19 de jun. de 2014

O banquete verde

Um a um, os heróis foram chegando guiados pelo pajem Pidgen Eagle, um jovem elfo mal saído da puberdade. O pajem ia indicando aos convidados seus assentos na imensa mesa localizada na ampla plataforma suspensa entre as árvores da Grande Floresta. Chegava-se ali pelas pontes suspensas por cordas que saíam dos extremos, muito embora não houvesse mais movimento ali do que duas dúzias de elfos verdes, já que guardas, sentinelas e a maior parte dos demais habitantes tinham outros afazeres.
Sentado em uma das cabeceiras da mesa, Falcon Eagle recebeu Kaliandra Boaventura com um largo sorriso, posicionando-a imediatamente ao seu lado esquerdo. A embaixadora elfa buscou não dar mais atenção do que o necessário à cortesia do velho patriarca elfo, embora toda aquela celebração élfica trouxesse uma certa saudade de casa, mesmo com um ar mais rústico. A drow Dzariah, olhadas por todos com no mínimo desconfiança, no máximo ódio mortal, sentou-se ao lado de Boaventura, tendo Sérgio Reis, Braad e Derdeil Óphoda após ela. Do lado direito, de frente para eles estavam Rufus Lightfoot e Jorge da Capadócia. Além dos heróis convidados, estavam muitos dos parentes do líder dos elfos verdes, com um certo ar mal-humorado que parecia característica geral. As mulheres eram de uma beleza seca e decidida, os homens feios, mas austeros.
- Permitam apresentá-los, meus parentes, nobres convidados, caríssima embaixadora Kaliandra. Ao lado do paladino está a destemida Ravena Eagle, minha sobrinha, seguidora de Daphne, uma guardiã de todos os deuses muito precisa no arco. Ao lado dela está minha prima Swan Eagle, renomada diplomata, que já esteve na corte de Encontro Eterno com a rainha Amídalas Ancalimon. Ao lado dela está o irmão gêmeo de Ravena, Raven Eagle, também um excelente arqueiro guardião. Adiante está Condor Eagle, meu tio, um sábio clérigo de Bibiana, pai de Swan e Cuckoo. A jovem ao lado dele é Crane Eagle, minha filha, estudante dos mistérios arcanos, mesmo nesses tempo tão complicados. O forte rapaz ao lado dela é meu filho mais velho Woodpecker Eagle, que tem ao lado dele Mockingbird, meu neto, desses jovens um tanto rebeldes de hoje. Ao lado dele, meu primo Cuckoo, um feiticeiro, de quem já falei. Quase na ponta, temos Penguin Eagle, meu sobrinho que é guerreiro. A dama na outra cabeceira é Hawk Eagle, clériga de Bibiana, Senhora da Vila, mãe de Woodpecker e Crane. Ao lado direito dela está meu irmão Merlin Eagle, nosso mais poderoso mago e pai dos gêmeos. Flamingo é a mulher ao lado dele, minha cunhada, esposa de meu irmão Owl. O rapaz ali é Crow, meu outro filho. Aquele é Owl, meu irmão mais novo, responsável por nosso comércio. Entre ele e o mago de Halruaa estão seus filhos Parrot, jovem bardo, e Rumingbird, guardiã da deusa dos elfos que serve a John Falkiner, o escolhido de Bibiana.
- É um enorme prazer conhecer a todos, nossa rainha Amidala Ancalimon, filha de Goellis Ancalimon, Senhora do Oeste, Dama da Esperança teria grande prazer em se reunir aos mais proeminentes membros do clã Eagle, entendendo como quer Bibiana que somos um só povo em um só mundo - disse Kaliandra com uma reverência, enquanto todos prestavam atenção. A única exceção era o monge Braad, que após virar o próprio copo de hidromel, fizera o mesmo com as teças de Sérgio e Derdeill, já cheio que estava do rum dos anões.
- Estão cuidando de nosso conforto meu primo Vulture Eagle e minha sobrinha neta Secretarybird, além de Pidgen, que os recebeu. Espero que as ervas, folhas e legumes estejam do vosso agrado. Nosso molho verde é muito famoso. Eu mesmo recomendo a sopa de espinafre com tofu, é uma das especialidades do chef Francis Eagle.
- Carne? Cogumelos recheados? Bacon? - Dizia Rufus provando o que havia nas travessas que alcançava. - Algo sem tantos verdinhos?
- Justo Tyr, abençoe esta comida que temos diante de.. - ia dizendo o paladino murmurando uma prece.
- Deja la garrafa, chico.. - disse Braad entornando a bebida.
- Espero que esteja tudo do seu agrado, Kaliandra - disse Falcon se aproximando. - Farei tudo que estiver ao meu alcance para que chegue até Evereska e cumpra sua embaixada. Talvez possamos aproveitar esse tempo para nos conhecer melhor. Posso lhe contar de minhas façanhas como aventureiro.
- Espero que não me entenda mal, patriarca Eagle. Mas o único caráter de minha viagem é representar a rainha e cuidar de que a vontade dela e de Bibiana funcionem em uníssono - Kaliandra afastou-se um pouco dele.

