23 de mai. de 2012

Portais...

Cada qual em seu quarto, preparando-se para recolher-se após a reunião do conselho, nossos heróis sentiam-se frustrados. Desconcertava-os a arrogância dos elfos. Ainda assim teriam um longo dia pela frente, um longo dia tentando salvar essa cidade que não parecia aceitá-los.

Sirius Black caminhava impacientemente pelo quarto, embora não soubesse exatamente porque. Talvez fosse a incredulidade com os elfos arrogantes. O que quer que fosse, seu peito disparou com as batidas na porta. Ele já sabia quem era. Abriu a porta já manifestando toda a sua expectativa. Annia Evalandriel estava do outro lado e corou ante o entusiasmo de Sirius, que a recebeu nu em pelo. Apesar das súplicas dela para se recompor, Sirius acabou por atraí-la para dentro. Annia, no entanto, estava preocupada, tensa e inquieta.
- Você não entende, querido. Existem elfos intolerantes.. depois daquilo entre você e Maedros.. e essa reunião do conselho.. temo que aqui não seja mais um local seguro pra mim...
- Eu irei proteger você, gatinha. Eu tô aqui pra você, aliás vem cá e..
- Eu quero ir com você, Sirius, meu amado. Eu irei com você até a entrada do portal.. estarei esperando por você quando voltar.. e então seguiremos juntos para sempre. Nada será capaz de nós separar! - Essas palavras preocuparam Sirius, mas como Annia atirou-se sobre ele, tal pensamento logo lhe escapou. A ama mais uma vez levou o humano além dos limites da própria imaginação. Foi sem fôlego e suado que ele adormeceu ali ao lado dela...


Daphne escutou as batidas na porta e parou de acarinhar David. Este logo se pôs a farejar e a jovem druida soube que não seria nenhum problema. Entendia através dos sentidos de seu companheiro que ali estava a ama da rainha. Ao abrir a porta, deparou-se com Sparrow Eagle. Ela queria saber mais sobre a Grande Floresta e o clã Eagle. Daphne esmerou-se em tentar saciar a curiosidade dela, mas escapavam-lhe a maioria dos detalhes.
- Posso lhe garantir que nossa amada floresta corre perigo, Sparrow. Os treants também andam tomados pela arrogância. Estão cegos pelo ódio contra os fey'ri.
- O que são os fey'ri?
- Elfos corrompidos.. elfos demoniacos.. criaturas terríveis que também estão sendo usadas pelos phaerimms. Meu círculo druídico, assim como seu tio Falcon, optaram por seguir defendendo a floresta ao invés de avançar sobre os inimigos. Os treants, por outro lado, resolveram avançar e isso parece ter cobrado um grande preço. Gaios, o mais velho de nós..
 - Gaios? - Sparrow parece achar aquilo curioso - Eu conheci um garotinho chamado Gaios. Seu pai era um poderoso e importante druida, assim como o pai dele antes dele. Perdoe-me, mas não consigo deixar de me impressionar com a brevidade das vidas humanas. - E assim a conversa delas se estendeu. Após mais de uma hora, a ama se despediu e deixou a druida descansar.


Ehtur escutou batidas delicadas e sentiu o perfume adocicado, antes de abrir a porta com cautela. Ao deparar-se com a rainha Querdalla, não deixou de ficar surpreso. Ela sorria embora parecesse cansada.
- Boa noite, guardião. - ela disse entrando no quarto.
- Boa noite, majestade. - Ehtur fechou a porta.
- Espero que a reunião do conselho não o deixe com uma ideia errada de meu povo, Ehtur Telcontar. Infelizmente, são muitos egos por agradar.
- Existem coisas mais importantes que egos no momento. Por que eu?
- Porque eu vi as duas forças que unem este grupo de vocês. Além disso, muitas vezes aqueles que governam vêem-se de mãos atadas pelos deveres do governar. Minha posição fica comprometida pelos meus deveres. Minha mãe foi a rainha de um vasto império, assim como sua mãe antes dela. Minha filha não terá a mesma sorte, assim como eu não tive. Mas eu irei garantir que ela ainda tenha uma cidade para governar. 
- Nossa intenção é ajudar.. foi isso que nos trouxe até aqui, rainha. Mas vocês parecem estar mais ocupados com seus próprios problemas..
- Vocês foram muito generosos até agora, guardião. Não deixe a política afugentá-los. É certo que amanhã quando o portal estiver pronto e partirmos para salvar Sildeyuir, alguns o farão apenas por ganhos próprios. Eu estarei aqui junto de meu povo, mas sei que nesses momentos em que a cabeça fica ocupada, as mãos devem ser guiadas pelo coração. Eu confio em vocês, tenha certeza disso, mesmo que minhas ações ou palavras indiquem o contrário. Tome este selo, ele lhes dará acesso ao arsenal real, onde poderão preparar-se para a batalha vindoura. - Com esse gesto, Querdalla fez um reverência ao guardião e partiu, deixando Ehtur ainda mais inquieto.


