26 de jul. de 2013

Fases da lua...

Alissah Eagle caminhava pelo novo reino do deus das fadas Timothy Hunter, que durante seus mais de cem anos de vida como elfa verde sempre fora seu lar, a Grande Floresta. A feiticeira renascida como um espírito daquela mata aproveitava esses últimos dias para matar a saudade de sua terra natal, da natureza ancestral que havia ali e de seus parentes, como não podia desde que resolvera se aventurar há mais de 2 anos e encontrara com Ehtur pela primeira vez, logo após o eclipse. Foi durante a caminhada entre as árvores que a dríade sentiu uma dor em seu peito e soube que seu amado Ehtur Telcontar corria perigo. Era como se uma vez mais as forças do mal se interpusessem entre o amor deles, pois não tinha notícias do amado desde que, há três dias, ele partiu rumo a Lua Prateada para auxiliar os gnomos e a deusa da lua. Num impulso, ela mergulhou no carvalho ao qual seu espirito estava agora vinculado, urgindo em direção ao homem que amava.
Alissah surgiu muitos quilômetros a noroeste dali, emergindo de um jovem carvalho da Mata de Invernunca. Além das árvores, ela podia ver o mar a oeste, cuja brisa chegava fria, além de uma estrada onde uma multidão de humanos e gnomos caminhava. Algo, no entanto, parecia tumultuar a marcha. Aproximando-se, a feiticeira dríade reconheceu uma grande águia lendária, que entendeu se tratar da druida Daphne da Grande Floresta. Uma maga muito bela de cabelos prateados voava e parecia ataca-la.
Daphne sentira a tentativa de invasão de sua mente e resistira, logo entendendo que a arquimaga Laeral Cajadonegro tentara dominá-la. Sem entender as razões da filha de Mystra e já preocupada com o destino de seus companheiros que haviam retornado para as ruínas de Luskan após o ataque dos dragões, ela preferiu usar de sua diplomacia. Porém, Laeral pouca atenção deu às suas palavras e preferiu conjurar sobre ela três asas noturnas. Os mortos-vivos atacaram a druida, drenando algumas de suas magias, sem se intimidar com a aura sagrada de luz da serva da natureza.
A chegada do trio de mortos-vivos trouxe pânico e caos entre os refugiados que marchavam, fazendo com que fugissem em todas as direções. Deborah clamou pelo poder divino de Gaerl Ourobrilhante, senhor dos gnomos, e disparou raios de pura luz contra um dos monstros. Yorgoi preferiu usar seus talentos de bardo para conduzir os gnomos em segurança para o interior da mata. Alissah conjurou um grifo celestial para auxiliar a druida. A mestra das muitas formas, por sua vez, optou por se transformar em um cronotyryn, uma mítica criatura semelhante a um grande pássaro com dois cérebros, capaz de agir duas vezes mais rápido que qualquer outro, atacando o trio de sombras da noite. Isso não impediu que a druida recebesse além dos ataques, uma nova magia da arquimaga, que desta vez tentou paralisá-la. Entendendo o risco maior, Alissah conjurou um arconte dos planos celestiais sobre a maga. Deborah continuava a lançar seus raios de luz, enquanto Yorgoi cantou para animar suas aliadas, já estando os gnomos em relativa segurança. 




Apesar dos esforços do quarteto, a arquimaga Laeral não parecia recear a derrota e continuava a investir contra eles como se nunca tivessem sido aliados. Suas ações traziam terror aos que antes ela mesma salvara a muito custo. A nova magia que ela conjurava seria capaz de ceifar a vida de todos ali, mas desta vez, o arconte que a combatia aproveitou a oportunidade para um ataque, quebrando a concentração da filha da deusa da magia e fazendo-a perder a magia. Isso deu tempo para que eliminassem a primeira das três asas noturnas, bem como de Alissah conjurar um segundo grande arconte sobre a inimiga.
