30 de ago. de 2014

Edgar, o corvo


- Temos de salvar Kaliandra. Temos de salvar Kaliandra. Andem! Temos de salvar Kaliandra. Temos de salvar Kaliandra - insistia o corvo Edgar batendo contra a porta e tentando apressar os companheiros de sua mestra. Mas eles pareciam se deter vestindo disfarces, lutando contra os inimigos mortos-vivos ou sumindo. Quando a porta subitamente se abriu, ele voou para dentro do que parecia ser uma cozinha velha, cheia de portas, mas ele sentiu que o caminho para Kaliandra Boaventura, a maga elfa estava na primeira porta à direita.
- Edgar, ela vai matar a todos nós. Chame meu ama... meu amigo Derdeil para me salvar. Ela está começando o ritual! Ela vai sacrificar todos nós.
O familiar corvo procurou pelo mago que vinha bem disfarçado e parecendo um drow grande e um tanto barrigudo. A fada, a águia e a cobra grande terminavam de lutar com os dois mortos-vivos, enquanto o druida foi para outra porta que não era a que Edgar indicara. Ali ao lado, outra porta que dava para uma dispensa também abriu-se sem que ninguém visse o responsável. Por fim, todos deram atenção aos gritos do corvo e foram para a porta indicada.
- Temos de salvar Kaliandra! Temos de salvar Kaliandra!! Kaliandra vai ser sacrificada no ritual pela drow dos infernos!!!
- Fale barro, cararro!!! - Alertou o monge, mas nada conteve a esperança misturada a desespero que movia o pequeno pássaro negro, quando viram o grande aposento. Ao centro, ele era dominado por uma plataforma, que emanava uma pálida energia mágica azulada.  Aquela força subia em direção a um grande abertura circular no teto do aposento. Também haviam muitas portas ali, mas Edgar sabia que Kaliandra estava para cima. Bem para cima.
- Edgar, ela vai matar Raven Eagle! - Foram as palavras da maga Boaventura que impeliram o corvo a sair voando, mas o monge o deteve, enquanto os demais preferiam explorar as portas, mesmo que escutassem vozes vindas de trás da maioria das portas.


A pequena ave tentava se desvencilhar, enquanto o bardo, que usara de magia para se parecer com um drow convencia os drows de um dos quarto a continuarem ali dormindo, que estava tudo bem.
- Vão matar Raven Eagle! Temos de salvar Kaliandra! Temos de salvar Kaliandra!
Enquanto o druida-cobra, a águia, o hobbit e o cachorro esperavam, o monge, o bardo, a fada e o mago subiram na plataforma, passando a ser afetados pelo efeito de levitação que os permitia subir para os níveis superiores. O druida e os demais vieram à seguir. Edgar tentava voar mais rápido, mas era limitado pela magia. Quando atingiram o terceiro andar, também chegou à mente de Edgar um novo alerta de Kaliandra:
- Ela está cortando a garganta de Raven. Abençoada Bibiana, senhora dos elfos, que seu poder nos alcance! Pela deusa... oh minha deusa! Eu não consigo olhar!
Antes que o familiar pudesse transmitir a mensagem, no entanto, todos foram surpreendidos pela forma espectral que surgiu. Ela era esférica, mas com uma dezena de tentáculos. Quando o fantasma observador abriu seu grande olho, toda a magia deixou de funcionar. Sem o efeito de levitação, Edgar disparou rumo aos andares superiores, gritando o alerta:
- Temos de salvar Kaliandra! Raven já era! Raven já era! Temos de salvar Kaliandra!
Os demais ouviram aquilo, enquanto se salvaguardaram no segundo andar. Uma magia de Derdeil os levou para longe dali, mas o corvo Edgar apenas se importava com a grade que encontrou no quinto andar, guardada por um grande golem de ferro, que começou a se mover ante sua chegada.
O pequeno corvo pousou sobre a grade, vendo que lá embaixo, haviam ficado para trás o druida-cobra, o hobbit e seu cão escondidos. O monstro fantasma que a fada chamara de beholder parecia se concentrar no druida e na águia. A criatura fechou seu olho central lançando raios de seus tentáculos com olhos menores. Isso permitiu que o hobbit subisse com discrição, enquanto o golem de ferro golpeava a grade, enquanto tentava atingir o pássaro.


Nenhum deles viu, quando o druida Chuck Norris, servo de Silvanus, perdeu suas últimas forças, morto pelo beholder, assim como sua águia Izabeau. Com a passagem aberta, Edgar acompanhou o hobbit para escaparem do guardião de ferro da passagem, mas logo chegaram a uma ponte que conduzia para outra torre, onde uma incomensurável aranha infernal parecia manter guarda esperando por alimento.
- Edgar, onde está Derdeil? Ela vai acabar com Ravena... - chegou novamente o pensamento de Kaliandra Boaventura.
- Temos que salvar Kaliandra! Temos que salvar Kaliandra... - disse o corvo subindo voando sozinho.
Pelas pequeninas janelas das torres, por onde mesmo alguém pequeno como um hobbit teria dificuldade de passar, Edgar avistou o restante do grupo que avançava.
O mago, a fada, o monge e o bardo confrontavam uma enorme aranha de pedra verde no sexto andar da segunda torre. O mago invocou um pônei, sobre o qual se deteve a atenção do constructo aracnídeo, permitindo a todos avançarem rapidamente para o sétimo andar, mesmo que não ilesos. Lá Edgar se juntou a eles, pousou no ombro de Derdeil e olhou no fundo de seus olhos com seus pequeninos olhos negros:
- Temos de salvar Kaliandra! Temos de salvar Kaliandra!

23 de ago. de 2014

Uma noite sem sonhos...



