Lá embaixo, mesmo paralisada, Úrsula Suarzineguer ouviu surgirem palavras mágicas de uma mensagem, que era endereçada a Sirius Black. As palavras de Kiriani, a boa serva de Selune, eram de que haviam recebido notícias da queda de Nova Netherill.
- É seguro retornar para o sul? - foi a questão final posta por ela. A gnoma respondeu mentalmente, incerta de saber se seria o suficiente para concretizar a magia. Soube ela apenas, que seus movimentos voltaram e pode correr a mão para Avenger. Que gritava pelo sangue de magos, mas aceitaria bem matar um ser do mal colossal. As primeiras setas, no entanto, descobriram a impenetrabilidade daquela carcaça.
Daphne enquanto caía, transformou-se em uma feérica de puro frio, passando a voar e agarrando seus dois aliados com seus tentáculos. Desceu rapidamente com eles até o ponto onde estavam seus demais imóveis companheiros. Ela atirou Sirius e Falkiner sobre Francisco Xavier e Rock dos Lobos, o que serviu para devolver o movimento a todos eles. Novamente, a mestra das muitas foormas clamou por seus poderes druídicos e transformou-se em uma nova hidra de doze cabeças.
A monstruosidade morta-viva alvejou-os com novos cones de frio, enquanto movia sua massa colossal na direção deles. Três dos andarilhos das sombras que se arrastavam por seu corpo pularam na direção dos heróis, um dos quais trazia Ehtur Telcontar em sua armadura em frangalhos e parecendo quase que abandonado pela vida. Eles buscaram arrancar as armas de suas mãos e destruí-las. Negativa, Avenger e Furioso foram avariados, mas Batina foi totalmente destruída
Encurralados, os heróis curaram-se e buscaram insistir com os ataques contra o rastejante noturno. Isso mostrou-se acertado e com o golpe final de Daphne, que avançou em carga e cravou suas presas nas feridas do rastejante noturno, o colossal verme de trevas morto-vivo tombou sobre todos eles como uma montanha. Enquanto os demais fugiram, Úrsula gastou suas últimas setas vingativas para matar dois dos andarilhos, o que permitiu aos outros levarem Ehtur de lá. A matadora de magos usou de toda sua agilidade para correr pelo corpo do verme antes que a esmagasse. Rapidamente a carcaça começou a se desfazer como o pus quente de um furúnculo aberto.
Eles fizeram uma busca na carcaça da criatura nefasta, que se misturava com os restos das ruínas agora espalhadas. Sirius Black com seus olhos ligeiros encontrou um um anel em meio ao cadáver, que trazia os sinais de Rhange Hesysthance Sorrowleaf, mas nenhum sinal de seu corpo. Ele guardou o anel e concordou com os colegas que não havia sinais do arquimago.
Conjugando sua habilidade com as de Úrsula e Mua D'ib, eles encontraram um cadáver, enquanto vasculhavam entre as pedras. Foi preciso desenterrá-lo e limpá-lo da areia, estava em péssimo estado, muito desfigurado. Eles reconheceram Melegaunt Tanthul, muito embora seu corpo estivesse semi-carbonizado.
Daphne foi assaltada pelas lembranças dos dias que antecederam o ritual. O que teria se dado? Ela forçou sua mente, mas só haviam suas memórias que compartilhou com os amigos.
(...)
Daphne despertou com a cabeça latejante e o estômago revirado. Não conseguia se lembrar muito bem do que havia se passado. Enxergou um par de pés ao seu lado. O chão era frio, a terra sem vida. Estava molhada.. estava no mar.. lembrou-se que estavam muitos quilômetros em alto mar. de alguns botes ao longe.. as trevas que cresceram em Águas Profundas. O cetro de Lathander.. eles tinham conseguido recuperá-lo. Mesmo atordoada olhou procurando pelos companheiros, mas seus sentidos turvos reconheceram apenas uma pessoa.. Melegaunt Tanthul.
- Vejo que já está acordando.. beba isso e vai se sentir melhor - ele disse se abaixando sobre ela e oferecendo uma poção.
- Melegaunt, eu ficaria muito grata se pudesse despejá-la em minha boca, para que eu não precise tocar neste item mágico.
- Não há tempo para muita conversa agora, embaixadora.. - ele despejou a poção em sua boca com cuidado. Daphne percebia que suas magias não estavam funcionando. Conforme sentia o sabor amargo e rançoso da poção, duvidou que aquilo fosse uma poção de cura. Seus ferimentos não se curaram, mas o que quer que fosse que turvava sua mente, passou e você pode pensar e ver tudo mais claramente.
Estava na Cidade das Sombras voando muito acima do chão. Dessa vez, estavam fora das muralhas, numa beirada de onde era fácil ver o mundo lá embaixo.. o mar a oeste, as trevas negras da Cidade dos Esplendores lhe revelavam que estavam a um dia de distância de lá você diria.
- As tropas estão se reunindo.. você não cumpriu sua missão! - E isso a lembrou da mensagem mágica que recebeu de Costeau, logo que emergiram no mar: "Onde você está? Há uma convocação para guerra em todas as cidades próximas! Não me diga que está com os vagabundos! Retorne imediatamente!".. antes que pudesse responder, no entanto, algo aconteceu.
- Perdão Príncipe, mas minha cabeça está confusa... minha missão? - Daphne sabia que seus corvos estavam todos vivos, mas além da distância em que poderia ver através de seus sentidos. Ela viu as muralhas negras da Cidade das Sombras ali tão próximas, com guardas vigilantes no alto. Pelo ar, passavam dragões de sombras com cavaleiros sinistros em suas costas guardando a capital de Nova Netheril. Seus corpo tinha alguns poucos arranhões de grandes garras, mas não era isso o que a enfraquecera antes. Algo invadira sua mente, ela tinha certeza, mas não sabia o que. Teria sido o aboleth que escapara da masmorra sob a montanha? Não se recordava.. tinha dificuldades para se lembrar do que se passara depois de deixarem o covil do dragão negro.
- Você devia alertar suas bases da convocação para a guerra. Nós já estamos recebendo tropas, mas não da Grande Floresta... eu.. - e ali ela percebeu uma alteração na fala de Melegaunt - eu fui enviado para chamá-la de volta às suas responsabilidades, embaixadora...
- Eu pretendia seguir caminho para a Grande Floresta no que saísse da montanha, mas no momento que saí, fui atacada e..... acordei aqui agora... não sei ao certo o q aconteceu. Não sei nem ao certo quanto tempo passou desde q vossa realeza me deixou. Mil perdoes pela minha ineficiência,príncipe. Mas vejo q estamos perto das Montanhas de Nether, posso chegar na Grande Floresta em algumas horas se for o caso, me diga o q preciso fazer, meu príncipe?
Melegaunt achou graça de palavras dela.
- Você pode me chamar de Melegaunt, embaixadora.. não precisa me tratar com essa formalidade.. - as palavras dele pareciam mais sinceras e menos formais também, como se ele estivesse ficando mais a vontade com Daphne. Ela sentia que o príncipe das sombras sabia mais sobre o incidente que se dera.. talvez o que tivesse acontecido com seus amigos. - Nós podemos ir juntos até a Grande Floresta, que está a menos de um dia de vôo para o oeste.. de lá podemos seguir com as tropas até encontrar as que convergem para cá.
Daphne via realmente que estava não muito distante de Brasilis, a oeste da Grande Floresta e a norte de Águas Profundas. Com seus olhar de águia, via que realmente havia movimento de grande grupos humanos que começavam a se aglomerar lá embaixo, como um vasto exército. - Fiquei preocupado depois que a deixei e acho que é melhor mantê-la sob minha proteção... lá convocaremos os druidas e seres da floresta a tomarem parte na batalha contra as trevas em Águas Profundas. - Enquanto o príncipe das sombras falava isso, apenas Daphne percebeu um pequeno rato negro de olhos vermelhos, que surgiu por uma fresta na base da muralha e veio se aproximando escondido.
- Como preferir Melegaunt. Vamos agora para a Grande Floresta? - Apenas em sua mente, no entanto, ela comunicou-se com seu roedor - Meu pequeno, meu coração se alegra enormemente pela sua chegada! Mas não posso ficar aqui agora com você. Eu peço que você passeie por esta cidade, descubra os caminhos subterrâneos, especialmente para dentro dos prédios maiores, mas por favor tenha muito cuidado! Não faça nada muito arriscado. Assim que voltar, procurarei ir para o templo de Shandakul, nos encontramos lá.
