- Vocês acharam mesmo que podiam me destruir? Vocês ínfimos lacaios dos deuses esmagados por mim? Vocês míseros brinquedos em minhas mãos? Suas lanças e flechas quebram-se sem minha essência tocar... este é o meu lugar... meu plano... meu tempo!!! Eu sou Malkizid, o pleno... Malkizid que voltou do que está além do fim. Aquele que renegou os céus e dominou o Inferno e o Abismo!!!
As palavras de Malkizid ecoaram como se todo o ar fosse tocado por ela, como se cada parte ínfima que fosse da existência vibrasse ao som dela. Enquanto ele falava, os heróis se davam conta de que não era mais a bela cidade de Evereska que os cercava. As magníficas construções élficas, mesmo que arruinadas, iam sumindo como uma miragem que se aproximasse da vista.
Aos poucos, todos viram-se obrigados a voar, pois o próprio chão desfez-se aos seus pés. Eles reconheciam agora paredões de pedra a perder de vista para cima ou para baixo. Os Infinitos Níveis do Abismo, lar de todos os demônios. Conseguiam avistar além dos demônios que já vinham para cima deles antes, os milhões que pululavam nas grutas e cavernas, exalando horror e iniquidade, misturando-se ao ar pestilento com odor de enxofre.
- Ehtur, meu amor, estou na Grande Floresta com o mythal. - Chegou a mensagem mágica aos ouvidos de Ehtur, que já preparava sua lança Gungnir para empalar os inimigos. - Irei pedir ajuda ao deus das fadas para ir resgatar você e os outros.
- Protejam o mythal, a Grande Floresta e nosso filho, Alissah. O maldito ainda não foi destruído e continuamos a batalha! Nós iremos destruí-lo! - Disse Telcontar mentalmente antes de interceptar a carga de um dos três grandes demônios que atirou-se sobre ele.
Daphne da Grande Floresta, que fundira-se ao solo como um espírito da terra, percebera antes dos demais o mal de Malkizid ainda presente, vendo-se impedida de teleportar-se dali com os demais. Isso obrigou-a a manifestar-se novamente, como um enorme elemental da terra flutuante, ao qual os gnomos se agarram quando o chão desapareceu.
- Eu irei me tornar uma fênix para nos tirar daqui... - ela alertou mentalmente a todos, apenas para descobrir, que mesmo fora do solo, algo ainda a impedia de metamorfosear-se.
- Eu não sinto os deuses, Daphne... - respondeu mentalmente a gnoma Jacke.
- Esse é o plano divino dele... os demais deuses não nos alcançam aqui... - alertou John Falkiner, que também sentia-se isolado da conexão direta com Bibiana, mas conseguia voar, graças aos seus poderes de escolhido, a parte de Bibiana que vivia nele.
- Nem mesmo Gaerl Ourobrilhante chega a mim... - falou Deborah sobre o deus dos gnomos.
- Estamos à mercê do poder dele... que aqui é absoluto... - preocupou-se Jacke.
- Há algo que possa ser feito, pela luz de Selune... - dizia Sirius que voava próximo deles.
- Estando aqui, nós podemos invocar os deuses... seremos a porta de entrada deles... - lembrou Daphne.
- Que a luz de Selune nos dê esperança, que o amor de Chaumtea nos nutra, que o zelar de Silvanus nos embale, que a coragem de Miellikki no guie, que o brilho de Amaunthor e Lathander nos acalente, que a sapiência de Oghma nos oriente... - começou a recitar Jacke em uma prece.
Os demônios vingadores com imensas espadas vorpais também lançaram-se sobre eles, ferindo a todos. Um decepou a cabeça de Daphne, mas a forma elemental impedia que isso a matasse, além da sua forma adaptável que impedia danos críticos. Ehtur vitimara o primeiro com todo o poder de Gungnir, mas os outros dois o machucaram bastante.
Úrsula fez chover flechas de Avenger sobre os demônios, enquanto que Sirius moveu-se pelas sombras para flanqueá-los e ajudar o guardião. Falkiner buscou uma de suas varinhas e curou parte dos danos de Telcontar.
Estavam cercados agora pelos sete demônios que ainda haviam, além da gargalhada psicótica de Malkizid que era a trilha sonora desse mundo macabro. Acima de suas cabeças, duas vezes maior que o maior dos dragões que já tivessem visto, descia um demônio verde e escamoso de quatro braços. Daphne reconheceu a ameaça ainda mais terrível, um klurichir, a mais colossal criatura que jamais vira, e novamente tentou partir dali com os colegas, sem ver qualquer resultado.
Tudo parecia perdido.
- Chega de infâmia! Basta de perversidade!!! - Retumbou uma voz feminina. Um rasgo se fez no tecido da realidade de onde emergiu o mais belo dos unicórnios cercado por luz. - Meu campeão não se perderá na sua loucura devassa, Malkizid, o caído!