- Acredito que possamos estreitar os laços.. - Falcon esticou um braço por sobre o encosto da cadeira. - A rainha e Bibiana gostariam disso...
- Solta essa língua Boaventura, Kaliandra - debochou Sérgio Reis percebendo a saia-justa. Ele pegou o berrante e deu um sopro entusiasmado para trazer furor aos corações.
- Love is in the air... everywhere i look around... - começou a cantar o bardo Parrot Eagle tocando uma cítara.
- Love is in the air... every sight and every sound... - continuou Sérgio com um longo falsete, o que pareceu animar Falcon Eagle.
- Eu posso te levar até Everska, Kali... mas posso te levar até as estrelas antes... - ele disse tentando envolvê-la.
- Talvez você devesse se lembrar de onde está e de sua obrigações, Falcon Eagle - gritou em advertência Hawk do outro extremo da mesa. - Lembre-se que Bibiana diz que somos um só povo agora, mas não temos de aguentar velhos tolos e babões, que não sabem cuidar dos próprios filhos.
- A sabedoria de Bibiana requer um distanciamento reflexivo... - esquivou-se Kaliandra concordando com Hawk. Mas a atenção de todos foi atraída pelo baque surdo que se seguiu. Todos viram Braad tombar inconsciente e completamente embriagado, derramando algumas travessas, espalhado comida.
- Se me dão licença, acho que meu amigo tá precisando deitar.. - disse Derdeil, que conjurou uma magia que lhe daria a capacidade de carga proporcional à de uma formiga do seu tamanho. Sentia a força do mythal, que não saía de seu pensamento a alimentar sua magia. - Eu irei levá-lo até o quarto e retornarei.... - antes que o mago de Halruaa, no entanto, saísse dali com o mestre da bebedeira o ataque começou.
Rufus Lightfoot ainda mastigando uma cenoura crua foi quem viu melhor o que estava acontecendo. Ele se afastara alguns segundos antes para dar uma volta tranquila com Azuzu, já que estavam todos reunidos no jantar talvez houvessem lugares onde passear sem barreiras. O furtivo hobbit viu os mortos-vivos escalando pelas árvores e sitiando o banquete. Eram dos mortos-vivos drows sem pele e que expeliam ácido encontrados anteriormente. Dessa vez, no entanto, eram dezenas. Lá embaixo, um caos ainda maior se espalhava por toda a vila.
As criaturas movidas por energia negativa saltaram sobre a plataforma, gotejavam suas secreções ácidas e usavam seus olhares sinistros contra os Eagles e seus convidados. Falcon Eagle vitimou o primeiro com uma saraivada de flechas certeiras, enquanto seu falcão Pardal ganhou os ares. Kaliandra sacou da sua espada longa recém-adquirida em troca do equipamento drow e investiu em carga contra os mortos-vivos que ameaçavam Derdeil e o inconsciente Braad. Sérgio e Parrot mudaram o tom da cantoria para que esta animasse seus aliados na batalha. Dzariah saltou sobre a mesa e disparou um raio de luz de sua varinha, sacrificando seu vigor já que não podia se vincular ao mythal da Grande Floresta como os demais. Jorge da Capadócia invocou os poderes da justiça para esmagar aquele mal profano. Sem exitar, Rufus disparou com Azuzu em direção ao arsenal onde esperava encontrar algo de útil contra a horda morta-viva.
A maioria dos Eagles disparou seus arcos contra os inimigos, mesmo que sem tanto sucesso quanto o patriarca deles. Condor invocou uma proteção, enquanto Merlin descarregou uma saraivada de relâmpagos contra as criaturas, sem ferí-las em nada. Hawk Eagle ergueu os braços e clamou pela força vital de Bibiana.
- Que a senhora do elfos transborde a vida de mim... - A energia positiva e pulsante partiu de Hawk e correu quase 20 metros para além dela, o dobro do que seria normal, alcançando a maior parte da plataforma. Os vivos que tocava recuperavam os danos sofridos, sumiam-lhes as feridas como se nunca estivessem existido. Já os mortos-vivos sentiam sua carne ser queimada e expurgada, quase que de uma só vez destruídos. Ainda assim, eles resistiram e mesmo cambaleantes continuaram a atacar.
- Por Oghma, clérigo Derdeill... você é capaz de fazer isso? - Gritou Sérgio, que parava de cantar e pegava seu arco, subindo na mesa, como iam fazendo os outros sobreviventes. - Exploda em energia positiva para nos ajudar.
Além disso, uma nova leva de mais de trinta mortos-vivos chegou e os mais jovens, fracos e inexperientes dentre os Eagle iam tombando ante a força nefasta das criaturas. Secretary, Pidgen, Mockingbird, Crane e Flamingo tombaram, alguns mortos em definitivo. Para surpresa de todos, pequenos portais dimensionais se abriam e os corpos dos elfos tombados foram sequestrados antes que alguém pudesse reagir.
Kaliandra se dirigiu para o outro extremo da mesa para proteger a clériga de Bibiana, que explodiu em luz novamente destruindo os mortos-vivos que ferira anteriormente. Isso, no entanto, não deteve as criaturas recém-chegadas, que investiram mesmo fulminadas por flechas. Derdeil tentava escapar com Braad, mas acabou encurralado antes de chegar à saída, fazendo com que Braad recebe os ataques dos monstros.
Jorge, Dzariah e Sérgio usavam seus poderes como podiam, mas a situação não parecia melhorar. Apenas Falcon derrubava sempre um inimigo por ataque. Rufus tentava retornar carregando as armas que conseguira amarrar em Azuzu. Via que o caos só piorara lá embaixo.


Findado o ritual e sentindo-se um só com aquele círculo, Chuck viu aproximar-se dele a druida Felicia Eagle, serva de Bibiana. A elfa verde sorria como uma irmã mais velha, sem a feição sisuda tão típica dos elfos verdes.
- Espero que represente bem o amalgama equilibrado que foi Daphne entre nós, Chuck. Vi muito humanos passarem por esse posto nos últimos anos.
- Espero não desapontá-los... - disse o rapaz com humildade. - Eu tenho umas boas ideias, na verdade. Podíamos pegar o mythal e fazer pequenos amuletos com a energia, para termos poderes fora da Grande...
- Você terá muito tempo para me contar... - disse a elfa. - Agora temos de seguir para o jantar com os viajantes que você e Mari´bel trouxeram. Meu tio Falcon está recebendo a todos com um grande banquete... - e tendo dito isto, a druida levou Chuck consigo e eles mergulharam em uma árvore, surgindo na plataforma.
Os recém-chegados, deixando o círculo sagrado dos druidas, descobriram aterrorizados o que se passava na vila dos elfos verdes. Cercados pelos mortos-vivos drows sem pele, Penguin, Cuckoo, Vulture, Parrot e Rumingbird também caíam antes o poder corrosivo dos monstros. Chuck conjurou uma luz brilhante como a do dia, o que causou certo incômodo aos inimigos. Mesmo assim, os heróis e os Eagle iam sendo encurralados sobre a mesa, enquanto novos portais trouxeram drows que levaram os que tombaram em combate.
Para piorar, o chão começou a tremer e um enorme clarão antecedeu o rugido que vinha do horizonte ao sul. O vulcão da Montanha das Estrelas explodiu e jorrou lava, fazendo toda a Grande Floresta tremer. As árvores chaquoalharam, exigindo do equilíbrio de todos e desestabilizando os mortos-vivos que atacavam como uma horda.
Kaliandra irrompeu e abriu caminho até Derdeil, matando um dos mortos-vivos que o ameaçava. O mago aproveitou para fustigar o outro com três mísseis mágicos que acabaram por repelir a criatura.
- Use seus poderes, Derdeill - conclamou a elfa, antes de se virar e retornar para a batalha. Tão logo ela deu as costas para voltar a proteger a clériga de Bibiana, o mago de Halruaa largou o mestre da bebedeira no chão e leu um pergaminho de invisibilidade superior, sumindo da vista de todos.
A clériga Hawk explodiu uma vez mais com sua energia positiva divina, empunhando o nome de Bibiana e destruindo grande parte da ameaça. Dos que restaram próximos, Merlin exterminou um com mísseis mágicos e Condor outro com um raio de luz. Raven e Ravena mataram cada qual um com suas flechas. Os mortos-vivos sem pele ainda tinham forças para vitimar a drow Dzariah, bastante debilitada na constituição pelo uso prolongado da varinha mágica sem o acesso ao mythal.
Chuck salvou Dazriah matando o cadáver que a atacara, o druida conjurou um leopardo sobre ele. Jorge da Capadócia esmagou o mal que tinha diante de si, enquanto Falcon Eagle exterminou mais um. Sérgio disparou uma flecha que quase acertou uma folha na árvore mais próxima.  Mesmo derrotados, os corpos não se desfaziam em cinzas ou dissolviam, continuavam ali a tremer. Lá debaixo, ainda vinha o som da destruição.

