15 de nov. de 2014

À espera de um milagre ou o partido dos trabalhadores...


Mal tinha reativado o fragmento do mythal que seus dedos alcançaram, Derdeil Óphodda viu o mundo acima dele ser coberta pela monstruosidade rósea devoradora de magia. A criatura sugara o que restara de magia nos itens que Mari'bel tomara dos drows e vinha agora saciar seu desejo pelo escolhido de Azuth. O corpo da fada permaneceu catatônico na beirada do fosso. Chuck Norris, o druida da Grande Floresta, ainda tinha uma pata encostada no mago após curá-lo. Braad preparava-se para o combate, uma vez o diabo que segurava desaparecera. O monge golpeou a forma enevoada do monstro sem temer o que lhe pudesse acontecer. Algo foi atingido como uma mandíbula que perdesse os dentes, mas também uma mente alienígena tentou dominá-lo.
- Merror no enconstar nesso, camaradas... - alertou o mestre da bebedeira.
- Não vamos, meu velho... - disse o mago e clérigo usando seus poderes de escolhido e tirando os três dali com uma porta dimensional. Ele invocou a passagem sob seus pés de modo que as pedras do mythal fossem carregadas com eles para muito longe dali.
Rufus viu os companheiros partirem e esgueirou-se para dar fim nos wights presos à teia. Pena Branca voou rapidamente e recolheu a desacordada Mari'bel, carregando a fada para fora do palácio, onde Sérgio Reis aguardava e para onde se dirigiu o corvo Edgar. Todos torceram para que o monstro não resolvesse se ocupar deles.
O bardo aguardava olhando para janela e viu o nishruu seguir de volta para o corredor por onde todos chegaram ao salão principal. Sérgo curou a fada arqueira imediatamente e ela logo disparou algumas setas para ajudar o hobbit, embora quem precisasse de ajuda fossem os mortos-vivos.
- O arquimago... o arquimago... livro de magia.. - gritava Edgar entregando o pesado livro que carregava para o bardo.
- Onde ele está? - Disse o bardo pegando o tomo.
- Caído na torre... tem outra fumaça rosa vindo de lá... - alertou o corvo.
- Pena Branca... vá com ele resgatar o arquimago Eurípedes para podermos curá-lo - comandou Sérgio.
- Sim, escolhido.. - falou o elfo diabólico voador.
Derdeil surgiu com seus companheiros na floresta de Cormanthor a poucos metros das ruínas. Ele ainda via pelos olhos de Edgar, apesar de não sentir o pequeno corvo como seu familiar.
- Precisamos sair daqui... os outros estão vindo... aquela porcaria rosa também - alertou o mago.
- E lo mythal? - Questionou Braad catando já alguns fragmentos.
- Use minha capa... - entregou-a Derdeil.
- Posso virar uma montaria... - Chuck Norris assumiu a forma de um grande cavalo. - E ter movimentos livres mesmo entre as árvores - ele conjurou uma magia de liberdade de movimentos.
- Andem... vou esperar por lossotros... ban... ban... - despediu-se Braad voltando furtivamente e bebendo um pouco de rum.
Enquanto Chuck Norris cavalgava velozmente, Derdeil acrescentou uma magia de rapidez, que deixou o druida velocíssimo. O monge, por sua vez, logo encontrou um cão trêmulo de medo que logo veio cheirar sua garrafa.
- Rufus... venga rapaz... aqui... calma... lo perigo se foe... beba esso... bamos... venga Rufus... - bastou um gole de rum e a companhia para o cão ficar tranquilo.
Dentro do palácio arruinado, Rufus se ocupava de recolher o que havia nos cadáveres ambulantes que destruira. Mari'bel e Sérgio já se escondiam para sair dali, quando viram o grande grupo de drows que chegou. Abrindo a antiga entrada principal do saguão, as duas principais clérigas vampiras de Lolth passaram ordens para as outras, que foram até o fosso do mythal. Os dois guardas lidaram com o sugador de magia. Rufus viu que eles lançaram um par de itens mágicos que atraiu a atenção do monstro, enquanto as mulheres elfas negras de trajes mais leves conduziram uma inspeção da área do mythal. Elas não demoraram em sair dali e quando ninguém mais havia, o hobbit percebeu que o monstro vinha atrás dele e correu por onde foram Mari'bel e Sérgio Reis.
Enquanto isso, Pena Branca chegou ao alto da torre, onde encontrou o arquimago Eurípedes caído como dito pelo corvo Edgar. Recolheu-o e voou em direção às árvores para onde via seu metre Reis ir, mas isso fez com que fosse visto pelos drows. As clérigas preferiram se teleportar dali, mas deixaram seus guardas para atacar o elfo alado. Quando este se reuniu ao grupo, que também via o imenso nishruu seguindo pelas árvores no mesmo rumo de Derdeil Óphodda, os guardas drows preferiram recuar. Foi quando alguém surgiu entre as árvores à frente do monge...


