18 de ago. de 2013

A morte de Baghtru, o forte, pelas mãos de Ehtur Telcontar, servo de Mielikki


Ehtur Telcontar ainda lamentava em seu íntimo a morte da pequena fada que não pudera salvar do morcego de trevas. O guardião de Miellikki afastou-se do rio Dessarin e avistou uma dupla que vinha pela estrada discutindo. Ele percebeu que eram um elfo verde e um humano. Enquanto se aproximava, ouviu um pouco da conversa antes que o percebessem:
-... é realmente muita sorte ter encontrado com você, Preto. Eu e Pardal ainda não estamos recuperados daquele mundo maligno e tudo que posso lhe dizer é que vou para a Floresta.
- Não se preocupe, Falcon. É uma honra conhecer um elfo verde tão viajante.. quero dizer, viajado como você.
- Depois do que eu pas.. ei!!! Quem é você? - Gritou o elfo sacando seu arco ao ver o grande humano que se aproximava. O tal Preto preferiu se esconder entre o mato da beira da estrada. - Pardal olho!!!
- Acalme-se guardião de Corellon Larethian. Sou um servo de Miellikki, me chamo Ehtur Telcontar e também viajo para a Grande Floresta. - as palavras dele arrefeceram o ímpeto de Falcon, assim como do falcão esverdeado que descera voando para atacá-lo.
- Então venha conosco.. parece que essa estrada atrai bons viajantes. Fico feliz em encontrar novamente gente viva e natural, meu tempo volta a ser tranquilo. Eu sou Falcon Eagle e este é o guerreiro Preto, que conheci há alguns dias.
 - Os tempos não são tranquilos, Falcon. Este é um tempo de problemas. Os deuses desceram ao mundo e agora lutam ao nosso redor. Eu mesmo vi Mystra tombar e Selune que está na Cidade dos Esplendores. Disseram-me que a Senhora das Florestas está na Grande Floresta e vou para encontrá-la.
- Então devemos apertar o passo e aproveitar que a estrada está vazia... - interviu Preto saindo do esconderijo.
Eles marcharam por algumas horas até verem a linha esverdeada no horizonte progressivamente assomar como a massa multicor e imponente da Grande Floresta. Era fácil para Ehtur Telcontar perceber que muitos animais, desde as menores formigas até os maiores pássaros convergiam para um ponto no interior da mata. Ele caminhava entre uma terra que outrora pertencera à primeira dentre todas as florestas e que em seu tempo já passava por uma regeneração. Nesses dias confusos, a terra estava nua e apenas raízes do que fora levado restavam. Ele percebia que estava já muito próximo da Árvore do Grande Pai, o coração da Grande Floresta. Ele via treants, centauros e muitos elfos verdes. Haviam ainda druida, alguns humanos, outros élficos, além de muitos animais em perfeita harmonia.
Todos ali estavam reunidos ao redor de um imenso treant, que parecia um carvalho milenar. Ao lado deste estava o mais belo unicórnio que os olhos de Ehtur jamais haviam visto e ele entendeu imediatamente que aquela era Miellikki, sentindo a benção de vida da deusa se espalhar até ele. Assim como os dois, ele se aproximou, ouvindo o louvor dos servos da natureza e as palavras do avatares dos deuses:
- ... Ao puniu os deuses por sua mesquinhez, meus filhos. Mas eu sou Silvanus, o Grande Pai, o Galhudo, aquele que semeia a vida. Meu reino agora é aquela que é a primeira dentre todas as florestas. Com minha benção as árvores crescerão e a vida prosperará. Cobriremos de novo os campos que nos foram tomados. - disse o imenso treant.
- E todos os seres viventes receberão minha benção, meu pai. Eu sou Miellikki, filha do Grande Pai e da Grande Mãe. Eu sou aquela que corre pela floresta, a Dama do Arco, Guardiã da Vida. Permita meu pai que eu viva nesse seu reino e faça dele meu para cuidar e proteger.
- Irmãos.. meus amigos.. - gritou Falcon Eagle aproximando-se com uma emotividade atípica para um elfo, ainda mais um elfo verde. Isso atraiu a atenção de todos os presentes e Ehtur pode vê-los melhor, Falcon abraçou uma jovem elfa verde, que parecia surpresa como os demais. - Felícia.. veja só, uma druida de Rillifane.. quando sai você ainda era uma garota..
- Tio Falcon? Faz 20 anos que está sumido...
- Eu andei por terras malignas dominadas por mortos-vivos. Todos os meus companheiros pereceram sob a lâmina de um traidor, mas eu escapei e consegui matá-lo. Agora regressei para casa. Esses são meus companheiros de estrada, Preto e Ehtur...