As palavras de Kurgoth cessaram a batalha. Os gigantes e o ogre que restavam baixaram as armas. Ainda na arena, cercados pelos gigantes do fogo e ogres caídos, os heróis receberam ordens para que descansassem e se preparassem para a invasão do palácio dos drows. Kurgoth Cria do Inferno queria vê-los ajudar a romper as defesas mágicas do palácio. No entanto, antes de saírem, eles viram que as poções de cura que o gigante do fogo de sangue diabólico destinara para curar seus subordinados não faziam efeito algum. 
Derdeil Óphodda usou seus talentos curativos naturais para recuperar um pouco Kaliandra Boaventura, Braad, Sérgio Reis e Ravena Eagle, que só levantariam com uma boa noite de sono no entanto. O mago também explicou aos demais que algum efeito mágico e épico estava bloqueando as magias de cura, talvez vindo do castelo dos drows, o que significaria um poder realmente extraordinário para cobrir toda a extensão das ruínas.
Todos dormiram e dessa vez não sonharam. Quando acordaram, eles ouviram barulhos estranhos vindos de fora. Urros e o som de batalha. Mas antes que pudessem reagir, o fantasma choroso de Swam Eagle surgiu entre eles. A elfa tinha uma agonia fixa no olhar, que paralisou Mari'bel, enquanto murmurava um lamento:
-Vocês sempre me desprezaram! Vocês nunca me protegeram!
Mari'bel teve de ser carregada por Chuck Norris, enquanto Kaliandra e Derdeil atingiram Swam com mísseis mágicos. O espírito da elfa gritou suas lamúrias para matá-los, mas Sérgio Reis conseguiu negar o ataque com sua música e salvar a todos. Os ataques seguintes conseguiram destruir a alma atormentada e todos puderam escapar. Rufus Lightfoot ia à frente escondido e averiguou os dois caminhos possíveis. Em direção à saída do ginásio, pelo corredor do saguão por onde haviam chegado, o hobbit encontrou vários mortos-vivos, que eram como zumbis orcs, bugbears e ogres, mas muito ágeis, que estavam atacando dois ogres acuados. Do outro lado, no camarote de líder daquele exército que se desfazia, ele encontrou Kurgoth Cria do Inferno lutando contra gigantes e ogres mortos-vivos.
Enquanto Rufus e Azuzu escapavam escondidos pela saída principal, os demais preferiram o caminho do camarote. Eles ainda puderam ver Kurgoth fugir voando antes de escalarem as paredes do ginásio e escapar do mortos-vivos que se aglomeravam na arena e devoravam a carcaça do elefante Tusk. Derdeil explicou que a mesma força que negava as magias de cura estava potencializando as magias de necromancia e energia negativa, transformando os cadáveres em mortos-vivos por todas as ruínas da cidade.
O grupo preferiu margear a parede da caverna para evitar problemas, mas acabaram encontrando um grupo de gigantes do fogo e ogres que sobreviveu em um pequeno túnel. Mesmo sendo atacados pelas pedras arremessadas pelos gigantes, usaram da diplomacia, informando estarem à serviço do diabo Bradazel. Ante a incredulidade dos antagonistas, Derdeil lançou uma mensagem mágica:
- Meu velho Bradazel, estamos aqui com uns teimosos gigantes que se negam a aceitar nossa poderosa associação que destruirá o palácio drow. Informe a eles com quem eles estão tratando! - O servo de Azuth disse na língua dos gigantes para que se fizesse entender.
- Não gostei do seu tom, mago - chegou a resposta de Bradazel. - Deixe de tolices e venham logo para o platô onde se concentram as ruínas nobres!

Com isso, apesar de Derdeil apreçar-se em mandar uma nova mensagem mais humilde, não houve resposta. Eles apressaram-se e levaram os dois gigantes, três ogres e um diabo barbado para o platô com eles. Lá avistaram o diabo Bradazel, além de alguns vrocks, dezenas de diabos barbados e outros diabos menores que já estavam reunidos com Kurgoth Cria do Inferno. Antes que lá chegassem, no entanto, saído das ruínas do templos de Lolth, emergiu um enorme ser de trevas e escuridão que atacou Bradazel imediatamente com um cone de frio. A luta foi épica, com a morte de alguns dos seguidores que restavam, assim como uma nova fuga de Kurgoth, mas Bradazel conseguiu dar uma de suas magias de destruição no inimigo.
Reunidos com o grande diabo partiram para o palácio vendo a horda de mortos-vivos que o cercava e tomava as ruas arruinadas da cidade. Quando já bem próximos, Bradazel ordenou que Derdeil iniciasse os sacrifícios rituais para lhe dar poder e fez explodir um dos gigantes do fogo, enquanto os mortos-vivos já os percebiam e começavam a se aproximar. Derdeil Óphodda entoou as palavras profanas e a alma subiu para Bradazel, que concentrou o poder, mas não conseguiu vencer as defesas mágicas do palácio. Foi a vez, então, do segundo gigante do fogo perder a vida e sua alma ser destinada ao diabo, que absorveu-a e usou do poder para vencer as defesas, novamente fracassando.
Temerosos de serem os próximos, o grupo preferiu entregar os ogres e os cobriram de flechas. Derdeil se aproximou de dois deles já caídos e bastou tocá-los, desejando o sacrifício e sacrificando ele mesmo parte de sua energia vital. Enquanto tocava os ogres, seu toque foi de um frio mortal, como se ele mesmo fosse um lich, e as duas almas subiram para o diabo Bradazel, junto com um pouco da alma do Derdeil. Dessa vez, o temível diabo venceu as defesas mágicas do palácio e urrou em triunfo. Os mortos-vivos invadiram o palácio tumultuadamente sem barreira que os detivesse.
Tal triunfo, porém, durou pouco. Nesse instante, uma pequena mulher drow careca e albina, que usava uma máscara metálica como a que Derdeil vira no deus da magia Rhange Hesysthance, surgiu pairando à frente do diabo:
- Você já me causou problemas demais!!! Considere-se banido!!! - E como um simples gesto, ela devolveu Bradazel para os Nove Infernos. - Quanto a vocês, minhas crianças - e ante as palavras dela, todos os mortos-vivos silenciaram e se organizaram. - Vocês serão o instrumento de minha vingança... vocês irão varrer a superfície!!!
Assim, os mortos-vivos começaram a deixar o castelo e seguir para as saídas da colossal caverna. A clériga de Lolth assistia a tudo orgulhosa. Com o campo limpo, ela notou Kaliandra Boaventura, que ao contrário dos outros não se escondeu.
- Uma elfa? Obrigado minha senhora... - E a drow usou dos seus poderes para paralisar Kaliandra. Raven e Ravena investiram contra ela:
- Tire suas mãos sórdidas dela, serva do mal! - Bradou Raven.
- Mais elfos verdes? Parece que hoje é meu dia de sorte - deleitou-se a clériga, que os paralisou. Com mais um gesto, ela sumiu levando eles consigo.
Derdeil Óphodda percebeu que a drow usara uma viagem planar e não um teleporte. Avisando Braad que o estava carregando. Reuniram os demais e resolveram avançar para o palácio. Eis que ele recebeu uma mensagem de Kaliandra em élfico.
- Derdeil, meu ama.. Óphodda... estamos presos no plano etéreo... uma sala de sacrificios... cercados de corpos... venham rápido... ela vai nos sacrificar também...
Eles resolveram invadir, subindo as escadas que conduziam à entrada. Kurgoth Cria do Inferno preferiu fugir mais uma vez. O grupo encontrou dois mortos-vivos na entrada e Chuck chamou ponei com magia, que eles mataram em um instante. O druida usou seus poderes para moldar a pedra da parede e tiveram acesso a uma sala cheia de roupas.