A tática, entretanto, não funcionou uma segunda vez. Movimentando-se para evitar os ataques, Laeral Cajadonegro lançou uma necromancia capaz de murchar o líquido de todos os corpos que ali estavam. Enquanto as árvores mais próximas secaram e morreram, muitos dos humanos que ainda lutavam para escapar tombaram como uvas passas vencidas. As heroínas sentiram o dano que isso causava em seus corpos, quase custando a vida delas, como custou a dos arcontes e do grifo. Nesse instante, porém, Daphne da Grande Floresta percebeu que uma forma invisível se esgueirava furtiva nas costas da poderosa Laeral. Justamente no momento em que o êxtase da vitória derramava-se dos olhos da arquimaga, todos viram surgir um homem que cravou sua espada num ataque mortal. O corpo, no entanto, não tombou e sim se desfez em sombras, que logo se dissiparam.
Os conhecedores de magia souberam se tratar de uma cópia sombria, uma imitação feita com matéria do plano das sombras. Ainda que aquém da original, em seus níveis mais altos, o dupo era capaz de quase 80% do poder do original. Onde estaria então a verdadeira Laeral?
- Quem é você? – Disse Daphne dirigindo-se ao recém-chegado, que ela nunca havia visto.
- Eu sou Paulo Mota, servo de Morpheus – anunciou o sujeito no tom misterioso que parece próprio dos servos do deus dos sonhos. – O perigo ainda não está de todo eliminado. Fui enviado aqui para dar conta da ameaça... 
- Enviado por quem? Por Byron?
- Sim.. por Lorde Byron e pela vontade de Morpheus. 
Apesar de receosas, Daphne e os demais sentiam que podiam confiar nas palavras daquele homem que salvara a todos. Passaram então a tentar reunir a multidão que se dispersara, mas não houve muito tempo. Os olhos de Alissah miraram o horizonte a norte. Sentia como se Ehtur lá estivesse, mas como se uma vez mais seu amor escapasse de seu alcance e de lá sumisse. Um vazio cresceu em seu íntimo.
Tão subitamente quanto começara o primeiro problema, Alissah, Daphne, Deborah, Yorgoi e Paulo sentiram suas energias vitais sendo drenadas por algum efeito nefasto. Aquilo parecia uma necromancia épica, ainda mais terrível do que as magias da falsa arquimaga. Paulo fez-se novamente invisível com seu anel, enquanto o pânico voltava a se espalhar entre as pessoas comuns. Para piorar, surgiram três demônios vrocks flanqueando Daphne.  
A druida prontamente se transformou em uma imensa hidra voadora de doze cabeças para encarar o trio abissal. Deborah sentindo-se quase privada de seu contato com o deus dos gnomos, usou de um pergaminho de restauração para se recuperar mesmo que parcialmente e se movimentou na direção de Alissah sacando outro. A feiticeira perdera muitas de suas inatas magias, mas encontrou forças para conjurar um olhar arcano, capaz de fazê-la ver a origem daquelas forças nefastas. A magia permitia que visse a aura mágica ao redor de tudo que tirasse suas forças da teia mágica do mundo. Assim, conseguiu ver desde os contornos da invisibilidade de Paulo Mota até a escura aura necromântica que vinha da Mata de Invernunca. Gritou um alerta, que Yorgoi tentou usar para trazer de volta os gnomos, mas sua fraqueza afetou sua diplomacia, causando apenas mais pânico em seu povo.
Paulo Mota avançou e flanqueou os vrocks com Daphne, enquanto Deborah leu o segundo pergaminho para ajudar Alissah.  Os demônios seguiam atacando com garras, presas e caudas, mantendo os heróis ocupados, enquanto o mestre deles não tardou mais a se manifestar. Daphne logo percebeu se tratar de um lich, com as vestes de um arquimago. Pensou que não parecia tão terrível quanto Szaas Tam, por exemplo, mas conforme este avançava, sua aura profana fazia tremer os cadáveres como se fossem se erguer como novos mortos-vivos a qualquer momento.
- Resistir é inútil, mortais. Um novo tempo se anuncia.. um tempo em que os vivos servirão os que não temem a morte e a dominaram. – A voz fria dele parecia embebida de arrogância e crueldade, como um fanático diante do delírio mais fervoroso. – Não bastassem os dracolichs, a verdadeira força está agora liberta, pois o maior dos antigos arquimagos de Netherill está livre.. aquele que se fez um demilich!
- Demilich? Isso não passa de uma lenda para assustar crianças e crédulos inocentes! – Recusou-se a aceitar Daphne. Mas como se para responder suas palavras, ela viu surgir ali um crânio flutuante. No lugar das órbitas vazias, ele tinha dois grandes diamantes onde dançavam feixes vermelhos como almas aprisionadas e atormentadas. Naquele instante, a druida da Grande Floresta soube que não era uma lenda e temeu pelo pior.
