30 de jan. de 2012

Indo pro buraco...



Deixando os inimigos para trás, nossos heróis puseram-se a correr em direção à saída que Shatiah indicara. Subiram a escada, enquanto o troll golpeava o monstro gelatinoso para abrir caminho, apenas dividindo-o em várias partes iguais. Ehtur aproveitou para enfraquecer a estrutura da escada com ácido, mesmo que Sirius ainda estivesse nela. Os demais cruzaram a escuridão que persistia no andar de cima e logo chegaram à escada da outra ala da prisão. Ali puderam ver o estranho ser, tal qual uma estalagmite com boca e tentáculos que guardava a base da escada.
Tentaram repetir a tática atirando cadáveres de bugbears, mas a criatura os despedaçava e engolia com voracidade e sem ser atrapalhada por isso. Finalmente, ele usou de um ataque mental paralisando alguns. Ryolith Fox sem se demorar mais investiu em carga contra o monstro. Alguns misseis mágicos, raios e lançadas abriram caminho para que as flechas de Úrsula findassem a vida do inimigo.
Vasculhando a sala, logo acharam o alçapão por onde eram atirados resíduos. O buraco dava para um rio subterrâneo algumas dezenas de metros abaixo. David, no entanto, era grande demais para passar. Assim sendo, foi necessário que Yorgói e Rock gerassem ácido mágico para corroer a pedra, enquanto os demais cuidavam de impedir que bugbears ou orcs invadissem pela porta. Feito o trabalho, Ehtur desceu sua corda e todos começaram a descer. Daphne, entretanto, escorregou e só não tombou, porque imediatamente foi salva por Rock, que conjurou um magia que a fez cair como uma pena. O mesmo efeito foi utilizado nos demais. Com alguns empurrões, David passou pela abertura, ao mesmo tempo que Ryolith devolveu seu cavalo ao plano divino.
Lá embaixo, eles encontraram o túnel por onde passava o rio e precisaram de uma luz mágica para enxergar alguma coisa. A correnteza os conduziu por algum tempo até as águas se acalmarem. Chegaram à uma lagoa larga e profunda com margens de ambos os lados, uma conduzindo a um túnel, outra a uma escada larga. Haviam duas pontes unindo as margens. Telcontar calculou que deveriam estar sob o centro da cidade, abaixo da torre. Chatiah confirmou que estavam na entrada das minas e era lá que Deborah e a maior parte da população estava. Yorgói os envolveu com uma esfera de invisibilidade ao verem a aproximação de um grupo. Eram pobres gnomos obrigados a carregar grandes sacas carregadas de minérios. Um par de orcs os acompanhava com chicotadas e palavras ásperas. Enquanto grupos como esse tomavam a ponte sul rumo à superfície, outros voltavam pela norte para buscar mais carga.
Esperaram pelo momento certo e seguiram o mais silenciosos que podiam. Cruzaram com um dos grupos no caminho, mas a invisibilidade provou-se efetiva. Pouco depois chegaram ao grande salão. A caverna era colossal com mais de dez metros de altura. Dela partiam sete outros túneis, seis dos quais possuíam trilhos para carrinhos de minérios e eram de onde iam e vinham os grupos de gnomos. Cada entrada era vigiada por uma dupla de bugbears entediados e alheios. Mas foi no centro de tudo que estava o que procuravam. Numa jaula, presos como animais, estavam três pequenas pessoas. Seguiram para lá na velocidade que os movimentos silenciosos permitiam. Arnoux abriu a tranca da jaula e dos grilhões que prendiam Deborah, enquanto o peito de Yorgói disparava. Rock leu calmamente o pergaminho de invisibilidade dado por Sirius, deixando-a também invisível.
Foi nesse momento que Daphne e Sirius reconheceram dois homens que vinham pelo túnel oposto ao deles. Um deles era um Amkathra disse ela e também um membro dos Ladrões das Sombras disse ele. Com ele, estava o outro humano, de aparência mais grosseira, e ambos conversavam com um drow. Com eles vinham cinco hobgoblins. Precisavam partir e foi com pesar que Yorgói abandonou o "sogro", a magia não poderia abarcá-lo e o tempo que tinham minguava. Avançaram o mais rápido que podiam e já estavam a meio caminho do lago, quando novamente um influência mental os atacou. Isso fez Arnoux e Úrsula sucumbirem, atacarem David e urgirem rumo aos inimigos. Ehtur os deteve e todos conseguiram fugir aceleradamente, jogar-se no lago e serem levados pelo rio.