15 de ago. de 2014

Negócios infernais


- O que eles estão conversando? - Questionou Raven Eagle.
- Jo no lo compriendo, señor... - disse Braad.
- Eles parecem estar se entendendo... - analisou Kaliandra Boaventura
- Só sei que é alguma língua satânica diabólica infernal - alertou o bardo Sérgio que vinha correndo tomado por um medo dos diabos.
- O mago humano sacrificou um drow para o demônio... - disse Raven.
- Tecnicamente é um diabo... - interviu Kaliandra. - Um ser do inferno.
- E era apenas um drow... um maldito drow... - observou Mari'bel. Nesse momento, no entanto, Derdeil Óphodda que ainda permanecia no centro do conflito, moveu-se rapidamente até o corpo do elfo negro mais próximo, também cortando a garganta dele, ceifando-lhe o suspiro derradeiro enquanto gritava na língua diabólica. A alma mais uma vez deixou aquele corpo e subiu para fortalecer a criatura infernal que gargalhava triunfante. A satisfação da criatura era indisfarçável, enquanto esta saboreava a alma de mais um drow.
- Ele está condenando a todos nós!!! - Bradou Raven sacando do arco. Ravena fez o mesmo.
- Nada que vem desse clérigo maligno pode ser bom para nós... - acrescentou Sérgio Reis.
- Derdeil, que passa? - Gritou Braad questionando o servo de Azuth.
- Eu consegui uma reunião com o líder dos gigantes do fogo. O diabo Badrazel irá ordenar às tropas que nos levem até seu líder onde poderemos acertar os detalhes da invasão. Graças ao poder de Azuth e à minha sabedoria, consegui convencê-lo que temos os mesmos inimigos, os drows. Eu preferia resolver isso sozinho, mas ele insiste que devemos ir todos até o líder das tropas, que também o comanda. - Derdeil apontou para o grupo de gigantes, bugbears e orcs que chegava. - Assim poderemos chegar até o palácio e aos elfos verdes... - disse Derdeil enquanto se aproximava.
- Você está dizendo que sacrificou essas almas para salvar minha família, mago? - Baixou o arco Raven.
- Não. - Derdeil estranhou. - Eu disse que consegui fazer um acordo com aquela entidade extraplanar, que ninguém aqui tem capacidade pra vencer nem se estivéssemos nos nossos melhores dias. Um acordo para irmos até o líder dos gigantes do fogo.
- Maldição das bugbears pestilentas, Badrazel... - protestou um dos gigantes do fogo na língua dos gigantes, que Derdeil, Braad e Sérgio compreendiam. - É o terceiro grupo de desgraçados da superfície que você manda até o chefe esse mês!!!
- Cale sua boca, verme insignificante e faça como mandei. Diga a Kurgoth que os enviei e os espero no palácio.
- Ao menos Tusk terá diversão - riu o outro gigante.
- Andem logo... façam fila... - disse o primeiro gigante, enquanto o grupo ia passando entre os orcs e bugbears, que pareciam frustrados sem o conflito. Ninguém percebia o drow Karas, que permanecia invisível ao lado de Derdeil, assim como Rufus que já estava escondido longe dali. O segundo gigante chegou até Chuck Norris, que ainda estava em forma de tigre selvagem, e correu a mão fétida e gordurosa pelos pelos das costas do druida felino.
- Eu sempre quis um desses... xanim... xanim...