Ehtur se adiantou e se ajoelhou perante o unicórnio:
- Eu sou Ehtur Telcontar, vosso servo, ó grandiosa deusa, e trago notícias terríveis.
- Há um jovem garoto de nome Ehtur Telcontar que me carrega em seu coração, mas ele vive a norte daqui e ainda é uma criança, guardião. Ainda assim, eu vejo que não mentes, por isso peço que me permita vasculhar suas memórias e saber o que se passa.
- Sim. - Ele disse simplesmente, vendo o brilho rápido nos olhos do unicórnio. Por um breve instante, toda sua vida correu em seus pensamentos e ele soube que a deusa entendia tudo que se passara.
- Ele vem do futuro, meu pai. De anos muito à frente desses em que existimos agora. Águas Profundas será atacada pela Senhora da Escuridão e pelo Lorde da Morte. Nós devemos partir em auxílios deles ou então..
- Por isso vim e... - ia dizendo Ehtur, mas foi a voz retumbante de Silvanus que ressou.
- Nosso dever agora é proteger nosso reino e prepará-lo para esse tempo de problemas, minha filha. Vocês servos da natureza devem cuidar que a floresta prospere primeiro. Quando estivermos forte de novo..
- Perdoe-me Silvanus, mas não há tempo... - interviu novamente Ehtur, mas os deuses pareciam agora só prestar atenção um no outro, como se estivessem em outro mundo. Voltou-se para os presentes, depois de tentar em vão por alguns minutos e um deles veio cumprimentá-lo.
- Seja bem vindo, guardião. Eu sou Gaios, servo de Silvanus e estes são meus irmãos e irmãs de círculo. 
- Muito prazer.
- Aquela que fala com Falcon é Felícia Eagle, serva de Rillifane Rallanthil e aquela é sua aranha Ariadne. Este é Kakaroto Matsuchito, servo de Lathander. Este com as corujas é Clapton, servo de Shandakul, e aquele é Sebastião Mendes, servo de Gruumbar. O elfo do sol é Cosmos, servo de Akadi. Aquele é Costeau, servo de Istisha e a elfa Fernanya é serva de Kossuth.
- Eu sou Marcela.. - interviu uma mulher morena com um ar mais urbano que os demais. - Sou também uma serva de Miellikki de Secomber, camarada.
- O centauro é Quírion, servo de Selune - continuou Gaios. Aquela é Phaulia, serva de Chauntea e Maria Helena, a mais antiga dentre nós, serva de todos os deuses da nature...
Os ouvidos de Ehtur Telcontar, muitos mais que nas palavras do druida, concentravam-se no som ritmado do que lhe pareciam palmas. Eles soavam como o ritmo de uma marcha de mãos firmes vindas de fora da mata.
- Vocês ouvem isso?
- Orcs!!! - Anunciou Silvanus deixando a conversa com sua filha. - Avancem para guardar nossas árvores, meus filhos. Que o poder dessas árvores primordiais os guardem e façam-nos firmes como montanhas. - Essas palavras do Grande Pai tornaram a pele deles dura como pedra.
- Que a melodia da vida que ressoa como o vento entre as árvores inspire a vossa coragem, meus filhos. - Completou Miellikki fazendo-os sentir o poder divino que trazia a sorte para o lado deles e o azar para seus inimigos.
Os olhos de todos miraram o oeste. Viram o grupo que avançava já não muito distante. Era talvez uma centena de orcs com tochas, mas haviam dois maiores como trolls. Ao chegarem ao limite das árvores, os servos da natureza viram que os orcs avançavam numa velocidade maior com o normal, mantendo o estrondo das palmas. Dos maiores, um era realmente um troll, mas o outro era um orc muito maior que os outros.
- Eu sou Bahgtru, filho de Gruumsh. Eu sou Bahgtru, o forte. Bahgtru, o viril e invencível. Aquele que fode bocetas e destrói os campos. Eu sou Bahgtru, o forte. Eu sou esmagar suas árvores e mijar em suas raízes, velho deus. Eu vou queimar a seiva e varrer seu campo. Você não pode me deter e eu serei aquele que matou o deus arvorezinha!!!
- Você não passa de uma criança estúpida, Bahgtru, filho de Gruumsh. Saiba que eu sou o primeiro e o último, o Senhor do Ciclo, e já triunfava antes de o primeiro orc sequer ser pensado.
- Permita que eu dê conta desse insolente, meu pai. Eu trarei a carcaça dele para alimentar os vermes e as aves de rapina! - Inverviu Miellikki furiosa com a grosseria e vilania do deus dos orcs.