27 de jan. de 2012

Saindo da frigideira...




Derrubado o último dos inimigos ali presentes, no entanto, deu-se uma nova explosão mental. Dessa vez, Yorgói, Úrsula, Arnoux e Rock foram dominados, passando a investir contra os seus próprios camaradas por estarem sob o controle das forças do mal. Ehtur Telcontar e Ryolith Fox preferiram não perder mais tempo, nocautearam Yorgói e foram em direção à cela onde estaria a amada do mestre gnomo. Daphne, indo até a janela, viu que o movimento em direção à prisão continuava, cada vez mais orcs convergiam para lá. Além disso, a druida viu um devorador de mentes surgiu na plataforma da torre no centro da cidade. No térreo, Syrius e o lobo David se viravam para lidar com seus colegas dominados.
Quando uma escuridão impenetrável surgiu, como a que viram anteriormente ser conjurada pelos elfos negros, viram que era hora de sair dali, pois já tinham o que vieram buscar. Da escuridão começaram a vir setas e as jaulas começaram a ser abertas, libertando a monstruosidade disforme que ali estava. Ao chegar lá embaixo, no entanto, viram-se encurralados. Se já haviam conseguido libertar seus camaradas do controle mental, acabaram por encontrar mais orcs do que o esperado. Mesmo com os ursos conjurados por Daphne e muitos esforços, eles eram em número excessivo. Fora o troll e os bugbears que vinham em carga. Uma poção de cura acordou Yorgói:
- Yorgói.. precisamos sair daqui.. já resgatamos a Deborah e.. - ia dizendo Rock, acordado pouco antes.
- Ei, mas essa aqui não é a Deborah.. é a irmã dela.. a Shatiah... Shatiah, acorde. Vamos acorde!!!.. Onde está a Deborah? Onde está sua irmã?!?Fale conosco... - após sacudí-la bastante, o feiticeiro gnomo achou por bem dar-lhe uma de suas miraculosas poções. Isso surtiu algum efeito, enquanto seus camaradas seguiam lidando com os orcs à frente da melhor forma que podiam.
- Yo.. Yorgói? O que vo.. você tá.. tá fazendo aqui?
- Eu vim salvar a Deborah? Onde ela está?
- Ela.. e.. e papai.. e quase todos es.. estão na.. nas profundezas.. nas cavernas sob.. sob a torre..
- Você ainda está fraca. Nós estamos encurralados.. precisamos dar um jeito de sair daqui e..
- Te.. tem... tem um túnel.. uma.. uma passagem.. até o rio.. do outro lado.. da prisão...
- Vocês ouviram a gnoma.. retirada.. recuem.. - gritou Ehtur comandando a todos para voltar.
- Mas e o monstro? Como passaremos por ele? - indagou Rock.
Em resposta, Telcontar pegou o corpo de um dos orcs abatidos e arremessou-o com toda força na direção da estranha criatura disforme e gosmenta. Ela fagocitou o orc, absorvendo lentamente. Isso a fez parar de avançar e deu tempo para os heróis. Sirius atirou outro orc e isso aumentou ainda mais a área da criatura, obrigando todos a passarem por cima dela. Apenas Daphne não teve sucesso, uma vez que os gnomos estavam todos sobre David. Sirius foi rápido em resgatá-la, minimizando os efeitos corrosivos do corpo ácido da monstruosidade.

