Assim que todos recuperaram-se da explosão mágica, Derdeil Óphodda logo percebera que algo se dera como o hobbit Rufus Lightfoot. A energia mágica ficara um pouco por ali marcada no pequenino ou em algo que ele portava. No entanto, Rufus preferiu pular na piscina de águas límpidas e mágicas que se formara sob o mythal de Myth Drannor. O druida Chuck Norris também correu para reabastecer seu galão com água mágica.
- O que devemos fazer, minha senhora? - Disse Edgar pousando no ombro de Kaliandra Boaventura, que caminhava rumo ao centro do aposento e do mythal.
- Temos de salvar Bibiana. Nada é mais importante que nossa senhora dos elfos - interviu Cameron Noites.
- Que a Mãe dos elfos receba nosso amor... - disse Dhyon ainda em transe e caindo de joelho junto à piscina.
- Eu irei cuidar da senhora das aranhas e buscarei por Bibiana. - Retrucou o dragão Dlaminnor se voltando para o mythal que flutuava placidamente e conectava a todos ali. - Eu irei salvar a deusa dos elfos - e ele saiu pelas imensas portas duplas do salão.
Sérgio Reis não deu atenção àquilo, embora Pena Branca tenha gasto seu tempo admirando o dragão de bronze partir. O bardo foi para piscina também encher seu galão. Os olhos de Mari'bel passearam pelos rastros no ambiente, vendo as pegadas dos drows e a besta que o nishruu havia sugado logo ali, acabou por se juntar aos colegas em reabastecer os galões.
- Yo estabia buscando nuevas tatuarrens, mestre Derdeil - disse o monge recebendo o galão de seu aliado.
- Com o poder do mythal, podemos providencias umas tatuagens mágicas, Braad - respondeu o mago, enquanto se aproximavam da água, onde o monge se pôs a encher os galões.
- Podemos nos concentrar em ser um com toda essa energia de nossos ancestrais - disse Kaliandra pulando na piscina e fazendo-a ondular. Em sua mente começavam a dançar lembranças de sua infância. Logo, vieram imagens de outras pessoas. Sua mãe, sua irmã. sua tia, sua avó, sua tia-avó... depois viu seu pai, seu avô, seu bisavô... era como se toda a história do clã Boaventura transcorresse do mundo para o seu íntimo, para suas memórias. Kaliandra Boaventura começou a perceber que aquele era o motivo de sua existência, ela era uma filha daquele lugar.
Enquanto a trovadora da espada flutuava placidamente, o ladino hobbit saiu da água e o mago de Halruaa pode perceber que era da espada longa que o hobbit usava para se apoiar que vinha o brilho especial.
- Onde achou isso, Rufus?
- Essa coisa velha? Estava na minha bolsa... aqui na bolsa mágica, mas eu uso como um bastão de caminhadas... e para abrir latas também... - sorriu com inocência Rufus.
- Isso é uma vingadora sagrada de Tyr! - Disse o escolhido do deus da magia, percebendo que o item raro se fizera agora um artefato único. Nas mãos de alguém como o hobbit era apenas uma espada mágica, mas nas mãos de um campeão do deus da justiça, era uma arma invencível. - Agora que terminamos aqui, podemos inspecionar as torres arcanas. Há muita magia lá - disse Derdeil.
- Eu irei... - ofereceu-se Edgar.
- Eu irei com você... - disse o hobbit encolhendo de tamanho e guardando a espada em sua bolsa mágica. O corvo Edgar percebia o transe de sua mestra, voou e agarrou o hobbit que tinha o tamanho de um bebê, levando-o dali para as ruínas em direção às torres a nordeste.
- Comunguemos os dois minha amada... - disse Cameron Noites juntando-se a Kaliandra nas águas e também sentindo a energia vital élfica que havia ali invadí-lo.
- Ele tomou um banho d'água fresca... No lindo lago do amor... Maravilhosamente clara água... No lindo lago do amooor... - cantou o bardo Sérgio Reis deixando o galão para Pena Branca.
Derdeil virou os olhos e preferiu seguir logo para as torres arcanas, Mari'bel logo o seguiu. Braad e Chuck vieram a seguir com os galões.