As palavras de Cameron Noites fizeram Kaliandra Boaventura ter certeza de que precisava de ajuda maior.
- Nós precisamos tirá-la de lá... - disse a elfa.
- Nós precisaríamos de um clérigo muito poderoso para abrir um portal entre os dois planos... - disse Cameron.
- Devemos retornar até Ryolith Fox então. Se há alguém que pode nos ajudar nesse sentido é ele... - falou a serva de Bibiana levando seu consorte consigo, além de Dhyon, o responsável pelo templo.
Eles voltaram a cruzar Forte Arsheben, vendo que pela tarde já não era hora de dar conta dos mortos e feridos, mas de se preparar para a nova batalha que se avizinhava, talvez a derradeira para aquelas pobres almas. Os que não eram da luta se recolhiam em seus casarões com portas e janelas fechadas e reforçadas. Todos os que podiam empunhar uma arma, fossem homens ou mulheres, se preparavam para uma batalha que parecia perdida.
Kalliandra e Cameron chegaram ao templo de Tyr e dali aos aposentos do santo paladino Ryolith Fox, que lidava com seus capitães para fazer o que ainda fosse possível para salvar a cidade e o povo. 
- Perdoe incomodá-lo uma vez mais, caro Fox. Mas ainda mais grave que a ameaça morta-viva, devo dizer que a deusa dos elfos encontra-se à beira da destruição drenada por um ser extraplanar que suga magia... - não perdeu tempo Kaliandra tão logo teve a chance.
- Como disse aos teus companheiros... - interrompeu-a Ryolith. - Não irei abandonar minha cidade e meu povo! Não partirei em missão alguma!
- Faltam poucas horas pro anoitecer, santo Ryolith... - disse um dos clérigos de Tyr.
- Está bem... mas nos ajude... - acrescentou Cameron. - Temos de alcançar Bibiana.
- Nós precisamos de um clérigo que possa nos ajudar... que nos leve até lá... - disse Kaliandra.
- Mas isso teria de ser feito por um clérigo da sua deusa... ou alguém realmente poderoso... - discordou o paladino.
- Há alguém aqui assim? - Pressionou Cameron.
- Imagine o que acontecerá se a deusa dos elfos foi destruída, Ryolith Fox. É o que Tyr deixaria acontecer?!? - Protestou Kaliandra.
- Está bem... o clérigo Aspásio irá levá-los até os pergaminhos que temos disponíveis... o que puder lhes ser útil sem mitigar nossas defesas lhes será dado... - garantiu o servo de Tyr voltando a dedicar-se aos seus capitães. - Nossos equipamentos e recurso são poucos e estão sucateados, pois os desgovernos de Faerun nunca olharam além de seus próprios interesses oligárquicos e mesquinhos. Ainda assim, eu resolvi mudar as coisas por dentro... não como os radicais do partido do sol que tomaram Suzail, mas aqui entre o partido dos trabalhadores, aqui eu tentei mudar as coisas de dentro. Essa será a minha justiça
- Eu sempre soube que eras do partido dos trabalhadores, santo Ryolith Fox - comentou Kaliandra com um sorriso. Kaliandra Boaventura e Cameron Noites conseguiram dois pergaminhos divinos de viagem planar. Dhyon leu o primeiro deles e a elfa viu sua visão tornar-se realidade. Eles lutaram até encontrarem o corpo de Bibiana Crommiel, senhora dos elfos, sentido a magia que havia neles ser drenada. Mesmo no limite de suas possibilidades, o trio conseguiu partir com a deusa, que parecia uma simples e comum elfa. Surgiram no perímetro de uma outra floresta diante de um surpreso mestre da bebedeira tatuado e um cachorro.


