Alissah Eagle caminhava pelo novo reino do
deus das fadas Timothy Hunter, que durante seus mais de cem anos de vida como
elfa verde sempre fora seu lar, a Grande Floresta. A feiticeira renascida como
um espírito daquela mata aproveitava esses últimos dias para matar a saudade de
sua terra natal, da natureza ancestral que havia ali e de seus parentes, como
não podia desde que resolvera se aventurar há mais de 2 anos e encontrara com
Ehtur pela primeira vez, logo após o eclipse. Foi durante a caminhada entre as árvores que a dríade
sentiu uma dor em seu peito e soube que seu amado Ehtur Telcontar corria
perigo. Era como se uma vez mais as forças do mal se interpusessem entre o amor
deles, pois não tinha notícias do amado desde que, há três dias, ele partiu rumo a
Lua Prateada para auxiliar os gnomos e a deusa da lua. Num impulso, ela
mergulhou no carvalho ao qual seu espirito estava agora vinculado, urgindo em
direção ao homem que amava.
Alissah surgiu muitos quilômetros a
noroeste dali, emergindo de um jovem carvalho da Mata de Invernunca. Além das
árvores, ela podia ver o mar a oeste, cuja brisa chegava fria, além de uma
estrada onde uma multidão de humanos e gnomos caminhava. Algo, no entanto,
parecia tumultuar a marcha. Aproximando-se, a feiticeira dríade reconheceu uma
grande águia lendária, que entendeu se tratar da druida Daphne da Grande
Floresta. Uma maga muito bela de cabelos prateados voava e parecia ataca-la.
Daphne sentira a tentativa de invasão de
sua mente e resistira, logo entendendo que a arquimaga Laeral Cajadonegro
tentara dominá-la. Sem entender as razões da filha de Mystra e já preocupada
com o destino de seus companheiros que haviam retornado para as ruínas de
Luskan após o ataque dos dragões, ela preferiu usar de sua diplomacia. Porém,
Laeral pouca atenção deu às suas palavras e preferiu conjurar sobre ela três asas noturnas. Os mortos-vivos atacaram
a druida, drenando algumas de suas magias, sem se intimidar com a aura sagrada de luz da serva da natureza.
A chegada do trio de mortos-vivos trouxe
pânico e caos entre os refugiados que marchavam, fazendo com que fugissem em
todas as direções. Deborah clamou pelo poder divino de Gaerl Ourobrilhante,
senhor dos gnomos, e disparou raios de pura luz contra um dos monstros. Yorgoi
preferiu usar seus talentos de bardo para conduzir os gnomos em segurança para
o interior da mata. Alissah conjurou um grifo celestial para auxiliar a druida.
A mestra das muitas formas, por sua vez, optou por se transformar em um
cronotyryn, uma mítica criatura semelhante a um grande pássaro com dois cérebros, capaz de agir duas vezes mais rápido que qualquer outro, atacando o trio de sombras da noite. Isso não impediu que a druida recebesse
além dos ataques, uma nova magia da arquimaga, que desta vez tentou
paralisá-la. Entendendo o risco maior, Alissah conjurou um arconte dos planos
celestiais sobre a maga. Deborah continuava a lançar seus raios de luz,
enquanto Yorgoi cantou para animar suas aliadas, já estando os gnomos em
relativa segurança.
Apesar dos esforços do quarteto, a arquimaga Laeral não
parecia recear a derrota e continuava a investir contra eles como se nunca
tivessem sido aliados. Suas ações traziam terror aos que antes ela mesma
salvara a muito custo. A nova magia que ela conjurava seria capaz de ceifar a
vida de todos ali, mas desta vez, o arconte que a combatia aproveitou a
oportunidade para um ataque, quebrando a concentração da filha da deusa da
magia e fazendo-a perder a magia. Isso deu tempo para que eliminassem a
primeira das três asas noturnas, bem como de Alissah conjurar um segundo grande
arconte sobre a inimiga.
A tática, entretanto, não funcionou uma
segunda vez. Movimentando-se para evitar os ataques, Laeral Cajadonegro lançou
uma necromancia capaz de murchar o líquido de todos os corpos que ali estavam.
Enquanto as árvores mais próximas secaram e morreram, muitos dos humanos que
ainda lutavam para escapar tombaram como uvas passas vencidas. As heroínas
sentiram o dano que isso causava em seus corpos, quase custando a vida delas,
como custou a dos arcontes e do grifo. Nesse instante, porém, Daphne da Grande
Floresta percebeu que uma forma invisível se esgueirava furtiva nas costas da poderosa Laeral. Justamente no momento em que o êxtase da vitória derramava-se dos olhos
da arquimaga, todos viram surgir um homem que cravou sua espada num ataque
mortal. O corpo, no entanto, não tombou e sim se desfez em sombras, que logo se
dissiparam.
