24 de ago. de 2013

O sonho fora do tempo



As feridas de Silvanus não cicatrizavam, assim como o dano que fora causado a Miellikki. Apesar da vontade da deusa de logo partir, todos entenderam que era preciso aguardar por alguma recuperação. Assim sendo, Ehutr Telcontar dormiu.

Francisco Xavier sentiu o seu suor misturar-se ao da mulher que o cavalgava com maestria. Chandra Kurang mostrava ao necromante branco o que era viver. Após o terceiro gozo de prazer, o mago da Fortaleza da Vela adormeceu com ela aninhada ao seu corpo.

Ainda entorpecido pelo álcool, mesmo que a adrenalina do combate o tivesse despertado um pouco, Sirius Black caiu na cama sem dar muita atenção às palavras de quem quer que fosse ali ao seu lado. Adormeceu.

Ryolith Fox descalçou as botas e guardou ordenadamente sua armadura. A bebida que fora obrigado a ingerir irritava seu estômago e deixara um gosto amargo em sua boca. Não mais do que mais uma vez enfrentar os Ladrões das Sombras pela imprudência do tal Sirius Black, que os convencera a buscar esse pai, quando deveriam se aprontar para a masmorra Sob a Montanha. Fez uma prece a Tyr e adormeceu.

- Não basta nós estarmos nesse futuro maluco com esses humanos loucos e...
- Calma, querida. Não é bem assim.. o pessoal é gente boa.. mas são humanos, você sabe como é...
- Eu sei como é, Arnoux Suarzineguer? Eu não sei como vim parar nesse tempo louco com você e você me diz "você sabe como é"? Nós estamos 38 anos no futuro!!!
- Mas meu bem...
- Não me venha com meu bem, está entendendo.. não me venha com meu bem.. onde já se viu? E ainda tenho que aguentar esse bárbaro no nosso quarto..
- Mas querida.. ele é um garoto.. tá assustado.. pelo que entendi, ele é um bárbaro...
- Ele É um bárbaro, Arnoux! Até eu que não falo a língua dele já entendi isso! Saiba que eu quero voltar pra casa da minha mãe e... - a discussão se estendeu por mais alguns minutos, até que Úrsula virou-se com um "boa noite"enfezado e adormeceu. Arnoux já roncava há cerca de 1 minuto, abafado pelo som do ronco do bárbaro Rock que já se dava há 10 minutos.

John Falkiner orou por paz, assim como havia orado para livrar-se dos efeitos do ácool. Ele sentia sua fé e seus poderes, mas sentia acima disso que estava perdido. Adormeceu.

O sonhador sabia, como algumas vezes sabe, que era um sonho. Havia uma pequena mesa quadrada, onde dois homens estavam sentados. Um deles vestia um manto cinzento que cobria todo o corpo, deixando ver do rosto apenas da ponta do nariz para baixo. Não tinha barba e o maxilar firme era humano. Os lábios eram sérios naquele momento. O outro sujeito era mais baixo e rechoncudo, pressionando a armadura de mithrill que usava sob um manto cinzento. O manto cobria suas costas do ombro até os pés da cadeira. Também era humano, tinha uma barba desgrenhada e draedlocks descendo de sua cabeça, além de um certo ar de curiosidade.
O que mais chamava a atenção, na verdade, eram os cinco objetos dispostos sobre a mesa. Havia um cálice dourado e cravejado de pequenas pedras preciosas; um cetro de ouro, prata e marfim; uma gema negra, grande como um punho; um tomo mágico draconiano na aparência; e um globo ocular com se retirado do tentáculo de uma aberração observador. Todos os cinco objetos pareciam incomensuravelmente poderosos, quase prendendo a eles a fé de quem as olhasse.
Foi então que a atenção deles desviou-se para o centro da mesa, onde uma espiral movia-se tendendo ao infinito. Eles viram estrelas na escuridão como se todas as constelações tornassem-se um único redemoinho no céu da noite sem luar. Logo, isso ganhou os contornos de uma serpente, onde as estrelas eram agora as escamas. Nessas escamas, para além do brilho, eles percebiam vida, movimento.. universos inteiros.
Em um deles, Ehtur Telcontar viu-se segurando o Cálice e usando-o contra a própria deusa da escuridão Shar. Em outro, Francisco Xavier se viu de posse do Tomo, com o qual destruía o Primeiro Leitor. Sirius Black viu-se em outro ainda, onde tinha a posse da Gema negra, enquanto o que parecia um grupo de magos sombrios dobrava-se à sua vontade. Já Ryolith Fox viu-se atacando o Olho com sua espada em meio a uma selva cercado de serpentes e homens-cobra. Úrsula Suarzineguer via ela com um bebe nas costas e o marido em outro universo, onde tentavam afanar a Gema. Arnoux viu-se em outro mundo como um morto-vivo ao serviço de um lich de manto vermelho que controlava também o Tomo. John Falkiner viu-se de posse do Cálice, nas areias de um deserto, consagrando-o a Kelemvor. Rock dos Lobos percebeu que sua mente corria por todas essas imagens e tantas mais que sequer conseguia raciocinar.
Houve uma certa vertigem causada pelo temor de não regressar, como se aquele sonho fora do tempo se tornasse infindável prendendo eles ali. Isso tragou-lhes de volta. Já quase despertavam vendo vultos que não sabiam se eram mais os dos dois homens à mesa ou se de outros seres. Abriram cada qual os olhos, enquanto o sonho fragmentava-se em suas memórias.