14 de jun. de 2014

Grande Floresta adentro

- Estamos longe das cavernas dos malditos drows, mas ainda não longe o suficiente! - Disse Mari'bel enquanto guiava os demais Grande Floresta adentro e tirava ao menos a peruca branca de drow que usara até aqui, embora a maquiagem roxa que Sérgio usara carecesse de água para sair.
- Como assim? - Protestou Dzariah - Nós temos de voltar! Vocês não terminaram o que começaram!!!
- Nós cumprimos nosso objetivo - contestou Derdeil. - Aqui está Kaliandra Boaventura que devíamos resgatar.
- Vocês devem destruir todos os drows!!! - Disse a clériga de Kiaransalee tomada pela sede de vingança.
- Os drows são uma terrível ameaça, meus amigos, seus planos são mais ameaçadores do que parecem. Mesmo assim, eu estou muito ferida e o paladino ainda está inconsciente - acrescentou Kaliandra que vinha montada nas costas da mula Gabi guiada por Sérgio Reis.
- Eu preciso me reunir ao meu círculo druídico... ao círculo ao qual estava sendo vinculado.. é preciso terminar o ritual - acrescentou Chuck.
- Eu também devo retornar, completar meus rituais de guardiã da natureza. Tenho de me reportar ao meu deus e a meus irmãos sobre as ameaças sob a terra - concordou Mari'bel.
- Debem nos levar até Ehtur - acrescentou Braad tomando um trago de rum, que ofereceu à elfa.
- E o que me adianta ir com vocês e ser presa como uma inimiga? Eu os ajudei e é assim que me recompensam? - Dzariah foi até a elfa. - Você guerreira elfa que todos buscavam... me dá sua palavra de que não irão me fazer mal?
- Não posso prometer isso, pois não tenho autoridade nesse lugar - ponderou Boaventura. - Mas sei que devemos voltar para salvar Turambar...
- Se ele estiver vivo... - problematizou Sérgio.
- Os drows pretendem sacrificar os elfos para obterem as graças de sua deusa. Tercieios e Turambar teriam esse destino, que Bibiana os proteja... - lamentou Kaliandra. - Quanto a mim...
- Só tinha você presa lá.. - acrescentou Rufus, que mastigava uma ração das que recolheram dos drows.
- Eles mataram minha família... sacrificaram todos... - protestou mais uma vez Dzariah.
- Não lhe devemos nada, Dzariah - interviu Mari'bel.
- Melhor seguirmos até o centro da Grande Floresta - disse Derdeill.
- Estranho justo você, mago - falou cheia de veneno a drow. - Você que era o menos preocupado em resgatar a elfa.. não era como o paladino... ninguém viu seu sacrifício...
- Eu me dediquei como qualquer outro aqui e duvido que haja quem possa provar o contrário - contornou Óphodda com diplomacia, mas todos percebiam a intriga que Dzariah pretendia semear.
- Vamos logo... ela que faça como quiser... - disse Mari'bel que já avançara acompanhada de Chuck, Rufus e das montarias. Os demais também seguiram.
- Eu prometo a você, Dzariah T'sarran, que ninguém irá puni-la ou fazer-te mal, enquanto continuares virtuosa e próxima de mim - garantiu Kaliandra Boaventura.
- Pois eu poderia ficar entre vocês como uma salsicha no pão amniano... - Sérgio Reis puxou o berrante enquanto se engraçava para ambas.
- Saia do meu caminho com seu instrumento inútil - disse Dzariah ainda contrariada.
- Alguém falou em pão? - Perguntou Rufus ainda mastigando.
Enquanto viajavam pela densa floresta, a elfa de Encontro Eterno se deixou envolver pelas baladas fúteis do bardo Sérgio Reis, ferida e fatigada que estava, enquanto este guiava sua mula Gabi. Já o clérigo de Azuth e cidadão de Halruaa cuidou do paladino de Tyr, que embora muito ferido, ia carregado pelo corcel Popossante.
Puderam parar para descansar cerca de quatro horas depois em um posto de vigilância de elfos verdes, que Mari'bel encontrara vazio. Subiram as árvores, deixaram as montarias presas abaixo e encontraram refúgio, ainda que um pouco apertado para todos eles. Havia um pouco de lembas, pão-élfico, que Rufus devorou antes que os outros pudessem provar. Por fim, acomodaram-se e dormiram.

Os sonhos daquela noite não foram uma mesma mensagem aterradora como o último. Braad sonhou com belas mulheres tatuadas pisando tonéis de uva para fazer vinho, segurando no alto os vestidos. Kaliandra sonhou com Encontro Eterno numa bela manhã primaveril, onde todos eram iguais como queria Bibiana. Sérgio viu as grandes torres de um palácio que antecedia o mar verdejante, onde reconheceu o símbolo do pergaminho de Oghma, a casa do saber, a Fortaleza da Vela. Rufus sonhou com uma mesa cheia de quitutes, onde sua avó lhe explicava que fizera apenas 18 guloseimas para não estragar seu apetite para o jantar. Mari'bel sonhou com o antigo reino das fadas, que lhe parecia menos interessante do que este de agora, onde ela sentia-se verdadeira parte de tudo. Chuck viu um vasto e plácido lago que tinha ao centro uma única árvore, cujas folhas caídas boiavam a esmo sobre a água. Derderil sonhou com Azuth o abençoando com enormes poderes mágicos e retirando do mundo os grilhões mágicos impostos pelo deus da magia. Jorge de Capadócia sonhou que meditava com o grande Ryolith Fox.