Já bem longe dali, Rufus Lightfoot e Azuzu seguiam escondidos em direção às ruínas que pareciam de torres arcanas. Ele avistava que seus aliados iam sendo levados, mas sabia que pouco podia fazer contra uma tropa tão grande. Assistiu a todos partirem, enquanto o diabão voava em direção ao palácio.
Já próximo das ruínas, Rufus percebia as formas espectrais e negras que escorriam entre as pedras. Isso trazia arrepios a Azuzu. O hobbit insistiu que o fiel companheiro fosse em frente, mas percebeu então o brilho azulado que escapava por entre as rochas. Isso aguçou a curiosidade dele.
No entanto, quando os dois mortos-vivos espectrais emergiram, com seus esqueletos azulados cobertos por brumas negras e dispararam cones de frio sobre Rufus Lightfoot, ele e Azuzu escaparam por muito pouco. Mesmo fugindo o mais rápido possível, o ladino ainda foi atingido por uma dezena de mísseis mágicos que fizeram-no ter certeza de que fugir era a melhor opção. 
Enquanto corria, Rufus avistou um par de demônios-urubus voadores vindo na direção contrária. Lançou-se às sombras e ficou em silêncio, vendo que os monstros foram para o local da batalha com os drows e os mortos-vivos sem pele. Sem deixar o refúgio das sombras, o hobbit e seu cão resolveram buscar pelos colegas.
- Grande grandioso grandíssimo Kurgoth Cria do Inferno! Badrazel enviou mais estes aventureiros da superfície que desejam invadir o castelo dos drows!!! - O gigante do fogo anunciava o grupo formado por Raven, Ravena e Swam Eagle, Mari'bel, Kaliandra, Braad, Sérgio, Derdeil e Chuck a seu líder, levando-os para o centro da arena do ginásio. Havia pedaços de corpos e sangue por toda parte. O ginásio para mais de  dez mil pessoas dava mostras que aquela cidade tinha alguma importância. Apesar de avariado na estrutura, a construção ainda mantinha boas condições. O senhor daquelas tropas era um gigante de fogo de sangue infernal, que estava acomodado no camarote assistindo seu animalzinho, um enorme elefante diabólico, que esmagava um ogre.
- Saudações, grandioso Kurgoth Cria do Inferno. Eu sou Derdeil Óphodda, o escolhido de Azuth, embaixador de Halruaa e enviado de Badrazel. O diabo das profundezas ordenou-me que me apresentasse aqui com meus lacaios para que cuidassemos da invasão ao palácio daqueles malditos drows.
- Eu sou Kurgoth Cria do Inferno, violador de virgens, derrubador de barreiras, massacrador de exércitos - disse o gigante diabólico antes de escarrar no chão. Atrás dele estavam dois outros gigantes do fogo além dos quatro que já acompanhavam o grupo, tudo isso além de mais dois ogres de cada lado, grandes como gigantes.  - Você não parece ter o poder necessário para entrar lá, pequenino humano. Nem mesmo Badrazel conseguiu romper as proteções mágicas do palácio, pequeno humano.
-Pois posso lhe assegurar, iminência infernal, que meu poder foi talhado para esta missão e poderá se beneficiar com tudo que lá houver. Com a graça mágica de Azuth, senhor dos magos, asseguro que meu interesse é apenas resgatar os prisioneiros dos drows - tentou manter-se firme em seu argumento Derdeil.
- Se você tem tal poder, prove! - Bradou Kurgoth fazendo sinal para um de seus homens. - Pedra de Carvão, acabe com ele!!!
Um dos capangas, um gigante escuro como carvão saltou na arena para a batalha. Derdeil sabia que não teria esperanças em um embate físico. Concentrou toda sua energia vital e disparou toda sua magia em um míssil mágico que atingiu o gigante com violência. Ainda que o tenha retardado e desestabilizado, o inimigo permanecia vivo, enquanto o mago caiu de joelhos no limite de sua constituição.
Todos tiveram o impeto de socorrer Derdeil Óphodda, mas Raven os deteve.
- Esta batalha é dele - ele disse pondo a mão no ombro de Mari'bel. Enquanto o gigante cor de ônix avançava em sua direção, Derdeil não perdeu tempo e bebeu da água que fora tocada pela explosão do mythal. Ele sentiu seu vigor retornar o suficiente para conjurar uma nova magia. Ele queimou sua nova força vital, mais uma vez atingindo e ferindo o inimigo, que mesmo debilitado na cessava de avançar. 
Pedra de Carvão chegou em carga sobre o mago e bastou um golpe de seu machado para vitimar o servo de Azuth. Kaliandra não pode ver seu estimado camarada tombar daquela forma e levou uma das poções de cura para os lábios dele. Porém, ante a reação das elfas, os demais gigantes e ogres se lançaram ao combate.
Um dos ogres agarrou Swam Eagle e a lambeu como um picolé. Um dos gigantes derrubou Braad, enquanto outro agarrou Kaliandra. Chuck Norris aproveitou para se vingar dos abusos que sofrera e rasgou um dos gigantes, enquanto os arqueiros fustigaram Pedra de Carvão. Porém, isso fez com que o elefante Thusk caísse em carga sobre eles.
Um a um, os heróis iam tombando, mesmo que causassem graves perdas aos gigantes. As poções de cura e as magias iam se esgotando, mas os inimigos não, pois Kurgoth Cria do Inferno mandou mais capangas se juntarem à batalha. Muito ferido, Chuck Norris precisou tornar-se um urso selvagem para renovar suas forças, enquanto Swam Eagle foi entregue ao próprio Kurgoth.
Houve o retorno de Felicia, que curou Derdeil, e de Rufus, que esgueirou-se com Azuzu para ataques sorrateiros. Houve ainda o sacrifício do drow Karas:
- Não esqueça da magia teúrgica, Derdeil - foram as palavras dele antes de ser cortado ao meio pelo machado do gigante para salvar o mago de Halruaa.
Ainda assim, foi apenas quando Raven Eagle, com disparos certeiros, conseguiu vitimar o elefante Tusk, que o líder dos gigantes do fogo cessou a batalha. Restavam ainda dois feridos gigantes do fogo e dois ogres. Entre os heróis, Raven, Chuck, Mari'bel e Derdeil restavam de pé no limite de suas força. O gigante do fogo infernal esmagou o corpo de Swan Eagle contra o chão da arena.
- Vocês provaram seu valor... eu irei deixá-los ir até o palácio!



9 de ago. de 2014

Certos sacrifícios...


Kaliandra Boaventura e Sérgio Reis tiveram o mesmo sonho, enquanto repousavam sob a vigilância dos colegas, ali tão próximos da ruína da cidade dos drows na profundeza da terra.
Havia um homem estendido sobre um altar de Bibiana. O altor da sagrada basílica de Bibiana em Evereska. O sujeito era um bonito elfo com as insignias da deusa do belo povo. Ao redor dele, protegendo-o estava um grupo de heróis. Um quarteto de gnomos, uma elfa verde e um poderoso guerreiro com uma lança era os defensores. Diante deles, ameaçando a tudo e a todos estava um anjo de aspecto demoníaco. Ele tinha cicatrizes por todo o corpo cinzento e parecia a essência do próprio medo. O fim parecia próximo.

Chuck Norris teve o mesmo sonho que Mari'bel, ainda que a fada dormisse apenas o primeiro turno, devendo fazer o segundo com seu mestre Raven Eagle. Os servos da natureza, assim como os demais Eagles, tiveram o mesmo sonho. Vendo-se sozinhos em meio à Grande Floresta, cada um viu-se andar em direção a uma ampla clareira, onde reuniam-se centenas de druidas e guardiões de todos os tempos. Ao centro, haviam um velho homem, de longa e branca barba, olhar cansado, que era ladeado por uma bela jovem, que trazia consigo lança e escudo. Diante deles estava uma velha senhora, de bochechas grandes e rosadas e ancas largas. Massageando os ombros dessa estava um belo e garboso rapaz de cabelos dourados. Enquanto discutiam com veemência, o que também instigava todos os servos da natureza ao redor, uma torrente de escuridão se derramou sobre todos, tornando o mundo frio e negro. Cada vez mais frio. Nada mais se via. Nada mais se ouvia. Apenas o frio havia a roubar o calor do corpo. E logo nem isso.