Melegaunt alegrou-se com sua resposta e levantou vôo esperando que você fizesse o mesmo. Transformando-se em águia, Daphne ganhou o ar, enquanto escutava o pequeno roedor despedir-se.
- Boa sorte, boa mulher. Nós ratos comandamos as profundezas da cidade.. eu esperarei por você nesse tal templo de Shandakul... você fará muito sucesso com meus amigos, primos, irmãos...
Durante todo o caminho, ela pode ver os grupos, caravanas e tropas que rumavam para o oeste. Nova Netherill, além do poder da magia das trevas possuía agora um vasto exército. Por todas as horas e léguas, não havia sinal de homens e mulheres a cuidarem de seus campos, nem dos rebanhos sendo pastoreados.. apenas guerra e medo. Enquanto voava, a druida orava silenciosamente a Shaundakul e aos outros deuses da natureza pedindo sabedoria, muita sabedoria... sabedoria pra entender a situação que estavam passando e sabedoria nas suas palavras. Para que ela conseguisse não trair seus princípios e nem a confiança dessas pessoas detestáveis a quem devia lealdade no momento.
A visão da Grande Floresta foi um consolo. Junto com Melegaunt, a druida pousou no seio da mata, encontrando a maior parte de seu círculo reunida.
- Aí está você.. - protestou Costeau. - Esqueceu a quem você deve sua solidariedade?
- Ela.. e todos vocês.. devem lealdade ao Império de Nova Netherill, ancião! - cortou-o Melegaunt intrometendo-se entre vocês.
- Solidariedade, Costeau, eu devo aos pobres e indefesos do mundo, segundo o voto que eu fiz desde que vim para esta floresta. Lealdade, como Megalaunt bem disse, todos da Grande Floresta devemos ao Império de Nova Netherill, segundo o acordo que está feito - ela disse encarando todos os seus irmãos e irmãs do círculo. - A você Costeau, o máximo que eu devo é respeito, por ser o mais velho e "supostamente" o mais sábio de nossa floresta, mas sua impaciência e suas palavras mal escolhidas demonstram o nível de sua sabedoria... Mas este não é o momento para um bate-boca entre nós - ela voltou-se para os demais. - Nova Netheril está marchando contra a montanha de escuridão que foi erguida por Shar em Águas Profundas e nós, como membros deste Império, devemos enviar tropas para ajudar nesta batalha. Shar é uma divindade primordial. A escuridão, seu lar, é o nada de onde todos viemos, e para onde um dia voltaremos, porque tudo q teve o seu começo também terá seu fim. Mas eu não acho que agora seja o nosso fim, portanto devemos unir nossas forças e combater o mau maior!
- Ora, sua insolente.. - resmungou Costeau, mas a fala límpida da experiente druida cobriu os resmungos dele. Enquanto Daphne falava, ela viu chegarem Police e Papoula acompanhados de um homem de traços do sul, pele morena e cabelos escuros. Ele não se parecia com os druidas da florestas, lembrando mais os beduínos do deserto como Pereirão. Além deles e seus companheiros animais, ela reconheceu o velho Ataulfo, o urso negro companheiro de Gaios.
Todos escutaram as palavras dela com calma e atenção. Ela percebeu que Quirion, o centauro, e Kyoto não concordavam com o que indicava. Planeta e Ferlima, por outro lado, pareciam bastante propensos a aceitarem.
- Como vamos ajudar se não temos nossos poderes.. as trevas da cidade das Sombras impede a magia de Mystra.. a magia natural - protestou Marina.
- Nas proximidades de Águas Profundas vocês terão todos os seus poderes. Além disso, alguns poderes como sabedoria e habilidade de se transformar lhes são inatas, não é mesmo? - Melegaunt respondeu com diplomacia. - Eu sugiro que escutem as sábias palavras de sua representante...
- Daphne tem razão. Devemos integrar esse império que nos ameaça contra um mau maior - disse Costeau caminhando até próximo dos dois. - No entanto, hoje nós devemos receber um novo druida para que o nosso círculo uma vez mais fique completo.. só então podemos partir...
- Quem será o druida que entrará no lugar de Gaios? - Disse Daphne surpresa - E que horas devo estar pronta para o ritual?
Indicando o homem mouro que chegara com Police e Papoula, Costeau respondeu:
- Este é Ali Yezzid Izz-Edin ibn-Salim Hanak Malba Tahan. Ele vem do reino de Calimshan ao sul e é sobrinho-neto de Gaios, sendo por direito e dever o herdeiro da posição da Gaios nesse círculo druídico..
- Eu agradecer sua recebção e hosbitalidade, nobre druida.. - respondeu o Ali fazendo uma reverência. - Meu tio avô era afamado bor sua sabedoria. Esbero boder corresbonder a tamanha resbonsabilidade.
- Uma guerra se avizinha e não pode... - principiou Melegaunt, mas Costeau o interrompeu.
- Sem nosso círculo completo, não teremos utilidade para vocês.
- Como consagraremos nosso novo membro com um intruso? - disse Quirion sem disfarçar o desconforto com relação a Melegaunt.
- Eu não irei me retirar.. - protestou Melegaunt.
- Megalaunt por favor, o que Costeau diz é verdade, a união faz a força, especialmente em se tratando de druidas, se nosso círculo não estiver completo não teremos como lutar no nosso nível máximo de poder. - Daphne interviu com sua diplomacia, mas também usando de seu charme. - Será q você não poderia fazer a gentileza de esperar logo ali. Como você bem sabe, rituais sagrados precisam de privacidade e concentração para serem realizados corretamente. Vai durar somente alguns dias.. 3 dias e estaremos prontos para seguir à guerra. Eu peço que você nos faça esse favor como sinal de amizade entre Nova Netheril e a Grande floresta ou se não - e os olhos dela colaram-se profundamente nos olhos dele, como uma luz que espanta as sombras - como sinal de nossa amizade...
Melegaunt olhou-a nos olhos por um instante e concordou com um pequeno sorriso.
- Está bem.. vocês tem os seus três dias. Os exércitos já estarão marchando...
- Nós estaremos lá - garantiu Costeau. O príncipe das trevas olhou-a mais uma vez no fundo dos olhos antes de sumir recuando até a sombra de uma árvore, o que a lembrou de Sirius Black. A tensão do ambiente diminuiu bastante e toda atenção, assim como as palavras de Daphne se dirigiram ao recém-chegado que parecia cansado e agradecido e não carregava nenhum símbolo sagrado.
- Você não imagina a falta que eu sinto de Gaios, ele era um grande homem - os olhos dela lacrimejaram, mas ela se recompôs e continuou. - Meu coração se alegra em parte dele seguir conosco em você! Você também é um seguidor de Silvanus?
- Bouco sei sobre o deus da floresta. A bem da verdade.. se me bermitem.. sou um homem do deserto. Agradeço a hosbitabilidade.. bouco sei de meu tio.. mas vim em busca de uma nova vida... brestei homenagem algumas vezes a Ibrandul, o deus do deserto..
- Ele não é um druida.. - resmungou Police, que assim como Papoula parecia ter adquirido alguma experiência com os tempos difíceis.
- Mas me parece um homem disposto a aprender.. - intercedeu Papoula carinhosamente. - Eu também mal era uma druida quando vim ocupar o lugar de minha avó, pouco sabia..
- Os tempos eram outros! - Protestou Chico Mendes.
- Acalmem-se todos.. silêncio! A semente de Gaios deve retornar ao círculo. Assim deve ser o ciclo e assim será! - Afirmou Costeau.
- Como teremos um círculo completo se ele ainda não é um druida? - questionou Ferlima.
- O equilíbrio também faltará.. no lugar do Senhor da Floresta, o senhor das cavernas. O que é isso?!? Selune há muito tempo não responde minhas preces.. sem Silvanus o que será de nós? - lamentou Quirion.
- Talvez devêssemos nos concentrar nos verdadeiros deuses.. os deuses elementais ! - Afirmou Planeta.