18 de ago. de 2013

A morte de Baghtru, o forte, pelas mãos de Ehtur Telcontar, servo de Mielikki


Ehtur Telcontar ainda lamentava em seu íntimo a morte da pequena fada que não pudera salvar do morcego de trevas. O guardião de Miellikki afastou-se do rio Dessarin e avistou uma dupla que vinha pela estrada discutindo. Ele percebeu que eram um elfo verde e um humano. Enquanto se aproximava, ouviu um pouco da conversa antes que o percebessem:
-... é realmente muita sorte ter encontrado com você, Preto. Eu e Pardal ainda não estamos recuperados daquele mundo maligno e tudo que posso lhe dizer é que vou para a Floresta.
- Não se preocupe, Falcon. É uma honra conhecer um elfo verde tão viajante.. quero dizer, viajado como você.
- Depois do que eu pas.. ei!!! Quem é você? - Gritou o elfo sacando seu arco ao ver o grande humano que se aproximava. O tal Preto preferiu se esconder entre o mato da beira da estrada. - Pardal olho!!!
- Acalme-se guardião de Corellon Larethian. Sou um servo de Miellikki, me chamo Ehtur Telcontar e também viajo para a Grande Floresta. - as palavras dele arrefeceram o ímpeto de Falcon, assim como do falcão esverdeado que descera voando para atacá-lo.
- Então venha conosco.. parece que essa estrada atrai bons viajantes. Fico feliz em encontrar novamente gente viva e natural, meu tempo volta a ser tranquilo. Eu sou Falcon Eagle e este é o guerreiro Preto, que conheci há alguns dias.
 - Os tempos não são tranquilos, Falcon. Este é um tempo de problemas. Os deuses desceram ao mundo e agora lutam ao nosso redor. Eu mesmo vi Mystra tombar e Selune que está na Cidade dos Esplendores. Disseram-me que a Senhora das Florestas está na Grande Floresta e vou para encontrá-la.
- Então devemos apertar o passo e aproveitar que a estrada está vazia... - interviu Preto saindo do esconderijo.
Eles marcharam por algumas horas até verem a linha esverdeada no horizonte progressivamente assomar como a massa multicor e imponente da Grande Floresta. Era fácil para Ehtur Telcontar perceber que muitos animais, desde as menores formigas até os maiores pássaros convergiam para um ponto no interior da mata. Ele caminhava entre uma terra que outrora pertencera à primeira dentre todas as florestas e que em seu tempo já passava por uma regeneração. Nesses dias confusos, a terra estava nua e apenas raízes do que fora levado restavam. Ele percebia que estava já muito próximo da Árvore do Grande Pai, o coração da Grande Floresta. Ele via treants, centauros e muitos elfos verdes. Haviam ainda druida, alguns humanos, outros élficos, além de muitos animais em perfeita harmonia.
Todos ali estavam reunidos ao redor de um imenso treant, que parecia um carvalho milenar. Ao lado deste estava o mais belo unicórnio que os olhos de Ehtur jamais haviam visto e ele entendeu imediatamente que aquela era Miellikki, sentindo a benção de vida da deusa se espalhar até ele. Assim como os dois, ele se aproximou, ouvindo o louvor dos servos da natureza e as palavras do avatares dos deuses:
- ... Ao puniu os deuses por sua mesquinhez, meus filhos. Mas eu sou Silvanus, o Grande Pai, o Galhudo, aquele que semeia a vida. Meu reino agora é aquela que é a primeira dentre todas as florestas. Com minha benção as árvores crescerão e a vida prosperará. Cobriremos de novo os campos que nos foram tomados. - disse o imenso treant.
- E todos os seres viventes receberão minha benção, meu pai. Eu sou Miellikki, filha do Grande Pai e da Grande Mãe. Eu sou aquela que corre pela floresta, a Dama do Arco, Guardiã da Vida. Permita meu pai que eu viva nesse seu reino e faça dele meu para cuidar e proteger.
- Irmãos.. meus amigos.. - gritou Falcon Eagle aproximando-se com uma emotividade atípica para um elfo, ainda mais um elfo verde. Isso atraiu a atenção de todos os presentes e Ehtur pode vê-los melhor, Falcon abraçou uma jovem elfa verde, que parecia surpresa como os demais. - Felícia.. veja só, uma druida de Rillifane.. quando sai você ainda era uma garota..
- Tio Falcon? Faz 20 anos que está sumido...
- Eu andei por terras malignas dominadas por mortos-vivos. Todos os meus companheiros pereceram sob a lâmina de um traidor, mas eu escapei e consegui matá-lo. Agora regressei para casa. Esses são meus companheiros de estrada, Preto e Ehtur...
Ehtur se adiantou e se ajoelhou perante o unicórnio:
- Eu sou Ehtur Telcontar, vosso servo, ó grandiosa deusa, e trago notícias terríveis.
- Há um jovem garoto de nome Ehtur Telcontar que me carrega em seu coração, mas ele vive a norte daqui e ainda é uma criança, guardião. Ainda assim, eu vejo que não mentes, por isso peço que me permita vasculhar suas memórias e saber o que se passa.
- Sim. - Ele disse simplesmente, vendo o brilho rápido nos olhos do unicórnio. Por um breve instante, toda sua vida correu em seus pensamentos e ele soube que a deusa entendia tudo que se passara.
- Ele vem do futuro, meu pai. De anos muito à frente desses em que existimos agora. Águas Profundas será atacada pela Senhora da Escuridão e pelo Lorde da Morte. Nós devemos partir em auxílios deles ou então..
- Por isso vim e... - ia dizendo Ehtur, mas foi a voz retumbante de Silvanus que ressou.
- Nosso dever agora é proteger nosso reino e prepará-lo para esse tempo de problemas, minha filha. Vocês servos da natureza devem cuidar que a floresta prospere primeiro. Quando estivermos forte de novo..
- Perdoe-me Silvanus, mas não há tempo... - interviu novamente Ehtur, mas os deuses pareciam agora só prestar atenção um no outro, como se estivessem em outro mundo. Voltou-se para os presentes, depois de tentar em vão por alguns minutos e um deles veio cumprimentá-lo.
- Seja bem vindo, guardião. Eu sou Gaios, servo de Silvanus e estes são meus irmãos e irmãs de círculo. 
- Muito prazer.
- Aquela que fala com Falcon é Felícia Eagle, serva de Rillifane Rallanthil e aquela é sua aranha Ariadne. Este é Kakaroto Matsuchito, servo de Lathander. Este com as corujas é Clapton, servo de Shandakul, e aquele é Sebastião Mendes, servo de Gruumbar. O elfo do sol é Cosmos, servo de Akadi. Aquele é Costeau, servo de Istisha e a elfa Fernanya é serva de Kossuth.
- Eu sou Marcela.. - interviu uma mulher morena com um ar mais urbano que os demais. - Sou também uma serva de Miellikki de Secomber, camarada.
- O centauro é Quírion, servo de Selune - continuou Gaios. Aquela é Phaulia, serva de Chauntea e Maria Helena, a mais antiga dentre nós, serva de todos os deuses da nature...
