13 de mar. de 2012

Os senhores da floresta...



Enquanto seus aliados buscavam auxiliar Ehtur, sem saber de nada, Daphne Amkathra voou como um falcão para a Grande Floresta. David acompanhava-a a certa distância e foi preciso cerca de um dia até ela avistar Sting posicionado sobre uma árvore. A partir daí foi simples encontrar os demais reunidos na Árvore do Avô. Esse colossal carvalho havia sido convocado pelos elfos muitos milênios atrás e era um referencial constante, assim como o vulcão das Montanhas das Estrelas.
Gaios a recebeu com satisfação por vê-la bem, dando-lhe um longo abraço como um pai saudoso. Escutou atentamente as notícias que a jovem druida tinha para relatar. O velho druida não pareceu surpreso em momento algum, mesmo que atentasse para o perigo alarmante de tudo aquilo.
- O grande treant Turlang, escolhido de Silvanus, Senhor da Natureza, convocou todos os druidas para um círculo de comunhão sagrado. Tenho certeza de que as notícias que o movem vão ao encontro das que você carrega, Daphne. Você cumpriu bem seu papel e os pássaros já haviam me contado sobre o sucesso vosso em auxiliar as tropas vindas de Waterdeep. No entanto, as movimentações dos ataques seguem intensas no sul e parecem mais do que simples investidas...
Seguiu-se mais um dia de viagem, dessa vez por terra e já sobre o pelo macio de David. Ali estavam todos os membros do círculo druídico de Daphne, sua verdadeira família, muito mais do que os sórdidos Amkathra. Gaios era o líder ainda que líder não houvesse. Era velho e poderoso, o que significava sabedoria suficiente para liderar sem um título para tal. Era também um servo de Silvanus e tinha como companheiro um urso negro de nome Ataulfo.


Felícia Eagle, prima de Alissah, a amada buscada por Ehtur, era uma druida experiente com seus mais de 300 anos, muito embora seu temperamento antissocial limitasse o alcance de sua sabedoria. Ela possuia como companheira uma imensa aranha armadeira chamada Ariadne, além de servir a Rillifane Rallanthil, deus élfico dos elfos selvagens e da natureza intocada.
Kyoto Matsuchito era um humano diferente não apenas por suas feições orientais, mas também pela experiência que trazia das terras além da famigerada Horda. Ainda que não falasse sobre o passado, o rapaz possuia um dom especial no preparo de poções, infusões, chás e emplastros. Caminhava com um lobo selvagem chamado Tártaro, vindo da mesma ninhada de David. O companheiro anterior do druida, um tigre branco chamado Lee, pereceu em um combate muitos anos atrás. Ele servia a Lathander, deus do sol e do nascimento, embora o chamasse de Lay Fan Ter.
Sting era o mais próximo de Daphne. Suas brincadeiras e seu companheirismo faziam dele uma espécie de irmão mais velho. Era um meio-elfo próximo da meia idade nascido nas terras frias de Invernunca no litoral norte. Possui 8 corujas a acompanhá-lo, sendo a mais antiga e preferida Roxanne. Serve a Shandakul, senhor dos caminho e das viagens, o que faz dele um ser um tanto inconstante.
Chico Mendes era um dos druidas com quem Daphne tinha menor afinidade. Ele é um servo de Grumbar, senhor da terra, o que faz dele um sujeito calado e centrado. Chico possui um macaco que o acompanha todo o tempo de nome Anísio.
Planeta é um elfo do sol, uma variedade um tanto mais arrogante e intelectual de elfos. Além da pele mais bronzeada, ele possui um falatório ininterrupto. Suas referências são sempre os tempos gloriosos de outrora, quando os elfos comungavam das forças naturais em todo seu esplendor. Plannetha é um servo da deusa do ar Akadi. Por isso, Chico Mendes é especialmente intolerante ao falatório do elfo do sol, embora nunca tenham discutido na presença dos demais. Ele é acompanhado por cinco micos dourados, que constantemente importunam Anísio.
Cousteau é outro dos druidas elementais. Ele serve a Istishia, senhora das águas, e possui uma lontra, Flipper, como companheira. Todos temem Costeau, que é quase tão velho quanto Gaios, mas aparenta ser muito mais antigo. Ele carrega algo de estranho nas profundezas segundo Daphne, algo frio e sombrio como o fundo do mar.
Ferlima é a última dos druidas elementais, sendo serva de Kossuth, deus do fogo. Ela possui uma grande serpente de fogo chamada Luzdel. Essa elfa tem um apreço particular pela renovação que o fogo representa, tendo muitas discordâncias do tradicionalista e continuísta Cousteau.
Marina, serva de Mielikki, deusa dos guardiões e das criaturas das florestas, tem muito do lado combativo da deusa. É provavelmente a melhor lutadora do círculo, pois já possuia treinamento militar em Secomber antes de abraçar a vida na natureza. Ela tem um javali bonachão chamado Pumba.
Outra figura de destaque é o centauro Quírion. Sempre acompanhado de sua águia Isabeau, o druida é provavelmente o mais estimado depois de Gaios. Quírion tem muitos contatos com as criaturas mágicas da floresta e com as fadas locais. Ele serve a Selune, deusa da lua.
Daphne sentiu falta de Phaulia e foi informada de que a velha druida fora morta em uma das batalhas pela proteção da floresta. Foi então apresentada a Papoula, neta de Phaulia, uma menina de não mais do que 16 anos e que agora trilhava os passos da avó. Como fez sua avó antes dela, Papoula servia a Chauntea, deusa da agricultura, e possuia um texugo chamado Bascombe. Daphne não pode deixar de derramar algumas lágrimas pela antiga companheira, mas ficou feliz em ver a mesma fibra em sua descendente.
No dia seguinte, o círculo de Daphne uniu-se a outros como o Enclave Esmeralda, vindos do sul, representados pelo elfo Giliard e pela humana Rosemary. O Alcance da Pedra era um grupo vindo de sudoeste e que parecia especialmente preocupado. Eram liderados pela elfa da madeira Izai Thunnnvangan, uma aguerrida mulher. O Vôo da Fênix vindos de sudeste dava conta da destruição causada pelo vulcão, enquanto os Carvalhos Calados aguardavam o que ia acontecer. Toda a reunião era cercada pelos treants, árvores vivas e capazes de mover-se caminhando com as raízes. Daphne via bem ao menos dezesseis deles,muito embora soubesse que haviam outros disfarçados como árvores.
Daphne estava ansiosa, pois tivera o privilégio de ver o grande Turlang apenas um vez. Ele surgiu majestoso, duas vezes maior do que qualquer treant ali presente e rivalizando com a copa das árvores mais altas. A boca era um grande buraco, como a toca de um animal, escavado no tronco. Os olhos eram formados por dois pontos onde a casca enrugava e ganhava contornos mais densos. Limo e folhas davam ares de cílios e palpebras.
- É com grande pesar que os convoquei aqui, filhos da natureza - começou a falar o velho Treant com sua voz pesada e pausada. - Há muitos séculos cabe a mim a salvaguarda do equilíbrio desta floresta primordial. Infelizmente, vivemos tempos sem sentido em que a destruição avança sobre a criação e o nada devora o tudo. Desde o terrível eclipse, ataques incontáveis tem caído sobre os seres indefesos dessas matas e vocês tem dedicado vosso suor e sangue à proteção dos necessitados. Ainda que vossos esforços não sejam em vão, os inimigos parecem movidos por algo muito além de suas mentalidades simples e destrutivas.