- Sim, Custeau tem razão, precisamos ter calma... mas parece que ele se esqueceu que por mais que estejamos no presente momento inseridos num império totalitário, o regime totalitário não é o que impera aqui dentro desta floresta! Nos formamos em círculos justamente porque não tem cabeça. A união é o que faz a nossa força e todos tem o que contribuir para o grande equilíbrio. Tudo e todos são importantes, somos todos essenciais na cadeia natural. A opinião de todos é válida e não vamos calar a boca só porque estás mandando! Mas, principalmente, a força de nosso círculo está no consenso e no equilíbrio e não na mera pró-forma de realizar um ritual para completar 12 membros!!! - Daphne voltou-se para o centauro. - Quirion, tenha fé, não acredito que Selune tenha nos abandonado, sua luz brilha aqui na terra ainda! Eu vi com meus próprios olhos! - Depois, dirgiu-se ao elfo do sol. - Planeta, você realmente acha que os deuses elementais seriam de muita ajuda para nós agora? Você sabe tanto quanto eu que eles tendem a não se importar com nós mortais e nossos assuntos mundanos, estão mais preocupados com o equilíbrio maior... e saiba que tanto Akadi quanto Grummbar tem templos e seguidores lá na cidade das Sombras. - As últimas palavras guardou para o recém-chegado. - Ali, eu sei que Ibrandul é sábio, à sua maneira, mas não sei se uma divindade que vive nas sombras seria a melhor opção no momento em q combatemos as sombras. Você não parece ser muito apegado a ele e já que veio em busca de uma nova vida, será que você não adotaria Silvanus como seu senhor? Em honra a Gaios? Silvanus é um dos mais antigos e mais poderosos deuses, representa o sagrado masculino em equilíbrio com o sagrado feminino de Chauntea - ela apontou Para Papoula - Ele é o pai de todo vida, o fertilizador, a pungência das forças vitais. Ele nos vigia com atenção e guia nosso crescimento. Ele impõem os limites que as dificuldades de se desenvolver pedem, mas ele também nos abençoa com sua sabedoria. Silvanus é o Grande Pai, o Pai da Natureza, o Antigo Carvalho, o Fertilizador, o Senhor das Florestas.
Todos escutam com atenção as palavras da embaixadora de Nova Netherill. Todos os outros dez druidas e Ali ouviram suas ponderações.
- Creio que eu deva abrender sobre esse deus, então, se é esse o caso - concordou Ali. Ataulfo, o velho urso negro de Gaios, se levantou e foi até o recém-chegado cheirando-o ainda desconfiado.
- Minha fé não se abala, Daphne.. mas Selune sumiu do céu.. há mais de um ano não há luar.. seus clérigos e druidas não recebem retorno por suas preces. Eu ainda acredito no que ela simboliza.. mas não em sua saúde.
- Os deuses elementais comandam o equilíbrio maior.. - afirmou Planeta, tendo a concordância de Ferlimma.
- É isso mesmo que ela está dizendo, seu avoado! - Cortou-o Chico Mendes.
- Por favor.. por favor.. - suplicou Papoula. - Chauntea ficaria feliz em ter um servo de Silvanus entre nós.. pois seu antigo consorte é parte essencial desse ciclo sem fim...
- Lay Fan Ter é o conxorte de Xiao Tea... - acrescentou Kyoto.
- Você não precisa de um novo deus, rapaz.. - disse Costeau tocando Ali nos ombros. Ataulfo bufou e se posicionou ao lado de mouro. - Ibrandul pode ser bem vindo entre nós. Às vezes para encontrar a sabedoria, é preciso encarar o abismo... mas você precisa abraçar uma nova vida. A partir de hoje não será mais você quem se navega.. quem o navega é o mar...
- Ali, o mais importante é que você siga seu coração e seja verdadeiro em suas preces, seja quem for que você decida louvar - interviu Daphne fazendo um carinho atrás da orelha de Ataulfo. - Por sermos pequenos seres no infinito da criação, nós temos dificuldades em entender todo o conjunto, mas todos temos nosso papel a cumprir. Se só deixarmos a maré nos levar sem se importar com o destino, estaríamos desperdiçando.. não... desonrando a inteligencia e sabedoria divina que temos dentro de nós! Estes são tempos difíceis, como vocês sabem esse "desequilíbrio na força". Não está limitado somente ao nosso plano e sabendo que tudo que teve um começo terá seu fim, não sei se este é o destinado fim de nosso mundo. Mas eu pretendo lutar contra as sombras a favor do equilíbrio enquanto ainda tiver forças!
- A escolha não é apenas suas, Ali.. - acrescentou Marina, enquanto Daphne acarinhava o velho urso que ficou muito satisfeito, deitando-se ao lado dela e de Ali.
- Silvanus barece imbortante e digno de meus estudos.. brometo me dedicar a isso. Eu deixei toda a vida que conheci bara trás e estou disbosto a começar uma nova vida.
- Que vida é essa que você tanto quer deixar pra trás? - Ponderou Felícia Eagle.
- Eu fui caçado bor uma cabala maligna de mortos-vivos, que corrombe meu reino.. mas meus esforços foram em vão.. berdi minha esbosa e meus filhos.. eu mesmo sobrevivi bor milagre... foi quando recebi a mensagem mágico do falecimento de Gaios.. e a brobosta de vir bra cá...
- Você deve entender que isso não é um esconderijo, mas sim uma vida de dedicação à natureza.. - acrescentou Quírion.
- Não há lugar a salvo do mal nos dias de hoje.. - disse Costeau. E não temos tempo a perder, como você mesmo viu...
- Nada sei desse imbério de Nova Netherill, mas sei que nada de bom se imbõe bêla força... (Ali se ajoelhou diante de Daphne e tomou a mão que ela passara sobre o urso.) Tenham a confiança de que serei filho e irmão de todos vocês.. assim como serão bara mim bais e mestres (ele colocou sua mão sobre a cabeça dele..) Que esse deus da floresta, Silvanus, me receba, assim como vocês me recebem.. que o esbírito de meu antebassado olhe bor mim e me oriente nesse selva densa do futuro.
- Seja bem vindo meu irmão! Que todas as forças da natureza te abeçoem - disse Daphne abraçando-o.
Costeau disfarçou o descontentamento por Ali ter dado ouvidos a Daphne e fez sinal para que todos tomassem suas posições no círculo.
- Comecemos, então, o ritual de sua iniciação... tomem suas posições no círculo.. vá para junto dos outros animais, Ataulfo... - o urso, no entanto, teimou em ficar ali entre Daphne e Ali.
Daphne fez mais um carinho em Ataulfo, abraçou-o e sussurrou no ouvido dele na língua dos animais:
- Os homens das sombras podem estar escondidos aqui agora, em qualquer sombra, não conseguímos cheirá-los, mas é possível ouví-los... peço seu favor de informar todos os animais - a druida separou-se do velho urso. - Eu sinto tanta falta de Gaios! - ela dizia aquilo olhando nos olhos do urso negro como que em busca do que restava de Gaios dele.
Ataulfo saiu após as palavras de Daphne indo se juntar aos outros animais. Todos tomaram suas posições, enquanto Ali caminhou para o centro após o abraço dela.
- Antigos espíritos da natureza, todos os deuses do equilíbrio eterno, animais e vegetais da mais antiga das florestas, ouçam nosso chamado - iniciou a fala Costeau. Era estranho vê-lo iniciar o ritual, pois sempre fora o papel de Gaios. Todos vocês repetiram as palavras dele. - Eu saúdo Chauntea, a Mãe da Vida, Silvanus, o Pai da Natureza, todos os seus elementos e sua força. Nós agradecemos por todos os presentes que recebemos a cada dia e a cada ciclo - essas palavras também foram repetidas por todos em uníssono e era como se os sons da floresta se misturassem ao cântico druídico, ampliando seus sentidos, cada vez mais como se fossem um só.
- Akadi, senhora do ar.. - disse Planeta virando-se para o leste. - Espíritos e guardiões do ar.. forças da liberdade, do movimento e do frescor.. eu os invoco para que abençoem este círculo com seu poder. Estes servos fiéis e seus companheiros contam com seu auxílio e proteção.. - conforme o elfo do sol ia falando, como sempre ocorria, seu corpo ia se tornando gasoso. Ali parecia muito surpreso.