Os ouvidos de Ehtur Telcontar, muitos mais que nas palavras do druida, concentravam-se no som ritmado do que lhe pareciam palmas. Eles soavam como o ritmo de uma marcha de mãos firmes vindas de fora da mata.
- Vocês ouvem isso?
- Orcs!!! - Anunciou Silvanus deixando a conversa com sua filha. - Avancem para guardar nossas árvores, meus filhos. Que o poder dessas árvores primordiais os guardem e façam-nos firmes como montanhas. - Essas palavras do Grande Pai tornaram a pele deles dura como pedra.
- Que a melodia da vida que ressoa como o vento entre as árvores inspire a vossa coragem, meus filhos. - Completou Miellikki fazendo-os sentir o poder divino que trazia a sorte para o lado deles e o azar para seus inimigos.
Os olhos de todos miraram o oeste. Viram o grupo que avançava já não muito distante. Era talvez uma centena de orcs com tochas, mas haviam dois maiores como trolls. Ao chegarem ao limite das árvores, os servos da natureza viram que os orcs avançavam numa velocidade maior com o normal, mantendo o estrondo das palmas. Dos maiores, um era realmente um troll, mas o outro era um orc muito maior que os outros.
- Eu sou Bahgtru, filho de Gruumsh. Eu sou Bahgtru, o forte. Bahgtru, o viril e invencível. Aquele que fode bocetas e destrói os campos. Eu sou Bahgtru, o forte. Eu sou esmagar suas árvores e mijar em suas raízes, velho deus. Eu vou queimar a seiva e varrer seu campo. Você não pode me deter e eu serei aquele que matou o deus arvorezinha!!!
- Você não passa de uma criança estúpida, Bahgtru, filho de Gruumsh. Saiba que eu sou o primeiro e o último, o Senhor do Ciclo, e já triunfava antes de o primeiro orc sequer ser pensado.
- Permita que eu dê conta desse insolente, meu pai. Eu trarei a carcaça dele para alimentar os vermes e as aves de rapina! - Inverviu Miellikki furiosa com a grosseria e vilania do deus dos orcs.
- Um cavalinho? É isso que você tem para me destruir. Um cavalinho chifrudinho de merda. Pois eu vou foder seu cu e rasgá-lo com seu chifre. Atacar. Atacaaaar!!! - Todos os orcs dispararam em carga, enquanto a Senhora da Floresta não esperou e disparou fulminante como um raio, atingindo Bahgtru no peito e carregando-o rumo ao céu cravando em seu chifre. - Isso é o seu melhor deuzinha? Eu sou Bahgtru, o forte. - Ele dizia cravando as garras desproporcionalmente grandes no pescoço dela.
No chão, a druida Maria Helena invocou uma muralha de mais de 60 metros de comprimento à frente das árvores para impedir o avanço dos orcs. Eles seguiram sem se importar, sofrendo os cortes dos espinhos sem gemer. Os demais druidas conjuraram animais como leões, ursos e águias gigantes para ajudar na batalha. Ehtur avançou em carga e aproveitou para atingir um dos orcs com violência graças ao alcance da lança. Apesar do golpe e dos ferimentos prévios o inimigo não dava sinais de fraquejar.
O mesmo se dava com os demais, que pareciam possuídos por alguma energia que os impedia de tombar. A druida Phaulia fez crescerem os espinhos e ainda assim eles seguiam. Maria Helena os incendiou com uma pira de fogo divino, enquanto Kakaroto derramou uma tempestade de blocos de gelo. Clapton fez crescerem espinhos de rocha do solo e Gaios lançou relâmpagos do céu. Os outros aumentaram a área a muralha. Mesmo assim, nenhum orc tombou ou caiu. Eles começavam a receber os ataques dos animais conjurados, além dos de Ehtur e das flechas dos elfos, mas já conseguiam desferir seus primeiros ataques.
O ritmo da batalha intensificava-se e mesmo os lentos treants já se aproximavam do confronto, quando Bahgtru retornou à cena. Caindo do céu como um meteoro, o deus orc abriu uma cratera ao lado da Grande Floresta. A deusa Miellikki cavalgava os ares vindo em direção a ele, pronta para terminá-lo com um último golpe. Porém, Bahgtru evadiu do golpe, fazendo o unicórnio divino acertar o chão, enquanto ele aproveitou a proximidade para se lançar contra Silvanus e atingir com violência o velho deus. Suas garras penetraram fundo na casca, fazendo Silvanus sentir o gosto amargo da realidade.
O Grande Pai ergueu seus longos e pesados galhos e esmagou Bahgtru como se fosse um verme, mas mesmo amassado e perdendo um de seus braços, o deus orc não se soltou. Isso parecia dar ainda mais força para seus servos orcs que urraram juntos e avançaram derrubando muitos dos animais. Preto, que deixara seu esconderijo, era o único que efetivamente os derrubava, pois usava uma luva mágica na mão esquerda. Quando ela tocava os inimigos, os levava ao torpor e o Guerreiro os finalizava com um preciso corte na garganta.
As defesas erguidas pelos druidas já começavam a tombar e tudo parecia perdido. Mesmo protegidos pelo poder de Silvanus e Miellikki, alguns deles já sentiam as garras dos orcs bárbaros de Bahgtru. Ehtur sentiu a inspiração divina de que havia um motivo para estar ali. O guardião de Miellikki deixou os orcs de lado e lançou-se contra o deus orc, cada vez mais mergulhado nas entranhas do Grande Pai. Falcon Eagle disparou meia-dúzia de setas que abriram caminho para a lança de Telcontar chegar livre ao ferimento do braço arrancado. O guardião atravessou o vil Baghtru lateralmente, enquanto ele crescia até ficar do tamanho do inimigo.
- É isso que vocês tem pra me vencer??? Galhos e gravetos??? Eu vou terminar de invadí-lo, deus da floresta e rasgá-lo por dentro.!!! - Ele se debatia tentando se livrar de Ehtur e trazendo sofrimento ao grande carvalho.
Falcon novamente concentrou suas flechas no ferimento e Preto avançou tocando Bahgtru com sua luva, fazendo-o fraquejar. Sentindo a benção e a inspiração de Miellikki, Ehtur Telcontar ergueu-o no ar e pilou-o contra o chão, dando cabo do filho de Gruumsh.
Vitimado o deus, a maior parte dos orcs morreu, finalmente sentindo o dano que haviam recebido. Apenas 5 restaram vivos e desses, 4 fugiram. Apenas um se pôs de joelhos, enquanto os servos da natureza oravam pelas almas dos animais que haviam se sacrificado naquele dia. Miellikki se ergueu da cratera e abençoou todas as almas que ali estavam. Ela tinha o pescoço rasgado pelas garras de Bahgtru e assim como o grande ferimento de Silvanus, estes não regeneravam. Ela recebeu o orc que mostrava ter visto a verdade naquilo tudo e deixara a natureza e o equilíbrio crescerem em importância em seu íntimo. Dessa vez, Silvanus concordou que deviam intervir.



