uniforme impecável saudou-os.
- Boa noite a todos. Hoje haverá um importante  banquete da rainha com inúmeros convidados. Os homens virão comigo para tratar do servir as bebidas e pratos. as mulheres podem se direcionar à cozinha e cuidar de preparar os pratos e cuidar das louças. Meu nome Dobbyliel. - Ali de perto, o castelo era mais imponente, ele ganhava os céus com suas torres imensas e seus contornos fantásticos. 
A cozinha para onde passaram era imensa e com oito fogões. As mulheres foram se apoderando do serviço que outros haviam deixado ou iam deixando. - Venham comigo.. - disse o elfo chamando Borracha, Patifes e seis outros homens.
- Eu irei lhes entregar suas vestimentas. - limitou-se a dizer o elfo. Eles chegaram a uma grande copa, onde outros oito homens, entre humanos, elfos e meio-elfos esperavam. Dobbyliel chamou-os também e passou a dar instruções a todos vocês sobre como proceder com o serviço. Em primeiro lugar, deveriam evitar falar, limitando-se a informar o que serviam e apenas se fossem perguntados. Não deviam se demorar próximos a nenhum dos convidados e evitar contatos visuais. Qualquer problema no salão deveria ser informado diretamente a Dobbyliel ou a um dos guardas da rainha que lá se encontravam.
- E nós vamos comer quando? - interviu Patifes.
- Ora se.. - começou a responder rispidamente o elfo, mas olhando melhor para Patifes, ele amoleceu o tom. - Vocês irão ter uma boa refeição depois de se vestirem e antes de cuidarem do serviço.. como você se chama, belo rapaz?
- Eu sou Gui.. Guiriobaldo Fernandes.. a seu dispor...
- Não se preocupe chefe - interviu Borracha submisso e com a cabeca bem baixa - faremos nosso serviço direito, o rapaz é falastrão porem forte e competente, tomarei providencias pra que ele se cale. - Ele dá um safanão em Patifes - Você sabe como são esses jovens...
- Tire as mãos dele, seu audaz velhaco.. - repreendeu-o o elfo Dobbyliel. - Tenho certeza que o jovem é muito capaz. Venham comigo. - Indo até outra sala, ele abriu um armário e indicou. - Aqui estão as vestimentas de vocês. Troquem-se aqui. Depois podem ir até a cozinha, onde as mulheres os servirão. Dentro 1 hora irei retornar e explicarei os pratos e começaremos o atendimento. Você Fernandes.. venha comigo..
Patifes achou estranho, olhou pra você e aceitou o convite. Assim, logo que Borracha se viu sozinho, após vestir-se de garçom, deixou a cozinha. Não havia sinal de guardas por ali e você logo encontrou uma mulher em trajes brancos. Era uma elfa um tanto carnuda para a raça e com a pele tendendo ao dourado. Ela levantou uma sobrancelha ao vê-lo.
 - Os atendentes devem ficar na cozinha... e você não está velho demais pra ser garçom?
- É a profissão que a experiência me ensinou, boa senhora.. servir bem aos que merecem...
- De qualquer forma, aos atendentes cabe a cozinha... cuide de retornar aos seus afazeres.
Assim sendo, Borracha não conseguiu espionar o quanto queria. Patifes, por outro lado, teve muito mais sucesso explorando as taras sexuais do chefe da criadagem. Manipulando os desejos do elfo, ele soube extrair preciosas informações. 
Quando finalmente chegaram ao salão, estavam incumbidos de servir um precioso hidromel de 1200 anos. Se por um lado isso lhes permitiu ver todos que lá estavam, limitou-lhes a liberdade, pois todos queriam degustar tal delícia. Não demoraram a identificar a rainha Alustriel bem como incontáveis outras figuras nitidamente poderosas, mas nenhum sinal de Alissah Eagle. Ao menos avistaram a maldita Maialee, enquanto serviam a própria Alustriel, filha da deusa da magia Mystra.