Ryolith mal terminara a prece quando vieram as batidas na porta. Abriu e deparou-se com o angelical embaixador avariel Gabriel. Os dois encararam-se por um instante antes que qualquer palavra fosse proferida. Foi Ryolith quem falou primeiro:
- O que você quer aqui?
- Vim conversar.. se me permitir..
- Claro, mas não imagino o que você possa querer discutir com um humano.. 
- Parece-me que a reunião do conselho não o permitiu fazer o devido juízo de minha pessoa, caro paladino. Nós somos dois homens muito parecidos, servo de Tyr. Nós dois servimos a algo maior, a uma justiça transcendental e inescapável que mantém o mundo nos trilhos. Assim como eu, és um campeão empenhado em manter seu povo longe dos vícios e tentações do cotidiano. Longe de desmerecer seu talento e sua virtude, meu caro, eu estou aqui ara lembrá-lo que seu povo precisa de você.
- O que você sabe sobre meu povo, elfo?
- Eu sei que Cormyr está sob ataque. Sei que Tilverton foi obliterada e apenas trevas a envolvem. Sei que é lá que seu coração quer estar.. você não precisa morrer longe de casa, campeão. Não há causa mais justa do que lutar pelos nossos...
- E o que você tem haver com tudo isso?
- Nada. Sou apenas um servo dos deuses, como você, que percebe ser inútil navegar nesses joguetes políticos. Homens como nós se provam nas árduas batalhas. Eu amanhã poderei morrer feliz salvando Sildeyuir. E você, paladino? E lá que você deseja morrer?
-... - Ryolith não queria dar ouvidos aquele lobo em pele de cordeiro, mas não conseguia deixar de concordar. Ele já postergara demais o retorno ao lar. Sem palavras viu Gabriel dirigir-se à porta e dizer antes de sair:
- Peça à rainha. Ela o mandará para casa...


Arnoux beijava a barriga de Úrsula atrapalhando-a  a abotoar o pijama. Dizia como tinha planos para o garotão que viria dali. Foi quando vieram as batidas na porta. Ela empurrou Arnoux para o lado e foi abrir. Ficou surpresa ao deparar-se com o arquimago Rhange Hesysthance Sorrowleaf.
- Boa noite, pequenina. Não tive tempo de expressar todo o interesse que a presença de vocês despertou em mim. Infelizmente, as disputas e discussões da reunião do conselho foram por demais desgastantes. Ainda assim, espero que possamos tratar de negócios...
- Negócios? - desconfiou Úrsula bloqueando a entrada, pergunta repetida por Arnoux que se levantou da cama.
- Sim, negócios! - afirmou o estranho elfo se fazendo entrar passando por sobre a gnoma. - Percebi de pronto que vocês são do tipo astuto e perceptivo e que poderíamos ter interesses em comum. Eu preciso de olhos alertas capazes de me trazer boas informações e estou disposto a pagar um bom preço.
- Você quer nos comprar como espiões? - escandalizou-se Úrsula.
- Calma amor, pra que uma definição tão burocrática da coisa.. - disse Arnoux enxergando a chance de um bom negócio.
- Exatamente, meu caro. Não se trataria de um contrato mas sim uma livre associação para benefício mútuo.  Desde já, eu tenho a lhes oferecer esses belos anéis...
- São realmente belos.. - disse Úrsula sem conseguir deixar de se encantar com as jóias.
- Eles são capazes de deixar seus usuários invisíveis.. uma invisibilidade imperceptível até mesmo para as melhores magias..
- Até mesmo a visões mágicas verdadeiras?
- Sim.. e ainda é capaz de transformá-los em gás por alguns minutos. Serão seus caso aceitem minha amizade. - Sorrowleaf sorriu, o que foi um tanto bizarro.
- Nós não q...
- Calma, amor. Nós agradecemos, senhor arquimago e vamos pensar a respeito, se nos der algum tempo, nós..
- Façamos assim.. - disse Rhange deixando os anéis sobre a cômoda. - Aqui está o presente. Se algum dia tiverem algo a me contar, serão muito bem recebidos. Agora, se me dão licença, tenho um ritual por preparar...
O arquimago se retirou deixando os dois gnomos e os dois anéis para trás. Úrsula precisou  repreender Arnoux e guardar bem os anéis em sua bolsa mágica, para que o marido já não saísse colocando-os nos dedos. Arnoux foi dormir um tanto contrariado com a curiosidade atiçada.