- Kossuth, senhor do fogo - passou a falar Ferlima, tão logo Planeta terminou, virada para o sul. - Espíritos e guardiões do fogo.. forças do calor, da energia e da renovação.. eu os invoco para que abençoem este círculo com seu poder. Estes servos fiéis e seus companheiros contam com seu auxílio e proteção - paulatinamente a elfa ficou coberta com chamas.
- Istishia, senhora da água - foi a vez de Costeau virado para o oeste. - Espíritos e guardiões da água.. forças da vida, do nascimento e da união.. eu os invoco para que abençoem este círculo com seu poder. Estes servos fiéis e seus companheiros contam com seu auxílio e proteção. - o velho druida se tornou um ser de aquoso como um elemental, assumindo aos poucos a forma quase perfeita da esfera.
- Gruumbar, senhor da terra - disse Chico Mendes olhando para o norte. - Espíritos e guardiões da terra.. forças da satisfação, da permanência e do florescimento.. eu os invoco para que abençoem este círculo com seu poder. Estes servos fiéis e seus companheiros contam com seu auxílio e proteção - o corpo de Chico tornou-se rochoso como uma montanha circundado por uma aura de areia.
O mundo ao redor pareceu agora isolado por uma tênue película brilhante, como uma bola de sabão. Daphne sabia que naquele momento, o círculo não só estava plenamente integrado ao mundo e seus elementos, como a outros planos, como os elementais e o das fadas. Sua conjunção tornava-se um ponto nodal de toda a existência.
Ali assistia a tudo fascinado. Os animais, ainda vigilantes, se posicionaram próximos aos seus senhores, sendo que Ataulfo ocupou o lugar que caberia a David.
- Eu sou filho da lua.. somos todos filhos da lua, até mesmo a mãe-terra.. - passou a falar Quírion olhando para o alto. - A luz que surgiu junto com as trevas, mas cuja magia guiou-nos na primeira escuridão. Que a força primeira da vida e da bondade esteja conosco e nos guarde.
- Eu sou filha da vida.. somos todos filhos da vida, até mesmo o sol.. - passou a falar Papoula com muito mais convicção do que no ritual anterior, quando chegara Police. Ela ajoelhou espalmando as duas mãos na terra, enquanto a vegetação rasteira floresceu sob seu corpo. - O solo fértil que surgiu após a batalha entre luz e trevas, nos nutriu no primeiro conflito. Que a força primeira do carinho e do amor esteja conosco e nos guarde.
- Eu xou filho do xol.. xomos todos filhos do xol, até mesmo a xenhora das manadas.. - passou a falar Kyoto, enquanto seu corpo passava a brilhar como o sol de um amanhecer - A luz quente que afaxtou o frio, trouxe o tempo e o creximento. Que a força primeira da energia e da positividade exteja conoxco e nos guarde.
- Eu sou filha da senhora das manadas.. somos todos filhos da senhora das manadas.. - foi a vez de Marina O corpo dela ia paulatinamente se transformando, cada vez somando um novo aspecto de algum animal. Primeiro veio o chifre, como o de um unicórnio, depois os olhos felinos. - Todos os seres vivos que caminharam sobreviveram em equilíbrio. Que a força primeira da coragem e da perseverança esteja conosco e nos guarde
- Os elfos chegaram a esse mundo e o abraçaram como seu a 92 gerações completas. O protetor da natureza virgem e intocada pede respeitosamente o direito de ingressar nesse grande círculo sem fim. Ele oferta proteção e respeito, a energia comunal do povo élfico e seus deuses. - Felicia falou de olhos fechados, falando na língua dos elfos, que apenas Ali não parecia entender. Os deuses dos elfos, deuses de outro mundo, pediam licença para entrar, mas eram sempre muito bem vindos.
- Os caminhos se abrem a todos que vivem desde que o primeiro viveu... O guia dos viajantes e do vento da curiosidade pede respeitosamente o direito de ingressar nesse grande círculo sem fim. Ele oferta proteção e respeito, o conhecimento das viagens e das culturas. - Police falou ainda sem a firmeza que todos sabiam que teria logo, que o finado Sting sempre tivera, pois naquele tempo os jovens tinham de aprender rápido.
ai que bonito Jorge! adorei!
- Eu sou filha do universo, somos todos filhos do universo... eu tenho a união de todas as forças em mim, todos temos a união das forças em nós, gerando equilíbrio e harmonia que é fundamental para a vida. Nós agradecemos com amor em nossos corações pelas bençãos que a universalidade nos presenteia e pedimos que esteja conosco e nos guarde, hoje e sempre.
Assim que Daphne terminou sua fala, Felícia, Police e ela - elfa, meio-elfo e humana - viram expandir-se as auras espirituais de suas raças.. o azul dos elfos.. o vermelho dos humanos.. o lilás dos meio-elfos.. assim, todo o círculo estava iluminado, mesmo que faltasse a luz prateada de Selune em Quirion.
Ali, que era banhado por toda aquela energia, mesmo de olhos fechados, deixou que as palavras fluíssem e foi simples perceber que não era o homem do sul quem falava. As palavras eram antigas como a primeira árvore, sábias como o mais antigo dos viventes, retumbantes como o princípio dos tempos. A voz ecoava por toda parte e parecia vir das árvores, do chão e do próprio ar:
- Eu sou o filho da primeira mulher, o fruto da primeira semente, o movimento do primeiro ato, a vítima do primeiro destino. Sou o primeiro a entender a morte, o primeiro a adentrar o reino dos sonhos, o primeiro a perder-se de desejo, o primeiro a sofrer em desespero. Eu sou o companheiro da primeira mulher, o garanhão dos filhos do mundo, a fertilidade que governa a vida, o multiplicador dos destinos. Sou o que enganou e alimenta a morte, o jardineiro do reino dos sonhos, o canalizador dos desejos, o fim para o desespero.
- Somos todos filhos da deusa.. - os druidas responderam em uníssono.
- São duas as direções.. São três as cores da luz.. são quatro os sentidos do caminho.. são cinco as raças primordiais.. são seis os deuses primordiais.. são sete os perpétuos.. são oito as dimensões do infinito.. são nove os alinhamentos da moral.. são dez os impérios dos vivos.. são onze os artefatos dos dias idos.. são doze os caminhos das eras e do sol. É apenas um o destino de tudo que vive!
- São doze os elos do círculo... - os druidas entoaram.
- Que o círculo se complete e que a vida se renove. Que o velho guie o novo e que o novo impulsione o velho. Que o corpo morto alimente a semente viva. O início, o fim e o meio.
Lentamente, todos foram retornando ao normal. Uma névoa baixa cobria o chão até a altura dos joelhos. O silêncio era inexpurgável. Com as luzes esvanecendo, uma penumbra foi tomando seu lugar e o calor deu lugar ao frio que antecede a criação. O chão tremeu levemente e os druidas viram um animal irromper do chão. Daphne logo viu que era uma toupeira bem grande, do tamanho de um cão. O animal se postou respeitosamente diante de Ali e todos entenderam que a natureza o havia aceitado.
Chico Mendes, Quirion e Marina então passaram a gritar e dar urras de alegria. Os elfos preferiram trocar abraços, sendo que até mesmo o ranzinza Costeau procedeu à confraternização que se seguiu. Todos abraçaram e deram boas-vindas a Ali. Cada um de seus irmãos lhe contou como fora a sua própria chegada, fazendo-os todos parte de uma mesma história.
Quando tudo findou, Daphne sabia que haviam se passado dois dias. Não sentia fadiga, mas sim a plenitude de ter o círculo completo. Ataulfo permanecia ao lado dela e ela percebeu que não pretendia deixá-la, o velho e lendário urso a escolhera, assim como a toupeira Albene escolhera Ali.
- Não há tempo para pensar.. já devemos seguir... - disse Costeau chamando a atenção de todos.
- Esses são tempos difíceis meu irmão - disse Daphne inda até o velho druida. Não precisamos sempre concordar, mas é importante que a gente se respeite... para que possamos confiar um no outro. Afinal, nosso compromisso original é com o equilíbrio da natureza, com as forças da vida e da união! É hora da batalha. Quem irá combater Shar e quem ficará protegendo a floresta?