- Miellikki, minha senhora - bradou Ehtur Telcontar com ânimo renovado. Todos os servos dos deuses como Daphne, Jacke, Falkiner e Deborah sentiram os canais divinos se reativarem. A gnoma Jacke logrou invocou uma cura em massa que deixou seus aliados totalmente recuperados. Todos perceberam, então, que pela passagem chegou outra divindade, a verdadeira fonte da luz. Um grande guerreiro totalmente coberto por uma armadura dourada entalhada de sóis. Amaunthor. Isso pareceu afugentar os demônios espectadores para suas cavernas e grutas nos paredões do abismo.
As setas de Úrsula e os cortes de Negativa abriram caminho para que Ehtur tombasse mais dois dos demônios vingadores, fazendo-os explodir em cinzas mal-cheirosas como o anterior. Mesmo assim ainda restavam cinco deles. Com suas perigosas espadas, eles alcançaram o ladino Sirius Black e o guardião Ehtur Telcontar. Entre os céleres golpes, as cabeças de ambos foram apartadas de seus corpos.
- É assim que salvará seu campeão, dama das florestas? - Gargalhou Malkizid triunfante, enquanto a deusa unicórnio e o senhor do sol viram-se agarrados pelo colossal klurichir, aprisionados entre suas garras, como uma flor por uma avalanche. - Vocês se somarão ao meu sacrifício. Cada vez mais, meus peões trazem-me peças maiores para eu me deliciar nessa partida!
- Com a graça de Bib... - Falkiner invocava uma prece, mas percebeu que a energia divina com a qual se conectara não era a da deusa dos elfos. Ele sentiu a energia masculina de Corellon Larethian.. - Pela graças dos elfos e dos Seldarine, não é a hora de o guardião perecer. Que a ressurreição perfeita traga de volta o campeão das florestas, o portador de Gungnir, aquele que matou o demilich. Viva Ehtur Telcontar, andarilho de Faerun, inimigo do mal!
Quando o clérigo e escolhido de Bibiana findou aquelas palavras, a deusa Miellikki explodiu em energia divina. Um raio de luz partiu de seu chifre e alcançou o corpo de seu campeão Ehtur. A cabeça dele retornou ao corpo como se dali nunca tivesse saído, enquanto as mãos recuperaram a firmeza sobre a lança, já voltando a golpear os surpresos inimigos demoníacos. A energia serviu para dar espaço à deusa unicórnio, que lançou-se em carga contra o ventre do monstro colossal. Amaunthor também explodiu em energia solar, mas seguia contido.
- Isso mesmo! Resistam! Tentem mais de suas esperanças vãs... - debochou Malkizid. - Quando mais vocês resistem mais saborosa é minha vitória!!!
Jacke não se fez de rogada e também invocou uma ressurreição para trazer Sirius de volta da morte:
- Que a luz eterna da irmã das trevas guie essa alma para o corpo que ela sempre habitou. Que Selune, senhora da esperança, sopre a vida em seu amado escolhido, como uma estrela nas trevas noturnas. Volte para nós Sirius Black, amante da esperança.
Para surpresa de todos, as palavras da gnoma seguidora de Daphne, fizeram um novo risco no tecido da realidade, no formato de uma lua crescente. Esse riscou encheu-se até a perfeição de um círculo e a luz prateada banhou Sirius Black, devolvendo-lhe a cabeça e a vida. Onde a lua cheia prateada se fizera, eles viram Selune, e nos braços dela, vivo novamente, Sirius Black.
Muito longe dali, Alissah Telcontar correu o máximo que podia sentindo o peso da gravidez, ainda sendo seguido pelo mythal de Evereska. Ela entrou as árvores sagradas do Grande Pai, onde sabia que encontraria o treant Fangorn e seu deus. No entanto, apenas o primeiro ela avistou.
- Alissah, pelos deuses da natureza, onde estão Ehtur e Daphne? Acreditávamos que tinham sido destruídos com Evereska?
- Onde está Timothy Hunter, Fangorn? Ele precisa salvar Ehtur... eu trouxe o mythal... o maldito demônio tomou Evereska e tudo mais...
- Os drows e a senhora das aranhas ameaçam tudo, Alissah... - lamentou Fangorn. - Perdemos nosso mythal e os Eagle. Mandamos heróis, druidas e guardiões em busca de salvação, mas parece ser este o tempo do apocalipse. Timothy foi cuidar e salvar as fadas...
- Por favor, meu deusinho Timothy Hunter... volta pra cá... estamos com mythal... meu amor precisa de ajuda... - invocou ela de joelhos.
Em resposta, o garoto deus e seu gato familiar logo apareceram, emergindo de uma árvore próxima.
- Alissah... você voltou.. - o semblante dele já não era o do garoto despreocupado ou do adolescente petulante, mas sim o de um homem temeroso do destino.
- Alissah trouxe um novo mythal... - tentou animá-lo Fangorn.
- Parece que há esperança afinal... - sorriu Timothy. - Você tinha razão, Nojento... algo de bom sempre acontece... vamos conectá-lo à Grande Floresta reino das fadas...
Porém, a alegria logo se transformou em caos e maldade, quando Timothy Hunter e Fangorn, além de toda aquela ancestral floresta se uniram ao mythal. Alissah assistiu tudo ser amaldiçoado e profanado pelas forças trazidas por ela naquele falso mythal...