Mal haviam despertado com os primeiros raios da manhã que alcançavam o alto das árvores, flechas voaram e eles puderam ver os inúmeros elfos verdes que os cercavam.
- Libertem o druida e a elfa prisioneiros, drows malditos!!! - Gritou o líder na língua dos elfos, ainda vendo-os vestidos com o equipamento dos drows.
- Eles não são prisioneiros... - respondeu Derdeil mostrando ser um humano.
- Nossotros somos mellon - completou Braad.
- E o que fazem com uma drow, vestidos como eles, humanos?
- Ela é nossa aliada! - Retrucou Kaliandra protegendo Dzariah com seu corpo. - Ela salvou nossas vidas. Fomos atacados pelos drows, os derrotamos e pegamos seus itens mágicos para melhor combatê-los, mas ela é uma renegada.
- Eu sou Mari'bel, serva de Timothy Hunter, senhor das fadas - disse a arqueira na língua das fadas e tirando a capa púrpura que a cobria. - Estamos viajando até a árvore do Grande Pai. Eu e o druida Chuck somos os guias destes viajantes.
- Eu sou Finorofin, líder destes sentinelas. Humanos e drows não são bem vindos entre nós, killorien...
- Não somos quaisquer humanos, elfo da floresta. Eu sou Derdeil Óphodda de Halruaa...
- O que é Halruaa? - Questionou Finorofin.
- Um grande reino.. o maior reino mágico ao sul - disse o mago com orgulho.
- Eu sou Kaliandra Boaventura, uma embaixadora enviada para Evereska.
- Boaventura? Como a famigerada Volcana Boaventura?
- Sim... ela é minha tia... mas eu venho de Encontro Eterno, como embaixadora da rainha e agora serva de Bibiana.
- Sua tia... - comentou outro dos elfos verdes que estava mais atrás. - Ela me deve dinheiro...
- A fama de sua tia lhe fecha portas, Kaliandra, ela não goza de boa reputação... - completou o líder Finorofin.
- Ela não é uma legítima representante do honrado nome de minha família... - defendeu-se a guerreira elfa.
- Também não são bem vistos os elfos que partiram e deram as costas para esse mundo... - continuou Finorofin sem disfarçar o tom crítico.
- O fato é que somos aliados e não ameaças... - ponderou Kaliandra.
- Com.. a.. graça.. de Tyr... Finorofin... sentinela.. da.. Grande Floresta... - disse Jorge da Capadócia despertando e se pondo de pé. - Nós lutamos pelos elfos e não contra eles.. - disse sorrindo vendo que Kaliandra estava bem e abraçando-a com vontade.
- Se são levados por legítimos habitantes dessa, mata, não posso detê-los, mesmo que não os aprove. Sigam em paz.. e que a graça de Bibiana esteja convosco... - disse o líder dos elfos verdes fazendo sinal para que seguissem.
Jorge ainda abraçava Kaliandra, saudando-a por estar viva e bem, quando um humano baixo e um pouco acima do peso emergiu de uma árvore. Sem se importar com a surpresa da maioria, ele se dirigiu para o druida Chuck Norris.
- Aí está você.. venha logo. Temos de concluir os rituais para completar o círculo. O tempo urge - disse Chico Mendes, druida de Grumbar.
- Estávamos voltando para lá, só que houve um ataque drow e... - tentou explicar o jovem druida.
- Isso não importa. Venha comigo... - cortou-o o velho druida.
- E quanto a nós? - Questionou Sérgio.
- Não posso levar todos. Você pode vir fada... posso levar mais outro também...
- Izabeau, minha águia... - alertou Chuck.
- Usted prometeu levar nossotros.. - interviu Braad.
- Eu devo garantir a segurança deles e não falta nem um dia de viagem - garantiu Mari'bel. - Eu ficarei para guiá-los.
Dito isso, Chico Mendes não perdeu mais tempo, mergulhou em uma árvore e partiu com Chuck e Izabeau.
O druida encontrou o círculo todo reunido a esperá-lo. Estavam ali outros 11 druidas e não 10 como quando estivera antes.
- Antigos espíritos da natureza, todos os deuses do equilíbrio eterno, animais e vegetais da mais antiga das florestas, ouçam nosso chamado - iniciou a fala o centauro Quírion. Todos repetiram as palavras dele, inclusive Chuck Norris. - Eu saúdo Chauntea, a Mãe da Vida, Silvanus, o Pai da Natureza, todos os seus elementos e sua força. Nós agradecemos por todos os presentes que recebemos a cada dia e a cada ciclo - essas palavras também foram repetidas por todos em uníssono e era como se os sons da floresta se misturassem ao cântico druídico, ampliando seus sentidos, cada vez mais como se fossem um só.
- Akadi, senhora do ar.. - disse o elfo Planetah virando-se para o leste. - Espíritos e guardiões do ar.. forças da liberdade, do movimento e do frescor.. eu os invoco para que abençoem este círculo com seu poder. Estes servos fiéis e seus companheiros contam com seu auxílio e proteção.. - conforme o elfo do sol ia falando seu corpo ia se tornando gasoso.
- Kossuth, senhor do fogo - passou a falar Ferlima, tão logo Planetah terminou, virada para o sul. - Espíritos e guardiões do fogo.. forças do calor, da energia e da renovação.. eu os invoco para que abençoem este círculo com seu poder. Estes servos fiéis e seus companheiros contam com seu auxílio e proteção - a elfa ficou coberta com chamas.
- Istishia, senhora da água - foi a vez de uma jovem mulher humana de cabelos brancos e olhos azuis, que virou-se para o oeste. - Espíritos e guardiões da água.. forças da vida, do nascimento e da união.. eu os invoco para que abençoem este círculo com seu poder. Estes servos fiéis e seus companheiros contam com seu auxílio e proteção. - a jovem druida se tornou um ser aquoso.
- Grumbar, senhor da terra - disse Chico Mendes olhando para o norte. - Espíritos e guardiões da terra.. forças da satisfação, da permanência e do florescimento.. eu os invoco para que abençoem este círculo com seu poder. Estes servos fiéis e seus companheiros contam com seu auxílio e proteção - o corpo de Chico tornou-se rochoso como uma montanha circundado por uma aura de areia.
Chuck Norris compreendeu que o círculo não só estava plenamente integrado ao mundo e seus elementos, como a outros planos, como os elementais. Sua conjunção tornava-se um ponto nodal de toda a existência.
O recém-chegado servo de Silvanus assistia a tudo fascinado. Os animais, ainda vigilantes, se posicionaram próximos aos seus senhores, Izabeau encontrando seu lugar entre eles. A mulher de cabelos brancos, que substituía Costeau, que ele substituíria tinha como companheira uma cabra das montanhas nevadas, grande como um bezerro.
- Eu sou filho da lua.. somos todos filhos da lua, até mesmo a mãe-terra.. - passou a falar Quírion olhando para o alto, seu corpo ganhou contornos prateados e logo ele parecia todo feito de uma luz branca e tranquilizadora. - A luz que surgiu junto com as trevas, mas cuja magia guiou-nos na primeira escuridão. Que a força primeira da vida e da bondade esteja conosco e nos guarde.
- Eu sou filha da vida.. somos todos filhos da vida, até mesmo o sol.. - passou a falar Papoula. Ela ajoelhou espalmando as duas mãos na terra, enquanto a vegetação rasteira floresceu sob seu corpo. - O solo fértil que surgiu após a batalha entre luz e trevas, nos nutriu no primeiro conflito. Que a força primeira do carinho e do amor esteja conosco e nos guarde.
- Eu xou filho do xol.. xomos todos filhos do xol, até mesmo o fertilizador... - passou a falar Kyoto, enquanto seu corpo passava a brilhar como o sol de um amanhecer, uma luz quente e reconfortante. - A luz quente que afaxtou o frio, trouxe o tempo e o creximento. Que a força primeira da energia e da positividade exteja conoxco e nos guarde.
- Eu sou o filho do fertilizador... somos todos filhos do fertilizador, até mesmo a senhora das manadas... - disse o humano Ali, de pele morena e cabelos escuros. Sua carne tornou-se amadeirada e ressecada, seu cabelo cresceu como folhas de um carvalho. - O fruto da brimeira semente, enganou e alimenta a morte e a vida. Que a força brimeira da fertilidade e multiblicação esteja conosco e nos guarde.
- A senhora das manadas guarda a terra sua mãe, guarda o mundo seu pai e todos os seus filhos e irmãos que os povoam - foi a vez de Marina.  O corpo dela ia paulatinamente se transformando, cada vez somando um novo aspecto de algum animal. Primeiro veio o chifre, como o de um unicórnio, depois os olhos felinos. - Todos os seres vivos que caminharam sobreviveram em equilíbrio. A filha abre estes campos aos que desejam passar e algo compartilhar.
- Os elfos chegaram a esse mundo e o abraçaram como seu a 92 gerações completas. A protetora da natureza virgem e intocada pede respeitosamente o direito de ingressar nesse grande círculo sem fim. Ela oferta proteção e respeito, a energia comunal do povo élfico. Somos um só! - Felicia falou de olhos fechados, falando na língua dos elfos. - Bibiana, aquela que fez dos elfos um só com essas terras, pede licença para entrar.
- Os caminhos se abrem a todos que vivem desde que o primeiro viveu... O guia dos viajantes e do vento da curiosidade pede respeitosamente o direito de ingressar nesse grande círculo sem fim. Ele oferta proteção e respeito, o conhecimento das viagens e das culturas. - Police falou com firmeza.
- Eu sou filho do universo, somos todos filhos do universo... - percebeu-se Chuck falando como se essas palavras tivessem existido dentro dele por muito tempo antes de serem finalmente ditas. - Eu tenho a união de todas as forças em mim, todos temos a união das forças em nós, gerando equilíbrio e harmonia que é fundamental para a vida. Nós agradecemos com amor em nossos corações pelas bençãos que a universalidade nos presenteia e pedimos que esteja conosco e nos guarde, hoje e sempre.
Assim que Chuck Norris terminou sua fala, Felícia, Police e ele - elfa, meio-elfo e humano - viram expandir-se as auras espirituais de suas raças.. o azul dos elfos.. o vermelho dos humanos.. o lilás dos meio-elfos.. assim, todo o círculo estava iluminado.
- Somos todos filhos da deusa.. - os druidas responderam em uníssono. 
- São duas as direções.. - as palavras continuavam a vir da boca de Chuck fluindo como um rio que sabe o caminho do mar. - São três as cores da luz.. são quatro os sentidos do caminho.. são cinco as raças primordiais.. são seis os deuses primordiais.. são sete os perpétuos.. são oito as dimensões do infinito.. são nove os alinhamentos da moral.. são dez os impérios dos vivos.. são onze os artefatos dos dias idos.. são doze os caminhos das eras e do sol. É apenas um o destino de tudo que vive!
- São doze os elos do círculo... - os druidas entoaram.
- Que o círculo se complete e que a vida se renove. Que o velho guie o novo e que o novo impulsione o velho. Que o corpo morto alimente a semente viva. O início, o fim e o meio.
Lentamente, todos foram retornando ao normal. Uma névoa baixa cobria o chão até a altura dos joelhos. O silêncio era inexpurgável. Com as luzes esvanecendo, uma penumbra foi tomando seu lugar e o calor deu lugar ao frio que antecede a criação. 
Chico Mendes, Quirion e Marina então passaram a gritar e dar urras de alegria. Os elfos preferiram trocar abraços Todos abraçaram e deram boas-vindas a Chuck Norris. Cada um de seus irmãos lhe contou como fora a sua própria chegada, fazendo-os todos parte de uma mesma história.
- Creio que entendes seu papel entre nós agora, meu irmão... - disse Quirion, o druida centauro de Selune, num tom tranquilo. - Ocupas o lugar que foi de Daphne e de Viviane depois dela... o lugar das que servem a todos os deuses...