Enquanto Derdeil Óphodda e Chuck Norris seguiam disparados entre as árvores da floresta de Cormanthor rumo a Forte Arsheben, aumentando sempre a distância em relação às ruínas de Myth Dranor, os que ficaram e o nishruu, seus aliados se reuniam já sem ver a criatura maior que seguira em busca do escolhido de Azuth. Kaliandra lhes mostrou o corpo inerte de Bibiana. Pena Branca também mostrou o corpo catatônico do arquimago Eurípedes.
- Parecem sofrer do mesmo mal... - disse Mari'bel.
- Estão sugados de toda a magia... - analisou Cameron Noites.
- Azuuuuuzuuuuu... - disse Rufus abraçando sua montaria. - Aliás... tem outra fumaça rosa sugadora de magia vindo aí...
- Mestra Kaliandra... - disse  Edgar aproximando-se dela.
- Precisamos dar energia para ela... - Boaventura ficou concentrada em sua deusa.
- A água do mythal... - disse Mari'bel pegando seu barril e derramando-o sobre a deusa. No entanto, a água nada fez. - O poder foi sugado pela criatura... perdi toda a energia mágica que estava em mim...
- Eu resolvo isso.. - disse Sérgio Reis derramando seu barril. Apesar de planejar apenas um trago para a tal deusa dos elfos, o bardo viu toda a energia derramar-se caudalosa e envolver Bibiana Crommiel, que piscou os olhos e despertou.
- Kaliandra... Cameron... pela graça dos elfos... devo lhes agradecer, meus filhos.. - disse a senhora dos elfos Bibiana Crommiel com a voz um tanto fraca.
- A deusa está salva... - comemorou o clérigo Dhyon, que também deu primeiros-socorros em todos.
- Prazer, Sérgio Reis... acho que você lembra de mim..
- Claro.. o sobrinho de meu escolhido.. John Falkiner...
- O escolhido John Falkiner... o escolhido Sérgio Reis... - gritou Pena Branca.
- Somos todos um só... - disse Bibiana pondo-se de pé com a ajuda de Boaventura.
- Nossotros temos de levantar el arquimaguito... - lembrou Braad abrindo um barril de rum.
- Use a água do mythal nele... - indicou Mari'bel. O monge foi mais cauteloso e usou um copo de madeira para entregar cinco doses para enfim levantar Eurípedes. Ainda foi necessária mais uma para fazê-lo conseguir por-se de pé e conversar com todos.
Chegaram ao consenso que era necessário um teleporte, uma vez que o segundo Nishruu já vinha bem próximo. Eurípedes, no entanto, possuía apenas mais um teleporte que poderia invocar, graças aos seus poderes especiais de arquimago e eram muitas as pessoas.
- Leve Bibiana... o mais importante é a deusa dos elfos estar em segurança! - Afirmou Kaliandra.