16 de jan. de 2012

Vamos salvar a donzela indefesa..


Syrius foi o último a acordar no dia seguinte. Deparou-se com o próprio Falcon Eagle ali a vigiá-lo. O líder daquela família de elfos verdes parecia aguardar para ver como ele estava..
- Como se sente? - foram as primeiras palavras dele.
- Bem melhor.. mais leve.. obrigado por perguntar.
- É visível sua mudança, humano. Vão buscar Gaios.. ele deseja ver como Black está..
- Estou pronto a continuar a salvar quem passa pelo meu caminho, senhor Eagle. Não se deixe enganar pelo pouco que viu antes.. e pelo que insistem em dizer de mim. Parece que algo do além afeta o modo como as pessoas me entendem. Se me permite.. irei pegar de volta minhas coisas.. - Siryus passou a conferir atentamente e ver que tudo que possuia anteriormente continuava ali. Percebia, que sua visão sensível na escuridão desaparecera. Quando terminou de vestir-se viu Gaios chegar acompanhado de um ansioso Yorgói.
- Vejo que está recuperado, Siryus. Agora que não é mais um senescal de Shar, sua presença deixou de representar uma chaga na existência. No entanto, ainda existe uma cicatriz em sua alma.. uma marca que se for negligenciada poderá tornar a dar caminho para a Senhora das Sombras até sua vontade.
- Tenho certeza que não irá acontecer, bom druida. Estou prevenido e melhor preparado dessa vez..
- Eu insisto que deves acautelar-se e escutar-me. Tenho um presente para ajudá-lo a resistir em sua redenção. - O velho druida entregou cinco pequenos cristais para Siryus. - Basta que passe uma hora em meditação para os deuses da natureza e receberás em troca sabedoria para guiá-lo na perpétua batalha contra o mal que o habita.
- É um presente por certo poderoso demais.. valioso demais.. é demais pra mim, bom Gaios..
- É um presente.. o equilíbrio da natureza está na troca.. o valor está simplesmente no olhar...
- Sábias palavras.. permite-me tomar nota delas?
- Se isso é tudo.. devemos partir. - finalmente interrompeu Yorgói.
- A pressa não é uma aliada, mestre gnomo. Insisto que devem avançar com cuidado e deve levar mais companhia. Conversei a pouco com Daphne e ela irá acompanhá-los como nossa representante, pois precisamos saber o que se passa na vila de Brasillis. Mestre Falcon também conversou com Ehtur e Ryolith e ambos também seguirão com sua pequena comitiva em favor das defesas da Grande Floresta.
- Eu agradeço a todos.. por tudo.. mas se nos derem licença então.. - Yorgói e Siryus retiraram-se, deparando-se com os demais que os aguardavam do lado de fora da cabana formada por galhos e folhas.
- Agradeço a vocês por virem conosco. O talento de vocês é imprescindível... e por isso mesmo, não irei mentir. Meu intuito é libertar Deborah custe o que custar. Se for impossível saberei recuar, mas não é com esse objetivo que saio daqui.
- Eu imagino como se sente, Yorgói. Prometo ajudá-lo da melhor forma possível, se prometer que me acompanhará quando eu pedir sua ajuda em troca.
- Eu não poderia fazer um negócio melhor.. - sorriu o gnomo.
- Como não.. comigo fizeste a melhor das negociações! - interviu Siryus.
- Você pode estar diferente e eu não sentir mais o mal em você, mas eu continuo de olho em você.. Black. - cortou-o Fox. O paladino usava um novo símbolo sagrado de Tyr, que lhe fora entregue por Falcon Eagle.. um presente de um antigo camarada chamado Bahr Kokhba, campeão de Tyr e de Cormyr, assim como ele. O líder dos elfos verdes também entregara a
Telcontar um par de botas élficas. - Era o destino de Alissah recebê-las.. e entrego-as a você, pois sei que você irá entregá-las a ela. Serás o guardião dessa missão. - E assim eles seguiram. Primeiro ficou para trás a vila dos elfos verdes.. depois a Grande Floresta. Seguiram para noroeste, cortando a planície.