Em Águas Profundas, os heróis se dirigiram ao depósito de armamento. O lorde Piergeiron os mandara para lá com ordens de que fossem equipados para um importante missão. Quando haviam finalmente alcançado o Lorde Público, este disse que eles não cuidariam de sua proteção, como havia indicado a deusa Selune, mas sim que iriam partir em uma perigosa missão rumo à masmorra Sob a Montanha em busca do Cetro de Lathander. De posse desse item sagrado, poderiam opor resistência à ameaça iminente da Senhora da Escuridão e do Deus da Morte. Embora pouco satisfeitos com a ideia, eles aceitaram.
- Documento, senhor..
- Aqui está.. - disse Ryolith entregando ao encarregado do depósito de armas.
- Bom.. vocês podem pegar aqui esse material trabalho de mestre.. - ia indicando o guarda, quando um outro guerreiro chegou e se dirigiu a Falkiner.
- Nossa, que rapaz bem apessoado.. você pratica algum esporte? Eu sou o sargento Sumo.. Supla Sumo... tenho bom uso para um guerreiro loiro e alemão como você...
- Nós estamos em missão para Lorde Piergeiron.. não temos tempo para bobagens... - advertiu Falkiner.
- E interesse em um mapa da masmorra para onde vão? - Disse uma bela e misteriosa mulher, que surgiu de trás do sargento Sumo.
- Como sabe que vamos pra lá? - Disse Ryolith tentando sentir alguma maldade nos dois, mas sem perceber nenhum mal no ambiente.
- As paredes tem ouvidos nesse palácio, paladino. Informação é poder. Ainda mais para quem tem bons negócios a fazer..
- Qual é o negócio? - Disse Sirius para quem ela olhava o tempo todo.
- Mil peças de ouro pelo mapa.
- Eu posso lhe dar essa adaga mágica.. - Sirius pegou uma das adagas que recebera. - Mas eu vou querer algumas informações também...
- Informações sobre as masmorras ou sobre o pequeno Sirius Pereira?
- Você.. - Sirius engasgou por um instante vendo que aquela mulher era realmente bem informada. - Você conhece Sirius?
- Posso dizer que conheci mais o pai dele...
- Me diga quem é o pai dele?
- Não temos tempo para isso, Sirius.. - interviu Rock dos Lobos.
- Nós precisamos de informações sobre a masmorra.. - lembrou Xavier.
- Se você beber comigo eu posso lhe contar.. isso além do pagamento.. é claro.. - ela disse tomando a adaga dele com um sorriso.
- Diga quem é o pai do garoto e eu beberei com você...
- Todos beberemos com você, gata. - Acrescentou Xavier.
- Está bem. Hamilton Pereira era um bom sujeito.. ele salvou o garoto dos Ladrões das Sombras.. ele teve que se sacrificar pro garoto ficar à salvo..
- Ele está morto?
- É o que os bandidos pensam... é o que se sabe... mas agora é hora de beber!
A mulher, que se chamava Chandra Kurang os conduziu para um taverna próxima ao palácio. O sol já se punha no horizonte e havia pouquíssima gente na rua. Apenas os guardas estavam à postos em toda parte, em especial no palácio de Piergeiron como que aguardando a chegada de mais mortos-vivos. A refinada taverna de Águas Reais estava vazia, a não ser por um mesa onde dois homens conversavam. Ryolith sentiu o mal em um deles, mas preferiu apenas observar.
Chandra pediu o melhor uísque da casa, o velho Jack e ia revelando informações a cada dose. Ela lhes contou que o cetro estava no terceiro nível das masmorras.. parte da qual se tratava o mapa.. diziam estar de posse de um clã de homens-peixes.. de um vampiro.. ou de um dragão negro. Havia uma entrada pelo mar, que bastaria que respirassem sob a água para acessá-la.
- Eu poderia ajudá-los com tudo isso.. mas apenas amanhã.. por hoje já bebemos demais. O amigo clérigo de vocês já está um tanto bêbado e precisa descansar. Vamos Sirius.. - ela disse aquilo já levando o ladino com ela, sem dar muito tempo para reagir. O álcool amoleceu a vontade de Sirius Black, que já estava bêbado e lembrou do nome que a mulher lhe ensina: Hamilton. Uma lágrima correu de seu rosto enquanto era levado, mas Xavier interviu.
- Vamos todos então, minha amiga.. - Sirius aproveitou a deixa para se desvencilhar de Chandra e correr gritando:
- Hamiltooon... - em direção às ruas escuras de Águas Profundas. Chandra abraçou a cintura de Xavier e tomou a direção do palácio:
- Eu não vou correr atrás de bêbado...