Eles retornaram à cozinha para pegar mais bebida e ouviram explosões e tumultos viram que era a oportunidade que aguardavam. Tomaram furtivamente a mesma direção da rainha e de Maialee, vitimando uma dupla de guardas desavisados no caminho. Passaram por um mesanino, de onde avistaram o grupo de heróis de quem haviam tomado o metal das estrelas passando lá embaixo. Aceleraram o passo até encontrar o aposento à frente, onde a clériga Maialee Evalandriel guardava o corpo inerte de Alissah.


Mesmo muito poderosa, a elfa do sol foi pega de surpresa, perdendo boa parte de suas forças antes que pudesse fazer algo. Os dois já tinham certeza da vitória e estavam prestes a se apoderar da elfa verde, quando uma nova surpresa se deu, mas dessa vez para eles. Um enorme demônio se manifestou no aposento, agarrando Alissah de pronto. A criatura abissal ainda agarrou Borracha com a outra mão, executou Maialee e explodiu Patifes em milhares de pedaços antes de partir dali.
Durante meses.. ou anos.. ele não sabia mais o que era o tempo, Borracha sobreviveu no limite nas terras inóspitas do inferno daquele demônio Orcus. Ele e Alissah, sempre catatônica, ficaram presos lá por longo tempo, até o dia em que um novo prisioneiro chegou.. um certo Lorde Byron. Parecia um homem muito sábio e misterioso. Poucas eram as palavras que puderam trocar, enquanto estiveram ali presos. Um dia, o demônio apareceu-lhes com um novo brinquedo. um ser feito de Trevas, muito similar a um bárbaro que Borracha já vira. 
- Eu não precisa mais de vocês, gado.
- Abençoados sejam os deuses por isso.. - retrucou Byron de imediato.  - Que finde nosso sofrimento.
- Cale-se, servo dos delírios! Agora que tenho a chave das sombras dos planos.. realizarei meu intuito derradeiro e tomarei as Planícies Cinzentas e governarei todo o Abismo. Com a energia de todas as almas de Faerun, eu vencerei as Guerras Sangrentas, colocarei os Nove Infernos de joelhos e tomarei até mesmo os Sete Céus. Nada nem ninguém poderá mais me deter. Eu, Orcus, governarei tudo e todos.
- Acabe com nosso tormento sem fim e nos mate! - interrompeu novamente Lorde Byron.
- Vocês não me tem mas nenhuma utilidade agora que eu não preciso mais do bárbaro. Esta versão sombria é a arma perfeita.. 
- Por isso mesmo você tem que nos matar! Ande logo! Faça o que tem que fazer.. o que tanto queremos desde que aqui chegamos.. não aguentamos viver sequer mais um segundo nesse abismo terrível e sem fim. - Orcus interrompeu o homem agarrando-o pelo queixo e erguendo no alto de maneira a calá-lo com dor.
- Ninguém diz a Orcus, o que fazer, mortal. Eu devia ter matado você no dia que o capturei. Mas um servo sem senhor costuma ter prazer em encontrar a morte. Provavelmente, sua alma vadia consiga usar truquezinhos e correr para os ouvidos de Kelemvor. Você não terá o que quer... joguem nos para fora de meu reino.. que as grutas do Abismo deixe os vermes devorarem-lhes a carne aos poucos.
Desse modo, acabaram despejados fora do reino de Orcus, o que naquele momento parecia algo pior que a morte. porém, imediamente, Lorde Byron se ergueu e explicou para o servo de Shar que havia uma saída dali. Ele precisaria do que restava de energia vital neles três, mas que isso poderia abrir um portal para Faerun. Sem opção, Borracha aceitou e assim ele entregou o sangue dele e de Alissah a Lorde Byron. O clérigo executou um pequenino ritual com palavras ininteligíveis para o ladrão. Ao final delas, o chão de pedras cortantes virou fogo e eles caíram.
Quando pararam de cair, havia grama sobre o chão e estavam em algum tipo de ruína. Havia ali um grupo de cinco pessoas, uma das quais bastante familiar.. o paladino de Tyr.. que também reconheceu Lorde Byron e Alissah, mas não Borracha...