- Papoula, Police e Ali permanecerão.. - disse Costeau. Vocês cuidarão da floresta, enquanto nós levamos as forças da natureza contra as trevas. Nossos animais ficarão aqui para nos informar e ajudá-los. - Enquanto o velho druida falava e os demais se preparavam, Daphne ouviu em seus pensamentos Ataulfo avisar que não havia escutado nada, nem visto movimento estranho. Nenhum dos outros animais também atentou para nada segundo ele.
- Apenas os três? - questionou Marina.
- Pelo bem do equilíbrio.. - disse Costeau principiando uma prece, que encantaou uma grande árvore próxima e fez dela um portal natural, que os levaria até outra árvore próxima de Águas Profundas e dos exércitos de Nova Netherill. - A maior parte de nossa força, assim como da energia da floresta deve estar lá ou talvez não haja mais lugar para se estar depois. - O velho druida tocou a árvore, sumindo dentro dela.
- Meus irmãos, eu tenho fé que nos veremos novamente! Ali, não sei de sua proficiência com armas, mas vou deixar você com meu cajado. Ele está com uma magia que Gaios deixou nele que permite entrar numa árvore e sair em outra, a mesma que Costeau invocou. Para onde estamos indo não tem árvores, acho que você poderá fazer melhor uso dele do que eu! Fiquem com meu amor e nao percam a fé!
Ali recebeu o cajado com a mesma satisfação com que você o recebeu de Gaios. - Eu sempre usei cimitarras, mas talvez seja esse o apoio para um novo caminho..
- Que Chauntea os abençoe - disse Papoula.
- Que Shandakul abra os caminhos.. - completou Police parecendo ser o único dos três que lamentava ficar. Enquanto isso, os demais se dirigiram até a árvore e foram sumindo um a um. Daphne foi a última a seguir. Ela sentiu-se percorrendo a terra, integrada ao solo, até surgir em outra floresta. Daphne percebeu que aquelas árvores eram descendentes dos mesmos ancestrais das árvores da Grande Floresta, mas a maresia lhe dizia que estavam bem mais próximos da costa. Caminharam até o perímetro da mata, que parecia muito diminuída e viram o imenso acampamento no que antes era Lariço Vermelho, uma pequena cidade de caravanas que deixavam ou se dirigiam a Águas Profundas. O acampamento era tão grande que parecia cobrir tudo até as colinas do rio Dessarin. Centenas das árvores de folhas vermelhas que davam nome à cidade haviam sido derrubadas e alimentavam o fogo ou serviam para as construções necessárias ao exército. Os animais haviam se afastado ou sido caçados. Olhando para sudoeste viram a escuridão, tão vasta agora que estava a poucas horas de caminhada.
- Nós devemos procurar os responsáveis - sugeriu Costeau, vendo que todos sentiam a dor daquela pequena floresta, mas antes eles perceberam que não estavam ali sozinhos.
- Vocês vem para ajudar esses destruidores? - Disse um anão saindo de trás de uma árvore.. ele era um druida como os outros.. o primeiro druida anão que Daphne via e que tinha um texugo atrás de si. Ela tentou acalmá-lo e esclarecê-lo:
- Há diferentes categorias de destruidores, meu irmão... no momento viemos unir nossas forças para combater aquela que quer a destruição de todos os planos de existência: Shar. É importante ter sabedoria para escolher suas batalhas, HOJE nossa batalha é contra Shar.
- Então o preço a pagar é que os pequenos pereçam para os grandes seguirem? - Retrucou o anão sem se convencer com as palavras dela.
- Todo o equilíbrio deve ser conservado, homem do povo firme - disse Felícia, que assim como os outros elfos também estavam desacostumados a encontrar um druida anão. - Nós viemos da Grande Floresta lutar contra a escuridão, que não tardará a engolir essas árvores..
- Restarão árvores? Ficarão de pé as montanhas após a fome dos "nossos defensores" vencer? - Insistiu o anão. - Talvez assim vocês aprendam a enxergar na escuridão como aqueles que vivem sob o chão. A luz que vocês oferecem não é para todos..
- Ele tem razão.. - concordou o centauro Quirion. - Estamos nos tornando aquilo contra o que sempre lutamos...
- O que eu tenho aprendido nestes últimos anos é que a vida não é tao simples assim, tudo preto no branco... às vezes você tem que perder uma batalha para ganhar a guerra. - Daphne diriu-se a eles com toda a sua diplomacia. - Como já disse, acho que devemos saber escolher nossas batalhas. Eu sei que hoje eu não posso com este império, eu vi um mago, que nem era do mais alto escalão, desintegrar o druida mais poderoso que eu já conheci com um rápido pensamento! Sozinhos, nós aqui, também não podemos contra Shar... Mas acho importante aproveitarmos que hoje temos um inimigo em comum e podemos unir nossas forças para combatê-lo. Porque se Shar ganhar, não vai fazer a mínima diferença se estas belas árvores vermelhas ainda estão de pé ou não... Falo por mim: o caminho mais sábio acho que é lutar hoje para que exista um amanhã em que possamos conversar e decidir qual será a próxima batalha.
- Você não deveria repetir tantas vezes esse nome, pois isso atrai a atenção dela sobre você.. - disse o anão na defensiva.
- Infelizmente, ela já teve um contato muito mais intenso com a Dama da Noite. Ao contrário de você, colocando-se como uma exótica vítima do rolo compressor do destino, devia lembrar-se que a vida é marcada pelo conflito, pela evolução, pelo fim dos inaptos e permanência dos fortes.. - intercedeu Costeau com uma ferocidade impaciente. - Não estamos aqui para pedir sua permissão ou sequer para requisitar seu auxílio, velho tolo.
- Acalme-se Costeau.. - enfureceu-se Quirion tomando o partido do anão.
- Você está fora de si... - concordou Ferlima.
- Eu não vim quebrar a união de vocês, filhos da Grande Floresta. Façam o que manda seus corações... - disse o druida anão afastando-se com seu texugo.
- Calma meus irmãos! A guerra não deve ser entre nós! - Bradou Daphne - Mas Costeau está certo, nós viemos aqui para uma batalha e devemos nos apresentar aos responsáveis. Sinto muito pela destruição de suas terras meu irmão, mas infelizmente, no momento, não há nada que eu possa fazer para ajudá-lo. Seja forte, tome cuidado, guarde sementes, pois eu tenho fé que a escuridão não vencerá! Mas com conflito sempre tem destruição... mas o ciclo continua, a terra sempre renasce! Quem sabe nossos caminhos cruzarão novamente, meu nome é Daphne - a druida se curvou diante dele, fazendo uma reverência.
- Que assim seja..- disse o anão com um suspiro. Daphne o achou todo tempo muito teatral e afetado. Ele parecia querer instigar aquela polêmica toda.
- Vamos! Vamos! Não há tempo.. não há! - Costeau continuava nervoso e isso lembrou-a um pouco do descontrole de Gaios.
- Eu ficarei aqui.. conversem com eles e retornem.. estarei aqui! - disse Quirion.
- Eu também.. - concordou Ferlima.
- Nós.. ora.. vocês... pois façam como quiserem.. - Costeau se transformou em um Tresyn, um gato alado, e saiu voando. Chico Mendes, Kyoto e Planeta simplesmente foram atrás dele. Felicia e Marina olhavam tudo aquilo incrédulas.
- Tanto Gaios em seus últimos momentos quanto Costeau agora agiram de maneira descontrolada, fora do normal.... eu tenho medo do q isso possa significar... acho melhor ir atrás dele. - Ponderou Daphne dirigindo-se às duas. Para os que ficavam, ela deixou uma saudação. - Até breve meus irmãos.
Por fim, Daphne, Marina e Felicia optaram por seguir Costeau e os demais, ainda que tudo aquilo lhes parecesse estranho. Não era claro o que poderia estar por trás do humor do mais velho dos druidas, mas seguiram-no na direção do acampamento das tropas de Nova Netherill.
O comportamento de Quirion não deixava de corroborar o firme caráter que o servo de Selune sempre tivera. Mesmo assim, Daphne sabia que o anão fora a gota d'água que o convencera. Ferlima simplesmente seguiu seu costume de se opor ao servo de Istishia.