Rock pensava se sonharia com os planos celestiais mais uma vez, quando ouviu as batidas na porta. Ao abrir, deparou-se com Marissa Stardust. A elfa das estrelas deu um sorriso meio sem graça, passou a mão nos cabelos arroxeados e perguntou se podia entrar.
- Claro, claro.. - disse Rock apressado e um tanto embaraçado.
- Desculpa vir assim.. tão tarde.. mas é que eu estou meio abalada com tudo aquilo que aconteceu na reunião do conselho. E por algum motivo.. sei lá.. eu sinto que você me entende, sabe? É uma empatia..
- Eu também sinto isso.. essa sintonia.. - sorriu Rock.
- Eu só queria minha vida de volta. Mas ao mesmo tempo tem sempre esse medo de decepcionar todo mundo. É muita responsabilidade.. uma princesa não devia ter de lidar com essas coisas..
- Eu entendo..
- Você também é um príncipe?
- Eu era o filho do chefe da tribo.. mas não era exatamente o que ele queria...
- Sei como é. E o que houve com ele?
- Foi morto.. morto por demônios que estavam atrás de mim.
- Sinto muito. - disse Marissa fazendo um carinho na grande mão do jovem bárbaro. - Parece que nós temos muito em comum.. demônios tigres estão destruindo meu povo. Deve ser o motivo da afinidade. Sinto que posso confiar em você, Rock. - Sem pensar muito, o grandalhão sentiu o coração disparar e resolveu aproximar-se para beijá-la. Marissa, no entanto, sem perceber, afastou-se um instante antes e sorriu. - Sinto como se fossemos irmãos, Rock.. obrigada por me ouvir. Espero que amanhã tudo de certo.. há de dar..  - ela esticou-se e beijou-o no rosto e saiu, deixando-o atônito e acordado ainda por algum tempo.