Depois de muitas horas, avistaram as construções que se elevavam à frente. Aproximaram-se com cautela e sob uma esfera de invisibilidade conjurada por Yorgói. Primeiro avistaram a torre que marcava o centro de Brasillis. Antes da cidade, viam a enorme favela formada por barracos improvisados, uns apoiados sobre os outros. Um pouco mais perto sentiram o cheiro horrível que o vento trazia de lá, assim como perceber o pouco movimento entre as vielas. Aquele inabitável aglomerado formava-se entre o ângulo reto formado pelos muros da cidade. Ehtur partiu no reconhecimento da região, enquanto os demais aguardavam.
Percebeu serem 3 acampamentos em volta da cidade. Um de orcs, o maior, um de bugbears, o menor, e um de hobgoblins, o unico alguma organização. A cidade tinha forma de cruz e um
portão em cada extremo. Três dos portões estavam abertos e havia um movimento de gnomos
escravizados e de capatazes orcs. A fonte de água subterrânea devia vir do norte ponderou analisando o relevo. Reuniu-se com os demais.
Yorgói explicou que os dois grandes prédios que Ehtur vira eram a prisão, ao norte, em forma de H, e a prefeitura, ao sul, o maior da cidade, perdendo em altura apenas para a torre. Foi a vez de Daphne varrer as imediações tornando-se um corvo e vagando por algumas horas. Na cidade, ela descobriu gnomos e orcs aprisionados na prisão além de sinistras aberrações. Após ser atacada, ela preferiu voar até o norte, onde encontrou um vasto pantâno, os Pântanos Eternos, que os druidas diziam um dia ter pertencido à Grande Floresta.. ali devia se formar o rio subterrâneo que alimentava a cidade. Daphne retornou e informou que o caminho até a prisão parecia simples, com alguns capatazes e alguns bugbears no local.
Ante os apêlos de urgência de Yorgói, seguiram agrupados e invisíveis, mas como temiam, não tardaram a ser descobertos pelos mestres dos orcs. Os capatazes orcs que vigiavam os gnomos, concentrando neles sua mecânica crueldade, subitamente pararam e dirigiram olhar na direção
da intrépida trupe. Uma saída rápida pela direita deu início à perseguição. Precisaram dar uma volta maior para chegar ao prédio da prisão. Lá, os guardas bugbears já vinham em sua direção. Nova curva, dessa vez para esquerda, pois pretendiam dar a volta pelo vão sob o centro do prédio. Por ali, porém, depararam-se com um troll.
- Sigam.. - falou Ehtur.. - Nós cuidamos dele. - E o guardião atacou o monstro gigante, quando este ficou ao alcance de sua lança. Ryolith partiu em carga contra o troll. Sirius posicionou-se e atacou-o por trás, todos os demais seguiram ainda invisíveis. A surpresa do troll confirmou que os mestres devoradores de mente podiam indicar onde eles estavam, mas ainda assim não podiam ser vistos. O troll acertou o guardião, mas bastou mais um ataque de Telcontar para tombar a besta, ainda a tempo de escapar da turba que chegava.
Daphne, Rock e os gnomos entraram na prisão, mas haviam dois outros bugbears ali dentro. David passou por eles sem demora rumando para o fundo do aposento. Ehtur, Ryolith e Sirius que vinham logo atrás entraram atacando e fecharam a porta, testando suas forças contra os orcs que desejavam entrar. Foi então que deu-se outra das explosões de energia mental, paralisando Arnoux, Úrsula, Daphne, David e o paladino. Para piorar, Marley, o furão familiar que Yorgói enviara para espionar a patrulha do devorador de mentes, alertou-o que o grupo já estava próximo da prisão.
Assim sendo, Ehtur e Sirius apressaram-se em derrubar os bugbears e mantiveram a defesa da porta com a ajuda de Rock, que enviou seu cachorro piscante averiguar o andar de cima, Yorgói invocou cães celestiais que mandou em seu auxílio. O cão que pisca encontrou uma gnoma parecida com a descrição dada por Yorgói, o que reanimou a todos. Ehtur subiu, Sirius e Rock derrubaram os orcs da porta, pois descobriram que a maioria deu a volta e entrou pelo outro lado.
Felizmente, a paralisia mental findou e todos puderam lutar (ou recolher pertences). No segundo andar, com as forças concentras puderam vencer quase uma dezena de bugbears e mais um punhado de orcs. Estavam prestes a libertar Deborah...