Durante hotas, o restante do grupo prosseguiu Grande Floresta adentro. Após terem um incidente desagradável com um inoportuno pixie, que usou de magia para fazer Kaliandra dançar loucamente e provocou alguns danos antes de ser repelido, eis que foram interceptados por novo grupo de elfos verdes patrulhando em nome de Falcon Eagle.
- Como eu já disse, Lucyélvyo, nós não estamos aliados com os drows. Pelo contrário, estamos nesse estado e cheio de equipamento drow, porque lutávamos contra eles - explicou Kaliandra. - Meu nome é Kaliandra Boaventura...
- Boaventura.. como Volcana Boaventura? - Perguntou outro dos elfos. 
- Ei, vocês tem daquele pão élfico? E talvez um pouco de melado... - interviu Rufus.
- Eu sou a guia deles, que desejam encontrar Ehutr Telcontar e os demais líderes da Grande Floresta - disse Mari´bel na língua das fadas.
- Ehtur não está lá... nem ele, nem Daphne... - respondeu Lucyélvyo ainda desconfiado.
- Non és possible... - lamentou Braad.
- O que houve? - Arguiu diplomaticamente Jorge.
- Daphne da Grande Floresta tombou catatônica amaldiçoada pelos drows. Seus amigos Ehtur, Deborah, Yorgoi, Úrsula partiram para Everska. Creio que buscam a ajuda de Bibiana para salvá-la.
- Mas o mythal está seguro? - Ponderou Derdeil.
- Falcon Eagle, senhor dos elfos da Grande Floresta e unificador das tribos está cuidando de tudo com Fangorn, senhor dos treants. Além deles, também há o deus da fadas, humano estranho.
- Eu venho de Halruaa!
- Desconheço esse lugar - desdenhou Lucyélvyo.
- Eles deben saber sobre los crimes del Ehtur... - julgou Braad.
- Eu já lhe disse que Ehtur nâo é um criminoso, Braad - interviu Mari´bel.
- Ehtur é um guardião da natureza e fiel servo do equilíbrio e da vida, humano! - Afirmou Lucyélvyo.
- Uno amigo.. uno mellon mio de la Fortaleza de la Vela.. el gran Francisco Ravier... su espirito esta encarcerado.. preso numa gema rubia... - contou o monge bêbado dando um longo gole de rum após rememorar sua missão.
- Ele também me amaldiçoou.. - lamentou Sérgio.
- Seja como for, ninguém está autorizado a seguir para a árvore do Grande Pai.