O serviçal lich aproveitou para conjurar uma nova necromancia que mataria a todos que ouvissem seu grito de banshee. Allissah se adiantou a ele e com toda a força que restava desfez a magia com sua abjuração. Desconcertado, o arquimago viu Paulo Mota e Daphne deixarem os lacaios demoníacos e se atirarem sobre ele, mesmo que ficando à mercê dos ataques oportunistas dos vrocks. Yorgoi redobrou os esforços e conseguiu conduzir os sobreviventes numa direção menos problemática.
O demilich não parecia preocupado com nada daquilo e com um simples pensamento fez com que todos os corpos próximos num raio de 40 metros se tornassem grandes devoradores, fossem os cadáveres de humanos ou de gnomos. Além disso, um segundo círculo necromântico, indo além de onde a vista deles divisava se expandiu até alcançar mesmo o mais distante dos refugiados, ceifando lhes a vida. Aquilo estava muito além de qualquer coisa que os heróis ali presentes já tivessem testemunhado.
Enquanto eles estavam aturdidos por tamanha demonstração de poder, mesmo acossado, o serviçal lich aproveitou para lançar sobre eles um encantamento, que fez suas mentes curvarem-se ante o maior temor que habitava em seus íntimos. Um a um, os heróis tombaram com os olhos vidrados do medo. Paulo, Alissah, Deborah e Yorgoi morreram e pareciam ser os próximos a ingressar na horda de mortos-vivos. Apenas Daphne da Grande Floresta ainda resistia.
A druida das muitas formas transformou-se em um pégaso e julgou que sua única chance seria fugir o mais rápido possível para viver e lutar um outro dia, enquanto seus antagonistas ameaçavam-na com promessas de experiências profanas e terríveis sobre sua pureza natural. No entanto, antes de partir, os olhos dela fitaram o céu, onde o filete da lua crescente, tal qual um sorriso, surgia como se dera desde que haviam realizado o ritual para Selune em Lua Prateada. Daphne sentiu em seu íntimo o poder da deusa da lua, senhora da esperança, e soube que não devia partir, mas sim perseverar. Com uma prece, Daphne da Grande Floresta investiu contra seus inimigos.
Junto com aquele ataque, um ofuscante brilho prateado tomou conta daquele princípio de noite. A energia invadiu o corpo dos quatro heróis tombados e os trouxe de volta à vida para surpresa do demilich, que sentia a intensidade daquela força positiva perturbar suas invocações necromânticas. Seus devoradores pareciam agora titubear.
Assim como Paulo Mota, Alissah Eagle, Daborah Martins e Yorgoi Dossantis ressucitaram como se nada tivessem sofrido. Daphne viu surgir uma mulher, que seus olhos diziam ser a finada Kiriani, mas que sua fé dizia se tratar de Selune.
- Para cada mal ancestral que retornar a esse mundo, arquimago, uma luz de esperança despontará.
- Não é uma deusa noviça que será capaz de impedir meus planos! Este tempo agora é meu!!! – Furioso, o demilich investiu contra a deusa, disparando suas mais tenebrosas energias, enquanto ela espalhava sua benção protetora.
Os heróis percebendo que não deviam perder tempo lançaram-se à batalha sentindo-se mais fortes do que antes dos ataques. Yorgoi cantou como nunca, enquanto Deborah explodiu em luz como se fosse um pequeno sol. Paulo de Tarso terminou de derrubar dois dos devoradores feridos pelas energias da deusa e de Deborah, enquanto Daphne tornou a forma de Cronotyryn e investiu contra o serviçal lich arrancado lhe a cabeça. Mesmo assim ferido, o morto-vivo permaneceu de pé e foi preciso que Alissah conjurasse seus arcontes. Dessa vez, no entanto, viu surgir um anjo solar, cuja espada vorpal não só partiu o corpo do lich ao meio como destroçou o crânio.