6 de jan. de 2012

O descarrego...


Carregando os druidas e elfos feridos, todos eles dirigiram-se para o âmago da Grande Floresta. Após pouco tempo, já não tinham a menor idéia de como fariam para sair dali. O caminho era tortuoso e as árvores antiquíssimas. Pouca era a luz do sol que conseguia escapar por entre as folhas e chegar lá embaixo, envolvendo tudo em uma penumbra esverdeada. Uma música formada pelo canto dos inúmeros pássaros e pelo farfalhar das folhas os acompanhava todo o tempo, como se o mundo de combates e conflitos lá de fora fosse apenas um sonho distante ante essa ladainha primordial. Os aromas também eram muitos e variados, desde o musgo nas cascas das árvores até a terra úmida sob as folhas que eles pisavam, tudo exalava odores frescos e intensos.
Daphne sentia-se tranquila acariciando o pêlo de David e sentindo-se novamente na paz de seu lar. Ehtur percebia os traços de semelhança que a druida Felícia tinha com Alissah, que era sua prima, não demorou a saber. Todos os demais sentiam-se um tanto desconfortáveis, inexperientes que eram na vida em florestas, ainda mais em uma que era a mais antiga das existentes. Gaios e os elfos verdes, ainda que guiando a todos, não tiravam os olhos de Syrius Black. Este, como um pão que cai com a manteiga para baixo, acabou por esbarrar uma vez mais em Rock, enquanto tentava evitar a atenção sobre si. Isso, uma vez mais, provocou efeitos negativos:


- Alissah.. a.. a elfa.. - gritou Rock com os olhos esbugalhados levando a mão à cabeça, enquanto Black não conseguia desgrudar a mão do rapaz, como se estivessem colados. - Eu estou vendo ela!!!
-Onde ela está? - desesperou-se Ehtur.
- Num lugar escuro.. presa.. atada... desacordada.. ferida. A.. a mulher.. a serva das trevas está lá.. e outro homem.. sinistro.. e.. ele.. eles vão matá-la. AHHHHHHH!!!!! - junto com o grito do bárbaro Rock escaparam de seu corpo os espíritos urrantes de seus ancestrais. Essas almas aterrorizantes pareciam atormentadas por um mau terrível e isso congelou a alma de todos ali. Voando desordenadamente, elas acabaram por atravessar a todos os heróis arrastando-os para as mesmas visões que atormentavam Rock.




Eles quase podiam sentir as energias negativas que povoavam o ambiente. A sinistra serva de Shar conduzia alguma espécie de ritual. Além de Alissah, haviam outras pessoas presas ali. O homem ao lado dela era um paladino.. Syrius o conhecia bem.. Lucrécio Barrabrava.. servo de Torm, deus da honra.. um homem tão dedicado ao trabalho que costumava deixar a esposa muito desamparada. Além deles dois, haviam quatro outros indivíduos: um orc e três humanos, todos de aparência suja e decadente. Estavam atados ao redor dos dois em pontos equidistantes. Além dos cativos para o ritual, haviam também três outros homens juntos à serva de Shar. Ehtur reconheceu dois deles, os dois que vira quando encontrou a pedra.
A mulher que entoava um cântico satânico e profano cortou horizontalmente os próprios pulsos deixando o sangue dela escorrer pela lâmina curva e negra que usava. Deu ordens aos três homens, que posicionaram-se próximos aos homens, enquanto ela seguiu para o orc. Todos
juntos, degolaram os quatro com um corte rápido. Nesse momento, Syrius conseguiu escapar de Rock.. todos despertaram atônitos e atordoados. E foi assim que seguiram.