- Em segurança em Forte Arsheben? - Ponderou Sérgio. - Não é pra lá que vai a horda de mortos-vivos? Enfim... por que você não usa a página do seu livro de magia como pergaminho. Alguém lê e leva o restante...
- Isso estragará meu livro de magia, bardo. - Desdenhou Eurípedes.
- O que será mais importante nessa hora derradeira, ó grande arquimago que deseja como eu salvar essa cidade? - Disparou Sérgio sua diplomacia.
- Essaaa cidadeeee - repetiu Pena Branca, enquanto seu mestre prosseguiu:
- Preservar a integridade desse livro tão belo e importante, mas que o seu poder e recursos podem logo substituir por uma outra peça ainda mais digna da sua magnânima pessoa... ou dar a chance que algumas pessoas com capacidade de transformar situações adversas em possibilidades de vitória e salvação da massa campesina que continuará sofrendo no cotidiano injusto de uma sociedade desigual?
- Está bem... que seja... - concordou o arquimago a contragosto rasgando a página de seu tomo e entregando a Cameron.
- Aqui é o time do povo... - comemorou Sérgio Reis com Pena Branca.
Com dois teleportes, eles surgiram em Forte Arsheben. O crepúsculo se aproximava, mas não havia ainda sinal de Derdeil Óphodda, Chuck Norris ou do mythal. Procurar Ryolith Fox foi a primeira coisa que pensaram. Encontraram-no reunido com os demais servos de Tyr e capitães já a caminho da muralha para guiar a luta pelo amanhã. Ao longe todos escutavam os ruídos da morte ambulante.
- Espere Ryolith - chamou Kaliandra. - O mythal, a única esperança da cidade, está a caminho...
- Por que não o trouxeram? - Resmungou o santo paladino sem parar.
- Fomos atacados por nishruus, dragões e drows... perdemos Shun... - respondeu Eurípedes.
- Precisamos de teleportes para buscar Derdeil, Chuck e o mythal... - demandou Mari'bel.
- E otras cossitas más... - acrescentou Braad bebendo mais rum.
- Não temos nada assim disponível... - disse Ryolith simplesmente. - O pouco que temos será concentrado na defesa, não em vãs esperanças utópicas...
- Ao menos uma magia de divinação... uma magia de vidência para vermos onde estão! - Protestou Kaliandra.
- O clérigo Aspásio cuidará disso... mas ele precisa de uma hora. - Ryolith Fox subiu a escadaria rumo ao alto do muro sendo seguido pelos demais oficiais de Tyr. Havia agitação entre os defensores de Forte Arshben como entre o grupo de aventureiros.
- Vamos para o meu templo, meus filhos... - disse Bibiana Crommiel sendo seguida pela maioria deles. Mari'bel e Eurípedes subiram atrás de Ryolith Fox, quando os últimos raios de sol começavam a se despedir em tons multicoloridos do céu. Braad abriu mais um barril de rum, sentou na praça e se pôs a beber.