- Um cavalinho? É isso que você tem para me destruir. Um cavalinho chifrudinho de merda. Pois eu vou foder seu cu e rasgá-lo com seu chifre. Atacar. Atacaaaar!!! - Todos os orcs dispararam em carga, enquanto a Senhora da Floresta não esperou e disparou fulminante como um raio, atingindo Bahgtru no peito e carregando-o rumo ao céu cravando em seu chifre. - Isso é o seu melhor deuzinha? Eu sou Bahgtru, o forte. - Ele dizia cravando as garras desproporcionalmente grandes no pescoço dela.
No chão, a druida Maria Helena invocou uma muralha de mais de 60 metros de comprimento à frente das árvores para impedir o avanço dos orcs. Eles seguiram sem se importar, sofrendo os cortes dos espinhos sem gemer. Os demais druidas conjuraram animais como leões, ursos e águias gigantes para ajudar na batalha. Ehtur avançou em carga e aproveitou para atingir um dos orcs com violência graças ao alcance da lança. Apesar do golpe e dos ferimentos prévios o inimigo não dava sinais de fraquejar.
O mesmo se dava com os demais, que pareciam possuídos por alguma energia que os impedia de tombar. A druida Phaulia fez crescerem os espinhos e ainda assim eles seguiam. Maria Helena os incendiou com uma pira de fogo divino, enquanto Kakaroto derramou uma tempestade de blocos de gelo. Clapton fez crescerem espinhos de rocha do solo e Gaios lançou relâmpagos do céu. Os outros aumentaram a área a muralha. Mesmo assim, nenhum orc tombou ou caiu. Eles começavam a receber os ataques dos animais conjurados, além dos de Ehtur e das flechas dos elfos, mas já conseguiam desferir seus primeiros ataques.
O ritmo da batalha intensificava-se e mesmo os lentos treants já se aproximavam do confronto, quando Bahgtru retornou à cena. Caindo do céu como um meteoro, o deus orc abriu uma cratera ao lado da Grande Floresta. A deusa Miellikki cavalgava os ares vindo em direção a ele, pronta para terminá-lo com um último golpe. Porém, Bahgtru evadiu do golpe, fazendo o unicórnio divino acertar o chão, enquanto ele aproveitou a proximidade para se lançar contra Silvanus e atingir com violência o velho deus. Suas garras penetraram fundo na casca, fazendo Silvanus sentir o gosto amargo da realidade.
O Grande Pai ergueu seus longos e pesados galhos e esmagou Bahgtru como se fosse um verme, mas mesmo amassado e perdendo um de seus braços, o deus orc não se soltou. Isso parecia dar ainda mais força para seus servos orcs que urraram juntos e avançaram derrubando muitos dos animais. Preto, que deixara seu esconderijo, era o único que efetivamente os derrubava, pois usava uma luva mágica na mão esquerda. Quando ela tocava os inimigos, os levava ao torpor e o Guerreiro os finalizava com um preciso corte na garganta.
As defesas erguidas pelos druidas já começavam a tombar e tudo parecia perdido. Mesmo protegidos pelo poder de Silvanus e Miellikki, alguns deles já sentiam as garras dos orcs bárbaros de Bahgtru. Ehtur sentiu a inspiração divina de que havia um motivo para estar ali. O guardião de Miellikki deixou os orcs de lado e lançou-se contra o deus orc, cada vez mais mergulhado nas entranhas do Grande Pai. Falcon Eagle disparou meia-dúzia de setas que abriram caminho para a lança de Telcontar chegar livre ao ferimento do braço arrancado. O guardião atravessou o vil Baghtru lateralmente, enquanto ele crescia até ficar do tamanho do inimigo.
- É isso que vocês tem pra me vencer??? Galhos e gravetos??? Eu vou terminar de invadí-lo, deus da floresta e rasgá-lo por dentro.!!! - Ele se debatia tentando se livrar de Ehtur e trazendo sofrimento ao grande carvalho.
Falcon novamente concentrou suas flechas no ferimento e Preto avançou tocando Bahgtru com sua luva, fazendo-o fraquejar. Sentindo a benção e a inspiração de Miellikki, Ehtur Telcontar ergueu-o no ar e pilou-o contra o chão, dando cabo do filho de Gruumsh.
Vitimado o deus, a maior parte dos orcs morreu, finalmente sentindo o dano que haviam recebido. Apenas 5 restaram vivos e desses, 4 fugiram. Apenas um se pôs de joelhos, enquanto os servos da natureza oravam pelas almas dos animais que haviam se sacrificado naquele dia. Miellikki se ergueu da cratera e abençoou todas as almas que ali estavam. Ela tinha o pescoço rasgado pelas garras de Bahgtru e assim como o grande ferimento de Silvanus, estes não regeneravam. Ela recebeu o orc que mostrava ter visto a verdade naquilo tudo e deixara a natureza e o equilíbrio crescerem em importância em seu íntimo. Dessa vez, Silvanus concordou que deviam intervir.