- Pois eu, Mari´bel do povo das fadas, guardiã da natureza e de Timothy Hunter, invoco as bençãos do Lorde das Fadas e dos meio-elfos, filho de Titânia.
- Meauuuu... - soou o longo miado de um gato gordo e alaranjado que surgiu de trás de uma árvore seguido por um adolescente entediado.
- Saudem todos o grande Nojento, arauto do grande Timothy Hunter, avatar da fúria das fadas, fustigador dos ataques da beleza, destroçador de lasanhas.
- Lasanhas? - Interessou-se Rufus.
- Em que posso ajudá-la, minha fiel serva Mari´bel?
- Precisamos chegar até a árvore do Grande Pai, senhor das fadas, mas os sentinelas de Falcon Eagle nos impedem - disse a fada.
- Temos de ter com os líderes da Grande Floresta. Sou Kaliandra Boaventura...
- Filha da Volcana?
- Sobrinha.
- Que legal. Ela é minha grande amiga. É que os druidas tão fazendo um ritual.. e não querem gente zanzando por ai, mas tudo bem.. vocês tão comigo. Venham... - e com um gesto de Timothy, todos viram-se em uma área de árvores maiores e mais espaçadas. Ao centro delas estava um grande treant e um elfo verde mais antigo. O elfo trazia um falcão verde esmeralda em seu ombro. - Olha quem eu trouxe, pessoal. Lembram-se de Mari´bel, a killorien guardiã que eu falei daquela vez?
- Sim, mestre Hunter - disse o treant no tom pausado das árvores. - Mas vejo que ela trás muitos outros...
- Não é seguro chegar com prisioneiros drows até aqui... - disse Falcon Eagle fitando Dzariah.
- Nâo sou prisioneira.. - ela retrucou, mas Kaliandra a cortou.
- Ela está conosco, senhor Eagle. Eu sou Kaliandra Boaventura, venho de Encontro Eterno, enviada em uma missão diplomática pela rainha. Meus camaradas foram vitimados, mas pretendo chegar até Evereska como era minha missão. Fui aprisionada com eles pelos drows, mas Dzariah nos ajudou.
- Eu vejo que há pureza e determinação em suas palavras, Kaliandra. Creio que deva ser recebida com as honras devidas entre nós. Meus sobrinhos e filhos cuidarão que tenham boas camas e bons banhos para que os recebamos com um boa jantar esta noite - os olhos do velho elfo verde ficaram-se nos da jovem guerreira elfa.
- Eu fui tocada pela palavra de Bibiana assim que cheguei... - ela disse sem desviar o olhar.
- Vocês são todos meus convidados agora e merecem algum alento... - ele ia dizendo.
- Pero yo quero saber de Ehtur... - interviu Braad.
- Mestre Telcontar está cuidando de salvar a boa druida Daphne, homem tatuado - disse Fangorn.
- La alma de Francisco Xavier depiende desso...
- E minha magestade também.. - completou Sérgio Reis.
- Francisco Xavier? O mago? - Questionou Falcon Eagle. - As últimas notícias que tive foi que tornou-se um espírito atormentado. Ehtur me disse que passou a perseguir os se servos da natureza.. chegou a possuir Daphne e a fez atacar a todos.
- Talvez essa alma atormentada o esteja manipulado, monge - disse o treant.
- Em mim ele jogou um feitiço de maldição - explicou o bardo, se puderem removê-lo eu agradeceria.
- Ele disse que estaba numa gema rubia - explicou Braad.
- Nâo sei nada disso - pensou Falcon.
- Ehtur falou sobre o espírito do lich de Thaay que estava preso em algumas gemas de sangue. Mas não estão mais por aqui... talvez estejam brincando com sua mente, monge.
- Com licença, meu deus - interviu Mari´bel. - Como cumpri minha promessa, devo seguir para completar meus rituais para com o equilíbrio, até mais pessoal.
- Conversaremos mais durante o jantar.. - disse Falcon Eagle tocando a mão de Kaliandra. - Venham comigo... poderão trocar essas posses de drows e por boas roupas, descansar e beber...
- Mas eu quero continuar sendo o hobbit-aranha...

Todos haviam recebido boas cabanas individuais no alto das árvores. Derdeil se pôs de joelhos a orar antes da refeição.
- Cumpriste com sua missão, Derdeill e vejo que conseguiste agregar poder mesmo nas circunstâncias mais difíceis - soou a voz de Azuth em sua mente.

- Eu cumpro o que me foi ordenado, senhor dos magos. Pelo bem da magia e de Halruaa.
- Você ainda deve investir contra o seu alvo, mas eu irei agraciá-lo com minha benção especial. Farei eu o sacrifício necessário para que uses da magia que precisares.
- Eu... eu não o decepcionarei, senhor.
- Assim espero. Há uma aproximação possível do deus da Magia, Acredito que novidades estão próximas...
- Senhor Óphodda.. - disse a voz fina do rapazote élfico na entrada dos aposentos do mago de Halruaa.
- Sim.. - disse Derdeil levantando-se e fitando o jovem como se nada por ali houvesse..
- Falcon Eagle o conclama para o jantar, senhor...