11 de ago. de 2013

Correr e bater em Águas Profundas


Os salões da justiça do templo de Tyr não pareciam seguros para eles agora e Sirius sentia-se impelido a estar com sua amada Selune. Percebendo que suas vidas estavam ameaçadas ali, os deslocados temporais resolveram que era hora de tomar as rédeas da situação. Eles deixaram a basílica em direção ao palácio do lorde público Piergeiron pela extensa avenida que os unia. Não perderam tempo em se lançar às ruas de Águas Profundas ainda com a noite a cobrir o céu. Apesar de a madrugada já estar findando, a escuridão era densa e não se viam estrelas ou a lua devido à muralha de força protetora que fora erguida para proteger a cidade agora que a magia faltara.
Eles viram algumas patrulhas da guarda da cidade tomando o rumo leste do mercado e outra descendo pela rua do bazar, mas não parecia haver ninguém mais que se aventurasse pelas ruas àquela hora. Desceram com pressa a avenida da seda em direção ao palácio, mas acabaram novamente atacados antes de lá chegar. Um grupo ainda maior de Ladrões das Sombras surgiu e os emboscou. Rapidamente, com sua tática covarde e cruel, foram derrubando os heróis um a um. Úrsula conseguiu se manter escondida e `a salvo, mas os bandidos pareciam fazer questão de todos eles e não desistiam de procurá-la, o que a impedia de se aproximar e tentar curar os feridos.
Para sorte da gnoma, ela viu surgir alguém subindo a rua perpendicular. Era um barulhento homem em uma armadura completa. Ele parecia perdido e não ter avistado todo o problema. Ela pegou seu arco e disparou uma flecha por sobre os ladrões das sombras, que passou raspando no sujeito.
Sem demora, o sujeito invocou magia e passou a atacar os inimigos. Úrsula, então, aproveitou para recolher duas poções de criminosos que eles haviam conseguido derrubar e usou-as para curar Rock dos Lobos e Ryolith Fox. Dois dos bandidos fugiram, enquanto os outros novamente tombaram ante a força deles. Recolheram o que puderam e o recém-chegado, que identificou-se como John Falkiner, usou suas últimas preces para erguer os demais.
- Onde estamos? - perguntou o humano após curar Sirius Black. O ladino porém concentrou-se mais em apalpar o corpo em busca de suas adagas e seu dinheiro.
- Onde estão minhas coisas?
- Estamos em Águas Profundas, clérigo. - Interviu o paladino. - Eu sou Ryolith Fox, paladino de Tyr.
- Acho que os ladrões também afanaram suas coisas, Sirius - sorriu o gnomo Arnoux ajudando o humano a se levantar.
- Águas Profundas? Eu não devia estar aqui ainda... que dia é hoje? - O servo dos deuses ficava mais confuso, pois percebia a boa índole do servo de Tyr, mas percebia que havia algo de errado.
- Melhor perguntar que ano é esse.. - riu Sirius.
- Como assim?
- Em que ano acha que estamos? - Indagou Francisco Xavier.
- 1353...
- 1348! - Respondeu Ryolith com um certo desalento na voz. - Estamos perdidos no tempo.. no tempo dos problemas...
- Isso não faz sentido... essa é a época em que os deuses tombaram. O senhor dos mortos Kelemvor..
- O deus da morte é Cyric.. ele ascendeu após a queda de Myrkul... -- interviu Ryolith reparando no símbolo sagrado de Falkiner, que possuia uma balança da justiça como o de Tyr, mas mantida pela mão esquelética da morte.
- Kelemvor é o deus da morte agora.. quero dizer, em meu tempo.. ele derrotou Cyric e trata a morte com honra e tradição que merece. Combatemos os mortos-vivos e cuidamos dos vivos. Meu senhor Azrael e minha estimada senhora Isabeau Sulivan comandam essa mudança.
- De onde você vem?
- De Soubar...
- Eu sou de Suzail em Cormyr. Este ladino chama-se Sirius Black e é dessa cidade, mas nenhum de nós pertence à essa época. Todos viemos do futuro e...
- Nós não - interviu Arnoux. - Nós viemos do passado. De 1343 nos anos dos humanos...
- O que estão discutindo? - Perguntou Úrsula na língua dos gnomos, já que não falava chondathan.
- Tempo.. blablá.. deuses.. o de sempre, querida.
- E o que pretendem fazer?
- Estamos indo para o palácio do Lorde Público da cidade. A deusa Selune que protege Águas Profundas de um iminente ataque de Shar ou de Myrkul está lá.
- Não deviamos mencionar tais deuses.. - alertou Falkiner. - Sempre tive a estranha sensação que basta citá-los para que nos escutem.
- Eu disse para chamá-la de Prostituta de Satã.. - acrescentou Srius.
- Estão tentando nos matar.. - acrescentou Xavier.
- É melhor nos apressarmos...