Desse modo, dos doze membros do círculo, apenas sete deixaram a floresta em direção ao acampamento. Costeau ia mais à frente transmutado em tresyn, os outros três um pouco à frente. Os vigias daquela seção do acampamento já sinalizavam ter avistado o grupo e havia muito movimento. Muita gente chegava vindo pelas estradas do norte e do leste, muitos erguiam cercas, trincheiras e outras proteções, além dos que traziam madeira, viveres e equipamento para o local. Uma pequena cidade improvisada feita em dois dias. A fumaça não conseguia subir livremente, deixando o chão lamacento coberto de cinzas.
- Sejam bem vindos, cidadãos de Nova Netherill. Sejam bem vindos ao acampamento das tropas do Império - disse um dos guardas, quando já estavam próximos do portão. Costeau voltou ao normal, o que não surpreendeu o guarda, um humano em armaduras e símbolos da cidade de Secomber.
- Nós somos os druidas da Grande Floresta e viemos nos reportar à autoridade competente para auxiliar na destruição das trevas. - disse Costeau ainda soando raivoso. O guarda, no entanto, já tinha mais atenção em quem vinha atrás.. mais especificamente em Marina.
- Marina? Não é possível!!!
- Eduardo?!? Pelo chifre sagrado de Miellikki.. - ela disse correndo e indo abraçar o que parecia ser um velho amigo.
- O que você está fazendo aqui? - Disse Marina entusiasmada com aquele encontro.. todos começaram a notar alguma semelhança entre eles.
- Não é todo mundo que abandona a guarda e vai pra floresta, minha irmã.. - retrucou o guarda que parecia tomado pelas emoções de quem reencontra alguém muito querido. - Eu sou um dos encarregados das tropas de Secomber. Nosso embaixador retornou e explicou da importância dessa investida. Coisas de política dos novos governantes..
- Como está nossa mãe, Eduardo?
- Nós não temos tempo para essas tolices.. leve-nos aos responsáveis.. - gritou Costeau.
- Acalme-se, velho. Erôncio.. leve os druidas até a encarregada Kurang.. - o sobrenome lembrou Daphne de Chandra Kurang, conselheira de Supla Sumo. O outro guarda fez sinal para que o acompanhassem. Marina fez sinal de que logo se reuniria aos demais. Costeau e alguns seguiram, enquanto Daphne e Felícia se demoraram com Marina.
- Marina, desculpa interromper, mas rapidinho... - interviu Daphne. - Eduardo, o embaixador de vocês é um homem alto, de bom porte, com cabelos castanhos e olhos claros? Ele está aqui?
- Sim, ele mesmo. Ele voltou com novas ideias.. no começo achávamos que Nova Netherill era o mal de Shar e agora na verdade sabemos que eles estão lutando contra ela. Depois da assembléia percebemos que tínhamos o mesmo inimigo... - disse Eduardo com entusiasmo cívico.
- Não confie em tudo tão facilmente, meu irmão. As coisas são mais complicadas que isso... - interviu Marina, enquanto Costeau e os demais já se afastavam um pouco. - Daphne foi nossa representante nesse mesmo grande conselho...
- É... e o Império não permite que haja discórdia dentro dele... O Embaixador de Secomber tinha sido o único a votar contra esta investida - acrescentou Daphne. - Mas por favor, eu peço a licença de vocês, depois conversamos mais, se for o caso.... não quero deixar Costeau sozinho.
- Não é possível.. nosso embaixador nos disse que foi contagiado pelas palavras do Príncipe das Sombras desde o início.. - questionou Eduardo, vendo-as ir.
- Não é hora de atrapalhar sua cabeça dura, irmãozinho.. - provocou Marina. Vá, Daphne. Eu logo me juntarei a vocês...
Felicia seguiu com Daphne, ambas apertando o passo para alcançar Costeau, Kyoto, Planeta e Chico Mendes guiados pelo outro guarda. O interior em nada se parecia com um acampamento, mas sim com uma cidade, mesmo que obras e reforços houvessem por toda a parte. Bandeiras das mais variadas cores marcavam as áreas de cada exército, enquanto tropas marchavam de um lado para o outro.
Vocês os alcançaram em uma pequena praça quadrada. Ao centro dela, em um pequeno palco, um homem de trajes negros de Netherill orientava uma grande quantidade de capitães e generais de diferentes etnias humanas e de algumas raças como elfos, gnomos, gnolls e hobbits. Vários guardas do império vigiavam as entradas das oito ruas que levavam ao lugar, limitando o acesso de quem pretendia entrar. Era com um deles que Costeau discutia..
- .. tire suas mãos de mim, boçal. Eu sou um druida da Grande Floresta.. líder do mais importante círculo druí...
- Você pode ser o filho mais belo de Silvanus e Chauntea, vovô. Aqui só estão autorizados comandantes, generais e marechais.
- Nós estamos atrás da encarregada Kurang.. - disse o guarda Erôncio alcançando os 4 druidas que haviam se adiantado a ele.
- A ladra está no centro administrativo. Respondeu o guarda imperial apontando o prédio contíguo e mantendo a passagem para praça impedida.
- Boa tarde, meu nome é Daphne e o seu?
- Centurião Bheto.
- Prazer em conhecê-lo, centurião! Eu sou a embaixadora da Grande Floresta em Nova Netherill. O Príncipe Megalaunt está ciente de nossa chegada hoje e deve estar nos esperando. Precisamos nos apresentar para quem está organizando o ataque e os exércitos, além de receber nossas instruções. Entendo que a informação não chegou até você, mas lhe garanto que estamos autorizados. Será que você não poderia fazer a gentileza de ver com alguém que possa autorizar a nossa entrada agora??
- Imediatamente, embaixadora.. queiram vir conosco... - disse o guarda, enquanto abria caminho para vocês. - O senhor Melegaunt poderá ser convocado, mas devem se apresentar ao tenebroso Leevoth, que é quem comanda as tropas diretamente. - O centurião se referiu ao homem, que Daphne reconheceu de quando Nova Netherill chegou em auxílio a Evereska contra os phaerimms há mais de um ano. Os druidas passaram ao interior da praça, atraindo os olhares de alguns dentre os homens de batalha. Leevoth cessou um discurso para os generais e veio saudá-los.
- Sejam bem vindos, grandes druidas, meus concidadãos. Nossos líderes acreditam muito em sua capacidade de vencer este mal. - Daphne percebia um desprezo diplomaticamente amarrado naquelas palavras. Ela não escondeu que percebera aquilo ao usar de sua diplomacia:
- Eu não acredito que seja a capacidade individual de nenhum de nós, Comandante Leevoth, que irá vencer este mal e sim o trabalho em equipe. Tampouco creio que sejam necessárias palavras vazias, estamos aqui para saber nossa posição e instruções para a batalha, onde nossa habilidade para lutar ficará evidente.
- Que bom que colocou as coisas dessa forma, embaixadora.. - disse Leevoth com genuína satisfação. - Vocês tomarão a linha de frente nesta batalha!
- A linha de frente? - Preocupou-se Chico Mendes.
- Nossos governantes indicaram que enquanto nossos magos tecem os encantamentos necessários e nossas tropas avançam escuridão adentro, serão vocês que resgatarão as energias vitais para nos garantir o avanço.
- Isso não faz sentido! A escuridão custará nossos poderes... - protestou Felícia.
- Mas não os vínculos primordiais com esse mundo, não é mesmo?
- Nós realizaremos o ritual para que as forças naturais nos ajudem, mas isso não bastará contra as trevas.. - ponderou Costeau parecendo mais calmo agora.
- Nós cuidaremos do resto, ancião - divertia-se Leevoth em sua arrogância.
- Qualquer um que entende um mínimo de estratégias de guerra sabe que mandar parte das suas tropas na frente, principalmente quando elas não estão com a plenitude de seus poderes, é porque precisa que alguém seja um sacrifício para que as tropas "de verdade" avancem em seguida - protestou Daphne. - Quem mais faz parte desta linha de frente? Nos havia sido dito que poderíamos usar nossa mágica nesta batalha, que seus magos possibilitariam isto... o que mudou? E que "energias vitais" são estas que devemos resgatar?
- Todos os druidas de todos os cantos do Império estarão na linha de frente! - Afirmou Leevoth parecendo satisfeito com o clima da discussão, enquanto os generais e guerreiros ao redor continuavam a observá-los.
