O dragão se mostrou um adversário formidável como é próprio desses lagartos voadores ancestrais. Esse espécime em particular era bastante interessante. Os conhecimentos de Daphne e Ehtur combinados sabiam que tratava-se de uma Dragão da Presa. Além de ter o corpo coberto por chifres pontiagudos, a criatura possuía presas e garras desproporcionalmente grandes para o seu tamanho. Embora pouco maior do que David, tratava-se de um inimigo mortal, pois seus ataques ainda drenavam a resistência de quem era acertado. Suas asas, ao contrário, eram pequenas e atrofiadas, como se a vida subterrânea tivesse cobrado seu preço adaptativo. Fato é que, à despeito do cerco e da capacidade de batalha dos heróis, atacando em uníssono.. seus esforços pouco afetaram a carapaça do dragão.
Cada ataque dele, entretanto, era devastador como uma tempestade num campo de flores. Tudo se fez ainda pior, quando ele usou seus poderes mágicos. O dragão fundiu-se com o chão e logo seguiu-se um intenso tremor que fez tudo vir abaixo. O desmoronamento foi terrível. Ehtur e Rock viram-se soterrados sob toneladas de pedra. Mais à frente, Syrius, Ryolith e Arnoux ficaram isolados dos demais. Na parte anterior à massa de pedras que se formara bloqueando o caminho, Yorgói, Débora, Daphne (em forma de um urso preto), David e Úrsula não sabiam o que fazer. Com o retorno súbito do dragão, as presas só puderam lutar.
Com a ajuda de David, Ehtur conseguiu se libertar e ajudar os outros, já no limite de suas forças. Mas mesmo a retumbante lança do guardião não foi suficiente e eles viram-se todos à mercê de adentrarem o reino dos mortos. No momento derradeiro, todavia, algo desviou a atenção do dragão. Ao que parece, havia sobreviventes do outro lado e eles haviam encontrado algo indevido.
O dragão, após se fundir novamente à terra, abandonando os moribundos à própria sorte, surgiu do outro lado. Encontrou o trio já bastante combalido após disparar as armadilhas de dracônico covil. Rapidamente, tombaram Ryolith e Arnoux, restando Sirius, cujas forças minguavam ante um ardiloso veneno. Engolindo a pouca saliva que restava, resolveu falar na língua dos elfos..
- Olhe.. esses homens me devem dinheiro. Entendo que você esteja irritado, mas tenho coisas a acertar aqui...
- Você não tem nenhum direito, humano. Você sequer me serve como comida envenenado como está.
- Certamente eu não seria boa refeição em momento algum, chegado. Mas como eu dizia.. entendo sua situação.. aliás a situação tá difícil pra todo mundo, não é mesmo? Quando você acha que consegue estabelecer relações de ganho mútuo desprovidas de qualquer amarração simbólica dos vetores da transação, você descobre que a vida é uma meretriz baixa, suja e vulgar capaz de foder tudo... então, com a sua licença, vou curar meus subalternos e seguir nosso caminho...
- Você me diverte, humano. Creio que será interessante ouvir sua tagarelice no caminho até os guardas. Seus lacaios vão morrer antes em algumas horas.. antes que retornemos. Seus outros amigos já devem estar mortos do outro lado.. ande.. és agora meu lacaio.. como se chama?
- Black.. Sirius Black.. você não quer ir lá checar?
- Não é necessário. E eles não tem como atravessar, de qualquer forma...
- Como se chama, senhor?
- Ixphliksraunt.. ande logo... agora está comigo..
- Sim, senhor.. tamos aí né.. fazer o que.. vamo que vamo.. - disse Sirius tentando parecer o mais animado que uma pessoa envenenada pode parecer.
Mal sabia Ixphliksraunt que Débora havia curado parte dos ferimentos de todos do outro lado, assim como Yorgói os fortaleceu com sua magia de Resistência de Urso. Não só conseguiram resgatar Rock e seu cão, como os esforços combinados já vinham abrindo espaço no topo da pilha para formar uma passagem e puderam ouvir o fim da conversa de maneira limitada. Úrsula sentia o peito aflito, pois algo a avisava que a vida de Arnoux se esvaia. Apesar da proeza que desempenhavam, o trabalho era árduo e demandava muito tempo.