Os conhecedores de magia souberam se
tratar de uma cópia sombria, uma imitação feita com matéria do plano das
sombras. Ainda que aquém da original, em seus níveis mais altos, o dupo era capaz de quase 80% do poder do original. Onde estaria então a verdadeira Laeral?
- Quem é você? – Disse Daphne dirigindo-se
ao recém-chegado, que ela nunca havia visto.
- Eu sou Paulo Mota, servo de Morpheus –
anunciou o sujeito no tom misterioso que parece próprio dos servos do deus dos
sonhos. – O perigo ainda não está de todo eliminado. Fui enviado aqui para dar
conta da ameaça...
- Enviado por quem? Por Byron?
- Sim.. por Lorde Byron e pela vontade de Morpheus.
Apesar de receosas, Daphne e os demais sentiam que podiam
confiar nas palavras daquele homem que salvara a todos. Passaram então a tentar reunir a multidão
que se dispersara, mas não houve muito tempo. Os olhos de Alissah miraram o
horizonte a norte. Sentia como se Ehtur lá estivesse, mas como se uma vez mais seu
amor escapasse de seu alcance e de lá sumisse. Um vazio cresceu em seu íntimo.
Tão subitamente quanto começara o primeiro
problema, Alissah, Daphne, Deborah, Yorgoi e Paulo sentiram suas energias
vitais sendo drenadas por algum efeito nefasto. Aquilo parecia uma necromancia
épica, ainda mais terrível do que as magias da falsa arquimaga. Paulo fez-se
novamente invisível com seu anel, enquanto o pânico voltava a se espalhar entre
as pessoas comuns. Para piorar, surgiram três demônios vrocks flanqueando Daphne.
A druida prontamente se transformou em uma
imensa hidra voadora de doze cabeças para encarar o trio abissal. Deborah
sentindo-se quase privada de seu contato com o deus dos gnomos, usou de um
pergaminho de restauração para se recuperar mesmo que parcialmente e se
movimentou na direção de Alissah sacando outro. A feiticeira perdera muitas de
suas inatas magias, mas encontrou forças para conjurar um olhar arcano, capaz
de fazê-la ver a origem daquelas forças nefastas. A magia permitia que visse a
aura mágica ao redor de tudo que tirasse suas forças da teia mágica do mundo. Assim,
conseguiu ver desde os contornos da invisibilidade de Paulo Mota até a escura
aura necromântica que vinha da Mata de Invernunca. Gritou um alerta, que Yorgoi
tentou usar para trazer de volta os gnomos, mas sua fraqueza afetou sua
diplomacia, causando apenas mais pânico em seu povo.
Paulo Mota avançou e flanqueou os vrocks com Daphne,
enquanto Deborah leu o segundo pergaminho para ajudar Alissah. Os demônios seguiam atacando com garras, presas e caudas, mantendo os heróis ocupados, enquanto o mestre
deles não tardou mais a se manifestar. Daphne logo percebeu se tratar de um
lich, com as vestes de um arquimago. Pensou que não parecia tão terrível quanto Szaas Tam, por exemplo, mas conforme este avançava, sua aura profana
fazia tremer os cadáveres como se fossem se erguer como novos mortos-vivos a
qualquer momento.
- Resistir é inútil, mortais. Um novo
tempo se anuncia.. um tempo em que os vivos servirão os que não temem a morte e a dominaram.
– A voz fria dele parecia embebida de arrogância e crueldade, como um fanático diante do delírio mais fervoroso. – Não bastassem
os dracolichs, a verdadeira força está agora liberta, pois o maior dos antigos
arquimagos de Netherill está livre.. aquele que se fez um demilich!
- Demilich? Isso não passa de uma lenda
para assustar crianças e crédulos inocentes! – Recusou-se a aceitar Daphne. Mas
como se para responder suas palavras, ela viu surgir ali um crânio flutuante.
No lugar das órbitas vazias, ele tinha dois grandes diamantes onde dançavam
feixes vermelhos como almas aprisionadas e atormentadas. Naquele instante, a
druida da Grande Floresta soube que não era uma lenda e temeu pelo pior.
O serviçal lich aproveitou para conjurar
uma nova necromancia que mataria a todos que ouvissem seu grito de banshee.
Allissah se adiantou a ele e com toda a força que restava desfez a magia com
sua abjuração. Desconcertado, o arquimago viu Paulo Mota e Daphne deixarem os
lacaios demoníacos e se atirarem sobre ele, mesmo que ficando à mercê dos
ataques oportunistas dos vrocks. Yorgoi redobrou os esforços e conseguiu
conduzir os sobreviventes numa direção menos problemática.
O demilich não parecia preocupado com nada
daquilo e com um simples pensamento fez com que todos os corpos próximos num
raio de 40 metros se tornassem grandes devoradores, fossem os cadáveres de
humanos ou de gnomos. Além disso, um segundo círculo necromântico, indo além de onde a vista deles divisava se expandiu até alcançar mesmo o mais distante dos
refugiados, ceifando lhes a vida. Aquilo estava muito além de qualquer coisa
que os heróis ali presentes já tivessem testemunhado.