- Onde estão os outros druidas? - Foi a vez de Planeta perguntar.
- A maioria deles já está sendo direcionada para os limites da escuridão. Não pensem em vocês como buchas de canhão, mas como a cavalaria.. - esse comentário de Leevoth arrancou alguns risos dos homens de batalha ali presentes.
- Nós podemos estar em contato com as forças primordiais da vida, mas isso não anulará as trevas da Senhora da Escuridão! - Reafirmou Costeau.
- Vocês terão suas magias até que a escuridão os alcance. Depois que ela estiver sobre todos nós, serão a âncora para o nosso retorno e...
- Ai está você! - Daphne reconheceu a voz de Melegaunt e virando-se, o viu chegar abrindo caminho entre os guardas. - Achei que não fossem chegar nunca..
- Megalaunt. - Daphne falou com um semi sorriso e fazendo uma reverência. Ela curvo-se num estilo mostrando respeito, mas sem se ajoelhar. - Peço perdão pelo atraso. Acabamos de chegar e viemos direto aqui nos apresentar ao Comandante Leevoth para receber nossas instruções. Estamos tentando entender a estratégia da vindoura batalha e qual será nosso papel nela. Deve ser pela minha ignorância e pela minha falta de experiência em guerras, mas me parece que nós druidas serviremos como sacrifício.
- Não se preocupe, Daphne.. vocês não correm risco verdadeiro. Levantem-se todos.. - Melegaunt se dirigiu a Leevoth e aos generais que o circundavam. Eram homens de diferentes regiões do império, mas todos homens de armas, talhados pela guerra, que abraçavam uma nova causa pela qual lutar. A druida não reconhecia nenhum deles, mas via símbolos que remetiam a diferentes cidades do oeste como Scornubel, Forte da Adaga, Uluier, Belard, entre tantas outras. - Leevoth, deixe estes druidas comigo...
- É claro, meu senhor! - Retrucou o comandante com temerosa devoção, mas que Daphne percebia mascarar uma inveja aguda ou um rancor profundo. - Sou apenas mais um servo de sua vontade e do grande Imperador Telamont...
- Imperador Telamont! - Repetiram os homens de armas, quase como se aquilo fosse algo ensaiado. Vendo isso, foi a vez dos guardas que guardavam a praça repetirem o gesto. Melegaunt revirou os olhos parecendo entediado com aquilo.
- Venham comigo, meus caros. Eu explicarei melhor o que se dá.. guerreiros não entendem bem da sutileza das ideias.. - e tendo dito isso, Melegaunt fez com que ele e os druidas mergulhassem nas trevas.
Uma vez mais, Daphne da Grande Floresta sentiu o frio e a escuridão sem fim correrem as garras em seu espírito. Ao abrir os olhos, viu que estava em acomodações luxuosas. Talvez por estar mais preparada para aquilo, ela era a única que restara de pé junto a Melegaunt. Os demais druidas estavam de joelhos ou caídos, ainda sofrendo a agonia amarga da viagem profana. O terror estava estampado nos olhos de todos.
- Queiram me perdoar, mas não havia mais tempo a perder...
- Queiram me perdoar, mas não havia mais tempo a perder...
- Acho q esse incômodo pode ter servido pra que todos entendam um pouco melhor o que são as trevas que os ameaçam... - ponderou Daphne indo em socorro de Félicia Eagle. Diga, então, Megalaunt, qual será nosso papel nesta batalha?
- A batalha será árdua... - ele disse ajudando Chico Mendes, enquanto Daphne amparava a elfa, que ainda se contorcia no chão. - Vocês devem estar preparados para forças muito mais terríveis do que estas. - Melegaunt se dirigia a todos. Costeau, que depois de Daphne, era quem parecia melhor, levantou-se sozinho.
- Nós estaremos prontos. Todos nós juntos.
- Meu povo demorou séculos vivendo no plano das sombras para se adaptar, mas esse foi o preço da sobrevivência, velho druida. Nós lutamos dia a dia contra as trevas que formavam o próprio ar. Hoje esta diante de nós a chance de aniquilar tudo isso. No entanto, como Daphne bem sabe, o centro do poder da Senhora das Trevas é um altar de Shar em Porto dos Crânios, onde a clériga Roberta encarna o avatar da deusa.
- Que chance há contra o avatar da deusa mais antiga que existe? - Vacilou Chico Mendes.
- As energias podem ser divinas, mas o corpo é mortal! Meu pai tem a arma perfeita para dar cabo da sumosacerdotisa. Ele possui a Pedra de Karsus. Este artefato não só garante o poder de nossa capital voadora, como alimenta nossa magia tenebrosa.
- A Pedra de Karsus é um artefato amaldiçoado! - Escandalizou-se Planeta.
- Ele será a arma que destruirá a serva da Senhora da Escuridão e exterminará as trevas de Águas Profundas. Cada vez mais, aquela área se funde com o plano das sombras, trazendo males ancestrais e terríveis. Meus irmãos e eu seremos capazes de guiar nossas tropas pelos túneis sob a cidade, enquanto as tropas contém os mortos-vivos e servos da escuridão. No entanto, caberá a vocês druidas garantirem nossa volta. Quando eliminarmos a avatar, toda a área já profanada será tragada para o Plano das Sombras. O papel de você é garantir o nosso retorno, ancorando-nos nesse mundo. Vocês comandarão o círculo que se formará ao redor das trevas e com seu vínculo com esse mundo, garantirão nossa permanência nele.
- Um ritual de consagração.. - pensou Costeau. - Vocês precisarão de um elemento vosso entre nós...
- Eu estarei com vocês...
- Vocês precisarão de algo nosso entre vocês.. - completou o velho druida.
- Daphne, irá com meus irmãos e meu pai...
- E quando será o ataque? - Perguntou Daphne pensando que um ritual de consagração é um rito que vincula você a uma área. Isso faz com que os celebrantes fiquem restritos a ela, mas não possam ser tirados de lá. Quanto à pedra, só se lembrava de Karsus, o arquimago de Netherill que destruiu a primeira deusa da magia Mystra e fez o império cair.
- Amanhã.. que seria dia de lua cheia, mesmo que lua já não mais haja. - respondeu Melegaunt. Daphne percebia o mesmo carinho por ela no olhar dele, mas sabia que ele estava concentrado na batalha que estava por vir.
- Isso não será suficiente? Shar conseguirá outra sacerdotisa e nós ficaremos presos nas sombras para sempre... - protestou Chico Mendes.
- Nós estamos aqui para impedir os seus planos.. é o máximo que pode-se fazer... - as palavras de Melegaunt pareciam trazer alguma sabedoria para os preocupados e temerosos druidas.
- Deixem dessas tolices! - Protestou Costeau. - Como eu lhe disse, príncipe, nós iremos comandar o ritual e os traremos de volta. A Senhora das Trevas não deixará jamais de existir, mas deve ser devolvida ao seu papel. Que a ferida seja cortada e a carne em sua volta costurada.
- Então, se não tem mais questões. Irei conduzí-los até os demais druidas para que comecem o ritual. Antes, no entanto, preciso levar Daphne até meu pai, o imperador Telamont, e os demais...
- Que seja.. - deu de ombros Costeau, enquanto Melegaunt tocou a druida de cabelos vermmelhos com um sorriso e uma vez mais a levou a viajar pelas sombras.
Dessa vez, no entanto, o lugar onde Daphne surgiu não era de todo separado das sombras. Não havia qualquer iluminação e ela só via por sua visão escura. Sentia que as presenças vultuosas ao seu redor olhavam-na com curiosidade.
- É esta a tal druida por quem ele se apaixonou? - Ela teve a impressão de ouvir que alguém dizer.
- Não o provoque.. você sabe como são os jovens.. - disse outro.. a língua que eles falavam lhe era compreensível, mas parecia uma versão ainda mais arcaica da própria língua de Netherill.
- Aqui estamos, meu pai. - Enfim ela ouviu a voz de Melegaunt anuncía-los e percebeu que estavam diante do trono de Telamont, que se ergueu com um rosto frio e cruel. - Esta é a representante dos druidas e embaixadora da Grande Floresta...
- Imperador. - Daphne fez uma cara passiva e manteve a cabeça erguida, fingindo que não escutara nada.