8 de jun. de 2014

O incrível hobbit-aranha ou o resgate de Kaliandra


Kaliandra Boaventura despertou, embora se sentisse fraca demais para se levantar. O ambiente era totalmente escuro e ela nada conseguia enxergar, mas ouvia vozes. Eram vozes femininas e exaltadas que falavam em uma língua parecida com o elfo, ao mesmo tempo que era distorcida e vil... a língua dos drows, ela pensou. Pareciam discutir no aposento anexo. 
A guerreira elfa lembrou-se que combatia com seus novos aliados nas cavernas, quando Voronwr Turanbar e Tercieios desapareceram. Depois não tinha certeza de nada. Sentia os punhos e tornozelos grudos com uma substância gosmenta, que julgou ser uma resistente teia de aranha. O chão era frio e rochoso. Ao mover-se, sentiu que havia mais gente caída ao seu lado.
Kaliandra testou a resistência das teias e percebeu que poderia rebentá-las com certo esforço. Talvez seus captores tivessem subestimado sua força por estar debilitada. Embora nada enxergasse, tateando com o corpo, envolto apenas em suas roupas, sem armadura, arma ou qualquer utensílio, ela sentiu que ao seu lado estava outro elfo também preso, que permanecia inerte. Também percebeu que este corpo estava recostado a outro e pensou se não seriam o tolo Turambar e o obediente Tercieios.
As vozes continuavam vindo lá de fora e houve uma palavra que ela entendeu pois já a ouvira antes, mesmo nesse dialeto vil dos drows.
- ... Lolth....
Ela ainda tinha o nome de sua deusa Bibiana na mente, quando ouviu os passos que se aproximavam. Não teve tempo de buscar por nada e ouviu a pesada porta de pedra mover-se, deixando alguma luz entrar no ambiente. O aposento lá fora parecia iluminado por luzes dançantes de uma magia, permitindo aos seus olhos perceberem a penumbra e a sombra do vulto que se deitou no aposento. Era uma drow, baixa para os padrões élficos, e gorda como ela não julgava possível para alguém do belo povo. Os seios fartos escapavam pelos lados da roupa, assim como a barriga descia à frente da virilha. A vasta cabeleira branca descia pelas costas como um manto. Ela gritou uma ordem que você não entendeu, mas não parecia ter percebido que você despertara.
Após a ordem entraram duas outras drows, mais novas e vestindo armaduras. Elas tinham rapiers nas cinturas, enquanto a gorda tinha uma adaga curva. Elas pegaram o corpo ao lado de Boaventura, que percebia ser Voronwr Turambar agora. Levaram-no até a gorda que o esbofeteou, fazendo-o acordar.
- Seu sangue alimentará nossa magia, em nome de Lolth!!! - Ela disse em um elfico tosco. Voronwr não se intimidou.
- Araushnee traiu o grande Corellon Larethian. Traiu seu povo, seus filhos corrompida pelos pecados desse mundo. Minha morte e dos que vem comigo serão apenas mais três vidas a serem vingadas pelos elfos...
- Oh não, incapaz... - ela seguiu no mesmo élfico antiquado. - Você e o outro darão um bom sacrifício. Já para sua amiguinha, eu tenho planos maiores... muito maiores...
Nesse momento, ao lado da elfa caída, soou audível na língua das fadas, que os elfos conheciam bem, a voz do bardo Sérgio Reis.
- Kaliandra, somos nós, o valente grupo desmesurado, estamos indo em seu resgate. Quantos são os inimigos e onde está?
- Sua repugnante drow, solte Turambar. - Disse Kaliandra tentando responder à inimiga e ao aliado. - Você não pode matá-lo. Você e suas duas companhias armaduradas não são nada contra o poder de Bibiana, ela que reuniu a força de nosso panteão, herdeira do poder e glória de Corellon... Se acha que a deusa drow é páreo para a força da Nova Deusa, me faz rir de sua pequenez.
Kaliandra sentiu as amarras preguentas de teia cederem ante sua força, enquanto se erguia com a convicção de uma arauta da verdade. Não tinha certeza se conseguira responder a Sérgio Reis com seu élfico, mas sabia pelo olhar surpreso da matrona drow que conseguira surpreendê-la. Uma das drows deixou Turambar e sacou a rapier, mas a outra não impediu a guerreira elfa de roubar-lhe a lâmina esguia. Esta drow apenas manteve o bardo seguro, mas não impedindo-o de cantar:
- Kaliandra Boaventura, que há quem jura, é a guerreira mais pura, da mão mais dura e que esconjura para longe todo mal...
- Você acredita mesmo que tem chance, tola como essa criança que brinca de deusa. Só há uma mãe dos de sangue puro, os filhos de Lolth!!! - Ela invocou uma magia que a deixou grande como um troll sem parecer sentir nenhum efeito negativo pelo uso da magia.
Kaliandra Boaventura dá um grito e salta em direção das garras que aprisionavam Turambar. A ideia era golpear para libertá-lo, e, depois, matar a enorme drow. Mais uma vez Kaliandra surpreendeu suas inimigas, mesmo debilitada como estava, na escolha de seu alvo. O golpe foi preciso e crítico, atingindo o ponto nodal entre o braço direito e o ombro da inimiga. Enquanto o sangue vertia, Turambar conseguiu ver-se livre. Ao invés de avançar para o lado de Kaliandra, no entanto, ele deu um rodopio como num passo de balé e se posicionou entre a clériga drow e a outra sentinela, depois disso recuou um passo, flanqueando ambas com a guerreira Boaventura sem parar de cantar:
- Afinal... como canta o pardal... a batalha final... entre o bem e o mal... não aparece no jornal... é preciso um memorial... para contar essa epopeia....
Sem exitar, a outra drow atacou Kaliandra sem piedade. A rapier a acertou no flanco acima do quadril. Apesar de fraca, a drow era ligeira. A serva de Lolth usou uma de sua mãos para agarrar o bardo.
 - Eu vou fazê-lo gritar uma sinfonia de dor!!! 
- Vamos combinar nossas forças, Turambar. - A guerreira Boaventura golpeou na tentativa de soltar Turambar. - Cante, cante mais alto, a plenos pulmões. Que a dor faça de sua voz a força para a liberdade.
Ela feriu a clériga, mas a outra guerreira cravou a rapier nas costas da elfa, roubando-lhe o que restava de sangue e esperança nas preces à Bibiana.


- Eu quero vingança - dizia Dzariah T´sarran quando Mari´bel deu-se conta de que Rufus havia sumido. 
- Rufus sumiu... - comentou a arqueira killorien, que havia acabado de tomar uma poção de escalada aracnídea. - Os rastros dele vão para o buraco... - O druida Chuck, ainda em forma de leopardo, sentia o cheiro de Azuzu indo na mesma direção.
- Bamos dar una mirada... - disse Braad acompanhando a fada. Os dois desceram para o nível inferior e seguiram até a beira do abismo. Já não havia sinal da monstruosa aranha, mas os olhos deles avistaram uma dezena de drows subindo pela parede em direção ao ponto em que se encontravam. Retornaram o mais rápido possível.
- Tem uma tropa de drows vindo pra cá. Dez. Prontos pra batalha.. - disse a guardiã serva de Timothy Hunter.
- Devemos volver... estoy ferido ainda.
- Eu preciso de descanso, mas devemos resgatar Kaliandra - discordou o paladino.
- É prudente descansar.. - concordou Derdeil falando já do corredor.
O grupo retornou até o aposento da estátua, onde aguardaram um pouco. Percebendo que os drows não os acompanharam, voltaram até o corredor, escondidos atrás da fissura, vendo que os elfos negros haviam se posicionado no nível inferior.
- Descansem, seres da superfície. Eu zelarei por seu sono.. - disse Dzariah.
- Eu não confio nisso... - desconfiou o paladino.
- Eu não preciso dormir, pois já não tenho minhas preces atendidas por Kiaransalee, paladino. Não terei o que desejo com a sua morte...
- Eu irei ficar acordada também.. - disse Mari´bel.
- Eu também.. - interviu Sérgio Reis. - Aliás, eu já cantei minha balada pra vocês, garotas?
- Tire seu pequeno instrumento do meu caminho, bardo... - desdenhou a clériga de Kiaransalee.
- Eu posso ser o que você deseja. Seu instrumento de prazer... - o bardo piscou e Dzariah afastou-se para o final do corredor. Antes que Mari´bel fizesse o mesmo, no entanto, ele continuou sacando a viola. - Não fica com ciúme, Mari.. você é meu pão de mel. Aquilo era só conversa. Você é verdade. Aliás... você é luz.. é raio, estrela e luar... manhã de sol... 
- Pare com isso... nada de cantoria.. - interrompeu ela. - Os drows, nossos inimigos, vão escutar você..
- Cerra la matraca! - Disse Braad tomando a viola do bardo, enquanto os demais iam acomodando-se como podiam e tentando descansar.

- Hobbit-aranha, hobbit-aranha.. faz tudo o que pode uma aranha...