Enquanto cavalgava sobre Chuckk Norris em forma de cavalo, Derdeil Óphodda permitiu-se examinar e estudar as pedras. Ele percebeu que a energia que ele depositara no fragmento do artefato e que fora capaz de expulsar todos aqueles diabos, estava agora se espalhando para os outros fragmentos. Aquilo parecia estar aumentando a intensidade do poder que ele trouxera e doara. O escolhido de Azuth concentrou-se e conectou-se ao campo do mythal, o que fez sentir a energia do tecido mágico de Faerun através do mythal, mesmo que a energia não estivesse concentrada nele, mas sim nas pedras. Ele pensou que Chuck Norris deveria fazer o mesmo quando parassem.
Em mais alguns minutos eles chegaram à estrada e sabiam que faltava ainda um par de horas até a cidade. Mas no céu, o sol já se fora.


Com a escuridão daquela noite sem luar que acabava de começar, a killoren Mari'bel via os mortos-vivos despontarem. Uma horda. Uma horda duas vezes mais vasta que a da noite anterior. Os arautos da destruição cuspindo ácido e marchando vindos principalmente do sul e das árvores a oeste.

No templo de Bibiana, reunidos aos outros elfos ainda entorpecidos pelos cogumelos, Bibiana conclamou todos os seus filhos a uma oração.
- Orar irá nos salvar, Bibiana? - Quis saber Dhyon.
- Não é a luta que irá salvar essa cidade.. - ponderou Cameron Noites.
- Temos de restaurar o poder de Bibiana... - concordou Kaliandra Boaventura.
- Rezem, meus filhos... - disse a deusa. - À espera de um milagre.



8 de nov. de 2014

Dois ângulos do mesmo problema

Em forte Asherben, depois que o grupo se teleportou, Kaliandra viu-se no aposento de Ryolith Fox no templo de Tyr. Cameron Noites a olhava com certa piedade amorosa.
- Você nunca devia ter se prendido àquele pássaro agourento de discurso histriônico... ele sempre me pareceu uma companhia apropriada para o bardo pouco dotado.
- Eu irei cuidar de posicionar e orientar todos os homens e mulheres em condição de lutar que ainda temos - falou Péricles, o chefe da guarda fazendo uma reverência ao santo paladino de Tyr.
- Agora que eles partiram, tenho coisas a tratar com meu deus e esse povo que depende de mim. Temos poucas horas até a horda morta-viva voltar... - Ryolith despediu-se sem parecer importa-se com a elfa ainda um tanto aturdida com a atitude infamiliar de seu familiar.
Cameron os levou de volta às ruas de Forte Asherben, onde tudo parecia o presságio do apocalipse. Carrinhos apinhados de corpos iam sendo carregados para a cremação. Feridos e mutilados eram amparados, enquanto tropas desmoralizadas vagavam sem vontade para os muros.
Encontraram o templo de Bibiana ainda largado como antes. Havia uma grande marola de cheiro forte, não como a erva dos hobbits, mas como cogumelos das profundezas.
Dhyon levantou-se cambaleante ao vê-los entrar e ofereceu o cigarro de cogumelos.
- Com a graça de Bibiana. Sejam bem vindos de volta, meus irmãos de Encontro Eterno. Depois do que aconteceu com a elfa demoníaca Sarya Dlardrageth é melhor deixar pra lá essa ideia de contactar Bibiana.
- Vamos só fumar ae... disse o outro dos elfos Xoge.
Não diga tal coisa - respondeu Kaliandra rispidamente a Dhyon. - Nos momentos de maior necessidade não temos que perguntar o que nossa deusa pode fazer por nós, mas sim o que nós podemos fazer por nossa deusa! Conclamo a todos em oração à Bibiana. Nossa fé inabalável dará a ela as forças para combater o mal.
No altar, ela tocou o chão com o joelho direito e levantou o punho aos céus. - Óh Bibiana, aquela que nos uniu a todos, flagelo das aranhas na escuridão, esperança do belo povo, faço a ti uma reverência, tenha em mim um pilar de sua força e graça, pela união dos elfos, venceremos!

Kaliandra repitiu a oração como um mantra por longos minutos. - Peço a ti, óh deusa de todos os elfos, que me ajude a escolher um famíliar digno de tua glória e poder. Se é da escolha do anterior alçar outros vôos, que assim seja. Tendo repudiado a vida inteira tidas as forças de escravidão, liberto Edgar do fardo de ser meu seguidor e companheiro. Com essas palavras, e pesar no coração, desfaço o elo familiar que nos unia.

No, entanto, Kaliandra sentiu que nada mudou.
- Você precisa tomar sua energia vital de volta... a que depositou no pássaro agourento - disse Cameron. - Só assim poderá ter outro familiar...
- E cuidado... - disse Dhyon um pouco acanhado depois do tom que usara com ele, mesmo que todos tivessem orado em uníssono com você. - Se você acabar vendo o que a outra viu, pode-se ficar catatônica como ela.
- Pô, mas essa oração aí foi muito massa aí... - disse o elfo Rinkho.
- A união não resolveu nada... somos diferentes... estamos unidos.. mas vamos morrer... - disse o elfo Powl.
- Senhores, o temor não pode se apoderar de vossos corações. O que ocorreu foi uma tragédia ainda não esclarecida. Mas nossa confiança não pode se abalar afirmou Kaliandra. Ela pensou e sabia que poderia depositar sua energia vital em outro familiar, mas sem recuperar a energia que depositara em Edgar, isso a enfraqueceria muito, além de exigir muito tempo que ela não tinha.