Rufus e Edgar, que já iam mais adiantados avistavam alguns demônios para além das torres, na área da floresta além das forças do mythal. Mesmo assim, arriscaram pousar em uma delas, cujo teto não existia mais. Pousaram no piso do salão superior e viram um alçapão bem preservado. O corvo observou a passagem e Derdeil conseguiu alertá-los que havia uma runa mágica de proteção ali. O incauto Rufus preferiu arriscar e tentou desarmá-la, mesmo se tratando de uma armadilha mágica. Ele conseguiu abrir um estreito vão, suficiente para os dois, sem disparar a proteção mágica. Escorregaram para dentro.
Ainda no palácio do mythal, Sérgio Reis deixou os ecos de sua canção embalar o nirvana do casal de elfos e pulou na água. Carnavalesco desde seu encontro com Shun Iksea, Sérgio queria comungar com aquelas energias íntimas ao povo élfico. Logo os três corpos boiavam na mesma serenidade. Ao redor, os seguidores de Bibiana seguiam se abraçando e cantando louvores a Bibiana guiados por Dhyon.
Derdeil Óphodda, Mari'bel e Braad iam em direção às torres, percebendo que haviam perdido o contato com o corvo e o hobbit. O mago sabia que a telepatia funcionava, mas eles haviam sido colocados fora da área dela. Eles viam que o nishruu que havia por ali se aproximava vindo em direção ao mythal e passaria por eles. Também percebiam que o casal élfico e o bardo estavam numa espécie de transe guardados por Pena Branca e os crentes élficos extasiados. O druida Chuck Norris foi o único que optou por se dirigir para a região das ruínas nobres, onde uma galeria de estátuas dos antigos governantes de Myth Drannor restava razoavelmente preservada.
No interior da torre, Rufus e Edgar encontraram um estranho aposento. Não pelo que continha, pois era circular como esperado pelo formato da torre, com enormes estantes cobrindo quase todas as paredes, a não ser no ponto onde descia uma escada. O estranho era o aposento se desproporcionalmente maior do que seria possível pela torre lá fora. Tinha dez vezes o diâmetro possível. Havia uma mesa próxima das estantes cobertas e papéis e anotações. Havia um barulho que chegava lá de baixo pela escada.
Nesse instante, porém Edgar perdeu o brilho nos olhos e sacudiu a cabeça. Justo quando Rufus inspecionava os tomos arcanos.
- Cróóó.. - indagou o corvo, mas Rufus conteve-lhe o bico e as asas como dois laços veloses, mantendo-os equilibrados na prateleira da estante.
Longe dali, a essência de Kaliandra Boaventura já não lhe pertencia, custando até mesmo o quinhão que dedicara ao familiar. Por um instante, ela morreu e todas as suas energias foram uma só com a do mythal, uma só com Cameron Noites, uma só com todos os elfos. Talvez isso fosse um pouco como ser como os deuses. Ela percebeu que haviam duas forças que dançavam num desequilíbrio ritmado, ora frenético, ora cambaleante,mas perpétuo.
Foi então que sua mente viu um vasto salão. O luxuoso salão do palácio de Encontro Eterno. A rainha Amidala Ancalimon, filha de Goellis Ancalimon, Senhora do Oeste. Estavam diante dela os conselheiros.
- Minha senhora, minha amada rainha... sou eu, Kaliandra Boaventura, que tenho a benção de avisá-la.
- Kaliandra? - falou a rainha Amidala como se falasse com o ar. - Há tanto tempo que não manda notícias. Os augúrios indicavam sua morte...
- Eu ainda vivo, minha rainha, graças a Bibiana. E venho lhe avisar que a nova deusa não é uma ameaça, mas o verdadeiro espírito de nosso povo... a solução de nossos problemas. Devemos nos filiar à causa de Bibiana Crommiel, pois só ela representa a comunhão perfeita do que é o povo élfico. A chegada de Bibiana é o nascimento de nosso verdadeiro lugar nesse mundo, rainha Amídala.
Eu e meus aliados vemos, no entanto, a deusa dos elfos em sérios riscos ante a ameaça drow. Ela devasta as terras do leste com sua horda de mortos-vivos. Nós conseguimos restaurar o grandioso mythal de Myth Drannor, mas há muito o que fazer...
- Meus filhos... - disse a rainha Amídala se levantando e olhando para os conselheiros e guardas. - É hora de deixarmos esse terrível exílo. Hoje, os elfos irão voltar para casa. Mandem que todos se preparem...