Rufus Lightfoot sonhou com um banquete. Bolos, sonhos, tortas, queijos, doces, melados, compotas, sanduíches, sucos, vitaminas, refrescos, licores, assados e todo sortilégio de quitutes cobriam uma vasta mesa onde ele e Azuzu se fartavam. O hobbit escutou batidas na porta atrás dele e se virou, enquanto devorava uma farta coxa de peru selvagem. As batidas cessaram, mas ao se virar de novo, já não havia comida, só restando a coxa que trazia consigo e continuava a comer. Ele e Azuzu agora estavam em um deserto sem fim. As areias douradas atingiam-no com o vento e a secura já incomodava sua garganta. Ao olhar para seu fiel cão, Rufus viu Azuzu definhar como se não comesse ou bebesse há muito tempo. Antes que pudesse fazer algo, o animal caiu como um saco de ossos e pele sobre a areia, que ia cobrindo-o. Logo, ele viu-se tombando ao lado do fiel companheiro agarrando a própria garganta suplicante por água, sentindo a vida secar em seu corpo.

Braad sonhou que vagava por uma das vastas bibliotecas da Fortaleza da Vela. Estantes altíssimas o circundavam com seus livros e tomos, além de pilhas de papéis e pergaminhos sobre mesas e móveis. Ele sentia que buscava por algo, embora não soubesse o que. Foi quando viu um largo rolo de pergaminho que tombou e correu abrindo-se em sua direção. Os símbolos que iam se formando contavam uma estranha história que ele não conseguia compreender, muito embora reconhecesse vários dos sinais como algumas das marcas que trazia em seu corpo. Isso o fez trilhar aquela história seguindo o pergaminho que se abria, como alguém que nada para a luz buscando a superfície. Por fim, uma tinta negra cobriu todo o pergaminho, passando ao chão e tudo mais. As trevas cobriram tudo e passaram a agarrar a carne dele, a subir por suas pernas até consumi-lo totalmente.


Derdeil Óphodda sonhou com sua terra natal. Reconheceu as torres flutuantes de Halarah, a capital de Halruaa, assim como os navios voadores famosos de seu reino. Ele percebeu que estava na Avenida dos Pioneiros, diante da Torre da Ciência Absoluta, onde residia o grande Zalathorm, líder do conselho dos elderes, que governava como um rei sob a inspiração de Savras, deus da divinação. No entanto, Derdeil viu que quem estava sentado ao trono agora era ele como supremo líder da magocracia. Diante de si, Derdeil via passar uma extenso desfile como o que se dava na comemoração da chegada dos refugiados de Netherill e da fundação do reino dos magos. Uma multidão circundava o cortejo tomada pelo êxtase da admiração. Os passistas traziam estandartes e flâmulas com o símbolo da casa Óphodda, de Azuth e da escola arcana de evocação, além de éfiges e bustos do próprio Derdeil, exaltando-o como a um líder absoluto.

Mari'bel acordou um tanto sobressaltada e viu que Raven também parecia incomodado quando renderam Braad e Ravena que foram deitar-se. O sono dos companheiros parecia inquieto, apenas Derdeil dormia feliz como um bebê.
- Sonhei com uma escuridão na Grande Floresta... - ela murmurou olhando desconfiado para a porta que guardava os ladinos drows que os ajudariam contra os clérigos drows.
- Eu sei... eu também... e os demais pelo visto... - disse Raven abaixando-se e passando um dedo sobre o chão.
- Tudo aqui me deixa desconfortável... - Mari'bel sacou seu arco como se fosse a única coisa que pudesse deixá-la mais tranquila. 
- Então venha comigo... - falou o Iniciado do Arco enquanto levantava e ia deixando o túnel que os trouxera até os drows. Foi só então que a fada percebeu que Swam Eagle não estava por ali. Pensou se não seria melhor acordar os outros, mas para não perdê-lo no corredor sinuoso, acabou seguindo sem questionar.
Na entrada da caverna, Raven finalmente parou. Ele apontou o imenso demônio rubro patrulhando o céu acima das ruínas próximo ao castelo. Mari'bel não via qualquer sinal de rastro da elfa verde, mas sentia um tênue aroma de seu perfume, como se ela tivesse saído já há bastante tempo.
- Ela está nas ruínas...
- Vamos chamar os outros e...
- Agora é hora de avançar no seu treinamento... - disse o guardião escondendo-se e saindo.