- O meio mais fácil é recuperarmos o pássaro quando ele voltar e tirar a energia dele. - Concluiu Cameron como se fosse óbvio. - Isso, claro, se aquele mago vil não tiver sugado a energia para ele usar em algum ritual malévolo maligno do mal...
A mente da guerreira-maga elfa, no entanto, já estava entregue às orações e sentia com se lhe viesse agora os vislumbres de um outro lugar.
Talvez fosse o cheiro forte da fumaça dos cogumelos, mas Kaliandra sentiu um pouco como se sonhasse acordada. Não havia mais a voz de Cameron ou dos outros elfos, havia apenas uma bela floresta como em Encontro Eterno. Mas o belo lugar parecia coberto uma névoa rósea e tudo além da beleza física, parecia perdido. Não havia magia, não havia alma, não havia positividade naquele ambiente. Era como uma cópia de cera ou uma bela pintura de um lugar realmente único. O nevoeiro róseo a incomodava e parecia sugar suas forças também, suas magias.
Foi então que seus olhos viram que a névoa se fazia mais densa no centro das árvores. Ali parecia um verdadeiro âmago de toda aquela neblina, mas não conseguia sequer discernir as arvores naquela direção.
Cada árvore que Kaliandra tocava enquanto caminhava parecia pedir socorro em sua mente. Era como se fossem tão antigas quanto o universo e pudessem se expressar pelo farfalhar de suas folhas. Mas a névoa não tinha interesse nelas.. não mais. Cada vez mais próxima do centro, a destemida Boaventura apertava os olhos tentando ver melhor.
Sua forças também iam se exaurindo. Ainda que sua energia vital continuasse sua, assim como a floresta, a perda da magia tirava o que tinha de mais especial. Era como se sua experiência, seu conhecimento e suas potencialidades fossem se esvaindo a cada passo rumo ao âmago da mata. Ainda assim, a elfa perseverou. Seus olhos iam vendo o vulto de uma mulher deitada na relva entre as árvores. Ela já reconhecia Bibiana caída inerte sendo sugada pela fumaça rosa. Kaliandra soltou um brado brandindo sua espada: 
- Nefasto ser de névoa, afaste-se de minha deusa ou sentirá minha ira!!! - Então, partiu na direção de Bibiana, golpeando ao redor, para tentar levantá-la. - Oh deusa de todos os elfos, salvarei a ti nem que seja para entregar minha vida!
Os golpes de Kaliandra Boaventura cortavam o ar e a névoa como se nada houvesse para cortar. Suas palavras ecoavam entre aquelas árvores ancestrais sem resposta. Quando alcançou a deusa que tocara seu coração, ela viu o corpo inerte de uma simples elfa. Não era muito diferente dela. A beleza era mediana. Os cabelos pretos curtos na altura dos ombros. Parecia uma simples pessoa qualquer, que caminhava pelo mundo, amava e sentia fome. Não uma deusa.
Quando Kaliandra se abaixou para levantá-la, sentiu faltar a força para se por de pé. A névoa era densa ali e sugava-a com mais intensidade. Seus conhecimentos arcanos lhe diziam que a criatura não poderia matá-la assim, mas podia deixá-la inerte com sua deusa Bibiana Cromiel.
Em um canto de sua mente, ela teve a impressão de ver as coisas como Edgar mais uma vez, o que não se dava desde que ele havia partido. O pequeno pássaro preto também estava envolto pela fumaça rosa que o devorava.
- Edgar, pequeno e agourento companheiro, tente me perdoar... Mas nem tu, nem eu, somos merecedores de poder enquanto nossa deusa perece. - Kaliandra tentou canalizar toda a minha energia mágica, inclusive a de Edgar, para dar à Bibiana um último suspiro mágico.
Sacrificando o que lhe restava de energia, Kaliandra ergueu-se com Bibiana em seu colo. Ela também sentiu Edgar escapar da prisão da névoa, mas sumir de sua mente. A deusa dos elfos não mudou em nada, enquanto o guerreira maga sentia as pernas tremerem. Conseguiu dar mais um passo e as duas caíram rolando na relva.
- Kaliandra!!! - Cameron a chamava e a tinha nos braços, enquanto ela despertava como de um pesadelo terrível. Sentia o corpo fraco e o desalento se apossar do seu peito.
- Cameron, precisamos reunir urgentemente a maior quantidade de elfos. Temos de fazer rapidamente um ritual mágico. É imperioso que nossa energia seja passada para Bibiana. Uma névoa rosa está sugando todos os seus poderes. Estive com ela em sonho, mas não posso dizer se se trata de uma premonição ou de algo que se passou.
Cameron olhava-a fixamente no fundo dos olhos:
- Mas é claro, meu amor... vocês, descansados...
- Parece sério... a nossa energia é de Bibiana - disse Dhyon se colocando de joelhos ao lado do casal.
- Somos todos um só... - repetiram os outros três elfos do templo colocando-se em um círculo de elfos. Cameron também se colocou de joelhos:
- Isso não impedirá que ela continue sendo sugada... precisamos de mais do que isso...