Tudo teria sido em vão, não fosse o símbolo sagrado de Tyr, que pertencera ao grande paladino Bahr Kokbah, demonstrar uma singular propriedade. No momento derradeiro do último suspiro do paladino Ryolith Fox, o amuleto sagrado banhou o servo de Tyr com a graça da justiça de Tyr e esse viu seu fôlego subitamente recuperado. Atônito e esbaforido, Ryolith pode também socorrer Arnoux.
Recuperados, os dois puderam comunicar-se com os camaradas e auxiliar os trabalhos em sentido contrário. Após mais algumas horas, encontraram-se e o casal de gnomos pode tranquilizar-se um nos braços do outro. Arnoux explicou da entrada do covil e das armadilhas. Dessa vez, contando com o talento efetivo de Úrsula, as armadilhas foram desarmadas de uma só vez sem qualquer dificuldade. Ela abriu a passagem e logo estavam diante do túnel estreito e sinuoso que levava ao lar do dragão.
Enquanto isso, Ixphliksraunt seguiu com Sirius cada vez mais em direção às profundezas subterrâneas:
- Quer dizer então.. senhor.. que.. o senhor.. trabalha para os devoradores de mente..
- Eles me dão bons presentes.. - disse o lagarto com satisfação.
- É isso? Você tá nessa por presentinhos?..
- Eu sou poderoso demais para ser dominado como essas criaturas inferiores, lacaio. No entanto, não me custa viver minha vida e receber oferendas desses inaptos. Os metres deles não me ameaçam com seus ardis...
- Mestres? Você quer dizer os devoradores de mentes..
- Ha.. - riu Ixphliksraunt - você é um tolo, Sirius Black. Os devoradores de mentes são apenas peões de outras criaturas.. criaturas muito mais terríveis e poderosas.. você já ouviu falar em um Phaerimm?
- Não, nunca, que que é isso?
- São chamados de sugadores de magia e de espinhos voadores. São uma espécie antiga, que andava sumida a tempos. Eles estão tão além dos devoradores de mentes, no que tange à dominação mental, quanto os devoradores de mentes estão de um goblin retardado.
- Puxa.. bastante hein. Uma verdadeira ameaça, não é mesmo?
- Não para mim. Nós dragões estamos além deles.. veja, ali está a vila.. - e dito isso, Sirius pode ver a caverna onde pequenas casas de pedra se formavam. Havia em volta delas o que parecia uma vasta plantação de cogumelos gigantes. Talvez fosse o veneno, mas tudo ali era mais colorido e perfumado. Alguns hobgoblins surgiram e Sirius pode ver alguns elfos negros escondidos sobre as casas. O dragão recebeu algumas poções com as quais curou os ferimentos que tinha e, por fim, antes de retornar, abandonou Sirius em um canto para morrer. Aparentemente, ele já havia se cansado da tagarelice do senhor Black e resolveu deixar o veneno terminar o serviço.
Deixado para morrer nas profundezas da terra, Sirius Black resolveu apelar para o divino. Suas súplicas destinaram-se a todos as divindades cujos nomes ele se recordava (e que não piorariam a situação com uma ajudinha..). Ao apelar a Selune, deusa da lua, ele percebeu o brilho nas pedras que recebera na Grande Floresta. Após uma hora de orações, a magia das pedras expulsou parte do veneno e devolveu-lhe força suficiente para retornar escondido.
Enquanto isso, ao retornar, Ixphliksraunt deparou-se com David e a passagem dos heróis entre a pilha de pedras. Louco e enfurecido, tendo vitimado David, o dragão assomou no covil ensandecido, mas foi recepcionado pela tocaia que o aguardava. Com ataques precisos e combinados, todos aproveitaram-se do descontrole de Ixphliksraunt para vencer seu poder e fazê-lo tombar em seu próprio lar...
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