- É verdade, nobre Turlang - interviu Daphne. - Assim como informei Gaios, é meu dever informá-lo do que vi.
- Fale, criança.
- Enquanto caminhava com um grupo de heróis para libertar a cidade de Brasilis, nas cavernas sob a cidade, descobrimos através de um dragão que os senhores dos ataques são os phaerimms, os devoradores de magia e perturbadores do equilíbrio. - Essas palavras geraram um burburinho que percorreu a boca de muitos dos presentes. Questionavam-se se criaturas das lendas poderiam estar por trás de tudo aquilo. O clima ficou carregado, mas ela prosseguiu. - Um historiador me garantiu que esses monstros terríveis foram aprisionados a muitos séculos e, ao que tudo indica, estão livres agora. Nós temos combatido peões apenas...
- Temo que suas informações sejam apenas a casca dessa dolorosa ferida, Daphne Amkathra - silenciou a todos com sua voz retumbante, o velho treant. - Não são os phaerimms a maior ameaça, mas sim aqueles que os libertaram - e dito isso, um dos treants arremessou para o centro da clareira uma curiosa criatura morta. Ela parecia um híbrido. Possuia asas demoniacas, chifres e um rabo. Seus traços, no entanto, eram delicados e dourados como os de um elfo do sol. - Eles chamam-se de Fey`ri.. uma raça nefasta que macula a bela tradição élfica conspurcando com demônios. Eles lançaram esse terrível mal, mas nós podemos por fim a isso tudo marchando sobre a Fortaleza do Portão do Inferno, onde essas criaturas e seus servos estão entocados. A floresta irá envolver as paredes e nossas raízes lhes roubarão o chão que chamam de teto.
- Mas isso irá desguarnecer nossas defesas.. irá nos deixar à mercê dos demais inimigos, sábio escolhido - ponderou Gaios. - Nossa obrigação vai muito além de punir os responsáveis.
- Nosso dever é exterminar os culpados para que o equilíbrio possa ser restaurado, velho amigo. Sem a cabeça que os guia, os monstros e mesmo os phaerimms irão recuar aturdidos. Poderemos então vencê-los sem maiores preocupações. Devemos atacar para nos defender.
Apesar de todo o respeito que todos tinham por Trulang, Daphne percebeu que o conselho estava dividido. Boa parte dos druidas, já cansados de tantas batalhas e desejando vingar amigos e protegidos, ansiavam por marchar com os treants e por um fim em tudo aquilo. A visão do elfo demônio foi impactante e havia exaltado os ânimos de alguns. Outros, no entanto, pregavam a cautela e acreditavam que a prudência devia ser a guia das ações. A Grande Floresta era vasta e era difícil imaginar que os problemas de todos pudessem se resolver com um único ataque focado. Gaios era quem liderava os discordantes.
Felícia, Kyoto, Marina e Quírion estavam entre os que desejavam a batalha, assim como o círculo do Vôo da Fênix. Sting, Chico Mendes, Planeta, Cousteau e Ferlima estavam ao lado de Gaios, tal como os círculos Enclave Esmeralda e Alcance da Pedra. Nada se sabia sobre os Carvalhos Calados. Apenas Papoula, inexperiente que era, não havia tomado um partido. Como os debates eram longos e exaustivos, todos resolveram unir-se em uma prece e um ritual para cuidar de todos os seres vivos daquele ecossistema. Formaram um grande círculo.. deram as mãos.. tornaram-se uma única força de pureza abençoada e se puseram a emprestar suas energias para curar a floresta.

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