O grupo viu-se cercado pelo diabos barbudos escarlates. Apenas Braad mantinha a linha de frente, mas não duraria muito contra meia dúzia de extraplanares infernais como aqueles. Ainda que Rufus Lightfoot tentasse ajudar com ataques sorrateiros, mantinha-se pequeno e escondido. Ele deixara Azuzu II, que assim como Chuck Norris e Sérgio Reis havia sido tomado pelo medo mágico. Mari'bel e Pena Branca disparavam suas setas, mas os esforços concentrados ainda não haviam vitimado sequer um dos inimigos.
- Derdeil, meu mestre... - tentava comunicar-se Edgar para alertar que a nefasta nuvem rosa sugadora de magia ia em direção de seu mestre. No entanto, o escolhido de Azuth apenas via que o pequeno corvo tomara dois anéis e o livro de magia do catatônico arquimago Eurípedes e os conduzia com dificuldade, voando por fora do palácio.
Derdeil Óphoda estava mais ocupado, no entanto, em que a varinha lhe indicasse onde estava o mythal:
- Qual é o caminho mais curto até o mythal. 
- Basta chegar ao corredor e passar ao salão principal do palácio. É lá que sempre este o mythal de Myth Drannor - respondeu o item mágico.
Os diabos barbudos cortavam com suas garras, mas também lançavam magias sobre o monge, queimando-o e tentando deixá-lo imóvel, mas ele resistiu à paralisia. Chuck Norris investiu contra o inimigo que chegou pela porta que ainda restava fechada, já que não era esse que lhe causava o medo mágico. Derdeil Óphodda invocou um turbilhão de água que derrubou alguns diabos, o que abriu caminho e permitiu que a veloz e forte Mari'bel o carregasse para longe da confusão. Pena Branca seguiu disparando suas setas para tentar ajudar o monge, que já estava no limite de suas forças e desferia sequências de golpes. Só então mataram o primeiro inimigo, que se desfez em uma nuvem de enxofre ao tombar. 