Já feridos e com a maior parte de suas forças exauridas, eles tornaram a avançar, agora com mais cautela rumo ao palácio. A manhã já começava a deixar o céu mais claro, mas as sombras da cidade ainda eram densas. Eles conseguiram avançar apenas um quarteirão antes que duas sombras mortas-vivas surgissem diante deles. John Falkiner não temeu o fato de Kelemvor não ser deus naquela suposta época em que se encontrava, ele tomou o símbolo sagrado entre seus dedos e invocou a pura bondade positiva que transbordava de sua fé. Isso foi demais para as criaturas imateriais, que fugiram mais rápido do que haviam aparecido.
Um instante, no entanto, bastou para que outras emergissem do chão. Eram seis, que além de atravessar o chão, atravessaram escudos, armaduras e carne, drenando a força dos músculos dos heróis. Úrsula, Arnoux, Sirius e Rock tentavam em vão acertar as sombras, pois suas lâminas e setas atravessavam-nas como se não existissem. Ryolith teve mais sorte, mas também perdera parte da força. Xavier usou um dos misseis mágicos que possuía, mas isso não foi capaz de destruir nenhuma das criaturas. John Falkiner tentou novamente esconjurá-las, mas seu poder não foi suficiente dessa vez.
Os monstros insistiram e já estavam para terminar de sugá-los , fazendo deles novos mortos-vivos incorpóreos, quando uma combinação de ataques fortuitos e um último esforço de Falkiner dessem conta das sombras. Os heróis cambalearam como puderam, tendo inclusive Sirius de carregar Falkiner e Úrsula de levar Xavier. Junto com os primeiros raios pálidos de sol da manhã, eles encontraram um grupo da guarda que os socorreu ao perceber a gravidade do estado deles.
A clériga usou uma restauração leve em Ryolith Fox e isso permitiu a eles seguirem escoltados até o palácio. Ao chegarem lá, no entanto, viram que haviam problemas maiores, pois era como se os mortos já se levantassem dos túmulos. Sombras, espectros e aparições atacavam as guarnições que defendiam o palácio como podiam. Embora fossem cerca de duas dezenas, espalhavam terror e caos entre as defesas. Os guardas escolheram deixá-los e seguir para a defesa do palácio. Foi quando ouviram alguém chamar.
- Vocês podem vir por aqui - disse a jovem de ar tímido na esquina.
- Eu conheço você.. - disse Sirius se aproximando - É a garota do orfanato... Kiriani, não é isso?
- Não... Roberta...
- Ah.. tá.. bom.. você tá meio longe do orfanato e nós temos que ir falar com Selune..
- Vocês podem vir por aqui. Eu conheço uma passagem para dentro do palácio. É pelos esgotos.
- Como uma garota como você sabe disso? - Desconfiou Falkiner.
- Eu fugi de lá por ela. Luna me levou para lá.. ela não é a mesma.. eu não confio nela.. eu vi você falando com o menino lá no orfanato e achei que pudesse ser alguém capaz de ajudar. Ver você aqui agora só pode ser um sinal. Se querem entrar, eu guio vocês.
Roberta os levou até a área entre o palácio e os muros baixos que marcavam os pés do Monte Águas Profundas, a montanha sob a qual existia a famosa Masmorra Sob a Montanha. Normalmente não chegariam até ali sem serem parados, mas a guarda estava toda concentrada na frente do palácio. Ali ela mostrou a tampa de esgoto já semi aberta, que Ryolith terminou de empurrar. Desceram e seguiram em direção ao palácio.
- Acho que estamos ligados.. você deve salvar Luna...
- Olha menina.. Luna agora está encarnada pela deusa Selune.. ela vai salvar toda a cidade - explicou o ladino com impaciência sentindo um estranho receio.
- Luna não está mais lá e eu não confio em quem está...
- Por quê? - Quis saber o paladino.
- Eu cresci no orfanato.. Luna me salvou.. me criou.. me deu um lar. Sempre foi uma pessoa boa e amorosa comigo. Quem está dentro dela não tem esse mesmo amor.. o mesmo carinho. Desde que ela chegou tudo mudou.
- Esses tempos são de confusão, Roberta - explicou Ryolith com toda a calma, entendendo que a garota passava pelas confusões da puberdade. - Luna está ocupada em tomar conta de todos agora por ser Selune, mas tenho certeza que não se esqueceu de você, tanto que a trouxe para cá. Eu irei protegê-la, enquanto isso...
- Obrigada, moço.
- Isso, menina, ande atrás do paladino.. - disse Sirius afastando-se um metro e meio.