Rock sonhou com Sildeyuir. Tudo estava destruído e silencioso. Não havia sinal de mais nada.. apenas corpos de elfos das estrelas pelo chão. Sua visão o levou até um grande grupo de rakshasa reunidos.
Arnoux e Úrsula tiveram o mesmo sonho. Um grande mar de lava vindo de um vulcão devorava toda a Grande Floresta. A lava chegava até Brasillis.
Ryolith se viu uma vez mais em meio às trevas de Tilverton. Almas atormentadas cruzaram o ar próximas dele. Ele sentia a agonia daquelas pobres pessoas que não puderam se defender. Todas elas clamavam por justiça. Dessa vez, ele não buscou detectar o mal. Com isso a dor e o sofrimento se prolongaram.
Ehtur correu os olhos por uma planície rochosa e inóspita. O ar era pestilento e tudo ali cinzento. A única coisa existente eram os corpos feridos de Alissah e do homem que lhe roubara o metal das estrelas. Estavam acorrentados ao chão, presos em uma jaula de metal negro e retorcido. O céu queimava em chamas.
Daphne tornou ao sonho sombrio na Grande Floresta. Viu um treant sendo consumido em chamas por um fey'ri. Antes que pudesse agir, viu oito corujas chegarem em socorro, todas sendo consumidas no fogo.
Sirius Black sonhou que era uma mulher. Não uma mulher qualquer, mas a própria Alustriel. Viu-se cercado pelos phaerimms e sentia-os sugando a força mágica de seu corpo. Sirius Black podia sentir a voracidade da fome das criaturas a enfraquecê-lo. Enquanto era drenado, ainda ouvia as provocações e xingamentos dos monstros, que prometiam não só chupar a medula de seus ossos como chegar até Mystra, deusa da magia, através dela. A única coisa que finalmente o arrancou daquele circo dos horrores foi a voz da própria Alustriel:
- Acorde, Sirius Black. Você corre perigo.
Sirius abriu os olhos imediatamente. Diante de si, uma espada curta descia sobre sua cabeça. Desviou-se o máximo que pode o que não foi o suficiente. A espada desceu fundo em sua carne, quase cortanto o pescoço fora. O grito ecoou pelo castelo, sendo o suficiente para acordar todos os demais. O grito durou até a lâmina ser retirada. Longos segundos. O assassino afastou-se. Era um elfo vestindo-se de maneira escura e furtiva. Enquanto ele se preparou para um segundo golpe derradeiro, Sirius preocupou-se com Annia, mas também com a própria vida, que estava por um triz. Annia estava aterrorizada e gritou:
- Feche os olhos! - Havia tamanha certeza naquelas palavras, que Sirius obedeceu. Ele sentiu um breve calor que anestesiou um pouco a dor que o consumia. Ao abrir os olhos, ainda estava nu e banhado no próprio sangue, mas o inimigo jazia morto no chão. Tinha os olhos arregalados e fixos. Annia estava ainda mais abalada. Seus cabelos eram agora negros como a noite.
- Pela deusa. Por Corellon.. ó deuses.. o que eu fiz. Por quê.. por quê?
- Calma, gatinha.. tá tudo bem.. quer dizer.. vai ficar.. assim que eu for curado.. você conseguiu..
- Eu matei Sirius! Eu matei pra te salvar..
- Exatamente.. então não tem problema e..
- Eu matei de novo... não não não... - Annia estava fora de si e parecia falar mais com ela mesma. Vieram logo batidas na porta e a voz preocupada dos companheiros.
- Sirius? O que houve? - gritou Ehtur.
- Está tudo bem, pessoal. - disse Sirius se cobrindo e abrindo a porta. - Alguém tentou me matar.. um elfo... a Annia me salvou, mas eu tô precisando ser curado. Cade o paladino?
- Onde está o assassino?.. - ia dizendo Ehtur, quando os guardas chegaram perguntando o que havia acontecido. Enquanto os gnomos contavam o que ouviram, Sirius e Ehtur entraram e analisaram a situação. O guarda os informou que era um membro dos Eldreth Veluuthra, "a espada vitoriosa do povo". Uma organização de elfos xenófobos, que consideravam os humanos piores do que orcs. Pode reconhecê-lo pelo medalhão que representava uma folha partida por uma espada. Isso foi o que conseguiram saber antes que outro guarda chegasse informando do assassinato do patriarca Inglorium. Gildor Inglorium fora morto por um assassino dos Eldreth Veluuthra e com seu sangue fora escrito nas paredes "amante dos humanos". Os guardas deixaram tudo de lado e saíram imediatamente.
Muito abalados, nossos heróis acharam melhor ter com a rainha. Antes disso, curaram Sirius e recolheram o que podiam do assassino, deixando o corpo ali mesmo. Annia sumira durante a confusão.
Encontraram a rainha teleportando Ryolith Fox de volta para Cormyr. Informou-os do pedido do colega, assim como alertou-os de que os planos não podiam para. Sildeyuir aguardava por ajuda. Os arquimagos findavam o ritual que abriria a passagem para o plano dos elfos das estrelas.. todos deviam estar preparados. Rock alertou para o que vira em seus sonhos, mas a confusão engoliu seus apelos. Ehtur entendeu que nada daquilo era produtivo e conduziu os camaradas até o arsenal, onde puderam se equipar com o melhor do armamento mágico élfico graças ao selo real que ele trazia. Úrsula aproveitou para mostrar os anéis para Yorgoi, que confirmou suas propriedades mágicas. Ainda assim, ela os manteve guardados. 
Quando saíram do grande salão, Annia os aguardava.. tinha os cabelos brancos novamente e logo refugiou-se no abraço de Sirius Black, suplicando para que ele a protegesse e sobrevivesse, pois ela estaria lá a aguardá-lo. Ela mesma os guiou até a academia arcana diante da qual seria aberto o portal. Embora nenhum deles mencionasse, sentiam falta da aura de coragem que o paladino acrescentava ao grupo.
De fronte à Academia Arcana, encontraram todos os arquimagos élficos concentrados no ritual mágico que abriria uma passagem entre os dois planos. A enorme explosão energética que se seguiu gerou o assombro de todos que lá se encontravam. A enorme tropa de 5 mil soldados que aguardava para entrar e resgatar o maior número de elfos das estrelas possível não conteve o espanto diante da carga de pura energia que como uma rede, interligava todos os poderosos arcanos. Essa energia acabou por convergir sobre Rhange Hesysthance, de onde irrompeu rasgando a própria realidade e transformando a frente do prédio da academia num espelho translúcido por onde vislumbrava-se algo além. Podiam ver as formas borradas e distorcidas de Sildeyuir do outro lado.


- Avançar!!! - gritou Gabriel, que voou e foi o primeiro a atravessar.
- Por Sildeyuir. Por Evereska!!! - gritou Maedros chamando a tropa, que avançou. Marissa estava ansiosa e impelia o grupo a avançar logo.
Do outro lado, no entanto, o cenário não era o mesmo que anteviram. Do outro lado haviam milhares de Slaads, que caíram como uma avalanche sobre os elfos. As tropas levavam a pior, enquanto apenas Maedros e Gabriel destacavam-se. Sirius, Daphne, Rock e Arnoux tentaram ajudar como puderam, ganhando tempo para que Ehtur e Úrsula, que usavam os anéis de Rhange, seguissem invisíveis e descobrissem um modo de resgatar os prisioneiros, embora pelo caminho só vissem mortos. Os arquimagos desferiram uma poderosa magia, que ergueu as águas do rio e fazendo-as estuporar centenas de slaads. Ainda assim, caíram 5 elfos para cada slaad. Sirius foi atingido e ficou bastante ferido. A situação ficava cada vez pior.
E foi justamente quando o portal atrás deles se fechou...

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