Rufus preferiu manter-se escondido e seguiu a fada arqueira e o mago de Halruaa até a porta ao final do corredor. Ele abriu a porta antiga, mas que ao contrário das demais não desmoronou. O salão que se abriu diante deles era vastíssimo, com muitas colunas alongadas que faziam-no parecer ainda mais colossal. Porém, não conseguiam ter uma ideia clara das ameaças que poderiam haver ali, uma vez que nada escutavam. Os diabos petralhas conseguiram vitimar o monge Braad. Pena Branca já começava a ser acoçado, colocando Sérgio Reis em dificuldades. O druida Chuck precisou assumir uma nova forma, dessa vez, de um urso selvagem para enfrentar os inimigos e contornar todo o dano que lhe causavam.
Continuaram a luta contra diabos barbudos como podiam. Mari'bel, Derdeil e Rufus adentraram o salão, mas descobriram no centro dele um grande foço, onde haviam apenas os fragmentos estraçalhados do grande mythal de Myth Drannor. Quatro diabretes lêmures cercavam-no e esfregavam-se nele. Aqueles grandes cacos já não pareciam ter qualquer magia, percebeu o mago, quando bolas de fogo vindas não se sabe de onde começaram a cair sobre eles. Rufus conseguiu ver o diabo chifrudo escondido no final do aposento que as lançava, assim como os wights que enviou para reforçar o ataque dos diabos barbudos.


Enquanto isso, na mesma janela por onde haviam entrado, a criatura sugadora de magia voltava a entrar no palácio sendo atraída pela energia que sentira em Derdeil ao saborear a força de seu familiar. Ela espremeu-se pelo espaço, enquanto Edgar preferiu circundar por outra janela e passou a grita para alertar os aliados de seu mestre.
Mari'bel acabou tombando ante a bola de fogo, enquanto que Derdeil só teve tempo de invocar a energia de mythal que animava seus itens mágicos de volta para seu íntimo. No entanto, os diabos o alcançaram antes e também o derrotaram, fazendo-o cair sobre os fragmentos do mythal no poço. Rufus usou da magia de sua capa para prender os mortos-vivos que se avizinhavam numa teia.
Ainda nos primeiros aposentos, Sérgio Reis contou com o apoio de Chuck Norris para darem conta do diabo que os ameaçava, escapando para o corredor e tentando manter-se o mais longe possível da nebulosa ameaça rósea. Pena Branca, no entanto, acabou cercado pelos diabos no aposento, enquanto os três foram alvos de explosões profanas que custavam um tanto de suas vitalidades. Ainda assim, o druida optou por curar o ferido Braad trazendo-o de volta para o combate.
Próximos do mythal, Rufus tentou em vão impedir que um dos diabos barbados terminasse o serviço com Derdeil e Mari'bel, mas seus ataques seguiam pouco impactantes, além de ver que o diabo chifrudo mor vinha voando para lançar algo pior do que as bolas de fogo. O diabo barbudo escarlate coberto de trezes agarrou Derdeil, sorriu como todo caçador diante de sua presa e estava prestes a eliminá-lo para sempre, quando Chuck Norris surgiu em carga carregando Braad aposento adentro. O monge conseguiu agarrar o diabo com maestria, mesmo sendo ferido pelos espinhos peçonhentos. O bardo Sérgio Reis ficou para trás tentando recuperar o caído Pena Branca, detonado pela energia profana infernal, vendo Edgar passar fugindo da fumaça rosa sugadora de magia. A criatura, porém, tinha outro alvo.
O nishruu chegou próximo de Derdeil, que ainda estava inerte no foço cercado pelo quarteto de lêmure e ladeado pelo druida em forma de urso e pelo monge agarrado ao diabo. Ele parou sobre o corpo da fada Mari'bel e em um instante, sugou dela toda a energia do mythal que tinha. Isso pareceu dar nova densidade ao monstro, que expandiu-se em todos os sentidos.
Sem perder tempo, Chuck Norris curou Derdeil, que sem pensar duas vezes transferiu a energia que tinha em si para o maior fragmento do mythal. Isso reativou um pouco do campo mágico do artefato e banhou as ruínas do palácio com as forças protetoras contra extraplanares malignos, banindo dali imediatamente os diabos. O alívio, porém, foi muito curto. No mesmo momento, viram que o nishruu já estava a absorver aquele delicioso campo mágico que também o envolvera.