Derdeil Óphodda, que acordou envaidecido e satisfeito com o próprio sonho, foi o único que não percebeu que Swam, Mari'bel e Raven não estavam por ali. Todos os demais, que acordaram sobressaltados com seus respectivos sonhos logo deram falta do trio verde. Ravena se pôs a buscar os rastros e encontrou os de Raven e Mari'bel, mas não os de Swam. As pegadas dos dois arqueiros iam em direção à entrada do túnel sinuoso e não tinham mais do que quatro horas.
O mestre da bebedeira Braad deu mais atenção a uma nova marca que surgiu no seu corpo, na lateral do abdômen. O sinal parecia uma queimadura antiga e ele o vira em seu sonho. Sérgio Reis, no entanto, não viu qualquer significado possível nela, além de um machucado aleatório de algum carnaval mais animado. Assim sendo, enquanto a maioria dos outros preferia acompanhar Ravena, o monge abriu uma garrafa e bateu na porta do refúgio dos Escondidos.
Depois de algum tempo, um dos drows a abriu.
- Estão prontos para partir? - Disse o sujeito que trajava uma armadura média de mythral, ao contrário dos demais e não falara muito até então. A conversa se dera com o líder Hamadh, que entrara em um acordo e os guiaria até as muralhas da cidade arruinada à salvo das tropas dos gigantes de fogo. - Eu sou Karas e irei levá-los. Espere um pouco... por que você trás o símbolo da casa Morcane em sua carne, humano?
- Morcaine? No conosco, señor.. que és?
- Era uma casa drow... - intrometeu-se o bardo Sérgio. - Uma casa nobre... vivem sob a Grande Floresta.
- Eles deixaram Maermydra, pois aqui não tinham qualquer importância, indo serem senhores de um entreposto comercial ao sul daqui - completou Karas, enquanto um rato selvagem correu pelo corredor. Eles entenderam que se tratava do entreposto onde foram parar com o sequestro de Mari'bel e Kaliandra. 
- Melhor continuar.. - disse Kaliandra vendo que os demais sumiam no caminho.
- Mas aqui parece tão seguro... - lamentou o corvo Edgar pousado no ombro da guerreira e maga.
Acompanhando, chegaram à entrada do túnel secreto avistando novamente toda a extensão da caverna. A cidade, mesmo em ruínas, ainda ocupava a maior parte do espaço. Haviam fogueiras e deslizamentos por todos os lados. Margeando a muralha tombada estavam as tropas dos gigantes do fogo. Elas sitiavam a cidade e o castelo na parede leste, que era a única coisa que restava em plenas condições. No sul da caverna, havia ainda outra construção de pé, um grande ginásio, embora estivesse avariado.  Na parede oeste, sobre um platô haviam ruínas de casas nobres e do que parecia um templo. Próximos deles, à esquerda, as ruínas de um par de torres mais isoladas. Perceberam que um portão na parede norte, guardado por quatro gigantes do fogo, fechava um largo túnel.
Ravena tentava explicar aos outros que Raven e Mari'bel haviam descido para as ruínas, sem dar conta de Swam, quando a atenção de todos foi capturada pelo enorme demônio vermelho e chifrudo, com asas de morcego que parou diante da parte alta do castelo. Ele lançou uma magia para desfazer as proteções mágicas do palácio, mas não teve efeito. A criatura de outro plano era um diabo na verdade, esclareceu Derdeil, um diabo das profundezas. Um ser muito além do poder de qualquer um ali.
- Mas talvez o poder de vocês seja suficiente para fazer mais... - observou Karas.
- O que quer dizer? - Questionou Derdeil.
- Vocês são um grupo poderoso... poderiam entrar nos aposentos do líder desse exército e derrubá-lo. Cortar a cabeça de um e acabar com essa invasão... - acrescentou o drow.
- Qual seu interesse nesso? - Estranhou Braad.
- Estou apenas pensando no potencial de vocês. Os servos de Lolth que tomaram de volta o poder que havia sido tomado da família Maermydra são desprezíveis... eu sou um servo de Vaehrun. Pra mim, são todos desprezíveis - disse Karas, um clérigo do deus dos ladrões dos drow e filho de Lolth.
- Nosso objetivo é resgatar os elfos verdes aprisionados! - Disse Kaliandra com convicção.
- Pelo que vejo, vocês estão mais perdendo os elfos verdes que tinham... - cutucou Karas.
- Os rastros de Raven e Mari'bel vão em direção àquela escuridão na parede da caverna... - interrompeu Ravena.
- Essa fadinha... - comentou Chuck Norris, enquanto Felicia assumia a forma de um besouro das profundezas, inseto típico das cavernas de Faerun e saia voando.
A discussão, no entanto, foi interrompida pela aproximação de um grande grupo que deixou as ruínas. Quase duas dezenas de seres, entre mortos-vivos e drows vinham circundando Swam Eagle. A maioria achou prudente se esconder, enquanto Kaliandra mandou uma mensagem mágica para a elfa verde.
- Swam, estamos procurando você. Onde você está? Aconteceu alguma coisa?
- Estou voltando com ajuda... esperem por mim tranquilos e despreocupados - ela disse e todos entenderam que ela não estava agindo em prol deles, mas sim dos drows que a acompanhavam.
Derdeil Óphodda optou por esperar abertamente do lado de fora, enquanto Karas e Sérgio estavam na entrada do túnel secreto e todos os demais escondidos do lado de fora. Os drows não deram tempo para conversa e já começaram a disparar suas setas envenenadas. Duas atingiram o mago, mesmo que este tenha invocado uma proteção mágica e o veneno o enfraqueceu.