Eles saíram em um deposito repleto de barris, caixotes e sacos de grãos. Dali, chegavam os ecos da movimentação dos protetores do palácio. Chegaram até o pátio central e puderam ver que as sombras, espectros e aparições também emergiam dentro do castelo e muitos eram os soldados que tombavam totalmente drenados pelos mortos-vivos e dando lugar a novas criaturas.
Ryolith Fox não perdeu tempo e partiu como podia contra os inimigos. Úrsula se escondeu e Arnoux avançou um pouco para protegê-la. Falkiner invocou suas forças de postividade pura. Rock e Xavier cambalearam como podiam, enquanto Sirius clamou por Selune.
Todos viram a deusa encarnada em Luna surgir no centro do pátio voando a dez metros do chão. Ela brilhava como a lua cheia que já começa a findar. Seu olhar era terno e pareciam procurar por seu estimado Sirius Black. Com um pensamento, junto com os primeiros raios da manhã que superavam a muralha e invadiam o pátio, ela explodiu em luz quente e positiva do sol. Todos os mortos-vivos, mesmo aqueles que atormentavam a fachada do palácio foram destruídos imediatamente, enquanto todos os feridos foram curados, os enfraquecidos restaurados e os mortos consagrados para não terem seus espíritos profanados. Com um leve giro no ar, a deusa pousou no chão e dirigiu-se aos heróis:
- Que bom que estão aqui, meus caros.. principalmente você, Sirius. E Roberta.. o que faz aqui.. você devia estar em seu quarto...
- Eu fugi... eu.. eu não confiava em você.. eu queria a Luna de volta... - choramingou a garota.
- Não se preocupe, minha querida. Ficará tudo bem, eu prometo que você não vai mais sofrer.. com o tempo você entenderá tudo. - Aquelas palavras de conforto pareceram ter um grande sucesso, pois imediatamente a feição de Roberta mudou e ela pareceu não só conformada, como amigável e receptiva. Ryolith Fox, no entanto, foi o único a não achar aquilo natural. Enquanto Sirius se aproximou e se postou de joelhos diante da deusa, Ryolith preferiu falar:
- Senhora Selune, me perdoe a intromissão, mas creio que seja urgente que falemos com o Lorde Público. Além de termos sido novamente atacados por Ladrões das Sombras, essas sombras mortas-vivas e esses outros mortos-vivos são um sinal de que os ataques da Prosti.. da deusa do mal.. estão começando..
- Isso também pode ser obra do Senhor da Morte, já que eram todos mortos-vivos. Seja como for, é preciso que todos orem para mim para que possam restaurar seus poderes...
- Você está em todas as minhas palavras.. - derreteu-se Sirius. 
- Com os outros deuses distantes, é preciso que voltem-se para mim para terem seus poderes e possamos dar conta dessa terrível ameaça. Vocês precisam descansar, se alimentar e recuperar suas forças. Eu preciso levar a palavra da salvação aos templos e fiéis, pois as ruas não são seguras mesmo com minha muralha.
Eles concordaram e Ryolith teve o cuidado de levar Roberta com ele. Sirius demorou-se:
- Pensei que pudessemos ter um particular...
- Vá descansar, meu amado. Logo estarei com você de uma forma que você nunca concebeu, meu querido. Deixei um presentinho nos seus aposentos.. - e assim ela sumiu, se desfazendo no ar. 
Enquanto a guarda se movimentava e a criadagem tentava trazer de volta a normalidade ao palácio de Piergeiron, os heróis foram levados para boa acomodações. Rock protestou contra o risco de uma vez mais serem atacados dormindo sozinho e acabou se acomodando junto com o casal de gnomos. Ryolth Fox e John Falkiner, ao se recolherem, preferiram dedicar as suas orações a Tyr e Kelemvor, respectivamente, Xavier, por sua vez, orou para Oghma, mas também para a deusa da lua. Sirius, por sua vez, deparou-se com alguém sob os lençóis de sua cama.
- Ei, eu conheço você...
- Sou Kiriani, senhor.. - disse a jovem nua sob os lençóis. - Eu fui mandada para servi-lo.
- Bem.. você... não me serve.. melhor sair daqui. Eu tenho que.. que.. que tomar um banho.. - Sirius disse começando a tirar a roupa e dirigindo-se para a grande tina cheia de água no canto oposto do aposento. 
- Eu não sou boa para o senhor? - Kiriani levantou-se deixando cair o lençol. - Selune ficará decepcionada comigo...
- Não é isso, eu esperava por Ela.. - ele terminou de se despir, mantendo-se de costas pra ela, mesmo que seus olhos espiassem mantendo-a na periferia de sua visão, e entrou na água. - Não tenho nada a tratar com você.. é apenas isso.. prefiro esperar pela... - as palavras dele foram interrompidas pelas mãos dela, que se debruçou acariciando-lhe o peito. Isso bastou para Sirius tomá-la nos braços e derramar a água da banheira.