- CHEGA!!! – Urrou o demilich. – Eu desejo que seus milagres se desfaçam e que sua intervenção seja pequena como sua carreira de deusa, mulher.  Este mundo não se curvará ante a falsa grandeza desses novos deuses inaptos sob o meu comando! – Os heróis logo entenderam que aquele desejo não era apenas palavras, nem mesmo a poderosa magia com que sonham tantos magos, mas sim algo além da compreensão dos que praticam magia no mundo atual. Não só as energias da pureza que os impeliam se desfizeram, como a própria deusa Selune parecia agora apenas a mortal Kiriani, sem qualquer brilho especial. Até mesmo os mortos-vivos destruídos começavam a se reconstituir, como se nada de bom restasse.
- O meu milagre não é enfrenta-lo, arquimago de Netherill... – disse Kiriani com voz trêmula, mas encarando-o com firmeza. – Meu milagre é trazer esperanças a esses corações e mostrar que sempre há forças para continuar. Eu sou Selune, a dama do luar, a mãe zelosa e a sábia senhora! Meu milagre é arrancar de você essa vitória. – E tendo dito isso, os heróis viram o demilich e sua horda desaparecerem, ao mesmo tempo que a deusa tombou beirando a inconsciência. Restaram eles e uma dezena dos melhores entre os gnomos que haviam ouvido Yorgoi e conseguido se manter à salvo.
Deborah e Alissah correram para acudir a mulher que os salvara com o poder da lua. Daphne e Paulo certificaram-se que a ameaça não espreitava próxima, embora não tivessem certeza do que poderiam fazer se eles retornassem.
- Precisamos partir.. – disse Kiriani quase sem forças. – Vamos para a Grande Floresta...

7 de jul. de 2013

O Tempo dos Problemas...

- Aquele é o pequeno Sirius Pereira. Fica sempre assim nas sombras e pelos cantos... - indicou com uma voz doce a tal Luna. A serva de Selune parecia a responsável por aquele pequeno orfanato. O prédio modesto e mal-estruturado era parte de um conjunto de três barracos que formavam a taverna Sorriso de Selune e o mercado de pulgas Eclipse. Havia cerca de uma dúzia de crianças. Sirius Black via que Sirius Pereira era um menino de 8 anos, magro e pequeno, sentado em um canto enquanto alguns meninos maiores o perturbavam. Sirius sabia que era ele mesmo dez anos mais jovem. - Você é parente dele? Há uma certa semelhança e...
- Eu o conheço, mas não sou parente dele. Sei que ele vai ter um futuro difícil.. ninguém quer se ocupar de um menino dessa idade.. você sabe dos pais?
- Não sabemos nada.. - Luna disse lamentando com sinceridade. Sirius Black percebia que essa mulher de quem não se recordava era uma pessoa de boa índole, além da beleza ingênua. Deveria ter pouco mais de 20 anos.
- Posso falar com ele?
- Claro.. eu tenho outras coisas pra fazer, mas se precisar, pode falar com Roberta ou Kiriani.. - ela disse indicando as duas garotas, que pareciam ter cerca de 14 anos. Sirius se lembrava que fora cuidado por meninas maiores, mas não se recordava se eram esses os nomes. Uma delas olhou Sirius Black de maneira lasciva, enquanto a outra baixou os olhos como uma menina acanhada.
Ele caminhou em direção ao garoto, o que fez os demais meninos se afastarem. Black se ajoelhou diante do menino Sirius e encarou-o nos olhos amedrontados. O menino sentiu uma empatia nos olhos do jovem homem. Black pegou uma de suas adagas e deu ao garoto.
- Isso aqui, garoto, vai ser a sua salvação. Chegou a hora de virar homem. Aprenda a usar e ninguém mais vai dificultar pra você.
O menino segurou a arma com receio antes de dizer:
- Mas eu prefiro fazer poesias e...
- Nada de poesias, moleque. Seu negócio agora é furar.
- Quem é você?
- Eu sou um amigo.. um dia você vai entender.. agora tá na hora de você começar a virar homem. A gente não escolhe as dificuldades da vida, moleque. Ou você enfrenta os problemas ou eles enfrentam você. Você tem que ser liso quando possível, ser rápido quando preciso e ser preciso se tiver oportunidade. Além disso, lembre-se de Selune..
- Selune.. bem.. é que eu pensei em.. Shar...
- Esquece disso, moleque.. isso é treta. Selune vai te proteger...