Kaliandra Boaventura abriu os olhos e sentiu mais uma vez o chão frio sob ela. Estava nua sobre a pedra nua. Ela despertou com o som da batalha e da correria. Viu alguns vultos correrem antes que sua vista se firmasse, atordoada que estava pelo veneno de aranha ao qual seu corpo resistia. Conseguiu soltar-se facilmente das amarras de teia, quando ouviu os resmungos de alguém que voltava. Era um drow baixo vestido com uma armadura de mythral que lembrava uma teia.
- Que morram todos nesse maldito abismo, por essas ordens das vadias.. - ele resmungava na língua dos drows, sem ser entendido pela prisioneira elfa. Mas mudou para um elfo tosco. - Ao meno eu vu ter mina diversão. Você vai se mina compensação, degraçada!
Sem exitar, a elfa fez um olhar de terror e voz amedrontada - Óh terrível drow, não me faça mal. Eu farei o que você quiser...
- Você será mina.. - ele abriu o portão e entrou.
- Tenha piedade... eu estou indefesa... nada posso fazer...
-Você irá senir mu poder rasgá-la, fêmea pofana - ele falou deixando caírem as calças e o falo exposto. Kaliandra deixou cair o medo e avançou como uma meretriz profissional nas artes do sexo, engolindo o membro do inimigo. Este perdeu-se nos gozos do prazer, do qual só despertou quando sentiu os dentes dela cravarem uma mordida feroz em seu pênis. Ao menos tempo, a guerreira elfa levantou-o erguendo o elfo negro com facilidade, enquanto sentia o órgão sexual ser rasgado por sua dentada.
O drow não perdeu tempo, mesmo no ar e muito ferido, sacou uma adaga e cortou a elfa nas costas, fazendo-a tombar inconsciente.
- Vadia infeliz!!! Ahhhh!!! Todas são!!! Meu membro! Ahhhh!!! Eu farei com seu cadáver. Assim que recuperar isso. Eu a rasgarei com minha rapier! Ainda está quente. Onde está minha poção de cura? É pena que não a irei ouvir gritando... ahhhh... - gritou o drow sentindo a lâmina perfurante entrar pelo flanco direito e matá-lo.
- Hobbit aranha, hobbit aranha... mata o drow e não apanha... - cantarolou Rufus, enquanto fazia sinal para Azuzu vir. Ele pegou a poção de cura da mão do drow, retirou o falo da boca da elfa e a derramou na garganta de Kaliandra, que despertou engasgando.


- Quem?..
- Rufus... Rufus Lightfoot.. lembra? - Ele baixou o manto drow, deixando ver os cabelos cacheados e o rosto bonachão.
- Sim, mestre hobbit.
- Bom, nós viemos salvar você... o pessoal tá lá em cima. A saída tá vigiada, então você vai ter que ir com Azuzu, enquanto eu aviso o pessoal e volto pra gente sair enquanto os drows estão ocupados.
Kaliandra aproveitou tudo que podia do drow morto, mesmo que rapier não fosse sua lâmina predileta e a armadura tenha ficado um pouco curta e justa. Rufus amarrou Azuzu às costas dela para facilitar a escalada de ambos.
- Você só não pode tocar na teia, se não vem uma aranha monumental assim ó. Sempre pra cima, são 200 pés até a caverna. De lá mais 20 até o nível onde os outros estavam quando os deixei. Vá com cuidado.. - ele disse antes de sumir de vista escalando. Mas ela ainda ouviu - Hobbit aranha, hobbit aranha...

Mari´bel percebia que o sono dos colegas era inquieto. O ódio que crescia nela pelos drows, seus captores e torturadores, a impedia de nutrir qualquer simpatia por Dzariah. Mantinha a atenção nela, no caminho até os outros drows e em seus camaradas. Foram algumas longas horas.
Quando aproximou-se de Sérgio Reis para acordá-lo, ele despertou agitado. Tinha os olhos vidrados de quem vira algo assustador.
- O que foi? Tudo bem?
- Um... um sonho... Lo.. a deusa dos drows... ela me ameaçava.. dizia que iria nos alcançar por nos metermos nos planos dela... e depois me atacou. Pode ter sido mais que um sonho. Preciso de algo para me acalmar, Mari.
- Tentarei descansar um pouco - disse a killorien receosa com aquele relato.
Ao dormir, Mari´bel testemunhou a mesma cena que atormentava a mente de seus amigos. Colossal como uma montanha, Lolth avançou fechando as mãos sobre ela. Não havia como escapar. Sentia-se como um pequeno inseto indefeso. Os olhos dela eram como abismos frios e de pura maldade, onde seus maiores medos se refletiam.
- Você pagará por se meter em meu caminho, maldita fada. Meus filhos brotarão da terra, o céu será sempre negro e os fracos alimentarão os fortes. O sangue dos tolos vai regar o solo do triunfo como alimenta meu poder.
Mari´bel acordou não menos aterrorizada do que Sérgio Reis. Viu que os outros já estavam de pé impressionados com o que haviam visto.
- La deusa estava rabiosa... - dizia Braad tomando um trago de rum.
- Era como se o verdadeiro mal estivesse diante de mim. Um mal inevitável... - confessava Jorge.
- Eu percebi o desequilíbrio... eu senti a natureza perdendo a cada palavra dela... - detalhou o druida, que voltara à forma humana antes de se deitar.
- Eu entendi que a deusa dos drows realizou algum sacrifício para alimentar a magia de seu povo - ponderou Derdeil.
- Eu não tenho as respostas de minhas preces... - contestou Dazriah.
- Talvez esteja aí o sacrifício... - completo o mago Óphoda.
- Bom.. pessoal.. então... - falou Rufus Lightfoot surgindo como se sempre estivesse estado ali. - Eu encontrei a Kaliandra, ela tá vindo pra cá com o Azuzu, mas tem um monte de drows vigiando entre nós e ela. Vocês tem que dar conta deles, enquanto eu chego com ela aqui...
- Devemos partir para esmagar e punir o mal... - bradou o paladino.
- Vocês devem matá-los! Exterminá-los!! Todos!!! - Concordou Dzariah.
- Devemos aproveitar a vantagem de estarmos no nível superior - considerou Mari´bel.
- Eu dispararei meus raios de luz para ajudá-los! - A drow sacou a varinha mágica e avançou no corredor, enquanto a killoren sacou seu arco. Todos os demais as acompanharam, enquanto o hobbit simplesmente sumiu mais uma vez. Chuck Norris optou pela forma de leopardo mais uma vez.


Ferida como estava, quando chegou ao cenário da batalha, Kaliandra só precisou levar um ataque para tombar indefesa novamente. Ainda que tenha ferido alguns drows antes, não fosse Azuzu correr e carregá-la, ela não teria chegado até o bardo Sérgio Reis. Ainda cantando, o cãozinho do berrante era o único que restara, com o paladino quase morto aos pés.
Braad e Mari´bel tentavam içá-los com uma corda, após recuarem, enquanto Dzariah esvaía o que lhe restava de vigor com raios de luz e Derdeil disparava seus mísseis mágicos. No entanto, os inimigos eram muitos. Rufus e Chuck Também recuaram e haviam subido de volta sem maiores dificuldades. Quando o mestre da bebedeira e a arqueira conseguiram puxar seus colegas, não perderam tempo e partiram. Óphoda usou de seus talentos curativos e uma magia para amenizar a situação do paladino e levantar sua estimada Kaliandra. Os drows pareciam debilitados o suficiente para não acompanhá-los.
Dos salões, passaram ao caminho criado por Chuck Norris e dali à Grande Floresta, onde a energia harmônica da floresta os tranquilizou. Mari´bel seguiu os rastros de Popossante e Gabi, encontrando as montarias a namorar não longe de onde as haviam deixado. Colocaram o corpo de Jorge da Capadócia sobre sua montaria e se dirigiram para um ponto mais seguro da mata, onde Kaliandra enfim despertou.