Durante as oito horas seguintes, o grupo descansou e se recuperou com a boa comida, as camas confortáveis, os pequenos altares particulares de que dispunham. Quando despertaram, todos tinham tido novamente o mesmo sonho, quase uma continuação do anterior, onde a mulher ruiva transformou-se em um grande hipogrifo e carregava uma elfa verde, um humano e um bando de gnomos para uma floresta. Reuniram-se e resolveram ir ter com o Lorde. Xavier estavam particularmente preocupados, pois suas magias arcanas, ao contrário dos poderes divinos do clérigo e do paladino, não haviam retornado
Na entrada da ala particular do governante, no entanto, foram detidos pelos guardas. Foram informados de que o Lorde Público estava reunido com os 19 Lordes Secretos da cidade e que quando tudo acabasse seriam chamados em seus quartos. Retornaram e todos resolveram por ali ficar. Úrsula e Arnoux curiosos sobre uma assembléia tão importante, escalaram pelo interior da chaminé do quarto e chegaram ao telhado. Eles avaliaram a distância e encontraram a chaminé que corresponderia ao salão do Lorde Piergeiron. Desceram em silêncio e escondidos até conseguirem ouvir o que se discutia lá dentro.
- ... mas é inaceitável que obriguemos todos a rezar apenas para uma deusa. - disse uma voz masculina.
- Os tempos são outros, caro Lorde. - Arnoux reconheceu a voz de Piergeiron. - Deuses estão morrendo em nossa cidade!
- Ainda assim, Lorde Público. É inaceitável que obriguemos todo o povo da cidade a rezar apenas para Selune. - disse uma voz feminina.
- Talvez vossas excelências estejam me entendendo errado, milady. O objetivo dessa reunião não é decidir se isso será feito, mas apenas informá-los de que isso SERÁ feito! - O tom de Piergeiron ia se tornando mais firme e alto. - Dois deuses irão invadir Águas Profundas e já estão começando a fazê-lo! Eu irei proteger essa cidade, nem que tenha que decretar lei marcial!!! - Seguiu-se o barulho de um murro sobre a mesa e os burburinhos escandalizados dos demais, fazendo o casal de gnomos perceber que era hora de sair dali. Eles correram de volta para o quarto e ainda sujos de fuligem foram alertar os colegas, quando justamente chegavam os guardas para convocá-los à presença do Lorde Público Piergeiron.