Rufus Lightfoot aproveitou o início da confusão para escapar escondido pela esquerda. Ele e Azuzu tentavam evitar os mortos-vivos drows sem pele que subiam rapidamente cuspindo ácido. Braad, por sua vez, partiu em carga cuspindo cachaça, evitando os mortos-vivos e chegando aos drows. Kaliandra se posicionou para a batalha. Derdeil conjurou uma esfera flamejante e lançou-a contra os drows, vencendo a resistência mágica destes. Chuck Norris assumiu a forma de um tigre selvagem. Sérgio Reis invocou um relâmpago de sua varinha sobre cinco dos drows, mas venceu a resistência de apenas dois deles, enquanto o drow Karas fugiu para o interior do túnel e Ravena Eagle disparou suas flechas. Os inimigos drows tentaram avançar e Braad derrubou um deles. Os demais atiraram e conseguiram envenenar o druida tigre, ao mesmo tempo que os mortos-vivos cercaram os que guardam a entrada do túnel secreto.
Rufus saiu de seu esconderijo em carga indo ajudar o monge, assim como Kaliandra com sua espada longa. Derdeil moveu sua esfera para afetar os inimigos, recuou e ainda invocou um desfazer magia sobre Swam, que conseguiu quebrar o efeito de dominação que a controlava desde que atravessara o portal sem que ninguém se desse conta. Chuck Norris, mesmo em forma de tigre selvagem, achou melhor conjurar uma magia de luz do dia sobre uma pedra, criando uma enorme luminosidade, que sua águia Izabeau carregou e lançou sobre os drows deixando-os penalizados. Isso, no entanto, atraiu também atenção indesejada.
O bardo Sérgio Reis enfim começou a cantar para instigar seus companheiros, enquanto recuava ainda mais para o interior do túnel. Ele acabou por topar com Karas, que sacrificou a própria vitalidade e lançou uma magia arcana para dominar o humano, que resistiu e sentia-se em perigo aqui também. Ravena vitimou mais um dos drows com suas flechadas, assim como Braad terminou o serviço com o seu. Os drows, no entanto, não retrocederam. Um deles anulou a luminosidade mágica, com uma escuridão mágica. Outros se posicionaram e dispararam setas que envenenaram Ravena. Os mortos-vivos alcançaram o druida e feriram-no com o ácido, enquanto o drow mais adiantado os protegeu com outra escuridão. Quando a revoada de sete flechas caiu sobre os inimigos próximos das elfas, do monge e do hobbit, vinda da esquerda, todos viram enfim chegar Raven Eagle e Mari'bel a uma distância segura.
Aproveitando a cobertura, Rufus deixou mais um golpe e refugiou-se escondidos entre as pedras do caminho. Kaliandra Boaventura resgatou heroicamente Swam Eagle e recuou em direção aos arqueiros, assim como Ravena, muito fraca com o veneno. Braad ta,bém recuou no mesmo rumo. Derdeil recuou para o interior do túnel. Todos já viam o diabo das profundezas se aproximar. Por isso mesmo, além de recuar, Chuck se protegeu com uma magia de resistência ao fogo, que mostrou-se necessária contra a bola de fogo que o extraplanar lançou a seguir sobre ele, o drow e os mortos-vivos. Isso além de desfazer a escuridão.
No interior do túnel, Derdeil que acabava de chegar, viu Sérgio esquivar-se de Karas e fulminá-lo com um raio. Apesar de ferido, o drow preferiu estender uma poção para o mago recém-chegado.
- Beba, meu amigo. Seu aliado está contra os drows errados e...
- Não beba esse veneno, mago! Ele tentou me dominar!!! - Alertou Reis.
- Você que é uma mente superior, mago, deve ter mais controle sobre esse inconsequente. Eu tenho o conhecimento daqueles que manipulam a magia divina e arcana... ao mesmo tempo... a arte dos Teurgístas Místicos.
Com a chegada do diabo, três dos drows optaram por fugir. Outros dois escolheram se esconder, enquanto os mortos-vivos seguiram túnel adentro atrás de Derdeil.  Raven e Mari'bel deram conta de um dos drows fujões. Rufus que estava bem escondido mais abaixo, avistou a tropa de bugbears e orcs que chegava liderada por dois gigantes do fogo. Kaliandra e os demais enfim alcançaram o casal de arqueiros.
Encurralados no túnel e ferido pelo ácido dos mortos-vivos, os três usuários de magia pareciam condenados. Porém, Derdeil Óphodda clamou por seus poderes de escolhido de Azuth e teleportou os três para o lado de fora, escapando dos mortos-vivos, mas surgindo diante do diabo. O diabo das profundezas que invocava seus poderes infernais e fazia os dois drows escondidos explodirem como se fossem pipocas de carne, inclusive um que Chuck agarrara.
Enquanto todos aguardavam atônitos, Sérgio preferiu atacar Karas mesmo na iminência de ser implodido pelo diabo. Foi o evocador Derdeil Óphodda que tomou as rédeas da situação. Ele caminhou até o corpo ainda interior de um dos drows tombados por Braad. Sacou sua adaga e degolou-o com precisão cirúrgica.
- Que esta alma impura seja ofertada ao poderoso ser que comanda meu destino e é senhor de todos os magos. Receba, ó grande Azuth esse presente de seu escolhido e fiel seguidor para que abasteça a força maior da existência! Kikerááá'!!! 
Com esta palavra de poder, todos viram a alma pálida e bruxulenta deixar o corpo do drow e subir até ser absorvida pelo diabo, que pareceu olhar o mago com outros olhos.