Sirius Pereira baixou os olhos para ver melhor a adaga finamente trabalhada. Quando ergueu o olhar, o homem já havia deixado o orfanato e seguia andando ao lado de um outro homem jovem que vestia um manto branco. Enquanto eles partiam, Roberta e Kiriani tinham trabalho para desarmar o garoto.
- O problema temporal é real. Aquele sou eu criança, eu não devia estar aqui.
- Nós não devíamos estar aqui. Nem os outros que seguiram para o templo de Tyr. Creio que apenas Oghma, o senhor do conhecimento saiba sobre o que está se dando. Na Fortaleza da Vela, não temos nenhum livro sobre viagens pelo tempo.
- Melhor irmos atrás deles, Xavier.

Enquanto os dois seguiam para o templo de Tyr, iam se aproximando da área central de Águas Profundas. Essa parte mais antiga era o encontro de todas as grandes avenidas da metrópole e também concentrava os prédios de interesse público. A maioria dos templos e basílicas ocupavam grandes terrenos e rivalizavam na grandiosidade. Foi ali que viram cair a energia luminosa como um cometa vindo dos céus sobre um dos enormes templos da região central de Águas Profundas. Francisco Xavier viu que era o templo de Mystra com suas incontáveis torres. Antes que pudessem prosseguir, o caos tomou conta da cidade. Todos que estavam nas ruas passaram a fugir desordenadamente, enquanto os que estavam em casas e prédios fecharam-se como puderam.
A explosão luminosa chamou pouca atenção dos que estavam reunidos no templo de Tyr. Apesar de não distar muito, a basílica da torre de marfim estava tomada pela confusão. Os paladinos e clérigos de Tyr ainda tentavam se recuperar da cegueira mágica que os acometia. Ryolith Fox tinha o peito disparado, pois sabia que exatamente o que se passava. Foi uma das primeiras coisas que aprendeu no colégio Azoun II nas aulas do professor Dinair Andradis. Quando se iniciou o Tempo dos Problemas, os deuses foram punidos sendo jogados nesse mundo, presos em corpos mortais. Por não fazer valer a justiça que lhe cabia, Tyr foi punido com a perda da visão, lesão que ele escolheu não regenerar. Todos os servos do Senhor da Justiça sentiram o mesmo efeito por alguns minutos. Ele sentia na pele um dos momentos emblemáticos de sua ordem.
O Lorde Aberto de Águas Profundas, o grande paladino Piegeiron, assim como o sumo-sacerdote de Tyr estavam cegos como os demais, mas tentavam acalmar a todos. Ryolith Fox alertou Ehtur Telcontar, mas eles também silenciaram ante a voz estrondosa que soou na mente de todos e ecoou pelas ruas da metrópole, após a energia cadente celeste e a cegueira divina.
- Eu sou Lorde Ao, guardião perpétuo dos destinos e de suas tábuas, sentenciador dos deuses por suas faltas para com suas obrigações. Todas as divindades de Faerun sentirão o peso de viverem além de seus planos e entre seus seguidores.
A voz estrondosa também surpreendeu Sirius Black e Francisco Xavier, mas não mais do que a mulher que caiu sobre eles como se também viesse dos céus. Eles reconheceram Luna, muito embora desta vez ela tivesse os cabelos brancos como o luar e seus olhos derramassem uma energia branca.
- Selune vive em mim. Eu sou sua arauta, sua avatar. Como foi anunciado, os deuses estão aqui e agora o poder da Senhora vive em mim.
- Como isso é possível, Luna? - Disse Sirius sem nada entender. Mesmo o intelectual Xavier não parecia ter maiores entendimentos sobre tudo o que se passava. Talvez para responder a eles ou a si mesma, a jovem levou-os dali, fazendo-os aparecer de fronte à praça dos principais templos dos deuses. Mas eles, assim como toda a cidade, tiveram suas atenções atraídas para o arco-íris que se ergueu do Templo de Mystra para o céu. Até mesmo os servos de Tyr viam já com clareza o que se dava, percebendo Ryolith que sequer tinha tempo de relatar esses eventos de que já tinha conhecimento.
- Eu sou Mystra, Senhora da Magia e Dama dos Mistérios! Não ficarei enclausurada como um animal pela inconsequência alheia. - No entanto, apesar das palavras da deusa, o arco-íris parou de se expandir em um ponto do céu, onde surgiu uma enorme armadura que empunhava uma espada bastarda junto ao peito.