Depois de algum tempo, os elfos fizeram sinal de que aguardassem. Deram três assovios que soaram como o de um pássaro estridente. Ouviu-se um pio de resposta e seguiram. Alguns metros depois, encontraram uma escada feita de cipó presa junto a uma árvore. Olhando pra cima, não viam nada além da árvore. Tártaro, Ataulfo e David acomodaram-se já sabendo que aguardariam ali, enquanto Felícia e Ariadne subiram pela própria árvore.
- Nós teremos que escalar, senhor Gaios? Parece uma subida grande demais para nós...
- Creio que posso ajudá-lo, mestre Yorgói.. - respondeu Gaios com um sorriso, transformando-se em uma águia gigante. - Creio que isso resolve o problema dos pequeninos. Venha você também Daphne. - O velho druida fez questão de carregar Syrius em suas garras. Assim, rapidamente eles chegaram à região da copa das árvores. Ehtur, Ryolith e Rock, por sua vez, tiveram um pouco mais de trabalho, acompanhando os elfos verdes na escada rústica. Demoraram alguns minutos, mas sem correr qualquer risco na verdade.
Lá em cima, não puderam deixar de ficar surpresos. Entre os galhos grossos e as largas folhas, havia uma pequena vila. Nada, no entanto, havia ali que não tivesse sido fruto do crescimento natural da vegetação, à exceção de escadas e passarelas feitas de cipó ligando um ponto a outro. Macacos, pássaros e outros animais passeavam por ali em profusão, enquanto as crianças élficas brincavam sem temer a distância para o chão. Haviam muitas crianças, mas poucos adultos. Uma música triste pairava no ar como um lamento coletivo. Os sorrisos eram poucos.
Os dois elfos logo foram abraçados ao chegar, festejados. Um elfo cujo olhar impunha muito respeito chegou fazendo uma reverência a Gaios que o saudou em élfico:
- Meu respeito, mestre Falcon. Sinto trazer problemas para o interior de seu lar.
- Quem trás os problemas é a vida, não você, velho amigo. - lamentou seriamente o elfo verde, que tinha um pássaro pousado no ombro. Um falcão verde que parecia vigilante todo tempo, encarando todos no fundo dos olhos como uma serpente prestes a dar o bote.
- Foram muitas as perdas. Mais três boas almas...
- A terra receberá com satisfação a carne de guerreiros que derramaram seu sangue por uma boa causa. Lamento apenas ser eu a ter de testemunhar a morte de meus sobrinhos, netos e primos.. nossos números são cada vez menores.. não só aqui, mas também nas outras kaniers.
- São muitos os que precisam ser curados e alimentados. Todos precisam de água limpa e um bom descanço. Este homem, deve ser mantido preso e sob atenta vigilância..
- Opa, opa.. peraí.. que que é isso? Como assim.. preso? Quero dizer.. eu vim por minha livre e espontânea vontade.. isso não é necessário..
- Você pode descer e esperar lá embaixo.. - cortou-o Falcon.
- Eu irei remover a essência de Shar que o acompanha.. nem que tenha que espremê-lo como um limão.
- Tenho certeza que um chá seria melhor. Ou talvez vocês tenham algum pozinho que tire isso.. uma poção seria ótimo.. - dessa vez bastou a encarada de Falcon e de seu falcão verda para calar Syrius.
- Acalme-se Pardal.. - disse o mestre élfico para o pássaro, entes de fazer sinal para que levassem o humano. Yorgói sentindo-se responsável foi com eles, assim como Arnoux, Úrsula e Rock. Apesar da maneira firme, os elfos verdes acomodaram a todos da melhor forma possível, enquanto buscavam tratar de seus feridos e sepultar os seus mortos. A melodia que já era entristecida tornou-se um lamento melancólico, parecendo vibrar nas próprias folhas das árvores.