2 de ago. de 2014

Escondidos


O grupo de heróis da superfície via-se encurralado entre a tropa de morto-vivos e o grupo que vinha com os escravos bugbears mais à frente. Alguns mantiveram-se escondidos, outros recuaram e cruzaram a ponte, mas os Eagle não pareciam determinados a fazê-lo. Rufus Lightfoot cuidava de minar a estrutura da ponte para impedir que o segundo grupo de inimigos os alcançasse. O druida Chuck, ainda em forma de urso selvagem posicionou-se no fim da ponte, ciente de que agora poderia derrubá-las com um par de golpes. Sérgio Reis e Kaliandra vinham depois dele, embora o bardo perdesse tempo incomodando e assediando a elfa.
Por fim, mais uma vez sem temer o perigo, Raven Eagle fez sinal para a druida Felícia, ainda em forma de águia, que carregou Swan com ela, enquanto o próprio Raven e Ravena dispararam sua setas contra os inimigos destruindo os dois mortos-vivos mais adiantados e alertando os inimigos para a presença deles. Os drows incitaram os escravos bugbears a avançar para atacar, assim como o gigante de pedra que tomou a dianteira. Rufus teve certeza que era o momento de seguir para o portal, pois a tropa de mortos-vivos do outro lado, que saira do portal, seguiu em frente em direção aos escravos da entrada da caverna. Felicia também já voava com Swan para o portal, sendo a primeira a lá chegar, mas acabou agarrada pelo tentáculos de um estranho octopus aracnídeo das profundezas. O monstro a agarrou, embora Swan Eagle tenha escapado. 
Mari'bel deixou seu esconderijo e juntou-se ao seu mestre Iniciado do Arco, que alvejando o outro morto-vivo, assim como Ravena, fazendo-o encontrar a morte final. Os dois cruzaram a ponte,se juntando aos demais. Braad e Derdeil se afastaram dali recuando velozmente em direção ao portal, enquanto Chuck aguardou protegendo a ponte e vendo o gigante de pedra cada vez mais próximo. Faltavam apenas Sérgio e Kaliandra, que tentava carregar o bardo. Este acabou por grudar-se a ela como um animal no cio obrigando-a a acertá-lo com um direto no queixo que o jogo contra a ponte e quase terminou de derrubá-la.
Sérgio Reis sacou sua varinha de relâmpago e passou a gritar ameaças elaboradas:
- Você vai pagar por ser uma vagabunda feminista que odeia homens e não respeita o nosso direito de assediar a sua deliciosa forma élfica!
- Pare de gritar, seu imbecil, e vá para o outro lado antes que eu resolva deixar você de presente para os drows - disse Kaliandra ignorando o tolo humano e indo para o outro lado. Ela ordenou a seu familiar Edgar para que ficasse ali para informá-lo da aproximação dos inimigos, mas ele não ficou mais do que dois segundos.
- Isso não vai ficar assim, pois o cãozinho do berrante, não apanha duas vezes seguidas sem pegar uma mulher... - ele seguia tagarelando enquanto cruzava a ponte, acabando por fazer emergir da água do lago próximo o segundo octopus aracnídeo das profundezas.
Rufus e Azuzu seguiam velozmente mais adiantados, alcançando a grande degrau para o patamar acima no qual estava o portal. O hobbit escalou com agilidade os dois metros, vendo o mago Derdeil que se aproximava, assim como a elfa Kaliandra. O monge Braad recuou para o lado dos Eagles, que seguiam disparando setas certeiras, derrubando um dos capatazes drows. O colega dele, no entanto, usou uma poção para curar o camarada. Porém, isso deteve um pouco a velocidade dos escravos, mas o gigante continuou.
Felicia se transformou em uma mosca, escapou dos tentáculos e voou para a boca do túnel do portal, seguindo Swan que correra para lá. Rufus esgueirou-se para perto do portal, enquanto Derdeil atingiu o desnível que subiu com alguma dificuldade. Raven, Ravena e Mari'bel recuavam e disparavam mais flechas, ferindo os drows, mas estes uma vez mais se curaram com poções e novamente puseram os escravos a avançar. O gigante arremessou um pedregulho, que causou sérios danos ao druida urso. Sérgio também voltava, mas soltou um relâmpago na dupla de octopus. Kaliandra atingiu o desnível e o escalou rapidamente. Aproveitou para carregar o mago com ela.
Rufus Lightfoot e Azuzu correram e conseguiram adentrar o túnel sem serem atingidos pelos tentáculos. Ao entrar, o hobbit resistiu a algum efeito que protegia o túnel. Não viu sinal das elfas, mas percebeu uma runa anã no final do corredor, além das marcas das pegadas ácidas do mortos-vivos. Ele tocou a runa lendo-a e sentiu a magia afetá-lo.
O gigante de pedra chegou à ponte, mas Chuck golpeou a estrutura com ferocidade, permitindo às águas do rio caudaloso carregarem a madeira e o grande humanóide. Os drows se aproximavam com os escravos, mas um deles tombou novamente pelas flechas dos arqueiros, que agora já estavam próximos do desnível. O monge estava um pouco mais próximo. Já o bardo vinha mais atrás e disparou outro relâmpago nos octopus. Kaliandra e Derdeil esperavam por uma chance para entrar.
Longe dali, Rufus Lightfoot via uma caverna ainda maior do que a anterior. A altura era extraordinária. As ruínas de uma cidade ocupava todo o centro e sul da caverna. Apenas um grande castelo, que erguia-se do chão, pela parede sul até o teto em uma estalactite permanecia de pé. Ao redor das ruínas, um enorme acampamento parecia sitiar o lugar. Haviam fogueiras e ele percebeu bugbears, orcs e alguns gigantes do fogo, além de demônios, inclusive voadores. Ele viu também Felícia voando na parte norte, quase junto ao teto da caverna, novamente como uma águia e carregando Swan. Foi, então, que o ladino avistou o pequeno vulto de um drow não muito longe dele, na entrada de uma caverna a observar, ele fez sinais, mas não conseguiram se entender.
Raven, Ravena e Mari'bel passaram a disparar contra os octopus dando cobertura aos demais, já despreocupados do capataz drow e dos bugbears que não tinham como cruzar o rio. O gigante de pedra lutava contra a correnteza. Braad, Kaliandra e Derdeil correram e entraram, passando pela defesa mágica. O mago usou seus poderes de escolhido para desfazer a proteção mágica.
- Essa runa é nossa passagem para longe daqui... mas devemos estar todos aqui para partir - alertou o mago. 
Quando o gigante chegava à borda e os escravos bugbears se viravam contra o único capataz drow já ferido, Chuck Norris correu o máximo que pode para o portal trazendo Sérgio Reis consigo, enquanto este disparou novo relâmpago sobre os octopus. Por fim, Ravena e Mari'bel se juntaram aos outros, dando cobertura para Raven de dentro. Vitimaram os dois monstros e Derdeil Óphodda leu a runa, levando-os para um ponto da caverna, onde viram as ruínas e o acampamento. Mari'bel achou os rastros de Rufus, que iam para uma pequena caverna, enquanto os outros viram Felicia e Swan que se aproximaram.
A caverna formava um túnel estreito e planejado para comprometer o avançar de uma tropa de gente como eles. Além dos rastros do hobbit, Mari'bel também reconheceu as pegadas de um pequeno drow do mesmo tamanho dele. Depois ela encontrou mais um par de drows, adultos, um homem e uma mulher, nenhum dos dois de sangue nobre, além dos ratros de um humanóide rato, conforme avançavam. O corredor terminou em um pequeno aposento. A pequena mesa quadrada que havia nele, uma das cadeiras e todo o espaço era ocupado por pilhas de moedas de ouro, prata, platina e gemas-de-sangue. Todos os rastros iam para a única porta e de lá vinha a conversa na língua dos anões que começaram a escutar:
- ..amigo é uma palavra muito forte.. mas são meus conhecidos.. mas nós estamos juntos.. quero dizer.. eu e Azuzu geralmente vamos mais à frente. Nós estamos atrás de uma família élfica que foi sequestrada... 
- Existe muita coisa acontecendo por aqui, pequenino... - dizia o drow que liderava aquele grupo e usava um tapa-olho. - Chiirikk confiou em você, mas no presente momento não podemos arriscar.
- Claro, claro... - concordou Rufus entendendo a mensagem. Ele olhava em volta e via as inúmeras gemas, jóias e objetos de arte. Tudo empilhado, já que não havia espaço para mais nada, mas tudo de grande valor. Entendia que aqueles eram ladinos que sobreviveram ao que se passara e era hora de negociar. - Eu tenho essa espada mágica que vale um bom dinheiro... se você puder contar o que está acontecendo e nos ajudar...
O drow recebeu a espada e a olhou interessado antes de falar:
- Está havendo uma mudança na balança do poder aqui embaixo. Os servos de Lolth derrubaram os antigos senhores da cidade, mas não contavam com a invasão da horda comandada por gigantes do fogo e demônio. A cidade acabou destruída e apenas o castelo permanece de pé protegido por magia.
- E quanto aos elfos?
- Sabemos que o poder deles vem do sacrifício... elfos foram sacrificados e estão sendo sacrificados naquele castelo, garoto - o drow disse ajeitando-se, enquanto a mulher semi-nua que o acompanhava acariciava-lhe os ombros.
- O que fazemos com os outros, chefe? - Perguntou o drow-rato.
- Deixe-os entrar... por um bom pagamento, Rufus, nós podemos levá-los até os muros da cidade... sejam bem vindos cavalheiros da superfície... eu sou Hamadh e estes são os Escondidos...