Em Águas Profundas, os heróis se dirigiram ao depósito de armamento. O lorde Piergeiron os mandara para lá com ordens de que fossem equipados para um importante missão. Quando haviam finalmente alcançado o Lorde Público, este disse que eles não cuidariam de sua proteção, como havia indicado a deusa Selune, mas sim que iriam partir em uma perigosa missão rumo à masmorra Sob a Montanha em busca do Cetro de Lathander. De posse desse item sagrado, poderiam opor resistência à ameaça iminente da Senhora da Escuridão e do Deus da Morte. Embora pouco satisfeitos com a ideia, eles aceitaram.
- Documento, senhor..
- Aqui está.. - disse Ryolith entregando ao encarregado do depósito de armas.
- Bom.. vocês podem pegar aqui esse material trabalho de mestre.. - ia indicando o guarda, quando um outro guerreiro chegou e se dirigiu a Falkiner.
- Nossa, que rapaz bem apessoado.. você pratica algum esporte? Eu sou o sargento Sumo.. Supla Sumo... tenho bom uso para um guerreiro loiro e alemão como você...
- Nós estamos em missão para Lorde Piergeiron.. não temos tempo para bobagens... - advertiu Falkiner.
- E interesse em um mapa da masmorra para onde vão? - Disse uma bela e misteriosa mulher, que surgiu de trás do sargento Sumo.
- Como sabe que vamos pra lá? - Disse Ryolith tentando sentir alguma maldade nos dois, mas sem perceber nenhum mal no ambiente.
- As paredes tem ouvidos nesse palácio, paladino. Informação é poder. Ainda mais para quem tem bons negócios a fazer..
- Qual é o negócio? - Disse Sirius para quem ela olhava o tempo todo.
- Mil peças de ouro pelo mapa.
- Eu posso lhe dar essa adaga mágica.. - Sirius pegou uma das adagas que recebera. - Mas eu vou querer algumas informações também...
- Informações sobre as masmorras ou sobre o pequeno Sirius Pereira?
- Você.. - Sirius engasgou por um instante vendo que aquela mulher era realmente bem informada. - Você conhece Sirius?
- Posso dizer que conheci mais o pai dele...
- Me diga quem é o pai dele?
- Não temos tempo para isso, Sirius.. - interviu Rock dos Lobos.
- Nós precisamos de informações sobre a masmorra.. - lembrou Xavier.
- Se você beber comigo eu posso lhe contar.. isso além do pagamento.. é claro.. - ela disse tomando a adaga dele com um sorriso.
- Diga quem é o pai do garoto e eu beberei com você...
- Todos beberemos com você, gata. - Acrescentou Xavier.
- Está bem. Hamilton Pereira era um bom sujeito.. ele salvou o garoto dos Ladrões das Sombras.. ele teve que se sacrificar pro garoto ficar à salvo..
- Ele está morto?
- É o que os bandidos pensam... é o que se sabe... mas agora é hora de beber!
A mulher, que se chamava Chandra Kurang os conduziu para um taverna próxima ao palácio. O sol já se punha no horizonte e havia pouquíssima gente na rua. Apenas os guardas estavam à postos em toda parte, em especial no palácio de Piergeiron como que aguardando a chegada de mais mortos-vivos. A refinada taverna de Águas Reais estava vazia, a não ser por um mesa onde dois homens conversavam. Ryolith sentiu o mal em um deles, mas preferiu apenas observar.
Chandra pediu o melhor uísque da casa, o velho Jack e ia revelando informações a cada dose. Ela lhes contou que o cetro estava no terceiro nível das masmorras.. parte da qual se tratava o mapa.. diziam estar de posse de um clã de homens-peixes.. de um vampiro.. ou de um dragão negro. Havia uma entrada pelo mar, que bastaria que respirassem sob a água para acessá-la.
- Eu poderia ajudá-los com tudo isso.. mas apenas amanhã.. por hoje já bebemos demais. O amigo clérigo de vocês já está um tanto bêbado e precisa descansar. Vamos Sirius.. - ela disse aquilo já levando o ladino com ela, sem dar muito tempo para reagir. O álcool amoleceu a vontade de Sirius Black, que já estava bêbado e lembrou do nome que a mulher lhe ensina: Hamilton. Uma lágrima correu de seu rosto enquanto era levado, mas Xavier interviu.
- Vamos todos então, minha amiga.. - Sirius aproveitou a deixa para se desvencilhar de Chandra e correr gritando:
- Hamiltooon... - em direção às ruas escuras de Águas Profundas. Chandra abraçou a cintura de Xavier e tomou a direção do palácio:
- Eu não vou correr atrás de bêbado...


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