- Mobilize as tropas... - Kaliandra ainda ouviu o general Magginot, antes que sua mente não conseguisse mais manter uma coesão. Ela apenas sentia aquela força contígua e acalentadora de Cameron. Ela sentia a dança animá-la. Ela via na sinuosidade entre os dois eternos o movimento sinuoso de uma eterna serpente. Em seus pontos, seus nós, suas escamas haviam mundo. Em cada instante, havia ela e havia Cameron. Eram como os últimos e como os primeiros.
A caminho da torre, Braad entregou os galões para Mari'bel e Derdeil, avançando na direção do nishruu. Mari'bel preparou suas flechas, mesmo sabendo que teriam pouco efeito.
- Temos de atraí-lo para a área de anti-magia... - disse Derdeil. - Aquela do outro lado da qual ele está se afastando.
- Yo voy... - disse o monge bebendo e seguindo.
Derdeil Óphodda se pôs a orar. Para Mari'bel foi como um piscar de olhos e o escolhido de Rhange disse:
- Temos de usar um dos elfos para atraí-lo! - Afirmou Derdeil mentalmente para todos, o que serviu para tirar Sérgio Reis da água do mythal. Os elfos seguiam no transe catártico. Edgar despertou sentindo-se conectado ao mago e clérigo Derdeil, vendo preso pelo hobbit que inspecionava os tomos sobre criaturas que achara.
Rufus libertou o corvo ao vê-lo recobrar a razão. Liberou-o e o pequeno pássaro voou para a escada, enquanto o hobbit seguiu averiguando os livros, buscando por informações sobre nishruus. O familiar Edgar desceu voando para o andar inferior e surpreendeu-se ao ver um aposento dez vez maior que o anterior. Era como uma imensa arena em cujas paredes haviam dezenas de gaiolas com criaturas de diversas espécies e tipos. Ao centro, um humanóide vestindo um manto cheio de olhos observava alguns espécimes com especial atenção. Diante dele flutuava um grande tomo, que parecia especialmente poderoso ao corvo. O feiticeiro escrevia nele.
"Entrou voando e o corvo disse:" - Foi o que Edgar leu no livro quando começou a falar:
- Perdão o magnânimo mestre dessa torre mega ultra poderosa, nós precisamos de sua ajuda. Nós estamos salvando Myth Drannor.
- Em que ano estamos? Já estão na etapa da reconstrução... interessante... cuide de seu destino pequeno pássaro...
- Quem é o senhor? Por que não nos ajuda?
- Eu sou o hierofante... agora vá... - e Edgar sentiu-se impelido a sair dali, retornando ao aposento, onde Rufus corria os dedos sobre um grande livro aberto:
- Nicanores... Nishruus... ver livro especial sobre aberrações apendix B.
Com os elfos perdidos em seus transes, Sérgio Reis agarrou Dhyon e levou-o para fora, enquanto Braad, o mais rápido, mesmo que cambaleante de todos, retornava para pegar a isca viva. O nishruu avançava e Mari'bel molhou suas flechas com a água do mythal para torná-las mais interessantes para a criatura. Chuck Norris inspecionando as estátuas acabou teleportado para outro ponto das ruínas.
Sérgio invocou uma magia de pressa, que permitiu a ele e Braad terem maior velocidade. Logo chegaram até Derdeil e Mari'bel. O escolhido de Rhange teleportou-se com a fada, o monge e o elfo para o limite da área de anti-magia. Eles atraíram a atenção do nishruu. Braad aproximou-se com Dhyon e Mari'bel acertou uma devastadora flechada crítica que deu dano como nenhum ataque até então no monstro. Derdeil tentou completar com um relâmpago mágico, mas este foi absorvido curando o nishruu, que devolveu o relâmpago sobre o monge e Dhyon, vitimando o clérigo elfo em transe e ferindo Braad. Recuaram todos para a área de anti-magia, tentando estabiliazar Dhyon com a água do mythal.
Edgar levantou voo com Rufus e suas novas aquisições, passando pela sala abaixo, onde viu apenas um aposento comum, vazio e abandonado, de seis metros de diâmetro como o que havia lá fora. Saíram pelo alçapão e ganharam os céus, justo quando viram e sentiram a explosão mágica do nishruu que entrou na área de anti-magia em busca do elfo e da energia do mythal.