Enquanto eles estavam aturdidos por
tamanha demonstração de poder, mesmo acossado, o serviçal lich aproveitou para
lançar sobre eles um encantamento, que fez suas mentes curvarem-se ante o maior
temor que habitava em seus íntimos. Um a um, os heróis tombaram com os olhos
vidrados do medo. Paulo, Alissah, Deborah e Yorgoi morreram e pareciam ser os
próximos a ingressar na horda de mortos-vivos. Apenas Daphne da Grande Floresta
ainda resistia.
A druida das muitas formas transformou-se
em um pégaso e julgou que sua única chance seria fugir o mais rápido possível
para viver e lutar um outro dia, enquanto seus antagonistas ameaçavam-na com
promessas de experiências profanas e terríveis sobre sua pureza natural. No
entanto, antes de partir, os olhos dela fitaram o céu, onde o filete da lua
crescente, tal qual um sorriso, surgia como se dera desde que haviam realizado o
ritual para Selune em Lua Prateada. Daphne sentiu em seu íntimo o poder da
deusa da lua, senhora da esperança, e soube que não devia partir,
mas sim perseverar. Com uma prece, Daphne da Grande Floresta investiu contra
seus inimigos.
Junto com aquele ataque, um ofuscante
brilho prateado tomou conta daquele princípio de noite. A energia invadiu o
corpo dos quatro heróis tombados e os trouxe de volta à vida para surpresa do
demilich, que sentia a intensidade daquela força positiva perturbar suas
invocações necromânticas. Seus devoradores pareciam agora titubear.
Assim como Paulo Mota, Alissah Eagle,
Daborah Martins e Yorgoi Dossantis ressucitaram como se nada tivessem sofrido. Daphne viu surgir uma
mulher, que seus olhos diziam ser a finada Kiriani, mas que sua fé dizia se
tratar de Selune.
- Para cada mal ancestral que retornar a
esse mundo, arquimago, uma luz de esperança despontará.
- Não é uma deusa noviça que será capaz de
impedir meus planos! Este tempo agora é meu!!! – Furioso, o demilich investiu
contra a deusa, disparando suas mais tenebrosas energias, enquanto ela
espalhava sua benção protetora.
Os heróis percebendo que não deviam perder
tempo lançaram-se à batalha sentindo-se mais fortes do que antes dos ataques.
Yorgoi cantou como nunca, enquanto Deborah explodiu em luz como se fosse um
pequeno sol. Paulo de Tarso terminou de derrubar dois dos devoradores feridos
pelas energias da deusa e de Deborah, enquanto Daphne tornou a forma de
Cronotyryn e investiu contra o serviçal lich arrancado lhe a cabeça. Mesmo assim
ferido, o morto-vivo permaneceu de pé e foi preciso que Alissah conjurasse seus
arcontes. Dessa vez, no entanto, viu surgir um anjo solar, cuja espada vorpal
não só partiu o corpo do lich ao meio como destroçou o crânio.
- CHEGA!!! – Urrou o demilich. – Eu desejo que seus milagres se desfaçam e que sua intervenção seja pequena como sua carreira de deusa, mulher. Este mundo não se curvará ante a falsa grandeza desses novos deuses inaptos sob o meu comando! – Os heróis logo entenderam que aquele desejo não era apenas palavras, nem mesmo a poderosa magia com que sonham tantos magos, mas sim algo além da compreensão dos que praticam magia no mundo atual. Não só as energias da pureza que os impeliam se desfizeram, como a própria deusa Selune parecia agora apenas a mortal Kiriani, sem qualquer brilho especial. Até mesmo os mortos-vivos destruídos começavam a se reconstituir, como se nada de bom restasse.
- O meu milagre não é enfrenta-lo,
arquimago de Netherill... – disse Kiriani com voz trêmula, mas encarando-o com firmeza. – Meu milagre é
trazer esperanças a esses corações e mostrar que sempre há forças para
continuar. Eu sou Selune, a dama do luar, a mãe zelosa e a sábia senhora! Meu milagre é arrancar de você essa vitória. – E tendo dito isso, os
heróis viram o demilich e sua horda desaparecerem, ao mesmo tempo que a deusa
tombou beirando a inconsciência. Restaram eles e uma dezena dos melhores entre
os gnomos que haviam ouvido Yorgoi e conseguido se manter à salvo.
Deborah e Alissah correram para acudir a
mulher que os salvara com o poder da lua. Daphne e Paulo certificaram-se que a
ameaça não espreitava próxima, embora não tivessem certeza do que poderiam
fazer se eles retornassem.
- Precisamos partir.. – disse Kiriani
quase sem forças. – Vamos para a Grande Floresta...