No dia seguinte, todos foram acordados com frutos, cereais e alguns insetos cristalizados no orvalho, algo incrivelmente saboroso, surpreenderam-se alguns. Syrius recebeu apenas água . Houve o enterro do três mortos, cada um ao pé de uma árvore e sob as preces conjuntas de todos os presentes, entregando não apenas sua vida, mas seu corpo ao lugar de onde viera, retornando a um ciclo sem fim. Após isso, foram todos convidados a tomar parte no ritual de purificação de Syrius. Gaios solicitou a todos os presentes que dessem as mãos em um círculo. Ao centro deste, os outros druidas, Felícia, Kyotto e Daphne formavam um triângulo ao redor de Gaios e de Syrius, posto de joelhos e aparentando pouco ânimo com tudo aquilo.
Gaios retirou-lhe os panos das costas cortando-os com uma faca de osso. Os cotocos negros mexeram-se saboreando a liberdade, pequenos dardos negros como penas sombrias já haviam começado a nascer.
- Um senescal.. - disse Gaios preocupado e até assustado, diriam alguns. - Um senescal de Shar. Qual será o terror que te cabe anunciar...
- Senescal? Não.. não.. veja bem, meu velho druida.. isso é coisa mais de bardo.. não que eu não quebre o galho, sabe como é.. não é assim um senescal, aqueeele senescal, mas dá pra agradar..
- Você não tem idéia de como sua alma está cada vez mais próxima de ser levada pelo abismo das trevas, não é mesmo? Ouçam-me bem todos aqui. Peço que comunguem comigo em um nível ainda mais profundo. Este homem.. este tolo.. este devoto da devassidão.. do mal feito.. da perfídia.. ele conspurcou o próprio espírito tornando sua carne uma chaga cada vez mais aberta no mundo. Através dele a energia de Shar corrói a própria vida. - Syrius já se preparava pra falar, quando Gaios colocou a mão espalmada sobre sua cabeça. Ao invés de palavras, escapou-lhe um grito de terror profundo. - Silvanus move essa chaga, Lathander transforme essa sombra, Mielikki molde a vida, Chauntea cure qualquer dor. Que a força dos quatro elementos, as forças vitais primeiras contra o caos que apenas deseja a si mesmo. Ante a vastidão do nada, que se imponha a invencibilidade da existência. Que cada uma das menores coisas ajude a compor o mais colossal das formas de vida. Que o equilíbrio seja perpétuo e que em todo fim haja sempre um começo. - Conforme Gaios falava, uma energia esmeralda ia envolvendo o corpo de Syrius Black. Seu berro silenciou, mas os apêndices negros em suas costas debatiam-se loucamente. Por fim, pareceram derreter, embora continuassem às costas presos como um piche negro. O velho druida insistiu, enquanto todos os circundantes repetiam o que haviam aprendido da prece. Os três druida o faziam com perfeição, assim como alguns dos elfos verdes e Ehtur.
Todos se surpreenderam quando as trevas atacaram Gaios atirando-se sobre ele como uma gosma viva. O druida agarrou a ameba tenebrosa e a fez explodir numa energia luminosa, enquanto Syrius caiu inconsciente. Gaios caiu de joelhos, exaurido, ao lado dele. Todos sentiam-se fatigados.. parecia que o ritual tomara horas.. mas para satisfação de todos, estava ali um homem sem qualquer mácula em suas costas.