- Você não pode passar! - Soou a voz mecânica do deus Elmo, o único liberado da punição para vigiar os demais.
- Seu poder é ínfimo ante o meu, Vigilante! - E com essas palavras da deusa que surgiu sobre o extremo do arco-íris de fronte à armadura como uma mulher, as placas de metal desmontaram-se como se quem quer que a sustentasse deixasse de existir. Ryolith quis gritar um alerta, assim como Xavier teve a premonição da hecatombe existencial que se daria a seguir.
Antes que a armadura tombasse no chão, ela retornou ao estado inicial, movendo a espada com celeridade e decapitando a forma da deusa da magia. A mulher explodiu em energia prateada e faiscante, enquanto o arco-íris e Elmo permaneciam pairando sobre a cidade.
- A magia.. a teia mágica.. ela deixou de existir.. - balbuciou Francisco Xavier aturdido. Luna Selune os conduziu ao interior do templo de Tyr, enquanto ela mesma acendeu acima da cidade:
- Não tema povo de Águas Profundas, pois vocês tem a proteção da deusa da lua.  - Uma enorme muralha translucida cobriu a metrópole como se fosse uma muralha de força colossal. Ela espatifou o ponte arco-íris que sumiu, assim como o deus Elmo. Aquilo não poderia ser feito por alguém que não fosse uma deusa, ainda mais sem magia. - Orem pela proteção da lua e para que se afaste a escuridão.
Enquanto Luna Selune falava ao povo da cidade, os deslocados temporais voltaram a se reunir. Sabiam que os eventos pareciam escapar à qualquer controle que tentassem ter. Mesmo assim, Ryolith Fox conseguiu alertar ao Lorde Aberto Piergeiron que dois ataques haveriam contra Águas Profundas, um de Shar e outro de Myrkul, deus dos mortos. Ele sabia também que Tyr estava longe dali e que assim como a magia faltara, faltariam respostas às preces. Seus estudos davam conta de que Tymora aparece em Cormyr, trazendo sorte ao reino. As autoridades se mobilizaram para dar conta de tantos acontecimentos e das profecias, enquanto os heróis resolveram que seria melhor descansarem.
Eles receberam acomodações no Templo de Tyr. Apenas Ehtur Telcontar recusou-as e resolveu partir para a Grande Floresta, pois Ryolith relatou que é onde diziam que Mielikki manifestou-se. O guardião também lembrava-se de comentários de que sua deusa sempre corria no interior das matas mais antigas da floresta mais antiga. Ele deixou Águas Profundas com a benção de Selune, que abriu a passagem na muralha de força. Ele viu aqueles que já se aglomeravam do lado de fora da cidade, desconfiados e desinformados do que se passara.
Mesmo afastado dos outros, o guardião de Miellikki teve o mesmo sonho que seus companheiros. Todos eles sonharam com uma bela mulher ruiva que mudava de forma combatendo o que parecia ser uma maga muito poderosa de cabelos brancos. As duas batalhavam nos céus acima de uma sem número de humanos e gnomos.
Aqueles que permaneceram em Águas Profundas foram despertados de seus sonhos por visitas inesperadas. Assassinos os atacaram. Talvez não fosse a benção enviada por Selune, que mantinha os pensamentos em Sirius todo o tempo, mesmo cuidando da proteção da cidade junto às autoridades e não tivessem tido sorte. Arnoux chegou a ser vitimado, mas tão logo Sirius, Ryolith e Rock eliminaram seus algozes, puderam ir em socorro dos gnomos. Sirius Black reconheceu o símbolo dos Ladrões das Sombras e informou isso aos demais.
Longe dali, Ehtur Telcontar conseguiu dormir por mais tempo na relva, gravando bem o rosto feminino de uma bela elfa verde que lhe trazia uma estranha sensação de dejá vu. Foi quando buscou atravessar as águas fortes do rio Dessaryn, percebendo ser necessário cuidado, que apareceu-lhe uma fada aquática. A pequenina nyx ofereceu ajudá-lo com a travessia em troca de uma paga. O guardião achou graça da proposta, mas antes que pudesse deixá-la de lado, ele e a fada foram atacados por morcegos feitos de trevas. O servo da natureza sobreviveu e os destruiu, mas não antes que sugassem a vida da pequenina fada, que morreu ali em seus braços antes que pudesse ser curada.