- Seja bem vinda, embaixadora. - Disse a voz enebriante de Telamont. Daphne percebia com a proximidade que havia algo de terrível nele, ameaçador até, como se bastasse um gesto dele para ela ser exterminada. Ao mesmo tempo, a voz dele trazia o conforto de estar segura por servi-lo. Não precisava temê-lo, porque ele a guiaria e garantiria sua existência.
Seus olhos negros pareciam ter testemunhado milênios, como os olhos de elfos antigos que ela conhecera, mas com uma intensidade ainda mais dracônica. Curiosamente, ele não possuía aroma algum. - Tenho certeza que os senhores e senhoras da Grande Floresta e dos quatro cantos de nosso império curarão este câncer conosco. - O imperador de Nova Netherill colocou uma mão em seu ombro e Daphne sentiu um estranho calafrio. Por um momento, sua mente foi assaltada por lembranças de quando fora possuída pela essência de Shar e a levara até Águas Profundas. - Você, de certo modo, é como nós, jovem druida. Você também sabe o que é sobreviver às trevas.
Daphne fez seu máximo para não transparecer o que se passava pela sua mente.
- Não fiz nada mais que minha obrigação, afinal, sobrevivência é o instinto básico de qualquer ser vivo, seja contra o que for, meu Imperador. Sobrevivência é nosso instinto mais básico.
- E a vida é muito mais do que instintos.. muito mais do que fazer o que é preciso... - Telamont deu sequência às palavras dela.
- Mas nós somos sobreviventes, meu pai - interviu Melegaunt.
- E somos muito mais do que isso, não é mesmo Melegaunt?
- Certamente e...
- Não deve se demorar aqui. A você cabe permanecer com os druidas, afinal de contas é o mais fraco entre seus irmãos.
- Sim, meu pai.. - e com essas palavras, seu acompanhante afundou nas trevas que os envolviam como um mar.
- Como eu lhe dizia, jovem druida, a vida toma estranhas possibilidades para além da sobrevivência.
- Ela não parece suficientemente resistente para aguentar o conflito, meu pai. - Disse uma voz de alguém que a druida não via. A mente dela ainda dançava entre lembranças do eclipse, de seu período como morta-viva. Apenas a presença de Telamont se destacava em sua percepção.
- Pelo contrário, Clariburnus. Creio que não poderíamos contar com uma âncora melhor - discordou o imperador de Netherill.
- A Senhora do Princípio nos aguarda, meu pai - interviu outra voz muito parecida com a de Telamont. - Vejo as marcas de Shar nessa mulher.
- Comece o ritual, Rivalen. - Telamont retirou a mão do ombro da mulher e ela sentiu um certo cansaço nele. A mão dele desceu e tomou sua mão esquerda entre os dedos frios e enrugados dele. - Quanto a você, Daphne da Grande Floresta, serva dos deuses, não poderá contar com suas magias ou qualquer poder que venha de Mystra. Talvez seja a hora de você comandar as trevas...
Diante do silêncio de Daphne, Telamont Thantul, imperador de Nova Netherill e Príncipe das Sombras, fez um sinal, que Daphne identificou como sendo um sinal profano de Shar. Ela sabia que haviam outros ali, talvez todos os doze outros filhos de Telamont.
A última voz que ouvira, a do tal Rivalen, começou a entoar um cântico numa língua que parecia antiga demais para o seu conhecimento. Mesmo assim, ela percebia que era uma oração para Shar. Na verdade, mais do que uma oração, soava aos puros ouvidos dela como uma narrativa.. Telamont fez sinal para que ela se ajoelhasse e ela assim o fez. Daphne orava pelo equilíbrio.
Telamont permanecia de pé e parecia imenso como uma montanha agora. Isso causou uma pequena vertigem à druida, que sentia que outras vozes juntaram-se à de Rivalen. Por um instante, pareceu-lhe que o chão se movia sob seus joelhos. Ela apoiou uma mão e teve a sensação de tocar as escamas de uma grande cobra. Sua prece pelo equilíbrio ainda se desfazia em seu lábios, enquanto a surpresa a invadia.
Telamont permanecia de pé e parecia imenso como uma montanha agora. Isso causou uma pequena vertigem à druida, que sentia que outras vozes juntaram-se à de Rivalen. Por um instante, pareceu-lhe que o chão se movia sob seus joelhos. Ela apoiou uma mão e teve a sensação de tocar as escamas de uma grande cobra. Sua prece pelo equilíbrio ainda se desfazia em seu lábios, enquanto a surpresa a invadia.
(...)
A mente de Daphne da Grande Floresta sabia que estava longe de seu corpo. Era de certo modo um pouco como morrer, um pouco como sonhar. Talvez algum deus tenha atendido suas preces. - Não me tome por uma deuzsa, sssenhora.. - disse a voz sibilante, que parecia ser tudo que existia. - Eu sssou Dendar... - e com isso tendo sido anunciado, Daphne viu-se como uma garotinha sentada na cabeça de uma serpente colossal cujo corpo dava infinitas voltas.
- Isto é um sonho?
- De sscerto modo.. - sibilou Dendar, cujo nome trazia à sua mente lembranças que não eram suas. Lembranças que não podiam ser de nenhum mortal, pois davam conta de coisas deveras transcendentes. - Há algo de sssonho e algo de morte nissso tudo.. talvezss ssseja um delírio.. ou o dessstino. Entenda como quizsser.. - enquanto Daphne lutava para estabelecer algum sentido, viu seus dedos jovens tocarem a pele seca das escamas da serpente infindável. Teve a impressão de enxergar florestas, montanhas e vales dentro de cada uma das escamas.. dragões, gigantes e elfos.. era como se todo um mundo ali houvesse em cada uma delas.
- Você que me trouxe aqui?
- Não.. foi vosscê quem ssse trouxsse aqui. Sua conssciênsscia está transscendendo osss limitesss de sssua materialidade e vosscê enxerga além dasss fronteirasss do que julga como o real. Essstamosss além dosss mundosss e entre elesss - eram as últimas palavras de que se lembrava.
Ao fim daquele relato, Francisco Xavier lembrou-se que graças à benção de seus poderes necromânticos poderiam conversar com o morto. Ele invocou o feitiço que lhes permitia fazer sete perguntas ao falecido príncipe de Nova Netherill.
- A pedra está aqui?
- Não.
- A pedra está com Telamont?
- Sim.
John Falkiner usou seu poder élfico de sempre encontrar um caminho. Com isso, ele soube que a pedra não estava nesse plano.
- Telamont levou a pedra para o Plano das Sombras?
- Não sei.
- Telamont possuia um plano de fuga?
- Provavelmente...
Enquanto as perguntas eram feitas pelo mago da Fortaleza da Vela, o bárbaro Rock dos Lobos percebeu que as energias que os cercavam não só tinham convergências com o plano das sombras. Talvez pelo vasto espaço de magia morta pulverizado com os fragmentos das ruínas, de alguma forma aquele local tornava-se uma espécie de nódulo planar. A convergência entre os planos parecia tamanha, que um simples teleporte bastaria para viajar entre eles. Ele lembrou-se Marissa e isso trouxe à sua mente as palavras dela, a sensação da dor. Sem exitar, o feiticeiro selvagem invocou uma porta dimensional, que os carregou para o coração do Abismo, tanto ele quanto seus aliados.
Lá eles depararam-se com Kcor, o clone sinistro e sombrio de Rock, que mantinha Alissah subjugada numa planície árida e cinzenta. Ao redor, hordas infindáveis de demônios apinhavam-se como que espectantes por um espetáculo. Sobre suas cabeças, pairavam três dos grandes lordes abissais. Além de Orcus, que portava o cetro onde residia a alma de Yorgói, estavam ali Graaz'zt e Demogorgon.
O grupo investiu rapidamente para resgatar a elfa das estrelas. Ainda que isso tenha significado, Kcor atacar Rock e parecer drenar um tanto de sua própria essência. Úrsula tentou recuperar o centro com a alma do bardo gnomo, mas sem sucesso. Mesmo tendo suas forças sugadas, após o resgate por parte de seus aliados, aquele que era chamado de a chave dos planos conseguiu um novo curto teleporte que os devolveu ao plano material e às areias do Anauroch.